Provavelmente você já ouviu ou leu a frase “Penso, logo existo”. Uma das mais célebres frases da filosofia moderna pertence a René Descartes, um homem que foi filósofo, matemático e físico e teve contribuições fundamentais para a ciência moderna.
Neste texto você vai conhecer mais sobre a vida deste filósofo racionalista, seus principais princípios filosóficos e contribuições que estão presentes na nossa vida até os dias de hoje.
O artigo abordará os seguintes tópicos:
- Quem foi René Descartes?
- O racionalismo cartesiano e a dúvida metódica
- “Penso, logo existo”: significado e impacto
- Dualismo mente e corpo: a separação entre “res cogitans” e “res extensa”
- Descartes na matemática, física e pensamento científico
- Críticas e limitações do pensamento cartesiano
- Por que ainda estudamos Descartes hoje?

Quem foi René Descartes?
René Descartes foi um filósofo, matemático e físico francês. Nasceu em 31 de março de 1596, na antiga La Haye, na França, agora La Haye-Descartes em sua homenagem.
Conhecido como o "pai da filosofia moderna", ele propôs uma nova perspectiva sobre o pensamento, baseado na razão e na dúvida metódica.
Desde a infância, Descartes teve contato com uma educação rica e de qualidade. Estudou no colégio jesuíta de La Flèche, onde aprendeu filosofia escolástica.
Posteriormente, formou-se em Direito na Universidade de Poitiers, apesar de não ter exercido a profissão.
Contudo, Descartes entendia que a escolástica não o levaria para um conhecimento indubitável. Então seu interesse se voltou para a matemática, a filosofia e as ciências naturais.
Ele foi de encontro com o pensamento aristotélico ao propor uma ciência unitária e universal, que seria pilar para o método científico moderno.
Descartes viveu em um período de grandes transformações. Ele vivenciou o fim da Idade Média e o início da modernidade, período no qual o pensamento era baseado na autoridade da Igreja e das tradições.
Por ter sido uma época marcada pelas descobertas científicas, mudanças religiosas e conflitos políticos, começou a ocorrer uma mudança quanto ao pensamento tradicional vigente.
Nesse contexto, Descartes propôs um novo método de investigação que valorizava a razão e a lógica acima de tudo.
Ao longo de sua vida, Descartes escreveu obras que influenciaram não só a filosofia, mas também a ciência e a matemática.
Entre as principais obras de Descartes estão:
- Discurso do Método (1637)
- Meditações Metafísicas (1641)
- Princípios da Filosofia (1644)
Descartes recebeu um convite, em 1649, para ser conselheiro e professor da rainha Cristina, em Estocolmo, Suécia. Ele faleceu em 1650, de pneumonia.
O racionalismo cartesiano e a dúvida metódica
René Descartes recebeu o status de fundador do racionalismo moderno. Ele tinha como proposta filosófica estabelecer um conhecimento seguro e verdadeiro, baseado na razão.
Para isso, desenvolveu um procedimento rigoroso conhecido como dúvida metódica.
Também conhecido como método da dúvida, este é um modelo de investigação rigorosa que consiste em colocar sob suspeita todas as crenças, mesmo aquelas que já são tidas como certezas, que possam ser passíveis de dúvida.
Descartes propõe que antes de aceitar qualquer ideia como verdadeira é necessário examiná-la criteriosamente, questionando sua origem e seus fundamentos.
E esses questionamentos também se referem às informações obtidas pelos sentidos – que podem ser enganosas –, as crenças aprendidas na infância e até mesmo as verdades matemáticas.
O ponto-chave da sua proposta filosófica são as ideias inatas, as quais são verdades que estão na mente humana desde o nascimento e que são independentes da experiência sensível. Para exemplificar, a noção de Deus e da perfeição. Este método também ficou conhecido como método cartesiano.
Pode-se chamar essa dúvida de método porque, para Descartes, a dúvida é uma ferramenta para a construção do conhecimento. E a razão deve ser aplicada de forma ordenada e lógica, organizando os problemas dos mais simples para os mais complexos.
Então, para ele, a dúvida de forma radical deveria ser aplicada, pois, assim, atingiria-se um ponto seguro do conhecimento que temos.
Tamanha era a preocupação do filósofo que ele questionou a própria existência, chegando à famosa frase “Penso, logo existo” (Cogito, ergo sum), a qual é a conclusão do argumento do cogito, a primeira certeza inabalável.
Portanto, o racionalismo cartesiano afirma que a razão é o único caminho confiável para atingir o conhecimento verdadeiro.
O método cartesiano influenciou profundamente a ciência moderna, a filosofia e a forma como pensamos sobre o mundo até hoje.
“Penso, logo existo”: significado e impacto
A frase “Penso, logo existo” (Cogito, ergo sum) é uma das mais conhecidas de Descartes e da história da filosofia.
Foi através dela que René Descartes traçou o caminho para a busca por um conhecimento que não pudesse ser colocado em dúvida.
Na verdade, essa frase é a conclusão do argumento do cogito.
O argumento do cogito
Ao adotar a dúvida metódica como método, Descartes questiona tudo: os sentidos, as crenças, as ideias inatas, aquelas colocadas por Deus na mente humana, e até mesmo os princípios da matemática.
No entanto, o próprio fato de pensar, mesmo que duvide, já prova a existência do sujeito enquanto pensamento.
Assim, o cogito se tornou a primeira certeza indiscutível: se penso, logo existo.
René Descartes trouxe para a discussão uma nova perspectiva do ponto de partida do conhecimento: a razão. Isso rompia com a tradição filosófica que antes se apoiava em autoridades externas, tradições ou experiências sensoriais.
A dúvida radical é fundamental para esse pensamento porque, mesmo que a convicção do indivíduo seja falsa, ele a está questionando e isso, por si só, prova a sua existência na condição de sujeito pensante.
Portanto, sendo provado que o sujeito é pensante, isso se torna uma verdade que fundamenta seu pensamento filosófico para a construção do edifício do conhecimento.
A partir da certeza do cogito, Descartes busca demonstrar e fundamentar a existência de Deus para validar a confiabilidade do mundo exterior – sempre partindo da razão.
O cogito inaugura uma nova forma de pensar, focada no sujeito e em sua capacidade de reflexão. Desta forma, Descartes estabelece a consciência do indivíduo como base da construção do saber.
Essa ideia impacta a filosofia e outras áreas, como a ciência, a psicologia e a própria noção de sujeito moderno.
A confiança na razão e na autonomia do indivíduo, discutidas no cogito, moldaram a percepção do ser humano na modernidade, instigando o caráter investigativo.
Em resumo, a conclusão “penso, logo existo” extrapola a frase filosófica. Ela é o começo para compreender o mundo e a si mesmo sob um novo olhar.
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Dualismo mente e corpo: a separação entre “res cogitans” e “res extensa”
A teoria do dualismo proposta por Descartes diz que existem duas substâncias distintas na realidade: a mente (res cogitans) e o corpo (res extensa).
A res cogitans é a substância pensante, imaterial, consciente e racional, ou seja, a mente. Portanto, é a parte responsável pelo pensamento, pela dúvida, pela compreensão, pelo desejo e pelo sentimento.
Entretanto, a res extensa é a substância material, que tem forma e que se submete às leis da física, isto é, o corpo.
Descartes dizia que a mente é invisível e indivisível, enquanto o corpo é visível e divisível.
Embora mente e corpo sejam substâncias de naturezas diferentes, elas interagem nas sensações e emoções. Apesar de serem partes distintas (res cogitans e res extensa), estão interligadas.
Segundo Descartes, a comunicação entre essas substâncias acontece por meio da glândula pineal, localizada no cérebro, onde os pensamentos influenciam as ações do corpo e a recíproca é verdadeira.
O princípio do dualismo mente e corpo contribuiu para uma mudança importante no modo como essas substâncias passaram a ser abordadas na ciência: a mente passou a ser estudada pela filosofia, enquanto o corpo e os fenômenos físicos se tornaram objeto da ciência moderna.
Essa distinção não só permitiu o avanço de áreas como a medicina e a matemática, como também contribuiu para o desenvolvimento da psicologia e da nossa compreensão sobre a subjetividade humana.
Descartes na matemática, física e pensamento científico
As ideias de Descartes tiveram grande influência no desenvolvimento da matemática, da física e da ciência moderna como um todo.
Quando Descartes propôs uma busca pelo conhecimento verdadeiro por meio da razão, ele contribuiu com a fundamentação racionalista do método científico e modificou a compreensão que temos da natureza.
Na matemática, sua principal contribuição foi a criação da geometria analítica, que uniu a álgebra e a geometria em um único sistema.
Isso permitiu representar elementos geométricos, como retas, pontos, circunferências, por meio de equações, o que possibilitou descrever fenômenos naturais com precisão matemática.
Os conhecidos eixos cartesianos são fundamentais para diversas áreas da ciência e da engenharia.
Já na física, Descartes propôs uma visão mecanicista do mundo, rompendo com a visão aristotélica. Ele acreditava que a natureza funciona como uma máquina, obedecendo a leis mecânicas (matemáticas e racionais), descartando o sobrenatural.
Com isso, trouxe a ideia de que os fenômenos físicos podem ser explicados através das causas eficientes (colisões e movimento de partículas materiais), o que teve impacto direto para a física moderna.
Por último, mas não menos relevante, sua colaboração com o pensamento científico está diretamente ligada à valorização do método.
Segundo Descartes, o conhecimento deve seguir um raciocínio lógico e ordenado, com base em evidências claras e objetivas, guiando o ideal de objetividade que orienta as ciências até os dias atuais.
Quando René Descartes elaborou um pensamento que unia razão, clareza conceitual e método, ele estabeleceu fundamentos capazes de orientar a investigação científica, que ainda são utilizados no mundo moderno.

Críticas e limitações do pensamento cartesiano
O pensamento cartesiano não só exerceu influência na filosofia e nas ciências modernas, como também recebeu críticas importantes, sobretudo de visões contemporâneas.
Um dos pontos de crítica é o seu dualismo mente e corpo, res cogitans e res extensa, como substâncias distintas e independentes.
Para alguns críticos, essa divisão gera dificuldades em explicar como duas naturezas tão diferentes poderiam interagir.
A tentativa de Descartes de resolver isso por meio da glândula pineal não foi muito aceita. Filósofos como Espinosa e Leibniz buscaram alternativas para superar essa divisão e defender uma visão mais integrada da realidade.
Outro questionamento sobre as ideias de Descartes volta-se para o racionalismo cartesiano excessivo.
Quando René Descartes prioriza a razão como fonte do conhecimento, ele desconsidera a relevância das outras experiências: dos sentidos, da vivência e do contexto histórico como parte fundamental da construção do conhecimento.
Alguns filósofos conhecidos que contrapuseram essa ideia são dois empiristas, John Locke e David Hume. Eles argumentaram que todo conhecimento tem origem na experiência sensível.
Agora, na contemporaneidade, a crítica ao racionalismo cartesiano expressa a necessidade de repensar o sujeito de forma mais complexa, pois não é possível ignorar os contextos culturais, sociais e históricos aos quais ele pertence.
Apesar dessas limitações e questionamentos, o pensamento cartesiano continua relevante. Sua influência foi tão forte que correntes filosóficas se formaram a partir das críticas e das dúvidas que vieram de suas ideias, como o empirismo.
E não seria essa a proposta inicial do pensamento cartesiano? Questionar tudo, até mesmo as crenças que são tidas como verdades? Provavelmente, ele estaria feliz com o resultado de suas ideias e de suas questões em aberto.
Por que ainda estudamos Descartes hoje?
René Descartes continua até hoje sendo referência e provocando reflexões fundamentais sobre a razão, a dúvida e o conhecimento.
O método cartesiano teve forte influência na investigação filosófica, científica e epistemológica, trazendo o sujeito pensante para o centro da busca pela verdade.
Sua proposta de começar o saber pela suspensão de todas as certezas abriu caminho para uma filosofia mais crítica e autônoma, inclusive favoreceu o surgimento de ramos da filosofia que tentavam se inspirar, como o Iluminismo, ou ressignificá-lo.
Ainda que tenham sido refutadas e recebido críticas, as ideias de Descartes não só influenciaram como ainda influenciam a construção do conhecimento, a ciência e a sociedade.
Estudar Descartes é voltar às raízes do pensamento moderno como um guia para compreendermos o que é o conhecimento e a nossa existência. Além de ser um convite para a autocrítica para refletirmos sobre como pensamos e como lidamos com a dúvida.
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