Filosofia

Racionalismo: conceitos, filósofos e principais ideais

Racionalismo: conceitos, filósofos e principais ideais

Você já parou para pensar de onde vem o nosso conhecimento? Para o racionalismo, a resposta está dentro de nós: a razão.

O racionalismo é um marco na história do pensamento, porque introduziu na filosofia a razão como principal fonte do conhecimento, buscando encontrar um método confiável que leve ao conhecimento verdadeiro.

Pensadores como Descartes, Spinoza e Leibniz são pilares desse pensamento. Neste texto, além de conhecer as ideias desses filósofos racionalistas, você vai entender o que é essa corrente filosófica.

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Principais ideias racionalistas

O Racionalismo representa uma virada na história da filosofia moderna, pois defende que certas verdades são inerentes à existência humana ou podem ser alcançadas a partir do uso da razão, sem depender dos sentidos.

Portanto, não dependemos exclusivamente da experiência sensível para conhecer o mundo. A razão, parte central da compreensão da realidade, é capaz de revelar princípios universais.

Também se destaca o esforço do pensamento racionalista para se alcançar uma verdade lógica, aquela que é clara e universal.

O conceito de verdade lógica, apesar de ter algumas incertezas quanto à origem do termo, é algo relevante para esta corrente, porque uma verdade lógica é aquela que é verdadeira independente dos fatores externos (empíricos ou observacionais), porque ela segue uma estrutura lógica.

O Racionalismo se sustenta a partir de argumentos que seguem regras e não dependem da variação da interpretação do mundo sensível.

Outro ponto fundamental para essa escola é a busca por certeza. Para que o conhecimento verdadeiro seja claro, os racionalistas desenvolveram métodos rigorosos de pensamento, como a dúvida metódica – você vai entender este conceito adiante.

Resumindo: o Racionalismo é uma corrente filosófica que coloca a razão como a principal fonte do conhecimento verdadeiro. Entretanto, para alcançá-lo, é necessário encarar a dúvida tendo como ferramenta de compreensão o pensamento racional e lógico.


Filósofos do racionalismo: Descartes, Spinoza e Leibniz

Como foi dito anteriormente, alguns dos principais filósofos racionalistas são René Descartes, Baruch Spinoza e Gottfried Wilhelm Leibniz. Conheça os pontos essenciais de cada pensador:

René Descartes



René Descartes (1596-1650) é considerado o pai do Racionalismo moderno. O ponto-chave de seu pensamento foi elaborar um fundamento seguro para o conhecimento verdadeiro, isto é, algo que não pudesse ser colocado em dúvida.

Para isso, desenvolveu a dúvida metódica: um modelo no qual se deve duvidar de tudo o que não seja absolutamente correto.

Segundo Descartes, a dúvida é necessária porque é a partir dela que todo o conhecimento inato pode ser testado. E com base nessa reflexão sobre a dúvida é que é possível descobrir as verdades ou argumentos falsos.

Então pode-se dizer que o indivíduo, ao duvidar, está pensando, o que torna possível a comprovação de sua existência. Daí vem a famosa frase da conclusão do argumento do cogito (do latim, penso):

“Penso, logo existo.”

Descartes acreditava que a razão humana é capaz de alcançar verdades universais, desde que siga um método rigoroso.

Por exemplo, a matemática é uma ciência exata porque, com base em regras bem definidas, obtém-se um conhecimento sólido e estruturado. E é essa certeza que os racionalistas buscam.

De acordo com René Descartes, a falta de método ao pensar é que leva aos erros. Ele propunha usar a razão ordenada, separando os problemas dos pontos mais simples para os mais complexos.

A questão central em sua filosofia é que existem ideias inatas, ou seja, verdades que já nascem com a mente humana, independentemente da experiência sensível, como a noção de Deus e da perfeição.

Para ele, Deus era uma ideia inerente ao homem e somente um ser perfeito, como Deus, poderia tê-la colocado lá, portanto, provando a existência de Deus.

Em suma, o Racionalismo cartesiano valorizava a autonomia da razão, o pensamento racional e acreditava que, ao usarmos bem a razão, podemos construir um conhecimento seguro.

Baruch Spinoza



Baruch Spinoza (1632-1677) pode ser considerado o filósofo mais radical do começo do período moderno.

Inovador em suas ideias, ele combinou razão, natureza e espiritualidade com ideias originais que fundamentaram uma filosofia moral focada na compreensão racional das paixões, que levaria o homem à virtude e à felicidade.

Spinoza entendia Deus como uma substância infinita, ou seja, uma substância formada por uma infinidade de atributos que expressam uma essência infinita e eterna.

Ele propôs que tudo o que existe é expressão de uma única realidade infinita: Deus ou a natureza (Deus sive Natura). Com isso, ele quis dizer que o mundo não está separado de Deus, porque tudo segue uma ordem racional e necessária.

Spinoza acreditava que a liberdade verdadeira não está em agir de forma impulsiva, mas, sim, na compreensão das causas que nos movem.

Dessa forma, a razão nos liberta ao mostrar que somos parte de um todo regido por leis eternas. Quando entendemos isso, deixamos de sofrer por coisas que não podemos controlar e passamos a viver com mais equilíbrio.

“A emoção que nasce da razão é mais forte do que aquela que nasce do acaso.”


Ele também defendia que o conhecimento pode ser dividido em três níveis:

  • experiência vaga (baseada nos sentidos);
  • razão (que vê relações necessárias);
  • intuição (que capta a essência das coisas).


Segundo Spinoza, quanto mais longe chegamos nesses níveis, mais próximos estamos da felicidade e da liberdade. Para Spinoza, pensar racionalmente era o caminho para viver em harmonia com o mundo.


Gottfried Leibniz



Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) é um dos nomes mais peculiares do racionalismo. Um crítico de Descartes e Spinoza, ficou conhecido por sua contribuição nos campos da lógica e da linguagem.

Leibniz acreditava que todo o conhecimento verdadeiro vem da razão, que atua sobre as ideias inatas presentes na mente humana.

Contudo, para ele, perceber (percepção sensível) e pensar fazem parte do mesmo processo racional, só que em níveis diferentes de clareza. Pois perceber é uma noção mais vaga do que o pensamento.

Leibniz dizia que as verdades a priori podem ser descobertas através da lógica, como é feito na matemática. Porém, a mente humana é limitada e, por isso, nem sempre consegue perceber que todas as verdades são analíticas. Mas Deus, encarado como unidade infinita, conseguiria.

Ele afirmava que uma linguagem simbólica, que seguisse uma lógica como a da matemática, poderia verificar se uma ideia é verdadeira.

Apesar da ideia de que a mente humana é limitada, ele defendia que a mente humana possui estruturas próprias que permitem o indivíduo compreender verdades universais.

Para ele, a realidade é composta por mônadas, unidades dinâmicas e autocontidas, que refletem o universo de forma única. Cada mônada funciona como um espelho do todo e tudo está interligado por uma ordem racional.

Leibniz acreditava que nada é por acaso. Toda existência tem uma razão suficiente, uma explicação racional de por que é como é. É isso que sustenta a ideia de que Deus, sendo uma unidade perfeita, escolheu o melhor mundo entre os possíveis para existir e para existirmos.

“Nada acontece sem razão suficiente.”

Sua filosofia buscava integrar razão e metafísica, ciência e lógica, mostrando que a realidade pode ser explicada por leis lógicas e claras.


Racionalismo x Empirismo: qual a diferença?

O racionalismo e o empirismo nasceram no mesmo período filosófico e dialogam quanto ao fato de que ambos buscam compreender a origem do conhecimento e como alcançá-lo.

Entretanto, eles se diferem quanto à fonte dos conceitos e do conhecimento. Enquanto o racionalismo se baseia na razão, o empirismo se volta para a experiência sensorial.

Contudo, os racionalistas reconhecem que os sentidos podem interferir no processo de construção do conhecimento, mas consideram a razão a fonte principal.

Desta forma, organizam um raciocínio lógico, no qual (1) prioriza-se o conhecimento em relação à experiência sensorial e (2) a razão é vista como a fonte de verdades universais. Porém, o indivíduo não está isento da interferência dos sentidos.

Já o empirismo apresenta uma abordagem diferente para a construção do conhecimento, fundamentando-se exclusivamente na experiência sensorial.

Os empiristas explicam que a experiência sensorial fornece as informações que os racionalistas atribuem à razão. Embora critiquem a visão racionalista de que a razão é a principal fonte de conhecimento, mostram que a reflexão pode preencher algumas lacunas.

Ou seja, para os empiristas, somos como uma folha em branco (tabula rasa) aprende a partir daquilo que vivemos e experimentamos do mundo (experiências sensoriais).

Característica Racionalismo Empirismo
Fonte do conhecimento Razão Experiência
Ideias inatas Confirma Nega
Modelo do conhecimento Matemático Aprendizagem
Existência do conhecimento A priori A posteriori
Frase “Penso, logo existo” - Descartes “Nada existe na mente sem antes passar pelos sentidos” - Locke


As duas correntes filosóficas - racionalismo e empirismo - ajudaram a construir a filosofia moderna. Entender o que as diferencia é fundamental e para entender melhor sobre o que é e como compreendemos a realidade.

Críticas ao racionalismo e limites da razão

Apesar de sua grande influência nas ciências e no empirismo, o racionalismo enfrentou críticas dos filósofos empiristas, como John Locke e Thomas Hobbes.

Eles questionavam a premissa de que o conhecimento nasce apenas da razão que, para eles, vem da experiência sensível. Esse embate de ideias entre racionalismo e empirismo marcou profundamente a filosofia moderna.

Contudo, Immanuel Kant foi fundamental para equilibrar essa tensão. Uma vez que reconheceu que ambas as correntes contribuíram para o desenvolvimento do pensamento filosófico, ele conseguiu integrar os dois ramos do conhecimento.

Segundo Kant, o conhecimento começa com a experiência, mas não se restringe a ela, porque as estruturas mentais inatas são o que organizam o que percebemos do mundo externo,

Ainda de acordo com a filosofia kantiana, a razão é limitada e não consegue acessar a “coisa em si” (realidade absoluta), apenas como ela se apresenta para o ser humano.

Assim, esse embate de ideias entre racionalismo e empirismo fez com que os racionalistas reconhecessem que a razão sozinha não é suficiente para compreender a verdade, o que permitiu o surgimento de abordagens mais equilibradas.


Críticas ao racionalismo e limites da razão

O racionalismo foi um dos pilares do pensamento moderno e teve grande influência no movimento iluminista, que se caracteriza pela valorização da razão, da ciência e rompeu com o absolutismo e com o pensamento religioso da época.

Quando o racionalismo colocou a razão como principal fonte de conhecimento, deu lugar a uma forma de pensar baseada na lógica, na razão e na busca por verdades universais.

O racionalismo não tinha intenção de eliminar a fé ou os sentimentos, mas propôs que o mundo poderia ser compreendido por meio da razão.

O surgimento do método racional possibilitou buscar explicações naturais para os fenômenos, em vez de aceitar explicações baseadas na tradição ou na religião.

O método da dúvida proposto por Descartes diz que o filósofo deve duvidar de tudo aquilo que se diz verdadeiro. Assim, nenhuma autoridade, senão a razão, pode ser confiável, a não ser que se submeta ao questionamento cético.

A partir disso, fortaleceu-se a confiança na razão, que inspirou a sociedade da época e contribuiu com o desenvolvimento da ciência moderna.

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A importância do racionalismo na modernidade e no iluminismo

Racionalismo e razão são palavras que estão intrinsecamente ligadas e entender isso ajuda a compreender o que é essa corrente filosófica e as bases da filosofia moderna.

A valorização da razão propiciou o surgimento de ideias fundamentais como lógica, método científico e dúvida metódica, conceitos fundamentais para a ciência da atualidade.

Apesar de suas limitações, o racionalismo nos ajuda a pensar com clareza, tomar decisões conscientes e equilibrar razão e emoção no cotidiano.

Em um mundo tão cheio de “verdades”, ser capaz de refletir racionalmente sobre tudo aquilo que nos cerca é um caminho para conhecer melhor a realidade, a nós mesmos e toda a história e o legado que moldaram o mundo em que vivemos.

Esperamos que este texto tenha te ajudado a compreender o que é racionalismo e as principais ideias dos filósofos desse pensamento. Se você quiser ir mais fundo no universo da filosofia, tenha acesso aos nossos cursos clicando aqui.

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Referência

STANFORD ENCYCLOPEDIA OF PHILOSOPHY. Leibniz.

STANFORD ENCYCLOPEDIA OF PHILOSOPHY. Rationalism vs. Empiricism.

STANFORD ENCYCLOPEDIA OF PHILOSOPHY. Enlightenment.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein.

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