Neurociência, Saúde Mental & Comportamento

Esquizofrenia: o que é, sintomas, causas, tipos e tratamento
Camila Fortes
Esquizofrenia: o que é, sintomas, causas, tipos e tratamento
Esquizofrenia é um transtorno mental que afeta a percepção da realidade. Veja sintomas, causas, tratamentos e como oferecer apoio sem estigmas.

A esquizofrenia é um dos transtornos mentais mais estigmatizados e incompreendidos da saúde mental. Não são raros os casos em que as pessoas chamam de “esquizofrênico” qualquer indivíduo que assume um comportamento considerado impróprio socialmente.

No entanto, esse é um estigma que precisa ser rompido, pois a esquizofrenia trata-se de uma condição psíquica grave, que faz com que a pessoa apresente perdas de contato com a realidade, afetando diretamente suas relações.

Marcada por sintomas como delírios, alucinações e alterações no pensamento, ela afeta cerca de 1% da população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, estima-se que entre 0,3% a 2,4% possuem o transtorno.

Neste artigo, vamos abordar de forma clara o que é a esquizofrenia, seus sintomas, causas, diagnóstico, tipos, formas de tratamento e, principalmente, como oferecer acolhimento.

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O que é esquizofrenia e qual a sua origem?

A esquizofrenia é um transtorno psicótico que afeta a forma como a pessoa vê a si e ao mundo. Caracterizado por distorções do pensamento e da percepção, a pessoa esquizofrênica tem a sensação constante de que seus sentimentos, pensamentos e atos são partilhados por outros, como se estivesse sendo analisada e vigiada frequentemente.

O termo “esquizofrenia” foi cunhado em 1911 pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler, a partir da junção dos termos schizo (dividir) e phren (mente), para descrever uma “divisão” entre pensamento, emoção e comportamento.

Não se trata de uma “dupla personalidade”, como muitos acreditam equivocadamente, mas sim de um transtorno mental crônico que afeta a forma como a pessoa percebe a realidade.

A esquizofrenia costuma surgir no final da adolescência ou início da vida adulta, entre os 15 e 35 anos, embora existam casos de esquizofrenia infantil ou início tardio (após os 40 anos). O transtorno pode se manifestar de forma leve ou grave, e nem todos os casos envolvem comportamentos agressivos ou perigosos.



Principais sintomas da esquizofrenia

Os sintomas da esquizofrenia costumam ser divididos em três grupos principais: positivos, negativos e cognitivos.

Vamos compreender melhor:

Sintomas positivos

São assim chamados porque “acrescentam” algo à experiência psíquica do indivíduo. Incluem:

  • Delírios: Crenças falsas e fixas, que não se abalam mesmo diante de evidências contrárias.
    Exemplo: Acreditar que está sendo perseguido ou que possui poderes especiais.
  • Alucinações: Percepções sensoriais sem estímulo real.
    Exemplo: Ouvir vozes (o sintoma mais comum).
  • Pensamento desorganizado: Dificuldade para organizar ideias e falas.
    Exemplo: Falas incoerentes, saltos de pensamento e raciocínio confuso.
  • Comportamento motor acelerado: Pode variar da agitação à catatonia, gerando ansiedade.
    Exemplo: Ficar imóvel e distante no pensamento por um longo tempo ou desenvolver movimentos repetitivos.

Sintomas negativos

São déficits emocionais e sociais que comprometem a qualidade de vida da pessoa esquizofrênica. Os sintomas negativos incluem:

  • Apatia ou falta de expressão emocional, sem muita capacidade de resposta;
  • Isolamento e reclusão social;
  • Diminuição da fala e das interações;
  • Falta de motivação, prazer ou interesse em atividades antes agradáveis.

Sintomas cognitivos

Têm relação com a dificuldade de pensamento, com um comprometimento da memória e dos processos de tomada de decisão.

  • Memória de curto prazo prejudicada;
  • Mau funcionamento de processos cognitivos complexos, como a resolução de problemas, tomada de decisões e planejamento;
  • Déficits de atenção.

A pessoa com esquizofrenia pode desenvolver delírios de que forças externas influenciam nos seus pensamentos e ações, além de exibir um raciocínio vago e obscuro, acreditando que situações cotidianas possuem um significado complexo, relacionado exclusivamente com ela.

O humor geralmente é superficial ou incongruente, acompanhado de momentos de inércia, negativismo ou estupor.

É importante destacar que a esquizofrenia não tende a começar com delírios e alucinações, mas sim com um isolamento social e outras mudanças de comportamento que fazem com que a pessoa seja vista como “diferente” por aqueles do seu convívio.



Causas e fatores de risco para a esquizofrenia

Ainda não existe uma causa única para a esquizofrenia. O transtorno é multifatorial e precisa ser investigado com bastante atenção, para identificar os fatores de risco.

No entanto, uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde aponta que o modelo de maior aceitação para compreender suas causas e fatores de risco é o da “vulnerabilidade versus estresse”. Em outras palavras, uma predisposição genética interage com estressores ambientais e psicológicos, aumentando a possibilidade do desenvolvimento do transtorno.

Assim, vemos a interferência de:

Fatores genéticos:

Casos de esquizofrenia na família aumentam a probabilidade do desenvolvimento do transtorno. No entanto, é importante ressaltar: ter histórico familiar aumenta o risco, mas não garante o desenvolvimento do quadro.

Fatores neurobiológicos:

Alterações na química cerebral, especialmente nos neurotransmissores dopamina e glutamato (responsáveis pelo prazer, motivação e excitação, respectivamente), estão associados ao transtorno.

Disfunções nesse sistema podem explicar os sintomas negativos e o pensamento desorganizadocaracterísticos da esquizofrenia.

Fatores ambientais:

Situações de estresse intenso, como perdas significativas, violência ou mudanças abruptas na vida, podem desencadear ou agravar sintomas em pessoas predispostas. Traumas na infância, como abuso físico, sexual ou negligência emocional, também estão associados a um maior risco.

Outro fator importante é o uso abusivo de substâncias psicoativas, especialmente em fases críticas do desenvolvimento, como a adolescência. Drogas como cocaína, LSD e metanfetaminas podem precipitar surtos psicóticos ou antecipar o início dos sintomas de esquizofrenia em indivíduos vulneráveis.

Além disso, complicações na gestação e no parto, como infecções virais intrauterinas, sofrimento fetal, desnutrição materna ou exposição a toxinas, podem afetar o desenvolvimento neurológico e contribuir para alterações cerebrais relacionadas ao transtorno.

Diagnóstico de esquizofrenia e seus tipos

O diagnóstico de esquizofrenia é feito por médicos psiquiatras com base na avaliação clínica, levando em conta a história de vida, os sintomas e a duração deles.

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e a Classificação Internacional de Doenças (CID-11) orientam os critérios diagnósticos.

Segundo o CID, o transtorno esquizofrênico inclui diferentes apresentações clínicas. Os tipos mais conhecidos são:

Esquizofrenia paranoide

É o tipo mais comum e costuma se manifestar com delírios de perseguição e alucinações auditivas, mas com preservação do pensamento e da afetividade.

Na esquizofrenia paranoide, os delírios são geralmente organizados e sistemáticos, fazendo com que a pessoa acredite, por exemplo, estar sendo espionada, vigiada ou alvo de uma conspiração. As alucinações auditivas são frequentes, com vozes críticas ou ameaçadoras.

Apesar disso, a capacidade de se comunicar e a expressão emocional podem estar relativamente preservadas, o que pode dificultar o reconhecimento do transtorno por quem convive com a pessoa.

Esquizofrenia hebefrênica (ou desorganizada)

Caracteriza-se por desorganização do pensamento, fala incoerente e comportamento inadequado. Frequentemente inicia-se de modo precoce.

O comportamento tende a ser imprevisível ou infantilizado, com risos inapropriados ou ações sem propósito claro. O discurso pode ser difícil de seguir, com trocas rápidas de assunto, frases desconexas ou uso de palavras inventadas.

Esquizofrenia catatônica

Envolve distúrbios motores extremos, desde imobilidade total (catatonia) até movimentos repetitivos.

A pessoa pode permanecer longos períodos em posturas rígidas, sem falar ou reagir ao ambiente ao redor, ou, ao contrário, apresentar agitação motora intensa e movimentos repetitivos, como bater as mãos ou andar em círculos.

Esquizofrenia simples

É mais difícil de ser identificada, pois é marcada principalmente pelos sintomas negativos. Pode ser confundida com depressão ou transtornos de personalidade.

Os sintomas se desenvolvem de forma lenta e progressiva, sem episódios psicóticos evidentes. A pessoa pode começar a se isolar socialmente, perder o interesse por atividades antes prazerosas e mostrar desmotivação.


Tratamento para esquizofrenia

Embora seja um transtorno crônico, a esquizofrenia pode ser tratada para alcançar estabilidade, autonomia e bem-estar.

Antipsicóticos

A base do tratamento envolve o uso de antipsicóticos, que regulam a atividade dos neurotransmissores. Os efeitos variam entre os pacientes, e o acompanhamento médico regular é essencial para ajustar doses e manejar os efeitos colaterais.

Psicoterapia

Abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), a psicanálise e o fortalecimento da escuta clínica ajudam na elaboração dos sintomas, na reconstrução do laço social e na melhoria da autoestima.

Reabilitação psicossocial

A inserção na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) com foco nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), além de oficinas terapêuticas e grupos de convivência, compõem estratégias de reabilitação psicossocial, sendo fundamentais para a autonomia e o pertencimento.

Para saber mais sobre a RAPS e os centros de atendimento psicoterapêutico, se informe nos sites oficiais do Ministério da Saúde ou procure o CAPS mais próximo de você na rede pública da sua cidade.



A importância da rede

O tratamento para esquizofrenia exige uma rede de cuidados integrada entre usuários do sistema de saúde mental, familiares, profissionais da saúde e serviços públicos. A construção dessa rede passa por políticas públicas de saúde mental assistenciais, somada ao combate à exclusão social.

Dois homens se abraçam em auditório durante evento ou palestra, demonstrando empatia e apoio emocional
Uma rede de apoio bem estruturada é fundamental para quem vive e convive com a esquizofrenia - Fonte: Adrianna Geo/ Unsplash


Como acolher uma pessoa com esquizofrenia?

Viver com esquizofrenia ou conviver com alguém com esse diagnóstico exige empatia, paciência e informação.

Confira algumas práticas essenciais:

  • Evite julgamentos: não invalide ou ridicularize os relatos da pessoa. Lembre-se que, para ela, o que ela está contando é real.
  • Ofereça escuta: ouvir vozes, por exemplo, não é sinônimo de “loucura”, mas um sinal que merece atenção.
  • Se informe: compreender o transtorno ajuda a lidar com ele sem medo.
  • Promova vínculos: o isolamento agrava os sintomas. Laços afetivos são essenciais.
  • Esteja atento a recaídas: mudanças no comportamento, no sono ou no humor podem sinalizar necessidade de reforço no tratamento.




Mitos sobre a esquizofrenia

Muitos são os estereótipos sobre a pessoa com esquizofrenia. A imagem de que são sujeitos perigosos, potencialmente violentos e agressivos, está na percepção social há séculos.

No entanto, para tratar o transtorno, amenizar os sintomas e reduzir os estigmas, é necessário informação para romper com esses preconceitos.

A seguir, alguns dos mitos mais comuns, e o que a ciência e a experiência clínica dizem de fato:

“Pessoas com esquizofrenia são perigosas”

Esse é um dos estigmas mais danosos. A maioria das pessoas com esquizofrenia não é violenta. Na realidade, elas estão mais vulneráveis a sofrerem violência do que a cometê-la.

O comportamento agressivo, quando existe, geralmente está associado à ausência de tratamento, ao uso de substâncias ou a contextos de profunda exclusão social.

“Esquizofrenia é sinônimo de múltiplas personalidades”

Esse também é um equívoco comum, mas, não. A esquizofrenia não é um transtorno dissociativo de identidade. Quem convive com esquizofrenia pode ter delírios e alucinações, mas não vive como se houvesse em si “duas ou mais pessoas”.

A confusão entre esses quadros dificulta a compreensão adequada da condição.

“Esquizofrenia é causada por ‘fraqueza emocional’”

A esquizofrenia tem base neurobiológica e multifatorial, envolvendo alterações químicas no cérebro, predisposição genética e fatores psicossociais e ambientais. Não é um sinal de fragilidade, falta de força de vontade e nem é uma escolha individual.

“Pessoas com esquizofrenia morrem cedo”

Embora existam riscos aumentados de doenças associadas (como as cardiovasculares) e vulnerabilidade social, pessoas com esquizofrenia não necessariamente terão uma expectativa de vida reduzida.

“Quem tem esquizofrenia sempre precisa ser internado”

Falso. A internação é uma medida excepcional, usada em casos graves e pontuais, geralmente quando há risco à vida ou necessidade de estabilização rápida.

É fundamental lembrar que a proposta do cuidado em saúde mental, sobretudo no Brasil através da RAPS, é valorizar o cuidado em liberdade, com suporte no território, tratamento ambulatorial e vínculo com os CAPS.

Indicação da Casa

Alguns livros clássicos tratam sobre o processo de construção de estigmas sobre a pessoa com transtornos mentais. Entre eles, podemos mencionar A História da Loucura na Idade Clássica (1961) de Michel Foucault e Loucura na Civilização: Uma história cultural da insanidade (2023) de Andrew T. Scull.

Além disso, obras como Entre a Razão e a Ilusão: Desmistificando a Esquizofrenia (2023) de Jorge Cândido de Assis, Cecília Villares e Rodrigo Bressan tratam especificamente sobre a esquizofrenia e a convivência com o transtorno.

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Referências:

https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/protocolos/pcdt-esquizofrenia-livro-2013-1.pdf

https://www.gov.br/casacivil/pt-br/assuntos/noticias/2022/outubro/sus-oferece-atendimento-as-pessoas-que-vivem-com-algum-tipo-de-transtorno-mental

Entenda o que é o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
Camila Fortes
Entenda o que é o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
Entenda o que é o TOC, sintomas mais comuns, causas, tipos e formas de tratamento. Saiba como lidar com o transtorno e apoiar quem convive com ele.

Você já ouviu alguém dizer “tenho TOC com organização”? Essa frase, apesar de comum, muitas vezes banaliza um transtorno sério que afeta milhões de pessoas no mundo.

O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é um transtorno de ansiedade caracterizado por obsessões e/ou compulsões que causam sofrimento, desconforto ou prejuízo funcional significativo.

Neste conteúdo, vamos explicar de modo aprofundado o que é o TOC, quais seus sintomas, causas, tipos, como é feito o diagnóstico, as formas de tratamento e como diferenciar o transtorno de comportamentos obsessivos comuns.

Nosso objetivo é desmistificar o TOC, combater o estigma e oferecer orientações acessíveis e científicas para quem convive com esse quadro ou deseja compreender melhor o tema.

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O que é o TOC? Entenda o transtorno

O Transtorno Obsessivo-Compulsivo é uma condição de saúde mental marcada pela presença de pensamentos obsessivos e/ou comportamentos compulsivos que se repetem de forma intensa, persistente e angustiante.

Descrito no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e na Classificação Internacional de Doenças (CID-11, código 6B20), o TOC é muito mais do que gostar de tudo no lugar ou querer que as coisas estejam limpas, por exemplo. Ele se trata de um sofrimento psíquico intenso, que compromete a vida pessoal, social e profissional de quem o vivencia.

Obsessões são pensamentos, imagens ou impulsos intrusivos, indesejados e repetitivos que geram angústia. Exemplo: medo intenso de estar contaminado, mesmo sem evidência disso.

Compulsões são comportamentos repetitivos (como lavar as mãos, checar as portas) ou atos mentais (contar, rezar, repetir palavras) realizados para neutralizar ou aliviar a ansiedade provocada pelas obsessões.

Em outras palavras, enquanto a obsessão é o pensamento invasivo e angustiante, a compulsão é a ação que tenta aliviar essa angústia.

Quem sofre de TOC geralmente percebe que seus pensamentos e comportamentos são excessivos ou irracionais, mas mesmo assim se sente incapaz de controlá-los sem ajuda especializada.

Principais sintomas do Transtorno Obsessivo-Compulsivo

Os sintomas podem variar bastante entre os indivíduos, tanto na forma quanto na intensidade. Em geral, as obsessões provocam angústia, e as compulsões surgem como uma tentativa de neutralizar esse desconforto, criando um ciclo difícil de romper.

Abaixo, listamos alguns dos sinais de obsessões e compulsões mais comuns:

Exemplos de obsessões:

  • Medo excessivo de contaminação: preocupação constante com germes, sujeira, sangue ou doenças.
  • Dúvidas persistentes que não amenizam: insegurança quanto a ações do cotidiano (“Será que tranquei a porta? E se eu causar um acidente?”)
  • Pensamentos indesejados de conteúdo agressivo ou sexualizado: ideias invasivas sobre machucar alguém ou fazer algo moralmente inaceitável.
  • Necessidade de simetria ou exatidão: incômodo intenso diante de objetos desalinhados ou desorganizados.
  • Medo de causar dano a si ou aos outros: preocupação irracional de que, se não conseguir determinado ritual, algo ruim acontecerá.


Exemplos de compulsões:

  • Lavar as mãos ou tomar banhos excessivos, mesmo sem necessidade física;
  • Verificar repetidamente se portas estão trancadas, luzes apagadas, aparelhos desligados etc;
  • Contar objetos ou repetir palavras mentalmente, como forma de neutralizar obsessões;
  • Organizar itens de forma rígida ou ritualística, seguindo padrões exatos de simetria, cor, tamanho etc;
  • Reafirmação constante: necessidade de ouvir dos outros que algo está seguro, certo ou aprovado.


Esses comportamentos podem parecer irracionais até para quem os realiza e, ainda assim, a pessoa sentir que não consegue evitá-los.

Importante: manias e rituais isolados não são TOC. O transtorno só é diagnosticado quando essas obsessões e compulsões ocupam tempo significativo (geralmente mais de uma hora por dia) e causam sofrimento real ou prejuízo à rotina.



Homem usando máscara borrifando spray desinfetante nas mãos, destacando práticas de higiene e prevenção
Limpeza é essencial, mas é preciso observar se as manias estão causando sofrimento ou comprometimento na vida da pessoa - Fonte: Tonkla Pairoh/Unsplash

Causas e fatores de risco para o Transtorno Obsessivo-Compulsivo

Ainda não existe uma causa única para o Transtorno Obsessivo-Compulsivo, mas uma pesquisa realizada na Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales (UCES) e no Centro Universitário de Mineiros (UNIFIMES) apontam para uma combinação de fatores:

Genéticos: pessoas com histórico familiar de TOC ou outros transtornos de ansiedade têm maior predisposição;

Neurobiológicos: alterações em áreas do cérebro responsáveis por tomada de decisão, controle de impulsos e avaliação de risco (como o córtex orbitofrontal e os gânglios da base), estão relacionadas ao TOC.

Psicológicos: experiências traumáticas na infância, vivências de controle extremo, culpa internalizada ou repressão emocional, podem influenciar o desenvolvimento do transtorno.

Ambientais: eventos estressantes, infecções, alterações hormonais ou disfunções imunológicas podem atuar como gatilhos.

Muitos comportamentos visam controlar o incontrolável, como a possibilidade de contaminação, erro ou tragédia. Por isso, o TOC está diretamente relacionado à ansiedade e ao controle, uma vez que são dois fatores centrais no sofrimento dessas pessoas.



Diferença entre TOC e manias

Uma confusão frequente é sobre a diferença entre TOC e as chamadas “manias”. Apesar da popularização de expressões como “Tenho TOC com isso”, é importante entender que manias e TOC são coisas muito diferentes.

No que exatamente elas se diferem?

As manias, no senso comum, são hábitos ou preferências pessoais, como gostar de manter o armário organizado ou sempre alinhar os talheres e copos. A pessoa mantém o comportamento por gosto ou satisfação, e não por medo ou angústia.

Esses comportamentos geralmente não causam sofrimento ou prejuízo significativo.

Já o TOC envolve uma luta interna desgastante, marcada por pensamentos indesejados e rituais que a pessoa muitas vezes reconhece como excessivos, mas sente-se incapaz de controlar.

No TOC, os pensamentos obsessivos invadem a mente, seguidos de rituais compulsivos. Esses comportamentos são feitos justamente para aliviar a angústia, e não por prazer, e tendem a ser repetidos exaustivamente.

Confira um exemplo da diferença entre Mania x TOC na tabela abaixo:

Mania TOC
Gosto de ver e acho mais bonito esteticamente os livros alinhados por cor. Preciso alinhar os livros por cor e simetria pois, se não fizer isso, sinto uma angústia, como se algo ruim fosse acontecer.



Diagnóstico de TOC e tipos de manifestação

O diagnóstico de TOC deve ser feito por um profissional de saúde mental, como psiquiatra ou psicólogo, com base em critérios estabelecidos pelo DSM-5. A avaliação é feita por meio de entrevistas clínicas, análise de frequência e impacto dos sintomas e exclusão de outras condições médicas ou psiquiátricas.

Tipos de TOC:

  • TOC de verificação: marcado por obsessões relacionadas à dúvida e à responsabilidade, levando a checagens repetitivas.
    Exemplo: Ler e reler um e-mail dezenas de vezes antes de enviar, com medo de que uma palavra mal escrita possa causar demissão ou ofensa. Ou, verificar repetidamente se fechou a porta de casa, mesmo sabendo que trancou. Às vezes, volta da rua só para checar novamente.
  • TOC de limpeza/contaminação: obsessões relacionadas ao medo de contaminação por germes, substâncias tóxicas, sujeira ou até energia negativa, que levam a rituais de limpeza excessivos.
    Exemplo: Evitar cumprimentar pessoas com aperto de mão ou tocar em qualquer objeto público por medo de doenças. Ou, sentir necessidade de limpar o banheiro todos os dias, mesmo sem uso recente.
  • TOC de simetria/ordem: obsessões com a necessidade de exatidão, equilíbrio ou simetria. As compulsões geralmente envolvem reorganizar objetos ou realizar tarefas de forma igualitária.
    Exemplo: Não conseguir sair de casa se os quadros na parede não estiverem perfeitamente alinhados. Ou, a necessidade de pisar com os dois pés o mesmo número de vezes ao subir escadas.
  • TOC de pensamentos intrusivos: caracterizado por pensamentos indesejados, agressivos, sexuais ou moralmente inaceitáveis, que causam intensa culpa.
    Exemplo: Ter pensamentos involuntários sobre machucar alguém querido. Ou, imaginar cenas inapropriadas e tentar mentalmente “cancelar” os pensamentos.
  • TOC de acumulação: dificuldade intensa em se desfazer de objetos, mesmo sem utilidade aparente.
    Exemplo: Guardar objetos quebrados, contas antigas ou roupas velhas por acreditar que algo ruim pode acontecer se forem descartadas.



Atenção: o TOC na infância pode se manifestar de formas semelhantes aos adultos, mas muitas vezes com menos clareza verbal. É importante observar a rituais excessivos, o sofrimento ao interromper rotinas e a ansiedade intensa.



Sugestão da Casa:

O filme “Toc Toc” (2017) dirigido pelo espanhol Vicente Villanueva, é uma comédia ficcional que reúne diferentes pessoas com transtornos obsessivos-compulsivos em uma sala de espera para consulta com um terapeuta.

No filme, cada personagem apresenta um tipo de TOC diferente, como verificação, simetria, repetição, contaminação e até síndrome de Tourette. Embora seja uma obra de humor, o filme pode ajudar a introduzir o tema de forma leve e gerar empatia com quem vive com o transtorno.

“Toc Toc” é uma representação caricata, ficcional. Para compreender o Transtorno Obsessivo-Compulsivo com profundidade, é essencial buscar fontes sérias e escuta especializada.



Tratamento para Transtorno Obsessivo-Compulsivo

O TOC tem tratamento e, embora seja uma condição crônica em muitos os casos, é possível alcançar grande melhora na qualidade de vida.

Os principais tratamentos são:

Psicoterapia

  • Terapia Cognitivo Comportamental (TCC): A TCC é a abordagem mais indicada para tratar o transtorno. Ela irá auxiliar a desenvolver ferramentas e estratégias práticas para romper com os padrões de repetição. Técnicas como Exposição e Prevenção de Resposta (EPR), na qual o paciente é gradualmente exposto às obsessões sem executar os rituais compulsivos, costumam ser eficazes para ajudar o paciente a tolerar a ansiedade sem reforçar o ciclo.
  • Psicanálise: Buscar compreender os conteúdos inconscientes por trás dos sintomas, como controle, culpa, repressão e fantasias, pode auxiliar no tratamento. Embora menos focada na extinção imediata dos sintomas, a psicanálise pode ser valiosa no entendimento emocional profundo do transtorno.
  • Outras abordagens: Terapias integrativas, como Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), também apresentam bons resultados no tratamento. Elas incentivam o paciente a aceitar os pensamentos sem se prender a eles, favorecendo ações alinhadas com seus valores.


Medicamentos

Os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS), como fluoxetina, sertralina e fluvoxamina, são os mais usados no tratamento farmacológico do Transtorno Obsessivo-Compulsivo.

Eles auxiliam no equilíbrio dos neurotransmissores, reduzindo a intensidade dos pensamentos obsessivos e o impulso por rituais compulsivos. O efeito costuma levar algumas semanas para ser percebido, e a dosagem deve ser sempre ajustada por um médico psiquiatra.

Em casos resistentes, podem ser associados a outros tipos de medicação, como antipsicóticos atípicos, sob supervisão médica.

Acompanhamento interdisciplinar

Nutricionistas, terapeutas ocupacionais, psiquiatras, educadores e familiares também podem fazer parte do cuidado.

O apoio contínuo é essencial para promover autonomia e reduzir recaídas.

Como apoiar alguém com TOC?

Conviver com alguém que sofre com o TOC pode ser desafiador. Na Casa do Saber, há uma variedade de cursos que exploram o principal sintoma do Transtorno Obsessivo-Compulsivo: a ansiedade.

Nesse sentido, compreender como superar a ansiedade e como controlar seus sinais, pode ser uma ferramenta de apoio importante.


Confira algumas dicas de suporte:

  • Evite julgar os comportamentos como exagero ou frescura;
  • Não reforce compulsões (“confirma só dessa vez”, “lava pra se acalmar”, por exemplo”. São reforços que, infelizmente, podem manter o ciclo do TOC;
  • Ofereça escuta e empatia, e incentive o acompanhamento profissional;
  • Informe-se, para compreender melhor os mecanismos do transtorno;
  • Em crianças, a escola e a família devem trabalhar em conjunto para oferecer segurança e rotina.


As pessoas também querem saber:

Como é uma crise de TOC?

Uma crise de TOC acontece quando os pensamentos obsessivos ficam muito intensos e causam forte ansiedade. A pessoa sente que precisa fazer uma compulsão (como checar ou lavar algo) para aliviar o mal-estar.

Pode haver taquicardia, angústia, bloqueio mental e perda de foco. Mesmo rituais internos, como contar ou rezar, podem consumir muito tempo e energia.

Como é uma pessoa com TOC?

Uma pessoa com TOC é alguém que vive com pensamentos repetitivos e comportamentos compulsivos, muitas vezes em segredo. Pode parecer perfeccionista ou controladora, mas está lidando com um sofrimento real.

Em geral, são pessoas sensíveis e ansiosas, que se preocupam excessivamente com erros ou consequências. O TOC pode afetar o cotidiano, mas com tratamento e apoio, é possível viver com menos sofrimento.

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Referências

https://interacoesucdb.emnuvens.com.br/multitemas/article/view/3559

Saúde mental no trabalho: como se proteger e promover bem-estar
Camila Fortes
Saúde mental no trabalho: como se proteger e promover bem-estar
Entenda o que é saúde mental no trabalho, principais sinais de alerta para ter atenção e boas práticas para cuidar do bem-estar emocional.

Quem nunca levou uma preocupação do trabalho para casa? Ou, quem nunca se sentiu cobrado de modo desproporcional no ambiente profissional?

No mundo contemporâneo, a relação com o trabalho tem gerado cada vez mais adoecimento psíquico, chamando atenção de empresas e especialistas de saúde mental.

Neste texto, trataremos dos principais fatores que afetam o bem-estar psicológico no ambiente profissional, os sinais de alerta e boas práticas para empresas e trabalhadores. Além disso, abordaremos sobre a importância de uma cultura organizacional que promova o cuidado com a mente.

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O que é ter saúde mental no ambiente profissional?

A saúde mental no ambiente corporativo diz respeito à capacidade de lidar com os desafios cotidianos, manter relações interpessoais saudáveis, equilibrar vida pessoal e profissional, e encontrar sentido e satisfação no que se faz.

Não significa estar sempre feliz e realizado profissionalmente, mas sim ter suporte para atravessar momentos difíceis no trabalho sem adoecer.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os transtornos mentais estão entre as principais causas de afastamento do trabalho no mundo, impactando diretamente a produtividade e a sustentabilidade das organizações.

De acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan/Ministério da Saúde), somente em 2024, no Brasil, quase 5 mil pessoas foram afastadas do trabalho por questões de saúde mental. Em 2025, já foram mapeados mais de 850 registros.

Mas porque isso acontece?

A realidade cotidiana ainda é muitas vezes marcada por jornadas exaustivas, cobranças silenciosas e falta de espaço para o diálogo. Em ambientes assim, não há criatividade, eficiência ou engajamento, há apenas o medo, a pressão e a invisibilidade profissional.

Nesse sentido, saber identificar processos de adoecimento psíquico no ambiente profissional é fundamental para desenvolver uma melhor relação com o trabalho.

O que afeta a saúde mental no trabalho?

A saúde emocional no ambiente corporativo é afetada por um conjunto de fatores estruturais, relacionais e organizacionais.

Embora cada pessoa tenha uma trajetória única e reaja de forma distinta aos desafios profissionais, alguns elementos vêm se tornado cada vez mais frequentes nos relatos de adoecimento no trabalho.

  • Excesso de cobranças e metas inalcançáveis: Quando o desempenho é priorizado em detrimento do bem-estar, instala-se um ciclo de autocobrança e medo de errar. O resultado? Profissionais sempre alerta, porém emocionalmente esgotados.
  • Cultura organizacional tóxica, com comunicação agressiva e competitividade excessiva: Erros no trabalho acontecem, eles fazem parte da jornada profissional. No entanto, nessas estruturas, o erro passa a ser punido em vez de ser acolhido e aperfeiçoado.
  • Falta de reconhecimento e de feedbacks construtivos: A desvalorização do esforço individual provoca desmotivação, queda da autoestima e perda do sentido no trabalho. A longo prazo, essa sensação favorece quadros de exaustão mental e emocional.
  • Ambientes com sobrecarga e jornadas extensas: A naturalização da sobrecarga de tarefas é muitas vezes compreendida como parte da “entrega” ou da “alta performance”, gerando efeitos nocivos nos profissionais.
  • Isolamento e solidão no trabalho remoto: O home office tem permitido uma maior qualidade de rendimento e otimização de tempo, no entanto, pode gerar uma dificuldade de desconexão entre trabalho e vida pessoal.
  • Insegurança em relação à estabilidade no emprego: O cenário de incerteza profissional pode fazer com que as pessoas trabalhem mais do que o acordado, para tentar garantir a sua manutenção na empresa. Medidas como essa aceleram um estado de alerta crônico, podendo evoluir para transtornos mentais graves.
  • Falta de espaço para escuta e acolhimento emocional: A ausência de uma rede de suporte psíquico no ambiente profissional distancia a pessoa da possibilidade de autocuidado e auto identificação de sintomas.



Sinais de que algo não vai bem no trabalho: quando o corpo e a mente avisam

Quando o bem-estar psíquico está comprometido, o impacto aparece não só nos resultados, mas, principalmente, na qualidade de vida.

A mente tem formas (sutis e não sutis) de pedir socorro. Muitas vezes, é o corpo quem fala primeiro. Por isso, estar atento aos sinais de alerta pode evitar que o sofrimento se aprofunde ou se transforme em um quadro clínico grave.

Alguns dos sintomas mais comuns incluem:

  • Cansaço físico e mental persistente, mesmo após períodos de descanso;
  • Distúrbios do sono, como insônia ou sono excessivo sem sensação de repouso;
  • Irritabilidade, impaciência e alterações de humor repentinas;
  • Dificuldade de concentração, lapsos de memória e queda de rendimento;
  • Desmotivação profissional, sensação de vazio ou perda do prazer nas tarefas cotidianas;
  • Sintomas físicos recorrentes, como dores de cabeça, gastrite, tensões musculares ou queda da imunidade;
  • Isolamento social e afastamento das relações afetivas e/ou profissionais.


Esses sinais são mecanismos de defesa do corpo e da mente, que indicam que algo precisa ser olhado com atenção. Quando persistem por semanas, meses ou se intensificam, é essencial buscar apoio especializado.

Atenção: A manifestação desses sintomas pode estar associada a outros transtornos psicológicos como ansiedade e depressão, por isso, é fundamental compreender de onde parte o sofrimento, e qual o peso do trabalho na produção desse sofrimento.



Pessoa adormecida sobre a mesa com abajur aceso, representando exaustão mental após o trabalho
A sobrecarga mental no trabalho é um fator de adoecimento não apenas mental, mas também, psicossomático — Fonte: Mykyta Kravcenko/Unsplash



Burnout e ansiedade: os transtornos mais comuns no trabalho

Dentre os transtornos mais frequentes relacionados ao ambiente profissional, dois se destacam: Síndrome de Burnout e os Transtornos de Ansiedade.

Ambos têm crescido de forma expressiva nos últimos anos, impulsionados por modelos de trabalho excessivamente exigentes e abusivos, além de culturas organizacionais pouco empáticas e uma valorização contínua da hiperprodutividade.

Reconhecida pela OMS desde 2022 como uma doença ocupacional, a Síndrome de Burnout é resultado do estresse crônico relacionado ao trabalho.

Seus sintomas incluem:

  • Exaustão emocional profunda, que não melhora após horas, dias ou semanas de descanso;
  • Distanciamento afetivo ou desinteresse pelo trabalho e pelas relações profissionais;
  • Sensação de baixa realização, como se nenhum esforço fosse suficiente ou reconhecido.


O curso Burnout, Um Problema Atual - Casa do Saber explora alguns casos clínicos para ilustrar os sintomas, desdobramentos e estratégias de tratamento. Saiba mais.

Por sua vez, os Transtornos de Ansiedade no trabalho podem surgir tanto de pressões cotidianas quanto de ambientes saudáveis, tóxicos ou imprevisíveis.

Ele se manifesta de diferentes formas, como:

  • Preocupações constantes e pensamentos acelerados sobre desempenho, cobranças ou possíveis erros;
  • Sensação de que “nada do que se faz é suficiente”;
  • Dificuldade para relaxar, mesmo fora do horário de expediente;
  • Crises de pânico, com sintomas físicos como taquicardia, sudorese, falta de ar ou tremores;
  • Medo paralisante de reuniões, apresentações ou interações com lideranças.


Embora a ansiedade seja uma emoção humana natural, quando se torna crônica e desproporcional ao contexto, passa a comprometer o bem-estar e a performance profissional.

A boa notícia é que tanto a ansiedade quanto o Burnout podem ser prevenidos e tratados. Para isso, é fundamental que empresas adotem práticas estruturadas de cuidado e que os profissionais tenham acesso a apoio psicológico e ferramentas de autoconhecimento.

Como as empresas podem promover a saúde mental?

Cuidar da saúde mental no trabalho se tornou uma necessidade estratégica para empresas e profissionais.

Promover saúde mental no trabalho exige um compromisso institucional que pede mais do que um happy hour empresarial às sextas-feiras. Requer compromisso real com o bem-estar, políticas institucionais claras e uma liderança empática, preparada para lidar com a complexidade humana e com os desafios que essas relações exigem.

Algumas práticas efetivas incluem:

  • Políticas de escuta ativa: Criação de canais seguros para que os colaboradores possam expressar dificuldades e propor melhorias. Rodas de conversas e grupos de apoio também são bem vindos, a fim de proporcionar um ambiente seguro.
  • Pausas reais e respeito aos limites: O incentivo às pequenas pausas durante o expediente e o respeito aos horários de descanso e férias, são fundamentais.
  • Programas de apoio psicológico: Parcerias com clínicas ou plataformas de psicoterapia para profissionais é um passo importante para promover a saúde mental no trabalho. Além disso, treinamentos sobre saúde emocional, empatia e regulação emocional também podem colaborar de modo significativo.
  • Liderança empática e preparada: Gestores treinados em inteligência emocional e comunicação não violenta são formas importantes de construir uma rede profissional mais saudável.
  • Ambientes mais inclusivos: O combate ao assédio e à discriminação é fundamental. Além disso, é relevante pensar em espaços seguros para pessoas com transtornos mentais.
  • Certificação de empresas monitoras de saúde mental: A nova legislação brasileira através da Lei 14.831/2024 prevê um certificado para empresas que adotam boas práticas em saúde mental, reconhecendo e estimulando iniciativas que criem ambientes de trabalho mais saudáveis, além do combate à discriminação e ao assédio em todas as suas formas.


Mas, como diferenciar um ambiente saudável e um ambiente tóxico no trabalho?

Ambiente saudável Ambiente tóxico
Comunicação clara, respeitosa e aberta
Ex: Reuniões onde as opiniões são reconhecidas e ouvidas sem julgamentos.
Comunicação passivo-agressiva ou silenciamento
Ex: Colegas que falam mal pelas costas ou líderes que gritam com a equipe.
Feedbacks construtivos e reconhecimento frequente
Ex: Elogios por metas alcançadas e orientações para melhorias.
Críticas destrutivas e ausência de reconhecimento
Ex: Só receber cobranças ou ser ignorado após esforço extra.
Incentivo ao equilíbrio entre vida pessoal e trabalho
Ex: Flexibilidade para atender compromissos pessoais sem medo.
Exigência de disponibilidade constante e horas extras frequentes
Ex: Receber mensagens fora do expediente e ser cobrado por respostas imediatas.
Oportunidades de crescimento e desenvolvimento
Ex: Treinamentos, mentorias e possibilidades de promoção.
Estagnação e desmotivação crônica
Ex: Ausência de plano de carreira, com pessoas sem perspectivas de crescimento profissional.




O que o trabalhador pode fazer por si mesmo?

Cuidar da saúde mental no trabalho é uma responsabilidade compartilhada entre empresas e profissionais. No entanto, há ações individuais que podem funcionar como âncoras de bem-estar em meio à correria do cotidiano corporativo.

Assumir pequenas atitudes no dia a dia pode fazer diferença real. Não se trata de “dar conta de tudo sozinho”, mas de criar espaços de respiro, refletir sobre os próprios limites e buscar apoio quando necessário.

Veja algumas práticas:

  • Estabelecer limites: Separar tempo de trabalho e tempo pessoal é um passo importante de autocuidado e proteção emocional. Ter horários definidos e respeitá-los ajuda a preservar energia mental e prevenir sobrecargas.
  • Criar pausas e rituais de transição: Caminhadas, alongamentos, respiração consciente entre tarefas, podem ser excelentes aliados. Técnicas como o mindfulness são grandes aliadas na reconexão com o presente.
  • Buscar apoio profissional: A psicoterapia e a participação em grupos de suporte são elementos fundamentais para o cuidado psíquico diante cenários de sobrecarga no trabalho. Com apoio especializado, a pessoa pode encontrar os mecanismos psíquicos para evitar sofrimento e desgaste.
  • Investir em autoconhecimento: Cursos, leitura, práticas de autocuidado e desenvolvimento emocional ampliam a consciência sobre si mesmo e ajudam na construção de relações mais saudáveis no trabalho e na vida.


Cuidar da mente, portanto, não deve ser um luxo, mas sim uma escolha consciente de sustentar e buscar o bem-estar e a qualidade de vida ao longo da trajetória profissional.

Situação comum, mas pouco falada: E quando a pessoa tóxica é o meu chefe?

Infelizmente, lideranças tóxicas existem, e seus impactos na saúde mental podem ser profundos. Supervisores que desqualificam, sobrecarregam, controlam excessivamente ou desrespeitam limites colaboram diretamente para o adoecimento mental.

Se você está vivendo uma situação assim, é importante documentar os comportamentos abusivos ou recorrentes que possam comprovar comportamentos inadequados. Estabeleça limites com assertividade, quando possível, e busque apoio em outros setores da empresa, como RH ou ouvidoria.

É importante também fortalecer a sua rede de suporte fora do trabalho. Além disso, se a situação for insustentável e não houver espaços para mudanças, refletir sobre novas possibilidades profissionais também é um ato de cuidado.

Dicas rápidas para começar agora

A relação entre saúde mental e produtividade é direta: pessoas com bem-estar emocional têm maior capacidade de foco, criatividade, tomada de decisão e relações saudáveis no ambiente corporativo.

Cuidar da mente no dia a dia pode ser mais simples do que parece. Pequenas ações geram grandes impactos ao longo do tempo.

Veja algumas práticas simples para iniciar agora mesmo:

  • Reserve 10 minutos por dia para uma pausa sem telas. Tome um café, faça um alongamento ou simplesmente se desconecte dos estímulos digitais.
  • Desative notificações profissionais fora do expediente.
  • Converse com colegas sobre formas de apoio mútuo.
  • Se você é líder ou gerente, pergunte com genuína escuta “como você está hoje?”
  • Se você é colaborador, permita-se pedir ajuda. Nenhum profissional deve enfrentar o esgotamento sozinho.


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Referências:

http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinannet/cnv/transmentalbr.def

http://www.portalsinan.saude.gov.br/o-sinan

https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2024/04/01/lei-cria-certificacao-para-empresa-que-promove-saude-mental



Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): o que é?
Camila Fortes
Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): o que é?
Entenda o que é o transtorno de ansiedade generalizada (TAG), os sintomas físicos e emocionais, as causas mais comuns e os tratamentos possíveis.

O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é um transtorno psicológico de ansiedade caracterizado por uma preocupação excessiva e persistente com várias áreas da vida, como trabalho, saúde, família ou finanças.

Diferente da ansiedade comum que surge diante de situações específicas e que nos prepara para enfrentar desafios do dia a dia, o TAG provoca uma tensão constante, muitas vezes sem motivo claro ou justificável.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país que possui a população com maior taxa de transtornos de ansiedade no mundo. São cerca de 18 milhões de brasileiros sofrendo com a ansiedade, o que equivale a aproximadamente 9,3% da população do país.

A ansiedade prolongada costuma durar seis meses ou mais, e pode interferir significativamente na vida social, profissional e pessoal do sujeito. Por isso, tem sido cada vez mais importante ampliar as discussões sobre o TAG como uma questão emergente de saúde mental.

Neste artigo, vamos explicar o que é o Transtorno de Ansiedade Generalizada, quais seus sintomas, causas, formas de diagnóstico e opções de tratamento. O objetivo é desmistificar o transtorno, orientar e oferecer informações para quem vive com TAG ou deseja compreender melhor esse quadro.

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O que é Transtorno de Ansiedade Generalizada?

Segundo o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), os sintomas de TAG variam de pessoa para pessoa, mas costumam envolver aspectos físicos, cognitivos e comportamentais.

Enquanto sintoma comum ao transtorno, a pessoa se sente constantemente preocupada e angustiada, tendo dificuldade de controlar os sentimentos. As preocupações podem ser sobre assuntos diversos, e a intensidade, a frequência e a duração costumam ser maiores do que o esperado para aquela situação.

Além disso, outros sintomas podem acompanhar o quadro:

  • Dificuldade para controlar pensamentos ansiosos
  • Sensibilidade acentuada a incertezas
  • Medo de que algo ruim ou grave aconteça o tempo todo
  • Irritabilidade
  • Tensão muscular
  • Fadiga
  • Dores de cabeça
  • Sudorese
  • Palpitações
  • Falta de ar
  • Dificuldade de concentração
  • Distúrbios do sono (insônia e ansiedade noturna)


Esses sintomas podem aparecer em adultos e crianças, embora em cada fase da vida o quadro possa se manifestar de modo diferente. Crianças, por exemplo, podem se mostrar excessivamente preocupadas com o desempenho escolar, a aprovação de adultos ou a saúde de familiares.

Quando procurar ajuda profissional?

É importante procurar ajuda profissional quando a ansiedade começar a interferir na rotina, causando sofrimento constante, insônia, dificuldades de concentração, irritabilidade ou sintomas físicos frequentes, como tensão muscular e fadiga.

Se você sente que está sempre preocupado, mesmo sem motivo claro, ou que não consegue controlar os pensamentos ansiosos, é hora de buscar apoio. Muitas vezes, as pessoas tentam lidar sozinhas por muito tempo, o que pode agravar o quadro.

Não é necessário “esperar piorar” para pedir ajuda. Reconhecer os sinais e agir com cuidado é um passo essencial para retomar o bem-estar.




Causas e fatores de risco do TAG

O TAG não tem uma origem única e bem definida. Em vez disso, costuma surgir a partir da interação complexa entre predisposições biológicas, experiências de vida e características individuais.

A seguir, aprofundamos nas causas e nos principais fatores de risco associados ao TAG:

  • Genética
  • Fatores neurobiológicos
  • Ambiente
  • Traumas
  • Personalidade


Genética:

Pessoas com histórico familiar de transtornos de ansiedade têm maior probabilidade de desenvolver TAG. Fatores genéticos podem influenciar a forma como o cérebro regula a resposta ao estresse, tornando alguns indivíduos mais suscetíveis.

No entanto, a genética por si só não determina o transtorno, ela contribui como uma peça dentro de um conjunto multifatorial.

Fatores neurobiológicos:

Alterações nos níveis de neurotransmissores como serotonina e noradrenalina estão associadas ao desenvolvimento do TAG. Essas substâncias químicas são fundamentais para a regulação do humor, do sono, da resposta ao estresse e da sensação de bem-estar.

Quando há um desequilíbrio nesses sistemas, a pessoa pode experimentar níveis elevados e constantes de ansiedade, mesmo na ausência de ameaças concretas. O uso de substâncias, alterações no sono e deficiências nutricionais, podem gerar esse desequilíbrio.

Ambiente:

Viver em ambientes marcados por estresse contínuo, como pressão excessiva no trabalho, conflitos familiares ou instabilidade financeira, pode favorecer o surgimento de TAG.

A exposição prolongada a situações difíceis sobrecarrega o sistema de regulação emocional, tornando mais difícil lidar com as preocupações do dia a dia.

Traumas:

Eventos traumáticos, sobretudo, na infância, estão fortemente associados a um risco maior de desenvolver transtornos de ansiedade ao longo da vida. Abuso físico ou emocional, separações abruptas ou perdas significativas podem deixar marcas emocionais profundas, alterando os modos como o cérebro percebe e reage ao mundo.

Personalidade:

Pessoas com tendência ao perfeccionismo, ao excesso de responsabilidade ou maior sensibilidade à crítica e ao erro costumam apresentar maior propensão ao TAG. Além disso, indivíduos que evitam situações incertas ou que têm dificuldade em lidar com a imprevisibilidade podem desenvolver padrões de preocupação persistentes.

Entender esses fatores não apenas amplia o conhecimento sobre o transtorno, mas ajuda a combater o estigma.

O TAG não é sinal de fraqueza, exagero ou falta de controle emocional, é uma condição real de saúde mental que requer acolhimento, diagnóstico adequado e tratamento individualizado.

Homem cobrindo o rosto com expressão de angústia, representando sintomas de ansiedade e preocupação excessiva
Preocupação excessiva pode ser um sinal de alerta sobre ansiedade - Fonte: Adrian Swancar/ Unsplash


Diagnóstico: como identificar o TAG

Saber como identificar o TAG é essencial para buscar o tratamento adequado. O diagnóstico deve ser feito por um profissional de saúde mental (psiquiatra ou psicólogo), a partir de uma avaliação clínica detalhada.

Alguns critérios precisam ser considerados no processo de avaliação. Entre eles, é necessário a presença de sinais de ansiedade e preocupação excessiva por mais de seis meses, a dificuldade de controlar as preocupações e o comprometimento funcional nas relações de trabalho, relacionamentos ou estudos. Além disso, também há a necessidade da presença de, no mínimo, três sintomas físicos ou cognitivos associados, como tensão muscular, fadiga, insônia etc.

É fundamental que haja uma investigação sobre os fatores de adoecimento psíquico da pessoa, para então saber como agir. Uma avaliação cuidadosa também considera possíveis comorbidades, como depressão ou outros transtornos de ansiedade - que são frequentemente confundidos.

Diferença entre TAG e outros transtornos de ansiedade

Embora todos os transtornos de ansiedade compartilhem o elemento central da ansiedade, cada um possui manifestações distintas e critérios próprios. Entender essas diferenças é essencial para um diagnóstico preciso e para o direcionamento do tratamento.

TAG e Transtorno de Pânico

O Transtorno de Pânico envolve crises agudas de medo intenso que surgem de forma súbita e sem aviso, com sintomas físicos como falta de ar, palpitações, suor excessivo e sensação de morte iminente. As crises costumam durar poucos minutos, mas geram tanto medo que a pessoa pode evitar sair de casa por receio de que aconteçam novamente.

Enquanto no TAG a ansiedade é contínua e difusa, no pânico ela aparece de forma abrupta e intensa, em episódios delimitados.

TAG e Fobia social (Ansiedade Social)

A fobia social, também chamada de transtorno de ansiedade social, é marcada por um medo intenso de ser julgado ou rejeitado em situações sociais.

No TAG, a preocupação não está centrada em interações sociais, mas se espalha por múltiplos temas do cotidiano. A pessoa com TAG pode até sentir ansiedade social, mas ela faz parte de um quadro mais amplo de preocupações generalizadas.

Assim, a fobia social costuma gerar evitação social significativa, enquanto o TAG impacta a vida como um todo, não apenas as relações interpessoais.

TAG e Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)

O TOC é caracterizado por obsessões (pensamentos ou impulsos repetitivos e indesejados) ou compulsões (rituais mentais ou comportamentais) que a pessoa sente que precisa realizar para neutralizar a ansiedade causada.

Enquanto o TOC tem um ciclo bem definido de obsessão-compulsão, o TAG se expressa por meio de uma ansiedade flutuante, persistente e muitas vezes sem foco específico.

De modo geral, o quadro de sofrimento dos transtornos de ansiedade muitas vezes se dá porque a mente ansiosa busca encontrar as soluções para os cenários prováveis e improváveis diante do acontecimento, como um esforço para se preparar para todas as possibilidades que venham a surgir.

Esse esforço é exaustivo até mesmo fisicamente para a pessoa, por isso, o TAG denuncia esses sinais de forma tão visível. Essa distinção é fundamental para evitar que sintomas graves sejam banalizados ou ignorados.



Tratamento: psicoterapia, medicação e estilo de vida

A ansiedade generalizada tem tratamento. Com acompanhamento adequado, é possível ter uma vida mais equilibrada e com menos sofrimento. Saiba como:

Psicoterapia

A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) é considerada uma das abordagens mais eficazes para tratar o TAG.

Ela ajuda a identificar pensamentos distorcidos e padrões de preocupação e a reduzir comportamentos de evitação. Além disso, auxilia no desenvolvimento de estratégias mais saudáveis e possíveis no enfrentamento da ansiedade.

Outras abordagens terapêuticas também podem ser benéficas, como a Terapia Centrada na Pessoa (TCP), que tem por objetivo o desenvolvimento pessoal do indivíduo a partir da sua capacidade de crescimento e realização.

Além disso, atividades como meditação, mindfulness, yoga e técnicas de interação entre mente e corpo, podem auxiliar na redução dos sintomas e na formação de técnicas de respiração que auxiliem a pessoa.


Medicamentos

Em alguns casos, o uso de medicamentos pode ser indicado por psiquiatra para tratar o transtorno de ansiedade generalizada.

Os mais comuns incluem os antidepressivos, que atuam regulando os neurotransmissores envolvidos na ansiedade. Também podem ser receitados os ansiolíticos, indicados apenas em curto prazo ou em momentos de crise, devido ao risco de dependência e efeitos colaterais.

O tratamento com medicamentos deve ser sempre supervisionado por um(a) psiquiatra, considerando a resposta individual, os efeitos colaterais e a necessidade de ajuste ao longo do tempo. A medicação costuma ser mais eficaz quando combinada com a psicoterapia.

Mudanças no estilo de vida

Apesar da rotina dificultar as possibilidades de alterações expressivas no dia a dia, alguns pequenos passos podem gerar um impacto significativo no estilo de vida de uma pessoa com ansiedade generalizada.

A redução do consumo de álcool e cafeína, o exercício de técnicas de respiração e relaxamento, mesmo que breves, já auxiliam a diminuir os sintomas de ansiedade.

Além disso, a prática de, pelo menos, 30 minutos de exercício físico de duas a três vezes na semana, uma noite de sono de, no mínimo, 6 horas, e uma alimentação mais equilibrada, também podem ajudar de modo expressivo na redução dos sintomas.

Mulher sentada em posição de meditação com mãos unidas, praticando técnicas de respiração para controlar a ansiedade
O exercício de técnicas de respiração é um excelente aliado para lidar com a ansiedade - Fonte: THLT LCX/Unsplash

Conviver com TAG: dicas para o dia a dia

Viver com TAG exige desenvolver autoconhecimento, paciência e ferramentas práticas de regulação emocional. Para isso, é necessário buscar algumas estratégias para cuidar da saúde mental, que podem ajudar a lidar com a ansiedade no cotidiano.

➡️ Crie uma rotina estruturada, com horários previsíveis

Este hábito ajuda o cérebro a reduzir a sensação de descontrole. Inclua pequenas pausas, momentos de lazer e descanso, sempre que possível.

➡️Pratique a auto observação com gentileza.

Perceba quais situações aumentam a sua ansiedade e quais ajudam a aliviá-la. Evite julgamentos duros sobre si mesmo, seja paciente consigo e com o seu processo.

➡️ Utilize listas, aplicativos ou planejadores

Para algumas pessoas com ansiedade, a utilização de recursos de organização externa podem ser verdadeiros aliados, ajudando a externalizar preocupações e a reduzir a sobrecarga mental.

➡️ Compartilhe emoções com pessoas de confiança ou em ambientes terapêuticos

Conversar sobre os seus sentimentos também é um recurso importante, pode aliviar o peso da preocupação constante.

➡️ Evite gatilhos quando possível

Filtre conteúdos em redes sociais, limite a exposição a notícias sensacionalistas ou reorganize o ambiente físico pode ajudar.

Essas práticas não eliminam completamente a ansiedade, mas ensinam a lidar com ela de forma mais equilibrada.

Perguntas frequentes

O que caracteriza o transtorno de ansiedade generalizada?

Preocupação excessiva e difícil de controlar sobre várias áreas da vida, presente na maior parte dos dias por pelo menos 6 meses, acompanhada por sintomas físicos como tensão muscular, irritabilidade, fadiga, dificuldade de concentração e problemas para dormir.

O que provoca o TAG?

Fatores genéticos, desequilíbrios químicos no cérebro, estresse prolongado, traumas e fatores ambientais.

Qual a diferença entre ansiedade e ansiedade generalizada?

Ansiedade é uma reação normal a situações estressantes ou ameaças reais e temporárias. Já o transtorno de ansiedade generalizada é uma condição crônica em que a ansiedade é excessiva, persistente, difícil de controlar e interfere significativamente na vida diária, mesmo sem um motivo claro ou específico.



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Referências

https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/transtornos-de-ansiedade-e-relacionados-a-fatores-estressantes/transtorno-de-ansiedade-generalizada#Tratamento_v747156_pt

Transtorno Bipolar: o que é, sintomas, tipos e tratamentos
Camila Fortes
Transtorno Bipolar: o que é, sintomas, tipos e tratamentos
Entenda o que é o transtorno bipolar, quais os sintomas de mania e depressão, os diferentes tipos (tipo 1, tipo 2, ciclotimia), as causas e os tratame

O transtorno bipolar, também denominado Transtorno Afetivo Bipolar, é uma condição de saúde mental que afeta o humor, a energia, o sono e a capacidade de uma pessoa manter atividades cotidianas.

Quem convive com essa condição pode experimentar oscilações intensas entre períodos de euforia (também chamadas de mania ou hipomania) e episódios de tristeza profunda.

Embora essas mudanças de humor façam parte da vida de todos, no transtorno bipolar, elas são mais intensas e duradouras, impactando significativamente o bem-estar.

Falar sobre transtorno bipolar é um passo essencial para reduzir estigmas e ampliar a compreensão sobre os transtornos mentais. Por isso, neste texto, iremos explicar o que é o transtorno de bipolaridade, seus sintomas, tipos, causas, tratamento e diferenças em relação a outras condições psiquiátricas.

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O que é transtorno bipolar?

O transtorno bipolar é uma transtorno crônico caracterizado por alterações marcantes no humor. Essas alterações se constituem através de episódios de mania e depressão, e variam em intensidade e duração.

Segundo a Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB), estima-se que aproximadamente 8 milhões de pessoas vivem com bipolaridade no Brasil. Esse número corresponderia entre 1% a 2,5% da população brasileira.

Há diferentes tipos de transtorno bipolar, com manifestações clínicas e intensidades diferentes. Para auxiliar na compreensão das suas particularidades, partiremos dos sintomas centrais de:

  • Mania – estado de humor anormalmente elevado, expansivo ou irritável, com aumento intenso de energia, impulsividade e, em alguns casos, sintomas psicóticos.
  • Hipomania – forma mais leve da mania, com aumento de energia, autoestima e produtividade, sem desconexão da realidade nem prejuízo social grave.
  • Depressão – quadro de humor persistentemente rebaixado, marcado por tristeza profunda, falta de interesse, cansaço extremo e pensamentos negativos ou suicidas.


Então, quais os tipos de transtorno bipolar?

Transtorno Bipolar Tipo 1:

A bipolaridade tipo 1 é a forma mais conhecida e intensa do transtorno. A principal característica é a presença significativa de episódios maníacos completos, ou seja, a pessoa apresenta um humor anormalmente elevado, expansivo ou irritável, com aumento acentuado de energia.

Esses comportamentos podem parecer “produtivos” ou até positivos no começo, mas geralmente saem do controle e trazem prejuízos graves. Esse tipo de bipolaridade pode levar a tomada de decisões impulsivas ou comportamentos de risco.

Importante:

A pessoa com bipolaridade tipo 1 pode ou não apresentar episódios depressivos. Ou seja, o diagnóstico não depende da presença de fases de depressão.

Algumas pessoas vivenciam apenas episódios maníacos com períodos de estabilidade entre eles, sem necessariamente ter uma fase de depressão. Outras alternam entre mania e depressão ao longo do tempo. O reconhecimento precoce dos sintomas, tanto da euforia quanto da queda de humor, é essencial para buscar tratamento adequado e garantir qualidade de vida.




Transtorno Bipolar Tipo 2:

A bipolaridade tipo 2 costuma ser mais difícil de identificar na medida em que os episódios de euforia são mais leves.

A principal característica aqui é a presença de episódios depressivos alternados com episódios de hipomania, ou seja, uma versão mais branda da mania em que a pessoa fica mais animada e falante, mas sem perder o contato com a realidade.

A hipomania pode passar despercebida tanto pela pessoa quanto por quem convive com ela, pois os comportamentos extrovertidos tendem a parecer apenas traços da personalidade.

No entanto, o que caracteriza o transtorno bipolar tipo 2 é justamente essa alternância entre períodos de depressão profunda e momentos de energia elevada, ainda que menos intensos que na mania.

Transtorno Ciclotímico (ou ciclotimia)

É uma forma mais leve e crônica do transtorno bipolar. A pessoa apresenta oscilações frequentes de humor que não chegam a ser episódios completos de mania ou depressão, mas que duram, em adultos, dois anos ou mais.

Em outras palavras, os altos e baixos não são tão intensos, mas se repetem com uma certa frequência ao longo do tempo.

Transtorno Bipolar induzido por substância ou medicamento

O transtorno bipolar induzido por substância ou medicamento é um subtipo reconhecido pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). Essa forma acontece após intoxicação ou abstinência de alguma substância ou exposição a algum medicamento que produz os mesmos sintomas.

Isso significa que, nesses casos, o episódio de mania, hipomania ou depressão não é causado por condições psiquiátricas, mas sim por uma resposta direta do cérebro à substância envolvida.

Drogas recreativas, medicamentos e álcool podem desencadear sintomas graves de humor.

É importante destacar que, embora os sintomas possam ser muito semelhantes aos do transtorno bipolar tradicional, o diagnóstico exige que fique claro o vínculo temporal e causal entre o uso da substância e o início dos sintomas.

Em muitos casos, ao cessar o uso da substância e com acompanhamento adequado, os sintomas desaparecem. No entanto, em outros, o episódio pode desencadear um quadro bipolar persistente, especialmente em pessoas com predisposição genética ou histórico familiar.

Quais os sintomas do transtorno bipolar?

Os sintomas do transtorno bipolar variam de acordo com a fase em que a pessoa se encontra.

Na fase de mania, os sintomas se caracterizam por:

  • Sensação de euforia, otimismo excessivo ou irritabilidade intensa;
  • Aumento de energia e diminuição da necessidade de sono;
  • Fala e pensamentos acelerados e por vezes, desorganizados;
  • Apresenta pressão no discurso, sendo difícil interromper;
  • Comportamentos impulsivos (gastos excessivos ou envolvimento em situações de risco);
  • Dificuldade de concentração.


Na fase de hipomania, os sintomas são semelhantes à mania, mas em menor intensidade. Há um aumento da produtividade e da energia, mas sem prejuízos tão evidentes. Pode ser percebido como um “bom humor fora do comum”, dificultando o diagnóstico.

Já na fase depressiva, os sintomas são:

  • Tristeza profunda;
  • Desesperança;
  • Isolamento social;
  • Fadiga e perda de interesse em atividades antes prazerosas;
  • Excesso de sono;
  • Falta de apetite;
  • Pensamentos de inutilidade, culpa excessiva ou ideação suicida.


É importante destacar que o tempo de duração dos episódios pode ser de semanas, meses ou anos.

Além disso, nem todas as pessoas com transtorno bipolar apresentam episódios maníacos e depressivos de forma equilibrada. Alguns podem ter mais episódios depressivos, o que leva à confusão entre transtorno bipolar e depressão.



Quais as causas e fatores de risco para o transtorno bipolar?

Não há uma causa única para o transtorno bipolar. O que se sabe é que ele resulta de uma combinação de fatores biológicos, genéticos e ambientais.

Pessoas com histórico familiar de transtorno bipolar têm maior risco de desenvolver a condição. Por isso, é fundamental investigar não apenas diagnósticos, mas também sintomas e características somáticas do núcleo familiar.

Alterações neuroquímicas também podem exercer influência para o desenvolvimento de um transtorno bipolar. Desequilíbrios em neurotransmissores como dopamina e serotonina podem estar envolvidos.

Além disso, eventos estressantes como traumas, perdas ou situações de perigo intenso podem funcionar como gatilhos para o surgimento de sintomas do transtorno bipolar, assim como mudanças bruscas no ritmo de vida.

A identificação precoce dos sinais e dos fatores de risco pode evitar o agravamento do quadro e reduzir os impactos negativos.

Retrato com múltipla exposição de mulher sugerindo transtorno de identidade ou instabilidade emocional

Fonte: May/ Unsplash

Diagnóstico de transtorno bipolar e confusões comuns

O diagnóstico de transtorno bipolar exige cuidado, pois pode ser um desafio, tanto para quem convive com os sintomas quanto para os profissionais da saúde. Isso acontece porque os sinais podem se sobrepor a outros transtornos psíquicos, como a depressão, ansiedade, TDAH ou até mesmo o transtorno de personalidade borderline.

Um dos equívocos mais frequentes é confundir o transtorno bipolar com mudanças normais de humor. É importante lembrar que todos temos dias bons e ruins, mas no transtorno bipolar essas oscilações são mais intensas, duradouras e impactam diretamente na vida da pessoa.

Outro erro comum é associar a bipolaridade apenas à instabilidade emocional. Muitas vezes, o termo é usado de forma banal e preconceituosa, como quando se diz que alguém é “bipolar” porque muda de ideia ou humor rapidamente. Essa perspectiva reforça estigmas e minimiza o sofrimento de quem convive com a condição.

O diagnóstico é clínico, feito por um(a) psiquiatra, com base em entrevistas, histórico médico e observação dos sintomas ao longo do tempo. Em alguns casos, o diagnóstico pode levar anos para ser fechado, especialmente quando os episódios de hipomania passam despercebidos ou são vistos como “momentos de alegria”.

É fundamental buscar ajuda especializada, pois um diagnóstico correto é o primeiro passo para um tratamento eficaz e para a melhoria da qualidade de vida.


Quais os tratamentos para o transtorno bipolar?

O tratamento para transtorno bipolar envolve uma combinação de medicamentos, psicoterapia e cuidados com o estilo de vida. O objetivo é prevenir recaídas e melhorar a qualidade de vida da pessoa em suas atividades no dia a dia. Por isso, normalmente, o tratamento é composto por:

  • Estabilizadores de humor: são medicamentos que auxiliam a controlar as fases de mania e depressão. O lítio é um dos mais utilizados, mas existem outras opções, como anticonvulsivantes com efeito estabilizador.
  • Antidepressivos e antipsicóticos: os antidepressivos devem ser prescritos juntamente aos estabilizadores de humor para evitar que a pessoa “vire” para a fase da mania. Os antipsicóticos ajudam no controle de sintomas graves, como delírios ou agitação.
  • Psicoterapia: a psicoterapia no transtorno bipolar é uma aliada fundamental. Abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) podem ajudar a identificar os gatilhos emocionais e criar estratégias para lidar com recaídas e instabilidades.
  • Estilo de vida e autocuidado: dormir bem, manter uma rotina equilibrada, evitar uso de substâncias psicoativas como álcool e drogas, praticar atividades físicas e cultivar relações saudáveis são pilares do tratamento. Essas mudanças contribuem para reduzir os ciclos de humor e dar mais estabilidade emocional.


Assim, o tratamento para a bipolaridade não se resume ao controle medicamentoso, mas envolve uma abordagem integrada e contínua que considera o bem-estar físico, emocional e social da pessoa.


Como conviver com transtorno bipolar?

Conviver com o transtorno de bipolaridade pode ser desafiador, mas é possível levar uma vida saudável com suporte e apoio.

O primeiro passo é reconhecer o diagnóstico como parte da jornada de cuidado com a saúde mental, e não como uma sentença.

Para quem vive com o transtorno, é fundamental conhecer os modos como as fases da bipolaridade acontecem consigo. Entender os sinais iniciais de mania, hipomania ou depressão ajuda a agir com antecedência.

Ter uma rede de apoio é fundamental, por isso, converse com amigos, familiares e grupos de suporte. Além disso, evite estigmas internos. Não se culpe por algo que está além da sua vontade. Você não é o transtorno, você convive com ele.

Já para quem convive com alguém que tem o transtorno, a orientação é a informação. Compreender o que é o transtorno bipolar, oferecer apoio sem julgamentos ou controle, estar presente e respeitar os limites da outra pessoa, é um movimento indispensável.

Esteja atento às mudanças na rotina da pessoa, pois há sinais que podem indicar uma nova fase do transtorno. Familiares e amigos também precisam de apoio emocional, por isso, invista no seu processo terapêutico.

Perguntas frequentes

  • Quais os primeiros sinais de bipolaridade?

    Incluem mudanças bruscas no humor, com momentos de energia intensa e euforia que se alternam com períodos de tristeza profunda, irritabilidade, insônia e comportamento impulsivo.

  • Qual o comportamento de uma pessoa bipolar?

    Pode variar conforme o quadro: ela pode apresentar episódios de mania, caracterizados por agitação, fala acelerada e impulsividade, e fases depressivas, marcadas por desânimo, falta de energia e isolamento social.

  • Quais são as fases do transtorno bipolar?

    São três fases principais: a fase maníaca ou hipomaníaca, com humor elevado e hiperatividade; a fase depressiva, com sintomas de tristeza e apatia; e episódios mistos, quando sinais de mania e depressão ocorrem ao mesmo tempo. Entre esses momentos, a pessoa pode viver períodos de estabilidade emocional.



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Referências

https://portal.al.go.leg.br/noticias/131102/transtorno-bipolar#:~:text=No%20Brasil%2C%20a%20Associa%C3%A7%C3%A3o%20Brasileira,de%20incapacita%C3%A7%C3%A3o%20quando%20n%C3%A3o%20tratada.

Transtorno de Borderline: o que é, sintomas, causas e tratamento
Camila Fortes
Transtorno de Borderline: o que é, sintomas, causas e tratamento
Entenda o que é o transtorno de personalidade borderline, sintomas, causas e tratamentos possíveis. Veja como lidar com e cuidados necessários.

Viver com o transtorno de borderline (ou transtorno de personalidade borderline - TPB) pode ser uma experiência intensa e muitas vezes solitária, tanto para quem recebe o diagnóstico quanto para familiares e pessoas próximas.

Embora não existam dados e estatísticas sobre a incidência de pessoas com transtorno de borderline no Brasil, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) estima que cerca de 2 milhões de brasileiros vivem com essa condição.

Apesar de afetar milhões de pessoas no mundo todo, o transtorno ainda é cercado de estigmas, julgamentos e desinformação, o que dificulta ainda mais a relação com a condição psíquica.

Ainda assim, o diagnóstico de borderline muitas vezes é tardio, equivocado ou envolto de preconceitos, o que pode dificultar o acesso ao tratamento adequado.

Compreender o que é ser borderline é um passo essencial para promover cuidado em saúde mental. Não se trata de rotular ou reduzir a pessoa ao diagnóstico, mas de reconhecer sinais, oferecer apoio e ampliar o acesso a tratamentos eficazes.

Por isso, neste texto, trataremos sobre o que é o transtorno de borderline, quais os sintomas e fatores de risco, além de o diferenciar de outros transtornos e explorar as possibilidades de tratamento.

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O que é o transtorno de borderline?

O transtorno borderline (CID F60.3) é um tipo de transtorno de personalidade marcado por instabilidade emocional intensa. É acompanhado de comportamentos impulsivos, medo persistente de abandono e dificuldade em manter relacionamentos estáveis.

Também conhecido como síndrome de borderline, o TPB interfere diretamente na forma como a pessoa se percebe, se relaciona e lida com o mundo ao redor.

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM V, o TPB afeta a percepção do indivíduo, criando um padrão de instabilidade que altera a forma como ele se relaciona com pessoas e situações no cotidiano.

Pessoas com transtorno de borderline costumam vivenciar emoções de modo extremo, com flutuações rápidas de humor e reações desproporcionais a eventos rotineiros. Essa dificuldade de regulação emocional pode causar sofrimento significativo e impactar a qualidade de vida da pessoa.

Em geral, o comportamento de uma pessoa com TPB se manifesta como se ela estivesse sempre prestes a explodir, em um limite emocional. Há uma intensa dificuldade em lidar com frustrações, por isso, a oscilação de humor e a impulsividade são características tão presentes.

Para a neuropsicologia, o transtorno de borderline apresenta um déficit nas funções executivas, como a ausência de um controle inibitório e a desregulação emocional. Além disso, há comprometimento nos estímulos psíquicos, na memória e na capacidade de percepção visual e espacial.

Quais os principais sintomas do transtorno de borderline?

Os sintomas do transtorno de borderline variam em intensidade e frequência, mas costumam seguir alguns padrões característicos.

Listamos abaixo os sintomas mais comuns, segundo o DSM-V:

  • Instabilidade emocional: mudanças rápidas de humor, com episódios de raiva, estresse, tristeza, melancolia ou ansiedade;
  • Impulsividade: comportamentos autodestrutivos, como gastos excessivos, abuso de substâncias, apostas em jogos de azar, direção imprudente ou relações sexuais de risco;
  • Medo intenso de abandono: esforço constante para evitar rejeições reais ou imaginadas, com reações exageradas a pequenas ausências ou mudanças;
  • Relacionamentos instáveis e intensos: alternância entre a idealização e a desvalorização das pessoas próximas;
  • Autoimagem instável: sentimento de vazio com o que vê no espelho, baixa autoestima;
  • Automutilação e comportamento suicida: cortes, queimaduras ou pensamentos frequentes sobre a morte podem surgir como formas de lidar com a dor emocional;
  • Desconfiança ou dissociação: episódios breves de paranoia ou sensação de desligamento com a realidade, especialmente em momentos de estresse emocional.

Pessoas com transtorno de borderline podem sabotar a si mesmos quando estão prestes a alcançar um objetivo. Abandonar a universidade ou pedir demissão de um emprego promissor, podem ser alguns exemplos.

No entanto, nem toda pessoa com o transtorno apresenta todos os sintomas. Há também tipos de borderline com diferentes perfis predominantes. São eles: borderline impulsivo, borderline afetivo e borderline autodestrutivo.

Os sintomas se apresentam na adolescência, mas podem ser visíveis no início da fase adulta.


Jovem com expressão de tristeza sentado em cadeira próxima à janela, sinal de sofrimento emocional

Fonte: Elisa Ventur/ Unsplash

Quais as causas e fatores de risco para o transtorno de borderline?

Não existe uma causa única para o transtorno de personalidade borderline. A maioria dos especialistas aponta para uma combinação entre fatores biológicos, psicológicos e ambientais.

Históricos de traumas na infância, como abuso físico, emocional ou sexual, podem desencadear a condição. Ambientes familiares negligentes ou instáveis, com vínculos inseguros, também podem ser responsáveis.

Além disso, há fatores genéticos, especialmente quando se apresenta um histórico familiar de transtornos de personalidade. De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria (AAP), parentes de primeiro grau de pacientes com transtorno de borderline são 5 vezes mais propensos a ter a condição do que a população em geral.

Também não podem ser desconsideradas as alterações neurobiológicas, que são relacionadas ao funcionamento do córtex pré-frontal e que é uma área ligada à regulação emocional.

É fundamental destacar que não há uma culpa pelo desenvolvimento do transtorno. Assim, a compreensão sobre suas causas é complexa e ainda está em evolução e investigação.


Como se dá o diagnóstico de borderline?

O diagnóstico de borderline deve ser feito por um profissional de saúde mental, com base em uma avaliação clínica aprofundada. É necessário considerar a história de vida da pessoa, seus sintomas e o impacto dessas características na rotina diária.

O diagnóstico é feito com base em entrevistas clínicas estruturadas, que podem incluir testes psicológicos e conversas com pessoas próximas, quando autorizado pelo paciente. Esse processo pode levar algum tempo, justamente porque o transtorno envolve uma série de sintomas que podem variar em intensidade e contexto.

Quando realizado com ética e sensibilidade, o diagnóstico de TPB torna-se o primeiro passo para um cuidado real, que considera não apenas os sintomas, mas também a complexidade de quem vive com o transtorno.

⚠️ Atenção: Evite autodiagnósticos
A sobreposição de sintomas com outros transtornos como ansiedade, depressão, bipolaridade ou outros transtornos de personalidade, exige o olhar qualificado de um psicólogo ou psiquiatra.


Confusões com outros transtornos

Não são incomuns os diagnósticos equivocados de transtorno de borderline. Isso se dá porque os sintomas se assemelham a outros transtornos, como os transtornos de ansiedade, por conta da intensidade emocional, e os transtornos depressivos, em decorrência dos sentimentos persistentes de vazio, tristeza e desesperança.

Por causa dos comportamentos que reforçam uma busca por atenção, o TPB também pode ser confundido com o transtorno de personalidade narcisista. Apesar dos sintomas se assemelharem a essas condições, o mais comum é a confusão com o transtorno de bipolaridade.

Mas, qual a diferença?

Tanto o transtorno bipolar quanto o borderline envolvem alterações de humor, mas há distinções importantes entre eles. No transtorno bipolar, os episódios de euforia (mania) ou depressão costumam durar dias ou semanas, com variações clínicas.

Já no borderline, as mudanças emocionais são mais reativas e rápidas, podendo durar horas ou dias. São muitas vezes desencadeadas por eventos interpessoais, como frustrações, desentendimentos e outros tipos de estresse cotidiano.

Vamos compreender melhor as suas diferenças:

Característica Transtorno de Borderline Transtorno Bipolar
Duração das oscilações de humor Rápidas e reativas. Podem durar de horas a dias. Episódicas, durando dias ou semanas.
Gatilho emocional Reações a eventos interpessoais mais delimitados em relacionamentos afetivos, sejam eles familiares, profissionais ou amorosos. Ex: Desentendimento com a mãe ou com colega de trabalho. Alterações cíclicas, sem gatilhos específicos ou muito claros. Não se concentram apenas nos relacionamentos afetivos. Ex: Uma fila no banco ou um atraso no voo.
Autoimagem Instável, com sentimentos crônicos de vazio Preservada fora dos episódios de crise
Comportamentos autodestrutivos Comuns, incluindo automutilação, tentativas de suicídio e impulsividade Podem ocorrer em fases de depressão, mas não são tão centrais ao quadro.
Mudanças emocionais São ligadas à forma como a pessoa se sente em relação a si mesma e aos outros. São alterações mais cíclicas e biológicas do humor.
Tratamento principal Psicoterapia Medicamentos estabilizadores de humor


As particularidades de cada diagnóstico reforçam a importância de uma avaliação cuidadosa, não apenas para nomear o sofrimento, mas para direcionar o cuidado de forma eficaz e assertiva.


É importante lembrar que os transtornos mentais não são “rótulos”, e sim construções clínicas que ajudam a entender padrões de funcionamento psíquico, para se oferecer suporte adequado.

Por isso, é fundamental investigar os sintomas junto de um profissional da psicologia e/ou da psiquiatria. Buscar informação confiável e reconhecer que o diagnóstico é apenas uma parte da vida, pode ajudar a reduzir o medo e o estigma que muitas vezes envolvem a saúde mental.

Quais os tratamentos para o transtorno de borderline?

O transtorno de borderline tem tratamento e, com acompanhamento adequado, é possível viver com mais estabilidade, autonomia e bem-estar.

  • Psicoterapia

    A psicoterapia é o principal recurso terapêutico. Entre as abordagens mais recomendadas pelos profissionais, destaca-se a Terapia Comportamental Dialética (TCD), criada por Marsha Linehan. A TCD combina técnicas da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) com práticas de mindfulness.

    O principal foco dessa abordagem é aprender a regular as emoções, reduzir os comportamentos autodestrutivos, melhorar a capacidade de lidar com conflitos e fortalecer a autoestima e o senso de identidade.

    Outras abordagens terapêuticas como a psicanálise também podem ser eficazes, especialmente quando adaptadas às necessidades da pessoa.

    O mais importante é que o tratamento seja construído de forma individualizada, respeitando o tempo e o limite de quem está em sofrimento.


  • Medicamentos

    Não existem medicamentos específicos para tratar o transtorno de borderline, no entanto, algumas classes podem ser prescritas para amenizar os sintomas associados.

    Antidepressivos, estabilizadores de humor e antipsicóticos (em casos de sintomas graves) podem auxiliar no tratamento e regulação emocional. Essas medicações não curam o transtorno de borderline, mas podem ser importantes aliadas na redução dos sintomas que comprometem o bem-estar.

    Por exemplo: pessoas com transtorno de borderline que convivem com crises de ansiedade severas, episódios depressivos profundos ou impulsividade autodestrutiva podem encontrar maior estabilidade emocional com o uso de remédios, sempre como parte de um plano terapêutico mais amplo.

    É importante ressaltar que a automedicação não é orientada em nenhuma hipótese. O uso de medicamentos precisa ser acompanhado por um médico psiquiatra.

  • Rede de apoio e suporte

    Participar de grupos terapêuticos, ter uma rede de apoio sólida e contar com profissionais de saúde mental faz toda a diferença. A construção de vínculos seguros, dentro e fora do espaço clínico, é parte fundamental do processo.

    Nesse sentido, o tratamento para o transtorno de borderline envolve não apenas o cuidado individual, mas também o fortalecimento de laços e a construção de um ambiente que favoreça o bem-estar emocional.

Mulher estressada diante de notebook, sinais de esgotamento e ansiedade no ambiente de trabalho

Fonte: Elisa Ventur/ Unsplash



Como lidar com uma pessoa borderline?

Conviver com uma pessoa com transtorno de borderline pode ser desafiador, mas também é uma oportunidade para aprofundar vínculos e promover cuidado mútuo.

A escuta empática, sem minimizar o sofrimento, é essencial. Evite julgamentos sobre comportamentos impulsivos ou emocionais, e estabeleça limites saudáveis, com clareza e gentileza.

Informe-se sobre o transtorno e seus sintomas, para compreender melhor suas complexidades. Incentive o tratamento e acompanhe a evolução com paciência.

O apoio de familiares e amigos pode ser decisivo no processo de recuperação e/ou tratamento, mas também é fundamental que essa rede de apoio cuide da própria saúde mental.

Conclusão: a informação é o principal acesso para o cuidado

Falar sobre o transtorno de personalidade borderline com clareza, empatia e responsabilidade é um passo fundamental para construir uma sociedade mais acolhedora e informada sobre saúde mental.

Por isso, é essencial que busquemos oferecer espaço para o conhecimento e a escuta qualificada. Muitas pessoas convivem com essa condição em silêncio por conta dos estigmas, o que pode agravar ainda mais o sofrimento emocional.

O transtorno de borderline não é uma sentença, é uma condição de saúde que exige atenção, compreensão, tratamento e apoio contínuo. Com cuidado adequado, é possível construir caminhos de autonomia, afeto e pertencimento, mesmo diante dos desafios.

Se você ou alguém próximo apresenta sinais semelhantes aos descritos, procure ajuda profissional para investigar com mais atenção. O diagnóstico e o tratamento precoces fazem toda a diferença.

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Referências

https://revistardp.org.br/abp/article/view/1103

Revista-esfera-saude-v06-n02-artigo02.pdf

American Psychiatric Association: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5th ed, Text Revision (DSM-5-TR). Washington, DC, American Psychiatric Association, 2022, pp 755.

Como cuidar da saúde mental: dicas para o bem-estar emocional
Camila Fortes
Como cuidar da saúde mental: dicas para o bem-estar emocional
Veja como cuidar da saúde mental com práticas embasadas na psicologia, psicanálise e neurociência. Veja dicas de autocuidado, terapia e rotina.

Em um mundo cada vez mais acelerado e hiperconectado, cuidar da saúde mental deixou de ser uma recomendação pontual e tornou-se uma urgência da contemporaneidade.

As pressões no trabalho, as instabilidades nos relacionamentos, o excesso de estímulos e a crescente incidência de transtornos como ansiedade, depressão e Burnout, nos mostram que o autocuidado precisa ser mais profundo do que um momento de lazer ou descanso.

Neste texto, você encontrará dicas de cuidado com a saúde mental a partir de diferentes dimensões — emocional, relacional, corporal e simbólica — com base em princípios da psicologia, da psicanálise e da neurociência.

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Entenda o que é saúde mental — e o que não é

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde mental como um estado de bem-estar no qual o indivíduo percebe suas próprias habilidades, consegue lidar com as adversidades da vida, trabalhar de forma produtiva e contribuir com a comunidade.

A saúde mental está longe de ser apenas a ausência de transtornos mentais. Trata-se de uma construção dinâmica, que envolve a capacidade de lidar com os altos e baixos da vida, elaborar emoções, manter relações significativas e encontrar sentido na própria existência, mesmo diante das incertezas, frustrações e sofrimentos que fazem parte da experiência humana.

Esse entendimento rompe com a ideia de que “ser forte” é não sentir ou não demonstrar emoções. Pelo contrário: é justamente o contato consciente com nossas emoções que fortalece a nossa saúde psíquica.

Portanto, mais do que um ideal de equilíbrio constante, a saúde mental deve ser compreendida como uma travessia possível, feita de pequenas escolhas, apoios e significados que se renovam no tempo.

Vamos entender melhor como isso é possível.


Crie rotinas de autocuidado com intenção — e não com culpa

O autocuidado em saúde mental não precisa ser caro, instagramável ou complexo. Ele começa em pequenas escolhas do cotidiano que ajudam a regular o corpo e a mente. Mas para funcionar, precisa ser feito com intenção e sem culpa, a partir de um contexto real, ou seja, do que é possível.

Algumas soluções podem ser praticadas aos poucos:

  • Durma pelo menos 6 horas por noite: o sono regula hormônios do humor, da memória e da atenção.
  • Faça pequenas pausas com movimento: alongue os ombros, o pescoço e respire fundo entre as tarefas do dia a dia.
  • Caminhe, dance ou faça atividades de movimento corporal regularmente: atividades físicas leves ajudam a liberar serotonina e dopamina, ou seja, hormônios responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar.
  • Desligue notificações do celular por 1 hora ao dia: isso ajuda a reduzir estímulos e favorece o foco e o descanso cerebral.
  • Experimente práticas de mindfulness: comece com 3 minutos diários prestando atenção na respiração ou nas sensações do corpo.

Na neurociência, esses pequenos cuidados estão relacionados à ativação do sistema parassimpático, que ajuda a regular o estresse e promove sensações de segurança e calma. Assim, perceber o autocuidado como uma etapa da rotina é um passo importante para se construir um bem-estar psicológico.

Homem negro meditando com fones de ouvido em casa, prática de autocuidado e bem-estar emocional
A prática do mindfulness pode ajudar na saúde mental (Fonte: nubelson-fernandes/unsplash)



Pratique a escuta interna e nomeie as suas emoções

A psicanálise nos ensina que nomear o que sentimos é o primeiro passo para elaborar um pensamento. Muitas vezes sofremos mais pela tentativa de negar o que sentimos do que pela emoção em si.

Sentir irritação frequentemente pode estar relacionado a frustrações acumuladas. Ao nomear isso, você se aproxima da raiz do desconforto, construindo uma ponte entre o que sente e o acontecimento de fato. Assim, o ato de verbalizar sentimentos, sensações e percepções ajuda não apenas em um processo de autoconhecimento, mas também de estímulo à saúde mental.

A psicologia também trabalha essa compreensão: identificar e validar as emoções reduz a ativação da amígdala cerebral, diminuindo o impacto do estresse e aumentando a regulação emocional.

💡 Dica prática: mantenha um caderno de emoções, anotando o que você sentiu e o que desencadeou essa sensação. Esse hábito irá auxiliar a compreender a situação e a si mesmo com um olhar mais gentil.

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Cuide do corpo: movimento e regulação

Nosso corpo é também um instrumento de percepção emocional. Sensores no corpo nos avisam do estresse antes mesmo de termos consciência dele. Por isso tem se tornado cada vez mais comum a manifestação de doenças psicossomáticas na sociedade, pois o corpo denuncia e dá sinais de alerta.

Uma tensão no maxilar, uma respiração curta e o coração acelerado, são sinais importantes que exigem atenção. Dores nas costas, pés e articulações, além da sensação de falta de descanso mesmo quando o corpo relaxou por horas, também são indícios de que há algo que precisa ser investigado e tratado.

Mas, como romper com isso? Práticas regulares como caminhada, alongamento, yoga ou dança ativam circuitos cerebrais ligados aos prazer, à concentração e à disposição. Estudos mostram que o movimento corporal regular reduz os níveis de cortisol (hormônio do estresse) e melhora a capacidade de foco.

Além disso, o mindfulness também pode ser um excelente aliado: ao prestar atenção às sensações físicas sem julgá-las, criamos uma ponte entre mente e corpo. Isso contribui não apenas para a redução da ansiedade, mas também na prevenção e na diminuição de outros quadros e sintomas.


Desenvolva vínculos seguros e uma rede de apoio

Somos seres relacionais. Desde o nascimento, nossa saúde mental é moldada pelas relações que estabelecemos. Vínculos seguros oferecem apoio emocional, validam nossa existência e nos ajudam a elaborar conflitos.

Segundo a psicologia, relações saudáveis promovem um estado interno de segurança. Isso se reflete na vida adulta: quem tem apoio emocional tende a lidar melhor com situações de crise e sofrimento.

E como nutrir uma rede de apoio?

  • Invista em amizades com quem você pode confiar e ser autêntico. É preciso se desvincular das performances e apenas ser você.
  • Peça ajuda sem medo de parecer frágil ou de acreditar que está incomodando — amigos são para isso também, não apenas para os momentos de alegria.
  • Escute ativamente as pessoas ao seu redor, acolha o que elas compartilham com você com gentileza e empatia. Isso ajudará você a construir uma relação horizontal de confiança.

Ser sensível ao que o outro nos diz envolve saber ouvir e saber falar. Assim, estabelecer vínculos verdadeiros passa pela capacidade de sustentar conversas honestas, respeitando os próprios limites e os do outro.

Relações afetivas não precisam ser perfeitas, mas precisam ser cuidadas. A sua manutenção é fundamental, pois vínculos se fortalecem com presença, e não com formalidades.

Pessoas se abraçando em grupo durante atividade de acolhimento emocional e saúde mental
Uma rede de apoio é essencial para o bem-estar psíquico (Fonte: yuriy-vertikov/unsplash)


Abra espaço para o simbólico: arte, espiritualidade e sentido

O que dá sentido à sua vida? Essa pergunta, embora ampla e complexa, é fundamental para a construção de uma saúde mental. A dimensão simbólica do cuidado envolve criar espaços onde você possa se expressar para além das tarefas do dia a dia.

Isso pode se manifestar por meio da arte, da espiritualidade, da escrita ou de rituais pessoais. Buscar grupos, coletivos ou comunidades com interesses em comum, pode ser um caminho para construir relações de modo orgânico e com vínculos genuínos.

Por exemplo: escrever cartas, pintar, desenhar ou fotografar como forma de expressão, ler poesia ou filosofia para estimular o pensamento, ou criar um altar pessoal com objetos significativos são formas de abrir caminhos para uma saúde mental.

Cabe mencionar que esse espaço simbólico é também um antídoto contra o vazio existencial que pode surgir nas rotinas hiperprodutivas. Assim, se expressar é dar materialidade a coisas que podem não ter sido digeridas com facilidade em um contexto de intensa emoção e exaustão.



Psicoterapia: o encontro com o outro para encontrar a si

A psicoterapia é um processo estruturado de escuta, onde você pode olhar para si com profundidade. Mais do que conselhos, elas oferecem um espaço para construir caminhos para uma saúde mental.

Entre as principais abordagens, estão:

  • Psicanálise: investiga o inconsciente, os sonhos, os desejos e a história da pessoa, com o objetivo de ajudá-la a acessar e superar traumas e marcas psíquicas.
  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): identifica padrões de pensamento e comportamento disfuncionais e propõe formas mais saudáveis de agir.
  • Gestalt-terapia: trabalha com a perspectiva do aqui e agora, com foco na experiência e na consciência da pessoa.
  • Psicologia analítica: investiga os arquétipos, os sonhos e os símbolos, com foco no desenvolvimento da personalidade.

Fazer terapia é um investimento em si. Mesmo que você não esteja em crise, esse processo pode ajudar a prevenir transtornos e a lidar com sofrimentos e desafios da vida.


Cuide da sua saúde mental no trabalho

O trabalho pode ser fonte de realização ou de adoecimento. O que determina isso é, muitas vezes, o ambiente e a forma como você se relaciona com ele. Diagnósticos de burnout se tornaram cada vez mais frequentes, pois está cada vez mais difícil separar os problemas profissionais dos problemas pessoais.

A sensação de esgotamento constante, perda de interesse no trabalho, além da baixa autoestima e insegurança profissional, podem ser sinais de alerta que denunciaram a Síndrome do Esgotamento Profissional.

Confira dicas práticas para preservar a saúde mental no trabalho:

  • Defina limites claros de horário e dias semanais de contato para questões profissionais. Não é natural e nem saudável enviar ou receber mensagens profissionais em dias de descanso.
  • Negocie prazos quando possível. Sobrecargas e imprevistos acontecem frequentemente, por isso, busque não ultrapassar o seu horário de trabalho para entregar demandas recém solicitadas.
  • Evite checar e-mails e agendas fora do expediente. Busque aproveitar o tempo “off” com atividades que não tenham relação com temas profissionais.
  • Converse com colegas sobre formas coletivas de apoio. Todos podem se ajudar.

A saúde mental no trabalho também depende de mudanças estruturais. Por isso, é importante levar esse debate aos espaços institucionais.


Recomendações bônus: como aprofundar no cuidado em saúde mental

Para auxiliar no cuidado com a saúde mental de forma realista e gentil, vamos além das práticas para pensar a forma como nos relacionamos com nós mesmos nesse processo.

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Por exemplo, o curso Ansiedade Sob Controle - Casa do Saber aborda em detalhes mais dicas práticas e bem fundamentadas de como cuidar da saúde mental. Mas, aqui entre nós, vamos te dar um spoiler:

  • Evite comparações: o que você sente é legítimo

    Em um mundo onde todos parecem bem o tempo todo nas redes sociais, é fácil cair na armadilha da comparação. Mas lembre-se: cada pessoa tem um histórico, um repertório emocional e uma rede de suporte diferente. Comparar seu sofrimento ou progresso com o dos outros pode gerar frustração e culpa.

    Dica: Quando perceber que está se comparando, pergunte-se: “O que faz sentido pra mim nesse momento?”. Traga o foco para si, pois a sua trajetória é única.

  • Fale e pense sobre si com mais gentileza

    A forma como nos tratamos internamente tem impacto direto sobre a autoestima e a saúde mental. Se o seu diálogo interno é dominado por autocrítica, exigência ou dureza, tente inverter o tom: acolha suas falhas como parte do processo de ser humano.

    Dica: Quando errar ou falhar, experimente dizer para si algo que diria para um amigo querido. Lembre-se que você fez o que conseguiu naquele momento.

  • Valorize os pequenos avanços

    Não espere grandes transformações imediatas. Na saúde mental, pequenos passos consistentes são mais sustentáveis que mudanças radicais. O simples fato de reconhecer uma emoção, fazer uma pausa ou dormir melhor, já é uma conquista.

    Dica: Ao final do dia ou da semana, anote 1 ou 2 coisas que conseguiu fazer por si. Pode ser “fui dormir mais cedo” ou “desliguei o celular por 30 minutos”. São passos importantes a se orgulhar.



Resumo: Cuidar da saúde mental é um compromisso com a vida

Cuidar da saúde mental passa por reconhecer as próprias emoções, estabelecer limites saudáveis, buscar ajuda especializada e manter uma escuta ativa de si e do mundo.

Cuidar da saúde psíquica é um exercício contínuo de auto compaixão, por isso, é fundamental reconhecer que estar bem não significa estar feliz o tempo todo, mas sim desenvolver recursos para atravessar os momentos difíceis com mais consciência e resiliência, e com menos solidão.

O autocuidado psíquico é um compromisso com a vida que queremos ter. Requer priorização, escuta e coragem. Mas lembre-se: não existe solução rápida. O que existe é um caminho possível, com recaídas, avanços e descobertas. A saúde mental não é um destino fixo, mas uma travessia — e cada passo conta.

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Cansaço mental: sintomas de ansiedade, fadiga, sono, fraqueza
Xavana Celesnah
Cansaço mental: sintomas de ansiedade, fadiga, sono, fraqueza
Cansaço extremo o que pode ser, estresse, burnout, Sociedade do Cansaço, Byung-Chul Han, fraqueza no corpo, angústia, sistema nervoso.

O livro A Sociedade do Cansaço, do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, oferece uma análise perspicaz sobre um fenômeno globalizado que afeta milhões de pessoas: a sensação de cansaço e exaustão. Essa sensação tornou-se onipresente na sociedade tecnológica voltada para o desempenho. Existe, em grande parte, uma valorização implícita das pessoas que experimentam esse cansaço extremo, por ele estar associado a um esforço contínuo pela produtividade no trabalho.

Essa admiração, alimentada pela ideologia neoliberal, sugere que a cultura do estar “sempre ocupado” é sinal de sucesso. Contudo, os efeitos dessa entrega excessiva – seja no trabalho presencial, no home office ou nos estudos – resultam em um fardo diário de esgotamento, que pode levar a condições como ansiedade, burnout e depressão. Neste artigo, exploraremos as possíveis causas da sobrecarga mental e como a filosofia de Byung-Chul Han pode nos oferecer uma compreensão ampla da situação, criando ferramentas para redefinir as formas de ação dentro de uma ideologia que exalta o "empreendedor de si mesmo".



Como as redes sociais influenciam na ansiedade?

As redes sociais têm um papel central na sociedade contemporânea, impactando significativamente a saúde mental da humanidade. De acordo com o filósofo Byung-Chul Han, estamos vivendo um contexto de mudança de paradigma, onde ocorre a transição entre a sociedade disciplinar descrita por Michel Foucault, para a sociedade do desempenho. Nessa nova configuração, os limites entre o eu e o outro desaparecem, pois tudo passa a ser visto a partir da preocupação com a própria existência. Como consequência, tudo se transforma em mero reflexo de si mesmo. Em cada situação, o indivíduo enxerga a prolongação de sua própria identidade, e as pessoas acabam enxergando apenas a si mesmas.

Nesse sentido, as redes sociais são o principal veículo por meio do qual as pessoas constroem e afirmam suas próprias identidades. Cada postagem, foto ou atualização é uma forma de autoafirmação narcisista, que visa mostrar ao mundo o quanto o indivíduo é produtivo, bem-sucedido e realizado. Isso reflete a lógica neoliberal que se baseia na ideia de que o sucesso provém do esforço contínuo e permanente.

Cansados e Conectados: O Preço da Busca pelo Reconhecimento nas Redes Sociais

No entanto, essa busca incessante por validação e autoafirmação nas redes sociais tem um custo significativo. Ao se verem como produtos a serem consumidos pelos outros, os indivíduos se sentem compelidos a manter uma produtividade constante. Essa busca por aprovação torna-se uma forma de "empreendedorismo de si", onde a pessoa precisa sempre "vender" a melhor versão de si mesma.

Esse comportamento acaba por produzir uma exaustão psicológica que, em muitos casos, leva a problemas psíquicos como ansiedade, insônia, burnout e depressão, como apontado pelo filósofo Byung-Chul Han. A produtividade ininterrupta, tanto no trabalho quanto na vida social, surge com aparência de liberdade, já que não existem chefes ou horários impostos. Mas, na prática, é uma “falsa liberdade”, pois as pessoas sentem-se na obrigação de realizar entregas virtuais cada vez mais constantes, comprometendo a capacidade de desfrutar de uma vida plena.

Para obter mais conhecimento sobre como superar a ansiedade na era digital, baixe gratuitamente o ebook abaixo, que explica os impactos das redes sociais na saúde mental e o conceito de Brain Rot, termo usado para se referir aos efeitos negativos da exposição contínua aos conteúdos de baixa qualidade das redes sociais. O ebook contém informações do curso da Casa do Saber intitulado Saúde Mental e Estresse: Uma Visão das Neurociências, ministrado pela doutora em Ciências pela UFRJ, Ana Carolina Souza. Preencha o formulário a seguir e tenha acesso ao ebook instantaneamente no seu e-mail:

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As redes sociais: uma dependência patológica

As redes sociais, ao promoverem um modelo de produtividade constante, reduzem a vida humana a uma busca incessante por reconhecimento. Assim, o que antes era um espaço pessoal, como a casa ou a privacidade do pensamento, agora se mistura ao olhar e ao julgamento constante do público. Esse processo de exposição contínua cria uma atmosfera de pressão, onde o indivíduo não pode mais se relacionar com sua própria identidade de maneira autêntica, mas em função de como é percebido pelos outros. Assim, a autoafirmação na era digital se torna dependente da validação externa, medida por curtidas, comentários, seguidores, compartilhamentos.

Esse fenômeno revela um paradoxo de liberdade. Em vez de promover a liberdade individual, as redes sociais, na verdade, encorajam uma forma de escravidão contemporânea. Ao acreditar que estão se autoafirmando e sendo livres, os indivíduos acabam presos a uma lógica de produtividade sem fim. O filósofo Byung-Chul Han explica que, no capitalismo neoliberal, a liberdade é confundida com a obrigação de se afirmar constantemente, o que leva a uma exploração do próprio corpo e mente. O indivíduo, ao tentar se destacar e se afirmar nas redes sociais, está, na realidade, se exaurindo, tornando-se incapaz de desfrutar dos próprios momentos de descanso ou de lazer em conexão com outras pessoas.

Essa incessante procura por autossuperação nas redes sociais reflete o modelo de vida capitalista, onde a produtividade desenfreada gera uma exaustão que compromete a saúde mental e emocional. A pessoa, que inicialmente se vê como livre ao produzir e compartilhar sua identidade, acaba se tornando um "morto-vivo", como descreve o já mencionado pensador sul-coreando, presa a um ciclo de atividade e consumo sem limites. Nesse sentido, as redes sociais não apenas refletem essa lógica, mas também a amplificam, tornando o indivíduo cada vez mais dependente da constante validação externa, e cada vez mais distante de alcançar momentos de plenitude que estejam desprovidos de uma função econômica.

Burnout e Redes Sociais

Quem trabalha com redes sociais, seja como social media para empresas ou como empreendedor de si mesmo no digital, sabe que o esgotamento mental é uma constante nesse ambiente virtual de trabalho. Postagens diárias, seja no Instagram ou no TikTok, precisam ter alcance, curtidas, compartilhamentos, engajamento. Portanto, esse tipo de trabalho opera em uma lógica de produtividade ininterrupta, que acaba sugando as energias dos criadores de conteúdo. Principalmente, quando o produtor de conteúdo digital também é o próprio empreendedor, fato que acontece com frequência na sociedade do desempenho que vivenciamos.

A lista de atividades diárias de quem trabalha como produtor de conteúdo digital nas redes sociais é interminável:

  • Fotos
  • Legendas
  • Carrosséis
  • Arte com conteúdo para feed
  • Vídeos para reels
  • Vídeos para story
  • Vídeo para TikTok
  • Caixinhas de perguntas para story
  • Compartilhamento de conteúdo relevante
  • Texto persuasivo de copywriter para vendas


Além da pressão para estar disponível 24 horas por dia, responder imediatamente a mensagens e estar presente em múltiplas plataformas. Tudo isso gera uma sensação de sobrecarga. Se identificou? Muito provavelmente sim.

Mas, o que você talvez ainda não saiba é que a lógica neoliberal tem propagado uma ideia sedutora de liberdade no ambiente virtual. Apesar da aparência de liberdade que essa lógica sugere, ela resulta, na prática, em uma uniformização das experiências de vida. As pessoas, ao acreditarem que estão tomando decisões autônomas, estão, na realidade, sendo moldadas por uma mesma dinâmica de produtividade e consumo. Todos estão seguindo o mesmo caminho: trabalhar mais, se expor mais, alcançar mais.

Nesse sentido, são incentivadas a se perceberem como responsáveis pelo seu próprio destino e pela sua realização pessoal. Mas, essa promessa de autonomia, no entanto, esconde uma realidade de exploração constante. Trata-se da “uberização do trabalho”, uma dinâmica onde as pessoas se percebem como “donas de seu próprio tempo” e acreditam que assim, são livres. Quando, na verdade, estão sujeitas a uma nova forma de subordinação. Ao se verem como empresários de suas vidas, acabam presas a uma rotina de produtividade incessante, sem descanso e sem a possibilidade de se desconectar das demandas virtuais, sociais e econômicas.

Nesse contexto, o trabalho não é mais uma obrigação imposta de fora, como propôs Foucault com sua sociedade disciplinar, mas tornou-se uma escolha que se transforma em uma necessidade constante de atingir metas. A lógica do "empreendedorismo de si mesmo" faz com que o indivíduo se sinta constantemente pressionado a demonstrar sua capacidade nas redes sociais, em um ciclo de validação permanente.

Essa obsessão por produzir e se autoafirmar em todas as esferas da vida intensifica a carga de trabalho e drena as energias emocionais e psicológicas, levando as pessoas a uma exaustão constante. Daí, o surgimento de quadros de muito sono acumulado, estresse e o aumento significativo dos casos de burnout. Dados da Organização Mundial da Saúde indicam um aumento significativo de diagnósticos relacionados a distúrbios mentais, com o Brasil sendo um dos países com maiores índices de síndrome de burnout, um reflexo claro de uma sociedade que sobrecarrega seus cidadãos em nome do desempenho.

A exaustão provocada por essa lógica é uma das consequências mais devastadoras do neoliberalismo. O constante esforço para manter a imagem de sucesso e capacidade leva ao esgotamento físico e mental. O indivíduo, pressionado a se afirmar a todo momento, perde a capacidade de se conectar consigo mesmo e de aproveitar os momentos de lazer. O paradoxo é claro: ao tentar conquistar sua liberdade através do trabalho e da produtividade, as pessoas se tornam cada vez mais escravizadas por essas mesmas exigências. O “empreendedor de si mesmo” está, na realidade, preso a um ciclo de autossubordinação, onde sua identidade é definida unicamente pela sua capacidade de produzir e de se mostrar ativo. E essa dinâmica leva, inevitavelmente, à exaustão, à perda de autonomia real e ao sofrimento psicológico.

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thumb do curso 'A Filosofia de Byung-chul Han', por Lucas Nascimento Machado


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Como recuperar a saúde mental na Era Digital?

Alcançar o bem-estar psicológico na era das redes sociais exige um esforço consciente para desacelerar e redefinir o que significa bem-estar. A sociedade atual valoriza a produtividade acima de tudo, mas é preciso saber valorizar também a pausa, o descanso. Até mesmo o tempo de lazer é frequentemente visto como algo secundário, um luxo ou até mesmo um desperdício, especialmente em um cenário onde as redes sociais impõem uma imagem de sucesso ininterrupto e constante.

No entanto, é fundamental entender que o descanso genuíno não é apenas uma pausa física, mas também emocional e psicológica. A recuperação da saúde mental começa quando se reconhece que o descanso não deve ser vivenciado com culpa ou com a mesma lógica da produtividade, considerando que as pessoas muitas vezes ficam querendo compartilhar fotos e vídeos de onde estão nas férias; assistir ao máximo de séries e filmes, ler o máximo de livros, fazer o máximo de viagens possíveis. Ou seja, mesmo nos momentos de descanso, a lógica da produtividade continua a mesma.

Isso resulta em um ciclo vicioso de autocobrança, onde não fazer nada é inaceitável e o sofrimento é invisibilizado. Para quebrar esse ciclo, é essencial que as pessoas questionem a forma como se relacionam com o trabalho e a busca pelo sucesso. O verdadeiro descanso envolve parar, refletir e dar a si mesmo permissão para não estar sempre "fazendo algo". Ao interromper o ciclo de exigências, é possível recuperar uma vida mais equilibrada.



Conclusão

Em uma sociedade que induz as pessoas a acreditarem que o resultado de suas conquistas depende exclusivamente de seu esforço, é preciso redefinir o conceito de produtividade. A ideologia dominante pressiona as pessoas a acreditarem que o sucesso é resultado exclusivo do esforço individual. Portanto, é essencial redefinir o conceito de produtividade. Essa lógica do esforço individual impõe uma opressão psicológica que leva muitos a acreditarem que o valor de sua existência e conquistas depende exclusivamente do seu desempenho. Esse pensamento cria uma cobrança constante, onde o indivíduo se vê em um ciclo exaustivo de autossuperação.

Quando os resultados não correspondem às expectativas, o impacto psicológico é profundo, gerando sentimentos de inadequação, frustração e até angústia. Essa pressão por resultados, combinada com a ideia de que não há limites para o esforço, acaba produzindo uma exaustão física e um sofrimento mental significativo, pois a busca incessante por sucesso é vivida como uma obrigação pessoal, e não como uma escolha saudável.

A produtividade também pode envolver momentos de introspecção, cuidado consigo mesmo e conexão com os outros. Integrar esses momentos na rotina, ao lado do trabalho, cria um espaço para a regeneração mental e emocional. Para que isso aconteça, é necessário estabelecer limites claros entre o trabalho e o lazer, respeitando o tempo de desconexão sem que isso seja visto como uma falha. A recuperação da saúde mental não se resume a diminuir o ritmo, mas a reconfigurar as expectativas sobre o que é produtivo e valioso.

Para lidar com a sobrecarga mental imposta pela era das redes sociais, é importante procurar um profissional de saúde habilitado para realizar um tratamento individualizado. Por mais que atitudes possam ser incluídas na rotina no sentido de minimizar os efeitos negativos provocados pela exposição incessante e diária ao universo virtual, o acompanhamento psicológico continua sendo fundamental no processo de recuperação psíquica.

thumb do curso 'Manual Psicanalítico para Viver Melhor no Século 21', por Marcelo Veras




Referências

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/259/a-filosofia-de-byung-chul-han

Principais Tipos de Transtornos Mentais: como identificar e tratar
Camila Fortes
Principais Tipos de Transtornos Mentais: como identificar e tratar
Conheça os principais tipos de transtornos mentais, como ansiedade, depressão, bipolaridade e esquizofrenia. Saiba os sintomas, causas e como tratar.

Falar sobre saúde mental tem se tornado cada vez mais urgente na sociedade contemporânea. As relações familiares, amorosas e profissionais exigem de nós cada vez mais autoconhecimento e reflexão crítica sobre nossos limites, por isso, compreender o que é transtorno mental, saber como ele se manifesta e quais são os principais tipos, é fundamental para que possamos viver melhor, consigo mesmo e com o outro.

Neste artigo, você vai conhecer os principais grupos de transtornos mentais, classificados segundo os critérios diagnósticos do DSM-5-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e da CID-11 (Classificação Internacional de Doenças), com exemplos e sintomas comuns.

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O que é transtorno mental?

Um transtorno mental é uma condição psíquica que afeta de forma significativa o funcionamento emocional, comportamental e/ou cognitivo de uma pessoa, com impacto na sua vida social, familiar, profissional ou escolar.

Os fatores que levam a um transtorno mental são diversos, e podem incluir questões genéticas, sociais, ambientais, culturais, políticas e econômicas. Nesse sentido, as condições para um transtorno psíquico não estão ligadas a “fraquezas” ou escolhas pessoais, pois incluem fatores externos ao indivíduo como determinantes.

São diversos os grupos de transtornos mentais, e cada um apresenta características semelhantes em relação aos sintomas, duração, impacto funcional e causas. A seguir, iremos apresentar os principais grupos e suas características:


Transtornos de Ansiedade

Os transtornos de ansiedade tratam-se de um elevado nível de estresse psicológico que interfere de modo significativo na vida da pessoa. A ansiedade tem origem no medo e na sensação de estar vivendo uma situação perigosa, que necessita de uma resposta de luta ou fuga.

Os transtornos de ansiedade estão entre os transtornos mentais mais comuns no mundo. No Brasil, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 18 milhões de pessoas sofrem com ela. Embora a ansiedade seja uma emoção natural do ser humano, quando se torna excessiva e passa a gerar sofrimento, pode configurar um quadro clínico.

Entre os principais tipos de transtornos de ansiedade, estão:

  • Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)
  • Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
  • Transtorno de Pânico

Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)

O transtorno de ansiedade generalizada é caracterizado por preocupações excessivas e intensas em diversos aspectos da vida. A pessoa tende a se sentir preocupada e angustiada com uma certa facilidade, e tem dificuldade de controlar esses sentimentos. Há uma intensificação e catastrofização das sensações.

Os sintomas incluem tensão muscular, irritabilidade, taquicardia, fadiga e dificuldade para respirar. Além disso, há uma tendência para um esgotamento mental e necessidade de fuga.

A ansiedade tem sido frequentemente relacionada aos casos de Burnout - ou síndrome do esgotamento profissional - e usos excessivos de mídias sociais.

Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)

O TOC é caracterizado por pensamentos intrusivos (obsessões) e comportamentos repetitivos (compulsões) que a pessoa não consegue controlar.

Gestos como lavar as mãos inúmeras vezes, verificar dezenas de vezes se portas, janelas e fechaduras estão realmente trancadas, fazer contagens incessantes, repetir palavras, frases e números, e ter necessidade de reorganizar objetos constantemente, podem ser sintomas do TOC.

Transtorno de Pânico

O transtorno de pânico é caracterizado por crises repentinas e recorrentes de medo intenso, que surgem de forma inesperada, mesmo em contextos que não há uma ameaça real. Mais do que apenas “nervosismo”, o transtorno de pânico tem relação com o medo concreto de um ataque, que leva a pessoa a um estado constante de vigilância.

Os sintomas incluem taquicardia, sudorese, tremores, tontura e sensação iminente de morte.

Tratamento: Os tratamentos para os transtornos de ansiedade costumam envolver psicoterapia, especialmente abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que ajuda a identificar padrões de pensamento distorcidos e desenvolver estratégias de enfrentamento. Em alguns casos pode envolver indicação de medicamentos ansiolíticos ou antidepressivos, sempre sob prescrição médica.

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Transtornos de Humor

Também conhecidos como transtornos afetivos, esse grupo de transtornos inclui alterações persistentes no humor que envolvem períodos prolongados de tristeza excessiva (depressão), de euforia excessiva (mania) ou ambos.

Essa oscilação pode variar de acordo com o quadro, apresentando duração e intensidade diversas.

Entre os principais tipos, estão:

  • Depressão
  • Transtorno Bipolar

Depressão

A depressão é um transtorno de humor que provoca tristeza persistente, perda de interesse por atividades que antes gostava, cansaço excessivo, alterações de sono e apetite, sentimentos de culpa e inutilidade, além de possíveis pensamentos suicidas.

Essa condição afeta não apenas os pensamentos e sentimentos de uma pessoa, mas o humor e o comportamento, o que pode causar dificuldades significativas no cotidiano. A baixa auto-estima e o pessimismo também podem ser sintomas a se apresentarem de modo isolado ou somatizado.


Transtorno Bipolar

A bipolaridade, ou transtorno bipolar, é caracterizada por oscilações intensas de humor entre episódios de mania e depressão. Seus sintomas incluem a alteração entre uma euforia exagerada, o aumento de energia e autoestima, a falta de sono e o comportamento impulsivo (mania), e uma tristeza profunda, um cansaço extremo, somado a pensamentos negativos recorrentes (depressão).

De acordo com o DSM-5 e o CID-10, a bipolaridade pode ser classificada por:

Transtorno Bipolar I: episódios de mania intensos (com ou sem episódios depressivos);

Transtorno Bipolar II: episódios de depressão com episódios de hipomania (forma mais leve da mania);

Transtorno Ciclotímico: oscilações de humor menos intensas, mas persistentes, que duram dois anos ou mais;

Transtorno Bipolar misto: quando sintomas de mania e depressão ocorrem ao mesmo tempo ou se alternam rapidamente.

Tratamento: Os tratamentos para os transtornos de humor requerem uma abordagem terapêutica combinada, que inclui psicoterapia e, quando necessário, medicamentos como antidepressivos ou estabilizadores de humor.

Transtornos de Personalidade

Os transtornos de personalidade se referem a padrões rígidos e duradouros nos modos de pensar, sentir e se comportar, que se desviam das expectativas sociais e causam sofrimento.

Como o nome já aponta, a personalidade da pessoa tende a ser inflexível e rígida sobre situações, contextos e perspectivas, manifestando-se principalmente na vida adulta. Nesse sentido, pessoas com transtornos de personalidade podem ter dificuldades em manter relações, gerir e controlar suas emoções e impulsos, e lidar com situações difíceis.

Entre os principais tipos de transtornos de personalidade, está:

Borderline

O transtorno de personalidade Borderline - ou limítrofe - é marcado por instabilidade nas emoções, nos relacionamentos e na autoimagem. Pode gerar comportamentos impulsivos e medo intenso de abandono.

Neste transtorno, há uma hipersensibilidade nos sentimentos que faz com que a pessoa sinta tudo a sua volta de modo bastante intenso e, ao mesmo tempo, instável. Assim, tanto os sentimentos positivos quanto os negativos se manifestam de modo expressivo.

Entre os sintomas mais comuns, estão: oscilações extremas de humor que podem durar horas ou dias, impulsividade em áreas como alimentação, gastos, sexo ou álcool, sensação crônica de vazio, comportamentos autolesivos ou ideação suicida.

Tratamento: Os tratamentos para os transtornos de personalidade são centrados na psicoterapia de médio a longo prazo. Medicamentos podem ser utilizados para tratar sintomas específicos.



Transtornos de Neurodesenvolvimento

Os transtornos de neurodesenvolvimento são alterações dos processos iniciais de desenvolvimento neurológico que causam impacto na aquisição, relação ou produção de habilidades.

Essas alterações se dão na memória, na linguagem e na interação social, podendo interferir no cotidiano da pessoa.

Entre os principais transtornos de neurodesenvolvimento, destacam-se:

  • Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
  • Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

O TDAH é um transtorno caracterizado pelo comprometimento expressivo na atenção, concentração e no gerenciamento de atividades mentais. Os seus sintomas incluem o esquecimento de coisas importantes, a dificuldade de prestar atenção em detalhes, de seguir instruções e de concluir tarefas.

Pessoas com TDAH podem, com uma certa frequência, interromper a fala de outras pessoas, pois têm dificuldades de aguardar a sua vez. Além disso, podem falar excessivamente e apresentar uma certa inquietação no comportamento, tendo dificuldades com atividades que exigem esforço mental prolongado.

Os sinais de TDAH podem ser percebidos ainda na infância, mas atenção: um elevado nível de atividade pode ser completamente normal e ser apenas uma fase do temperamento infantil comum. Por isso, é fundamental avaliar em que fase da vida ocorre e se o nível de atividade está combinado com outros sinais, para que um diagnóstico não seja elaborado erroneamente.




Transtorno do Espectro Autista (TEA)

O TEA é um transtorno de neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na comunicação social e em padrões de comportamento repetitivos ou restritos. O espectro é amplo e varia de forma significativa entre os indivíduos, afetando o desenvolvimento motor, da linguagem e comportamental.

O TEA pode ser classificado em três tipos: autismo clássico, autismo de alto desempenho (também chamado de Síndrome de Asperger) ou distúrbio global do desenvolvimento sem outra especificação.

Entre os principais sintomas do TEA, destacam-se: atraso na fala, desinteresse em pessoas ou objetos ao redor, seletividade extrema em relação a cheiros, sabores e texturas, dificuldade para combinar palavras em frases ou repetir a mesma fala com frequência, além de uma expressiva sensibilidade visual e sonora.

Além disso, algumas pessoas com TEA podem manifestar sinais como impaciência, hiperatividade, déficit de atenção e aumento ou diminuição na resposta à dor.

Tratamento: Para os transtornos de neurodesenvolvimento, os tratamentos também são multifatoriais. Eles podem incluir medicação (como psicoestimulantes no caso do TDAH), apoio educacional e terapias ocupacionais (no caso do TEA), tendo o suporte psicossocial como indispensável.

Transtornos Psicóticos

Os Transtornos Psicóticos são transtornos que alteram as percepções e interpretações da realidade. Podem incluir delírios, alucinações e pensamentos desorganizados. Isso pode afetar a forma como a pessoa pensa, percebe o mundo, sente e se comporta.

As causas podem incluir fatores genéticos, alterações neuroquímicas, traumas, uso de substâncias ou complicações neurológicas. Em muitos casos, há uma interação entre predisposição biológica e fatores ambientais.

O tipo mais comum de transtorno psicótico, inclui:

Esquizofrenia

A esquizofrenia é um transtorno mental grave que envolve distorções no pensamento, nas percepções e na forma como a pessoa se relaciona com a realidade.

Os sintomas da esquizofrenia costumam ser divididos entre positivos e negativos. Os sintomas positivos referem-se a alucinações, delírios, pensamento desorganizado e comportamentos agitados, enquanto os sintomas negativos referem-se à apatia, isolamento social e falta de motivação e interesse.

Além disso, também ocorrem sintomas cognitivos, como a dificuldade de atenção, problemas de memória e comprometimento no julgamento e na tomada de decisões. A esquizofrenia geralmente se manifesta no final da adolescência ou início da idade adulta, podendo ter início gradual ou súbito.

Tratamento: Os tratamentos envolvem o uso de medicamentos antipsicóticos, que ajudam a reduzir os sintomas. A psicoterapia auxilia para o fortalecimento da autonomia e da capacidade de lidar com a realidade. Além disso, programas de reabilitação social são essenciais para a recuperação e para a elaboração de estratégias de reinserção comunitária.

Transtornos Alimentares

Os transtornos alimentares envolvem uma relação disfuncional com a alimentação e o corpo. Caracterizam-se por uma preocupação excessiva com o peso, a forma corporal e os hábitos alimentares, frequentemente associada a distorções de imagem - ou seja, a pessoa vê seu corpo de maneira distinta, sobretudo, negativamente.

Além dos sintomas físicos, esses transtornos denunciam questões emocionais profundas, como baixa autoestima, ansiedade, depressão e sensação de perda de controle.

Os principais tipos de transtornos alimentares são:

  • Anorexia
  • Bulimia

Anorexia

Na anorexia, a pessoa reduz drasticamente a ingestão de alimentos, de forma repentina ou progressiva. É comum haver medo intenso de engordar, mesmo quando o corpo já está abaixo do peso ideal.

Bulimia

A bulimia se caracteriza por episódios recorrentes de grande ingestão alimentar, seguidos de comportamentos compensatórios, como vômitos induzidos, uso de laxantes ou jejuns prolongados.

Tratamentos: Os tratamentos para os transtornos alimentares incluem uma abordagem multiprofissional. Psicoterapia individual e familiar e acompanhamento nutricional são fundamentais. Em alguns casos, pode ser necessário o uso de medicamentos para ansiedade, depressão ou compulsão alimentar.


Conclusão: Conhecimento e acolhimento sobre transtornos mentais são essenciais

Compreender os tipos de transtornos mentais é fundamental para promover cuidado, prevenção e acolhimento. Estar atento aos sinais, especialmente quando os sintomas persistem por mais de 6 meses, é um passo importante para buscar o suporte necessário.

Cabe mencionar que alguns sintomas podem fazer parte da experiência humana comum. No entanto, eles se tornam motivo de atenção quando passam a causar sofrimento ou prejudicar o cotidiano da pessoa.

Nesse caminho, a psicoterapia é uma ferramenta potente tanto para o diagnóstico quanto para o autoconhecimento. O suporte psiquiátrico também é importante, desde que a administração de medicamentos ocorra sempre com prescrição e acompanhamento médico.

É importante reforçar que nenhum diagnóstico define uma pessoa. Um transtorno é apenas uma parte da complexidade de um sujeito, que pode viver com mais qualidade e bem-estar quando conta com uma rede de apoio psicossocial.

Por fim, cuidar da saúde psíquica não deve ser uma responsabilidade apenas de quem tem algum transtorno mental, mas de todas as pessoas que buscam caminhos para uma vida mentalmente mais saudável.

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Referências

https://www.paho.org/pt/topicos/transtornos-mentais

Saúde Mental: O Que É, Sinais de Alerta e Como Cuidar
Camila Fortes
Saúde Mental: O Que É, Sinais de Alerta e Como Cuidar
O que é saúde mental? Saiba identificar os sinais de sofrimento psíquico e descubra estratégias para promover bem-estar emocional no dia a dia.

Nos últimos anos, a informação sobre saúde mental ganhou ampla circulação no mundo através das redes sociais. Disseminou-se o debate sobre noções de um adoecimento emergente que não é silencioso, e que exige atenção da sociedade e dos profissionais de saúde mental.

Seja nas relações de trabalho, nos relacionamentos amorosos, nos espaços de ensino e aprendizagem ou nas práticas de autocuidado, a saúde mental é um tema que precisa ser discutido constantemente.

Neste artigo, apresentaremos os principais conceitos, as questões mais frequentes e os caminhos para uma saúde mental de qualidade.

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Qual o conceito de saúde mental?

A saúde mental é definida como um estado de bem-estar mental que permite que as pessoas lidem com os momentos difíceis da vida com uma maior qualidade emocional.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o conceito de saúde mental é mais do que a ausência de transtornos psíquicos. Ela está relacionada ao desenvolvimento de habilidades individuais e coletivas, que conectem as emoções, os comportamentos e os pensamentos de modo equilibrado.

Assim, manter uma boa saúde mental envolve tanto fatores internos, como o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal, quanto externos, como suporte social, acesso à recursos de saúde e às políticas públicas, além de boas condições de trabalho e participação em ambientes saudáveis e inclusivos.

Muito embora seja considerado um tema complexo, na medida em que cada pessoa experiencia o bem-estar e o sofrimento de modos distintos, é fundamental reconhecer que as abordagens terapêuticas e as práticas de cuidado e inteligência emocional, não devem se restringir às pessoas diagnosticadas com algum tipo de transtorno psíquico.

Por isso, a saúde mental deve ser compreendida como um aspecto essencial da vida cotidiana e de forma permanente, pois todas as pessoas vivenciam desafios emocionais, lidam com situações difíceis e enfrentam momentos de vulnerabilidade ao longo da vida.

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Qual a importância da saúde mental?

Cuidar da saúde mental possibilita qualidade de vida. Ao envolver bem-estar emocional, psicológico e social, a saúde da mente pode proporcionar um bem viver com mais qualidade, equilíbrio e harmonia.

No entanto, muitas pessoas não reconhecem a importância do cuidado em saúde mental, e acabam recorrendo ao autodiagnóstico e a automedicação, o que distancia e dificulta a adesão aos tratamentos e acompanhamento psicossocial adequado. Abaixo veremos algumas situações que exigem uma maior atenção psicológica.

Saúde mental no trabalho

A sobrecarga de trabalho é uma das principais causas de adoecimento psíquico na contemporaneidade. Conhecido como burnout ou síndrome do esgotamento profissional, ela resulta da exposição intensa e contínua do trabalhador a um estresse agudo.

De acordo com a Associação Internacional de Gestão de Estresse, 32% dos profissionais no Brasil sofrem com esgotamento no ambiente de trabalho. Com um aumento expressivo de casos de afastamento por questões psicológicas, o país registra o maior número dos últimos dez anos.

Esse cenário afeta a vida de todos: compromete a saúde mental do(a) trabalhador(a), desgasta as relações profissionais e reduz a produtividade em equipe. Além disso, a exaustão acumulada afeta além do espaço profissional, impactando no bem-estar geral da pessoa.


Saúde mental na adolescência

Outra área que exige atenção é a saúde mental de adolescentes. As pressões estéticas, as redes sociais, o vício em jogos online, o bullying e a insegurança quanto ao futuro aumentaram significativamente os índices de ansiedade e depressão em jovens em idade escolar.

Como consequência, vemos um número expressivo de jovens e adolescentes com dificuldade de socialização e concentração, além de altos níveis de estresse.

O fácil acesso às tecnologias digitais têm proporcionado aproximações, mas também, distanciamentos, que interferem na saúde da mente das pessoas. Nesse sentido, é preciso perceber e investigar os modos como o uso de redes sociais e outras ferramentas online estão afetando o cotidiano.


Quais os fatores que afetam a saúde mental?

Compreender quais as causas e como elas afetam o bem-estar mental, é o primeiro passo para saber como desenvolver uma saúde mental de qualidade.

A pressão social, a sobrecarga de trabalho, as inseguranças nos relacionamentos, o uso excessivo de redes sociais – sobretudo, para jovens e adolescentes –, as desigualdades de acesso e os determinantes sociais da saúde como raça, classe, gênero, religião e território, podem impactar diretamente no bem-estar psíquico. Na sequência, iremos conferir os principais fatores e influências.

Fatores psicológicos:

A ausência de inteligência emocional para lidar com os conflitos cotidianos, uma percepção negativa sobre si e a vivência de experiências traumáticas, são condições que afetam diretamente a saúde mental. Esses aspectos aumentam significativamente a vulnerabilidade ao estresse e a ansiedade, além de agravar a sensação de solidão.

Fatores biológicos:

Além disso, a neurociência explica que a alteração química do cérebro – como níveis desequilibrados de serotonina ou dopamina, que impactam em mudanças de humor –, a presença de doenças hormonais e crônicas, ou a privação de sono e de uma alimentação adequada, irão gerar forte impacto na saúde mental e no funcionamento cognitivo.

Fatores sociais, culturais e ambientais:

O isolamento social, a exposição excessiva à conteúdos negativos nas redes sociais, as cobranças estéticas, inseguranças e ciúmes em relacionamentos, as desigualdades socioeconômicas e os desastres climáticos, são fatores que geram altos índices de adoecimento psíquico, aumentando o estresse e o sofrimento mental.

Quais os sinais que indicam uma má saúde mental? Ao que se deve estar atento?

Por mais que o sofrimento mental não seja percebido ou compreendido com facilidade, ele pode manifestar sinais que devem ser notados com atenção. Cabe mencionar que os sintomas podem ser indicativos em casos de sofrimento emocional prolongado, devendo ser investigado junto com um profissional da saúde mental.

Uma autoavaliação sobre a rotina e sobre os sentimentos diante os acontecimentos da vida, podem auxiliar a compreender possíveis mudanças emocionais e a necessidade de acompanhamento psicoterapêutico.Nesse caminho, é importante estar atento à:

  • Alterações do sono: dificuldade para dormir, sono excessivo ou cansaço extremo ao acordar, podem estar relacionados a um quadro de sofrimento mental ou preocupação excessiva que gere algum tipo de sofrimento.
  • Mudanças repentinas de humor: Oscilações no humor podem ter relação direta com quadros de estresse excessivo ou dificuldades de gerenciar emoções intensas.
  • Cansaço constante: Sentir cansaço extremo após períodos de descanso pode ser um sinal de alerta para a saúde mental. A exaustão mental é um sintoma que denuncia que é necessário realizar uma pausa, respirar, encontrar vias de descanso e reavaliar a rotina.
  • Comportamentos autodestrutivos: A exposição deliberada às situações perigosas, o abuso de substâncias psicoativas, distúrbios alimentares e autoagressões são atitudes que denunciam um sofrimento emocional profundo.
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Quais os principais tipos de transtornos mentais? Conheça as características

Existem diversos tipos de transtornos mentais, com apresentações diferentes e com padrões que precisam ser avaliados não apenas pela soma de sintomas, mas, sobretudo, pelos contextos sociais, culturais, biomédicos e psicológicos do indivíduo.

Os transtornos mentais mais frequentes na sociedade contemporânea incluem:



Ansiedade

Preocupação, ansiedade ou medo excessivo, de modo a comprometer a rotina da pessoa. Estresse desproporcional, inquietação, fadiga, irritabilidade e intolerância também são sintomas.

Depressão

Angústia, desânimo, cansaço constante, falta de vontade ou interesse para exercer atividades cotidianas e falta de energia. Também são sintomas de depressão um humor triste, vazio ou irritável, acompanhado por alterações relacionadas que afetam significativamente a capacidade funcional do indivíduo.

Burnout

Exaustão extrema, estresse e esgotamento físico e mental gerado no ambiente de trabalho. Também são sintomas a desmotivação, baixa autoestima profissional, irritabilidade e dores físicas musculares.

Transtornos Alimentares

Hábitos alimentares irregulares que geram sofrimento ou preocupação excessiva com o peso ou forma do corpo. Podem incluir a ingestão comprometida ou excessiva de alimentos.

Borderline

Caracterizada por instabilidades emocionais, oscilações de humor e impulsividade frequente. Além disso, quadros de hipersensibilidade relacionados à autoimagem e a relações interpessoais também integram os sintomas.

Bipolaridade

Relacionado à alternância entre episódios de mania e depressão, a bipolaridade oscila entre agitação e falta de energia, aceleração do pensamento e apatia, além de sensação de grandeza e prostração.

TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade

Padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento ou no desenvolvimento. Também são sinais sintomáticos a procrastinação, esquecimentos e falta de organização e foco.

É importante reforçar que o diagnóstico de qualquer transtorno mental deve ser realizado por um profissional de psicoterapia, para que a pessoa seja orientada, supervisionada e auxiliada da melhor maneira possível.

Como cuidar da saúde mental no dia a dia?

Compreender que o sofrimento mental faz parte da experiência humana e que existem formas de cuidado e bem-estar eficazes que respeitam os próprios limites e necessidades emocionais, é um passo fundamental para garantir mais qualidade de vida para todos.

Nesse caminho, é preciso encontrar as vias de cuidar da saúde mental dentro de uma rotina possível.Confira algumas dicas práticas de cuidado com a saúde mental:

  • Psicoterapia
    Buscar apoio profissional através da psicoterapia é um aspecto essencial do autocuidado em saúde mental. O acompanhamento psicológico é um lugar seguro que ajuda diretamente na compreensão sobre os sentimentos e emoções, auxiliando na construção do bem-estar. Existem diversas abordagens da psicologia disponíveis atualmente.

    Alguns exemplos bem conhecidos são a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Psicanálise, que podem ajudar no processo terapêutico, sobretudo por oferecerem ferramentas para lidar com situações e pensamentos que geram sofrimento psíquico.
  • Meditação/Mindfulness
    Práticas como meditação e mindfulness ajudam a reduzir os níveis de estresse, melhorando o foco, a disposição e o bem-estar. Mesmo que realizadas por poucos minutos ao dia, elas trazem benefícios importantes ao corpo, como qualidade do sono e concentração.
  • Autoconhecimento
    Entender emoções, sentimentos e padrões de comportamento pode auxiliar a encontrar soluções possíveis para se viver melhor. Nesse sentido, quanto mais nos conhecemos, mais aprendemos a nos cuidar.
  • Aprender sobre inteligência emocional
    O aprendizado sobre inteligência emocional ajuda no enfrentamento de situações difíceis e no exercício de uma comunicação interpessoal com maior qualidade. Desenvolvê-la favorece relações mais saudáveis consigo e com os outros.
  • Neurociência
    A neurociência estuda os mecanismos cerebrais que regulam nossas emoções, experiências e hábitos. Assim, o estudo sobre o funcionamento do cérebro pode ser uma ferramenta poderosa para o cuidado com a saúde mental.


Investir em saúde mental é um processo de autoconhecimento individual e coletivo. Nesse sentido, é fundamental que cada pessoa investigue e reconheça suas necessidades emocionais, desenvolva práticas de autocuidado de modo responsável e seguro, e saiba solicitar ajuda profissional.

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Referências

https://www.sbponline.org.br/arquivos/9789240049338-eng.pdf

Prevenção e tratamento de stress | ISMA-BR

Saúde mental na adolescência: sinais de alerta e cuidados
Camila Fortes
Saúde mental na adolescência: sinais de alerta e cuidados
Ansiedade, depressão, bullying e redes sociais. Saiba identificar sinais de sofrimento psíquico em adolescentes e como escola e família podem apoiar.

A adolescência é uma etapa da vida repleta de desafios e preocupações. Marcada por mudanças físicas, emocionais, sociais e cognitivas, a adolescência na sociedade contemporânea exige atenção e cuidado.

Durante essa fase, ocorrem mudanças significativas que podem influenciar na saúde mental de quem está na transição entre a infância e a vida adulta.

Os conflitos familiares, as pressões escolares e sociais, as inseguranças com a imagem corporal, a busca por aceitação e pertencimento, e os primeiros contatos com temas como sexualidade e autoestima, podem provocar mudanças intensas na vida dos jovens e dos adolescentes.

Neste artigo, apresentaremos os principais desafios, sinais de alerta, o impacto das redes sociais e possíveis caminhos de apoio e prevenção à saúde mental na adolescência.

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Mudanças emocionais na adolescência

Durante a adolescência, os jovens estão construindo a sua identidade e sua autonomia emocional. É comum que sentimentos como a incompreensão, a impaciência, as oscilações de humor e as frustrações se tornem parte da rotina.

Embora sejam naturais, essas alterações podem gerar mal estar ou sofrimento psíquico para o adolescente. Nesse caminho, os sinais que poderiam denunciar algum tipo de sofrimento podem ser confundidos com “drama” ou “rebeldia”, o que dificulta o acesso aos cuidados adequados.

Apesar de comuns, as mudanças emocionais podem aumentar a vulnerabilidade ao estresse e aos transtornos mentais como ansiedade e depressão. Ao longo do texto vamos entender como esse processo ocorre e os principais sintomas.


Ansiedade na adolescência

A ansiedade é um dos transtornos mentais mais comuns na adolescência. Ela pode se manifestar por meio de preocupações excessivas, angústia, irritabilidade e insônia, influenciando a rotina do adolescente.

Além disso, pode afetar a concentração e o rendimento escolar, comprometendo os estudos e a convivência em sala de aula.

Um dos fatores que pode agravar ou desencadear quadros de ansiedade em adolescentes, é o bullying. Caracterizado como qualquer tipo de intimidação, exposição ou humilhação praticado por indivíduo ou grupo, o bullying tem efeitos profundos na autoestima e na saúde emocional dos jovens.

Episódios de bullying podem desenvolver pensamentos negativos persistentes, isolamento, crises de choro e dificuldade para tomar decisões. Diante de mudanças comportamentais como essas, procurar apoio profissional pode fazer toda a diferença no acolhimento do adolescente e na condução do cuidado.

Depressão na adolescência

A depressão, por sua vez, é um transtorno mental cada vez mais presente entre os jovens e frequentemente invisibilizada. Seus sintomas incluem o isolamento, a irritabilidade, a apatia e a perda de interesse por atividades cotidianas.

Uma tristeza constante, choro frequente ou humor deprimido também compõem os sinais que denunciam um sofrimento mental relacionado a um quadro depressivo.

Nesse cenário, as redes sociais se tornaram a principal ferramenta de expressão entre os adolescentes, ampliando as conexões entre eles e afetando intensamente a vida desse grupo, condicionando suas emoções, pensamentos e ações.


Adolescência e redes sociais

Além de um espaço de acesso à informação, as redes sociais passaram a funcionar como ambientes de comparação, exposição, violência e discursos de ódio como o cyberbullying - descrito como a prática do bullying por meio das redes sociais.

Na prática, o cyberbullying se manifesta através do compartilhamento de mensagens, vídeos ou fotos ofensivas e maldosas. Também inclui ameaças que humilham e constrangem, comentários mentirosos e montagens inapropriadas.

Nesse caminho, a violência cometida por adolescentes nas escolas também se tornou uma emergente preocupação na sociedade contemporânea. Casos de agressão física, ameaças e ataques planejados ganharam visibilidade nos últimos anos, revelando um intenso cenário de adoecimento emocional de jovens em idade escolar.

O tema foi amplamente discutido a partir da estreia da minissérie Adolescência, na plataforma de streaming Netflix. A série aborda a história de um jovem de 13 anos que foi acusado de assassinar uma colega da escola, e trata de temas como bullying e cyberbullying, misoginia, masculinidade e o impacto das redes sociais na vida dos adolescentes.

É preciso compreender que, em diversos casos, a violência praticada por jovens está ligada a experiências anteriores de bullying e traumas não superados. Quando não há espaços de acolhimento, apoio e escuta, sentimentos como raiva e frustração podem se transformar em comportamentos agressivos ou autodestrutivos.

Para romper e evitar esse ciclo de violência, é fundamental compreender como cuidar da saúde mental de adolescentes e tratar sobre o assunto de modo responsável e seguro.

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Como cuidar da saúde mental na adolescência?

Cuidar da saúde mental na adolescência é um desafio coletivo que exige atenção escolar e familiar. Ambos precisam estar atentos aos sinais de sofrimento emocional para garantir que os jovens atravessem esse período com mais equilíbrio e autoestima.

Os sinais de um sofrimento não devem ser ignorados, pois são formas do corpo e da mente pedirem ajuda. Nesses momentos, o mais importante é oferecer escuta e apoio, sem julgamentos.

Para isso, é necessário fortalecer as relações e possibilitar um processo de autoconhecimento e autonomia emocional. A seguir iremos conferir algumas como a escola e a família podem ajudar:

O papel da escola na saúde mental

Inicialmente, é preciso que o ambiente escolar reconheça que o sofrimento psíquico faz parte da realidade, e que os adolescentes são um grupo fortemente atingido.

Assim, a escola tem um papel central na promoção da saúde mental de adolescentes. Além de ser um dos principais lugares de socialização, ela deve funcionar como um lugar de acolhimento e suporte.

Entenda como a escola pode abordar sobre saúde mental com adolescentes:

  • Desenvolver projetos, rodas de conversa e ações de combate ao bullying e ao cyberbullying: criar espaços seguros para que os adolescentes compartilhem experiências e construam empatia.
  • Promover debates e palestras sobre prevenção ao suicídio na adolescência: ajuda a quebrar tabus e a informar sobre sinais de alerta e pedir ajuda.
  • Manter uma comunicação direta com os pais dos adolescentes: fortalece a rede de apoio e permite ações conjuntas entre família e escola.
  • Promover a escuta ativa e o diálogo entre estudantes, professores e equipe pedagógica: constrói vínculos de confiança e a identificação precoce de sofrimentos.
  • Integrar temas de saúde e inteligência emocional ao currículo de forma transversal: contribui para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e autocuidado.


Além disso, é fundamental que a escola proporcione espaços de discussão sobre transtornos mentais em geral como ansiedade, depressão, TDAH, bipolaridade e transtornos alimentares. Romper com o estigma social é um passo indispensável para o autoconhecimento.

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Saúde mental e família

A atenção à saúde mental de adolescentes não deve se restringir à escola. A família é a base do cuidado emocional e deve estar atenta aos sinais.

Saiba como a família pode oferecer suporte para prevenir quadros de sofrimento psíquico:

  • Crie um espaço de confiança: Muitos adolescentes sofrem em silêncio por não saberem como pedir ajuda ou por temerem serem julgados por seus familiares. Por isso, é fundamental criar espaços seguros e de confiança, onde possam expressar suas opiniões e sentimentos sem medo.
  • Desenvolva uma escuta ativa: A escuta ativa é uma das ferramentas mais eficientes no cuidado com a saúde mental desse grupo. Seja acolhedor(a), respeitoso(a) e empático(a) com as questões compartilhadas pelo adolescente.
  • Invista em suporte psicológico: Buscar ajuda profissional é fundamental quando os sinais de sofrimento persistem ou se intensificam. Psicólogos, psiquiatras, psicopedagogos e serviços de saúde mental podem oferecer o acompanhamento necessário.


Além disso, abordagens como a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e a Psicanálise podem contribuir significativamente para a melhor qualidade de vida dos adolescentes.

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Cuidar da saúde mental de adolescentes é um ato de responsabilidade e compromisso com o futuro. Garantir que eles tenham acesso a apoio emocional e escuta qualificada é investir no desenvolvimento de uma geração mais consciente, empatia e saudável.

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Envelhecimento Saudável: Qualidade de Vida na Longevidade
Xavana Celesnah
Envelhecimento Saudável: Qualidade de Vida na Longevidade
Descubra como alcançar um envelhecimento saudável, entender as principais mudanças no corpo e evitar a velhice precoce para ter mais longevidade.

O envelhecimento saudável é uma construção relativamente recente na humanidade. Práticas de exercícios físicos, bons hábitos alimentares, sono restaurador e relações interpessoais benéficas, aliadas ao avanço da medicina, têm permitido um aumento na expectativa de vida.

Para se ter uma ideia, aqui no Brasil, na década de 1950, a expectativa de vida era de apenas 46 anos de idade, de acordo com dados do IBGE. Atualmente, passou a ser de 76 anos. E é muito provável que esses números melhorem ainda mais. Neste artigo, vamos mostrar quais práticas contribuem para a longevidade e qualidade de vida.



O Que é Ter Um Envelhecimento Saudável?

A partir de 2020, o Brasil passou a apoiar a declaração da Assembleia Geral das Nações Unidas, que anunciou a Década do Envelhecimento Saudável, compreendida entre os anos de 2021 e 2030. De acordo com o relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre essa década, o envelhecimento saudável é o processo de desenvolver e manter a habilidade funcional que permite o bem-estar na idade mais avançada.

Nesse sentido, existe todo um esforço que reúne os governos, a sociedade civil, a mídia, a comunidade acadêmica e o setor privado com o mesmo objetivo: colaborar para a melhoria da vida das pessoas idosas. Para isso, é essencial o combate ao etarismo, a entrega de serviços de cuidados integrados e de atenção primária à saúde adequados à pessoa idosa. Para além das ações propostas pelas Nações Unidas, as pessoas podem adotar certos hábitos que vão contribuir para envelhecer bem.

Quando falamos em envelhecimento saudável, não nos referimos apenas a viver mais, mas a viver melhor. O envelhecimento saudável envolve a manutenção da saúde física e mental ao longo do tempo. Significa viver com autonomia, aproveitar os momentos ao lado de quem amamos e manter o prazer nas atividades diárias. Isso implica fazer escolhas de vida que favoreçam a saúde.

Além disso, entender o processo de envelhecimento e suas mudanças fisiológicas nos ajuda a viver com mais aceitação. Ao longo dos anos, o corpo passa por transformações inevitáveis, mas isso não significa que devemos perder a qualidade de vida. Pelo contrário, os anos podem ser uma oportunidade para viver de maneira mais consciente e apreciar o que a vida oferece.



Fases e Alterações Fisiológicas do Envelhecimento

Envelhecer é um processo inevitável e natural, que se desdobra ao longo das diversas fases da vida. Cada uma dessas etapas é marcada por transformações fisiológicas distintas, que, embora inescapáveis, podem ser vivenciadas de maneira equilibrada.

A forma como enfrentamos essas mudanças tem o poder de impactar profundamente nossa qualidade de vida na terceira idade. Veja a seguir as principais fases do envelhecimento humano:

Fase Inicial (Até os 50 anos): Durante os primeiros anos da vida adulta, o corpo atinge seu auge físico. A energia é abundante, a regeneração celular é eficiente e a capacidade de recuperação após esforços intensos é notável. Contudo, mesmo nesse estágio de vitalidade, começam a surgir as primeiras preocupações com os sinais iniciais do envelhecimento.

Para as mulheres, além das mudanças gerais, a preocupação com o impacto da saúde reprodutiva é um fator relevante porque é nessa fase que se inicia a menopausa e as mudanças hormonais no corpo feminino acarretam diversas transformações físicas e emocionais.

Meia-Idade (50 a 65 anos): Este período marca o início das mudanças mais visíveis e significativas no corpo. A perda gradual de massa muscular, o declínio da elasticidade da pele e o desequilíbrio hormonal são algumas das transformações mais notáveis.

Além disso, o metabolismo pode desacelerar, e a resistência a doenças começa a diminuir. Apesar disso, essa fase ainda permite que a saúde seja bem preservada, especialmente para aqueles que adotam hábitos saudáveis ao longo dos anos. O cuidado preventivo, tanto físico quanto psicológico, é crucial para manter a vitalidade e garantir um envelhecimento saudável.

Velhice (Acima dos 65 anos): A partir dessa fase, os sinais do envelhecimento tornam-se mais evidentes e frequentes. A perda de massa óssea, o enfraquecimento do sistema imunológico e a diminuição da capacidade cognitiva são algumas das alterações que podem ocorrer. Entretanto, é importante destacar que a qualidade de vida não se resume apenas à saúde física.

A vivência emocional, social e a manutenção de conexões significativas continuam a desempenhar um papel fundamental no bem-estar geral. Manter uma rede de apoio, cultivar relacionamentos e praticar atividades que estimulem o intelecto e as emoções podem ser decisivas para um envelhecimento mais pleno.

É fundamental compreender que o envelhecimento de cada indivíduo pode ser mais ou menos marcante dependendo dos cuidados que foram tomados ao longo da vida.

Adotar uma rotina saudável desde a juventude e na meia-idade, com alimentação equilibrada, atividades físicas regulares e cuidados com a saúde mental, pode fazer toda a diferença na forma como encaramos o envelhecer. Além disso, a aceitação e a adaptação a essas mudanças são essenciais para manter uma boa qualidade de vida e aproveitar as diversas experiências que cada fase da vida nos oferece.


Longevidade e Qualidade de Vida: Como Alcançar

Frequentemente associamos a longevidade saudável ao número de anos vividos, mas é essencial compreender que a verdadeira longevidade diz respeito à qualidade de vida que conseguimos manter ao longo do tempo.

Para alcançar uma vida longa e saudável, é necessário adotar um estilo de vida que favoreça o bem-estar físico, emocional e social em todas as etapas da vida. A longevidade não deve ser vista apenas como a soma de anos, mas como a soma de momentos vividos de forma plena, com saúde e satisfação. Para isso, existem certos hábitos indispensáveis.

A Alimentação Balanceada é um dos mais importantes. Uma nutrição adequada é a base para uma vida longa e saudável. Alimentar-se com uma dieta rica em nutrientes essenciais, como vitaminas, minerais, fibras e antioxidantes, é fundamental para manter a saúde cardiovascular, óssea e cerebral.

Alimentos frescos e naturais, como frutas, legumes, grãos integrais e proteínas magras, são aliados poderosos na prevenção de doenças crônicas e no fortalecimento do sistema imunológico. Uma alimentação equilibrada também ajuda a controlar o peso, a manter níveis saudáveis de colesterol e a regular a pressão arterial.

Outro segredo da longevidade é a prática regular de exercícios físicos. O movimento é vital para a longevidade. A prática constante de atividades físicas, como caminhada, natação, yoga ou musculação, fortalece o corpo, melhora a circulação sanguínea e previne doenças. Além disso, os exercícios promovem a liberação de substâncias que melhoram o humor, como endorfinas, e ajudam a reduzir o risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e osteoporose. O exercício regular também mantém a energia, a flexibilidade e a resistência física, permitindo que você se mantenha ativo e independente por mais tempo.

Um fator que merece atenção no processo de envelhecimento é a saúde mental. O equilíbrio emocional é uma peça fundamental para garantir uma vida longa e saudável. Estresse, ansiedade, sensação de angústia e depressão podem afetar profundamente a qualidade de vida, e, portanto, cuidar da saúde mental é imprescindível.

Práticas como meditação e relaxamento contribuem para a redução dos níveis de estresse e aumentam a sensação de bem estar. Além disso, momentos de descontração, como hobbies, leituras e convivência com amigos, são essenciais para manter a saúde emocional e a satisfação pessoal.

Somos seres sociais. Portanto, os laços afetivos com amigos e familiares são de extrema importância ao longo da vida. Estudos mostram que manter amizades e relacionamentos saudáveis ajuda a combater a solidão, a depressão e a ansiedade, promovendo um envelhecimento mais feliz e equilibrado.

Interações sociais enriquecem nossas vidas, oferecem suporte emocional e ajudam a manter a mente ativa. Participar de atividades sociais e manter contato com familiares e amigos é uma das melhores maneiras de manter a qualidade de vida, especialmente na velhice.

A verdadeira qualidade de vida na velhice não está relacionada apenas à ausência de doenças, mas à capacidade de adaptação às mudanças, ao esforço contínuo para manter-se ativo, e ao cuidado em manter bons relacionamentos e um equilíbrio emocional estável. Ao adotar hábitos saudáveis e manter uma mentalidade positiva, podemos construir uma vida mais significativa.


O Segredo da Longevidade: Dicas para Envelhecer Bem

Se você deseja saber como envelhecer bem, saiba que o segredo da longevidade está em atitudes simples, mas que podem fazer uma grande diferença ao longo dos anos. Aqui estão algumas dicas que você incluir na sua rotina para prevenir o envelhecimento precoce:

DICA PARA ENVELHECER DE FORMA SAUDÁVEL DESCRIÇÃO
Gestão do estresse Práticas de relaxamento e meditação ajudam a reduzir o impacto do estresse.
Autoestima e Amor Próprio Valorizar a si mesmo e manter o equilíbrio entre trabalho, descanso e lazer.
Alimentação balanceada Manter uma dieta rica em nutrientes essenciais para o corpo e a mente.
Exercício físico regular Praticar atividades físicas regularmente para fortalecer o corpo e a mente.
Sono de qualidade Dormir o suficiente para permitir a recuperação do corpo e da mente.
Manter relacionamentos sociais Cultivar amizades e laços afetivos ajuda a combater a solidão e a depressão.
Desafiar a mente Estimular o cérebro com leitura, jogos e novos aprendizados para manter a mente ativa.
Controle do peso Manter o peso dentro de uma faixa saudável reduz o risco de doenças crônicas.
Exposição ao sol de forma moderada Tomar sol de forma moderada é importante para a saúde dos ossos e a produção de vitamina D.
Hidratação adequada Beber água regularmente mantém o corpo hidratado e as funções vitais em dia.
Prevenção de doenças Consultar médicos regularmente para exames preventivos e cuidados com a saúde.
Fazer atividades prazerosas Incorporar hobbies e interesses pessoais ao dia a dia proporciona bem-estar.
Evitar o tabagismo e o álcool excessivo Evitar substâncias prejudiciais contribui para a saúde a longo prazo.
Adaptar-se ao envelhecimento Aceitar as mudanças naturais com uma visão positiva e adaptar-se a elas com serenidade.


O Que é o Estoicismo e Como Ele Pode Ajudar a Lidar com o Medo do Envelhecimento

O medo de envelhecer e o medo da morte são desafios profundos que afligem muitas pessoas à medida que o tempo avança. A simples consciência de que nossa vida é finita pode gerar uma sensação de desconforto existencial, levando a questionamentos sobre o propósito e a relevância de nossa jornada.

Nesse cenário, filosofias como o estoicismo oferecem uma abordagem reconfortante, sugerindo que, ao invés de lutar contra o que não podemos controlar, devemos concentrar nossa energia nas atitudes e reações que estão ao nosso alcance — especialmente no que diz respeito ao envelhecimento.

O estoicismo nos ensina a arte de aceitar o inevitável com serenidade, promovendo a paz interior através do domínio sobre nossas emoções e pensamentos. Em vez de resistir ao envelhecimento ou à morte, somos incentivados a abraçá-los como aspectos naturais da vida, reconhecendo que nossa verdadeira liberdade reside na forma como reagimos a essas realidades.

Ao adotar essa perspectiva, podemos transformar a ansiedade que o envelhecer desperta em uma oportunidade de viver com mais presença, gratidão e dignidade, independentemente da idade.

Além disso, o estoicismo nos orienta a cultivar virtudes essenciais, como a sabedoria, a coragem e a moderação, que são fundamentais para um envelhecimento pleno e consciente. Essas virtudes nos ajudam a encarar a finitude com tranquilidade e nos permitem também aproveitar cada fase da vida de maneira mais rica e significativa. Ao aplicarmos os princípios estoicos, somos capazes de viver de forma mais profunda, com menos medos e fobias e mais aceitação, encontrando paz na impermanência e celebrando a sabedoria que vem com o passar do tempo.



Conclusão

O envelhecimento saudável vai muito além de simplesmente cuidar do corpo físico. É uma jornada de aceitação das mudanças naturais que a vida nos impõe e de encontrar maneiras de viver de forma plena, significativa e gratificante, independentemente da idade. Envelhecer com saúde requer cuidados com o corpo, mas também com o lado emocional. A qualidade de vida e a longevidade saudável são conquistadas através de escolhas conscientes, como manter um estilo de vida ativo, cultivar relações positivas e praticar a gratidão.

Perguntas Frequentes sobre Envelhecimento

O que é ter um envelhecimento saudável?

Ter um envelhecimento saudável significa viver a velhice de maneira ativa e plena, mantendo o equilíbrio entre saúde física, mental e emocional. Envolve cuidar do corpo com uma alimentação balanceada, exercícios regulares, sono adequado e gestão do estresse. Também está relacionado à manutenção de uma mentalidade positiva e ao cultivo de relacionamentos saudáveis, o que ajuda a manter a qualidade de vida ao longo do tempo.

Como ter longevidade e qualidade de vida?

Para alcançar longevidade e qualidade de vida, é fundamental adotar hábitos saudáveis desde cedo. Isso inclui uma alimentação nutritiva, atividade física regular, cuidados com a saúde mental e emocional, e o cultivo de conexões sociais. Além disso, praticar a aceitação das mudanças naturais do envelhecimento e procurar viver com propósito e gratidão pode fazer toda a diferença na qualidade de vida, proporcionando bem-estar e uma velhice mais saudável e feliz.





Referências

https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/41984-em-2023-expectativa-de-vida-chega-aos-76-4-anos-e-supera-patamar-pre-pandemia#:~:text=Destaques,mulheres%20de%2079%2C7%20anos

https://www.em.com.br/saude/2024/10/6954965-7-dicas-para-envelhecer-de-forma-saudavel.html

https://www.cnnbrasil.com.br/saude/quais-sao-os-melhores-exercicios-para-envelhecer-bem-especialistas-respondem/

https://www.cnnbrasil.com.br/saude/estilo-de-vida-afeta-mais-o-envelhecimento-do-que-a-genetica-diz-estudo/

https://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/BibliotecaDigital/BibDigitalLivros/TodosOsLivros/Decada-do-envelhecimento-saudavel_relatorio-de-linha-de-base.pdf