Tarsila do Amaral foi uma pintora brasileira que entrou para a história. É uma das artistas mais conhecidas do país e seus quadros são reconhecidos internacionalmente. Foi uma figura central na renovação da arte no Brasil no início do século XX.
Tarsila realizou uma pintura inovadora, que mesclava as influências do modernismo europeu com uma busca pela representação de elementos da cultura e paisagem brasileiras. Suas obras são marcadas por uma forte estética de cores vibrantes e figuras simplificadas, que ajudaram a traçar o caminho para a arte moderna no Brasil.
Tarsila conseguiu traduzir as singularidades do Brasil, trazendo um olhar único para a arte moderna, que se tornou referência no cenário internacional.
Neste artigo, vamos explorar a vida e as contribuições de Tarsila do Amaral, destacando suas principais obras, influências e o legado que ela deixou no mundo da arte.
O artigo abordará os seguintes tópicos:
Biografia de Tarsila do Amaral

Tarsila do Amaral nasceu em 1º de setembro de 1886, na fazenda São Bernardo, localizada no município de Capivari, interior de São Paulo. Pertencia a uma família rica e tradicional.
Seu pai, José Stanislau do Amaral Filho, era juiz e político, e sua mãe, Lídia Dias Aguiar, era musicista. Os pais de Tarsila tinham interesse na arte e a motivaram a pintar desde cedo.
Na adolescência, Tarsila foi morar com os pais na cidade de São Paulo e, lá, estudou na tradicional escola Notredame de Sion.
Aos 16 anos de idade, ela viajou para Barcelona, onde teve contato com a arte e com a cultura europeia. Inclusive, foi na Espanha que Tarsila pintou seu primeiro quadro, intitulado “Sagrado Coração de Jesus”, em 1904.
Tarsila do Amaral pintou seu primeiro quadro aos 18 anos, durante uma temporada de estudos em Barcelona, e a obra se chamava Sagrado Coração de Jesus.
Em 1906, Tarsila volta ao Brasil e se casa com André Teixeira Pinto, que era primo de sua mãe. Casada, ela vai morar na fazenda São Bernardo e tem uma filha chamada Dulce, sua única filha. O casamento, porém, durou apenas um ano.
Na época, uma mulher “desquitada” não era bem vista pela sociedade, mas mesmo assim Tarsila optou pela separação e voltou a morar em São Paulo, onde resolveu dar continuidade aos seus estudos artísticos.
Em 1917, ela conheceu a pintora modernista Anita Malfatti, que se tornaria sua grande amiga.
Em 1920, Tarsila foi morar em Paris, onde passou a estudar na academia Julien. Pouco tempo depois, em 1922, acontece no Brasil a famosa Semana de Arte Moderna de 1922, mas Tarsila não esteve presente.
Apesar disso, quando Tarsila volta ao Brasil, ela fica amiga dos artistas que organizaram a Semana de Arte Moderna: Mário de Andrade e Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, além da sua já amiga Anita Malfatti. Eles ficaram conhecidos como o “Grupo dos 5”.
Foi nessa fase que Tarsila do Amaral se encantou com o movimento modernista e começou a criar pinturas com novos temas, mais sintonizados com a proposta do modernismo.
Ela expôs pela primeira vez no Brasil, durante o primeiro Salão da Sociedade Paulista de Belas Artes, que comemorava o centenário da independência. Tarsila foi influenciada pelo cubismo e pelas vanguardas europeias, mas rapidamente começou a integrar elementos da cultura brasileira, especialmente o folclore e as paisagens do país.
Apesar de ser um dos maiores nomes do modernismo, Tarsila não participou da Semana de Arte Moderna de 1922 - ela ainda morava em Paris na época.
Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade
Foi na década de 1920 que Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade se apaixonaram e resolveram viajar para Paris, no intuito de viver o romance longe do conservadorismo da sociedade paulista.
O amigo do casal, Mário de Andrade, os chamava carinhosamente de “Tarsiwald”. Oswald de Andrade, poeta e escritor, foi uma das figuras centrais do movimento modernista no Brasil, e Tarsila, por sua vez, estava em pleno desenvolvimento do estilo próprio na pintura, absorvendo as influências das vanguardas europeias.
Juntos, eles compartilhavam o desejo de ruptura com as tradições artísticas e culturais do Brasil, buscando uma nova identidade para a arte brasileira, mais autêntica e desafiadora das convenções da época.
Em 1926, Tarsila casa com Oswald de Andrade e os padrinhos do casamento foram ninguém menos do que o presidente da república, Washington Luís e o governador de São Paulo, Júlio Prestes. O relacionamento deles teve um impacto profundo nas obras de ambos.
Tarsila pintou o icônico quadro “Abaporu” em 1928, que foi diretamente inspirado pela filosofia de Oswald de Andrade, especialmente suas ideias sobre a "Antropofagia", um movimento cultural, cuja proposta era devorar as influências estrangeiras e criar algo genuinamente brasileiro a partir dessa assimilação. “Abaporu” foi fundamental para a criação do Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade, que se tornaria um dos pilares do modernismo no Brasil.

Mas, o relacionamento dos dois artistas acabou sendo marcado por uma das traições mais famosas da história da cultura brasileira: a relação extraconjugal de Oswald com Pagu, a jovem escritora e ativista Patrícia Galvão.
Pagu, era uma figura importante no movimento modernista, tanto no campo literário quanto nas questões políticas. A traição ocorreu enquanto Tarsila e Oswald estavam casados e gerou um grande escândalo na época.
O casal “Tarsiwald” se separou e, apesar de profundamente abalada, Tarsila seguiu em frente com sua carreira artística.
Ela faleceu aos 83 anos de idade, no dia 17 de janeiro de 1973, em decorrência da depressão e das complicações pós-cirúrgicas que a deixaram numa cadeira de rodas durante oito anos.

O Movimento Modernista e Tarsila
Tarsila, junto com outros artistas como Anita Malfatti, Lasar Segall e Vicente do Rego Monteiro, foi um dos principais nomes responsáveis pelo movimento modernista na pintura.
Ela trouxe para suas obras a simplicidade das formas e a explosão de cores que caracterizam o modernismo, numa fusão de brasilidade com vanguardas europeias do início do século XX.
Após a separação, Tarsila foi trabalhar na Pinacoteca de São Paulo, mas devido à Revolução de 1930, ela não permaneceu muito tempo no emprego.
Em seguida, viveu um romance com o psiquiatra Osório César, tendo inclusive ilustrado o livro dele intitulado “Misticismo e Loucura”. Juntos, eles foram para a União Soviética e Tarsila chegou a expor em Moscou.
Uma de suas obras, o quadro “O Pescador”, foi adquirida pelo Museu de Artes Ocidentais da União Soviética.

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Tarsila do Amaral e o Comunismo
Tarsila do Amaral teve uma relação próxima com o movimento comunista durante a década de 1930, especialmente após sua viagem à União Soviética. Ao retornar da Rússia, onde teve contato com ideais socialistas, ela foi alvo da perseguição aos comunistas.
Principalmente por conta do seu relacionamento com o psiquiatra Osório César, que, ao chegar ao Brasil, foi logo preso. Tarsila foi presa em seguida e ficou detida durante dois meses, durante o governo de Getúlio Vargas.
Após sair da prisão, ela foi morar no Rio de Janeiro, onde atuou como jornalista. Lá, viveu um novo amor com o jornalista Luís Martins, bem mais novo do que ela.
Os dois foram morar numa fazenda da família de Tarsila, mas o novo amor da pintora acabou se apaixonando por uma prima dela e fugiu para Paris.
Depois disso, Tarsila vendeu a fazenda e foi morar com a filha, Dulce. Porém, Dulce veio a falecer e Tarsila foi amparada pela sobrinha Helena, que a acompanhou até o fim de sua vida.
Principais quadros de Tarsila do Amaral
A carreira de Tarsila foi marcada por várias obras fundamentais que tornaram-se ícones do modernismo no Brasil. Dentre elas, destaca-se Abaporu (1928), um dos quadros mais emblemáticos do modernismo brasileiro.
Outras obras importantes de Tarsila incluem A Negra (1923), que explora a temática afro-brasileira e apresenta uma figura feminina de traços simplificados, Sol Poente (1929), que expressa a fusão de elementos do cubismo com a representação da natureza tropical brasileira e Operários (1933), que é uma das obras mais emblemáticas de Tarsila, na qual a artista aborda a vida dos trabalhadores durante o processo de industrialização no Brasil.
Suas pinturas são reconhecidas pela simplificação das formas, uso vibrante de cores e pela busca por uma estética que refletisse a identidade nacional. Características como a volumetria das figuras, as cores intensas e o uso de formas geométricas ou orgânicas, como em Abaporu, são marcantes em sua produção.
Além disso, sua obra reflete a transição de uma arte mais acadêmica para uma representação mais direta e ousada da cultura e do povo brasileiro, tratando temas como a paisagem nacional, o operariado e a mitologia indígena, com uma abordagem que busca tanto a modernidade quanto a autenticidade cultural.
Confira a seguir algumas das principais obras de Tarsila do Amaral:
A Negra (1923)

Operários (1933)

Sol Poente (1929)

O quadro Operários (1933) é considerado um símbolo da industrialização de São Paulo e destaca a diversidade étnica dos trabalhadores brasileiros.
O Estilo e a Influência de Tarsila
O estilo de Tarsila do Amaral é imediatamente reconhecível pela força das cores e a simplificação das formas.
Sua técnica buscava a redução das figuras a elementos essenciais, o que a aproximava do cubismo, mas também incorporava características próprias, como a utilização de cores vibrantes para transmitir sensações e emoções.
Além disso, Tarsila foi uma das primeiras artistas brasileiras a explorar a síntese entre o universal e o local, tentando representar o Brasil de uma forma inovadora e autêntica.
A fusão entre o cubismo e as imagens da cultura popular brasileira fez com que suas obras fossem reverenciadas tanto no Brasil quanto no exterior.
Conclusão
Tarsila do Amaral foi uma das artistas mais inovadoras e influentes do modernismo brasileiro, deixando um legado duradouro na história da arte no país.
Sua busca por uma linguagem genuinamente brasileira, aliada à sua técnica e ao uso de cores vibrantes, ajudou a redefinir a arte no Brasil e a estabelecer um novo caminho para as gerações de artistas que a seguiram.
Com obras como Abaporu, A Negra e Sol Poente, Tarsila refletiu as mudanças culturais e políticas de sua época e também foi uma das principais responsáveis pela construção da identidade visual do Brasil moderno.
Seu trabalho continua a inspirar artistas e espectadores ao redor do mundo, e sua importância na arte contemporânea não pode ser subestimada.
Perguntas Frequentes
Quem foi Tarsila do Amaral e qual a sua principal contribuição para a arte brasileira?
Tarsila do Amaral foi uma pintora brasileira e um dos principais nomes do modernismo no Brasil. Sua principal contribuição foi a criação de uma arte que mesclava influências do modernismo europeu com temas e referências da cultura brasileira, ajudando a definir uma identidade artística brasileira moderna.
Quais são as principais obras de Tarsila do Amaral?
As principais obras de Tarsila incluem os quadros Abaporu e A Negra, que são consideradas marcos do modernismo brasileiro e refletem a busca pela identidade cultural do país.
O que representa o quadro Abaporu?
O quadro Abaporu, pintado em 1928, representa a figura humana de forma desproporcional — com cabeça pequena e pés grandes — como símbolo da força e da criatividade brasileiras. A obra inspirou o conceito da Antropofagia cultural, que propunha “devorar” influências estrangeiras para criar algo novo e nacional.
Qual foi a relação entre Tarsila do Amaral e o modernismo?
Tarsila foi uma das artistas mais importantes do modernismo no Brasil, integrando o chamado “Grupo dos 5” ao lado de Oswald e Mário de Andrade, Anita Malfatti e Menotti Del Picchia. Suas obras traduzem o ideal modernista de romper com as tradições acadêmicas e valorizar a brasilidade nas artes visuais.
Onde estão as obras de Tarsila do Amaral atualmente?
As obras de Tarsila estão espalhadas por museus e coleções de todo o mundo, como o Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires (MALBA), o Museu de Arte Contemporânea da USP e o Acervo dos Palácios do Governo de São Paulo. Algumas também fazem parte de coleções particulares no Brasil e no exterior.
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Referências:
https://www.tarsiladoamaral.com.br/
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obras/82977-a-negra