Blog | Casa do Saber
Boas vindas ao blog da Casa do Saber, o espaço do conhecimento. Conheça a história de grandes pensadores, entenda suas ideias e reflita sobre o mundo em que vivemos
Novidades
Últimas Postagens
Psicanalista: o que faz, onde atua, formação e linhas teóricas
Camila Fortes
Psicanalista: o que faz, onde atua, formação e linhas teóricas
Entenda o que faz o psicanalista, onde atua e como se tornar um. Saiba as diferenças entre psicanalista e psicólogo e conheça as principais abordagens

A figura do psicanalista desperta cada vez mais interesse, seja por quem busca um processo terapêutico mais profundo, seja por estudantes e profissionais que desejam atuar na área. Mais do que trabalhar uma técnica terapêutica, o psicanalista atua em um campo de conhecimento complexo, que investiga o inconsciente e os caminhos singulares de cada pessoa. Em um mundo cada vez mais marcado pela urgência, a formação em psicanálise defende o tempo da escuta, o valor da palavra e a subjetividade do sujeito.

Neste artigo, apresentaremos um guia completo para entender quem é o psicanalista, o que faz, onde atua, como se dá a sua formação e como é o curso. Além disso, iremos abordar as diferenças entre psicanalista e outros profissionais da saúde mental, apresentando as principais linhas da psicanálise e seus conceitos centrais.



O que é um psicanalista?

O psicanalista é um profissional que atua na escuta e compreensão do inconsciente humano. Sua prática é baseada na psicanálise, um campo criado por Sigmund Freud no século XIX, que busca entender os processos psíquicos profundos através da fala do paciente e da interpretação de sintomas.

O processo interpretativo do psicanalista se baseia não nos sintomas médicos, mas no que está por trás deles: os desejos reprimidos, os traumas inconscientes, as lembranças ocultas, além da interpretação de sonhos e padrões de repetição.

Diferente de outras profissões da saúde mental, o psicanalista foca em tornar conscientes os processos inconscientes que influenciam os comportamentos e ações. Nesse sentido, o profissional da psicanálise tem o potencial significativo de transformar os modos como as pessoas se sentem em relação às suas experiências e ao sofrimento mental.



O que faz um psicanalista?

O psicanalista conduz um processo terapêutico que auxilia o paciente a acessar conteúdos psíquicos que não estão imediatamente disponíveis à consciência, mas que se manifestam por meio das fantasias, sonhos, lapsos, sintomas e repetições.

O seu trabalho consiste em escutar atentamente, interpretar quando necessário e oferecer novas formas de se pensar e ressignificar experiências. Assim, o que o psicanalista faz é construir um espaço seguro para o processo analítico do paciente.

Ao longo do processo terapêutico construído pelo profissional, a sessão se baseia na associação livre, uma técnica em que o paciente é incentivado a falar livremente o que vier à mente, sem censura.

Durante as sessões, emergem fenômenos como a transferência - quando o paciente transfere sentimentos para o psicanalista, relacionados a outras figuras importantes da vida - e a contratransferência - apontada como as reações emocionais do analista ao paciente.

Esses elementos são importantes para a compreensão da dinâmica interna do paciente, pois revelam padrões inconscientes de relacionamento, desejos recalcados e formas de defesa psíquica.

Nesse cenário, é estruturado o que foi denominado por setting analítico, ou seja, um ambiente, um contexto elaborado cuidadosamente para compor as sessões. O objetivo é construir um espaço confiável, com acordos pré-estabelecidos, como a regularidade nos atendimentos, os horários e o formato.

Através da escuta atenta e das interpretações oferecidas em sessão, o psicanalista ajuda o paciente a dar sentido ao que antes era vivido de forma repetitiva, sofrida ou enigmática. Assim, o paciente desenvolve uma nova relação com sua história, podendo romper com repetições que o aprisionam e construir novos caminhos subjetivos.

👉 É importante lembrar que não existe uma “fórmula” para as sessões de psicanálise. O psicanalista não irá oferecer conselhos ou receitas pré-estabelecidas. Cada encontro é único, guiado pelo discurso do paciente e pelas intervenções pontuais do analista.

Por isso, o objetivo terapêutico não é dar “respostas prontas” ao paciente, mas apresentar interpretações que visam abrir caminhos de reflexão e transformação.




Psicanalistas e psicólogos trabalham com a compreensão da mente humana através da escuta. Eles conduzem o processo terapêutico através da investigação sobre questões emocionais e comportamentais, buscando os mecanismos para contribuir com o bem-estar das pessoas.

No entanto, apesar das semelhanças, eles possuem trajetórias, formações, métodos de trabalho e abordagens teóricas bastante distintas. Além disso, também se distinguem na forma como cada um compreende e aborda o sofrimento psíquico. Vamos, então, entender qual a diferença entre esses profissionais.

O psicanalista utiliza o método psicanalítico, baseado nos princípios criados por Freud. Esse método parte do pressuposto de que muitos dos nossos comportamentos e sintomas têm origem no inconsciente, em conteúdos reprimidos, desejos não reconhecidos e memórias recalcadas. O processo analítico envolve não apenas a resolução de sintomas, mas a compreensão inconsciente sobre esses sintomas.

O psicanalista pode atuar em consultórios particulares, clínicas de saúde mental, instituições de ensino, projetos sociais, entre outros espaços. Sua atuação se estende para além da clínica tradicional, podendo contribuir com equipes multidisciplinares e com a produção do conhecimento científico.

Já o psicólogo pode utilizar de diferentes métodos, a depender da sua formação e escolha teórica. Ele tem liberdade para atuar em clínicas, hospitais, escolas, empresas e instituições, e utilizar de diferentes abordagens terapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), Gestalt, Humanista e a Psicologia Analítica.

Além disso, é comum que psicólogos exerçam a própria Psicanálise, após realizar um processo formativo específico para isso.

Ao contrário da prática psicanalítica, as abordagens mais convencionais da psicologia tendem a trabalhar com problemas mais pontuais e objetivos, na busca por estratégias práticas para lidar com eles, visando um alívio mais rápido do sofrimento e a reestruturação do comportamento.

É importante destacar que para se tornar psicólogo, é necessário a formação de graduação na área de Psicologia, com registro no Conselho Regional de Psicologia (CRP). O processo formativo dura, em média, 5 anos, e é necessário realizar estágios supervisionados para exercer a prática clínica.


Como se tornar psicanalista?

Para se tornar psicanalista, primeiramente, é necessário compreender que o processo formativo é apenas o ponto de partida de uma jornada contínua. Dentro da comunidade psicanalítica, há um percurso amplamente reconhecido, que pode nos auxiliar a compreender o que é necessário para essa formação.

  • Interesse e curiosidade pela escuta psicanalítica:

O primeiro passo é conhecer a psicanálise não apenas como técnica, mas como uma forma de compreender o ser humano. Trata-se de um método complexo de compreensão da subjetividade humana, por isso, exige um olhar crítico, atento e curioso pela abordagem e pelos seus contextos.

Assim, investigar, pesquisar e explorar o mundo da psicanálise é essencial.

Uma sugestão de como esse interesse pode ser estimulado, se dá a partir do contato com assuntos relacionados. Livros, cursos introdutórios, filmes, séries e revistas, podem ser um excelente ponto de partida para conhecer mais sobre a psicanálise.

  • Vivência teórica e autoanálise:

Mais do que um curso em psicanálise, esse é um processo de transformação. Se tornar psicanalista não apenas envolve o estudo da teoria, mas também o confronto com o próprio inconsciente e o desenvolvimento de uma escuta refinada e profissional.

Nesse sentido, é importante que seja realizada uma vivência da análise, de preferência, por meio da psicanálise. Passar por um processo analítico estando “do outro lado” é essencial não apenas para compreender como acontece, mas para desenvolver a capacidade de fala e escuta.

Escolher um analista de confiança e explorar essa vivência pode trazer resultados significativos para o processo formativo.

  • Inserção em instituições psicanalíticas:

Muitos profissionais se associam a escolas ou sociedades psicanalíticas para aprofundar os estudos na área. A participação em seminários, congressos, a integração em grupos de pesquisa e a organização de vínculos com a comunidade analítica, também são ótimas vias de acesso à discussões do campo.

Além disso, a busca por cursos reconhecidos e bem avaliados também é necessária, uma vez que a escolha de um instituto ou escola irá influenciar diretamente no processo formativo e na prática psicanalítica.


A formação em psicanálise

O processo formativo acontece, tradicionalmente, a partir do tripé psicanalítico: a análise pessoal, a supervisão clínica, e o estudo teórico das obras de Freud, Lacan, Winnicott, Melanie Klein e outros psicanalistas.

Vamos entender cada etapa:

Na análise pessoal, o foco está na experiência subjetiva do futuro analista - ela é a base da psicanálise. Nessa etapa, ele é estimulado enquanto paciente a explorar seus pensamentos, emoções e sentimentos de forma livre e segura. Geralmente é guiada por algum psicanalista da própria escola ou instituição.

Já na etapa da supervisão clínica, o psicanalista em formação é acompanhado em seus atendimentos por outro analista mais experiente. A supervisão visa auxiliar o profissional a aprimorar suas habilidades terapêuticas e sua capacidade analítica.

Por fim, o estudo teórico é a base conceitual da formação. O conhecimento sobre autores e conceitos como inconsciente, id, superego, pulsão, transferência, desejo, fantasia, são fundamentais na compreensão do comportamento humano a partir da psicanálise.


A formação do psicanalista é singular e se dá fora do sistema universitário tradicional. Embora legalmente não se exija diploma acadêmico para exercer a psicanálise, a maioria dos institutos mais reconhecidos costuma exigir uma formação prévia em áreas como Psicologia, Medicina ou outra das ciências humanas.

Com duração de 1 e 4 anos, a carga horária da formação psicanalítica varia de acordo com a escola ou instituto. Mais do que a formalização acadêmica, o interessante é considerar nesse processo a profundidade e o envolvimento subjetivo do futuro analista.

Além disso, os cursos dos institutos mais reconhecidos mantêm critérios éticos e podem incluir entrevistas de admissão, avaliações regulares e orientações sobre limites éticos da prática analítica.

As sessões de psicanálise, normalmente, adotam um tempo padrão de 50 minutos de duração, podendo variar para mais ou para menos. Independentemente da extensão, o mais importante é a frequência e a constância dos atendimentos.

A regularidade - geralmente de uma a três vezes por semana - é essencial para que o processo analítico ganhe profundidade. Do mesmo modo, é necessário para que o inconsciente possa se expressar em suas repetições, associações e silêncios - que também dizem muito!



Curso de psicanálise: como é?

Os cursos de psicanálise são oferecidos por escolas ou institutos com orientação freudiana, lacaniana, kleiniana, entre outras. Cada linha/escola propõe metodologias de estudo e enfoques específicos.

Entenda:

Psicanálise Freudiana

A escola ou psicanálise freudiana, por exemplo, tem por objetivo analisar as pulsões de vida e morte, as estruturas psíquicas (neurose, psicose e perversão) e a sexualidade. A partir dela, são analisados os sonhos, os padrões e o processo elaborativo do paciente.



Psicanálise Lacaniana

Já a psicanálise lacaniana desenvolvida por Jacques Lacan - também denominada de Escola Francesa -, tem como eixo central a linguagem. Nessa abordagem, a escuta visa captar as rupturas do discurso para tocar o real do sujeito.

Com a linguística, a psicanálise se potencializa para compreender os sentidos de como o paciente se posiciona no mundo e nas relações a partir dos modos como fala.

banner do curso Jacques Lacan, de Christian Dunker, para a Casa do Saber

Psicanálise Kleiniana

Um outro exemplo é a escola ou psicanálise kleiniana, desenvolvida por Melanie Klein, centrada na relação entre figuras parentais e o mundo interno do bebê. Nessa abordagem, são investigadas as fantasias inconscientes originadas desde a primeira infância, ainda nas primeiras interações, sobretudo, maternas.

Nesse sentido, todas as abordagens investigam sobre o inconsciente, mas cada uma o faz a partir de uma lente específica, com foco em diferentes aspectos do psiquismo e em modos distintos de conduzir a escuta clínica.

banner do curso Melanie Klein e a refundação do eu desenvolvimento psiquico e a teoria das posicoes, do professor Alexandre Patricio, para a Casa do Saber

O que aprendemos sobre o psicanalista: conclusão do guia

Neste artigo, aprendemos como ser psicanalista envolve um compromisso ético profundo com o sofrimento do outro e com uma busca pela autocompreensão do sujeito. Entendemos que a psicanálise não é apenas uma profissão, mas um modo de escutar e compreender o ser humano em sua complexidade.

Se você se interessa pela escuta, pelo inconsciente e pelo cuidado com a subjetividade, a psicanálise pode ser um caminho transformador. E se está em busca de um processo terapêutico profundo, esse método pode proporcionar mudanças e percepções significativas.

Programa +Psicanálise

O programa de expansão em teoria e clínica psicanalítica da Casa do Saber é especialmente desenvolvido para profissionais e estudantes de psi que buscam aprofundar seus conhecimentos em psicanálise.

Os inscritos ganham acesso por 1 ano a uma jornada de conteúdos exclusivos em diferentes formatos: cursos gravados conduzidos pelos maiores professores e profissionais do Brasil, ciclos de aulas online e ao vivo e materiais complementares.

  • Mais de 45 cursos gravados com certificado
  • Encontros ao vivo com grandes referências da área
  • Grupo exclusivo para networking e troca de conhecimentos
  • Novos lançamentos de cursos mensais
  • Teoria e prática sobre temas atuais da psicanálise


CONHEÇA O + PSICANÁLISE




Tripé da Psicanálise: os três pilares da formação do psicanalista
Ricardo Salztrager
Tripé da Psicanálise: os três pilares da formação do psicanalista
Saiba o que é o tripé da psicanálise e por que análise pessoal, supervisão e estudo teórico são indispensáveis na formação de um psicanalista.

Você sabe o que é o tripé da psicanálise? Neste artigo, vamos explorar os três pilares fundamentais para a formação de um psicanalista: a análise pessoal, a supervisão clínica e o estudo teórico. Vamos entender como surgiu a exigência desse tripé, qual a sua importância para a prática ética da psicanálise e de que forma ele ajuda a construir a escuta analítica. Também vamos discutir os riscos de ignorar essas etapas e as implicações éticas na atuação profissional.



O que é o tripé da psicanálise?

O tripé da psicanálise diz respeito aos três pilares da formação de um psicanalista: análise pessoal, supervisão e estudo teórico. De acordo com Freud (1926/1996), somente uma formação fundamentada nestas três bases tornaria um sujeito apto para ser psicanalista.

A formação psicanalítica

A primeira menção de Freud ao tripé da formação psicanalítica data de 1919 quando publicou o pequeno ensaio “Sobre o ensino da psicanálise nas universidades”. No entanto, foi somente entre os anos de 1925 e 1933 que o obedecimento a este tripé foi oficialmente considerado a condição fundamental para a formação de quem quisesse praticar a psicanálise.

Segundo Roudinesco & Plon (1988), tal oficialização se fez dentro da IPA (Associação Psicanalítica Internacional), primeira instituição de formação de psicanalistas fundada por Freud e seu discípulo Ferenczi em 1910. Ora, como a psicanálise vinha desfrutando de uma imensa fama, era comum que os mais variados tipos de pessoas passassem a praticá-la e a se declararem psicanalistas. E o problema era que muitos destes não tinham a preparação necessária para tal.

Deste modo, era necessário barrar o caminho e a admissão na IPA dos chamados “psicanalistas selvagens”, gíria que na época fazia referência aos maus psicanalistas, espécies de “charlatões” que praticavam a psicanálise. Além deles, seriam barrados os psicóticos, os “gurus” e os líderes religiosos. E, neste contexto, uma longa e polêmica discussão também se fez sobre os que praticavam a psicanálise sem possuir o diploma de médico (Freud, 1926/1996).

banner curso 'Freud e os Fundamentos da Psicanálise: Teoria e Clínica', por Ricardo Salztrager

O surgimento do tripé da formação psicanalítica

Daí a instituição do tripé da formação psicanalítica: era preciso colocar um mínimo de ordem em tamanha bagunça. E para tal, passou a ser exigido que os psicanalistas em formação passassem por 1) uma análise pessoal; 2) uma supervisão de seus primeiros atendimentos; e 3) se dedicassem aos mais variados estudos teóricos ao longo deste percurso.

Assim, em primeiro lugar, formulou-se a necessidade de um psicanalista passar por uma análise pessoal com outro psicanalista reconhecido pela IPA. Tal procedimento funcionaria como garantia de que ele estava sendo “bem analisado”. E jamais alguém poderia qualificar-se com o título de psicanalista antes de terminar seu processo de análise pessoal.

Em segundo lugar, havia a necessidade de supervisão. Deste modo, após o término de suas análises pessoais e com a devida autorização de seus psicanalistas, os formandos poderiam começar a atender desde que supervisionados por alguém também reconhecido pela IPA.

Por fim, foi exigido que, ao final de todo este percurso, eles apresentassem um trabalho teórico original a ser comunicado em uma das reuniões científicas da IPA. Tal trabalho seria o resultado dos muitos estudos que eles eram obrigados a fazer durante seus processos de análise pessoal e de supervisão.

Com a aprovação deste trabalho teórico, eles poderiam finalmente declarar-se psicanalistas, praticar a profissão e serem reconhecidos pela IPA (Miller, 1989). A seguir analisaremos detalhadamente cada um dos três pilares do tripé da psicanálise.


Análise pessoal: o mergulho necessário no próprio inconsciente

Conforme estamos demonstrando, a primeira base do tripé é a análise pessoal. Em relação a isto, ficou famosa a intervenção de Freud (1910/1996) quando, durante as conferências proferidas nos Estados Unidos, perguntaram-lhe do que precisaria alguém para tornar-se psicanalista. Ele então respondeu que esta pessoa deveria saber “interpretar os próprios sonhos”.

Deste modo, fica marcado ser imprescindível que o futuro psicanalista tenha certo contato com suas tendências inconscientes. Com efeito, a psicanálise é uma prática que se aprende em um divã. De forma que o manejo psicanalítico em si seja algo impossível de ser aprendido apenas em livros, artigos, palestras e mesmo em universidades e cursos de especialização.

Deve o futuro psicanalista passar por um amplo processo de análise pessoal e é apenas através desta experiência que ele conseguirá entender o que se faz em um consultório. Em suma: só entende o trabalho do psicanalista aquele que se propõe a elaborar suas próprias tendências inconscientes.

Aquele que não aceita passar por uma análise pessoal ficaria mais vulnerável a alguns riscos. Dentre eles:

banner curso freud e as fantasias, por Ricardo Salztrager

a) O risco de projetar-se em seus pacientes

Com efeito, aquele que não se submete a uma análise pessoal pode acabar projetando demais suas próprias questões em seus pacientes.

Nas palavras de Freud (1912/1996), “quem não se tiver dignado a tomar a precaução de ser analisado (...) cairá facilmente na tentação de projetar (...) algumas das peculiaridades de sua própria personalidade (...) e desencaminhará os inexperientes” (pp. 130-131).

Como exemplo, podemos mencionar o de um psicanalista bastante ciumento e que, assim, corre o risco de acabar sugerindo a um de seus pacientes que ele é traído. Ou seja, pode o paciente contar-lhe que, volta e meia, sua esposa sai com as amigas ou mesmo sozinha, mas que ele não vê qualquer problema nisso. No entanto, o analista ciumento por demais pode acabar reagindo a esta fala com um estranho conselho de “cuidado que numa dessas, você pode acabar perdendo ela para outro homem”.

Ou então o exemplo de um psicanalista que não lida muito bem com alguns de seus desejos homossexuais e que, assim, pode acabar concluindo que um de seus pacientes é homossexual, sem nem escutá-lo direito. Neste caso, o paciente pode contar-lhe sobre uma forte amizade que mantém com outro rapaz e, assim, sem nem escutar-lhe direito, o psicanalista pode concluir haver um desejo sexual nesta relação meramente amigável.

b) O risco de criar algumas resistências em seu trabalho

O processo de análise pessoal também ajuda o psicanalista a elaborar algumas de suas questões que, caso contrário, funcionariam como verdadeiras resistências ou entraves à sua escuta. Em outros termos, algumas questões suas ainda mal-elaboradas poderiam gerar alguns “pontos cegos” que viciariam sua escuta e o impossibilitaria de ouvir o que seus pacientes efetivamente dizem:

“O médico (...) não pode tolerar quaisquer resistências em si próprio. (...) Deve-se insistir, antes, que tenha passado por uma purificação psicanalítica e ficado ciente daqueles complexos seus que poderiam interferir na compreensão do que o paciente lhe diz. (...) Todo recalque não solucionado nele constitui o que foi apropriadamente descrito por Stekel como um ‘ponto cego’ em sua percepção analítica” (Freud, 1912/1996, pp. 129-130).

Como exemplos destas resistências ou “pontos cegos”, podemos mencionar o caso de um psicanalista que, ainda sem ter elaborado suficientemente algumas questões com seus pais, teria sua escuta contaminada por este problema. Assim, supomos que ele culpe seus pais por alguns de seus fracassos na vida. Neste caso, ao ouvir um paciente que se queixa de tristeza, solidão ou timidez, pode o psicanalista apressadamente concluir que os pais deste paciente são os verdadeiros culpados pelo que ele se queixa.

Ou então o exemplo de um psicanalista que tem sua escuta viciada por ainda não lidar muito bem com o fato de um de seus filhos consumir álcool. Neste sentido, ao ouvir um paciente relatar-lhe que seus filhos gostam de sair com amigos para beber (mas sendo isto um mero detalhe em seu discurso e que nem lhe importa muito) pode o psicanalista privilegiar demais este fragmento, ao invés de centrar-se em questões que efetivamente incomodam o paciente.

Supervisão em psicanálise: escutar o que escutamos

A segunda base do tripé é a supervisão. Ela pode ser definida como a prática de um psicanalista (iniciante ou não) de levar seus casos para discuti-los com outro psicanalista mais experiente.

Deste modo, em supervisão, o psicanalista será devidamente alertado a respeito, por exemplo, das projeções que eventualmente faz em seus pacientes, das possíveis resistências ou “pontos cegos” em sua escuta e, sobretudo, se está ou não conseguindo manter com eles uma “atenção flutuante”.

Conforme vimos no texto sobre a associação livre, a “atenção flutuante” corresponde à necessidade de o psicanalista saber escutar seus pacientes sem, a princípio, privilegiar quaisquer aspectos de seus discursos. Trata-se de uma tarefa bastante difícil de ser cumprida e, neste aspecto, uma supervisão pode muito bem auxiliá-lo.

Por exemplo, quando nos concentramos demais em um material que nossos pacientes nos trazem, é certo que negligenciamos outros tantos. E isto não deve ocorrer em nossos consultórios. Caso atuemos desta forma, estaremos arriscados a jamais descobrirmos nada além do que já sabemos. Neste sentido, uma boa supervisão pode ser muito útil.

Fora que quando um psicanalista cede à tentação de privilegiar apenas um ou poucos aspectos dos discursos de seus pacientes, pode-se ter a certeza de que ele assim age em virtude de suas próprias questões.

Por exemplo, vamos supor que um psicanalista possua uma série de problemas com seus irmãos. Neste caso, quando, dentre tantas outras coisas, algum de seus pacientes vem a narrar-lhe uma briga de família, pode o psicanalista acabar centralizando demais sua escuta neste ponto. O problema aqui é que o paciente pode nem ter se importado muito com a briga e efetivamente querer trabalhar outros assuntos. No entanto, o psicanalista mal supervisionado corre o risco de, em virtude de suas próprias questões, acabar privilegiando este aspecto.



Estudo teórico na psicanálise: teoria como sustentação da escuta

Por fim, o terceiro alicerce do tripé da psicanálise é o estudo teórico. De fato, as mais variadas instituições de formação psicanalítica oferecem uma série de cursos, módulos, palestras, debates e grupos de estudos sobre os mais variados temas da psicanálise.

Assim, durante todo o período no qual o psicanalista em formação faz sua análise pessoal e pratica a supervisão de seus primeiros atendimentos, ele também tem a oportunidade de mergulhar em uma série de estudos teóricos.

Tais estudos teóricos podem se dar sobre os principais conceitos da teoria freudiana: o inconsciente, os sonhos, a sexualidade, o narcisismo, as fantasias, a transferência, as pulsões, a angústia e o desamparo, dentre tantos outros.

Há também nas instituições alguns módulos de estudo sobre os principais autores pós-freudianos: Ferenczi, Balint, Winnicott, Lacan, Klein, dentre outros.

E também é interessante notar a presença de muitos grupos de estudos sobre questões atuais cujas discussões em muito auxiliam em nossa prática: debates sobre racismo, homofobia, debates sobre gênero, etc.

O tripé e a ética do trabalho de psicanalista

Portanto, conclui-se ser necessário o cumprimento deste tripé para que alguém venha a tornar-se psicanalista. Em si, seus três pilares são indissociáveis. Ou seja, de nada adiantaria estudar sem fazer uma análise pessoal ou supervisão. Do mesmo modo, de nada adiantaria apenas fazer supervisão sem uma análise pessoal e um estudo teórico. O mesmo vale para alguém que apenas tenha passado por uma análise pessoal, mas se recusa a estudar e a ser supervisionado.

Deste modo, a formulação deste tripé envolve toda uma discussão ética sobre o trabalho daqueles que se recusam a cumpri-lo. Há muitos, por exemplo, que se dizem psicanalistas apenas por possuírem uma faculdade de psicologia e terem aprendido sobre psicanálise, mas que, por exemplo, nunca se submeteram a uma análise pessoal.

Fora os tantos “psicanalistas selvagens”, “gurus”, líderes religiosos e mesmo “charlatães” que, tal como na época de Freud, ainda existem e fazem seus questionáveis atendimentos por aí.


Este texto foi escrito pelo professor Ricardo Salztrager, psicanalista e professor associado da UNIRIO e da Casa do Saber. Possui Graduação em Psicologia, mestrado e doutorado em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

Conheça os cursos de Ricardo Salztrager





Referências:

Freud, Sigmund. (1910). Cinco lições de psicanálise. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 11. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 15-65.

______. (1912). “Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise”. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 12. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 123-135.

______. (1919). “Sobre o ensino da psicanálise nas Universidades”. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 17. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 185-191.

______. (1926). “A questão da análise leiga”. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 20. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 175-249.

Miller, Dominique. (1989). “Tão só como sempre estive em minha relação com a causa analítica”. In: Miller, Gérard. Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora.

Roudinesco, Elisabeth. & Plon, Michel. (1998). Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora.

Filosofia: o que é, conceitos fundamentais e principais filósofos
Paula Delgado
Filosofia: o que é, conceitos fundamentais e principais filósofos
Entenda o que é Filosofia, como surgiu e para que serve. Veja os principais conceitos, grandes pensadores em diferentes épocas e dicas para estudar!

Você já se questionou sobre o mundo ou sobre si mesmo? Então, já deu o primeiro passo rumo à filosofia.

Nascida na Grécia antiga, ela é fruto de uma reflexão lógica sobre a vida e o saber.

Mais do que um conceito, a filosofia se aplica no cotidiano, estimulando o autoconhecimento, pensamento crítico e soluções mais racionais para os desafios do dia a dia.



Banner jornada da filosofia 'É Possível Ser Estoico hoje?'

O que é filosofia?

Primeiramente, esta é uma pergunta filosófica. A filosofia estuda o mundo, a existência humana e esse questionamento é um retorno em si mesma. Porque filosofar é exatamente fazer perguntas que nos tiram da zona de conforto.

Apesar deste começo filosófico, o conceito de filosofia é uma tentativa de explicar de forma racional aspectos fundamentais da nossa vida.

O termo filosofia vem das palavras philia (amor) e sophia (sabedoria), então, philosophia (amante da sabedoria).

A filosofia parte de uma reflexão crítica constante, baseada no raciocínio lógico e na argumentação sobre seus fundamentos, métodos e objetivos.

Para que serve a filosofia?

A filosofia tem um caráter problematizador. Perguntar para que ela serve já expressa a sua função questionadora.

Se considerarmos a utilidade da filosofia de forma prática e imediata, talvez ela não se evidencie de maneira concreta. Seus resultados não são imediatos ou palpáveis, mas se transformam ao manter o pensamento em movimento.

Além disso, ela está presente na ética e na política, já que nos auxilia na reflexão sobre questões sociais, certo e errado, direitos e deveres.

Ademais, também pode ser um instrumento de autoconhecimento, ajudando-nos a enfrentar os conflitos da vida. Uma corrente filosófica que está diretamente ligada a isso e pode ser aplicada no cotidiano é o estoicismo.


A origem da filosofia

A filosofia surgiu no século VI a.C, na Grécia, com Tales de Mileto, primeiro homem ocidental a questionar as crenças mítico-religiosas da época.

Anteriormente, os fenômenos eram explicados por mitos, que exerciam a função de coordenar as relações humanas e explicar eventos naturais.

Apesar de diversos fatores terem contribuído para o nascimento da filosofia, como a navegação marítima, a compreensão do calendário, uso da moeda, o principal deles foi a criação das pólis (cidades-estado), que possibilitaram o debate público e o exercício do pensamento racional.

A partir dessa nova organização da sociedade grega, surgiram questionamentos racionais quanto às exigências de uma vida social mais complexa.

Entretanto, este momento não significou uma ruptura, mas uma passagem gradual para investigação racional da realidade.


Conheça os períodos da filosofia

A filosofia, como campo de conhecimento, está em constante transformação e pode ser dividida em quatro períodos.

Filosofia antiga

A filosofia antiga se divide em pré-socrática e socrática.

A filosofia pré-socrática buscava explicações racionais sobre a origem do universo - cosmos - advindas dos fenômenos naturais. Como Tales de Mileto, que via a água como o princípio fundamental da natureza (arché).

Por outro lado, a filosofia socrática, iniciada por Sócrates, focava na busca pela verdade e no desenvolvimento do pensamento crítico.

Portanto, Sócrates mudou o foco da investigação filosófica do cosmo para as questões relativas ao homem.

Filosofia medieval

Influenciada pelo cristianismo, a filosofia medieval buscava conciliar fé e razão. Era uma construção de pensamento enraizada na antiguidade, voltada para responder aos problemas de sua época, tempo em que as questões religiosas ainda eram fundamentais.

A filosofia medieval é tradicionalmente dividida em dois períodos: a patrística e a escolástica.

A patrística se desenvolveu entre os séculos II e VIII, reunindo o pensamento dos Padres da Igreja, como Santo Agostinho.

Já a escolástica, do século V ao XV, teve seu desenvolvimento nas escolas, destacando-se Tomás de Aquino, com a intenção de sistematizar o pensamento cristão.

Filosofia moderna

A filosofia moderna tem início no Renascimento e termina com o Iluminismo, tendo como principais marcas o rompimento com a tradição medieval e a valorização da razão, considerando-a fonte de conhecimento.

Também proporcionou o surgimento do Iluminismo a partir de grandes debates sobre liberdade, ética, política e ciência.

Filosofia contemporânea

A filosofia contemporânea começou no século XIX e está presente até os dias de hoje.

Além de sua vastidão temporal, também apresenta uma diversidade de pensamentos. Entretanto, sua máxima é a busca pela reflexão sobre a realidade e as suas mudanças.

Em vez de buscar verdades absolutas, foca na complexidade da existência humana, na linguagem, na subjetividade e no contexto histórico. Assim, correntes como o existencialismo, o marxismo e o niilismo surgiram.



Principais correntes filosóficas

Como a filosofia está em constante desenvolvimento, novas abordagens surgiram, formando diferentes escolas de pensamento influenciadas pelos filósofos que, ao longo do tempo, abordaram questões fundamentais da existência humana.

Vamos conhecer quais as principais correntes filosóficas:

Estoicismo

Fundado por Zenão de Cítio durante o período helenístico, o estoicismo é uma doutrina filosófica que busca a virtude, valoriza o autocontrole e a aceitação do destino, tendo a razão como caminho para o fim principal, a felicidade.

Racionalismo

O racionalismo é uma vertente filosófica da era moderna que coloca a razão como principal fonte de conhecimento, valorizando as ideias inatas e o raciocínio fundamentado na razão.

Empirismo

Diferentemente do racionalismo, o empirismo é uma teoria filosófica que defende que o conhecimento vem a partir da experiência sensorial e não de ideias inatas. Ou seja, a origem de todas as ideias vem da relação do homem com o ambiente externo.

Positivismo

O positivismo é uma corrente filosófica que coloca o conhecimento científico como a única forma verdadeira de conhecimento. Com isso, prioriza a lógica e os fatos, recusando explicações metafísicas.

Existencialismo

O existencialismo surgiu no final do século XIX, na Europa. Essa corrente filosófica tem como foco a experiência humana e a existência individual. Portanto, valoriza a liberdade e a responsabilidade pessoal diante do sentido da existência.

Marxismo

O marxismo é uma teoria filosófica, social e econômica que entende a sociedade a partir da luta de classes, propondo a superação do capitalismo.

Utilitarismo

Utilitarismo é uma doutrina ética que tem como ideal final promover o bem maior para o maior número de pessoas possível, minimizando o sofrimento e maximizando o bem-estar da sociedade.

Niilismo

Uma das principais características do niilismo é o afastamento de valores absolutos, questionando, principalmente, a existência de um propósito na vida, que são, geralmente, atribuídos à moral absoluta e ao próprio ser.

Fenomenologia

Fenomenologia estuda a experiência humana a partir daquilo que aparece na consciência, buscando entender como os fenômenos se manifestam na mente. A descrição é parte fundamental, porque busca do próprio entender a experiência a partir do próprio fenômeno.


Áreas da filosofia

A filosofia não é uma coisa única, ela é composta por várias áreas, como a metafísica, ética, política e tantos outros.

Entenda um pouco mais sobre algumas áreas da filosofia:

Metafísica

A metafísica é uma área da filosofia que estuda todos os temas relacionados ao ser humano. Investiga a natureza fundamental da realidade, questionando conceitos como a existência, o tempo, o espaço e a casualidade.

Epistemologia

A epistemologia é um campo que estuda o conhecimento, investigando sua origem, natureza e limites.

Ética

A ética busca compreender os princípios que orientam o comportamento humano, a partir da moralidade, ou seja, o que é certo e errado, bom ou mau. Além de buscar compreender como as pessoas agem em diferentes situações morais.

Estética

A estética investiga o belo e a arte a partir de uma perspectiva sensorial, ou seja, como as pessoas percebem e interpretam essas expressões artísticas.

Filosofia política

A filosofia política analisa formas de governo, organização social e a relação entre o indivíduo e o Estado. Para isso, estuda temas como a natureza do poder, o governo, a justiça, a liberdade e os direitos.

Lógica

A partir da busca pela compreensão do pensamento e da linguagem, essa vertente filosófica estuda a natureza lógica, os princípios e fundamentos do raciocínio válido.

Filosofia da religião

Essa corrente examina o fenômeno religioso de uma perspectiva racional, buscando compreender questões como a existência de Deus, a fé, a moral religiosa e a relação entre razão e crença.

Conheça os principais filósofos e suas contribuições

Sócrates

Sócrates foi um filósofo grego, considerado o pai da filosofia ocidental. Acreditava que a sabedoria começa no indivíduo e ficou conhecido por suas ideias sobre ética, imoralidade e pelo método dialético de questionamento, influenciando profundamente o pensamento filosófico.

“Conhece-te a ti mesmo.”

Platão

Platão, discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles, contribuiu para a filosofia ocidental, especialmente com a teoria do mundo das ideias, que seria o mundo da perfeição e da alma.

“Existe em cada um de nós, mesmo aqueles que parecem ser os mais moderados, um tipo de desejo que é terrível, selvagem e sem lei.”

Aristóteles

Aristóteles, discípulo de Platão e mestre de Alexandre o Grande, influenciou profundamente a filosofia ocidental. Suas grandes contribuições estão nas áreas política, lógica e metafísica, defendendo, na teoria da virtude, que o equilíbrio é o caminho para a felicidade.

“Somos o que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é um feito, mas um hábito”.

Kant

Immanuel Kant foi um dos principais filósofos do Iluminismo e fundador da filosofia crítica, que buscou unir racionalismo e empirismo. Em sua frase célebre, mostra que razão e experiência são complementares na construção do conhecimento humano.

“Pensamentos sem conteúdos são vazios; intuições sem conceitos são cegas. “

Nietzsche

Friedrich Nietzsche é frequentemente associado ao niilismo e ao existencialismo. Criticava valores morais tradicionais, especialmente os religiosos. Colocou a “vontade de poder” como a força vital que impulsiona o ser humano a alcançar seu pleno potencial.

“Deus está morto”

René Descartes

Descartes acreditava que a razão era a única fonte segura de conhecimento. Seu principal conceito, o “Método”, propunha um caminho para alcançar o conhecimento verdadeiro através de uma abordagem sistemática e rigorosa.

“Penso logo existo “

Karl Marx

Karl Marx foi um filósofo alemão que teve como uma de suas principais contribuições o materialismo histórico, que afirmava que a história da humanidade é definida pela luta de classes.

“A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes“

Epicuro

Epicuro, filósofo grego, fundou o epicurismo, que considera o prazer um bem supremo. Para ele, a felicidade podia ser alcançada através da busca de prazeres simples e moderados.

“A felicidade não é atingida por grandes riquezas, mas pela ausência de dor no corpo e perturbação na alma “.

Rousseau

Jean-Jacques Rousseau, filósofo do Iluminismo, ficou conhecido por suas reflexões sobre liberdade, sociedade e educação. Sua teoria contratualista defende que a soberania pertence ao povo e que o homem é naturalmente bom, mas corrompido pela sociedade.

“O homem nasce livre, e em todo lugar está acorrentado “

Jean-Paul Sartre

Jean-Paul Sartre foi um filósofo existencialista. Suas principais ideias são sobre liberdade e responsabilidade individual. Um grande defensor da liberdade, colocava-se contrário a toda amarra social.

“Estamos condenados a ser livres.”

Michel Foucault

Michel Foucault foi um filósofo francês conhecido pelo conceito de poder, através da investigação de instituições sociais, desde escolas a hospitais, que tentam moldar o comportamento das pessoas através da disciplina e do poder.

“Onde há poder, há resistência.


Como estudar filosofia?

Para começar a estudar filosofia, inicie com leituras introdutórias e busque cursos com especialistas da área que ofereçam uma visão geral das escolas filosóficas. Aqui na Casa do Saber temos uma variedade de cursos de filosofia para você viajar pela história da filosofia, refletir sobre as áreas de estudo, conceitos, o sentido da vida e muito mais!

Dicas de leitura para começar:

  • Diálogo de Fédon - Platão
  • Retórica - Aristóteles
  • Ética a nicômaco - Aristóteles
  • O mundo de Sofia - Jostein Gaarder


Além disso, busque aplicar os conceitos filosóficos no cotidiano para internalizá-los, permitindo uma compreensão mais profunda da realidade e de si. Exercite a escuta ativa e, como propunha Sócrates, dialogue e debata sobre os temas, isso exercita o pensamento crítico.


Pensar é preciso

Por fim, a filosofia nos ensina que pensar é essencial para a vida. Assim que nos desafiamos a questionar, refletir e buscar a verdade, é nela que encontramos as ferramentas para pensarmos de forma mais clara e racional.

Quando nos permitimos ter acesso e cultivar o conhecimento, ampliamos nossos horizontes, tendo uma visão mais complexa e completa do mundo. A prática filosófica nos liberta porque nos ensina a pensar, e isso nos guia para uma existência mais plena.

Aprofunde seu conhecimento sobre Filosofia, Psicanálise, Artes, História, entre tantos outros temas com os cursos da Casa do Saber:

Conheça os cursos da plataforma!





Referências

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 12. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.

SILVA, M. R. da. Filosofia medieval: uma breve introdução. Pelotas: Universidade Federal de Pelotas, 2019.

UOL EDUCAÇÃO. Filosofia. [S.l.]: UOL Educação].

ATENA EDITORA. Existencialismo: fundamentos e conceitos da existência para a atualidade. [S.l.]: Atena Editora, 2024.


SANTOS, M. C. dos; SILVA, R. A. da. A importância da filosofia na formação do enfermeiro. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 72, n. 6, p. 1539-1543, 2019.

Psicanálise
O que é narcisismo? Entenda a partir da teoria de Freud
Gabriel Cravo Prado
O que é narcisismo? Entenda a partir da teoria de Freud
Você é uma pessoa narcisista? Entenda o que é narcisismo, suas características e conheça o Mito de Narciso através da psicanálise e da obra de Freud.

Vamos percorrer neste texto algumas ideias de Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, que fez contribuições fundamentais para a compreensão do narcisismo.

Freud explorou como o narcisismo se relaciona ao desenvolvimento do eu e à formação da identidade, discutindo a transição entre o amor próprio e o amor aos outros. Suas reflexões sobre a libido e as fases do desenvolvimento infantil estão intrinsecamente ligadas à constituição do sujeito. Através de conceitos como o "narcisismo primário", "narcisismo secundário" e "libido", Freud lançou as bases para o entendimento contemporâneo desse fenômeno.





banner tdah

O que é o mito do narciso?

O mito de Narciso, oriundo da mitologia grega, narra a trágica trajetória de um jovem de beleza ímpar, filho da ninfa Liríope e do deus do rio Céfiso. Segundo a narrativa, Narciso, ao se inclinar para beber água, se depara com sua própria imagem refletida e, em um ato de deslumbramento, se vê tragicamente consumido por uma obsessão por sua beleza.

Depois desse apaixonamento pela sua imagem, ele se torna surdo à Eco, uma ninfa que estava apaixonada por ele, e não corresponde essa paixão. Narciso então é tragado pela sua própria imagem refletida no lago e morre afogado. E é a partir do mito de narciso que Freud propõe um modelo para entender o que seria a origem do Eu.

banner 'Ebook Guia para Entender o Inconsciente '

O que é narcisismo para a psicanálise?

O conceito de narcisismo possui características que divergem significativamente do que é geralmente discutido no senso comum, conforme descreveu Freud no artigo de 1914 Introdução ao Narcisismo:

"O narcisismo não seria uma perversão, mas o complemento libidinal do egoísmo do instinto de autoconservação, do qual justificadamente atribuímos uma porção a cada ser vivo" (FREUD, 2010/1914, p. 15)

Para Freud, o narcisismo é uma etapa crucial no desenvolvimento do eu, representando a transição do autoerotismo — onde o prazer é centrado no próprio corpo — para a escolha de outro ser como objeto de amor. Neste estágio, o indivíduo ainda não se distingue plenamente das demais pessoas e do mundo ao seu redor, refletindo uma fase em que a identificação com o eu é predominante.

Investimento libidinal e objeto

É importante observar que na teoria psicanalítica:

  • Investimento libidinal: refere-se à canalização da energia psíquica, ou libido, para objetos ou aspectos da realidade, como pessoas, ideias ou o próprio eu.
  • Objeto: é empregado para designar pessoas ou coisas do ambiente externo, do mesmo modo, a relação de objeto consiste na maneira que o sujeito lida com o mundo exterior.


Quanto você conhece Sigmund Freud?

"A mente é como um iceberg, flutua com apenas um sétimo de seu volume acima d'água."
Explore o fascinante mundo da psicanálise e descubra quanto você sabe sobre o pai da psicologia moderna.

Insira a palavra-passe no formulário abaixo para liberar o seu resultado!

Palavra-passe




Narcisimo Primário e Narcisismo Secundário

Assim, para a psicanálise, narcisismo é compreendido como um investimento libidinal no próprio eu, essencial para a formação dele. Esses investimentos necessitam ser direcionados para outros objetos, para o mundo exterior, ou seja, o sujeito precisa fazer investimentos que vão para além de si. Como diz Freud “ É preciso amar para não adoecer" (FREUD, 2010/1014, p. 29) .

A teoria freudiana divide o narcisismo em duas partes, sendo narcisismo primário e narcisismo secundário.

Narcisismo primário Seria o estado precoce em que a criança investe toda a sua libido em si mesma. Essa é a fase do desenvolvimento que a libido está dirigida ao próprio eu. Pode-se dizer que é o reservatório da libido, para onde ela faz o seu retorno, trabalhando no autoerotismo.
Narcisismo secundário Aqui é quando a libido não está somente no eu, ela passa a ir em direção aos objetos externos, porém, acontece o fracasso da pulsão ao tentar obter satisfação por meio de objetos externos, levando o sujeito a novamente redirecionar essa energia para o próprio eu. É quando acontece um recolhimento dos investimentos objetais.


A escolha objetal para Freud

Ainda no mesmo texto, Freud descreve um breve sumário dos caminhos para a escolha de objeto, onde diz que uma pessoa pode amar (FREUD, 2010/1914: p. 36):

Conforme o tipo narcísico:

  • o que ela mesma é (a si mesma),
  • o que ela mesma foi,
  • o que ela mesma gostaria de ser,
  • a pessoa que foi parte dela mesma.

Em contrapartida, ao tipo de escolha narcísica, a escolha anaclítica pode recair sobre:

Conforme o tipo “de apoio”:

  • a mulher nutriz,
  • o homem protetor


A escolha anaclítica é vista como uma forma de projetar necessidades afetivas em outras pessoas que pode caracterizar esse tipo de amor. Essa escolha se contrasta com o amor narcísico, onde a própria pessoa é tomada como modelo e a escolha é segundo a sua imagem e semelhança. Cabe dizer que os dois tipos de escolha estão, ao mesmo tempo, presentes no sujeito.

Retrato de Freud feito por Salvador Dali
Sigmund Freud (1938) | Salvador Dali
Retrato de Freud feito por Salvador Dali



O que é uma pessoa narcisista?

O narcisismo é uma fase necessária da evolução da libido, antes que o sujeito se volte para um objeto sexual externo. É o que estrutura da subjetividade, é um aspecto da condição humana, assim, de algum modo, todos são narcisistas, pois todo sujeito possui uma porção de libido que pode ser investida em si mesmo e para outros objetos. Ela é investida parcialmente nos objetos e parcialmente no eu.


Em suma, pode-se dizer que todos possuem narcisismo, tendo em vista que ele atua como uma forma de organização para o sujeito, garantindo a própria preservação dele. Com isso pode-se afastar a ideia de estigmas associados a comportamentos considerados excessivamente egocêntricos ou vaidosos, pois o narcisismo é um investimento do sujeito em si mesmo.

Assim o narcisismo é importante para a psicanálise tendo em vista que nos estágios iniciais da vida, não se percebe os objetos como algo externo, gradativamente ao longo dos primeiros meses é que o infante aprende a se distinguir de outros objetos. Até aqui pode-se perceber que uma pessoa sem narcisismo seria uma pessoa com uma grave questão, tendo em vista que ela não teria empatia e não conseguiria se identificar com os objetos externos.




Como se aprofundar mais nos estudos sobre o narcisismo?

O conceito de narcisismo é fundamental na psicanálise e, além disso, requer uma análise cuidadosa. Para aprofundar-se, é fundamental investigar a obra de Freud, que estabelece as bases teóricas do narcisismo e suas implicações no desenvolvimento do eu.

É recomendada a leitura de textos clássicos, como Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (1905), Introdução ao Narcisismo (1914), Luto e Melancolia (1917 [1915]). Jacques Lacan também teorizou sobre o tema no O Seminário 1 - Os Escritos Técnicos de Freud - Jacques Lacan e no escrito O Estádio do Espelho como Formador da Função do Eu.

Assistir aos cursos de psicanálise da plataforma da Casa do Saber é extremamente importante, também para se aprofundar no conceito de narcisismo.

Aqui vão 2 cursos essenciais para entender a teoria do narcisismo:





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREUD, Sigmund. Introdução ao Narcisismo (1914). Companhia das Letras: São Paulo, 2010.

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o Inconsciente. Zahar: Rio de Janeiro, 1985.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.







Neurose, psicose e perversão: qual a diferença?
Gabriel Cravo Prado
Neurose, psicose e perversão: qual a diferença?
Saiba diferenciar as estruturas psíquicas neurose, psicose e perversão e identifique os seus sintomas pela teoria de Freud sobre as origens inconscientes

A compreensão de neurose, psicose e perversão é fundamental para entender os conceitos centrais da teoria psicanalítica. Essas estruturas clínicas descrevem diferentes maneiras pelas quais o sujeito se relaciona com o mundo externo. Neste artigo, vamos explorar as principais diferenças entre neurose, psicose e perversão, suas origens e nas manifestações clínicas.

banner tdah

Neurose: conflito e recalque

É uma estrutura clínica que os sintomas manifestados funcionam como uma expressão simbólica de um conflito psíquico subjacente, cujas raízes podem ser rastreadas na história infantil do indivíduo. Esse conflito origina-se de um compromisso entre os desejos inconscientes e os mecanismos de defesa, os quais buscam mitigar o impacto do desejo reprimido ou não realizado. Esse fenômeno é muitas vezes interpretado como um reflexo de tensões internas não resolvidas, que emergem na forma de distúrbios psicológicos ou somáticos.

Na estrutura neurótica, encontram-se dois possíveis diagnósticos que auxiliam o psicanalista na direção do tratamento, a histeria e a neurose obsessiva. Ambas representam características e sintomas específicos e se distinguem pelos mecanismos de defesa e por maneiras particulares de manifestação do conflito psíquico.

Histeria As duas formas sintomáticas mais comuns da histeria são a histeria de conversão e a histeria de angústia. Na histeria de conversão, o conflito psíquico se manifesta por meio de sintomas corporais diversos, que podem ter um caráter mais exacerbado. Já na histeria de angústia, a angústia tende a se fixar em um objeto específico do mundo externo, resultando em fobias. Mesmo na ausência de sintomas evidentes, como fobias ou conversões físicas, a especificidade da histeria está ligada a certos mecanismos psicológicos, especialmente o recalque (muitas vezes perceptível), e à predominância de determinadas identificações. Além disso, a histeria está profundamente associada ao conflito edipiano, com seus desdobramentos nos registros libidinais fálico e oral, que desempenham um papel central na dinâmica emocional do sujeito.
Neurose Obsessiva Nessa condição, o conflito psíquico manifesta-se por meio de sintomas compulsivos, como pensamentos obsessivos, a compulsão para realizar atos indesejados, resistência interna a essas tendências, rituais repetitivos, entre outros. Além disso, um traço distintivo desse tipo de neurose é a predominância de um modo de pensar caracterizado pela ruminação mental, pela dúvida constante, pelos escrúpulos, o que frequentemente resulta em inibições tanto do pensamento quanto da ação. Freud, ao longo do tempo, foi refinando sua definição das neuroses obsessivas, considerando suas manifestações e origens psíquicas, com ênfase nos conflitos inconscientes que geram essas condições.



Os sintomas neuróticos são, muitas vezes, uma representação simbólica de conflitos não resolvidos. São manifestações de uma luta interna entre o desejo e as exigências do mundo externo, ou seja, uma expressão de um desejo que não pode ser satisfeito diretamente e com isso se instaura o sintoma como uma formação de compromisso entre essas forças conflitantes.

Quanto você conhece Sigmund Freud?

"A mente é como um iceberg, flutua com apenas um sétimo de seu volume acima d'água."
Explore o fascinante mundo da psicanálise e descubra quanto você sabe sobre o pai da psicologia moderna.

Insira a palavra-passe no formulário abaixo para liberar o seu resultado!

Palavra-passe




O que é psicose: a perda de contato com a realidade

Para Freud, a psicose se caracteriza por uma ruptura fundamental entre o sujeito e a realidade externa, indo além de simples sintomas de sofrimento psíquico, como ocorre nas neuroses. A principal distinção entre a psicose e a neurose, segundo Freud, é que o psicótico não possui a capacidade de reconhecer sua distorção da realidade. Enquanto o neurótico é capaz de perceber a disfunção de seus pensamentos e emoções, o psicótico vivencia um mundo completamente alterado, frequentemente marcado por delírios e alucinações.

Freud via a psicose como uma reconstrução inconsciente de uma realidade delirante ou alucinatória, onde o sujeito, isolado em sua própria interpretação do mundo, perde a conexão com a experiência compartilhada pela sociedade. Nesse sentido, a psicose foi entendida como uma reorganização psíquica que busca substituir a realidade externa por uma versão interna.

Afinal, o que é loucura?

O que a ideia de “normalidade” realmente significa? A psicanálise, desde seu início, desafia a ideia de “normalidade” como uma condição vista como “natural” do ser humano, e apresenta uma concepção mais nuançada dessa ideia. O professor, psiquiatra e psicanalista Marcelo Veras desvenda esses pensamentos no curso Somos Todos Loucos? De Perto, Ninguém é Normal.

Assista ao curso de Marcelo Veras na Casa do Saber




O que é perversão: desejo e transgressão

Freud reformula a concepção de perversão, distanciando-a das interpretações populares que a viam como um simples desvio da norma socialmente estabelecida. Embora a palavra "perversão" já fosse utilizada antes de Freud para descrever comportamentos que se afastavam do que era considerado sexualmente normal ou aceitável em uma determinada sociedade, Freud atribui a essa noção um significado mais profundo, relacionado aos processos inconscientes da pulsão. Para ele, a perversão não é apenas um desvio do comportamento socialmente esperado, mas um desvio da própria pulsão, que, em vez de alcançar o objeto tradicional de desejo, se desvia para outras formas de satisfação.

Ele também articula a perversão dentro de uma estrutura clínica mais ampla. Nesse contexto, a perversão é associada à maneira como o sujeito lida com a castração, um conceito fundamental na psicanálise. Ao contrário da neurose e da psicose, onde a castração é enfrentada de outras formas, a perversão é uma maneira de negar a castração. Essa negação não é uma simples rejeição, mas um modo de estruturar a sexualidade de forma a evitar o reconhecimento da falta, substituindo-a por uma busca incessante por objetos que permitam uma satisfação contínua, muitas vezes sem finalização.




Como aprender mais sobre a teoria psicanalítica

Se você se interessa em compreender melhor os complexos conceitos de neurose, psicose e perversão, fundamentais para a psicanálise, uma excelente maneira de aprofundar seus conhecimentos é através de um estudo estruturado e guiado.

Além disso, a Casa do Saber + e o Programa + Psicanálise oferecem cursos que constituem uma excelente oportunidade para aprofundar o entendimento de outros conceitos essenciais da psicanálise. Esses cursos são cuidadosamente estruturados para proporcionar uma análise aprofundada e uma discussão instigante, permitindo aos participantes explorar as complexidades e as implicações teóricas da psicanálise de forma mais ampla e detalhada.

Resumo sobre neurose, psicose e perversão

A neurose, envolve os sintomas de angústia, compulsões e conflitos inconscientes; a psicose é caracterizada pela perda de contato com a realidade, e a perversão, envolve desvios da pulsão e a negação da castração.




Referências Bibliográficas:

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

Psicanalista: o que faz, onde atua, formação e linhas teóricas
Camila Fortes
Psicanalista: o que faz, onde atua, formação e linhas teóricas
Entenda o que faz o psicanalista, onde atua e como se tornar um. Saiba as diferenças entre psicanalista e psicólogo e conheça as principais abordagens.

A figura do psicanalista desperta cada vez mais interesse, seja por quem busca um processo terapêutico mais profundo, seja por estudantes e profissionais que desejam atuar na área. Mais do que trabalhar uma técnica terapêutica, o psicanalista atua em um campo de conhecimento complexo, que investiga o inconsciente e os caminhos singulares de cada pessoa. Em um mundo cada vez mais marcado pela urgência, a formação em psicanálise defende o tempo da escuta, o valor da palavra e a subjetividade do sujeito.

Neste artigo, apresentaremos um guia completo para entender quem é o psicanalista, o que faz, onde atua, como se dá a sua formação e como é o curso. Além disso, iremos abordar as diferenças entre psicanalista e outros profissionais da saúde mental, apresentando as principais linhas da psicanálise e seus conceitos centrais.



O que é um psicanalista?

O psicanalista é um profissional que atua na escuta e compreensão do inconsciente humano. Sua prática é baseada na psicanálise, um campo criado por Sigmund Freud no século XIX, que busca entender os processos psíquicos profundos através da fala do paciente e da interpretação de sintomas.

O processo interpretativo do psicanalista se baseia não nos sintomas médicos, mas no que está por trás deles: os desejos reprimidos, os traumas inconscientes, as lembranças ocultas, além da interpretação de sonhos e padrões de repetição.

Diferente de outras profissões da saúde mental, o psicanalista foca em tornar conscientes os processos inconscientes que influenciam os comportamentos e ações. Nesse sentido, o profissional da psicanálise tem o potencial significativo de transformar os modos como as pessoas se sentem em relação às suas experiências e ao sofrimento mental.



O que faz um psicanalista?

O psicanalista conduz um processo terapêutico que auxilia o paciente a acessar conteúdos psíquicos que não estão imediatamente disponíveis à consciência, mas que se manifestam por meio das fantasias, sonhos, lapsos, sintomas e repetições.

O seu trabalho consiste em escutar atentamente, interpretar quando necessário e oferecer novas formas de se pensar e ressignificar experiências. Assim, o que o psicanalista faz é construir um espaço seguro para o processo analítico do paciente.

Ao longo do processo terapêutico construído pelo profissional, a sessão se baseia na associação livre, uma técnica em que o paciente é incentivado a falar livremente o que vier à mente, sem censura.

Durante as sessões, emergem fenômenos como a transferência - quando o paciente transfere sentimentos para o psicanalista, relacionados a outras figuras importantes da vida - e a contratransferência - apontada como as reações emocionais do analista ao paciente.

Esses elementos são importantes para a compreensão da dinâmica interna do paciente, pois revelam padrões inconscientes de relacionamento, desejos recalcados e formas de defesa psíquica.

Nesse cenário, é estruturado o que foi denominado por setting analítico, ou seja, um ambiente, um contexto elaborado cuidadosamente para compor as sessões. O objetivo é construir um espaço confiável, com acordos pré-estabelecidos, como a regularidade nos atendimentos, os horários e o formato.

Através da escuta atenta e das interpretações oferecidas em sessão, o psicanalista ajuda o paciente a dar sentido ao que antes era vivido de forma repetitiva, sofrida ou enigmática. Assim, o paciente desenvolve uma nova relação com sua história, podendo romper com repetições que o aprisionam e construir novos caminhos subjetivos.

👉 É importante lembrar que não existe uma “fórmula” para as sessões de psicanálise. O psicanalista não irá oferecer conselhos ou receitas pré-estabelecidas. Cada encontro é único, guiado pelo discurso do paciente e pelas intervenções pontuais do analista.

Por isso, o objetivo terapêutico não é dar “respostas prontas” ao paciente, mas apresentar interpretações que visam abrir caminhos de reflexão e transformação.




Psicanalistas e psicólogos trabalham com a compreensão da mente humana através da escuta. Eles conduzem o processo terapêutico através da investigação sobre questões emocionais e comportamentais, buscando os mecanismos para contribuir com o bem-estar das pessoas.

No entanto, apesar das semelhanças, eles possuem trajetórias, formações, métodos de trabalho e abordagens teóricas bastante distintas. Além disso, também se distinguem na forma como cada um compreende e aborda o sofrimento psíquico. Vamos, então, entender qual a diferença entre esses profissionais.

O psicanalista utiliza o método psicanalítico, baseado nos princípios criados por Freud. Esse método parte do pressuposto de que muitos dos nossos comportamentos e sintomas têm origem no inconsciente, em conteúdos reprimidos, desejos não reconhecidos e memórias recalcadas. O processo analítico envolve não apenas a resolução de sintomas, mas a compreensão inconsciente sobre esses sintomas.

O psicanalista pode atuar em consultórios particulares, clínicas de saúde mental, instituições de ensino, projetos sociais, entre outros espaços. Sua atuação se estende para além da clínica tradicional, podendo contribuir com equipes multidisciplinares e com a produção do conhecimento científico.

Já o psicólogo pode utilizar de diferentes métodos, a depender da sua formação e escolha teórica. Ele tem liberdade para atuar em clínicas, hospitais, escolas, empresas e instituições, e utilizar de diferentes abordagens terapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), Gestalt, Humanista e a Psicologia Analítica.

Além disso, é comum que psicólogos exerçam a própria Psicanálise, após realizar um processo formativo específico para isso.

Ao contrário da prática psicanalítica, as abordagens mais convencionais da psicologia tendem a trabalhar com problemas mais pontuais e objetivos, na busca por estratégias práticas para lidar com eles, visando um alívio mais rápido do sofrimento e a reestruturação do comportamento.

É importante destacar que para se tornar psicólogo, é necessário a formação de graduação na área de Psicologia, com registro no Conselho Regional de Psicologia (CRP). O processo formativo dura, em média, 5 anos, e é necessário realizar estágios supervisionados para exercer a prática clínica.


Como se tornar psicanalista?

Para se tornar psicanalista, primeiramente, é necessário compreender que o processo formativo é apenas o ponto de partida de uma jornada contínua. Dentro da comunidade psicanalítica, há um percurso amplamente reconhecido, que pode nos auxiliar a compreender o que é necessário para essa formação.

  • Interesse e curiosidade pela escuta psicanalítica:

O primeiro passo é conhecer a psicanálise não apenas como técnica, mas como uma forma de compreender o ser humano. Trata-se de um método complexo de compreensão da subjetividade humana, por isso, exige um olhar crítico, atento e curioso pela abordagem e pelos seus contextos.

Assim, investigar, pesquisar e explorar o mundo da psicanálise é essencial.

Uma sugestão de como esse interesse pode ser estimulado, se dá a partir do contato com assuntos relacionados. Livros, cursos introdutórios, filmes, séries e revistas, podem ser um excelente ponto de partida para conhecer mais sobre a psicanálise.

  • Vivência teórica e autoanálise:

Mais do que um curso em psicanálise, esse é um processo de transformação. Se tornar psicanalista não apenas envolve o estudo da teoria, mas também o confronto com o próprio inconsciente e o desenvolvimento de uma escuta refinada e profissional.

Nesse sentido, é importante que seja realizada uma vivência da análise, de preferência, por meio da psicanálise. Passar por um processo analítico estando “do outro lado” é essencial não apenas para compreender como acontece, mas para desenvolver a capacidade de fala e escuta.

Escolher um analista de confiança e explorar essa vivência pode trazer resultados significativos para o processo formativo.

  • Inserção em instituições psicanalíticas:

Muitos profissionais se associam a escolas ou sociedades psicanalíticas para aprofundar os estudos na área. A participação em seminários, congressos, a integração em grupos de pesquisa e a organização de vínculos com a comunidade analítica, também são ótimas vias de acesso à discussões do campo.

Além disso, a busca por cursos reconhecidos e bem avaliados também é necessária, uma vez que a escolha de um instituto ou escola irá influenciar diretamente no processo formativo e na prática psicanalítica.


A formação em psicanálise

O processo formativo acontece, tradicionalmente, a partir do tripé psicanalítico: a análise pessoal, a supervisão clínica, e o estudo teórico das obras de Freud, Lacan, Winnicott, Melanie Klein e outros psicanalistas.

Vamos entender cada etapa:

Na análise pessoal, o foco está na experiência subjetiva do futuro analista - ela é a base da psicanálise. Nessa etapa, ele é estimulado enquanto paciente a explorar seus pensamentos, emoções e sentimentos de forma livre e segura. Geralmente é guiada por algum psicanalista da própria escola ou instituição.

Já na etapa da supervisão clínica, o psicanalista em formação é acompanhado em seus atendimentos por outro analista mais experiente. A supervisão visa auxiliar o profissional a aprimorar suas habilidades terapêuticas e sua capacidade analítica.

Por fim, o estudo teórico é a base conceitual da formação. O conhecimento sobre autores e conceitos como inconsciente, id, superego, pulsão, transferência, desejo, fantasia, são fundamentais na compreensão do comportamento humano a partir da psicanálise.


A formação do psicanalista é singular e se dá fora do sistema universitário tradicional. Embora legalmente não se exija diploma acadêmico para exercer a psicanálise, a maioria dos institutos mais reconhecidos costuma exigir uma formação prévia em áreas como Psicologia, Medicina ou outra das ciências humanas.

Com duração de 1 e 4 anos, a carga horária da formação psicanalítica varia de acordo com a escola ou instituto. Mais do que a formalização acadêmica, o interessante é considerar nesse processo a profundidade e o envolvimento subjetivo do futuro analista.

Além disso, os cursos dos institutos mais reconhecidos mantêm critérios éticos e podem incluir entrevistas de admissão, avaliações regulares e orientações sobre limites éticos da prática analítica.

As sessões de psicanálise, normalmente, adotam um tempo padrão de 50 minutos de duração, podendo variar para mais ou para menos. Independentemente da extensão, o mais importante é a frequência e a constância dos atendimentos.

A regularidade - geralmente de uma a três vezes por semana - é essencial para que o processo analítico ganhe profundidade. Do mesmo modo, é necessário para que o inconsciente possa se expressar em suas repetições, associações e silêncios - que também dizem muito!



Curso de psicanálise: como é?

Os cursos de psicanálise são oferecidos por escolas ou institutos com orientação freudiana, lacaniana, kleiniana, entre outras. Cada linha/escola propõe metodologias de estudo e enfoques específicos.

Entenda:

Psicanálise Freudiana

A escola ou psicanálise freudiana, por exemplo, tem por objetivo analisar as pulsões de vida e morte, as estruturas psíquicas (neurose, psicose e perversão) e a sexualidade. A partir dela, são analisados os sonhos, os padrões e o processo elaborativo do paciente.



Psicanálise Lacaniana

Já a psicanálise lacaniana desenvolvida por Jacques Lacan - também denominada de Escola Francesa -, tem como eixo central a linguagem. Nessa abordagem, a escuta visa captar as rupturas do discurso para tocar o real do sujeito.

Com a linguística, a psicanálise se potencializa para compreender os sentidos de como o paciente se posiciona no mundo e nas relações a partir dos modos como fala.

banner do curso Jacques Lacan, de Christian Dunker, para a Casa do Saber

Psicanálise Kleiniana

Um outro exemplo é a escola ou psicanálise kleiniana, desenvolvida por Melanie Klein, centrada na relação entre figuras parentais e o mundo interno do bebê. Nessa abordagem, são investigadas as fantasias inconscientes originadas desde a primeira infância, ainda nas primeiras interações, sobretudo, maternas.

Nesse sentido, todas as abordagens investigam sobre o inconsciente, mas cada uma o faz a partir de uma lente específica, com foco em diferentes aspectos do psiquismo e em modos distintos de conduzir a escuta clínica.

banner do curso Melanie Klein e a refundação do eu desenvolvimento psiquico e a teoria das posicoes, do professor Alexandre Patricio, para a Casa do Saber

O que aprendemos sobre o psicanalista: conclusão do guia

Neste artigo, aprendemos como ser psicanalista envolve um compromisso ético profundo com o sofrimento do outro e com uma busca pela autocompreensão do sujeito. Entendemos que a psicanálise não é apenas uma profissão, mas um modo de escutar e compreender o ser humano em sua complexidade.

Se você se interessa pela escuta, pelo inconsciente e pelo cuidado com a subjetividade, a psicanálise pode ser um caminho transformador. E se está em busca de um processo terapêutico profundo, esse método pode proporcionar mudanças e percepções significativas.

Programa +Psicanálise

O programa de expansão em teoria e clínica psicanalítica da Casa do Saber é especialmente desenvolvido para profissionais e estudantes de psi que buscam aprofundar seus conhecimentos em psicanálise.

Os inscritos ganham acesso por 1 ano a uma jornada de conteúdos exclusivos em diferentes formatos: cursos gravados conduzidos pelos maiores professores e profissionais do Brasil, ciclos de aulas online e ao vivo e materiais complementares.

  • Mais de 45 cursos gravados com certificado
  • Encontros ao vivo com grandes referências da área
  • Grupo exclusivo para networking e troca de conhecimentos
  • Novos lançamentos de cursos mensais
  • Teoria e prática sobre temas atuais da psicanálise


CONHEÇA O + PSICANÁLISE




Psicologia
Ciúmes: Significado, Tipos de ciúme, Retroativo, Relacionamentos
Xavana Celesnah
Ciúmes: Significado, Tipos de ciúme, Retroativo, Relacionamentos
O que é ciúmes, suas causas e tipos, como esse sentimento impacta os relacionamentos românticos e como as redes sociais agravam a insegurança.

O ciúme é um sentimento presente em todo ser humano e é considerado normal até certo ponto. Ele indica que o outro é importante em um relacionamento e que a pessoa que sente ciúmes tem medo de perder aquele relacionamento. Porém, o ciúme se torna um problema quando ele passa a ser uma obsessão. Nesse ponto, a pessoa ciumenta busca controlar a vida do parceiro, prejudicando a qualidade da relação. Neste artigo, vamos abordar o significado dos ciúmes, suas causas, tipos e de que maneira ele impacta os relacionamentos. Além disso, vamos discutir a influência das redes sociais sobre esse sentimento.

O que é Ciúmes?

O ciúme pode ser definido como um sentimento de insegurança emocional que surge quando uma pessoa teme perder o afeto de seu parceiro devido à presença de uma terceira pessoa ou a percepções de diminuição de sua importância. A palavra "ciúmes" tem origem no latim zelumen e no grego zelozus, que significam um desejo ardente, calor ou zelo. Em essência, os ciúmes estão intimamente relacionados ao medo de perder algo ou alguém que consideramos valioso, o que inclui nossos relacionamentos amorosos.

De acordo com o dicionário Aurélio, a palavra ciúme é definida como um “sentimento doloroso que as exigências de um amor inquieto, o desejo de posse da pessoa amada, a suspeita ou a certeza de sua infidelidade, fazem nascer em alguém; zelos; angústia provocada por sentimento exacerbado de posse”.

Este sentimento pode ser natural e até mesmo saudável em algumas situações. Um certo grau de ciúmes pode sinalizar que a pessoa valoriza o relacionamento e tem medo de perdê-lo. No entanto, o ciúmes se torna problemático quando a insegurança e o medo de perda se transformam em obsessão. Neste ponto, a pessoa ciumenta busca controlar a vida do parceiro, o que pode prejudicar a confiança mútua e a qualidade do relacionamento.

Para entender melhor sobre o tema, assista a seguir a aula gratuita sobre ciúmes com a psicanalista e escritora Ana Suy. A autora dos livros “A gente mira no amor e acerta na solidão” e “Não pise no meu vazio”, Ana Suy esclarece sobre as origens do ciúmes e seu significado.

banner aula gratuita sobre ciumes, de por Ana Suy





Tipos de Ciúmes: Quando o Sentimento Se Torna Prejudicial

Sigmund Freud, o pai da psicanálise, acreditava que o ciúmes seria um estado emocional natural, mas que sua manifestação exacerbada causaria uma patologia. Ele identificou três níveis de ciúmes: o competitivo ou normal, o projetado e o delirante, cada um com suas características e intensidades.

Os ciúmes podem se manifestar de várias formas, desde uma preocupação momentânea até uma obsessão destrutiva. Conhecer os diferentes tipos de ciúmes é essencial para entender como esse sentimento pode afetar um relacionamento, de que forma a dependência emocional pode estar relacionada ao ciúmes e como ele pode ser tratado.

Ciúmes Normal ou Competitivo

Este tipo de ciúmes é o mais comum e natural. Ocorre quando uma pessoa percebe uma ameaça à sua relação, geralmente devido à presença de uma terceira pessoa que disputa a atenção ou o afeto do parceiro. O ciúme competitivo, também definido como normal, é desencadeado por situações reais e específicas, como um parceiro que passa mais tempo com um amigo(a) ou tem interações constantes com um ex-namorado(a).

O ciúme competitivo é, em muitos casos, uma reação à percepção de que outra pessoa pode estar ocupando um espaço importante ou oferecendo algo que a pessoa teme não poder oferecer, como atenção ou carinho. Esse tipo de ciúmes está relacionado a uma insegurança temporária e pode ser agravado pela dependência emocional. Mas, é possível ser superado por meio de diálogos abertos e pelo fortalecimento da confiança mútua.

Ciúmes Projetado

O ciúme projetado ocorre quando a pessoa que sente ciúmes transfere suas próprias inseguranças para o parceiro. Em vez de perceber seus próprios medos e desejos, ela começa a projetar essas emoções no outro. Por exemplo, uma pessoa pode suspeitar que seu parceiro está atraído por alguém, quando, na verdade, ela mesma está experimentando sentimentos de atração por outra pessoa. O ciúme projetado reflete uma desconfiança infundada e pode levar a um comportamento possessivo e controlador, sem base na realidade.

Freud acreditava que esse tipo de ciúmes está relacionado a processos inconscientes, onde a pessoa, ao sentir algo negativo sobre si mesma, começa a "enxergar" esse comportamento no parceiro, mesmo quando não há evidências concretas.

Ciúmes Delirante

O ciúme delirante é o tipo mais extremo e patológico de ciúmes. Nesse caso, o indivíduo sente uma obsessão irracional e sem fundamentos de que está sendo traído, mesmo na ausência de qualquer prova concreta. O ciúme delirante pode levar a distúrbios emocionais graves, como raiva, depressão, paranóia e até comportamentos obsessivos de vigilância, como o monitoramento constante do parceiro.

Nesse caso, a pessoa não apenas sente ciúmes de maneira exagerada, mas acredita de forma delirante e sem fundamento que o parceiro está constantemente sendo infiel. O ciúme delirante pode levar o indivíduo a criar fantasias e acreditar em situações inexistentes, como ter convicções firmes de que o parceiro está escondendo algo, mesmo sem nenhuma evidência concreta.

Esse tipo de ciúmes está frequentemente associado a transtornos psiquiátricos, como o transtorno delirante, em que a pessoa se torna obcecada por uma crença infundada. Muitas vezes, esse comportamento é uma forma de defesa contra sentimentos profundos de insegurança, baixa autoestima ou medo da perda. O ciúmes delirante pode destruir um relacionamento, pois a pessoa afetada vive imersa em fantasias e crenças distorcidas, tornando-se cada vez mais difícil para ela distinguir o que é real do que é imaginário.

banner aula gratuita sobre ciumes com Ana Suy


Como as Redes Sociais Intensificam os Ciúmes nos Relacionamentos

O surgimento das redes sociais tem adicionado uma nova camada de complexidade ao ciúmes nos relacionamentos. Plataformas como Instagram, Facebook e WhatsApp por exemplo, permitem uma exposição constante de nossas interações sociais e de momentos da nossa vida privada, o que pode alimentar a insegurança e a desconfiança no parceiro. Além disso, esses aplicativos surgem como uma fonte inesgotável de mal entendidos e de comparações, especialmente quando um parceiro interage com outras pessoas de forma aberta ou “excessiva” na internet.

A facilidade com que podemos monitorar as atividades online do outro gera o fenômeno conhecido como "stalking digital" ou ou monitoramento das redes sociais. Esse comportamento é cada vez mais comum e envolve desde a análise de fotos e postagens do parceiro até a investigação de mensagens privadas. Em alguns casos, o parceiro começa a criar cenários e conclusões baseadas em interpretações das interações online, o que pode gerar uma espiral de insegurança e desconfiança, prejudicando o fluir do amor.

Para muitas pessoas, esse tipo de comportamento provoca sofrimento emocional e pode até levar ao fim de um relacionamento saudável, já que o foco passa a ser no mal estar e insegurança gerados pelas redes sociais e não nos sentimentos reais entre os parceiros.

Ciúmes e a Psicanálise: A Profundidade das Motivações Inconscientes

Na psicanálise, o ciúme é frequentemente relacionado a uma manifestação de conflitos emocionais inconscientes, muitas vezes, enraizados em experiências passadas e dinâmicas familiares. Assim, a complexidade e os contratempos das relações amorosas teriam origens muito mais profundas. Segundo Freud, o ciúmes pode ser um reflexo de rivalidades internas, como aquelas com pais ou irmãos, ou até mesmo um desejo inconsciente de controle ou possessividade.

A psicanálise e suas diferentes perspectivas, seja através das concepções de Jacques Lacan, pela psicologia analítica de Carl Jung e de Freud, sugere que, para entender profundamente os ciúmes, é necessário examinar as emoções reprimidas e os mecanismos de defesa que as pessoas utilizam para lidar com suas inseguranças. O ciúme excessivo pode, muitas vezes, ser um reflexo de um medo profundo de abandono ou uma sensação de inadequação, que a pessoa projeta no parceiro.

O que é Ciúmes Retroativo?

O ciúme retroativo é um tipo de ciúmes que surge quando uma pessoa sente insegurança ou desconforto em relação ao passado amoroso ou sexual de seu parceiro. Ao contrário do ciúme tradicional, que geralmente está relacionado ao medo de uma ameaça no presente — como uma terceira pessoa que pode estar competindo pela atenção do parceiro — o ciúme retroativo é alimentado por sentimentos de possessividade ou inveja sobre experiências passadas.

Esse tipo de ciúmes pode ser desencadeado por conversas sobre relacionamentos anteriores, a presença de objetos ou recordações do passado (como fotos ou presentes de ex-namorados), ou até mesmo a comparação constante entre o parceiro atual e ex-parceiros. Também é possível surgir a partir de relacionamentos tóxicos com narcisistas, que costumam realizar triangulações com a intenção de desestabilizar o parceiro e causar ciúmes propositalmente. A pessoa com ciúmes retroativo pode sentir que o parceiro ainda tem uma conexão emocional com os ex, o que cria uma sensação de insegurança ou inadequação.

Por que os Ciúmes Retroativos Surgem?

O ciúme retroativo geralmente está ligado a questões de autoestima e insegurança. Quando uma pessoa não consegue se sentir completamente segura ou valorizada no relacionamento amoroso atual, pode começar a projetar suas próprias inseguranças sobre o que o parceiro viveu anteriormente. Esse sentimento é muitas vezes exacerbado por um desejo de "ser a única" pessoa ou a mais importante na vida do parceiro, levando a uma idealização de uma relação sem passado.

Além disso, pessoas com dificuldades em lidar com sentimentos de abandono ou rejeição são mais propensas a desenvolver o ciúmes retroativo, uma vez que se sentem ameaçadas pela ideia de que o parceiro possa ter experimentado um sentimento de amor mais intenso e significativo com outra pessoa no passado.

banner do curso Vocabulario dos Afetos, de Christian Dunker

Como o Ciúmes Retroativo Afeta o Relacionamento?

Quando não tratado, o ciúme retroativo pode causar tensão e desconfiança no relacionamento. Ele pode levar a conflitos frequentes, onde o parceiro ciumento questiona o outro sobre detalhes do passado, exige explicações ou tenta apagar símbolos da história anterior do parceiro, como fotos ou presentes de ex-namorados. Isso cria um ambiente de controle e possessividade, onde o foco não está na construção de um relacionamento saudável, mas em tentar apagar ou substituir o passado.

Além disso, o ciúmes retroativo pode gerar uma sensação de culpabilização no parceiro que tem um passado amoroso. Esse parceiro pode se sentir constantemente acusado ou pressionado a se desvincular de suas experiências anteriores, o que é um comportamento injusto e prejudicial à autoestima e à liberdade individual.

Como Lidar com o Ciúme Retroativo?

Autoconhecimento: Entender a origem do ciúme retroativo é fundamental. Muitas vezes, esse sentimento está relacionado a inseguranças próprias, como o medo de não ser bom o suficiente ou a ideia de que o parceiro teve experiências melhores no passado. Trabalhar esses sentimentos pode ajudar a reduzir o impacto do ciúmes.

Diálogo honesto: É importante que o parceiro que sente ciúmes retroativo converse de forma verdadeira e respeitosa com o outro, explicando suas inseguranças sem acusar ou culpar. O diálogo construtivo pode ajudar a esclarecer mal-entendidos e fortalecer a confiança.

Aceitação do Passado: Todo relacionamento tem um passado, e é saudável aceitar que o parceiro teve experiências antes de estar com você. Tentar apagar ou negar esse passado prejudica a relação. O respeito pelo passado do outro é fundamental para o fortalecimento do vínculo no presente.

Desenvolvimento da Autoestima: Investir em melhorar a autoestima e autoconfiança é essencial para quem sente ciúmes retroativo. O parceiro que se sente inseguro deve focar no seu próprio crescimento e entender que seu valor não depende das comparações com outras pessoas.

Conclusão

O ciúmes é um sentimento humano natural, mas quando se torna uma obsessão leva a comportamentos prejudiciais que afetam profundamente os relacionamentos românticos. Compreender suas origens, seus tipos e os efeitos que ele pode ter nas nossas interações é essencial para lidar com esse sentimento de forma saudável.

Se você se vê constantemente sentindo ciúmes e nota que isso está prejudicando sua vida amorosa e suas relações pessoais, a psicanálise pode ser uma boa ferramenta para entender suas causas mais profundas. Um relacionamento saudável é construído com base na confiança, no respeito mútuo e no amor, não na posse ou controle.




Perguntas Frequentes sobre o Ciúmes

  1. O que causa o ciúmes em um relacionamento?
    O ciúmes é causado por insegurança emocional, medo de perder o parceiro, baixa autoestima, e, em alguns casos, traumas devido à experiências passadas de traição ou rejeição.
  2. Como controlar o ciúmes de maneira saudável?
    Para controlar o ciúmes, é importante desenvolver a autoestima, estabelecer uma comunicação aberta com o parceiro e procurar ajuda psicológica, quando necessário.




Referências:

https://curadoria.casadosaber.com.br/curso/287/amor-e-solidao-uma-psicanalise-das-conexes-humanas

https://curadoria.casadosaber.com.br/curso/476/vocabulario-dos-afetos

https://curadoria.casadosaber.com.br/curso/311/as-relaces-amorosas-e-seus-contratempos-uma-abordagem-interdisciplinar

https://www.filosofiaepsicanalise.org/2013/11/freud-explica-o-ciume.html

Ansiedade: Sintomas, Causas, Crise de Ansiedade e Transtornos
Xavana Celesnah
Ansiedade: Sintomas, Causas, Crise de Ansiedade e Transtornos
Saiba o que é ansiedade, crise de pânico e transtornos relacionados. O tratamento da ansiedade com psicólogo e psiquiatra e a melhora da saúde mental

A ansiedade é uma emoção humana universal caracterizada por sentimentos de preocupação, medo e apreensão, geralmente despertados em situações de incerteza ou pressão. Todos nós a experimentamos em algum momento. Em si, ela não é uma doença.

Apesar de ser uma reação natural e muitas vezes útil, que nos prepara para enfrentar desafios, a ansiedade pode se tornar um problema quando ganha proporções excessivas e se transforma em um transtorno, passando a interferir no cotidiano, afetando o sono, o humor e as relações interpessoais.

Os casos de sofrimento psíquico, exigem cuidado especializado. Assim como todos os problemas de saúde mental, os transtornos de ansiedade precisam ser tratados com mais naturalidade, retirando-se o preconceito e o estigma tão culturalmente arraigados em relação a tudo o que diz respeito às questões de ordem emocional.

O Que é Ansiedade?

A ansiedade é uma reação emocional do corpo diante de situações que envolvem incerteza ou perigo. De acordo com o psiquiatra Rodrigo Bressan, “nosso corpo, através dos sistemas nervosos autônomo e simpático, está preparado para situações de luta ou fuga”, por possuir um mecanismo biológico capaz de lidar com situações de perigo. Mas, existem contextos de estresse que ultrapassam a capacidade de regulação emocional do corpo, fazendo com que as pessoas saiam do eixo e causando diversos problemas de saúde mental, como os transtornos de ansiedade.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os transtornos de ansiedade são os transtornos mentais mais comuns do mundo e afetaram aproximadamente 301 milhões de pessoas em 2019, o que corresponde a cerca de 4% da população mundial. Ainda segundo a OMS, as mulheres são mais afetadas por este tipo de transtorno do que os homens e os sintomas começam a surgir na infância e na adolescência.

Os transtornos de ansiedade, além de provocarem sofrimento, interferem de forma significativa nas atividades cotidianas, causando grande impacto no nível de incapacitação da nossa sociedade. Quando não tratados, esses sintomas podem persistir por anos, impactando ainda mais na saúde mental e emocional do indivíduo.

A boa notícia é que grande parte dos transtornos mentais, como os de ansiedade, são tratáveis e existem terapias e intervenções altamente eficazes, como a psicoterapia e o uso de medicamentos, que podem ajudar a controlar os sintomas e permitir que a pessoa recupere o bem estar e a qualidade de vida.

Apesar da alta prevalência e do impacto significativo desses transtornos, estima-se que apenas 1 em cada 4 pessoas com os sintomas busque tratamento. A falta de conscientização sobre a natureza tratável da condição, o baixo investimento público em serviços de saúde mental, a falta de profissionais de saúde qualificados para este tipo de atendimento e o estigma social em torno do tema são algumas das barreiras que dificultam o acesso a um tratamento adequado, segundo a OMS.

A conectividade moderna tem um impacto direto na nossa saúde mental. Acordar, checar notificações, rolar feeds infinitos, adiar o sono... Isso soa familiar? Se sim, é hora de refletir sobre como as redes sociais podem estar afetando o seu equilíbrio emocional.

Baixe agora o ebook gratuito da Casa do Saber e descubra como recuperar sua tranquilidade e proteger sua saúde mental diante desse cenário de hiperconectividade.

Banner ebook 'Ansiedade e redes sociais', da Casa do Saber




Sintomas de Ansiedade

Os sintomas de ansiedade podem variar de pessoa para pessoa, mas geralmente incluem manifestações físicas e emocionais. É importante entender que a ansiedade não é um fenômeno exclusivamente psicológico. Ela também afeta o corpo e muitas pessoas com transtornos de ansiedade experimentam uma série de sintomas físicos que podem ser tão intensos ao ponto de se confundirem com outros problemas de saúde. Assim, os transtornos de ansiedade podem provocar sintomas físicos, emocionais e comportamentais.

Sintomas Físicos da Ansiedade

Os sintomas físicos mais recorrentes dos transtornos de ansiedade incluem:

  • Tensão muscular: A musculatura do corpo, especialmente nas regiões do pescoço, ombros e mandíbula, tende a se contrair, causando desconforto.
  • Taquicardia: O aumento da frequência cardíaca é o sintoma clássico da ansiedade. As palpitações e a sensação de coração acelerado são muito frequentes.
  • Falta de ar: A dificuldade para respirar ou "respiração curta" é recorrente em episódios de ansiedade, especialmente durante ataques de pânico.
  • Suor excessivo: Suor demasiado, especialmente nas palmas das mãos, axilas ou testa, mesmo em situações sem estresse imediato.
  • Tremores nas mãos: O nervosismo pode causar tremores involuntários nas mãos ou até mesmo em outras partes do corpo
  • Boca seca: A ansiedade pode diminuir a produção de saliva, resultando em boca seca e desconforto.
  • Dores no peito: O estresse físico pode provocar dores no peito ou uma sensação de pressão, frequentemente confundida com problemas cardíacos.
  • Náuseas e desconforto abdominal: O estômago e o sistema digestivo podem reagir de maneira exacerbada ao estresse, causando náuseas, cólicas ou diarreia.


Sintomas Emocionais e Psicológicos da Ansiedade

Os transtornos de ansiedade, além de causarem sintomas físicos, manifestam-se no emocional do indivíduo, afetando o seu bem-estar e a qualidade dos seus relacionamentos. Dentre os sintomas psicológicos da ansiedade, as pessoas experimentam:

  • Preocupação excessiva: A mente fica sem paz, devido à preocupação permanente com todas as atividades cotidianas. Tarefas do trabalho, problemas familiares, atividades pessoais, tudo está sendo processado com muita velocidade e os pensamentos estão sempre direcionados à próxima atividade que deve ser realizada, retirando o indivíduo do presente. Nesses casos, a meditação mindfulness pode auxiliar como uma terapia complementar e trazer a mente de volta ao presente.
  • Medo iminente: A sensação angustiante de que algo terrível pode acontecer a qualquer momento é outro sintoma comum. Esse medo pode não ter um motivo claro, mas também pode estar associado a algum evento na vida do indivíduo, como uma viagem, uma apresentação importante, algum evento social.
  • Irritabilidade: Pessoas ansiosas tendem a se tornar mais irritadas e impacientes, agindo de maneira ríspida no cotidiano.
  • Dificuldade de concentração: Como a mente está repleta de pensamentos voltados para o futuro, é comum que haja uma dificuldade de concentração em tarefas do dia a dia. Esse fator é particularmente prejudicial à produtividade, afetando o indivíduo no trabalho.
  • Nervosismo ou inquietação: As pessoas tendem a se sentir em alerta constante, sem relaxar. Daí a sensação de inquietude, pois vivem como se estivessem prestes a ter uma crise a qualquer momento.




Sintomas Comportamentais da Ansiedade

Todos os sintomas da ansiedade estão interligados, mas de maneira didática eles são divididos nesses três tipos: físicos, emocionais e comportamentais. Em relação ao comportamento, os indivíduos acometidos com o transtorno podem começar a adotar certos padrões com o desejo de evitar o desconforto da ansiedade. Veja exemplos de como a ansiedade afeta o comportamento:

  • Dificuldade para dormir (insônia): As pessoas com transtornos de ansiedade geralmente têm dificuldades para relaxar e adormecer. A mente hiperativa, cheia de preocupações, impede o descanso adequado.
  • Isolamento: Uma das respostas mais comuns à ansiedade é evitar situações que possam desencadear medo ou desconforto. Assim, alguém com transtorno de ansiedade pode evitar encontros sociais ou eventos públicos.
  • Procrastinação: A ansiedade provoca dificuldade de tomada de decisões e acaba deixando as pessoas sem realizar suas atividades. O medo do fracasso é outro motivo que gera a procrastinação.
  • Comportamentos de fuga: Em alguns casos, a pessoa pode buscar formas de "escapar" da ansiedade, como o abuso de substâncias.


O que é uma Crise de Ansiedade?

Uma crise de ansiedade é um episódio intenso e súbito em que os sintomas de ansiedade atingem um pico, causando grande desconforto e aflição. Geralmente, essas crises estão relacionadas a eventos estressantes. Elas costumam ter uma duração limitada, por volta de 30 minutos, mas podem deixar a pessoa com uma sensação de cansaço extremo ou vulnerabilidade quando passam.

Durante uma crise de ansiedade, a pessoa normalmente vivencia sintomas emocionais e físicos. Entre os sintomas psicológicos estão: sensação de medo, angústia, nervosismo, apreensão, sensação de estar fora de si mesma e de que o mundo ao redor não é real. A mente tende a se concentrar nas piores possibilidades, com o medo iminente de perder o controle ou até mesmo de morrer.

Já os sintomas físicos são consequência da liberação de hormônios como o cortisol e a adrenalina, que são ativados pelo sistema nervoso simpático em situações de estresse. Eles podem incluir:

  • Aceleração do batimento cardíaco e palpitações
  • Sensação de sufocamento ou falta de ar
  • Tontura e sensação de desmaio
  • Formigamento nas extremidades
  • Aumento da pressão arterial
  • Suor excessivo, boca seca, mãos geladas e pele fria
  • Náuseas, podendo até levar ao vômito
  • Vontade frequente de urinar


Durante uma crise, as pessoas sentem dificuldade em realizar tarefas cotidianas, e ficam incapazes de retomar a normalidade até que o episódio termine. Existem tratamentos eficazes para as crises de ansiedade, que podem ser feitos através de atendimentos psicológicos. Além disso, as técnicas de relaxamento e atenção plena podem reduzir os sintomas do transtorno.

Diferença entre Crise de Ansiedade e Crise de Pânico

A crise de pânico é um tipo específico de ataque de ansiedade e ambos possuem sintomas semelhantes. O que costuma diferenciá-los é a causa. A crise de pânico normalmente ocorre sem um motivo identificável, sem uma causa óbvia e costuma ser acompanhada de um medo súbito de morrer.

Uma crise de pânico, pode ocorrer de forma inesperada, sem qualquer aviso, e se caracteriza por ser extremamente aterrorizante.

Já a crise de ansiedade é desencadeada por algum estímulo estressante específico. A síndrome do pânico, por sua vez, é a recorrência de ataques de pânico, que acontecem com frequência e de forma imprevisível.

Os sintomas da crise de pânico incluem:

  • Aumento súbito do batimento cardíaco
  • Dificuldade para respirar ou sensação de sufocamento
  • Suor excessivo, calafrios ou tremores
  • Sensação de morte iminente ou perda de controle


Embora assustadoras, as crises de pânico geralmente não apresentam risco físico imediato. No entanto, quando são recorrentes, elas podem levar ao desenvolvimento de um transtorno de pânico, que prejudica significativamente a qualidade de vida da pessoa.

Tipos de Transtornos de Ansiedade

Pela visão da psiquiatria, os transtornos de ansiedade podem se manifestar de várias formas e cada tipo tem características específicas que afetam a vida cotidiana de maneira distinta. Os transtornos mais comuns incluem o transtorno de ansiedade generalizada (TAG), o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), a fobia social e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Veja a seguir os principais tipos de transtornos de ansiedade, com suas particularidades e sintomas típicos.

TIPOS DE TRANSTORNO DE ANSIEDADE SINTOMAS
Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) É caracterizado por preocupações persistentes e exageradas com as situações do cotidiano. As pessoas com esse tipo de transtorno se sentem ansiosas em relação ao trabalho, à saúde, aos relacionamentos, às finanças. Ou seja, o medo abrange basicamente todos os aspectos da vida e causa um forte desgaste emocional e físico no indivíduo.
Transtorno de Pânico É identificado quando a pessoa tem o histórico de vários episódios de ataque de pânico. A sensação de perda de controle, falta de ar, desespero, medo da morte são constantes.
Transtorno de Ansiedade Social (Fobia Social) Diz respeito a um medo de ser julgado, rejeitado ou humilhado em situações sociais. Ademais, a pessoa com fobia social tem pavor de apresentações em público ou reuniões. É um transtorno que prejudica as relações interpessoais e o desenvolvimento profissional.
Agorafobia É um transtorno relacionado ao medo de estar em lugares desconhecidos ou onde o indivíduo sente que não tem o controle sobre a situação. O medo de não conseguir escapar ou de não conseguir obter ajuda limitam o deslocamento de quem tem esse tipo de transtorno. Viajar de ônibus ou avião, estar em espaços fechados, como cinemas, lojas, ou mesmo no transporte público podem ser extremamente difíceis para quem tem agorafobia.
Fobias Específicas São medos irracionais e intensos de objetos ou situações específicas, como medo de voar, de aranhas, de cobras, de locais fechados ou de altura. Esses medos podem ser tão paralisantes que a pessoa afetada fará o possível para evitar enfrentar a situação ou objeto temido. Apesar de serem inconscientes, essas fobias podem gerar grande sofrimento emocional e interferir nas atividades diárias.
Mutismo Seletivo É um transtorno que afeta principalmente crianças e é mais comum em meninas. Caracteriza-se pela incapacidade de falar em determinadas situações sociais. As crianças com mutismo seletivo têm dificuldade em interagir fora do seu círculo familiar próximo, atrapalhando sua adaptação escolar e social.
Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) Ocorre após a pessoa viver uma situação traumatizante, como um acidente grave, um abuso ou violência. Ela se manifesta através de flashbacks, pesadelos e uma sensação de alerta. A pessoa fica revivendo o trauma e tende a evitar lugares e atividades que lembrem o evento traumático.
Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) Envolve a presença de pensamentos repetitivos: ideias, imagens ou impulsos que surgem de forma repetitiva e incontrolável. Para aliviar a ansiedade causada por esses pensamentos, a pessoa pode desenvolver comportamentos compulsivos, como lavar as mãos repetidamente, verificar várias vezes se a porta está trancada ou realizar constantes rituais de organização.



Vivemos em uma cultura que proporciona o desenvolvimento da ansiedade. Estamos sempre consumidos com as próximas tarefas que precisam ser realizadas e existe uma competitividade extrema por desempenho. Nesse sentido, mesmo que não ocorram fatores estressantes diretos, é possível que as pessoas desenvolvam algum transtorno de ansiedade devido ao estilo de vida que levam.

Além disso, a ansiedade pode ser causada por relacionamentos abusivos, ambientes familiares e profissionais tóxicos, traumas e estresse crônico. O histórico familiar também pode aumentar as chances de desenvolver o problema.

Relação entre Ansiedade e Depressão

É comum a coexistência da ansiedade com a depressão em uma mesma pessoa. Os sintomas de um transtorno acabam agravando os do outro, gerando um ciclo vicioso. Transtornos de ansiedade podem causar uma preocupação intensa em relação ao futuro que acabam gerando uma descrença no próprio potencial.

Além disso, pessoas deprimidas podem tentar usar substâncias como uma forma de anestesiar suas dores e acabam desenvolvendo crises de ansiedade devido ao consumo de drogas.

Psicólogo ou Psiquiatra: Quando Consultar Cada Um?

A escolha entre consultar um psicólogo ou um psiquiatra depende das necessidades e características de cada caso. Ambos os profissionais têm papeis complementares, mas com enfoques diferentes no tratamento da ansiedade.

  • Psicólogo: O psicólogo trabalha com o paciente para explorar e compreender as causas emocionais e comportamentais da ansiedade. Ele pode utilizar diversas abordagens terapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que foca em identificar e modificar padrões de pensamento disfuncionais que alimentam a ansiedade.
  • Psiquiatra: O psiquiatra, por sua vez, tem a capacitação necessária para diagnosticar transtornos mentais e, quando necessário, prescrever medicamentos, como antidepressivos ou ansiolíticos, para controlar os sintomas da ansiedade. Embora os psiquiatras também realizem sessões de psicoterapia, sua especialização é focada no tratamento medicamentoso e no diagnóstico de condições relacionadas a outros transtornos de saúde mental, como depressão, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ou transtornos de pânico.


A Psicanálise e o Tratamento da Ansiedade

A análise pessoal, por meio da psicanálise, também é eficaz no tratamento dos transtornos de ansiedade, pois trata a questão a partir do inconsciente. De acordo com a psicanálise, existe uma parte da mente humana que armazena conteúdos que o sujeito não consegue perceber conscientemente. Isso ocorre, dentre outros aspectos, porque esses elementos podem entrar em conflito com a imagem que a pessoa construiu a respeito de si mesma.

Para a psicanálise, a ansiedade excessiva ou patológica está frequentemente associada a esses conteúdos inconscientes. Em vez de ver os eventos estressores como a causa direta da ansiedade, a psicanálise considera que eles funcionam como gatilhos, que desencadeiam reações emocionais intensas. Esses gatilhos, na verdade, estão relacionados a experiências ou conflitos reprimidos no inconsciente, que ainda não foram processados.

Nesse sentido, a psicanálise entende que grande parte de nossas questões e conflitos mais profundos estão guardados no inconsciente, e, por isso, somos incapazes de reconhecê-los por conta própria. Isso é mais evidente ainda em relação aos traumas e emoções reprimidos durante a infância ou adolescência, que, mais tarde, podem se manifestar como sintomas de ansiedade na vida adulta.

O trabalho do psicanalista é ajudar o paciente a perceber que a situação imediata, que ele acredita ser a causa da ansiedade, é apenas um gatilho que ativa questões mais profundas e inconscientes. Durante a análise, por meio do discurso, o paciente passa a trazer suas questões e o psicanalista o ajuda a elaborar essas conexões.

Esse processo gradual permite que o paciente entre em contato com os conteúdos reprimidos do inconsciente, os reconheça e, ao fazer isso, reduza a sua ansiedade e insegurança. Portanto, pessoas que sofrem de ansiedade podem se beneficiar significativamente de um tratamento baseado nos princípios da psicanálise.

Banner ebook 'Ansiedade e redes sociais', da Casa do Saber




Como tratar a ansiedade?

O tratamento para os transtornos de ansiedade é eficaz e pode ser realizado por meio de diferentes abordagens, incluindo terapias, o processo de análise, intervenções medicamentosas orientadas por um psiquiatra e mudanças no estilo de vida. O sucesso do tratamento depende não apenas das intervenções, mas também da qualidade da relação entre o paciente e o profissional de saúde.

A confiança e o vínculo terapêutico são fundamentais, pois ajudam no processo de autoconhecimento, essencial para o enfrentamento da ansiedade. Como explica o Dr. Rodrigo Bressan, “se a gente entende como a gente funciona, é mais fácil se autorregular emocionalmente e estabelecer estratégias de superação”. Isso significa que, quanto mais uma pessoa compreende seus próprios mecanismos emocionais, mais preparada ela estará para lidar com situações estressantes.

Perguntas Frequentes sobre Ansiedade

Pergunta 1: Ansiedade tem cura?

Sim, já existem vários tratamentos eficazes para os transtornos de ansiedade, que incluem intervenções e tratamentos psicológicos, psicanálise, medicamentos e técnicas de mindfulness. Pessoas com sintomas de ansiedade devem procurar atendimento, além de aliar a prática de exercícios físicos regulares e uma alimentação saudável.

Pergunta 2: Quais são os tratamentos disponíveis para a ansiedade?

Os tratamentos mais comuns incluem psicoterapia, medicamentos (como ansiolíticos e antidepressivos) e técnicas específicas, como a prática de mindfulness e a gestão do estresse.

banner do curso Vocabulario dos Afetos, de Christian Dunker



Referências:

https://www.who.int/

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/174/a-ciencia-dos-sentimentos-alcancando-bem-estar-psicologico

https://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/224_ansiedade.html

https://www.paho.org/pt/noticias/17-6-2022-oms-destaca-necessidade-urgente-transformar-saude-mental-e-atencao

Medo: o que é, os tipos de medo e fobia, superação e bem-estar
Xavana Celesnah
Medo: o que é, os tipos de medo e fobia, superação e bem-estar

O medo é uma emoção natural, que faz parte dos nossos mecanismos de defesa para sobreviver. Quando sentimos medo, nosso corpo entra em um estado de alerta, nos preparando para agir ou fugir diante de uma ameaça.

Embora o medo seja uma reação fundamental para nossa proteção, ele também pode tornar-se doentio, ao se manifestar de forma excessiva. Assim, ele pode se tornar uma fobia, emoção que interfere no bem estar e na saúde mental dos indivíduos. Neste artigo, vamos explicar o que é o medo, por que sentimos medo, como lidar com ele e como ele pode se apresentar em forma de fobias. Além disso, vamos discutir as terapias mais eficazes para tratar dessas fobias.

O Que é Medo?

O medo é uma resposta emocional do nosso organismo a uma ameaça percebida, que pode ser real ou imaginada. Ele é, portanto, uma reação orgânica de perturbação emocional diante da exposição a algum tipo de perigo. Dessa maneira, o medo aciona o sistema límbico cerebral, responsável pelas emoções, e deixa o corpo num estado de alerta para decidir rapidamente entre lutar ou fugir da ameaça.

Portanto, o medo desperta os mecanismos de defesa corporais, aumentando os batimentos cardíacos e deixando a respiração mais acelerada. Nesse sentido, o medo é natural e faz parte de um organismo saudável.

De acordo com o psicanalista Christian Dunker, uma pessoa que não tem medo seria uma presa fácil do mundo, alguém que não consegue se defender. Assim, o medo seria, para ele, “um afeto que levanta e mantém o indivíduo numa espécie de estado decisional”.

Ou seja, o medo nos levaria a produzir rápidas interpretações e hipóteses a respeito da situação, de modo que o indivíduo afetado pelo medo consiga gerar decisões para se proteger. Ainda de acordo com Dunker, apesar do medo ser comumente associado à covardia, o que de fato acontece é que a pessoa corajosa não é aquela que não tem medo, mas sim a que é capaz de senti-lo e enfrentá-lo. Já que o medo seria uma emoção essencial para o desenvolvimento do pensamento lógico e da inteligência.

banner do curso Vocabulario dos Afetos, de Christian Dunker

Por Que Sentimos Medo?

Sentimos medo porque o nosso organismo deseja sobreviver. O medo é uma resposta adaptativa e decisiva para a nossa sobrevivência. Aliás, não apenas para a sobrevivência humana, mas os demais animais também possuem essa emoção como uma defesa para enfrentar situações perigosas.

O medo nos prepara para agir rapidamente, seja através da fuga do perigo ou por meio do enfrentamento. Ademais, essa resposta fisiológica envolve a liberação de adrenalina, acelerando o coração, a respiração e preparando os músculos para ação.

Em suma, sentimos medo porque ele é uma estratégia de sobrevivência. Ele aciona nossa capacidade de responder ao perigo. Sem essa sensação, estaríamos mais propensos a nos expor a situações arriscadas, como ficar perto de animais selvagens ou atravessar avenidas movimentadas sem a atenção necessária.

Muitas vezes, a ansiedade antecede o medo, como uma forma de alertar o corpo para algo que ainda vai acontecer. A ansiedade e o medo estão intrinsecamente relacionados, sendo que a ansiedade estaria mais ligada à antecipação de um risco. O medo, por sua vez, seria a reação imediata a uma ameaça concreta.

Embora o medo seja uma emoção natural e benéfica para nossa proteção, ele pode se tornar disfuncional em algumas situações, levando a uma sensação de paralisia ou a um comportamento excessivo de evitação.

Como Lidar com o Medo?

Apesar de o medo ser uma emoção natural e benéfica para a proteção da vida, ele pode se transformar em um problema quando passa a ser excessivo, e com os limites saudáveis sendo ultrapassados pode se transformar em uma fobia. Nesses casos, a saúde mental e o bem-estar do indivíduo ficam significativamente prejudicados. É aí que as estratégias e abordagens terapêuticas são necessárias para ajudar a lidar com o medo, compreender sua origem e reduzir seu impacto no dia a dia. Aqui estão algumas estratégias para lidar com o medo:

  1. Aceitação do Medo: O primeiro passo para lidar com o medo é aceitá-lo como uma parte natural da vida. Em vez de tentar suprimir ou negar os sentimentos de medo, é importante reconhecê-los e compreender sua função.
  2. Terapias: Para medos excessivos, como fobias, o tratamento é fundamental. Entre as abordagens terapêuticas, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) tem a proposta de ajudar as pessoas a reestruturarem sua relação com o medo e encontrarem maneiras mais saudáveis de lidar com ele. A Dessensibilização Sistemática é uma técnica de exposição gradual utilizada no tratamento de fobias, onde o paciente é progressivamente exposto à situação que causa medo, até que a resposta emocional se torne mais controlável.
  3. Identificar a Causa:

    Compreender o que está por trás do medo é essencial. O medo é uma reação a algo que percebemos como ameaça, mas essa percepção pode ser distorcida ou projetada. Por isso, as psicoterapias e a psicanálise são indicadas para ajudar o paciente a identificar as causas do medo até que tenha os recursos para trazê-las à tona e superá-las.

  4. Mindfulness e Respiração:

    Práticas de meditação como o mindfulness são aliados no controle do medo e da ansiedade. As técnicas de respiração profunda auxiliam na promoção da calma, reduzindo a ativação do sistema nervoso nos casos de medo. Os exercícios de mindfulness levam a pessoa a se concentrar no momento presente, evitando assim que o medo se amplifique por pensamentos catastróficos voltados para o futuro.

  5. Rede de Apoio Social: Conversar sobre seus medos com amigos, familiares ou profissionais é uma maneira eficaz de reduzir a ansiedade e o pavor. O suporte social ajuda a aliviar a carga emocional e também permite que a pessoa perceba que não está sozinha em seus sentimentos.



O Medo de Perder e o Medo da Solidão?

O medo de perder está profundamente ligado à nossa necessidade de controle e segurança. Esse medo surge em contextos variados, mas é extremamente comum nos relacionamentos amorosos. A perda do companheiro/a pode despertar uma sensação de desespero e impotência. Na maioria das vezes, esse tipo de perda causa um grande vazio interior e as pessoas não estão preparadas para lidar com isso. Daí, sentimentos como o ciúme podem surgir a partir do medo de perder o parceiro e também do medo da solidão.

A conectividade moderna tem um impacto direto na nossa saúde mental. Acordar, checar notificações, rolar feeds infinitos, adiar o sono... Isso soa familiar? Se sim, é hora de refletir sobre como as redes sociais podem estar afetando o seu equilíbrio emocional.

Baixe agora o ebook gratuito da Casa do Saber e descubra como recuperar sua tranquilidade e proteger sua saúde mental diante desse cenário de hiperconectividade.

Banner ebook 'Ansiedade e redes sociais', da Casa do Saber




A quebra da rotina, a frustração em relação à idealização do amor, além, é claro, da ausência do companheiro, podem desestruturar o lado emocional. Assim, o medo de que o relacionamento termine, acaba alimentando a ansiedade e a insegurança em algumas pessoas, podendo gerar um ciclo repetitivo de preocupações. Esse contexto é um terreno propício para a evitação ou o apego excessivo àquilo que se teme perder.

Por outro lado, o medo da solidão está associado ao sentimento de desconexão e à busca por aprovação social. A solidão é vista como uma experiência angustiante e digna de pena. Portanto, a hipótese de ser rejeitado ou de não ser amado é sentida como aterrorizante. O medo de ficar sozinho pode afetar a saúde mental, contribuindo para o desenvolvimento de transtornos como a depressão e a ansiedade. Esse medo está intimamente ligado à necessidade de pertencimento, uma das necessidades humanas mais básicas.

Tanto o medo da perda quanto o da solidão podem desencadear a dependência emocional. Devido a esses medos, algumas pessoas acabam permanecendo em relacionamentos tóxicos, apenas para evitar o vazio emocional. O autoconhecimento e o fortalecimento da autoestima podem contribuir para a superação desses medos.

Aprender a lidar com a possibilidade da perda e entender que a solidão não significa necessariamente abandono ou fracasso são pensamentos a serem incorporados para que o sujeito entenda e acolha melhor suas emoções.

Como Diferenciar Tipos de Medo?

Embora todos nós experimentemos o medo de alguma forma, existem diferentes maneiras pelas quais ele se manifesta e intensifica. O medo pode ser classificado em medos comuns, que são reações naturais a situações perigosas, e em fobias, que são medos excessivos e irracionais.

Segundo o psicanalista Christian Dunker, as fobias são mais frequentes em crianças e apresentam-se como “um tipo de sintoma no qual a pessoa mostra um medo muito forte, dirigido a um objeto. Esse objeto pode ser um animal, tipo um rato ou uma cobra; pode ser uma situação, como estar dentro de um elevador, que é a claustrofobia; pode ser uma cor, como a eritrofobia, medo da cor vermelha.” Veja na tabela abaixo alguns tipos comuns de medo e de fobia:

TIPOS DE MEDO TIPOS DE FOBIA
Medo de falar em público É um dos medos mais frequentes, afetando muitas pessoas em contextos profissionais e sociais.
Fobia social Medo intenso de ser julgado ou criticado em situações sociais. Esse tipo de fobia pode levar ao isolamento e prejudicar relacionamentos.
Medo de altura (acrofobia) Sensação de vertigem em grandes altitudes, como ao olhar de um prédio alto ou ao viajar de avião.
Claustrofobia Medo de espaços fechados, como elevadores, salas pequenas ou ambientes sem ventilação.
Medo de animais Cachorros, cobras, aranhas e outros animais podem gerar medo em muitas pessoas, em graus que variam de desconforto a pânico.
Agorafobia Medo de espaços abertos, lugares públicos ou situações onde a fuga seria difícil. Pessoas com agorafobia podem evitar sair de casa ou ter dificuldade em frequentar lugares lotados.



Como Diferentes Terapias Podem Ajudar a tratar do Medo?

Nos casos em que o medo se torna excessivo, irracional e impede a execução normal das atividades diárias, buscar ajuda terapêutica é fundamental. Além das fobias, outros transtornos também podem ter o medo e o estado de alerta como característica predominante. O Transtorno de Pânico, o Transtorno de Estresse Pós-Traumático e até distúrbios alimentares como anorexia e bulimia são exemplos que envolvem uma reação exagerada de medo ou ansiedade, afetando o bem-estar físico e psicológico. Algumas abordagens terapêuticas indicadas para tratar o medo incluem:

  1. Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC):

    Essa abordagem ajuda a identificar e reestruturar padrões de pensamento disfuncionais que alimentam o medo, permitindo que a pessoa desenvolva formas mais saudáveis de reagir.

  2. Dessensibilização Sistemática:

    É uma técnica de terapia de exposição gradual. A pessoa é exposta de forma controlada ao objeto ou situação que causa o medo, começando com uma forma menos intensa e progredindo até enfrentar a situação real. Esse processo ajuda a diminuir a intensidade da resposta de medo ao longo do tempo.

  3. Psicanálise:

    A psicanálise aborda as fobias como manifestações de conflitos inconscientes, que podem estar ligados a traumas, desejos reprimidos ou sentimentos de culpa. Assim, esses medos não estariam ligados apenas a ameaças concretas, mas também a causas simbólicas vindas de questões emocionais mais profundas que o paciente não consegue compreender conscientemente. Esse tipo de tratamento visa ajudar o paciente a integrar e superar os traumas emocionais subjacentes, proporcionando uma cura mais profunda e duradoura.


Banner ebook 'Ansiedade e redes sociais', da Casa do Saber


O que é o medo considerado normal e necessário para nós?

O medo é visto como normal e saudável quando acontece para nos ajudar a identificar situações de risco. Por fazer parte do nosso mecanismo de defesa, ele é uma emoção normal e necessária. É uma emoção essencial para nos ajudar a evitar perigos e a tomar decisões rápidas. Quando o medo é moderado e alinhado com uma ameaça real, ele representa uma parte necessária do nosso funcionamento emocional.

Porém, ao se tornar desproporcional, como nas fobias, o medo se torna um transtorno que deixa de ser útil à sobrevivência e se torna problemático. Nesses casos, o medo não prepara o indivíduo para agir, mas o paralisa, impedindo-o de se relacionar com a fonte do medo, e afetando sua qualidade de vida.

Conclusão:

O medo em si não é uma emoção que precise de tratamento. Apenas quando se torna irracional ou desmedido é que passa a afetar negativamente a nossa vida. Por isso, é importante saber diferenciar o medo saudável das fobias, já que essas precisam de ajuda profissional. Entender o medo e suas manifestações é o primeiro passo para superá-lo e viver uma vida mais equilibrada.




Perguntas Frequentes:

Quando Buscar Ajuda para o Medo?

Quando o medo se torna excessivo, contínuo e interfere nas atividades diárias, como em casos de fobia, é importante procurar ajuda profissional. As psicoterapias ou a psicanálise podem ajudar a reduzir o impacto do medo e restaurar o equilíbrio emocional, permitindo que a pessoa recupere o controle de sua vida.

O que fazer para vencer o medo de falar em público?

Para vencer o medo de falar em público, é importante se preparar bem e ensaiar a apresentação, o que aumenta a sensação de confiança. Focar na mensagem, em vez de se preocupar com o próprio desempenho, também ajuda a diminuir a ansiedade. Técnicas de respiração profunda e relaxamento podem acalmar os nervos antes e durante a fala. Se o medo for muito intenso, procurar apoio profissional pode ser útil para superar o medo de forma eficaz.



Referências:

https://brasilescola.uol.com.br/psicologia/medo.htm

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/476/vocabulario-dos-afetos

https://www.youtube.com/watch?v=E1BzzharV14

https://www.nationalgeographicbrasil.com/ciencia/2023/09/como-o-corpo-reage-quando-sentimos-medo







Filosofia
Antropocentrismo: o que é, conceitos, bases e controvérsias
Tainá Voltas
Antropocentrismo: o que é, conceitos, bases e controvérsias
Entenda o que é o antropocentrismo, como essa doutrina filosófica influenciou as ciências ocidentais e porquê ela é questionada atualmente.

Se você busca um resumo sobre o antropocentrismo, seus conceitos, ideias, além de um aporte sobre qual visão essa corrente defende, está no lugar certo. Ao longo desse artigo, vamos destrinchar o tema a partir do seguinte guia:



banner tdah

De forma geral, podemos definir o antropocentrismo como um conceito filosófico que acredita na importância e preponderância do potencial humano, principalmente em comparação às demais coisas que compõem o universo.

Ou seja, tem como objeto de estudo o ser humano, compreendendo-o como um ser dotado de inteligência e que, por isso, é capaz de usar a razão para explicar o cosmos, a vida e os elementos que estão ao seu redor.

Trata-se de uma visão de mundo que usa o “homem” como principal referencial, ou que interpreta a realidade sob uma perspectiva dos valores, feitos e experiências humanas.

Desenho homem Vitruviano.
Desenhado por Leonardo da Vinci em 1490, o Homem Vitruviano é um dos mais conhecidos símbolos do antropocentrismo e do renascimento. As proporções matemáticas da imagem são destacadas como forma de enaltecer a simetria básica do corpo humano, destacando o olhar cuidadoso do pintor para o ser humano e para as medidas matemáticas. (Fonte: Leonardo Da Vinci - Photo from Luc Viatour.. 2007-09-08)


Qual o conceito de antropocentrismo e como ele influenciou a Filosofia Moderna?

Para compreender o que é o antropocentrismo é necessário, primeiro, saber sobre quais bases essa filosofia foi desenvolvida.

A visão antropocêntrica está associada diretamente à queda da Idade Média, da acepção medieval de mundo e do referencial predominante à época - o teocentrismo. Enquanto este acreditava em uma realidade totalmente orientada por e para Deus, advindo daí o termo "teo (Deus) + centrismo (centro)", o antropocentrismo propunha uma crítica direta a tal modelo.

Dessa forma, utilizava o "homem" como seu ponto de partida para a compreensão do universo, explicando os fenômenos cosmológicos e naturais não mais pela lógica da fé, mas sim pela racionalidade.

Assim, podemos definir o antropocentrismo como uma visão de mundo racionalista e científica, que tem o ser humano como figura central, priorizando a experimentação como seu método oficial de checagem dos fatos.

Quando surgiu o antropocentrismo?

O antropocentrismo foi estruturado em meados do século XV e XVI, enquanto a Europa passava por grandes transformações, tais quais as navegações, a reforma protestante, o surgimento da burguesia, entre outros marcos históricos que indicavam a ruptura do sistema feudal com a passagem para a dinâmica mercantil/capitalista.

Na prática, o conceito filosófico fez parte do movimento humanista renascentista, que buscava incentivar a reflexão a partir da cientificidade, afastando-se diametralmente da crença de uma realidade condicionada às vontades de uma divindade.

Por fazer tal crítica ao teocentrismo e por estabelecer novos caminhos para a filosofia moderna em geral, o antropocentrismo influenciou significativamente o desenvolvimento de diversas áreas do conhecimento, como as ciências naturais, a política e a arte.

Figura de Nicolau Copérnico
Nicolau Copérnico (1473 - 1543) é reconhecido por ter desenvolvido a teoria do “Heliocentrismo”, a qual acreditava que a Terra girava ao redor do sol e não o contrário - como se acreditava até então. A partir dessa perspectiva, o teocentrismo e o geocentrismo (defendidos pela Igreja Católica) passaram a ser questionados tecnicamente, o que contribui para uma transformação dos paradigmas de compreensão do mundo e da humanidade. Os estudos Copérnicos são considerados marcos pioneiros do antropocentrismo.(Fonte: Domínio Público)


Esse pensamento voltado ao ser humano foi essencial para a consolidação do racionalismo, abrindo espaço, inclusive, para que outras escolas filosóficas importantes prosperassem, como o empirismo e o iluminismo. Ambas valorizavam a razão e a experiência humana como fontes de conhecimento, adequando suas pautas aos ideais antropocêntricos.

Assim, a partir da sistematização do antropocentrismo, a sociedade ocidental passou a se organizar de modo a objetivar o progresso humano, o desenvolvimento tecnológico e a exploração dos recursos naturais para benefício da humanidade e do seu avanço.

Nesse contexto, a subordinação a uma ordem divina foi abdicada, ao passo que outras fontes de verdade, que não aquelas dispostas nas liturgias religiosas, passaram a ser consideradas legítimas.

Ainda que a fé continuasse como parte constitutiva da realidade da época, não sendo deixada de lado, o antropocentrismo possibilitou que a realidade também fosse confrontada com a racionalização.

Guia Essencial da Filosofia: Pensamento Moderno

O curso apresenta um panorama das bases do pensamento ocidental, do renascimento à virada do século XX. Galileu e Copérnico, Descartes, Locke, Kant, Maquiavel a Adam Smith, Marx, John Stuart Mill, Max Weber, entre outros. Aprenda com a Casa do Saber +!

thumb curso 'Guia Essencial da Filosofia: Pensamento Moderno', de Paulo Niccoli Ramirez





Diferença entre teocentrismo e antropocentrismo

Tanto o antropocentrismo quanto o teocentrismo desempenharam papeis fundamentais na formação do pensamento ocidental ao longo dos séculos, mas diferem-se essencialmente em seu ponto de partida para interpretar a realidade.

No teocentrismo, Deus é o centro absoluto e ocupa uma posição de superioridade hierárquica em relação a todas as outras coisas no universo, sendo a divindade a única fonte legítima para explicar o mundo natural e a vida humana. Essa visão teocêntrica foi amplamente promovida pela Igreja Católica durante a Idade Média, reforçando sua autoridade e influência sobre a sociedade.

Com o surgimento do antropocentrismo, porém, a centralidade foi transferida do divino para o ser humano, destacando a racionalidade e a experimentação científica como as principais formas de interpretar a realidade.

Aspectos Teocentrismo Antropocentrismo
Conceito Visão de mundo que coloca Deus como o centro de tudo, sendo a divindade a fonte de explicação do universo e da vida humana. Perspectiva filosófica que coloca o ser humano como o centro do universo, explicando a realidade a partir da racionalidade e da experiência humana.
Período Predominou durante a Idade Média (séculos V-XV). Surgiu no Renascimento (séculos XV-XVI), com forte influência nas eras subsequentes.
Fundamentos Explicação dos fenômenos a partir da fé e das escrituras sagradas. Busca pela explicação científica, racional e metodológica dos fenômenos.
Figura central Deus e as divindades. O ser humano, com ênfase em sua capacidade de raciocínio.
Relação com a ciência A ciência subordinada à teologia e aos dogmas religiosos. A ciência desvinculada da religião, centrada na observação, experimentação e raciocínio lógico.
Expoentes Santo Agostinho (354-430), Tomás de Aquino (1225-1274). Leonardo da Vinci (1452-1519), Nicolau Copérnico (1473-1543), René Descartes (1596-1650).



O filósofo alemão Ludwig Feuerbach (1804 - 1872), em sua crítica às religiões e ao teocentrismo, sugeria que ambos os paradigmas não seriam necessariamente opostos, mas sim duas faces de uma mesma moeda.

Para ele, as religiões teriam sido criadas para atender às necessidades humanas, funcionando como uma projeção dos anseios e fragilidades do ser humano.

Nesse sentido, mesmo o teocentrismo, que colocava Deus no centro, serviria indiretamente ao homem oferecendo consolo e explicações que ajudassem a minimizar suas angústias existenciais.

Contudo, a maioria dos estudiosos e a visão comum tendem a interpretar o antropocentrismo e o teocentrismo como entendimentos contrastantes, alicerçados nas diferenças evidenciadas na tabela acima.

Um Dia com Espinosa

Assista ao curso sobre o filósofo que ousou a considerar um Deus tal qual a natureza. Conheça a história por trás do lema "Deus Sive Nature" (Deus é tanto substância como natureza).

thumb do curso 'um dia com espinosa', de Clovis de Barros Filho





Resumo do Antropocentrismo em 10 tópicos

Para sistematizarmos o conhecimento, vamos compreender o que é o antropocentrismo por meio de um resumo do que apresentamos até aqui.

Dizemos, assim, que o antropocentrismo refere-se à uma visão e a um conjunto de ideias que tem o ser humano como seu referencial de compreensão de mundo.

É uma das principais críticas ao teocentrismo, tendo como objetivo a observação das relações humanas, sociais e naturais a partir da racionalidade, da cientificidade e da experimentação.

Ao promover essa ruptura com a perspectiva teocêntrica, o antropocentrismo se tornou um pilar fundamental do pensamento moderno, moldando disciplinas como a ciência, a política, a filosofia e a ética.

Antropo (homem) + centrismo (centro).

Assim:

  1. É estruturado em meio à queda da Idade Média, do sistema feudal e da crise do teocentrismo (séculos XV e XVI);
  2. Faz parte do humanismo renascentista e tem na figura de Nicolau Copérnico um de seus marcos criadores;
  3. Prioriza o ser humano como figura central;
  4. Distancia-se da visão de mundo subordinada às vontades de uma divindade e das escrituras religiosas (teocentrismo);
  5. Difunde o pensamento científico, tecnicista e metodológico;
  6. Propõe uma perspectiva na qual o ser humano é o ponto central.
  7. Marca o início da Idade Moderna e também do sistema econômico mercantil (capitalista).
  8. Impactou as artes e as culturas, refletindo em uma produção artística que se preocupava com a representação do corpo humano, das perspectivas geométricas e do indivíduo como centro das obras.
  9. Influenciou um novo olhar para a ética e a moral, assim como a filosofia moderna, afastando esses conceitos dos preceitos religiosos de bom e ruim, bem e mal.
  10. Foi abordado por diversas áreas para além da filosofia, utilizado, inclusive, como discurso de justificação para a exploração dos recursos naturais e do meio ambiente.

Dicionário Michaelis



antropocentrismo

an·tro·po·cen·tris·mo

sm


Filos, Rel Sistema filosófico ou crença religiosa que considera o homem como o fato central ou mais significativo do Universo ou, ainda, como objetivo último de toda a realidade.




Qual a principal ideia do antropocentrismo?

A principal ideia do antropocentrismo é a valorização do ser humano como o centro de todas as coisas.

O homem deixa de ser um espectador passivo dos desígnios divinos, tornando-se um agente ativo da busca pelo conhecimento e da transformação da realidade.

Para isso, utiliza a inteligência e a razão, desenvolvendo condições ideias para que as diversas hipóteses acerca do que ocorre à nossa volta sejam empiricamente testadas e validadas.

Além disso, estabelece uma crítica robusta ao teocentrismo e aos ideais da Igreja Católica, assim como é um dos grandes marcos da filosofia moderna, das ciências, artes, cultura, entre outros campos.

Qual é a visão antropocêntrica?

A visão antropocêntrica é fundamentada na crença de que o ser humano ocupa uma posição privilegiada no universo, dotado de inteligência e racionalidade para moldar e transformar seu ambiente.

Nessa perspectiva, a humanidade não é mais subjugada por forças místicas ou divinas, mas, sim, torna-se o centro da reflexão filosófica, científica e moral.

Críticas modernas e as controvérsias do antropocentrismo

Ainda que o modelo antropocêntrico tenha guiado significativamente a filosofia ocidental, a necessidade de uma nova relação entre a humanidade e a natureza, na qual não há mais a sobreposição da primeira à segunda, propicia o debate acerca da sua falibilidade.

Na prática, o crescimento da consciência ecológica moderna, as urgências climáticas constantes e as questões ambientais refletem também na reavaliação das bases antropocêntricas e na proposição de outros paradigmas, tais quais o biocentrismo - uma visão mais holística e inclusiva, que reconhece a importância de todos os seres vivos e da natureza como um todo.

O biocentrismo questiona a centralidade do ser humano e defende que a natureza e o meio ambiente possuam acesso à dignidade e proteção, sendo sujeitos de direitos em sua própria essência.

Tal mudança de referencial é exemplificada, por exemplo, na Constituição do Equador de 2008 - a primeira do mundo a reconhecer a natureza como sujeito de direitos, equiparando-a à dignidade humana.

esquema que explica a lógica antropocêntrica e biocêntrica.
Na dinâmica estabelecida à esquerda (antropocêntrica), o ser humano encontra-se em posição de superioridade em relação aos demais elementos; já no biocentrismo, há uma proposta para que todos os seres da natureza/meio ambiente coexistam em harmonia e com iguais direitos.


Além disso, as críticas contemporâneas ao antropocentrismo não se limitam apenas à sua visão restrita sobre a natureza, como também apontam para a sua origem e implicações sociais.

Em muitos de seus desdobramentos, o antropocentrismo é frequentemente associado a uma perspectiva eurocêntrica, que privilegia a experiência e a visão de mundo do "homem europeu", deslegitimando outras culturas, etnias, gêneros e formas de vida.

Por isso, as perspectivas que têm emergido nos últimos anos representam um convite à construção de novos modelos e conceitos que priorizam a sustentabilidade, a justiça social e o respeito mútuo.

Aprofunde-se por aqui

A Casa do Saber + apresenta: "Trilha da Filosofia"!

Uma jornada de 8 temporadas pelos conceitos desenvolvidos pelos principais filósofos da história. Aprenda a elucidar questões fundamentais para o aprendizado da filosofia moderna na 3ª Temporada com os professores Franklin Leopoldo e Silva e Oswaldo Giacoia Junior.

thumb curso 'Trilha da Filosofia: Temporada 3', de Franklin Leopoldo e Silva e Oswaldo Giacoia Junior





Referências:

DAITX, Vanessa Vitcoski. O ensino de ciências e a visão antropocêntrica. 2010. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Biociências, Comissão de Graduação do Curso de Ciências Biológicas, Porto Alegre, 2010. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/35277#:~:text=O%20antropocentrismo%20consiste%20na%20vis%C3%A3o,n%C3%A3o%20sustent%C3%A1vel%20dos%20recursos%20naturais Acesso em: 20 out. 2024.







O que é o estoicismo? Entenda os pilares, conceitos e significados
Tainá Voltas
O que é o estoicismo? Entenda os pilares, conceitos e significados
Criado há mais de 2000 anos, o estoicismo encontra adeptos ainda hoje. Entenda mais sobre a corrente filosófica marcada pela resiliência ao inevitável

Como reagir à imprevisibilidade da vida e qual o seu sentido? Essas são as principais questões do estoicismo, uma escola filosófica potente na Grécia Antiga, mas que ainda hoje produz efeitos significativos ao incentivar reflexões acerca da felicidade, desapego e apatia.

Neste texto você viajará rumo ao período helenístico, nos séculos IV, III e II a.C, para conhecer a importante filosofia estoica e o seu significado. Faremos isso a partir do seguinte roteiro:

  • O que é o Estoicismo
  • Os Pilares do Estoicismo
  • Estoicismo vs. Cinismo: Diferenças Essenciais
  • Os Principais Filósofos Estoicos: Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio


Pintura de Epicteto, um dos expoentes filósofos do estoicismo.
Ao lado de Marco Aurélio e Sêneca, Epicteto foi um dos expoentes filósofos estoicos (Fonte: Domínio Público)


Entenda o que é Filosofia, como surgiu, área de estudo,principais pensadores e melhores cursos para estudar online neste artigo!

banner tdah

O que é o Estoicismo?

A observação da vida e a busca pela explicação de seus fenômenos é um traço comum na história da Filosofia Ocidental, independentemente da sua escola. Cada uma delas se empenhou para explicar essa equação (e ainda o faz) por meio de argumentos complexos e bastante aprofundados.

No estoicismo não foi diferente. A doutrina filosófica, fundada durante o período helenístico, sobretudo nas leis da natureza, se debruçava sobre a compreensão do sentido da vida, tendo a lógica e a razão como aliadas para esse processo.

De forma geral, a abordagem estoica tinha a felicidade com um fim último e acreditava alcançá-la através da aceitação da inevitabilidade da vida e do cultivo de uma resiliência emocional diante das adversidades e do que era imprevisível.

Ou seja, para o estoicismo a felicidade poderia ser palpável a partir do momento em que as emoções eram racionalizadas, os episódios da vida eram entendidos como pertencentes a uma teia natural e inevitável de causas e efeitos, e os esforços/desejos de mudança humanos eram direcionados para as coisas passíveis de serem controladas e não para aquelas alheias à nossa vontade, tal qual a morte.

Por esse motivo, a felicidade estoica figura como um dos temas mais difundidos e importantes da filosofia. Mas como essa escola foi idealizada?

Banner jornada da filosofia 'É Possível Ser Estoico hoje?'

De que forma o Estoicismo começou?

Zenão de Cítio (333 a.C - 263 a.C), seu precursor, foi influenciado pela Escola de Cínica, a qual defendia o desapego aos bens materiais e deu origem à expressão cinismo*, a estruturar uma corrente de pensamento alicerçada na ideia de uma vida simples, distante dos vícios e medos e mais próxima da virtude.

* A ideia de cinismo associado à falsidade trata-se de uma perspectiva contemporânea acerca do tema, afastada da sua concepção original. Na Grécia Antiga, o cinismo descrevia, na verdade, o movimento dos “filósofos do desapego”, ou seja, aqueles não aficionados com a matéria/bens.

Para isso, praticava o ensino por meio de uma lógica cosmopolita - realizada em um ambiente aberto chamado "stoá", que traduzido dá conta de algo como Pórtico (uma ágora utilizada para difundir os pensamentos filosóficos da época e para propiciar discussões intelectuais sobre os mais variados temas).

Ágoras, espaços nos quais os filósofos estoicos disseminavam suas ideias. Estrutura arquitetônica romana.
O Stoá Poikilé, ou Pórtico Pintado, era o espaço destinado à transmissão das reflexões estoicas, em uma estrutura de pensamento livre e dinâmico (Designed by Freepik)



É dessa tradição, praticada por Zenão e outros filósofos, que a palavra estoicismo toma forma e que a doutrina, criada inicialmente na Grécia Antiga, se populariza para outras regiões, tal qual Roma, sendo, inclusive, uma das bases do cristianismo

A partir disso, a filosofia estoica foi abraçada por grandes nomes, como Marco Aurélio, Epicteto e Sêneca, expandindo seu significado conforme as especificidades de cada tempo.

Na era moderna, por exemplo, Foucault usou o pensamento estoico para destacar a relevância do desenvolvimento de uma escuta bem conduzida¹.

"Aprender a Viver: Como a Sabedoria Pode ser o Caminho para uma Vida Melhor"

Um convite às descobertas do pensamento de expoentes que moldaram a filosofia, desde Platão, Sêneca, Aristóteles e Tomás de Aquino, a Descartes, Espinosa, Nietzsche


Características do estoicismo

Em resumo, o estoicismo acredita que o ser humano faz parte e é habitado pela natureza (physis - Φύσις, em grego), de modo que acompanhá-la é, de igual modo, agir segundo nosso próprio ser (GAZOLLA, 2006).

Por esse motivo, a perfeição e virtuosidade está na compreensão de uma ligação intrínseca entre homem e natureza, que orienta a busca pela felicidade a partir da negativa aos desejos e do estabelecimento de uma razão em conformidade com as leis naturais do universo.

De acordo com a escola, o ser humano é a própria natureza, afastando-se dela quando atormentado pelas paixões:

(...) se a natureza é dita perfeita, se é divina, se todos os seres são excelentes por ela e nela, e seu modo de mover-se é eterno, o reverso é perguntar sobre as perturbações da perfeição e como são possíveis. Ora, as perturbações do mover-se perfeito têm nome na Stoa: são as paixões pleonásticas ou exacerbadas (GAZOLLA, 2006, p. 189).


Assim, para entender o que é o estoicismo, basta que compreendamos também a sua perspectiva ética baseada na ataraxia (ou indiferença/apatia) como forma de driblar a tendência humanoide ao afastamento da physis (natureza).

Para seus pensadores, a vida era determinada inafastavelmente por uma força cósmica equilibrada e harmoniosa, sobre a qual a virtude se estabeleceria em uma existência experienciada conforme desígnios da physis.

Desse modo, deveriam ser evitados os desejos vazios, os excessos, as paixões perturbadoras e as coisas supérfluas, à medida que a razão e a lógica seriam privilegiadas.

Na filosofia estoica, então, agir virtuosamente seria reconhecer o potencial do ciclo cósmico infindável, aceitando as mudanças sobre as quais não se teria controle, posicionando-se com resiliência frente à elas, e dedicando-se a alterar somente aquilo que fosse possível, como, por exemplo, as reações ao “não programável”.

Por essa razão, a máxima estoica é descrita como “a vida deve seguir a natureza", tese de autoria de Zenão.

Leis da Natureza Imutáveis O agir estoico
Morte Priorizar a qualidade de vida
Mudanças Aceitar a impermanência
Sofrimento Cultivar resiliência emocional
Incerteza Focar no controle sobre as próprias reações
Limitações humanas Buscar autoconhecimento e desenvolvimento pessoal
Destino Agir com virtude, aceitando o que não se pode mudar
Ciclo da vida Viver no presente. Valorizar cada momento


O estoicismo, estruturado há mais de 2 mil anos, continua reverberando suas reflexões e conquistando adeptos ao longo da história

Nos tempos contemporâneos, marcados pelos excessos (de informação, produção, consumo, acúmulo, entre outros), oferece respostas apaziguadoras para o ambiente caótico, pressionado cada vez mais pelo ritmo acelerado das transformações digitais.

Leia também:

“Por que estamos tão esgotados? Como a filosofia de Byung-Chul Han (Sociedade do Cansaço) nos oferece uma resposta!”


Assim, podemos definir o estoicismo como uma escola filosófica que procura dar respostas à inquietação humana, propondo um modo de vida sereno e guiado pela racionalização.

Trata-se de um exercício para privilegiar a razão como ferramenta para lidar com as emoções, afastando os vícios e cultivando as virtudes.

Mauricio Marsola , professor de história e filosofia da Unifesp, contribui para a acepção do conceito, em um material produzido pela Casa do Saber:

“Para o estoicismo o mundo é um grande sistema composto de relações causais necessárias. É uma racionalidade plena, na qual todas as coisas concorrem para uma harmonia maior. A isso os estoicos chamam de logos (o que também pode ser compreendido como physis, ou Deus). Cabe a nós criarmos uma harmonia em nossa alma que reproduza a harmonia do cosmos”

Assista na íntegra:



Os componentes e os pilares do estoicismo

Como vimos, o estoicismo propõe uma lógica de pensamento realista, que não idealiza o mundo, mas sim o aceita tal como é.

Nesse contexto, a apatheia (indiferença às emoções perturbadoras da paixão) é compreendida como um pré-requisito para um estado de paz interior, conhecido como ataraxia.

Componentes do estoicismo

Para concretizar a sua doutrina e tornar o objetivo acima factível, o estoicismo sugere ainda um sistema para pensar a filosofia, metaforicamente, como um organismo vivo, interconectado e interdependente, assim como formado por três componentes:

"Os antigos estóicos, como se sabe, criam um interessante sistema para pensar a Filosofia no qual todas as partes, absolutamente interligadas, são metaforicamente expostas como se fosse um organismo. Uma das metáforas é a de que os ossos e nervos seriam a Lógica, a carne seria a Ética e a alma, a Física" (GAZOLLA, 2006, p. 185)


Pilares do estoicismo

Além disso, a sabedoria estoica se traduz no exercício de um trabalho de consciência interior, que leva em consideração os campos que podem ser realmente modificados pelo ser humano.

Nesse sentido, surgem as virtudes cardeais, também enquadradas como os 4 pilares ou modos de atuação do estoicismo, quais sejam:

  1. Sabedoria: entender as dinâmicas do mundo de uma maneira lógica e calma, com discernimento sobre o que é realmente importante. Fazemos isso por meio da meditação, da leitura de textos filosóficos, do ensino, e através das nossas experiências.

  2. Justiça: agir com equidade e sem impulsividade, considerando as consequências das ações em relação ao próximo.

  3. Coragem: ter o conhecimento do que deve ser temido e o que deve ser suportado, sendo uma ferramenta incrível para o enfrentamento das adversidades com bravura.

  4. Moderação (ou Temperança): equilibrar os desejos, minimizar os vícios e experimentar as virtudes. Trata-se de evitar os excessos e buscar constantemente a harmonia.


Para o estoicismo, esses 4 pilares, que se complementam e se retroalimentam, performam a base da virtuosidade plena.




Estoicismo vs. Cinismo: Diferenças Essenciais

As duas correntes emergiram na Grécia Antiga, compondo as chamadas filosofias helenísticas - as quais são caracterizadas por se preocuparem com a ética, felicidade e bem-viver.

Porém, embora se entrelacem e se aproximem em uma ideia central (busca por uma harmonia com a natureza), tais escolas possuem diferenças significativas, sobretudo quanto à radicalidade das suas percepções.

Enquanto o cinismo enfatiza o desapego e a rejeição total das convenções sociais, o estoicismo busca uma aceitação ativa da realidade, propondo a virtude como um caminho para a felicidade.

Estoicismo Cinismo
Principais Expoentes Sêneca, Epicteto, Marco Aurélio. Diógenes de Sinop, Crates de Tebas.
Visão de Mundo Harmonia entre homem e universo. Rejeição das normas e convenções sociais
Relação com a Virtude Aceitação e racionalidade. Desprezo pelas convenções e comodidades.
Conceito de Felicidade Alcançada por meio da aceitação do inevitável e da busca pela mudança daquilo que pode ser controlado. Encontrada na harmonia com a natureza.
Autonomia Aceitação do que não se pode controlar. Autarquia e controle sobre a própria vida.


Os Principais Filósofos Estoicos

1) Sêneca

Nascido em 4 a.C, Sêneca foi um dos mais influentes filósofos e o principal expoente do estoicismo no Império Romano.

Faleceu em Roma, no ano 65 d.c, acusado de conspiração contra o imperador Nero, mesmo que tivesse sido seu preceptor anteriormente. O episódio é narrado no quadro “A Morte de Sêneca”, de Jacques-Louis David (1748–1825).

Pintura a morte de Sêneca
La morte di Seneca, olio su tela, Musée du Petit-Palais, Parigi, de Jacques-Louis David (1748–1825) (Fonte: Domínio Público). Acusado, junto a Pisão, de conspiração para o assassinato planejado de Nero, Sêneca foi obrigado a tirar a própria vida. Não houve qualquer tipo de julgamento. O quadro retrata o momento em que o filósofo cumpre seu destino na presença de amigos.



Entrou para a história não só como um exímio filósofo, como também um humanista dedicado, além de excelente orador, escritor, advogado e político.

Enfatizava a importância da razão e do autoconhecimento, acreditando ser a reflexão sobre a vida o caminho para a verdadeira felicidade.

Além disso, como diferencial, preocupou-se e se indispôs contra as desigualdades entre os homens, sendo avesso à escravidão e à distinção social.

Tem como umas de suas principais obras a "Sobre a brevidade da vida", um ensaio moral dedicado a seu amigo Paulino, pelo qual o autor discrimina vários princípios estoicos - entre eles a natureza do tempo e o tempo gasto na perseguição de objetivos sem valor.

"Nós sofremos mais na imaginação do que na realidade." - Sêneca
Banner curso A Filosofia como forma de vida: Estoicos, Epicuristas e Cínicos

2) Epicteto

Epicteto (55 d.C - 135 d.C), é um dos mais respeitados filósofos estoicos da Antiguidade e, ao lado de Sêneca e Marco Aurélio, faz parte da terceira fase estoica, chamada de “Novos Estoicos”*.

Escravo por muito tempo em Roma, após ser libertado dedicou sua vida à filosofia e aos ensinamentos sobre a verdadeira liberdade. Para ele, ser livre não dependia da posição social, mas da capacidade de controlar as próprias reações diante dos eventos da vida.

Na sua perspectiva, a essência do estoicismo estava na separação clara entre o que está sob o controle humano (ações, pensamentos e atitudes) e o que não está (as circunstâncias externas).

Seu ensinamento foi registrado principalmente no texto Manual e em alguns discursos assinados por seu discípulo Flávio Arriano, tendo em vista que ele próprio, assim como Sócrates, não deixou nada escrito.

Em tais obras o filósofo explora a importância da aceitação das adversidades com serenidade, refletindo em uma postura prática para enfrentar os desafios cotidianos.

Depois de exilado pelo imperador Domiciano, junto com outros filósofos romanos, decidiu abrir a própria escola, em Nicópolis, local onde faleceu anos mais tarde.

*

  • A primeira fase do estoicismo é representada Zenão de Cítio, Cleantes de Asso e Crisipo de Solunte (ou de Sole);
  • A segunda fase, ou médio estoicismo, é caracterizada pelos nomes de Panécio de Rodes e Posidônio.


“A felicidade e a liberdade começam com a clara compreensão de um princípio: algumas coisas estão sob nosso controle, outras não” - Epicteto



3) Marco Aurélio

Marco Aurélio (121 d.C.a 180 d.C.) foi um dos mais célebres imperadores romanos, responsável pela autoria de uma obra bastante aclamada no estoicismo: o livro Meditações, um conjunto de reflexões pessoais que escreveu ao longo de sua vida.

Como líder do maior império da época, enfrentou inúmeras adversidades, tanto políticas quanto militares, o que o orientou ao estoicismo como ferramenta para contornar os desafios

Por esse motivo, ficou conhecido como o “monarca-filósofo”, cujo traço proeminente era valorizar os prazeres da alma e face daqueles do mundo material. Para ele, a vida se apresentava como uma oportunidade para agir de forma ética e virtuosa, independentemente das circunstâncias externas.

Embora fosse o homem mais poderoso de seu tempo, defendia uma visão mais humilde da existência, com a crença de que tudo na vida, inclusive a morte, deveria ser aceito com serenidade, uma vez que faria parte da ordem natural do universo.

"A felicidade da vida depende da qualidade de nossos pensamentos." - Marco Aurélio



Conheça também o que pensava Santo Agostinho, um dos mais importantes nomes da história da filosofia e teologia

Os três pensadores foram essenciais para o desenvolvimento e disseminação do estoicismo e também para a filosofia Ocidental, influenciando a observação do mundo e da vida ainda hoje.






Referências:

¹SANTOS, Kleys Jesuvina dos. A influência do estoicismo na filosofia de Foucault. Kinesis, Marília, v. 11, n. 28. 2019. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/kinesis/article/view/9140. Acesso em: 25 set. 2024.


GAZOLLA, Rachel. Representação compreensiva: critério de verdade e virtude no Estoicismo Antigo. Revista da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, v. 19, n. 2, 2006. Disponível em: https://www-periodicos-capes-gov-br.ez40.periodicos.capes.gov.br/index.php/acervo/buscador.html?task=detalhes&source=&id=W1511359753. Acesso em: 25 set. 2024.







É possível praticar o estoicismo hoje? Livros, caminhos e dicas para seguir a filosofia
Tainá Voltas
É possível praticar o estoicismo hoje? Livros, caminhos e dicas para seguir a filosofia
O estoicismo tem reaparecido como uma resposta ao mundo moderno. Mas será realmente possível aplicar a filosofia aos dias atuais? Descubra!

Embora tenha se desenvolvido e aprofundado suas raízes há mais de 2000 anos, o estoicismo tem reaparecido como uma resposta ao complexo e desconfortável mundo moderno, marcado pelo esgotamento coletivo e pelas frustrações geracionais.

Tal filosofia, que é banhada em uma ideia de felicidade resiliente às adversidades e às influências externas, ganha adeptos e curiosos, cuja motivação se dá em direção comum: é realmente possível aplicar a práxis estoica nos dias de hoje?

Neste artigo vamos destacar algumas obras, cursos e dicas que podem oferecer uma resposta certeira ao questionamento, além de mostrar como viver de um modo mais estoico, mesmo em meio a tantas distrações.

Mulher deitada sobre a mesa, aparentando cansaço, com peso de pedras nas costas. Alusão ao estoicismo
O Estoicismo aplicado à modernidade surge como uma alternativa para amenizar os efeitos comuns da experiência humana superestimulada, oferecendo uma nova interpretação possível para a vida, para os desafios e para os problemas do cotidiano. Trata-se de uma filosofia que apresenta ferramentas para aprimorar a resiliência ao inevitável, incentivando a clareza emocional.


banner tdah

Recordação: o que é o estoicismo?

“A felicidade e a liberdade começam com a clara compreensão de um princípio: algumas coisas estão sob nosso controle, outras não”. A expressão, de autoria um dos maiores filósofos estoicos da antiguidade - Epicteto, define com bastante clareza os pilares que sustentam o estoicismo.

Criada durante o período helenístico, ainda na Grécia Antiga, e tendo como pano de fundo a crença nas leis da natureza, essa vertente filosófica buscou explicar o sentido da vida a partir da racionalização e de uma proposta de aceitação do inevitável.

Na prática, estruturou um entendimento acerca da "felicidade" como um resultado dado àqueles que conseguiam desvencilhar-se das paixões avassaladoras e das emoções exageradas.

Ou seja, para o estoicismo a felicidade se materializava quando as emoções eram racionalizadas, assim como quando os episódios da vida eram entendidos como pertencentes todos à uma teia natural e inevitável de causas e efeitos.

Nessa perspectiva, os esforços e desejos de mudança humanos deveriam ser direcionados para as coisas passíveis de serem controladas e não para aquelas alheias à vontade dos homens, tal qual a morte.

Dessa forma, o estoicismo passou a ser caracterizado como uma filosofia prática, que orientava os indivíduos a viverem em harmonia com a natureza e a razão, buscando a virtude como um bem maior.

Para os estoicos, a vida virtuosa seria aquela baseada no agir lógico, ético e sereno, capaz de enfrentar os desafios com resiliência por entendê-los como pertencentes a uma ordem natural das coisas.

A abordagem, rigorosa e libertadora na mesma medida, faz com que o estoicismo seja uma ferramenta resgatada na modernidade para lidar com os novos desafios e contornos sociais, oportunizando a busca pelo equilíbrio mesmo em cenários turbulentos.


Continue a sua jornada por aqui: baixe gratuitamente o eBook “Estoicismo no Século 21: É Possível Ser Estoico Hoje?” e tenha esse conhecimento sempre à mão!

Banner jornada da filosofia 'É Possível Ser Estoico hoje?'




O que é agir com estoicismo nos dias atuais?

A pergunta "é possível praticar o estoicismo nos dias atuais?" depende essencialmente da compreensão do que é o agir estoico nesse novo contexto.

Em meio à Era da Informação, aos dados gerados em velocidade exponencial, às demandas por performance e resultado e ao excesso de estímulos, o estoicismo apresenta uma bússola mental, que cultiva a clareza e a resiliência emocional como forma de melhor viver e sobreviver a este cenário.

Trata-se de uma aplicação da abordagem que incentiva o foco àquilo que é controlável, como as ações e reações individuais, ao passo que pratica a compreensão serena daquilo que escapa ao domínio pessoal.

Homem segurando um guarda-chuva, virado para parede com metas e planejamentos. Reflete a necessidade de entrega e resultado.
O estoicismo moderno incentiva uma leitura de mundo focada no controle do que se é controlável, ajudando a redefinir prioridades e a encontrar clareza em meio às exigências incessantes por desempenho e resultados.


Assim, no mundo contemporâneo, essas ideias podem se traduzir em práticas, como:

Gerenciar o tempo e a atenção Evitar dispersar energia com distrações ou preocupações improdutivas, dedicando-se ao que realmente importa, bem como ao autocuidado e auto escuta.
Reavaliar o conceito de sucesso Adotar uma perspectiva baseada na virtude e no progresso interno, afastando-se da busca contínua por uma validação externa ou padrões sociais inatingíveis.
Cultivar o autocontrole Responder às adversidades com calma e reflexão, resistindo aos impulsos imediatos ou a emoções exageradas, as quais podem comprometer o senso crítico e a tomada de decisão racional.
Praticar a gratidão e a perspectiva Reconhecer o valor das coisas e aprender a ressignificar os desafios como oportunidades de crescimento pessoal.



No cotidiano moderno, o estoicismo, uma filosofia para tempos de crise, continua emergindo como um consolo e como uma libertação de ilusões. Por isso, oferece uma base sólida para enfrentar crises pessoais ou profissionais, promovendo uma atitude resiliente frente a desafios inevitáveis.

Mauricio Marsola , professor de história e filosofia da Unifesp, contribui para a acepção do conceito, em um material produzido pela Casa do Saber:

“Para o estoicismo o mundo é um grande sistema composto de relações causais necessárias. É uma racionalidade plena, na qual todas as coisas concorrem para uma harmonia maior. A isso os estoicos chamam de logos (o que também pode ser compreendido como physis, ou Deus). Cabe a nós criarmos uma harmonia em nossa alma que reproduza a harmonia do cosmos”

Assista na íntegra:




3 livros para entender o estoicismo

Livros são uma excelente maneira de transportar as ideias filosóficas estoicas da Antiguidade para contemporaneidade, indicando um caminho para a prática da filosofia no cotidiano.

Nesse sentido, as obras selecionadas abaixo repercutem os princípios estoicos em seus diferentes tempos, além de apresentarem aplicações palpáveis do conceito e contextos históricos que ajudam na compreensão do pensamento filosófico em sua totalidade.

1) Diário estoico: 366 lições sobre sabedoria, perseverança e a arte de viver - Ryan Holiday e Stephen Hanselman

Uma das mais populares obras do movimento moderno de resgate ao estoicismo, o Diário Estoico propõe a leitura de 366 meditações baseadas em ensinamentos de grandes filósofos estoicos, como Sêneca, Marco Aurélio e Epicteto.

Seu objetivo é funcionar como um guia prático e acessível para quem deseja introduzir o agir estoico à sua rotina, cultivando a arte de viver bem. Para isso, Ryan Holiday e Stephen Hanselman instigam os leitores a expandir a compreensão do mundo e a experimentar novas maneiras de agir e pensar.

Encontrar o propósito da vida, lidar com perdas irreparáveis e o caminho para a felicidade verdadeira são apenas alguns dos tópicos abordados no texto.

Com os ensinamentos dos antigos estoicos, em uma metodologia meditativa a cada dia do ano, o livro proporciona uma reavaliação das percepções, atitudes e metas de vida.

2) Meditações - Marco Aurélio

Uma das mais influentes obras filosóficas de todos os tempos, Meditações transforma-se em uma janela direta para a mente de Marco Aurélio, o imperador romano conhecido como "imperador filósofo".

Escrito como um diário pessoal, o livro reúne reflexões sobre a busca pela virtude, a compreensão do universo e a arte de viver em harmonia com a natureza, mesmo em cenários inconstantes e desequilibrados.

Mesmo que inicialmente não tenha sido destinado à publicação, o texto se tornou um verdadeiro mantra para a prática estoica, atemporal e requisitada ao longo de várias décadas.

No projeto, Marco Aurélio menciona a necessidade da ponderação em meio às pressões, sobretudo aquelas relacionadas ao poder, assim como destaca os desafios do enfrentamento das incertezas e das dores inevitáveis da existência humana, priorizando a serenidade e o autocontrole.

As lições valiosas apresentadas, como a importância de aceitar o que não se pode controlar, focar no presente e viver de acordo com princípios éticos, têm sido incorporadas neste novo momento do estoicismo, guiando os adeptos a uma forma de praticar a filosofia de forma flexível e adaptada.




3) Sobre a Brevidade da Vida (De Brevitate Vitae) – Sêneca

Escrita por outro grande pensador estoico, esta obra concisa, mas profundamente impactante, aborda um dos temas centrais para o estoicismo: a natureza do tempo e as armadilhas de uma vida perpassada pelo negligenciamento.

Para Sêneca, a duração da vida importa à medida que escolhemos como iremos vivê-la. Ou seja, ele convida o leitor a refletir sobre a urgência do cultivo da totalidade interior, contrastando os valores culturais modernos guiados pela prosperidade material e pela produtividade incessante.

Argumenta ser o tempo o bem mais precioso existente, embora seja frequentemente tratado como infinito. Assim, o filósofo critica, sobretudo, a tendência humana de procrastinar, acumular riquezas sem propósito e buscar validação externa, ao invés de focar no desenvolvimento interno e nas relações significativas.

“A vida que recebemos não é curta, mas a tornamos desse modo; tampouco a temos de sobra, mas a desperdiçamos” - Sêneca


Baixe o ebook “Estoicismo no Século 21: É Possível Ser Estoico Hoje?” e continue essa discussão, com acesso a aspectos ainda mais profundos!

Banner jornada da filosofia 'É Possível Ser Estoico hoje?'



4 cursos para aprender de forma rápida sobre o estoicismo

Os cursos são outra excelente oportunidade para mergulhar mais profundamente nos conceitos do estoicismo, a partir da orientação de especialistas que conectam essa filosofia ao mundo contemporâneo, entendendo como e onde aplicá-la. Veja três cursos recomendados para esse propósito:

  1. Aprender a Viver: Como a Sabedoria Pode Ser o Caminho para uma Vida Melhor

    Este curso explora como a sabedoria filosófica pode transformar o cotidiano. Para isso, oferece uma visão geral sobre as escolas filosóficas, com destaque para os estoicos, mostrando como seus ensinamentos podem ajudar a superar os desafios da vida moderna, como o tédio e a banalidade. “Como a sabedoria pode ser o caminho para uma vida melhor? Como aprender a viver e superar o tédio e a banalidade da vida cotidiana?”, essas são algumas das perguntas que a ementa do texto se dedica a responder.

  2. A Filosofia Como Forma de Vida: Estoicos, Epicuristas e Cínicos

    Focado na relação entre filosofia e prática de vida, este curso apresenta Sócrates e escolas como o Estoicismo, o Epicurismo e o Cinismo, refletindo sobre suas diferentes concepções de mundo e suas consequentes formas de vida. O curso explora, principalmente, como os pensadores dessas escolas propunham exercícios espirituais e uma arte de viver, conceitos que permanecem relevantes nos dias de hoje.

  3. Jornada da Filosofia: Vida e Morte no Ocidente

    Com uma abordagem interdisciplinar, este curso examina como o pensamento ocidental lida com a finitude humana. Ele conecta as raízes filosóficas do estoicismo com questões psicológicas e políticas, oferecendo uma compreensão mais ampla sobre como viver e morrer com significado e serenidade.

  4. Trilha da Filosofia | 2ª Temporada

    Esta série propõe uma jornada que aborda, de maneira introdutória, alguns dos principais pensadores, temas e conceitos da história do pensamento filosófico. Com a orientação dos professores Franklin Leopoldo e Silva e Oswaldo Giacoia Junior, o curso esclarece questões fundamentais para o aprendizado da filosofia. Como é o caso do pensamento de Aristóteles (384-322 a.C.) e Santo Agostinho (354-430), do estoicismo e epicurismo do período helenístico. O curso também inclui temas como a Teoria do Justo Meio, os conceitos de Transcendência e Imanência, e a questão do espírito como a fonte principal de todo conhecimento, assim como Deus como fundamento radical do conhecimento.

Explore essas leituras e cursos para aprofundar seu conhecimento sobre o estoicismo e aprender a como praticar essa filosofia em sua vida cotidiana!

A plataforma Casa do Saber + tem uma categoria de cursos inteiramente dedicada ao estudo da filosofia, desde a antiguidade até os dias atuais. Acesse para assistir a todos os cursos indicados acima e muito mais.

Conclusão:

Ao final da leitura, devemos nos perguntar: é então possível praticar o estoicismo nos dias de hoje ou estamos condicionados a sucumbir às pressões de uma sociedade que prioriza o imediatismo e o materialismo?

Ou ainda, é realmente viável pensar em uma filosofia de práxis individual em meio a um sistema com falhas estruturais?

A resposta depende do ponto de vista a ser abordado, compreendendo que as filosofias apontam não para a solução absoluta de todos os dilemas humanos, mas para caminhos que auxiliam na reflexão, no enfrentamento das adversidades e na busca por uma vida mais alinhada aos próprios valores.

O estoicismo, nesse sentido, se destaca como uma prática acessível e adaptável ao cotidiano moderno, reconhecido por promover a resiliência individual diante das incertezas externas.

Embora seja interessante reconhecermos as limitações impostas pelo contexto social, destaca-se que o estoicismo também desafia o indivíduo a agir com virtude e propósito, independentemente das circunstâncias.

Em última análise, o estoicismo oferece um convite para olharmos mais profundamente para nós mesmos e para as circunstâncias à nossa volta.

Assim, mais do que uma resposta definitiva, essa escola filosófica antiga nos faz refletir sobre como podemos moldar nossas escolhas e atitudes para encontrar significado em meio ao caos.




Gostou de conferir dicas sobre como praticar o estoicismo nos dias atuais? Elas não param por aqui. Baixe gratuitamente o eBook “Estoicismo no Século 21: É Possível Ser Estoico Hoje?” e acompanhe uma discussão ainda mais profunda sobre o tema!








Referências

¹SANTOS, Kleys Jesuvina dos. A influência do estoicismo na filosofia de Foucault. Kinesis, Marília, v. 11, n. 28. 2019. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/kinesis/article/view/9140. Acesso em: 25 set. 2024.


GAZOLLA, Rachel. Representação compreensiva: critério de verdade e virtude no Estoicismo Antigo. Revista da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, v. 19, n. 2, 2006. Disponível em: https://www-periodicos-capes-gov-br.ez40.periodicos.capes.gov.br/index.php/acervo/buscador.html?task=detalhes&source=&id=W1511359753. Acesso em: 25 set. 2024.

Artes, Literatura e História
Impressionismo: Obras, Características, Claude Monet, Pinturas
Xavana Celesnah
Impressionismo: Obras, Características, Claude Monet, Pinturas
Impressionismo: Movimento artístico, obras de Monet, Degas, Renoir, estilo impressionista, pinceladas rápidas e captura de momentos

Impressionismo: O que é, Características, Principais Artistas

O impressionismo foi um divisor de águas na arte do mundo ocidental do final do século XIX. Os artistas que criaram esse movimento na França estavam insatisfeitos com as limitações impostas pela academia, que definia quais deveriam ser os temas das obras de arte, bem como as cores utilizadas e a técnica aplicada. Até mesmo o local onde os artistas produziriam suas telas era imposto: tinha que ser no atelier.

Os impressionistas bateram de frente com esses “dogmas” acadêmicos e foram em busca da liberdade criativa. Nomes como Claude Monet e Pierre-Auguste Renoir estudaram a fundo as cores e a luminosidade, percebendo que os contornos nítidos das pinturas feitas até ali não condiziam com a realidade. Assim, criaram pinturas com pinceladas mais soltas, abandonando a nitidez e criando efeitos visuais inovadores a partir da indefinição dos contornos e do uso de cores variadas, inclusive nas sombras. Inicialmente, o movimento foi depreciado pela crítica, mas logo as pessoas passariam a compreender a proposta impressionista que marcou um ponto de virada na História da Arte.

banner tdah

Como surgiu a Pintura Impressionista?

O impressionismo nasceu na segunda metade do século XIX, na França. O contexto histórico da época foi marcado pelas consequências da Revolução Francesa do final do século XVIII, que tinha promovido uma verdadeira ruptura com a tradição. A quebra de paradigmas sociais abriu espaço para os artistas questionarem também os preceitos das Escolas de Belas Artes.

A primeira metade do século havia sido marcada pela volta ao clássico, com o neoclassicismo. Esse movimento iria conviver com o romantismo, expressão artística que, dentre outras características, se voltou bastante para a natureza, com o desenvolvimento de muitas pinturas de paisagens. É nesse cenário que surge o impressionismo.

Os artistas não estavam mais interessados em pintar temas históricos ou mitológicos. Agora, havia um interesse maior pelas cenas do cotidiano, que não estavam entre os grandes temas acadêmicos. Aliás, chocar a burguesia a partir da escolha de novos temas e do uso de técnicas diferenciadas acabou virando uma espécie de desejo dos jovens artistas da época, que se consideravam uma espécie de classe à parte da sociedade.

É nesse momento que entra em jogo a representação da realidade e os artistas do impressionismo ousaram ao inventar novas soluções criativas que desafiavam as convenções artísticas da época. O maior interesse da pintura impressionista era capturar a luz e o movimento, da maneira como os vemos, com toda a sua fugacidade. Assim, os artistas passaram a pintar ao ar livre e criaram novas imagens, voltadas para temas do cotidiano, onde realizavam seus estudos de cor, luz e movimento. Com suas pinturas, questionam os contornos bem delineados da pintura feita nos ateliês, pois percebem que na natureza, ao ser observada ao ar livre, não existiam essas linhas tão definidas.

As pinceladas desmembradas, a mistura de cores vibrantes e as novas concepções a respeito da representação do mundo fizeram com que o impressionismo influenciasse todas as futuras expressões da arte moderna. A ideia era confiar nos próprios olhos e não mais seguir as receitas prontas dadas pela academia sobre o que é a arte.

banner curso O que é arte?, por Felipe Martinez

A primeira exposição Impressionista

A Academia de Belas Artes, que organizava a curadoria do tradicional Salão Oficial de Paris, no ano de 1874, recusou obras de diversos artistas. Foi assim que aconteceu o Salão dos Recusados. No dia 15 de abril deste mesmo ano, cerca de 30 artistas que não haviam sido selecionados para a mostra oficial, dentre eles Claude Monet, Edgar Degas, Pierre-Auguste Renoir, Édouard Manet, Berthe Morisot e Paul Cézanne resolvem expor no atelier do fotógrafo Félix Nadar.

É quando Monet expõe o seu quadro Impressão: Nascer do Sol que causa bastante polêmica. Era uma pintura rápida, quase um esboço, cujo objetivo era captar as impressões daquele momento. Tornou-se a pintura mais marcante do impressionismo e foi justamente a ela que um crítico de arte se referiu ao desqualificar as obras da exposição. No livro A História da Arte, do historiador Ernst Gombrich, uma crítica ao movimento foi transcrita:

“A Rua Le Peletier é uma sucessão de desastres. Após o incêndio na Ópera, temos agora uma outra catástrofe. Acaba de ser lançada uma exposição na Durand-Ruel que supostamente contém pinturas.

Entro, e meus olhos horrorizados são assombrados por uma visão terrível. Cinco ou seis lunáticos, entre eles uma mulher, reuniram-se para expor suas obras. Vi gente chorando de rir diante das telas, mas meu coração verteu sangue quando as vi. Esses pretensos artistas autointitulam-se revolucionários, “impressionistas”. Pegam um pedaço de tela, tinta e pincel, besutam-na com manchas aleatórias e assinam seu nome. É uma ilusão como se internos de um hospício pegassem algumas pedras na rua e julgassem ter encontrado diamantes.”

(Nota publicada em uma revista humorística semanal em 1876)

Quadro 'Impressão: Sol Nascente' de Claude Monet, pintado em 1872. Retrata uma cena ao amanhecer, com sol laranja brilhante refletindo na água, cercado por barcos e uma névoa suave, utilizando pinceladas soltas e cores vibrantes.
Impressão: Sol Nascente, Claude Monet. 1872. Óleo sobre tela, 48X63 cm. Museu Marmottan, Paris.


Apesar da crítica pejorativa, os artistas acabam adotando o termo para se autodenominarem. E assim como aconteceu com outros movimentos, como o cubismo e o barroco, o impressionismo foi batizado a partir de um comentário negativo.

A pintura impressionista estava interessada no instante, no momento imediato que pode ser captado pelo olhar sensível. Os artistas deste movimento tinham uma percepção fenomenológica da realidade, eles não estavam preocupados com o que pensamos ser a realidade, mas sim em como ela aparece diante dos nossos olhos.

Por isso, eles são considerados revolucionários na arte. Foram os primeiros a perceber a mistura das cores na natureza e a pintá-las. A questão do movimento também foi essencial para os pintores. Eles mostraram o movimento a partir de uma nova perspectiva: focavam em um único acontecimento da cena e o restante aparecia de forma desfocada, como um amontoado de formas indefinidas. Isso tudo demonstra o interesse desses artistas pelo estudo de óptica. Possivelmente, o surgimento da fotografia no início do século XIX contribuiu para as novas concepções desses artistas a respeito da captação da realidade a partir dos nossos olhos.

banner curso Introdução à História da Arte, por Felipe Martinez

Quais são as características do Impressionismo?

O movimento impressionista ficou marcado por suas inovações técnicas e ideológicas. Os artistas do movimento se inspiraram em cenas do dia a dia, observando paisagens, pessoas e atividades sociais, como danças e festividades.

Ao invés de produzir imagens que traziam os tradicionais temas históricos ou mitológicos, as obras impressionistas mostravam momentos efêmeros, como encontros de pessoas em tardes ensolaradas. Dentre as principais características do movimento, destacam-se:

  • A inovação nas pinceladas: os artistas pintam de uma forma diferente, fazendo pinceladas mais curtas e livres na tela. Assim, criam uma sensação de movimento e uma maior dinâmica de cores, que deixam de ser estáticas e frias.
  • Abandono dos Contornos Nítidos: os contornos das obras impressionistas são propositalmente indefinidos, sugerindo as formas, em vez de criar delineados.
  • Uso de cores vibrantes: as cores dos impressionistas se misturam e são aplicadas muitas vezes diretamente na tela. Isso porque os artistas pintavam o efêmero e não tinham mais tempo para realizar uma minuciosa mistura de cores. A ideia agora era captar o instante.
  • Pintura ao ar livre: influenciados por Monet, que era um grande defensor da pintura ao ar livre, os impressionistas saem dos ateliês para observarem as cenas in loco.
  • Estudo da luz: a luz natural estava entre os temas centrais para os impressionistas. Em todas as composições, o elemento da luminosidade era central. A partir do estudo da luz, os artistas criaram obras com uma nova percepção das cores. Isso se refletiria, inclusive, nas sombras que ganharam nuances e deixaram de ser um reflexo amorfo e uniforme.
  • Momentos Efêmeros: o artista agora estava pela primeira vez tendo a liberdade de escolher os seus temas. Não precisava mais fazer uma pintura oficial. Dessa maneira, tudo poderia ser fonte de inspiração, como o nascer do sol ou um passeio de barco.
  • Representação do Movimento: no impressionismo, o movimento ganha um novo brilho. As cenas não parecem estáticas, pois com o uso das novas técnicas, os artistas conseguem capturar o instante de uma maneira mais dinâmica.

Principais Artistas do Impressionismo

Aqui está uma pequena tabela com os principais pintores do movimento impressionista.

Pintores Impressionistas Características Principais Obras
Claude Monet Foi o primeiro grande nome da pintura impressionista. A partir do quadro dele intitulado Impressão: Nascer do Sol, o movimento foi nomeado. Teve influência da arte japonesa e chegou a cultivar um jardim aquático japonês. - Impressão: Nascer do Sol (1872)

- Mulher com sombrinha (1875)
Pierre-Auguste Renoir Conhecido pelo seu estudo da luz, o pintor ficou famoso por pintar pessoas banhadas em uma luminosidade vibrante, preferencialmente em cenas ao ar livre. - O Baile no Moulin de la Galette (1876)

- O Almoço dos Barqueiros (1881)
Edgar Degas Consagrado por suas pinturas de balé clássico, Degas costumava frequentar os teatros para criar suas composições. - Sala de Ensaio do Balé no Teatro da Ópera (1872)

- Bailarinas no Palco (1879)
Edouard Manet Trouxe cenas do cotidiano para a pintura, abordando a nudez de forma crua e não idealizada. Trabalha muito bem o jogo de luz e sombras. - O Almoço na Relva (1863)

- Claude Monet pintando no seu barco-ateliê (1874)
Camille Pissarro Destaca-se pela captura da vida cotidiana e das paisagens, utilizando uma técnica de pinceladas rápidas e uma paleta rica em luz, que transmite os efeitos das mudanças sazonais e da luz natural. - O Boulevard Montmartre em uma Manhã de Inverno (1897)

- Praça do Teatro Francês (1898)
Berthe Morisot Uma das poucas mulheres do movimento, suas obras exploram a vida privada das mulheres, além de uma abordagem intimista e emocional que captura momentos efêmeros do cotidiano. - O Berço (1872)

- Mulher Jovem Tricotando (1885)


Principais Obras Representativas do Impressionismo

Confira a seguir algumas das principais obras impressionistas, além da já citada Impressão: Nascer do Sol, de Monet.

Mulher com Sombrinha (1875) | Claude Monet

Uma mulher elegante, vestida com um vestido claro é vista ao lado de um menino enquanto segura uma sombrinha em um dia ensolarado. Ela está em um campo florido, cercada por uma paisagem verdejante. A luz suave e difusa cria sombras delicadas e destaca os detalhes do vestido, transmitindo uma sensação de movimento e leveza, típica da estética impressionista.
Mulher com Sombrinha, Claude Monet. 1875. Óleo sobre Tela, 100 x 81cm. National Gallery of Art em Washington, Estados Unidos.


O Almoço dos Remadores (1880) | Pierre-Auguste Renoir

Um grupo de pessoas realiza uma celebração da vida social e o pintor capta a alegria e a luz do verão. As figuras estão em poses descontraídas, conversando e rindo, enquanto bebidas e pratos estão sobre a mesa.
O Almoço dos Remadores, Auguste Renoir, 1880. Óleo sobre tela, 130x173cm. The Phillips Collection, Washington, EUA.


Bailarina Balançando (1879) | Edgar Degas

Retrata uma cena das bailarinas dançando durante um espetáculo, destacando o movimento e o figurino.
Bailarina balançando (bailarina verde), Edgar Degas, 1879. Pastel e guache sobre papel, 64x36cm. Museu Nacional Thyssen-Bornemisza, Madrid.


Boulevard Montmartre, Manhã, Tempo Nublado (1897) | Camille Pissarro

Uma cena urbana retrata o Boulevard Montmartre em um dia nublado, com pessoas caminhando nas calçadas e carruagens na rua. Edifícios históricos cercam a área, e a paleta de cores suaves, com tons de cinza e marrom, reflete a atmosfera melancólica do clima. Pissarro utiliza pinceladas soltas para capturar a vida cotidiana e a luz difusa, criando uma sensação de movimento e dinamismo na cena.
Boulevard Montmartre, Manhã, Tempo Nublado, Camille Pissarro, 1897. Óleo sobre tela, 73 x 92 cm. National Gallery of Victoria, NGV. Melbourne , Victoria , Austrália.



O Berço (1872) | Berthe Morisot

Um delicado retrato da maternidade, com uma mulher diante do berço observando um bebê, refletindo um momento cotidiano da vida feminina.
O Berço, Camille Pissarro, 1872. Óleo sobre tela, 46 x 56 cm. Museu de Orsay, Paris, França.


Entenda o que Transforma um Trabalho Artístico em uma Obra de Arte

thumb curso 'Entenda o que transforma um trabalho artistico em uma obra de arte

Quais elementos transformam um trabalho artístico em uma verdadeira obra de arte? O que faz com que o sucesso de uma criação perdure ao longo dos séculos? E, afinal, o que torna uma obra de arte genial?

Descubra no curso



Impacto e Legado do Impressionismo

O movimento impressionista revolucionou a arte do final do século XIX, abrindo espaço para uma nova forma de ver e representar o mundo. O pintor Claude Monet, que foi um dos pioneiros do movimento, mostrou a importância da captura da luz in loco. Além disso, a abordagem inovadora da pintura impressionista teve influência das gravuras japonesas. Foi dessa arte oriental que os artistas beberam para elaborar composições sem uma perspectiva central e com enquadramentos diferentes do habitual. Inclusive, o próprio Monet cultivava um jardim aquático de inspiração japonesa, de onde tirou a inspiração para pintar a série de quadros da sua ponte japonesa.

Quadro 'Ponte sobre um lago de nenúfares' de Claude Monet, pintado em 1899. A obra apresenta uma ponte curva sobre um lago repleto de nenúfares, com reflexos vibrantes na água e uma rica paleta de verdes.
Ponte sobre um lago de nenúfares, 1899, Claude Monet. 1872. Óleo sobre tela, 92,7 x 73,7 cm. Coleção HO Havemeyer, legado da Sra. HO Havemeyer, 1929


Monet e seus contemporâneos perceberam que a natureza não era apenas um objeto a ser retratado, mas uma experiência a ser vivida e transmitida. Ao adotar uma abordagem mais subjetiva, os impressionistas estabeleceram as bases para a Arte Moderna, permitindo que os artistas explorassem novas formas e técnicas que ainda não haviam sido concebidas. O uso de pinceladas curtas e rápidas, que parecem caóticas de perto, revela, ao serem observadas à distância, uma harmonia e vitalidade que desafia a percepção tradicional.

A resistência inicial ao Impressionismo foi significativa, com muitos críticos e o público não compreendendo imediatamente a proposta dos artistas. Era necessário um novo olhar, uma nova maneira de ver a arte. Essa necessidade de distância física para que a obra "ganhasse vida" demonstra a ruptura com as expectativas anteriores. Contudo, com o passar do tempo, o Impressionismo foi ganhando espaço e respeito, e artistas como Monet e Renoir alcançaram fama e reconhecimento em vida, consolidando seu legado em importantes coleções públicas.

Além disso, o Impressionismo preparou o terreno para movimentos subsequentes, como o Pós-Impressionismo e o Modernismo. Artistas como Paul Cézanne e Vincent van Gogh, que foram influenciados pelos impressionistas, continuaram a explorar novas formas de expressão, cada um à sua maneira. O pontilhismo, uma técnica desenvolvida no Pós-Impressionismo, exemplifica a evolução da experiência estética proposta pelos impressionistas.

O Impressionismo iniciou uma nova forma de perceber e representar o mundo, mas continuou querendo representá-lo. As transformações estéticas revolucionaram o fazer artístico, mas os artistas continuavam buscando ilustrar a realidade. A arte impressionista abriu caminhos para a inovação criativa que, posteriormente, iria se manifestar nas vanguardas europeias.

banner curso A arte moderna pelas obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock, por Felipe Martinez

Perguntas Frequentes sobre Impressionismo

O que é Impressionismo?
O Impressionismo é um movimento artístico que surgiu no final do século XIX, na França. É caracterizado pela captura da luz e do movimento através de pinceladas soltas e cores vivas.

Quais são as principais características do Impressionismo?
As características do movimento incluem o abandono dos contornos nítidos e o uso de pinceladas aleatórias, o uso de cores puras, a observação da natureza e a captura da luz do instante observado. Além disso, os artistas buscavam representar cenas simples do cotidiano.

Quer se aprofundar na história da arte aprendendo com os melhores professores das maiores universidades do país, de onde você estiver?

A Casa do Saber + tem uma categoria inteira de cursos dedicados às artes visuais, passando pela curadoria, arte moderna, brasileira e contemporânea especialmente preparados para um aprendizado sem fronteiras. Acesse a plataforma para começar agora mesmo.

Comece aqui





Referências:

https://www.marmottan.fr/en/

https://mam.org.br/

https://www.musee-orsay.fr/en

GOMBRICH, E.H. A História da Arte



Expressionismo: Características, obras, O Grito, Van Gogh, artistas
Xavana Celesnah
Expressionismo: Características, obras, O Grito, Van Gogh, artistas
Expressionismo alemão:arte anterior à I Guerra Mundial, principais obras, cinema, expressionismo abstrato, o que é a arte expressionista, artistas.

O expressionismo foi um movimento artístico que surgiu na Alemanha, no ano de 1905, como uma reação à proposta estética do impressionismo, que buscava realizar uma arte baseada em estudos de óptica, retratando a luminosidade e as imagens da maneira como as vemos. Ao contrário do impressionismo, o expressionismo procurava realizar uma arte onde a emoção do artista tivesse mais espaço do que a técnica.

Expressionismo: Obras, Características e 3 Cursos Para Você Entender Tudo sobre a Vanguarda Modernista

A expressão dos pintores, seus sentimentos e sua visão de mundo importavam mais do que o realismo para essa vanguarda modernista. A obra O Grito (1893), do norueguês Edvard Munch, é precursora do expressionismo e traz muitas de suas características, como a deformação das figuras e a temática pessimista. O movimento não ficou restrito à pintura, mas também se manifestou na literatura, no cinema, na arquitetura e na fotografia.

Neste artigo, vamos mostrar como surgiu a arte expressionista, seus principais artistas e cursos para você aprofundar seus conhecimentos na Arte Moderna. O artigo passará pelos seguintes conteúdos:



banner tdah

O que é Expressionismo?

O expressionismo foi um movimento artístico que emergiu no início do século XX, com origem na Alemanha, que valorizava a visão particular de mundo de cada artista, bem como suas emoções íntimas. O movimento refletia um mundo em crise, marcado pela Revolução Industrial, pela urbanização crescente e por tensões sociais e políticas intensas.

Os artistas distorciam formas, cores e perspectivas para expressar sentimentos profundos de angústia, sofrimento e desespero, em vez de retratar a realidade de maneira fiel. Em contraste com estilos artísticos anteriores, como o impressionismo, que se concentrava na representação objetiva e realista do mundo, os expressionistas buscaram transmitir a subjetividade e as turbulências internas do indivíduo.

Grandes nomes do expressionismo, como Edvard Munch e Egon Schiele, usaram essas distorções para capturar as intensas emoções humanas e o impacto psicológico das mudanças da sociedade moderna. O expressionismo é considerado uma das primeiras vanguardas históricas, ao lado do fauvismo francês. As vanguardas europeias da arte modernista foram um conjunto de movimentos artísticos que surgiram entre o início do século XX, antes da Primeira Guerra Mundial até o final da Segunda Guerra Mundial

Esses movimentos desafiavam as convenções estéticas tradicionais e traziam novas formas de expressão, abordando questões psicológicas, existenciais e sociais de maneira inovadora e muitas vezes perturbadora. Surgia uma nova era na arte ocidental com a mudança da mentalidade acerca do que faz um trabalho artístico uma obra de arte.

Como surgiu o Expressionismo?

O expressionismo surgiu em uma Alemanha imersa em uma profunda crise, cujas tensões sociais e políticas acabariam por culminar na eclosão da Primeira Guerra Mundial. As consequências da Revolução Industrial, o crescimento das áreas urbanas e os conflitos políticos criaram um cenário de angústia que se refletiu na arte expressionista.

Os artistas expressionistas reagiram a esse ambiente com uma paleta cromática agressiva, utilizando cores intensas e contrastantes para transmitir suas emoções internas. As temáticas centrais do movimento incluem a solidão, o sofrimento e a miséria, refletindo a crise existencial vivida pela sociedade.

O pintor norueguês Edvard Munch, com obras como O Grito (1893), tornou-se um ícone do expressionismo, retratando o desespero e a incomunicação humanas em um cenário de opressão psicológica. Seu trabalho, marcado por uma forte carga emocional e uma paleta de cores intensas, foi uma das principais inspirações para o movimento.

Além de Munch, outros artistas, como o francês Paul Cézanne, cujas experimentações com a desfragmentação da realidade e os pós-impressionistas Vincent van Gogh e Paul Gauguin, também foram precursores do expressionismo, trazendo à tona uma ênfase na subjetividade, na distorção das formas e na expressão de emoções profundas.

Para expandir seu entendimento sobre a História da Arte, explore o conteúdo da Casa do Saber, que oferece mais de 10 cursos online ministrados pelos principais pensadores do Brasil. Clique abaixo e confira todas as opções:

cursos de artes da casa do saber



O Expressionismo Alemão na Pintura

O movimento expressionista teve início em 1905, com a formação do grupo Die Brücke (A Ponte), fundado em Dresden por artistas como Ernst Ludwig Kirchner, Karl Schmidt-Rottluff e Erich Heckel. Este grupo se propôs a romper com as tradições artísticas acadêmicas e buscar uma expressão mais direta e emocional da realidade. Influenciados por movimentos como o pós-impressionismo e o primitivismo, os membros do Die Brücke usaram cores intensas e distorções nas formas para retratar temas como a angústia e o sofrimento causados pelas transformações sociais e culturais da época. A arte expressionista visava, assim, representar a subjetividade humana e os sentimentos conflitantes do indivíduo. O fazer artístico estava se transformando, bem como o perfil do consumo da arte.

Em 1911, o termo "expressionismo" foi formalmente associado ao movimento pela primeira vez ao ser escrito na revista Der Sturm (A Tempestade), uma das mais importantes publicações da vanguarda alemã. Ao mesmo tempo, o movimento se expandiu com a formação do grupo Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), em Munique, composto por artistas como Wassily Kandinsky e Franz Marc. Embora ambos os grupos compartilhassem a ideia de distorcer a realidade e explorar a subjetividade, o Der Blaue Reiter adotou uma abordagem mais espiritual, buscando expressar realidades metafísicas por meio da arte.

O Nazismo contra o Expressionismo

O regime nazista teve um impacto devastador sobre a arte expressionista, considerando-a "degenerada" e incompatível com seus valores nacionalistas e tradicionais. O movimento de censura do nazismo visava eliminar formas de arte modernas, como o expressionismo, o cubismo e o futurismo, que eram vistas como antinacionais e subversivas. Em 1937, os nazistas organizaram a Exposição de Arte Degenerada em Munique, onde obras de artistas como Ernst Ludwig Kirchner, foram expostas de forma grotesca, sendo ridicularizadas como expressão da loucura e usadas como exemplo do que o regime considerava corrompido. Muitas dessas obras foram retiradas de museus, destruídas ou vendidas a colecionadores estrangeiros, enquanto outras foram armazenadas fora do alcance do público.

O regime nazista tentou eliminar o expressionismo da cena artística alemã e ainda associou esse movimento ao comunismo e o rotulou de imoral e subversivo. Em 1937, cerca de 16.500 obras de arte foram confiscadas, incluindo trabalhos de artistas renomados como Van Gogh, Pablo Picasso e Matisse, muitas das quais foram vendidas em leilões ou destruídas, resultando em um prejuízo irreparável para a arte alemã e mundial.

3 Cursos Para Você Entender tudo sobre Arte Moderna

Para você que deseja entender profundamente o que é a arte, o que é Arte Moderna e, consequentemente, o movimento Expressionista, listamos três cursos essenciais da Casa do Saber que vão te fornecer uma visão mais abrangente sobre esses temas. São eles:

  1. A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock
  2. Introdução à História da Arte
  3. O que é Arte?



A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock

O curso "A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock" oferece uma análise profunda das transformações que ocorreram na arte moderna entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX.

Através das obras e vidas de artistas icônicos como Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock, o curso revela como a arte moderna rompeu com as convenções estéticas anteriores e aborda o impacto desse movimento nas instituições, na crítica de arte e no mercado.

O curso é ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp e pesquisador de pós-doutorado no Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP), Felipe Martinez. Com vasta experiência acadêmica e profissional, Felipe Martinez é especialista na obra de Van Gogh e tem atuação em instituições renomadas, como o MASP e o MAM de São Paulo. Confira a seguir uma prévia do curso:

Thumb curso 'A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock' com Felipe Martinez


Introdução à História da Arte

O curso "Introdução à História da Arte" oferece uma visão abrangente dos principais marcos e transformações na arte ocidental, desde o Renascimento até a arte moderna e contemporânea. Ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp e pesquisador da USP (MAC-USP), Felipe Martinez, o curso mostra como nossos conceitos de beleza e arte são construídos a partir do contexto histórico.

As aulas cobrem uma vasta gama de movimentos e artistas, como Michelangelo, Caravaggio, Monet, Degas, Van Gogh e Matisse, além de discutir as influências estéticas, técnicas e sociais que formaram cada período. A arte moderna e as vanguardas europeias fazem parte do conteúdo do curso e você pode conferir um pouco das aulas dando play no vídeo abaixo:

Thumb curso 'Introdução à História da Arte' com Felipe Martinez


O que é Arte?

O curso "O Que é Arte?" busca responder a essa pergunta, que permanece relevante e aberta a diversas interpretações. Através de uma abordagem crítica, o pesquisador Felipe Martinez investiga a arte a partir de seus diferentes sentidos, funções e efeitos, analisando como ela se conecta com a sociedade e provoca reflexões. As aulas envolvem obras e autores de períodos clássicos, modernos e contemporâneos, oferecendo novas formas de compreender e questionar o papel da arte em nosso mundo. Assista abaixo um trecho de uma das aulas para se familiarizar com o conhecimento compartilhado:

Thumb curso 'O que é arte?' com Felipe Martinez


Quais são as Características do Expressionismo?

Influenciado pelo gótico alemão, o movimento expressionista é caracterizado pela distorção das formas, uso de cores intensas para refletir emoções, e ênfase no impacto psicológico sobre a realidade objetiva. O expressionismo também se concentra no isolamento urbano, alienação e solidão do indivíduo, além de usar linhas dramáticas e angulares para aumentar a tensão emocional. Embora tenha sido um movimento heterogêneo, com grupos e artistas apresentando grandes diferenças estilísticas e temáticas, sua influência se estendeu por várias décadas, até a Segunda Guerra Mundial, e alcançou outros países além da Alemanha.

Principais características do expressionismo:

  • Distorção das formas para expressar emoções, não a realidade
  • Uso de cores vibrantes e intensificadas
  • Foco nas emoções e tensões interiores, não na objetividade
  • Representação de cenas urbanas e do isolamento
  • Linhas dramáticas e angulares para aumentar a intensidade emocional
  • Impacto psicológico mais importante que a beleza visual
  • Diversidade estilística e temática entre os grupos e artistas



Principais Artistas do Expressionismo

Abaixo, apresentamos uma tabela com alguns dos principais artistas do movimento expressionista, suas características e obras mais representativas. Além disso, incluímos artistas do pós-impressionismo, cujas obras influenciaram diretamente o surgimento e o desenvolvimento do expressionismo. Confira:

PINTORES EXPRESSIONISTAS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS OBRAS
Edvard Munch Conhecido por expressar emoções de angústia e ansiedade, especialmente a solidão humana O Grito (1893)
Egon Schiele Famoso por suas representações distorcidas do corpo humano, explorando temas de desejo e morte Retrato de Wally (1912)
Ernst Ludwig Kirchner Membro do grupo Die Brücke, seus trabalhos eram caracterizados por distorções de figuras e cores vibrantes Autorretrato com Modelos (1910)
Wassily Kandinsky Pioneiro da arte abstrata, ele acreditava que a arte deveria expressar a espiritualidade e a emoção Composição VII (1913)


Pintura Expressionista

Aqui estão algumas das principais obras expressionistas, que exemplificam a distorção da realidade e a ênfase nas emoções, tão características do expressionismo:

O Grito (1893) | Edvard Munch

Quadro 'O Grito' de Edvard Munch, pintado em 1893. Retrata, de forma distorcida, uma pessoa gritando em cima de uma ponte, com expressão de aflição.
O Grito, Edvard Munch. 1893. Têmpera e pastel oleoso sobre cartão, 91 x 73,5 cm. Galeria Nacional de Oslo, Noruega.


O Grito é uma das obras mais icônicas do expressionismo, capturando a angústia e o desespero humano. A distorção da figura e a explosão de cores vibrantes transmitem a sensação de uma crise emocional profunda.

Mulher Sentada com Joelhos Dobrados (1917) | Egon Schiele

Quadro 'Mulher Sentada com Joelhos Dobrados' de Egon Schiele, pintado em 1917. Retrata uma mulher sentada, com as pernas abertas, encostando a cabeça em um dos joelhos dobrados.
Mulher Sentada com Joelhos Dobrados, Egon Schiele, 1917. Guache, aquarela e giz de cera preto sobre papel. Galeria Nacional de Praga, Praga.


Mulher Sentada com Joelhos Dobrados é uma das imagens mais conhecidas de Schiele e revela uma mulher representada de uma maneira que destoava completamente dos padrões convencionais da arte da época. Ele mistura um ângulo nada convencional com uma estética erótica.

Composição VII(1913) | Wassily Kandinsky

Quadro 'Composição VII' de Wassily Kandinsky, pintado em 1913. É uma pintura abstrata, de traços fortes e marcantes, com uso de cores intensas e contrastantes.
Composição VII, Wassily Kandinsky, 1913. Óleo sobre tela, 200,6 cm x 302,2 cm. Galeria Tretyakov , Moscou.


Kandinsky foi um dos primeiros artistas a criar a arte abstrata. "Composição VII" é uma obra caótica, com cores vibrantes. O quadro não faz uma representação figurativa da realidade e traz uma composição complexa que cria novos caminhos e possibilidades para a arte modernista.

O Expressionismo no Brasil

O Expressionismo no Brasil, embora não tenha se consolidado como um movimento dominante, surgiu no início do século XX influenciado pelas inovações da vanguarda europeia e deixou uma marca significativa nas artes, especialmente na pintura. Artistas como Cândido Portinari , Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti e Anita Malfatti buscaram transmitir emoções intensas e subjetivas por meio da distorção das formas, cores fortes e contrastantes, além de uma representação mais psicológica e emocional do ser humano. Obras como Retirantes e Guerra, de Portinari, exemplificam a busca por representar o sofrimento e as tensões sociais, refletindo as angústias de sua época.

Quadro 'Retirantes' de Cândido Portinari, pintado em 1944. Mostra uma família de camponeses em fuga, com rostos expressando sofrimento e fadiga, em uma composição de cores fortes que transmite a dor e a luta das dificuldades sociais.
Retirantes, Cândido Portinari, 1944. Óleo sobre tela, 190 cm x 180 cm. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (SP)


Impacto e Legado do Expressionismo

O expressionismo, embora inicialmente rejeitado, desempenhou um papel fundamental na reconfiguração da arte moderna, abrindo caminho para movimentos como o surrealismo e a arte abstrata. Sua ênfase na distorção das formas e na representação do mundo interior desafiou as convenções estéticas da época e transformou a concepção da arte de uma mera representação da realidade externa para uma expressão profunda das experiências humanas. O legado do expressionismo, com suas inovações e reflexões sobre a condição humana, continua a influenciar as artes visuais e outras formas criativas até os dias de hoje. Além disso, o movimento também deixou uma marca significativa no cinema, especialmente nos gêneros de horror e suspense.

banner curso introdução a historia da arte no brasil da casa do saber


Perguntas Frequentes sobre Expressionismo

O que é o expressionismo?

O expressionismo é um movimento artístico que começou no início do século XX, focado na expressão das emoções do artista através da distorção de formas e do uso intensivo de cores vibrantes.

Quais são as principais características do expressionismo?

As características do expressionismo incluem distorção das formas para expressar emoções, uso de cores intensas e vibrantes, e a exploração de temas como alienação, angústia e a tensão interior do ser humano.

Referências:

https://enciclopedia.itaucultural.org.br/termos/80046-expressionismo

História da Arte: definição, períodos, tipos de arte e grandes obras
Xavana Celesnah
História da Arte: definição, períodos, tipos de arte e grandes obras
Explore a História da Arte, dos desenhos rupestres à contemporânea. Conheça os períodos artísticos, grandes obras ,artistas e para que serve a arte.

A História da Arte é um campo do conhecimento que investiga a evolução das manifestações artísticas ao longo do tempo, desde as pinturas rupestres da Arte Pré-Histórica até as expressões contemporâneas que estão presentes no nosso cotidiano. Neste texto, vamos focar principalmente na História da Arte ligada à pintura, passando pelos principais períodos da História da Arte Mundial, pelos grandes artistas e suas obras, e vamos destacar também a História da Arte no Brasil.



banner curso Introdução à História da Arte, por Felipe Martinez

O que é Arte?

Antes de mergulharmos nas divisões históricas e nas correntes artísticas, é essencial entender o conceito de arte. Arte pode ser entendida como a expressão da criatividade e sensibilidade humana, através das mais diferentes linguagens, como pintura, música, literatura, cinema, escultura, desenho, dança, entre outras. As obras de arte, em sua maioria, são realizadas com algum propósito comunicativo, seja através do visual, do sonoro ou do narrativo. Portanto, a arte transmite emoções, ideias, valores e questionamentos sobre a sociedade e a existência humana.

Cada tipo de arte tem características próprias e formas de expressar uma mensagem. Por exemplo, a pintura pode ser figurativa ou abstrata, a escultura pode ser uma representação tridimensional de figuras ou formas, e a música pode explorar diferentes ritmos e harmonias. A dança, por sua vez, se expressa por meio do movimento corporal, enquanto a literatura utiliza as palavras para criar histórias, reflexões e críticas sociais.

A arte reflete o modo de vida, as crenças e as inovações de cada época. Mas para que serve a arte? Ela vai além da apreciação estética e é fundamental na formação de nossa identidade cultural e na reflexão sobre questões sociais e políticas.

banner curso O que é arte?, por Felipe Martinez

Períodos da História da Arte

A História da Arte é geralmente dividida em períodos e movimentos que ajudam didaticamente na compreensão das manifestações de cada época. Claro que essas divisões periódicas não são rígidas e algumas formas de se fazer arte coexistiram, mas a divisão em fases facilita a identificação dos estilos e também das ideias que estavam aflorando em cada momento histórico.

Cada período tem suas características próprias, refletindo mudanças de pensamento, inovações técnicas e influências sociais. A seguir, fizemos um resumo com os principais períodos da História da Arte.

Arte Pré-Histórica

A arte pré-histórica remonta aos primórdios da humanidade e é marcada por ser uma arte desenvolvida antes da invenção da escrita. As pinturas rupestres são os principais exemplos desta fase e as famosas pinturas das cavernas de Altamira, na Espanha, e de Lascaux, na França, seguem como os grandes marcos da arte rupestre no mundo.

As pinturas nas cavernas retratam animais e algumas cenas da vida cotidiana da época, como a caça. Essas obras têm um caráter simbólico e ritualístico, também chamado de “magia simpática ou propiciatória”. São pinturas muitas vezes associadas a crenças espirituais e ao entendimento do mundo natural.

Bisonte na Caverna de Altamira, Espanha.  As pinturas rupestres da Caverna de Altamira foram realizadas entre 36.000 e 13.000 anos atrás.

Bisonte na Caverna de Altamira, Espanha. As pinturas rupestres da Caverna de Altamira foram realizadas entre 36.000 e 13.000 anos atrás.


Arte Antiga

Com o surgimento das primeiras civilizações, como as dos povos que habitaram a Mesopotâmia, o Egito, a Grécia e Roma, a arte passou a ter um caráter mais formal e funcional. A arte produzida durante a Antiguidade foi muito diversa, principalmente quando comparamos a arte do Egito Antigo com a da Grécia Antiga, por exemplo, pois os artistas egípcios produziam imagens a partir de esquemas pré-definidos, enquanto os gregos buscavam o realismo na representação dos corpos humanos.

Isso acontecia porque a arte para a sociedade egípcia possuía um significado político e espiritual que precisava ser preservado. Portanto, as pinturas tinham que seguir certos padrões, como a lei da frontalidade que era usada na representação de corpos humanos, como é possível ver na imagem abaixo:

Pintura egípcia mostrando processo de mumificação, hábito comum na sociedade do Egito Antigo.

Pintura egípcia mostrando processo de mumificação, hábito comum na sociedade do Egito Antigo.


As civilizações antigas criaram obras de arte famosas, como as esculturas de Fídias na Grécia e as pirâmides do Egito, que não só adornavam os templos e palácios, mas também tinham significados religiosos e políticos profundos. A arte antiga foi marcada pela busca da perfeição e harmonia nas formas e pela representação idealizada do corpo humano.

Arte Medieval

A Arte Medieval foi realizada no longo período que vai do século V ao século XV, e se caracteriza pela religiosidade. Durante este período, a arte cristã predominou, com grande foco em temas bíblicos e na construção de igrejas, mosteiros e catedrais, além de manuscritos iluminados, que ficaram conhecidos como iluminuras.

A arte medieval utilizou pintura em murais, vitrais e a escultura religiosa. A arte gótica e bizantina, com suas imponentes catedrais e ícones religiosos, também são destaques deste período. Este período é essencialmente marcado pela busca de transmitir mensagens espirituais e teológicas.

Cenas da Vida de Cristo - Lamentação. Giotto, obra realizada entre 1304 e 1306. 200 cm X 185 cm. Capela Scrovegni, em Pádua, Itália.

Cenas da Vida de Cristo - Lamentação. Giotto, obra realizada entre 1304 e 1306. 200 cm X 185 cm. Capela Scrovegni, em Pádua, Itália.


Arte Renascentista

A Arte Renascentista, compreendida entre os séculos XIV e XVI, marca um retorno aos ideais da Antiguidade Clássica e uma revolução na maneira de pensar a arte e a humanidade. Artistas como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael buscaram a representação naturalista do corpo humano, explorando a perspectiva, a proporção e a luz.

A Renascença é, sem dúvida, um dos períodos mais ricos da história da arte, com grandes obras de arte famosas, como "A Última Ceia" de Da Vinci e "O David" de Michelangelo.

A Última Ceia. Leonardo da Vinci, obra realizada entre 1495 e 1498. Dimensões: 460 cm X 880 cm. Refeitório da igreja de Santa Maria delle Grazie, em Milão, Itália.

A Última Ceia. Leonardo da Vinci, obra realizada entre 1495 e 1498. Dimensões: 460 cm X 880 cm. Refeitório da igreja de Santa Maria delle Grazie, em Milão, Itália.


Arte Pré-Colombiana

A arte pré-colombiana refere-se à produção artística das civilizações indígenas das Américas antes das Grandes Navegações, que culminaram com a chegada de Cristóvão Colombo, no final do século XV, ao continente americano. Esse período é imensamente diversificado, refletindo a rica variedade de culturas que habitaram as Américas, como os maias, astecas, incas e diversos povos indígenas da América do Norte, Sul e América Central.

A arte pré-colombiana é caracterizada por uma profunda relação com a natureza, a religião e o poder. Entre os principais tipos de arte desse período estão as esculturas, pinturas, cerâmicas e tecelagens, todas com grande simbolismo. Os maias e astecas criaram magníficas esculturas de pedra, como os templos e figuras divinas que decoravam suas cidades. Os incas, por sua vez, desenvolveram técnicas de tecelagem complexas e a arte da metalurgia, criando peças de ouro e prata com significados religiosos e cerimoniais.

Templo de Kukulkán, pirâmide maia que começou a ser construída no século VI. Iucatã, México.

Templo de Kukulkán, pirâmide maia que começou a ser construída no século VI. Iucatã, México.


A arte pré-colombiana também apresenta uma rica simbologia, com forte presença de elementos geométricos e figuras mitológicas, como os deuses e heróis das lendas dessas civilizações.

Arte Moderna

A Arte Moderna (séculos XIX e XX) começou a apresentar suas primeiras obras a partir da Revolução Industrial e de toda a transformação social e política decorrente dela. Movimentos como o Impressionismo, Cubismo, Surrealismo e Expressionismo, que ficaram conhecidos como as vanguardas europeias, trouxeram novas formas de ver e entender a arte, distantes da representação figurativa clássica. Artistas como Pablo Picasso, Vincent van Gogh, Claude Monet e Salvador Dalí são alguns dos grandes nomes desse período.

A arte passou a explorar a abstração e a subjetividade, questionando as convenções tradicionais das academias e a própria realidade. O fazer artístico se diversificou, incluindo novos experimentos com o uso da cor, da forma e da luz, além de novas linguagens da arte, como a fotografia e a arte digital.

Guernica, quadro de Pablo Picasso. 1937, pintura a óleo. 349,3 cm X 776,5 cm. Museu Reina Sofia, Madrid.

Guernica, quadro de Pablo Picasso. 1937, pintura a óleo. 349,3 cm X 776,5 cm. Museu Reina Sofia, Madrid.


A Arte Moderna ou Modernismo foi um período riquíssimo da produção artística mundial e também no Brasil. Você pode compreender melhor esse estilo de arte através do curso A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock, ministrado pelo doutor em História da Arte, Felipe Martinez. No curso, ele faz uma análise da vida e da obra de grandes artistas modernistas, mostrando os impactos causados pelas novas ideias e como a arte dialoga com as grandes questões sociais.

banner curso A arte moderna pelas obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock, por Felipe Martinez



Arte Contemporânea

A Arte Contemporânea (século XX até o presente) é um campo diversificado e amplo, de difícil definição. Diversos movimentos artísticos coexistem, como o minimalismo, o arte pop, a arte conceitual e as manifestações da arte digital. A arte contemporânea rompe com as fronteiras dos tipos de arte tradicionais, explorando novas linguagens da arte como o vídeo, a performance e as instalações interativas. Banksy, Yayoi Kusama e Damien Hirst são alguns dos artistas contemporâneos mais influentes no mundo. A arte contemporânea está muito relacionada às ideias e geralmente aborda temas sociais, culturais e políticos, desafiando as normas da arte tradicional e incentivando uma reflexão crítica sobre o mundo atual.

Grandes Artistas da História e Suas Obras

A história da arte é marcada por inúmeros grandes artistas, cujas obras ajudaram a definir os rumos da arte. Cada um desses artistas famosos trouxe uma contribuição única, seja através da técnica, do estilo ou das ideias que procuraram expressar. Listamos a seguir algumas obras de arte famosas na história e seus respectivos autores:

Século XIV (1300)

  • Giotto di Bondone:

O Beijo de Judas (1305)
Afrescos da Capela Scrovegni (1304–1306)

Século XV–XVI (Renascimento)

A Última Ceia (1495–1498)
Mona Lisa (c. 1503–1506)

  • Michelangelo Buonarroti

O Davi (1501–1504)
Afrescos da Capela Sistina (1508–1512)

Século XIX (Impressionismo e Pós-Impressionismo)

  • Édouard Manet

Almoço na Relva (1863)
Olympia (1863)

  • Claude Monet

Impressão, nascer do sol (1872)
Nenúfares (série, 1897–1926)

  • Edgar Degas

A Aula de Balé (c. 1874)
O Balé Azul (c. 1890)

  • Vincent van Gogh

Girassóis (1888)
A Noite Estrelada (1889)

Século XIX–XX (Simbolismo, Art Nouveau e Modernismo)

  • Gustav Klimt

Retrato de Adele Bloch-Bauer I (1907)
O Beijo (1907–1908)

  • Antoni Gaudí

Parque Güell (projeto iniciado em 1900)
Sagrada Família (iniciada em 1882, ainda em construção)

Século XX (Modernismo, Abstracionismo, Surrealismo e Pop Art)

  • Pablo Picasso

Les Demoiselles d'Avignon (1907)
Guernica (1937)

  • Wassily Kandinsky

Composição VIII (1923)
Amarelo-Vermelho-Azul (1925)

  • Frida Kahlo

Auto-retrato com Espinho e Colibri (1940)
As Duas Fridas (1939)

  • Andy Warhol

Campbell's Soup Cans (1962)
Marilyn Diptych (1962)

História da Arte no Brasil

A história da arte no Brasil é marcada por uma rica e diversa trajetória, que reflete a complexidade cultural do país. Desde os tempos anteriores à colonização, as expressões artísticas indígenas já revelavam uma profunda conexão com a natureza, os mitos e os rituais das diferentes etnias. Arte plumária, cerâmica, pinturas corporais e grafismos em objetos e superfícies naturais eram — e ainda são — manifestações de um conhecimento ancestral transmitido de geração em geração.

Com a chegada dos colonizadores portugueses no século XVI, iniciou-se o período da arte colonial, fortemente influenciado pela estética europeia, especialmente o barroco. Igrejas ricamente ornamentadas, como as de Ouro Preto e Salvador, são testemunhos do talento de artistas como Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa) e Manuel da Costa Ataíde, que reinterpretaram as referências europeias sob uma ótica brasileira, mesclando elementos locais, africanos e indígenas em suas obras sacras.

No século XIX, com a vinda da Missão Artística Francesa (1816), liderada por Jean-Baptiste Debret, o Brasil passou por um processo de academização da arte. A fundação da Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro, contribuiu para a formação de artistas dentro de um modelo europeu clássico. Nomes como Pedro Américo e Victor Meirelles se destacaram com grandes telas históricas, representando cenas como o Grito do Ipiranga e episódios da história nacional com uma estética grandiosa e idealizada.

O Grito do Ipiranga, quadro de Pedro Américo, 1888. Óleo sobre tela, 415cm X 760 cm. Museu Paulista da USP, São Paulo.

O Grito do Ipiranga, quadro de Pedro Américo, 1888. Óleo sobre tela, 415cm X 760 cm. Museu Paulista da USP, São Paulo.


A virada do século XX trouxe profundas transformações. O movimento modernista brasileiro, com a Semana de Arte Moderna de 1922, rompeu com os padrões acadêmicos e buscou uma nova linguagem artística, autenticamente nacional.

Artistas como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Di Cavalcanti e Oswald de Andrade propuseram uma arte que refletisse a realidade brasileira, suas cores, suas contradições sociais e culturais, ao mesmo tempo em que dialogava com as vanguardas europeias.

Obras como Abaporu (Tarsila), que se tornou símbolo do movimento antropofágico, tinham como proposta a “digestão” crítica das influências estrangeiras para criar algo novo e original, em sintonia com a história do Brasil.

Candido Portinari, por sua vez, levou o realismo social às telas, retratando com sensibilidade temas como o trabalho, a infância pobre e as injustiças sociais, em obras como Retirantes e os painéis de Guerra e Paz, encomendados pela ONU.

Na segunda metade do século XX, a arte brasileira expandiu-se ainda mais, incorporando novas linguagens como a arte concreta, o neoconcretismo, a arte conceitual, o cinema experimental e a performance. Figuras como Lygia Clark, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Tomie Ohtake, entre outros, romperam com os limites tradicionais da pintura e escultura, criando experiências sensoriais e interativas que colocavam o espectador como parte da obra.

Hoje, a arte contemporânea brasileira é plural, crítica e inovadora. Artistas como Adriana Varejão, Ernesto Neto, Vik Muniz, Rosana Paulino e Jaider Esbell (este último representando a retomada da arte indígena no circuito contemporâneo) continuam a explorar temas como identidade, corpo, ancestralidade, meio ambiente, desigualdade e memória, levando a produção artística nacional a dialogar com os grandes debates do mundo atual — sem perder o enraizamento nas realidades locais.

banner curso introdução a historia da arte no brasil da casa do saber

Para que serve a Arte?

A arte tem várias funções e serve para inúmeros propósitos. Ela pode ser uma ferramenta de expressão pessoal, um meio de questionamento social e político, uma forma de comunicação universal e até um instrumento terapêutico. A arte também tem uma função educativa, ajudando a transmitir a história, as emoções e as ideias de diferentes culturas e épocas.

Conclusão

A História da Arte é uma jornada fascinante que nos permite entender a evolução das expressões humanas através de diferentes épocas e estilos. Desde a Arte Pré-Histórica até a arte contemporânea, cada período e movimento artístico oferece insights valiosos sobre a cultura, os valores e as ideias de seu tempo. Além disso, grandes artistas e obras de arte influenciam nossa percepção de mundo, e desenvolvem legados que permanecem como um registro da história da humanidade.

Seja para entender as complexidades de nossa sociedade, para se envolver emocionalmente com uma obra ou simplesmente para apreciar a beleza estética, estudar História da Arte é fundamental para qualquer um que deseje expandir sua visão do mundo e compreender a profundidade da experiência humana.

Se você tem interesse em História da Arte e deseja aprender mais sobre o tema, confira o curso Introdução à História da Arte, da Casa do Saber, ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp, Felipe Martinez.

Thumb curso 'Introdução à História da Arte' com Felipe Martinez




Referências

https://www.cultura.gob.es/mnaltamira/cueva-altamira/arte.html

https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-11160/chichen-itza/

Autores

Jean-Paul Sartre foi um filósofo francês que viveu no século XX e se tornou um dos principais expoentes da corrente filosófica que ficou conhecida como existencialismo. Suas ideias influenciaram não apenas a filosofia contemporânea, mas repercutiram na literatura e na política, oferecendo uma reflexão radical sobre a liberdade humana, a angústia existencial e a responsabilidade individual em um mundo considerado sem um sentido pré-determinado.

Em sua célebre obra O Ser e o Nada (1943), Sartre propôs uma filosofia onde o ser humano é livre para construir seu próprio destino, sem depender de essências ou valores estabelecidos. Ao afirmar que "a existência precede a essência", ele apresentou uma ideia revolucionária para sua época. Além disso, seu engajamento com o marxismo e suas posições políticas geraram debates acirrados. Neste artigo, vamos discorrer sobre a vida e a obra de Jean-Paul Sartre, destacando os principais acontecimentos que marcaram sua trajetória.



Biografia de Jean-Paul Sartre

Jean-Paul Sartre nasceu em 21 de junho de 1905, em Paris, França, em uma família de classe média. Seu pai, Jean-Baptiste Sartre, faleceu quando ele tinha apenas 1 ano de idade, e ele foi criado pela mãe, Anne-Marie e pelos avós maternos, na cidade de Meudon, que ficava perto de Paris.

Desde cedo, Sartre se mostrou interessado em literatura e cinema, sendo admitido aos 19 anos no curso de Filosofia da Escola Normal Superior, em Paris. Lá, ele conheceu a filósofa Simone de Beauvoir, que viria a ser sua companheira intelectual e amorosa durante toda a vida.

Jean-paul Sartre e Simone de Beauvoir em visita à Faculdade Nacional de Filosofia no Brasil, hoje UFRJ

Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir em visita ao Brasil, em 1960. Foto na Faculdade Nacional de Filosofia(atualmente UFRJ). Repdução: Wikimedia Commons


Durante sua estadia em Paris, entrou em contato com as ideias de pensadores como Friedrich Nietzsche, Martin Heidegger e Søren Kierkegaard, que influenciariam sua visão filosófica mais tarde.

Jean-Paul Sartre graduou-se em 1928 e iniciou sua carreira como professor, uma experiência que o motivou a aprofundar seus estudos na filosofia existencialista. Esse interesse crescente o levou a buscar uma compreensão mais profunda dos conceitos filosóficos, com o objetivo de desenvolver sua própria teoria sobre a liberdade, a responsabilidade e a existência humana. Em busca de novos conhecimentos, Sartre conquistou uma bolsa de estudos e foi estudar no Instituto Francês em Berlim.

No entanto, durante a Segunda Guerra Mundial, foi convocado para servir como meteorologista no exército francês e acabou sendo preso pelos nazistas e indo parar no campo de concentração de Trier. Essa experiência foi fundamental para sua filosofia, já que lhe trouxe uma maior consciência sobre a liberdade humana e a condição existencial do ser humano no mundo.

Em seguida, fundou o movimento Socialismo e Liberdade, como parte da Resistência Francesa. Com o fim do conflito, em 1945, ele dissolveu o movimento e, junto com Simone de Beauvoir e Maurice Merleau-Ponty, criou a revista Les Temps Modernes, que se tornaria um importante veículo de reflexão filosófica e política. Posteriormente, Sartre se juntou ao Partido Comunista Francês, mas logo entrou em desacordo com suas diretrizes, rompendo com a organização e seguindo um caminho mais independente em suas convicções políticas.

A partir da década de 1940, Sartre começou a se tornar conhecido internacionalmente com o lançamento de sua obra O Ser e o Nada (1943), em que delineava as bases do existencialismo.

Sartre recusou o Prêmio Nobel de Literatura em 1964, afirmando que isso implicaria em um reconhecimento institucional que ele considerava incompatível com sua filosofia da liberdade individual. Ele continuou a escrever e a participar da vida política até sua morte, em 1980, em Paris, de edema pulmonar.



O Conceito de Existência e Liberdade em Sartre

A ideia central na filosofia de Sartre é a liberdade humana, que ele entendia como uma característica essencial do ser humano. Para ele, não há uma natureza humana predeterminada; os seres humanos são condenados a serem livres, ou seja, eles têm de criar seu próprio sentido de vida e suas próprias escolhas. O ser humano, para Sartre, está sempre "lançado" no mundo, sem uma explicação prévia de sua existência.

Esse conceito de liberdade está intimamente ligado à responsabilidade. Ao reconhecer que somos livres, também somos responsáveis por nossas escolhas e pelas consequências dessas escolhas, sem poder atribuir a culpa a fatores externos como a natureza ou o destino.

Isso gera a sensação de "angústia existencial", pois a liberdade não é algo fácil de carregar. Sartre acreditava que, ao tomarmos consciência de nossa liberdade, nos deparamos com a responsabilidade de dar sentido às nossas vidas, sem esperar que esse sentido venha de fora.

A Obra-Prima “O Ser e o Nada”

Publicado em 1943, O Ser e o Nada é a obra mais conhecida de Sartre e um marco fundamental do existencialismo. Nesse livro, Sartre aborda uma das questões centrais para a filosofia: o que significa ser? Ele analisa a experiência humana, distinguindo entre o "ser-em-si", o ser das coisas objetivas e concretas, e o "ser-para-si", o ser consciente que tem a capacidade de refletir sobre sua própria existência.

Uma das ideias mais revolucionárias do livro é a noção de que a existência precede a essência. Para Sartre, os seres humanos não possuem uma essência pré-determinada, como os objetos. Eles existem primeiro e, só depois, se definem por suas ações. Essa visão contrasta com a visão tradicional da filosofia, que acreditava que os seres humanos tinham uma essência fixa que determinava suas ações e características.

Além disso, Sartre introduz o conceito de "má-fé" (mauvaise foi), que se refere à tendência humana de negar a própria liberdade e responsabilidade, enganando a si mesmo para escapar da angústia existencial. A má-fé seria um mecanismo de defesa psicológica, mas que, para Sartre, impede a verdadeira liberdade.

Sartre e o Existencialismo

Embora o existencialismo de Sartre seja conhecido por sua ênfase na liberdade individual e na busca pelo sentido da vida, Sartre rejeitou a ideia de um Deus ou de uma força sobrenatural que guiasse ou determinasse a vida humana. Para ele, a ausência de Deus ou de qualquer essência pré-determinada coloca ainda mais peso sobre a liberdade humana, já que, em um mundo sem divindade, somos nós que temos a responsabilidade de criar significado para nossas vidas.

A famosa frase de Sartre "O homem está condenado a ser livre" reflete essa perspectiva. O ser humano não tem escolha a não ser ser livre, mas essa liberdade é angustiante porque ela implica uma constante necessidade de fazer escolhas que definem nossa própria existência.

Sartre e o Marxismo

Sartre se envolveu com o marxismo a partir da década de 1950, quando começou a estudar as obras de Karl Marx e a refletir sobre as condições sociais e econômicas que constroem a existência humana. No entanto, Sartre manteve uma relação complexa com o marxismo, especialmente devido às suas divergências sobre a natureza da liberdade e da política.

Embora ele compartilhasse a crítica ao capitalismo e ao opressor sistema social, Sartre acreditava que a liberdade individual era o ponto central, o que o levou a distanciar-se de certas interpretações marxistas que enfatizavam o determinismo social.

Ele procurou conciliar o existencialismo com o marxismo, criando uma abordagem filosófica que, ao mesmo tempo, reconhecia a importância das condições sociais e políticas para a liberdade humana, mas também afirmava a primazia da ação individual na luta pela liberdade.

Jean-paul Sartre e Simone de Beauvoir em reunião com Ernesto Che Guevara, em visita à Cuba, em 1960

Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir se encontram com Ernesto Che Guevara, em visita à Cuba, em 1960. Repdução: Wikimedia Commons


Obras de Jean-Paul Sartre: Principais Livros

Confira a tabela abaixo com uma relação das principais obras de Sartre e o que o filósofo abordou em cada uma delas:
PRINCIPAIS LIVROS DE SARTRE RESUMO
O Ser e o Nada (1943) Considerada a obra-prima de Sartre, em que ele explora a liberdade, a responsabilidade e o conceito de existência humana, distinguindo entre o ser-em-si e o ser-para-si.
A Náusea (1938) Romance existencialista que descreve o desconforto e a angústia de um homem que começa a perceber a realidade como absurda e sem sentido.
Crítica da Razão Dialética (1960) Trabalho filosófico em que Sartre tenta integrar o existencialismo com o marxismo, discutindo a relação entre a liberdade individual e as condições materiais da sociedade.
Entre Quatro Paredes (1944) Peça de teatro existencialista que aborda a questão da liberdade, da culpa e da interação humana em um espaço fechado.
A Idade da Razão (1945) Romance que faz parte da "trilogia dos caminhos da liberdade", onde Sartre discute a liberdade, a escolha e as relações humanas em uma Paris pré-Segunda Guerra Mundial.
As Palavras (1964) É a reflexão autobiográfica de Sartre sobre sua infância, o despertar para a escrita e a maneira como as palavras o ajudaram a construir sua identidade e visão de mundo



Frases de Jean-Paul Sartre:

"O homem está condenado a ser livre."

Essa citação é retirada da obra "O Existencialismo é um Humanismo" (1946), onde Sartre discute o conceito de liberdade radical e sua implicação na vida humana. A frase reflete a ideia de que, ao não haver uma essência pré determinada, o ser humano é livre para fazer suas próprias escolhas, mas, ao mesmo tempo, está "condenado" a essa liberdade, sem possibilidade de escapar da responsabilidade que ela carrega.

"A liberdade é o que você faz com o que foi feito de você."

Essa frase aparece na obra "As Palavras" (1964), uma reflexão autobiográfica de Sartre, em que ele explora sua infância e as influências que moldaram sua identidade. Ele se apropria dessa ideia para refletir sobre a liberdade como um processo contínuo de transformação pessoal, mesmo diante das limitações da nossa origem e circunstâncias.

"O inferno são os outros."

Essa citação vem da peça de teatro "Entre Quatro Paredes" (1944), onde Sartre explora os conflitos existenciais através de uma situação em que três personagens estão condenados a conviver eternamente em um mesmo quarto. A frase reflete a ideia de Sartre sobre a "visão do outro", ou seja, como a presença dos outros seres humanos pode limitar nossa liberdade, pois nos definem e nos julgam de maneira constante.

📖 Conheça também a biografia e as ideas de outros filósofos, como:


Conclusão

A filosofia de Jean-Paul Sartre revolucionou o pensamento do século XX, fornecendo uma abordagem radical sobre a liberdade, a responsabilidade e a busca de sentido em um mundo sem predefinições. Sua ideia de que a existência precede a essência e sua ênfase na liberdade humana fizeram dele uma das figuras centrais do existencialismo.

Embora suas posições políticas e sua relação com o marxismo tenham sido controversas, Sartre continua sendo uma referência fundamental para aqueles que buscam compreender a condição humana e a busca pela autenticidade. Seu legado permanece presente na filosofia contemporânea, desafiando-nos a refletir sobre a liberdade, as escolhas e a responsabilidade em nossas vidas.

Perguntas Frequentes sobre Sartre

Quem foi Jean-Paul Sartre e o que ele defendia?

Jean-Paul Sartre foi um filósofo francês e principal nome do existencialismo. Ele defendia que o ser humano não tem uma essência predeterminada e é livre para criar seu próprio significado na vida, assumindo total responsabilidade por suas escolhas.

Qual a principal teoria de Jean-Paul Sartre?

A principal teoria de Sartre é o existencialismo, que afirma que "a existência precede a essência". Ou seja, os humanos não nascem com uma natureza fixa, mas constroem sua identidade através das escolhas que fazem, sendo responsáveis por suas ações.

Aprenda sobre Filosofia e os maiores pensadores da história, além de explorar outros temas como artes, literatura, psicanálise e muito mais.

Conheça os cursos da Casa do Saber+!






Referências

https://revistacult.uol.com.br/home/o-mal-estar-no-mundo/

https://piaui.folha.uol.com.br/materia/vidas-literarias-jean-paul-sartre/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Paul_Sartre

Martin Heidegger foi um filósofo alemão cuja obra repercute até hoje, principalmente no que diz respeito às suas contribuições sobre o estudo do ser, ou ontologia. Suas reflexões sobre o ser e o “estar no mundo” influenciaram diversos pensadores e áreas do conhecimento, incluindo a filosofia da linguagem, a psicanálise, a teologia e até as ciências sociais, tornando-o um dos maiores pensadores do século XX. Sua obra mais impactante, Ser e Tempo (1927), questionou a forma como a filosofia ocidental, desde Platão, tratou o conceito de ser.

Em vez de seguir as abordagens tradicionais, Heidegger propôs que a filosofia deveria focar na análise da existência humana concreta. Apesar do forte impacto das suas ideias inovadoras, sua associação inicial com o regime nazista gerou grandes controvérsias, tornando-o uma figura ambivalente: admirado por sua genialidade filosófica, mas profundamente criticado devido ao seu envolvimento com o nazismo. Neste artigo, vamos discorrer sobre a vida e a obra de Martin Heidegger, pensador que deslocou o foco da filosofia da abstração e das categorias universais para a experiência vivida, concreta e finita.



Biografia de Martin Heidegger

Martin Heidegger nasceu em 1889, na pequena cidade de Messkirch, no sudoeste da Alemanha, em uma família católica. Seu pai, Friedrich Heidegger, era sacristão em uma igreja local, e a vida da família era simples, em uma pequena cidade rural. Inicialmente, Heidegger foi encaminhado para um seminário jesuíta aos 14 anos, onde estudou grego e latim, com a pretensão de se tornar sacerdote. Durante esse período, teve seu primeiro contato com a filosofia, ao ler o trabalho de Franz Brentano sobre os múltiplos sentidos do ser em Aristóteles.

Em 1909, Heidegger ingressou na Universidade de Friburgo, onde iniciou o curso de teologia e se aprofundou nos estudos filosóficos. Continuou seus estudos sobre Aristóteles e teve o primeiro contato com os textos de Husserl, que posteriormente o levariam à fenomenologia. Na universidade, também teve contato com outros importantes filósofos, como Søren Kierkegaard e Wilhelm Dilthey, cujas ideias o influenciaram. Depois de estudar teologia por quatro semestres, abandona os estudos teológicos e passa a se dedicar inteiramente à filosofia.

Em 1914 conclui sua tese de doutorado em filosofia e publica um texto intitulado A Doutrina do Juízo no Psicologismo: contribuição crítico-positiva à Lógica, que possui influências de Husserl. A relação de Heidegger com Edmund Husserl foi fundamental para o desenvolvimento de sua própria filosofia. A primeira vez que Heidegger teve contato com Husserl foi quando começou a estudar sua fenomenologia, e logo desenvolveu uma grande admiração pela profundidade e rigor do método fenomenológico.

Em 1915, Edmund Husserl se mudou para Freiburg, onde Heidegger já estava completando seus estudos. Em 1919, após retornar de uma breve atividade militar, Heidegger passou a trabalhar como assistente de Husserl. No ano anterior, em 1917, Heidegger havia se casado com Elfride Petri, uma protestante, em uma cerimônia simples realizada na capela da própria Universidade de Freiburg.

Seus trabalhos acadêmicos, especialmente os cursos sobre Aristóteles e a filosofia medieval, atraíram a atenção de seus professores, que o indicaram para lecionar na Universidade de Marburg em 1923. Durante os cinco anos em Marburg, Heidegger desenvolveu seus principais estudos e conclusões, culminando na publicação de sua obra-prima, Ser e Tempo, em 1927.



As influências de Heidegger

Durante sua formação, Heidegger foi profundamente influenciado por filósofos como Edmund Husserl, Soren Kierkegaard e Friedrich Nietzsche. A crítica do pensador Immanuel Kant à razão e à metafísica também teve um impacto significativo na abordagem de Heidegger sobre o conhecimento e a realidade.

A fenomenologia de Edmund Husserl, particularmente a ideia de voltar “às coisas mesmas” e a ênfase na experiência subjetiva, foi crucial para a formulação da teoria do ser de Heidegger. No entanto, apesar de ter absorvido muito do pensamento de Husserl, Heidegger, com o tempo, passou a distanciar-se dele, reinterpretando suas ideias de maneira crítica, o que viria a resultar em uma abordagem própria e original da ontologia.

Nietzsche também teve uma influência significativa em Heidegger, especialmente no que se refere à crítica da tradição metafísica ocidental e à ideia de "vontade de poder". A concepção de Nietzsche sobre a superação das limitações do ser e sua ênfase no niilismo e na transformação do sentido da vida foram aspectos que Heidegger levou em consideração ao discutir o conceito de ser e a importância da morte e da finitude humana.

Apesar da admiração que nutria por Husserl, Heidegger começou a se distanciar teoricamente de seu mentor. A fenomenologia de Husserl, centrada na redução fenomenológica e na busca pela essência das coisas, foi reinterpretada por Heidegger de maneira a colocar o ser humano, e sua existência concreta, no centro da reflexão filosófica. Essa transição representou a ascensão da ontologia heideggeriana, que se distanciou da fenomenologia pura de Husserl para explorar a questão do ser de maneira mais radical e existencial.


O que significa o Conceito de Dasein para Heidegger?

Em sua obra fundamental, Ser e Tempo, Heidegger faz uma investigação profunda sobre a questão do ser, ou seja, a pergunta sobre o que significa "ser" de fato. Ele começa com um conceito essencial para sua filosofia: o Dasein.

O termo Dasein vem do alemão e pode ser traduzido como "ser-aí" ou "ser no mundo". Heidegger usa esse termo para se referir ao ser humano, ou seja, à maneira como nós, como seres humanos, existimos no mundo.

O Dasein não é simplesmente uma coisa que está no mundo como as outras coisas; ele é um ser que está ciente de si mesmo. Em outras palavras, nós não apenas existimos, mas também refletimos sobre nossa existência, sobre quem somos, de onde viemos e para onde vamos. Essa capacidade de reflexão e de consciência de nossa própria vida é o que torna o Dasein tão especial para Heidegger.

O Dasein, então, é um ser que está sempre envolvido com o mundo e com os outros. Ele é também um ser finito, ou seja, sabe que vai morrer um dia, o que o faz viver de maneira diferente de outras coisas que simplesmente existem no mundo. Portanto, para Heidegger, o Dasein é o ser humano que está sempre em relação com o mundo, com o tempo, com a morte, e é capaz de questionar o sentido da vida e da existência.

O Dasein é um conceito importante na filosofia heideggeriana porque ele é a única maneira de questionar o conceito de ser. Isso porque, como seres humanos, somos os únicos capazes de pensar sobre a questão do ser. Ou seja, o Dasein tem a capacidade de refletir sobre o próprio ser e, ao fazer isso, ele ajuda Heidegger a compreender o que o "ser" realmente significa. Para Heidegger, o verdadeiro estudo do ser não pode ser feito apenas de maneira teórica ou abstrata, mas deve começar pela experiência concreta do ser humano, que é a do Dasein.

A grande crítica de Heidegger à filosofia ocidental é que, ao longo dos séculos, os filósofos se concentraram demais em estudar os entes (as coisas individuais e concretas), e se esqueceram de estudar o ser, ou seja, o que faz essas coisas existirem. Ele acha que devemos voltar nossa atenção para a questão do ser, e isso só pode ser feito através da compreensão do Dasein, o ser humano, que é capaz de refletir sobre o ser.

Heidegger e o Livro "Ser e Tempo"

Publicado em 1927, Ser e Tempo é a obra-prima de Martin Heidegger e representa um marco fundamental na filosofia do século XX. O livro foi escrito em um contexto de questionamento profundo sobre a metafísica ocidental, que, para Heidegger, havia se distanciado da questão fundamental: o que significa "ser".

Ele queria resgatar essa questão esquecida, que, na sua visão, era o ponto central da filosofia, mas havia sido negligenciado ou mal compreendido desde Platão. Ao invés de abordar o ser de maneira abstrata, Heidegger propôs que a filosofia deveria começar a partir da experiência concreta do ser humano, ou seja, do Dasein — o ser que questiona a si mesmo e é consciente de sua finitude.

O objetivo de Ser e Tempo é desenvolver uma ontologia fundamental que investiga a questão do ser a partir da experiência humana, examinando a vida cotidiana, a morte, o tempo e a existência. Heidegger queria entender como o ser humano, com sua finitude e temporalidade, pode acessar o "ser" e dar sentido à sua existência no mundo. Para isso, ele reformulou conceitos centrais da filosofia, abordando o ser não apenas como uma categoria metafísica, mas como algo que se revela na experiência existencial.

Principais Conceitos Apresentados no Livro

Em Ser e Tempo, Heidegger introduz diversos conceitos fundamentais que reconfiguram o entendimento do ser e da existência. Alguns dos mais importantes incluem:

  1. Dasein: Como mencionado anteriormente, o Dasein é o conceito central da obra. Ele refere-se ao ser humano, entendido como um ser que está imerso no mundo e é consciente de sua própria existência e finitude. O Dasein é, portanto, o ser que se questiona sobre o seu ser e sobre o sentido da vida.
  2. Ser-no-mundo (In-der-Welt-Sein): Heidegger propõe que a existência humana não é uma abstração isolada, mas é sempre um ser que está no mundo, em constante interação com ele. O Dasein é inseparável do mundo em que vive, o que significa que a compreensão do ser humano deve considerar seu ambiente, suas relações e sua experiência prática.
  3. Ser-para-a-morte (Sein-zum-Tode): A morte é um dos aspectos mais importantes da filosofia de Heidegger. Ele argumenta que a consciência da finitude humana, ou seja, da inevitabilidade da morte, é o que dá ao Dasein uma perspectiva única sobre a vida e o ser. A morte, para Heidegger, não é apenas um evento futuro, mas algo que define a maneira como o Dasein vive e se relaciona com o mundo.
  4. Temporalidade: Heidegger introduz a ideia de que a temporalidade é fundamental para a compreensão do ser. O Dasein, ao estar no mundo, está sempre projetado para o futuro (em busca de significado e realização) e, ao mesmo tempo, está consciente de seu passado e de sua finitude. O ser humano, portanto, é um ser essencialmente temporal, e a sua existência se desvela no tempo.
  5. Cotidiano e Autenticidade: Heidegger faz uma distinção entre a existência cotidiana, que é marcada por rotinas e conformismo, e uma existência autêntica, que surge quando o Dasein se confronta com sua finitude e se assume como responsável por sua própria vida. Viver de forma autêntica é viver de acordo com a compreensão plena da morte e da temporalidade.


Esses conceitos formam a base da ontologia existencial de Heidegger e têm repercussões em diversas áreas da filosofia, incluindo o existencialismo, a fenomenologia e a teoria crítica. Ser e Tempo busca uma nova compreensão do ser e propõe uma reflexão profunda sobre como vivemos, como nos relacionamos com o mundo e como podemos encontrar significado na vida.

Fenomenologia e Existencialismo em Heidegger

A filosofia de Heidegger é fortemente influenciada pela fenomenologia de Edmund Husserl, que buscava descrever a experiência imediata e direta da consciência sem as interpretações metafísicas anteriores. No entanto, enquanto Husserl se concentrava na análise da consciência e das intenções que ela tem sobre os objetos, Heidegger levou a fenomenologia em uma nova direção. Em Ser e Tempo, Heidegger utiliza a metodologia fenomenológica para investigar a questão do ser, mas se afasta do foco husserliano na consciência para concentrar-se no Dasein, ou seja, no ser humano como ser que está no mundo e que se questiona sobre sua própria existência. Assim, para Heidegger, a fenomenologia não é apenas sobre descrever as experiências conscientes, mas sobre desvendar a estrutura do ser que é revelada através da vida cotidiana e da existência humana.

Embora Heidegger tenha sido inicialmente assistente de Husserl e tivesse grande respeito por ele, ele desenvolveu sua própria interpretação da fenomenologia, enfatizando o conceito de ser-no-mundo em lugar da abstração da consciência pura. Essa transição reflete uma crítica implícita à fenomenologia husserliana, que, segundo Heidegger, não abordava adequadamente a questão do ser.


Relação com Sartre e o Impacto no Pensamento Existencialista

As ideias de Heidegger influenciaram o filósofo Jean-Paul Sartre e o impacto de Heidegger no existencialismo é significativo. Sartre, um dos principais filósofos existencialistas, se inspirou profundamente em Ser e Tempo, especialmente no conceito de liberdade e na ideia de que o ser humano é fundamentalmente "lançado" no mundo e não tem uma natureza predeterminada. O conceito heideggeriano de ser-para-a-morte também influenciou Sartre, que discutiu a angústia existencial e a necessidade de confrontar a finitude humana para viver autenticamente.

No entanto, enquanto Heidegger via a existência humana como caracterizada pela preocupação (Sorge) com a própria finitude e o ser, Sartre enfatizou a liberdade radical do indivíduo. Sartre acreditava que, ao se confrontar com a falta de um sentido preexistente no mundo, o ser humano deveria criar seu próprio significado e responsabilidade. Dessa forma, enquanto Heidegger se concentrou na ontologia e na revelação do ser por meio da existência, Sartre levou as ideias de Heidegger para uma ética existencialista, na qual a liberdade e a responsabilidade individual tornaram-se centrais.

O legado de Heidegger no pensamento existencialista é vasto, pois ele forneceu a base ontológica que permitiu aos filósofos como Sartre e outros existencialistas explorar a condição humana em termos de liberdade, angústia e a busca por autenticidade. Embora Sartre e outros existencialistas tenham seguido caminhos diferentes, a ênfase de Heidegger na existência concreta e finita continua a ser um alicerce importante para o movimento existencialista, que valoriza a experiência pessoal e a reflexão sobre a vida humana como algo que está sempre em processo e aberto à mudança.



Heidegger e a Política: Controvérsias e Nazismo

Martin Heidegger tem sido uma figura controversa não apenas por sua filosofia, mas também por seu envolvimento com o nazismo. Embora não tenha sido membro ativo do Partido Nazista, Heidegger aderiu ao movimento de forma entusiástica no início dos anos 1930, vendo nele uma oportunidade para a renovação da cultura alemã. Sua relação com o regime de Adolf Hitler gerou debates intensos e continua a ser um ponto sensível para aqueles que estudam sua obra. Em 1933, Heidegger se filiou ao Partido Nazista e, no mesmo ano, foi nomeado Reitor da Universidade de Freiburg, onde assumiu uma postura aberta de apoio ao regime, incluindo declarações que se alinhavam com os ideais nacionalistas e antissemitas da época.

O período em que Heidegger foi reitor (1933-1934) foi marcado por uma série de medidas polêmicas. Ele implementou políticas que refletiam a ideologia nazista, incluindo a política totalitária, que suprimia toda oposição ao governo nazista. No entanto, sua atuação como reitor foi breve, durando apenas um ano, e foi marcada por um afastamento progressivo de Heidegger do partido. Durante esse período, ele também demonstrou certo distanciamento de Hitler e suas práticas, embora nunca tenha se desculpado publicamente por sua associação com o regime.

Livros de Martin Heidegger: Obras Essenciais

LIVROS DE HEIDEGGER RESUMO
Ser e Tempo (1927) Nesta obra, Heidegger investiga a questão do ser a partir da experiência do Dasein, propondo que a compreensão do ser só é possível por meio da existência humana concreta e temporal.
Que é Metafísica? (1929) Heidegger questiona a natureza da metafísica e a necessidade de superar a tradição filosófica que reduz o ser a uma simples abstração.
Introdução à Metafísica (1935) Heidegger explora a questão do ser e do nada, refletindo sobre a origem da metafísica e sua relação com a filosofia grega clássica.
Carta sobre o Humanismo (1947) O autor critica a visão humanista tradicional, propondo uma reinterpretação do ser humano como parte de uma ontologia mais profunda, além da centralidade da razão.
A Caminho da Linguagem (1959) O filósofo analisa a linguagem como a casa do ser, argumentando que a verdade e o ser se revelam por meio da linguagem.
Heráclito (1944) Obra baseada em cursos ministrados por Heidegger. Ele interpreta a filosofia de Heráclito, enfatizando a visão do ser como algo em constante devir e transformação, em oposição às concepções estáticas da tradição filosófica.


Frases de Heidegger

As frases de Martin Heidegger são expressões condensadas de sua profunda reflexão sobre o ser, a existência e o pensamento. Abaixo, estão três frases representativas de sua filosofia:

  • "Nunca chegamos aos pensamentos. São eles que vêm."

Esta frase reflete a visão de Heidegger de que o pensamento não é algo que o ser humano controla ativamente, mas algo que emerge de uma forma autônoma e profunda. Para Heidegger, os pensamentos "vêm" até nós, revelando algo essencial sobre o ser e o mundo.

  • "A linguagem é a casa do ser."

Em A Caminho da Linguagem (1959), Heidegger afirma que a linguagem não é simplesmente uma ferramenta de comunicação, mas o espaço essencial onde o ser se revela. Ele vê a linguagem como um meio pelo qual o ser humano pode entrar em contato com o ser em sua totalidade.

  • "O ser é o mistério que nos envolve."

Essa citação, retirada de Ser e Tempo (1927), simplifica a ideia central de Heidegger de que o ser é algo que está sempre além da compreensão plena e sempre se revela para nós de maneira misteriosa.

Conclusão

A filosofia de Martin Heidegger continua sendo uma das mais influentes e complexas do século XX, oferecendo uma nova perspectiva sobre o ser e a existência humana. Seu trabalho, especialmente a obra Ser e Tempo, redefiniu o campo da ontologia, focando na experiência concreta do ser humano e no seu "estar-no-mundo". Ao examinar o Dasein, Heidegger trouxe à tona questões existenciais fundamentais, como a finitude, a morte e a temporalidade, impactando diversas áreas do conhecimento. No entanto, seu envolvimento com o nazismo e suas posturas políticas controversas continuam a lançar sombras sobre sua figura, dividindo a recepção de sua obra. Ainda assim, o pensamento heideggeriano permanece central para a filosofia contemporânea, desafiando-nos a refletir sobre o sentido da vida, a linguagem e nossa relação com o ser.

Perguntas Frequentes sobre Heidegger

O que é o conceito de Dasein em Heidegger e por que ele é importante?

O conceito de "Dasein" em Heidegger refere-se ao ser humano, entendido como um ser que está sempre imerso no mundo e consciente de sua própria existência. O Dasein é importante porque, para Heidegger, é o único ser capaz de questionar o que significa "ser", sendo a partir dele que ele explora a questão do ser de maneira existencial e concreta.

Qual é a diferença entre "ser" e "ente" na filosofia de Heidegger?

Na filosofia de Heidegger, o ente é qualquer coisa que existe no mundo, enquanto o ser é a condição que permite que qualquer ente exista. O ser é o fundamento da existência, mas não pode ser visto diretamente, ao contrário do ente, que é perceptível e concreto.



Aprenda sobre Filosofia e os maiores pensadores da história, além de explorar outros temas como artes, literatura, psicanálise e muito mais.

Conheça os cursos da Casa do Saber+!





Referências

https://revistacult.uol.com.br/home/heidegger-ser-tempo-e-finitude/

https://nepefe.fe.ufg.br/p/3702-martin-heidegger-vida-e-obra#:~:text=Cronologia%3A,se%20tornar%20arcebispo%20de%20Friburgo.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Martin_Heidegger

Candido Portinari foi um pintor brasileiro e uma das figuras centrais da arte moderna no Brasil. Sua obra se caracteriza pela representação de temas sociais e pela maneira como utilizou a pintura para transmitir uma visão crítica da realidade brasileira, com especial ênfase à desigualdade social.

Com suas pinceladas expressivas e um olhar atento às questões populares, Portinari se tornou um dos maiores expoentes do modernismo brasileiro. Neste artigo, você vai conhecer um pouco sobre a trajetória de Candido Portinari, suas obras mais famosas e sua significativa contribuição para a História da Arte no Brasil.



banner curso Introdução à História da Arte, por Felipe Martinez

Biografia de Candido Portinari

Candido Portinari nasceu em 29 de dezembro de 1903, numa fazenda de Café chamada Santa Rosa, que ficava na cidade de Brodowski, interior de São Paulo. Era filho de imigrantes italianos, de origem pobre e viveu até os 15 anos de idade na área rural, onde obteve apenas a educação primária.

Desde criança demonstrava interesse pelo desenho e pintura. Ao completar 15 anos, foi morar no Rio de Janeiro, onde iniciou seus estudos na Escola Nacional de Belas Artes. Quando tinha 25 anos, ganhou o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro da Exposição Geral de Belas-Artes e foi para Paris.

Na Europa, teve contato com as grandes correntes de vanguarda da época, como o cubismo e o surrealismo. Ao voltar para o Brasil, em 1931, desenvolveu um estilo mais experimental, que ia além das regras acadêmicas. Passou a pintar inspirado em temas de cunho social, revelando a realidade de desigualdade social do Brasil, em quadros como Café (1935) e, posteriormente, as famosas pinturas Criança Morta (1944) e Os Retirantes (1944).

Foi com o quadro Café que Portinari recebeu seu primeiro reconhecimento internacional. A obra recebeu uma menção honrosa nos Estados Unidos, durante a exposição internacional do Carnegie Institute de Pittsburgh. E, em 1939, o Museu de Arte Moderna de Nova York comprou o seu quadro O Morro (1933), que mostra o surgimento das favelas cariocas e a dualidade entre os casebres do morro e os prédios que despontavam à beira mar do Rio de Janeiro.

Quadro 'Morro' de Candido Portinari, pintado em 1933. Retrata o surgimento das favelas cariocas.

Morro, Candido Portinari, 1933. Óleo sobre tela, 146 x 114 cm.


Portinari realizou inúmeras exposições internacionais, em países como Estados Unidos, França, Argentina, Uruguai, Israel, Alemanha e Venezuela. A relevância de sua obra foi tamanha que, em 1940, a Universidade de Chicago, nos EUA, publicou o primeiro livro sobre ele, intitulado “Portinari, His Life and Art”.

Ao longo de sua carreira, a pintura de painéis se consolidou como uma das suas principais técnicas artísticas. Destacam-se os oito murais da Série Bíblica, produzidos entre 1942 e 1944, com forte influência da obra Guernica, de Picasso. A Série Bíblica de Portinari foi uma obra encomendada por Assis Chateaubriand para a sede da Rádio Tupi, em São Paulo. Posteriormente, os painéis foram doados ao Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.

Portinari faleceu em 6 de fevereiro de 1962, prestes a realizar uma grande exposição na Itália, a convite da prefeitura de Milão. Ele morreu em decorrência de problemas relacionados à intoxicação pelas tintas que usava em seu trabalho.

banner curso O que é arte?, por Felipe Martinez

A Pintura Social de Candido Portinari

Foi a partir da década de 1930 que Portinari começou a investir em uma arte mais voltada para a questão social, refletindo a situação do Brasil, com sua forte desigualdade social.

Seu olhar se voltou para o cotidiano dos trabalhadores, principalmente dos camponeses. Ao mesmo tempo, ele passou a incorporar as influências das correntes modernistas europeias em suas composições, como o cubismo e o surrealismo, mas dando um toque pessoal e genuinamente brasileiro.

Uma das suas obras mais importantes dessa fase é o painel Retirantes (1944), onde o pintor retrata a migração forçada de nordestinos em busca de melhores condições de vida. A pintura, com suas cores fortes e figuras dramáticas, simboliza a miséria e o sofrimento das pessoas que eram forçadas a deixar suas casas em busca de trabalho.

Portinari e a Arte Pública: Os Painéis da ONU

Uma das maiores contribuições de Portinari para a arte mundial foi sua participação na criação dos famosos painéis que adornam o edifício da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Em 1952, ele foi escolhido para pintar um grande painel que representasse o Brasil na sede da ONU. A obra, intitulada Guerra e Paz, é composta por dois painéis gigantescos que abordam temas de grande relevância, como a violência e a busca pela paz no mundo.

Este projeto é um exemplo da capacidade de Portinari de utilizar a arte como uma ferramenta de reflexão política e social. Guerra e Paz continua a ser uma das mais admiradas e importantes expressões artísticas do século XX, sendo reconhecida internacionalmente por sua potência visual e seu conteúdo simbólico.

O Legado de Portinari na Arte Brasileira

Portinari é uma figura central na história da arte moderna no Brasil. Sua capacidade de capturar as realidades do Brasil rural e urbano, ao mesmo tempo em que se mantinha fiel à sua técnica única e expressão artística, fez dele um dos maiores nomes da pintura brasileira.

Além de suas obras públicas, Portinari também foi um grande influenciador para novas gerações de artistas. Sua busca por uma arte autenticamente brasileira, que falasse das questões do povo, e sua paixão pela pintura, com o uso de cores intensas e formas potentes, continuam a ser um modelo para muitos artistas contemporâneos.

banner curso introdução a historia da arte no brasil da casa do saber

Principais Obras de Candido Portinari

A carreira de Portinari é marcada por uma enorme produção, composta por telas, painéis e murais de grande importância. Aqui estão algumas das suas obras mais célebres:

Os Retirantes (1944)

Quadro 'Retirantes' de Candido Portinari, pintado em 1944. Retrata uma família de migrantes em uma paisagem de sertão.
Retirantes, Candido Portinari, 1944. Óleo sobre tela, 190 x 180 x 2,5 cm. Masp - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.


O Lavrador de Café (1939)

Esta pintura retrata um trabalhador rural dedicado ao cultivo do café, uma das maiores riquezas do Brasil na época. A obra reflete a força e a dignidade do trabalhador e a importância do café para a economia nacional.

Quadro 'O Lavrador de Café' de Candido Portinari, pintado em 1934. Retrata um trabalhador brasileiro da lavoura de café.
O Lavrador de Café, Candido Portinari, 1934. Óleo sobre tela, 100 x 80 x 2,5 cm. Masp - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.


Guerra e Paz (1952)

Os famosos painéis na sede da ONU, que retratam a luta entre a guerra e a busca pela paz. A obra é uma das mais importantes de Portinari, com uma mensagem universal e atemporal sobre os horrores da guerra e a esperança por uma convivência pacífica.

Dois paineis intitulados 'Guerra e Paz', de Candido Portinari, pintado entre 1952 e 1956. Um dos paineis mostra a guerra e o outro representa a paz.
Guerra e Paz, Candido Portinari, 1952 - 1956. Óleo sobre madeira, 1400 x 1000 cm. Assembleia Geral das Nações Unidas.


Futebol (1954)

Portinari, grande admirador do esporte, criou a obra "Futebol" para celebrar o futebol como uma das maiores paixões nacionais. A pintura traz uma representação vibrante da energia e da emoção do esporte, com um olhar artístico e dinâmico.

Quadro intitulado 'Futebol', de Candido Portinari, pintado em 1935. Mostra um grupo de crianças jogando futebol em uma paisagem rural, utilizando troncos de madeira para demarcar as traves onde se faz o gol.
Futebol, Candido Portinari, 1935. Óleo sobre tela, 97 x 130 cm. Museu Casa de Portinari.

Empinando Pipas (1941)

Em "Empinando Pipas", Portinari retrata uma brincadeira muito popular da infância dos brasileiros, que é empinar pipas . A obra traz um momento lúdico, de alegria e movimento, simbolizando a leveza de ser criança, apesar das adversidades do Brasil da época.

Quadro 'Empinando Pipas', de Candido Portinari, pintado em 1941. Mostra um grupo de meninos soltando pipas em um descampado num ambiente rural, num dia de céu bem azul.
Empinando Pipas, Candido Portinari, 1941. Têmpera, 50.9


Meninos Brincando (1955)

A obra reflete o olhar do pintor sobre a infância, com uma cena de crianças brincando. Portinari, ao retratar a infância, expressa a pureza e a simplicidade da vida, revelando brincadeiras populares que fazem parte da cultura brasileira.

Quadro 'Meninos Brincando', de Candido Portinari, pintado em 1955. A obra mostra dois meninos brincando, dando cambalhotas, com uma bola ao centro e um bezerrinho no meio deles.
Meninos Brincando, Candido Portinari, 1955. Óleo sobre tela, 72.5 x 60 cm. Galeria de Arte Ipanema.


Qual foi a primeira obra de Candido Portinari?

A tela “Baile na Roça” foi reconhecida como a primeira obra de Candido Portinari, feita em 1924, quando ele estudava na Escola Nacional de Belas Artes. O quadro foi pintado em óleo sobre tela e mostra um sanfoneiro tocando enquanto os casais dançam no salão. O quadro apresenta técnicas acadêmicas de pintura, com jogo de luz e sombra.

Quadro 'Baile na Roça', primeira grande obra de Candido Portinari, feita em 1924. A pintura foi inspirada nas festas do interior paulista, onde Portinari passou sua infância e mostra uma festa com casais dançando e um safoneiro tocando ao fundo.
Baile na Roça, Candido Portinari, 1924. Óleo sobre tela, 97,00 cm x 134,00 cm.

Se você tem interesse em História da Arte e deseja aprender mais sobre o tema, confira o curso Introdução à História da Arte, da Casa do Saber, ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp, Felipe Martinez.

Thumb curso 'Introdução à História da Arte' com Felipe Martinez




Conclusão

Candido Portinari deixou um legado profundo para arte brasileira e mundial. Sua obra, marcada por uma intensa crítica social, revelou as desigualdades e os desafios do Brasil, sempre com um olhar atento à realidade do povo. Ao longo de sua carreira, Portinari se consolidou como um ícone do modernismo brasileiro, utilizando sua arte como uma poderosa ferramenta de reflexão política e social.

Perguntas Frequentes

Quem foi Candido Portinari?

Candido Portinari foi um dos maiores pintores brasileiros, conhecido por sua habilidade em representar temas sociais, históricos e culturais do Brasil. Ele foi um dos expoentes do modernismo brasileiro e usou a arte como uma ferramenta para expressar suas críticas sociais e revelar a realidade do povo brasileiro

O que Candido Portinari retrata em suas obras?

Candido Portinari é amplamente reconhecido por retratar a realidade social brasileira, com um olhar focado na vida dos trabalhadores, da pobreza, das desigualdades sociais e das condições de vida do povo.

Suas obras refletem as tensões do Brasil no período modernista, com ênfase em temas como a exploração do trabalhador rural, a luta do povo nordestino e a beleza e a dor da infância. Portinari também tratou de questões universais, como a paz e a guerra, utilizando a arte para fazer críticas sociais e humanitárias, além de retratar momentos de grande simbolismo cultural brasileiro, como o futebol e a vida no campo.

Referências

https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obras/82619-futebol

https://masp.org.br/acervo/obra/o-lavrador-de-cafe

Fique por dentro de tudo o que acontece na Casa do Saber!
Insira o seu e-mail para ampliar o seu conhecimento sobre o mundo e ficar por dentro de todas as novas postagens e novidades da Casa do Saber!
Obrigado! Sua submissão foi recebida!
Ops! Algo deu errado ao enviar o formulário.

Aprenda com os melhores do país

Além de serem as principais referências em suas áreas, eles são experts em tornar temas complexos acessíveis e fáceis de entender