O surrealismo foi uma das mais ousadas vanguardas europeias do século XX. Inspirado na psicanálise de Freud e influenciado pelos traumas da Primeira Guerra Mundial, o movimento propôs uma revolução na arte: liberar o inconsciente e transformar os sonhos, desejos e pensamentos automáticos em criações artísticas.
Mais do que um estilo visual, o surrealismo foi uma filosofia, um modo de ver e questionar o mundo. Com artistas como Salvador Dalí, André Breton, René Magritte e Max Ernst, a arte surrealista transformou a pintura, e também deixou um legado na literatura, no cinema, na fotografia e no design.
O artigo abordará os seguintes tópicos:

Surrealismo: Origem, Características e Principais Artistas
Para o surrealismo, mais do que representar a realidade de forma lógica, o essencial era dar forma às imagens vindas do inconsciente, dos sonhos e da imaginação. Essa vanguarda modernista buscava romper com a razão e explorar os territórios do irracional e do fantástico.
Um dos maiores ícones do movimento é a obra A Persistência da Memória (1931), do pintor espanhol Salvador Dalí, que sintetiza características marcantes do surrealismo, como a justaposição de elementos ilógicos, a distorção da noção de tempo e a atmosfera onírica.
O surrealismo não se restringiu às artes visuais: expandiu-se para a literatura, o cinema, a fotografia e até o design, influenciando profundamente a cultura do século XX. Neste artigo, você vai descobrir como surgiu a arte surrealista, conhecer seus principais artistas e conferir indicações de cursos para se aprofundar nesse universo instigante da Arte Moderna.
O que é Surrealismo?
O surrealismo foi um movimento artístico que surgiu no início do século XX, com raízes na Europa, especialmente na França, e foi profundamente influenciado pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud e pela atmosfera social pós Primeira Guerra Mundial.
Em um momento em que o mundo buscava novos sentidos e formas de compreender a realidade, os surrealistas propunham uma arte que ultrapassasse os limites da razão e da lógica, mergulhando no universo do inconsciente, dos sonhos e das emoções reprimidas.
O termo surrealismo deriva do francês “surréalisme”, que significa “acima do real” , uma definição que expressa bem o desejo de revelar uma realidade mais profunda, oculta sob a superfície do cotidiano. Para os artistas surrealistas, a imaginação era uma ferramenta libertadora, capaz de romper com as normas sociais, morais e estéticas, revelando verdades interiores que a racionalidade não conseguia alcançar.
Em contraste com movimentos anteriores, como o realismo e o impressionismo, que buscavam representar o mundo visível, os surrealistas adotavam técnicas como o automatismo psíquico, a justaposição de imagens improváveis e o ilógico deliberado, criando composições que desafiavam a percepção comum. Obras como Os Elefantes (1948), de Salvador Dalí, e os poemas de André Breton, o principal teórico do movimento, são exemplos marcantes dessa estética onírica e provocadora.
Mais do que um estilo, o surrealismo representou uma verdadeira revolução no modo de pensar e fazer arte — uma ruptura com a lógica convencional, uma celebração do instinto, do acaso e da liberdade criativa.
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Como Surgiu o Surrealismo?
O surrealismo emergiu na França em 1924, em um cenário marcado pelo colapso de antigas certezas. O trauma deixado pela Primeira Guerra Mundial expôs os limites da razão humana, da ciência e dos valores burgueses que até então sustentavam a cultura ocidental.
Em meio à desilusão com o racionalismo, artistas e intelectuais buscavam novas formas de entender a realidade, não mais pelas lentes da lógica, mas por meio dos impulsos instintivos, dos sonhos e do inconsciente.
Esse novo olhar encontrou terreno fértil nas experiências do dadaísmo, movimento radical e anárquico que surgiu como reação direta à guerra e às estruturas culturais que a permitiram. O dadaísmo rejeitava toda forma de arte institucionalizada e questionava os fundamentos da linguagem, da estética e até da razão.
O surrealismo, embora menos destrutivo em sua essência, herdou desse espírito revolucionário a vontade de romper com a lógica dominante, canalizando essa energia para uma criação mais simbólica, subjetiva e imaginativa.
O ponto de partida oficial do surrealismo foi o Manifesto Surrealista, publicado por André Breton em 1924. Breton, fortemente influenciado pelas ideias de Freud e pelos métodos psicanalíticos, propôs o automatismo psíquico como forma de criação artística, um processo em que a mente é liberada do controle consciente, permitindo que pensamentos, imagens e emoções fluam livremente, como num sonho.
A partir desse manifesto, formou-se um grupo de poetas, pintores, cineastas e pensadores que viam no surrealismo não apenas uma estética, mas uma filosofia de vida: um caminho para libertar a imaginação humana das amarras da razão, da moral tradicional e da lógica linear.
O surrealismo não nasceu como um movimento isolado, mas como parte de um processo mais amplo de transformação do pensamento artístico no século XX. Ao lado de outras vanguardas europeias, ele ajudou a redefinir o papel da arte, propondo uma aproximação entre criação artística e pulsões interiores, uma arte que se volta não ao mundo externo, mas às profundezas da psique.
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O Manifesto Surrealista e André Breton

Poeta, teórico e figura central do movimento, André Breton é amplamente reconhecido como o "pai do surrealismo". Foi ele quem, em 1924, deu forma e direção à nova vanguarda artística com a publicação do Primeiro Manifesto Surrealista, obra que nomeou o movimento e delineou seus princípios fundamentais.
No manifesto, Breton define o surrealismo como “automatismo psíquico puro, pelo qual se pretende exprimir, seja verbalmente, seja por escrito, seja de qualquer outra maneira, o funcionamento real do pensamento.”
Essa definição reflete a essência do projeto surrealista: libertar o pensamento de qualquer censura, seja ela moral, lógica ou estética, para que as imagens e ideias emergissem diretamente do inconsciente, sem filtros da razão ou da convenção social.
Inspirado pelas descobertas da psicanálise, Breton via na arte uma ferramenta para acessar zonas ocultas da mente humana e dar voz ao desejo, ao instinto e ao irracional.
Mais do que uma proposta artística, o surrealismo era, para Breton, uma atitude diante da vida, uma forma de romper com os mecanismos opressores da sociedade e de reconectar o ser humano com sua natureza mais profunda e instintiva.
Características do Surrealismo
A arte surrealista é marcada por uma estética provocadora, carregada de simbolismo, imagens inusitadas e atmosferas que remetem ao universo dos sonhos.
Mais do que produzir obras belas ou coerentes, os surrealistas buscavam desestabilizar a percepção tradicional, confrontando o espectador com aquilo que é reprimido, oculto ou irracional. A intenção era libertar a mente dos limites da lógica, revelando uma realidade mais profunda, a do inconsciente.
Influenciado diretamente pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud, o surrealismo acreditava que os sonhos, os desejos e os impulsos reprimidos tinham um papel central na criação artística.
Principais características do surrealismo:
- Exploração do inconsciente e dos sonhos: as obras surgem como janelas para a psique humana, revelando conteúdos ocultos, muitas vezes perturbadores.
- Automatismo psíquico: uso de técnicas como a escrita ou o desenho automáticos, permitindo que ideias fluam livremente, sem intervenção da razão.
- Imagens oníricas, simbólicas e ilógicas: as composições desafiam a lógica, criando cenários fantásticos que parecem saídos de um sonho — ou de um delírio.
- Justaposição de elementos incongruentes: objetos e figuras que, em tese, não pertencem ao mesmo universo, são combinados de forma inesperada, criando estranhamento e tensão visual.
- Temáticas existenciais e universais: recorrência de temas como sexualidade, morte, desejo, infância, medo, memória e identidade.
- Crítica à racionalidade e à moralidade burguesa: rejeição dos valores sociais tradicionais e da lógica cartesiana que havia guiado o pensamento ocidental.
- Influência da psicanálise: a arte como meio de acessar traumas, desejos reprimidos e mecanismos profundos da mente humana.
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Principais Artistas do Surrealismo
O surrealismo teve nomes marcantes nas artes plásticas, literatura e cinema. Abaixo, criamos uma tabela com os principais artistas do surrealismo e suas obras representativas:
ARTISTAS SURREALISTAS | CARACTERÍSTICAS | OBRA ICÔNICA |
---|---|---|
Salvador Dalí | Imagens hiper-realistas, obsessão pelo tempo, sexualidade e sonhos lúcidos | A Persistência da Memória (1931) |
René Magritte | Paradoxos visuais, crítica à percepção e ao real | A Traição das Imagens (1929) |
Max Ernst | Técnicas experimentais (frottage, decalcomania), imaginação onírica | O Casamento do Céu e do Inferno (1946) |
Leonora Carrington | Universo simbólico e mitológico, abordagem feminina do inconsciente | A Debutante (1939) |
Yves Tanguy | Paisagens oníricas e formas biomórficas flutuantes | Indução Hipnótica (1939) |
Obras do Surrealismo
Aqui estão algumas das principais obras surrealistas, que ilustram a exploração do inconsciente, dos sonhos e do irracional, elementos essenciais que definem o movimento:
A Persistência da Memória (1931) | Salvador Dalí

A Traição das Imagens (1929) | René Magritte

Europa Depois da Chuva II (1942) | Max Ernst

O Surrealismo no Brasil
Embora o surrealismo no Brasil não tenha se consolidado como uma escola formal, seus conceitos e estéticas influenciaram profundamente diversos artistas e escritores ao longo do século XX.
Por aqui, o movimento dialogou com o modernismo, o simbolismo e as tradições culturais locais, dando origem a uma produção marcada pela subjetividade, pela experimentação e por um imaginário tropical e singular.
Entre os nomes de maior destaque ligados à sensibilidade surrealista no Brasil, estão:
- Cícero Dias: pintor pernambucano que se aproximou do surrealismo europeu em sua fase parisiense. Suas obras exploram símbolos poéticos e paisagens oníricas, muitas vezes evocando a infância e memórias pessoais em uma linguagem lírica.
- Ismael Nery: pintor e poeta que mesclou questões filosóficas, espirituais e existenciais em suas obras, usando o surrealismo para explorar a relação entre corpo, espírito e identidade.
- Murilo Mendes: poeta que, em sua fase inicial, adotou um lirismo onírico e fragmentado, influenciado pelo surrealismo, e que explorou as fronteiras entre a razão e o inconsciente em sua produção literária.
- Maria Martins: escultora de projeção internacional, cujas obras, com formas orgânicas e fantásticas, abordam temas como o erotismo, o misticismo e a mitologia, aproximando-se das influências surrealistas.
- Tarsila do Amaral: influenciada pelo modernismo, criou uma obra que explora o universo simbólico e sensorial da cultura brasileira, misturando elementos do surrealismo com o folk e o imaginário popular.

Perguntas Frequentes sobre Surrealismo
O que é surrealismo?
É um movimento artístico e literário que valoriza o inconsciente, os sonhos e o automatismo como formas de criar arte.
Quais são as principais características do surrealismo?
Distorção da realidade, imagens oníricas, ilógica, temas como desejo, medo, morte, erotismo e crítica à racionalidade.
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Referências:
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/termos/80020-surrealismo