
Neste texto veremos um pouco sobre a teorização de Freud sobre o complexo de Édipo. Uma das principais ideias da teoria psicanalítica, sendo revolucionária na maneira de pensar a constituição do sujeito e a sexualidade.
O artigo abordará os seguintes tópicos:
O que é o complexo de Édipo?
O Complexo de Édipo é uma etapa do desenvolvimento infantil descrita por Freud, marcada pelo vínculo da criança com a função materna e a rivalidade com a função paterna. Esse processo simbólico é fundamental para a constituição do eu e para a forma como o sujeito se insere no mundo.
Freud não tem um texto específico sobre o complexo de Édipo, mas no livro inaugural da psicanálise, A Interpretação dos Sonhos, ele já cita o mito de Édipo. No entanto, é apenas em 1910 que ele de fato teoriza sobre a questão.
A criança, ao nascer, necessita ser acolhida por outro ser humano, e quem faz essa função materna torna-se tudo para aquela criança, ou seja, seu primeiro objeto de amor. Com isso, a criança quer a mãe somente para ela.
A função paterna , no entanto, entra para fazer essa separação e colocar um certo limite na relação mãe-bebê, estabelecendo limites, regras e normas que irão regular futuramente o desejo daquele bebê.
Então, o pai é visto como a figura que representa a lei e a autoridade, essencial para a formação do supereu, a parte do aparelho psíquico que internaliza os valores sociais e morais.
Na saída do Édipo, irá se constituir a forma que o sujeito irá se vincular com o mundo, com a possibilidade de ser neurótico, psicótico ou perverso, sendo estas as três grandes estruturas clínicas que fundamentam a teoria psicanalítica.
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A história de Édipo: um resumo
Freud se inspirou na tragédia grega de Sófocles, Édipo Rei, para teorizar sobre o conjunto das relações que a criança estabelece com as figuras parentais, originando assim o conceito de complexo de Édipo. Essas relações constituem uma rede em grande parte inconsciente de representações e de afetos entre os dois polos de suas formas positiva e negativa. (Kaufmann, p.135).
Dito isso, vamos, então, conferir um breve resumo da tragédia de Édipo:
Édipo era filho de Laio e Jocasta, rei e rainha de Tebas. O casal recebeu uma profecia por meio de um oráculo de que Édipo iria matar o próprio pai e se casaria com sua mãe.
Assustados com a revelação, o casal pede a um servo que desse fim à vida da criança. Contudo, ele apenas abandonou o menino em uma árvore, pois não teve coragem de matá-lo. Édipo foi encontrado por um camponês, que o criou.
No passar dos anos, em uma de suas andanças, Édipo reencontra Laio e o mata, sem saber que este era seu próprio pai. Édipo chega à cidade de Tebas e, ao decifrar um enigma proposto pela esfinge, salva a a cidade e a sua própria vida.
Como recompensa por ter livrado a todos da esfinge, Édipo casa-se com Jocasta. Porém, ele não sabia que a rainha era ninguém mais, niguém menos, do que sua mãe. Desta forma, a profecia se cumpriu. Ao se revelar o trágico acontecimento, Édipo fura os seus olhos e a rainha Jocasta se suicida.

O complexo de Édipo em meninos e meninas: características
O Complexo de Édipo apresenta diferenças significativas entre meninos e meninas.
- Meninos: o complexo de Édipo e o complexo de castração ocorrem simultaneamente.
- Meninas: inicialmente se vivencia o pré-Édipo, seguido pelo complexo de castração, e, somente então, elas entram no complexo de Édipo.
Assim, pode-se afirmar que meninos e meninas experienciam o complexo de castração de maneiras distintas: os meninos abandonam o Édipo por medo da castração, enquanto as meninas ingressam no Édipo temendo ser castradas.
O momento crucial da constituição do sujeito situa-se no campo da cena edípica. Dessa forma, o Édipo não é somente o “complexo nuclear” das neuroses, mas também o ponto decisivo da sexualidade humana, ou melhor, do processo de produção da sexuação.
Será a partir do Édipo que o sujeito irá estruturar e organizar, sobretudo em torno da diferenciação entre os sexos e de seu posicionamento frente à angústia de castração.
As fases do desenvolvimento psicossexual
Ao investigar o complexo de Édipo, é fundamental considerar as diferentes fases do desenvolvimento psicossexual da criança , conforme delineado por Freud. Cada etapa — oral, anal e fálica — desempenha um papel crucial na formação da subjetividade
Fase Oral | O desenvolvimento infantil inicia-se com uma fase centrada na região oral, que abrange desde o nascimento até cerca de um ano e meio. Nesta etapa, a amamentação se destaca como uma experiência fundamental, proporcionando prazer à criança através da sucção e da satisfação derivada da nutrição. Então, a boca é a principal fonte de prazer. A satisfação vem de atividades como mamar, chupar e explorar objetos com a boca. |
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Fase anal | O prazer se concentra no controle dos esfíncteres. A criança experimenta a satisfação ao controlar a liberação e retenção das fezes. Nessa fase a criança passa a manifestar um interesse exacerbado pela região anal, frequentemente envolvendo-se em atividades relacionadas a suas fezes. |
Fase fálica | A atenção se volta para os órgãos genitais, e a criança começa a explorar a diferença entre os sexos. É nesta fase que surge o complexo de Édipo. Nessa fase, a criança também começa a explorar as questões de masculinidade e feminilidade. |
É importante também observar o período de latência e a fase genital:
Período de latência:
aqui acontece um intervalo caracterizado pela repressão de desejos inconscientes.
Durante essa etapa, a criança já superou o complexo da fase fálica e, embora os impulsos e desejos sexuais possam persistir, eles se manifestam de maneira assexuada por meio de atividades como amizades, estudos e práticas esportivas, até o início da puberdade.
Período genital:
seria o estágio final do desenvolvimento psicossocial, onde o sujeito direciona seus investimentos sexuais - libido - para os órgãos genitais. Esse investimento que vai para além dos seus primeiros cuidadores o leva a se interessar por relações amorosas.
Assim, o complexo de Édipo diz respeito a como o sujeito irá se relacionar com o mundo exterior. O filho se afeiçoa com o genitor do sexo oposto e rivaliza com o genitor do mesmo sexo. Pode-se dizer, portanto, que esse triângulo edípico é o que constitui o humano, tendo em vista que os afetos surgem nesse momento.
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Função materna e função paterna na psicanálise
A análise das funções materna e paterna proposta por Lacan revela que não é necessário ter uma mãe ou um pai biológicos para que as dinâmicas do complexo de Édipo se manifestem.
Essas funções são simbólicas e podem ser exercidas por outras figuras ou instituições que representem o cuidado, a proteção e a introdução da lei.
Dessa forma, a estrutura psíquica e as relações de desejo e rivalidade no contexto do complexo de Édipo são acessíveis a qualquer indivíduo, independentemente de sua configuração familiar. Isso ressalta que o que marca o sujeito na constituição de sua subjetividade são os significantes, e não necessariamente as figuras biológicas que ocupam essas posições.
A função materna para a psicanálise
A função materna transcende a mera figura biológica da mãe, assumindo um papel simbólico que engloba nutrição, cuidado e a introdução da criança no universo dos significantes.
Essa função se relaciona à criação de um espaço de amor e proteção, essencial para o desenvolvimento das primeiras relações objetais, pois oferece um ambiente propício à manifestação do desejo.
Sua importância se revela na formação do eu e na capacidade de estabelecer vínculos sociais, com a mãe exercendo a função de primeira portadora do desejo, fundamentando, assim, as bases para as relações futuras da criança.
A função paterna para a psicanálise
A função paterna não está necessariamente ligada à figura biológica do pai, representando a introdução da lei, da ordem e da castração na vida da criança.
Nesse contexto, o pai emerge como o agente responsável por conduzir a criança ao mundo dos limites e normas que são essenciais para a internalização da lei social e para a separação do desejo materno, favorecendo assim a autonomia do indivíduo.
Sua importância se manifesta na formação do supereu, sendo crucial para a capacidade da criança de lidar com a frustração e a ambivalência, permitindo-lhe inserir-se adequadamente na estrutura social e desenvolver uma identidade que não se fundamenta exclusivamente no desejo materno.
Como aprender mais sobre o complexo de Édipo?
O conceito do complexo de Édipo, desenvolvido por Freud, é uma das ideias centrais da psicanálise e merece um estudo aprofundado.
Para compreender sua importância, é fundamental analisar as obras de Freud, explorando suas principais obras, como "A Interpretação dos Sonhos" e "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade". Nesses textos, Freud elucida as fases do desenvolvimento psicosexual e a importância da resolução do complexo de Édipo para a formação do eu.
Além disso, a Casa do Saber + e o Programa + Psicanálise oferecem cursos que representam uma oportunidade valiosa para aprofundar a compreensão não apenas do complexo de Édipo, mas também de outros conceitos fundamentais da psicanálise.
Esses cursos são elaborados para proporcionar uma análise detalhada e uma discussão enriquecedora, permitindo aos participantes explorar as nuances e as implicações teóricas da psicanálise de maneira mais abrangente.
Conheça alguns dos cursos do catálogo da Casa do Saber:
- Freud Fundamental: As Ideias e as Obras
Neste curso, o professor e psicanalista Pedro de Santi apresenta os principais conceitos e ideias de Freud de forma descomplicada, sendo ideal para quem deseja uma introdução sólida à teoria psicanalítica. - Psicanálise e Mitologia: Uma Introdução
Também com Pedro de Santi, este curso explora a relação entre os mitos greco-romanos e a psicanálise, como os de Édipo e Narciso, revelando como essas narrativas ajudam a compreender a formação da psique e da subjetividade. - Os Mistérios do Inconsciente
Ministrado por Ricardo Salztrager, este curso propõe uma imersão em A Interpretação dos Sonhos, obra fundamental de Freud. Ao longo das aulas, você irá explorar como os sonhos são formados, por que parecem confusos ou desconexos, e por que muitos são rapidamente esquecidos. Também são abordados os mecanismos que transformam alguns sonhos em pesadelos, revelando as mensagens simbólicas que o inconsciente busca transmitir. - Complexo de Édipo e Sexualidade (Programa + Psicanálise)
Com a psicanalista Fernanda Samico, este curso oferece uma abordagem aprofundada do Complexo de Édipo e da sexualidade humana à luz da teoria lacaniana. Ao longo das aulas, são apresentados os fundamentos de Freud e Lacan, revelando como esses autores contribuem para a compreensão da organização da sexualidade e das estruturas psíquicas que atravessam o sujeito.
Perguntas frequentes sobre o Complexo de Édipo
O que é o Complexo de Édipo?
É uma fase simbólica do desenvolvimento infantil em que a criança direciona amor à figura que exerce a função materna e rivalidade à função paterna. Sua resolução é fundamental para a constituição psíquica.
Por que Freud utilizou o mito de Édipo?
Porque o mito apresenta simbolicamente os desejos e conflitos inconscientes que se estruturam no psiquismo infantil. Freud viu na tragédia de Sófocles um espelho da estrutura edípica.
O Complexo de Édipo pode se manifestar na vida adulta?
Sim. Embora o Complexo de Édipo seja vivenciado na infância, seus efeitos são estruturantes e acompanham o sujeito por toda a vida. A forma como se atravessa essa fase está diretamente ligada à constituição da estrutura psíquica — neurose, psicose ou perversão — e influencia os modos de relação com o desejo, a autoridade e os vínculos afetivos na vida adulta.

Referências bibliográficas
FREUD, Sigmund. Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (1905). São Paulo: Cia das Letras, 2011.
______. A Dissolução do Complexo de Édipo (1924). São Paulo: Cia das Letras, 2016.
LACAN, Jacques. O Seminário 5 - As Formações do Inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.