
Epicuro foi um filósofo do período helenístico que fundou o epicurismo, corrente filosófica que valoriza a busca da felicidade por meio da tranquilidade da alma e do prazer moderado.
Ele tinha uma peculiaridade na sua filosofia: o diálogo no jardim. Neste espaço, ele ensinava aos seus discípulos a importância de uma vida simples pautada na amizade, no prazer e na ausência da dor.
Neste texto você vai conhecer mais sobre a teoria de Epicuro e como esta escola filosófica pode te ajudar a lidar com as escolhas da vida.
O artigo abordará os seguintes tópicos:
Quem foi Epicuro de Samos: uma breve biografia
Epicuro nasceu em Atenas em 340 a.C. Algumas fontes dizem que ele foi criado em Samos, o que o fez ficar conhecido como Epicuro de Samos.
Apesar de ter retornado a Atenas quando tinha 18 anos, logo deixou a cidade e se mudou para Colofão, onde hoje fica a Turquia.
Foi então que ele começou a estudar filosofia com Nausífanes, um filósofo que seguia a doutrina de Demócrito, a qual teve grande influência no Epicurismo quanto à visão atomista.
Posteriormente, Epicuro começou a compartilhar suas ideias na cidade de Mitilene e Lâmpsaco, cidades nas quais conseguiu reunir seguidores.
Tempos depois, por volta de 307 a 306 a.C, comprou uma propriedade com um jardim, onde reunia seus discípulos e desenvolveu a escola epicurista.
Epicuro faleceu em 270 (d.C), devido a problemas advindos de pedras nos rins.

CURIOSIDADE
A mãe de Epicuro, Querestrata, costumava ir à casa das pessoas mais simples afastar o mau-olhado e curar doenças. E foi acompanhando sua mãe que Epicuro conheceu de perto a crença dos homens no sobrenatural, o que fez com que ele se tornasse um crítico desse pensamento.
O Jardim de Epicuro
Quando se fala de Jardim de Epicuro, refere-se literalmente a um jardim. O filósofo, quando retornou para Atenas, adquiriu uma casa com um jardim, onde fundou sua escola.
Uma das irreverências da doutrina de Epicuro é que, diferentemente das outras escolas, enquanto ele caminhava pelo jardim, conversava e transmitia ideias e conhecimentos para seus discípulos.
Ademais, é importante ressaltar que o Jardim era um lugar ao ar livre onde seus discípulos não o viam como um mestre. A atmosfera de sua escola era de um grupo de amigos que refletia e filosofava juntos.
Segundo o professor Franklin Leopoldo e Silva, que conduz o curso Trilha da Filosofia | 2ª temporada, o Epicurismo é basicamente uma “busca conjunta pela verdade”. Porém, não uma busca comunitária, mas conjunta no sentido de que cada um olhando para si encontraria as normas morais que devem guiar a sua vida.

No Jardim, aprendia-se não apenas as matérias tradicionais oferecidas, por exemplo, na Academia de Platão, como metafísica, lógica, matemática, política e ética.
O Epicurismo também apresentava de forma prática um caminho para que seus alunos alcançassem uma vida feliz, por meio da ausência da dor, do prazer moderado e da tranquilidade da alma.
Principais ideias de Epicuro
A filosofia de Epicuro era voltada para uma vida prática. Isso era um reflexo do desgaste do pensamento grego muito pautado na teoria.
O epicurismo baseia-se no “viver bem”, ou seja, encontrar uma vida feliz a partir do prazer moderado, da ausência da dor e da tranquilidade da alma.
Mas seu fundador pontuava que a prudência (ou sabedoria) e a moderação eram essenciais para que se alcançasse a felicidade. Isso só era possível a partir da liberdade interior.
Algumas das principais ideias da teoria de Epicuro são:
Ataraxia:
A ataraxia é um conceito filosófico que se refere a um estado de serenidade da mente, que nos livra das inquietações e da ansiedade.
Desta forma, para Epicuro, esta é a conquista de uma liberdade interior que surge quando deixamos de ter medo, por exemplo, da morte ou dos deuses, além de recusarmos permanecer na ignorância.
“A ausência de perturbação e de dor são prazeres estáveis; por seu turno, O gozo e a alegria são prazeres de movimento, pela sua vivacidade.” - Epicuro
Resumindo, a ataraxia é a busca do espírito pelo equilíbrio da mente frente aos desejos, paixões e perturbações da alma.
Os desejos segundo epicuro
Epicuro ensinava que nem todos os desejos nos levam à felicidade. Ele os dividia em três tipos:
- Naturais e necessários: são desejos essenciais para o bem-estar, como comer para sobreviver, ter abrigo ou cuidar da saúde. São desejos simples, fáceis de satisfazer e fundamentais para uma vida tranquila.
- Naturais e desnecessários: são desejos que trazem prazer, mas não são vitais, como comer comidas sofisticadas.
- Vazios: não se satisfazem verdadeiramente e podem gerar angústia, ansiedade e perturbar a paz interior, como a fama ou o poder.
Aponia:
A aponia é um estado de prazer estável que resulta da ausência de dor física. Como a dor é natural da condição humana, ela pode surgir em diferentes momentos da vida.
Entretanto, para os epicuristas, ela não pode ser totalmente anulada, mas pode ser administrada de forma racional. A maneira como lidamos com a dor é essencial para alcançar a ataraxia.
Para Epicuro, a dor, seja física ou emocional, perturba o espírito e, portanto, é necessário afastá-la para se alcançar a verdadeira felicidade.
Medo da morte:
Epicuro dizia que a morte “não é nada”, pois não não é uma experiência consciente, ou seja, quando ela chegar não teremos consciência de sua chegada. Sendo assim, não devemos ter medo da morte.
“É insensato aquele que diz temer a morte, não porque ela o aflija quando sobrevier, mas porque o aflige o prevê-la: o que não nos perturba quando está presente inutilmente nos perturba também enquanto o esperamos.” - Epicuro
Ele acreditava que a morte era o fim da existência, refutando a ideia de vida após a morte.
Felicidade:
De acordo com o professor Marcos Reis Pinheiro, que leciona o curso Filosofia como forma de viver da Casa do Saber, uma boa tradução para “felicidade”, do grego eudaimonia, talvez seja “realização”.
Marcos Pinheiro diz que uma pessoa não é necessariamente alegre quando é realizada, porque ela passa por momentos que exigem muito esforço. Mas é importante ressaltar que felicidade (eudaimonia) é diferente de alegria (khara).
Para Epicuro, a alegria não é um fim, mas uma emoção passageira. Já a felicidade, é um estado duradouro de prazer tranquilo, que se alcança quando se elimina a dor do corpo e a perturbação da mente.
Amizade e Autossuficiência:
A amizade é um ponto fundamental na filosofia de Epicuro para se alcançar a felicidade. Para ele, a amizade é uma das maiores fontes de prazer e segurança na vida.
Inclusive, a criação de sua escola no Jardim tinha como propósito justamente fortalecer os vínculos entre os discípulos.
Estar entre amigos funciona como um remédio para a alma: a confiança no apoio mútuo alivia as dores e intensifica as alegrias.
“Toda amizade é desejável por si própria, mas inicia-se pela necessidade do que é útil.” - Epicuro
Quando a felicidade não está condicionada ao outro, a relação se torna mais leve, sincera e duradoura.
A autossuficiência liberta o indivíduo do medo da solidão e permite o surgimento de vínculos verdadeiros porque amar o outro sem precisar dele é o que garante liberdade e alcançar a ataraxia.
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Paradoxo de Epicuro
A filosofia helenística, período no qual viveu Epicuro, tinha grande interesse pela lógica formal.
No entanto, influenciado pelo atomismo de Leucipo e Demócrito, Epicuro propôs outra abordagem: se tudo é composto por átomos e vazio, inclusive os pensamentos, então as imagens das coisas são captadas pelos sentidos e formam percepções da realidade.
Algumas dessas imagens seriam tão sutis que atingiriam diretamente a mente, por exemplo, as ideias sobre os deuses.
Segundo Epicuro, os deuses existem, mas vivem em um estado de perfeição e serenidade, distante das questões humanas. Sendo assim, a imagem que temos deles é formada por impressões que temos do mundo.
Por fim, Epicuro dizia que os deuses não intervêm nos acontecimentos, não criam nem impedem o mal.Esse raciocínio dá origem ao chamado Paradoxo de Epicuro.
Se os deuses são bons e poderosos, por que o mal existe?
Ou não querem ou não podem evitá-lo - e, em ambos os casos, não são divindades perfeitas.
Estoicismo e Epicurismo
As duas correntes filosóficas são contemporâneas, entretanto, o estoicismo permaneceu forte por mais tempo.
De acordo com o professor Franklin Leopoldo, talvez isso tenha acontecido pelo período em questão, no qual se dava grande valor ao pensamento racional nas ciências.
Apesar de o epicurismo preservar a determinação racional do estoicismo, ele ainda acrescentava as variações que podem fazer o indivíduo “agir de maneira inesperada e ser livre”, segundo o professor Franklin Leopoldo.
Portanto, o epicurismo diz que o indivíduo pode encontrar a liberdade interior, diferentemente do estoicismo, que diz que tudo ocorre de acordo com a razão universal (logos).

Morte de Epicuro
Como você pode perceber durante a leitura deste texto, a morte para Epicuro não deveria ser temida. Ele faleceu em 270 a.C, com 72 anos de idade em decorrência de pedras nos rins.
Segundo registros, ele não temeu a morte e esperou-a chegar em boa companhia. Epicuro não se queixava das dores causadas pelo seu problema de saúde e continuou a dialogar e refletir sobre a vida bem vivida e a felicidade com seus discípulos.
Em sua última carta, a Idomeneu, ele escreveu:
“Este dia em que te escrevo é o último da minha vida e é também um dia feliz. Sinto tais dores de bexiga e de entranhas que nem se poderia imaginar dores mais violentas; mas estes sofrimentos são compensados pela alegria que traz à minha alma a recordação das nossas conversações”.
Epicuro, até o último momento de sua vida, seguiu sua filosofia e aceitou, sem o temor da morte, que o fim de sua vida havia chegado.
Frases de Epicuro
Epicuro escreveu várias obras, mas a maioria se perdeu com o tempo.
Entretanto, suas ideias resistiram através de fragmentos ou citações de outros filósofos, que nos ajudam a compreender o grande legado para a história da filosofia e para a humanidade que Epicuro deixou.
“Deves servir à filosofia para que possas alcançar a verdadeira liberdade”
“É verdadeiro tanto o que vemos com os olhos como aquilo que apreendemos mediante a intuição mental.”
“É necessário crer que os mundos e toda combinação finita nascem do infinito.”
“A quem não basta pouco, nada basta.”
“De todas as coisas que nos oferece a sabedoria para a felicidade de toda a vida, a maior é a aquisição da amizade.”
Perguntas frequentes sobre Epicuro
Qual é a teoria de Epicuro?
A teoria de Epicuro propõe que o objetivo da vida é alcançar a felicidade por meio do prazer, que pode ser alcançado por meio da ausência de dor (aponia) e perturbação (ataraxia). Ele defendia uma vida simples, guiada pela razão, pela moderação dos desejos, pela prudência e pela amizade. Sua filosofia é composta por ideias da ética do hedonismo filosófico, da física atomista e da teoria do conhecimento empírico.
Qual era a principal ideia de Epicuro?
A principal ideia de Epicuro era que a felicidade é objetivo da vida humana. E esse objetivo só podia ser alcançado por meio do prazer, que definia como a ausência da dor física (aponia) e a imperturbabilidade da alma (ataraxia). Epicuro dizia que para se atingir a verdadeira felicidade era necessário moderação, prudência, amizade, autoconhecimento e a eliminação dos medos, especialmente o medo da morte e dos deuses.
O que significam ataraxia e aponia em Epicuro?
Ataraxia é a ausência de perturbações na alma, alcançada pela serenidade e equilíbrio interior. Já aponia significa ausência de dor física. Juntas, essas condições representam o estado ideal de prazer defendido por Epicuro como caminho para a verdadeira felicidade.
Qual era a visão de Epicuro sobre a morte?
Epicuro ensinava que a morte não deve ser temida, pois quando estamos vivos a morte não existe, e quando ela chega já não existimos. Assim, libertar-se do medo da morte é essencial para alcançar a ataraxia e viver em plenitude.
Qual é a importância da amizade na filosofia de Epicuro?
A amizade era considerada por Epicuro um dos maiores bens para se atingir a felicidade. Ele afirmava que os amigos oferecem apoio, segurança e prazer na convivência, sendo fundamentais para a vida simples e prazerosa defendida por sua filosofia.

Referências:
Os pensadores: Epicuro, Lucrécio, Cícero, Sêneca, Marco Aurélio. 1. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
KONSTAN, David (ed.). Epicurus. In: STARNFORD ENCYCLOPEDIA OF PHILOSOPHY. Metaphysics Research Lab, Stanford University, 10 jan. 2005 (rev. 16 abr. 2018)