Neurociência, Saúde Mental & Comportamento

Transtornos Mentais: Um guia dos principais grupos diagnósticos

Transtornos Mentais: Um guia dos principais grupos diagnósticos

Falar sobre saúde mental tem se tornado cada vez mais urgente na sociedade contemporânea. As relações familiares, amorosas e profissionais exigem de nós cada vez mais autoconhecimento e reflexão crítica sobre nossos limites, por isso, compreender o que é transtorno mental, saber como ele se manifesta e quais são os principais tipos, é fundamental para que possamos viver melhor, consigo mesmo e com o outro.

Neste artigo, você vai conhecer os principais grupos de transtornos mentais, classificados segundo os critérios diagnósticos do DSM-5-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e da CID-11 (Classificação Internacional de Doenças), com exemplos e sintomas comuns.

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O que é transtorno mental?

Um transtorno mental é uma condição psíquica que afeta de forma significativa o funcionamento emocional, comportamental e/ou cognitivo de uma pessoa, com impacto na sua vida social, familiar, profissional ou escolar.

Os fatores que levam a um transtorno mental são diversos, e podem incluir questões genéticas, sociais, ambientais, culturais, políticas e econômicas. Nesse sentido, as condições para um transtorno psíquico não estão ligadas a “fraquezas” ou escolhas pessoais, pois incluem fatores externos ao indivíduo como determinantes.

São diversos os grupos de transtornos mentais, e cada um apresenta características semelhantes em relação aos sintomas, duração, impacto funcional e causas. A seguir, iremos apresentar os principais grupos e suas características:


Transtornos de Ansiedade

Os transtornos de ansiedade tratam-se de um elevado nível de estresse psicológico que interfere de modo significativo na vida da pessoa. A ansiedade tem origem no medo e na sensação de estar vivendo uma situação perigosa, que necessita de uma resposta de luta ou fuga.

Os transtornos de ansiedade estão entre os transtornos mentais mais comuns no mundo. No Brasil, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 18 milhões de pessoas sofrem com ela. Embora a ansiedade seja uma emoção natural do ser humano, quando se torna excessiva e passa a gerar sofrimento, pode configurar um quadro clínico.

Entre os principais tipos de transtornos de ansiedade, estão:

  • Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)
  • Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
  • Transtorno de Pânico

Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)

O transtorno de ansiedade generalizada é caracterizado por preocupações excessivas e intensas em diversos aspectos da vida. A pessoa tende a se sentir preocupada e angustiada com uma certa facilidade, e tem dificuldade de controlar esses sentimentos. Há uma intensificação e catastrofização das sensações.

Os sintomas incluem tensão muscular, irritabilidade, taquicardia, fadiga e dificuldade para respirar. Além disso, há uma tendência para um esgotamento mental e necessidade de fuga.

A ansiedade tem sido frequentemente relacionada aos casos de Burnout - ou síndrome do esgotamento profissional - e usos excessivos de mídias sociais.

Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)

O TOC é caracterizado por pensamentos intrusivos (obsessões) e comportamentos repetitivos (compulsões) que a pessoa não consegue controlar.

Gestos como lavar as mãos inúmeras vezes, verificar dezenas de vezes se portas, janelas e fechaduras estão realmente trancadas, fazer contagens incessantes, repetir palavras, frases e números, e ter necessidade de reorganizar objetos constantemente, podem ser sintomas do TOC.

Transtorno de Pânico

O transtorno de pânico é caracterizado por crises repentinas e recorrentes de medo intenso, que surgem de forma inesperada, mesmo em contextos que não há uma ameaça real. Mais do que apenas “nervosismo”, o transtorno de pânico tem relação com o medo concreto de um ataque, que leva a pessoa a um estado constante de vigilância.

Os sintomas incluem taquicardia, sudorese, tremores, tontura e sensação iminente de morte.

Tratamento: Os tratamentos para os transtornos de ansiedade costumam envolver psicoterapia, especialmente abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que ajuda a identificar padrões de pensamento distorcidos e desenvolver estratégias de enfrentamento. Em alguns casos pode envolver indicação de medicamentos ansiolíticos ou antidepressivos, sempre sob prescrição médica.

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Transtornos de Humor

Também conhecidos como transtornos afetivos, esse grupo de transtornos inclui alterações persistentes no humor que envolvem períodos prolongados de tristeza excessiva (depressão), de euforia excessiva (mania) ou ambos.

Essa oscilação pode variar de acordo com o quadro, apresentando duração e intensidade diversas.

Entre os principais tipos, estão:

  • Depressão
  • Transtorno Bipolar

Depressão

A depressão é um transtorno de humor que provoca tristeza persistente, perda de interesse por atividades que antes gostava, cansaço excessivo, alterações de sono e apetite, sentimentos de culpa e inutilidade, além de possíveis pensamentos suicidas.

Essa condição afeta não apenas os pensamentos e sentimentos de uma pessoa, mas o humor e o comportamento, o que pode causar dificuldades significativas no cotidiano. A baixa auto-estima e o pessimismo também podem ser sintomas a se apresentarem de modo isolado ou somatizado.


Transtorno Bipolar

A bipolaridade, ou transtorno bipolar, é caracterizada por oscilações intensas de humor entre episódios de mania e depressão. Seus sintomas incluem a alteração entre uma euforia exagerada, o aumento de energia e autoestima, a falta de sono e o comportamento impulsivo (mania), e uma tristeza profunda, um cansaço extremo, somado a pensamentos negativos recorrentes (depressão).

De acordo com o DSM-5 e o CID-10, a bipolaridade pode ser classificada por:

Transtorno Bipolar I: episódios de mania intensos (com ou sem episódios depressivos);

Transtorno Bipolar II: episódios de depressão com episódios de hipomania (forma mais leve da mania);

Transtorno Ciclotímico: oscilações de humor menos intensas, mas persistentes, que duram dois anos ou mais;

Transtorno Bipolar misto: quando sintomas de mania e depressão ocorrem ao mesmo tempo ou se alternam rapidamente.

Tratamento: Os tratamentos para os transtornos de humor requerem uma abordagem terapêutica combinada, que inclui psicoterapia e, quando necessário, medicamentos como antidepressivos ou estabilizadores de humor.

Transtornos de Personalidade

Os transtornos de personalidade se referem a padrões rígidos e duradouros nos modos de pensar, sentir e se comportar, que se desviam das expectativas sociais e causam sofrimento.

Como o nome já aponta, a personalidade da pessoa tende a ser inflexível e rígida sobre situações, contextos e perspectivas, manifestando-se principalmente na vida adulta. Nesse sentido, pessoas com transtornos de personalidade podem ter dificuldades em manter relações, gerir e controlar suas emoções e impulsos, e lidar com situações difíceis.

Entre os principais tipos de transtornos de personalidade, está:

Borderline

O transtorno de personalidade Borderline - ou limítrofe - é marcado por instabilidade nas emoções, nos relacionamentos e na autoimagem. Pode gerar comportamentos impulsivos e medo intenso de abandono.

Neste transtorno, há uma hipersensibilidade nos sentimentos que faz com que a pessoa sinta tudo a sua volta de modo bastante intenso e, ao mesmo tempo, instável. Assim, tanto os sentimentos positivos quanto os negativos se manifestam de modo expressivo.

Entre os sintomas mais comuns, estão: oscilações extremas de humor que podem durar horas ou dias, impulsividade em áreas como alimentação, gastos, sexo ou álcool, sensação crônica de vazio, comportamentos autolesivos ou ideação suicida.

Tratamento: Os tratamentos para os transtornos de personalidade são centrados na psicoterapia de médio a longo prazo. Medicamentos podem ser utilizados para tratar sintomas específicos.



Transtornos de Neurodesenvolvimento

Os transtornos de neurodesenvolvimento são alterações dos processos iniciais de desenvolvimento neurológico que causam impacto na aquisição, relação ou produção de habilidades.

Essas alterações se dão na memória, na linguagem e na interação social, podendo interferir no cotidiano da pessoa.

Entre os principais transtornos de neurodesenvolvimento, destacam-se:

  • Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
  • Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

O TDAH é um transtorno caracterizado pelo comprometimento expressivo na atenção, concentração e no gerenciamento de atividades mentais. Os seus sintomas incluem o esquecimento de coisas importantes, a dificuldade de prestar atenção em detalhes, de seguir instruções e de concluir tarefas.

Pessoas com TDAH podem, com uma certa frequência, interromper a fala de outras pessoas, pois têm dificuldades de aguardar a sua vez. Além disso, podem falar excessivamente e apresentar uma certa inquietação no comportamento, tendo dificuldades com atividades que exigem esforço mental prolongado.

Os sinais de TDAH podem ser percebidos ainda na infância, mas atenção: um elevado nível de atividade pode ser completamente normal e ser apenas uma fase do temperamento infantil comum. Por isso, é fundamental avaliar em que fase da vida ocorre e se o nível de atividade está combinado com outros sinais, para que um diagnóstico não seja elaborado erroneamente.




Transtorno do Espectro Autista (TEA)

O TEA é um transtorno de neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na comunicação social e em padrões de comportamento repetitivos ou restritos. O espectro é amplo e varia de forma significativa entre os indivíduos, afetando o desenvolvimento motor, da linguagem e comportamental.

O TEA pode ser classificado em três tipos: autismo clássico, autismo de alto desempenho (também chamado de Síndrome de Asperger) ou distúrbio global do desenvolvimento sem outra especificação.

Entre os principais sintomas do TEA, destacam-se: atraso na fala, desinteresse em pessoas ou objetos ao redor, seletividade extrema em relação a cheiros, sabores e texturas, dificuldade para combinar palavras em frases ou repetir a mesma fala com frequência, além de uma expressiva sensibilidade visual e sonora.

Além disso, algumas pessoas com TEA podem manifestar sinais como impaciência, hiperatividade, déficit de atenção e aumento ou diminuição na resposta à dor.

Tratamento: Para os transtornos de neurodesenvolvimento, os tratamentos também são multifatoriais. Eles podem incluir medicação (como psicoestimulantes no caso do TDAH), apoio educacional e terapias ocupacionais (no caso do TEA), tendo o suporte psicossocial como indispensável.

Transtornos Psicóticos

Os Transtornos Psicóticos são transtornos que alteram as percepções e interpretações da realidade. Podem incluir delírios, alucinações e pensamentos desorganizados. Isso pode afetar a forma como a pessoa pensa, percebe o mundo, sente e se comporta.

As causas podem incluir fatores genéticos, alterações neuroquímicas, traumas, uso de substâncias ou complicações neurológicas. Em muitos casos, há uma interação entre predisposição biológica e fatores ambientais.

O tipo mais comum de transtorno psicótico, inclui:

Esquizofrenia

A esquizofrenia é um transtorno mental grave que envolve distorções no pensamento, nas percepções e na forma como a pessoa se relaciona com a realidade.

Os sintomas da esquizofrenia costumam ser divididos entre positivos e negativos. Os sintomas positivos referem-se a alucinações, delírios, pensamento desorganizado e comportamentos agitados, enquanto os sintomas negativos referem-se à apatia, isolamento social e falta de motivação e interesse.

Além disso, também ocorrem sintomas cognitivos, como a dificuldade de atenção, problemas de memória e comprometimento no julgamento e na tomada de decisões. A esquizofrenia geralmente se manifesta no final da adolescência ou início da idade adulta, podendo ter início gradual ou súbito.

Tratamento: Os tratamentos envolvem o uso de medicamentos antipsicóticos, que ajudam a reduzir os sintomas. A psicoterapia auxilia para o fortalecimento da autonomia e da capacidade de lidar com a realidade. Além disso, programas de reabilitação social são essenciais para a recuperação e para a elaboração de estratégias de reinserção comunitária.

Transtornos Alimentares

Os transtornos alimentares envolvem uma relação disfuncional com a alimentação e o corpo. Caracterizam-se por uma preocupação excessiva com o peso, a forma corporal e os hábitos alimentares, frequentemente associada a distorções de imagem - ou seja, a pessoa vê seu corpo de maneira distinta, sobretudo, negativamente.

Além dos sintomas físicos, esses transtornos denunciam questões emocionais profundas, como baixa autoestima, ansiedade, depressão e sensação de perda de controle.

Os principais tipos de transtornos alimentares são:

  • Anorexia
  • Bulimia

Anorexia

Na anorexia, a pessoa reduz drasticamente a ingestão de alimentos, de forma repentina ou progressiva. É comum haver medo intenso de engordar, mesmo quando o corpo já está abaixo do peso ideal.

Bulimia

A bulimia se caracteriza por episódios recorrentes de grande ingestão alimentar, seguidos de comportamentos compensatórios, como vômitos induzidos, uso de laxantes ou jejuns prolongados.

Tratamentos: Os tratamentos para os transtornos alimentares incluem uma abordagem multiprofissional. Psicoterapia individual e familiar e acompanhamento nutricional são fundamentais. Em alguns casos, pode ser necessário o uso de medicamentos para ansiedade, depressão ou compulsão alimentar.


Conclusão: Conhecimento e acolhimento sobre transtornos mentais são essenciais

Compreender os tipos de transtornos mentais é fundamental para promover cuidado, prevenção e acolhimento. Estar atento aos sinais, especialmente quando os sintomas persistem por mais de 6 meses, é um passo importante para buscar o suporte necessário.

Cabe mencionar que alguns sintomas podem fazer parte da experiência humana comum. No entanto, eles se tornam motivo de atenção quando passam a causar sofrimento ou prejudicar o cotidiano da pessoa.

Nesse caminho, a psicoterapia é uma ferramenta potente tanto para o diagnóstico quanto para o autoconhecimento. O suporte psiquiátrico também é importante, desde que a administração de medicamentos ocorra sempre com prescrição e acompanhamento médico.

É importante reforçar que nenhum diagnóstico define uma pessoa. Um transtorno é apenas uma parte da complexidade de um sujeito, que pode viver com mais qualidade e bem-estar quando conta com uma rede de apoio psicossocial.

Por fim, cuidar da saúde psíquica não deve ser uma responsabilidade apenas de quem tem algum transtorno mental, mas de todas as pessoas que buscam caminhos para uma vida mentalmente mais saudável.

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Referências

https://www.paho.org/pt/topicos/transtornos-mentais