Psicanálise

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Qual a diferença entre psicanalista e psicólogo?  Entenda tudo aqui
Camila Fortes
Qual a diferença entre psicanalista e psicólogo? Entenda tudo aqui
Veja as diferenças entre psicanalistas e psicólogos: formação, atuação e abordagens terapêuticas. Entenda de vez como atua cada profissional da área.

Muitas pessoas confundem os papéis do psicanalista e do psicólogo. Ambos os profissionais atuam no cuidado em saúde mental, escutam pacientes e trabalham com questões emocionais e comportamentais. No entanto, apesar das semelhanças na prática clínica, existem diferenças importantes entre eles.

O psicanalista e o psicólogo possuem trajetórias, formações e campos de atuação próprios. Os métodos de trabalho e as abordagens teóricas utilizadas também se diferem, refletindo maneiras distintas de compreender o funcionamento psíquico e de conduzir o processo terapêutico.

Neste artigo, vamos entender o que diferencia o psicanalista do psicólogo, as áreas de atuação, a formação e como eles contribuem para o bem-estar emocional e mental das pessoas.



O que faz um psicanalista?

O psicanalista é um profissional da psicanálise, uma abordagem terapêutica criada por Sigmund Freud. O psicanalista analisa os sintomas, investiga os motivos inconscientes por trás desses sintomas, e busca tratá-los. Além disso, explora questões como a linguagem, os traumas e os sonhos do paciente para acessar conteúdos reprimidos pela psique.

Sua prática é marcada pela abordagem do sujeito a partir das manifestações do desejo, sendo que o objetivo não é a cura em seu sentido biomédico, mas o processo de subjetivação e elaboração psíquica de conflitos pessoais.

O processo analítico na psicanálise costuma ser mais longo, pois analisa questões complexas e subjetivas para o paciente. Nesse processo, a interpretação de padrões de pensamento e comportamento são estratégias centrais para a escuta clínica.


O psicólogo opera para compreender os modos como as pessoas se relacionam com o mundo e com elas mesmas. Na prática, o profissional da psicologia auxilia o paciente a entender os pensamentos, as emoções e percepções, dentro de um contexto de sociabilidade, e elabora soluções para se construir um maior bem-estar.

Embora o processo terapêutico seja mais reduzido a depender do objetivo, a área da psicologia inclui uma multiplicidade de abordagens teóricas e práticas clínicas, o que permite diferentes formas de condução do processo analítico.

Entre as abordagens mais utilizadas, destaca-se a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), focada na identificação de padrões de comportamento disfuncionais e na reestruturação cognitiva para promover mudanças práticas no cotidiano.

Já a Psicologia Humanista valoriza a experiência subjetiva do indivíduo e busca promover seu potencial de crescimento através do vínculo terapêutico. A Gestalt-terapia, por sua vez, é centrada na percepção do “aqui e agora” e na responsabilidade pessoal.

Além disso, muitos psicólogos exercem a própria Psicanálise, após passar por uma formação específica nessa abordagem. Eles encontram nela um campo de aprofundamento teórico e clínico que enriquece a sua prática e amplia os modos de escuta e intervenção sobre o sofrimento humano. Assim, um psicólogo pode se tornar membro de uma escola ou sociedade psicanalítica, que reconhece sua capacitação e atuação na área.


Como Psicólogos e Psicanalistas Entendem a Ansiedade: Um Exemplo

Mencionamos que ambos olham para o sofrimento mental de modos distintos. Mas, como isso acontece?

Um diagnóstico de ansiedade , por exemplo, pode ser analisado por psicólogos a partir de modelos teóricos com foco na função adaptativa ou disfuncional do comportamento ansioso. Na prática, a psicologia irá ajudar a identificar os gatilhos emocionais e a reestruturar os pensamentos ansiosos. Além disso, auxiliará a reduzir os sintomas e ensinar técnicas de manejo emocional, com metas e tempo definidos.

Já para a psicanálise, a ansiedade é interpretada como um sintoma subjetivo, com raízes no inconsciente. Ela denunciaria algum outro aspecto psíquico do sujeito, que precisaria ser analisado profundamente. Na prática, o psicanalista investigaria a relação com traumas, desejos, conflitos e padrões de pensamento e comportamento ansiosos, aprofundando o processo terapêutico.

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O que é psicanálise e o que é psicologia?

Antes de aprofundarmos sobre o processo formativo e os campos de atuação, é preciso entender brevemente o que é cada área.

A psicanálise é uma abordagem terapêutica centrada na investigação do inconsciente sobre a personalidade do paciente. Criada por Sigmund Freud no final do século XIX, a terapia psicanalítica investiga o que está fora da consciência, mas que influencia diretamente nos modos de agir, pensar, sentir e sofrer.

Por outro lado, a psicologia é uma ciência que estuda o comportamento humano e os processos mentais. Ela tem por objetivo trabalhar as dimensões cognitivas, afetivas e comportamentais das pessoas, em todas as fases da vida.


A formação em psicanálise e psicologia

O exercício profissional da psicologia acontece por meio de uma formação de graduação universitária, que dura em média, 5 anos. Além disso, para realizar a prática clínica, é necessário realizar estágios supervisionados e se registrar no Conselho Regional de Psicologia (CRP).

Durante a prática, o psicólogo também pode realizar entrevistas clínicas, testes psicológicos e utilizar de outros recursos que auxilie no processo terapêutico.

Já na psicanálise, a formação tem duração de 1 a 4 anos, dependendo da instituição e da carga horária. Além disso, o processo formativo se dá, tradicionalmente, por meio do tripé psicanalítico: análise pessoal, supervisão clínica e estudo teórico. O estudo contínuo das obras de Freud, Lacan, Melanie Klein, Winnicott, entre outros psicanalistas, é fundamental para o desenvolvimento profissional do psicanalista.

Na psicanálise a formação acontece por meio de institutos ou escolas de psicanálise, de forma livre e independente da graduação universitária. Não sendo uma profissão regulamentada por lei no Brasil, a formação psicanalítica não possui conselho e nem exigência de registro profissional.

Embora, legalmente, a formação em psicanálise não exija diploma universitário, a maioria dos institutos mais reconhecidos costuma exigir formação prévia em áreas como psicologia, medicina ou ciências humanas.

Atenção:

É importante destacar que psicanalistas não podem realizar testes ou emitir laudos e pareceres psicológicos. Do mesmo modo, um psicólogo só pode se apresentar como psicanalista se tiver realizado uma formação específica em psicanálise.




Campos de atuação para psicanalistas e psicólogos

A atuação de psicanalistas e psicólogos também acontece de modos distintos, tanto por questões institucionais e legais, quanto pela concepção de saúde e sofrimento mental adotada por cada campo.

Embora ambas possam trabalhar com escuta clínica, seus espaços de trabalho e formas de inserção na sociedade divergem bastante.

O psicólogo pode atuar nas seguintes áreas regulamentadas por lei:

  • Psicologia Clínica: Oferece psicoterapia individual, de casal, em grupo ou família. Trabalha com diferentes abordagens para promover saúde mental, entre elas, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), Humanista, Gestalt, Psicologia Analítica e Psicanálise.
  • Psicologia Jurídica ou Forense: Atua no sistema de justiça, realizando avaliação psicológica em vítimas, réus e seus familiares. Contribui com pareceres técnicos e decisões judiciais, quando envolvem questões subjetivas.
  • Psicologia Hospitalar: Trabalha em hospitais, clínicas e unidades de saúde no cuidado emocional de pacientes, familiares e equipes profissionais. Auxilia na adaptação de diagnósticos, internações e processos de luto.
  • Psicologia Educacional ou Escolar: Atua em instituições de ensino promovendo inclusão e desenvolvimento psíquico de alunos. Responde junto a professores e famílias para auxiliar com dificuldades de aprendizagem e relações escolares.
  • Psicologia Organizacional e do Trabalho: Exerce a prática em empresas e instituições com recrutamento de profissionais. Desenvolve ações de prevenção ao estresse, melhorando a gestão de pessoas e a comunicação.
  • Neuropsicologia: Investiga a relação das funções cognitivas do cérebro com o comportamento humano. Com base nos estudos das neurociências, a neuropsicologia atua para entender as influências de questões neurológicas sob a atenção, a memória, o raciocínio, as emoções e o comportamento do paciente.


A formação psicanalítica, por sua vez, pode abrir portas para áreas de atuação não convencionais. O psicanalista pode explorar a:

  • Clínica psicanalítica: Realiza atendimentos individuais, geralmente em processos mais longos e aprofundados. O foco é na investigação sobre o inconsciente através do estudo dos sonhos, das experiências infantis e relações familiares.
  • Formação de outros psicanalistas: Diversos psicanalistas se dedicam ao processo formativo de outros profissionais da psicanálise. O ensino de cursos livres, a supervisão de atendimentos clínicos e a construção de núcleos de estudos teóricos também integram essa formação.
  • Produção acadêmica: Atuam na elaboração do conhecimento científico, participando de eventos, congressos e espaços de discussão intelectual. Produzem livros e artigos, além de ministrar aulas e palestras, com o objetivo de aprofundar as investigações nos estudos sociais e culturais sob o olhar psicanalítico.
  • Interlocuções profissionais: A formação psicanalítica pode ser somada a outras formações, como psicologia, medicina com foco em psiquiatria, filosofia, literatura, sociologia e outras áreas das humanidades.


A psicanálise também tem ganhado espaço em clubes de leitura, atendimentos populares e projetos culturais, sendo utilizada como ferramenta crítica para analisar fenômenos contemporâneos.

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Tanto a psicanálise quanto a psicologia oferecem caminhos legítimos e potentes para o cuidado em saúde mental.

Para quem deseja seguir carreira, a psicologia oferece possibilidades de atuação em múltiplas áreas, sendo assegurado pelo Conselho (CRP). Já a psicanálise, oferece um campo de atuação mais flexível e livre em termos profissionais, mas que exige comprometimento, estudo contínuo e envolvimento com instituições formadoras.

Já para quem busca atendimento, a escolha entre um psicólogo e um psicanalista pode depender do tipo de abordagem que a pessoa deseja experimentar. Diferentes linhas teóricas podem oferecer caminhos igualmente valiosos e profundos. Por isso, ao procurar um psicólogo, é recomendável se informar sobre a abordagem utilizada para entender se ela está alinhada com o que se busca para o processo terapêutico.

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Referências

https://bvsms.saude.gov.br/psicologia-6/

Psicanálise: o que é, conceitos, autores, como funciona e formação
Paula Delgado
Psicanálise: o que é, conceitos, autores, como funciona e formação
Descubra o que é a psicanálise, como surgiu, principais conceitos e autores. Veja como funciona a sessão de psicanálise e como se tornar psicanalista.

A psicanálise é muito mais do que uma teoria sobre o inconsciente: ela é uma forma de escuta, um método clínico e um campo vasto de investigação sobre o funcionamento da mente humana. Criada por Sigmund Freud no final do século XIX, a psicanálise revolucionou o modo como compreendemos nossos pensamentos, desejos e comportamentos.

Neste artigo, você vai entender o que é psicanálise, quais são seus principais conceitos, quem foram os autores que ajudaram a moldá-la, como funciona uma sessão psicanalítica e de que forma é possível iniciar sua formação na área.



A origem da psicanálise: um breve histórico do surgimento

A história da psicanálise começa antes mesmo dela receber este nome e para isso é importante entender como Sigmund Freud se tornou o “pai da psicanálise”.

Na passagem do século XIX para o século XX, Freud observou que alguns de seus pacientes apresentavam sintomas que não tinham explicações fisiológicas - chamados à época de casos de histeria. Foi quando propôs uma nova forma de olhar para a origem dos sofrimentos.

A partir de então, Freud começou a desenvolver a ideia do que hoje conhecemos como psicanálise: a noção de que os sintomas dos pacientes histéricos são expressões de ideias que estão fora da consciência. Inicialmente, ele utilizou o termo “psico-análise” em um artigo publicado em 1896. Somente mais tarde a psicanálise se consolidou como uma ciência humana e uma prática clínica.

A psicanálise marcou uma ruptura com a medicina tradicional, uma vez que passou a utilizar a escuta subjetiva como instrumento terapêutico e de tratamento. A partir de então, esse campo se expandiu e várias escolas e vertentes teóricas foram sendo desenvolvidas.


O que é psicanálise, afinal?

A psicanálise é um método analítico-terapêutico, criado por Sigmund Freud no final do século XIX, voltado à compreensão da mente humana e de suas manifestações conscientes e inconscientes.

A psicanálise trabalha a partir de alguns conceitos específicos que tem como fim comum compreender o funcionamento da mente humana. O conceito principal para entender o que é psicanálise é o inconsciente.

Primeiramente, inconsciente é o elemento principal no qual o analista vai trabalhar. Quem cunhou este conceito foi Freud em seu livro A Interpretação de Sonhos(1900).

De forma geral, o inconsciente é o lugar onde residem desejos reprimidos, experiências traumáticas e lembranças inaceitáveis para o ego. Resumidamente, por meio do conceito de inconsciente, Freud diz que nós não nos conhecemos totalmente.

Como o inconsciente influencia tanto nossos pensamentos quanto nossas atitudes - e não pode ser compreendido dentro da lógica consciente - ele precisa de outros meios para ser alcançado. A psicanálise, então, oferece o método de escuta como um caminho para acessá-lo.

A partir do momento que o psicanalista oferece a escuta, dá-se início ao processo ativo de investigação clínica, o que Freud chamou de Associação Livre. Você vai entender sobre este e outros conceitos mais adiante.

Ao longo do tempo, a psicanálise foi ressignificada por diversas escolas e autores, mas preserva como essência o compromisso com a escuta dos processos psíquicos e o cuidado com os conflitos que emergem do inconsciente.

Principais conceitos da psicanálise

Agora que você já entendeu o que é a psicanálise, podemos aprofundar nesse universo explorando alguns de seus conceitos fundamentais. O principal deles - e marco inaugural da teoria freudiana - é o inconsciente. Confira um pouco mais sobre este e outros conceitos abaixo.

Inconsciente

É no inconsciente que se encontram os desejos e características das quais não temos conhecimento e que mesmo assim influenciam a nossa vida, comportamento e relações sociais.

Freud foi quem formulou essa noção revolucionária: a de que não somos senhores em nossa própria casa. Ou seja, há algo em nós que nos dirige, mesmo sem sabermos. Este conteúdo inconsciente se manifesta de maneiras indiretas e de forma disfarçada, como em sonhos, atos falhos e lapsos de linguagem.

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Transferência e contratransferência

Os conceitos de transferência e contratransferência foram também desenvolvidos por Sigmund Freud. A transferência refere-se ao vínculo estabelecido entre paciente e analista.

Nesta relação, o paciente pode deslocar sentimentos inconscientes, desejos e experiências passadas em relação a figuras significativas de sua vida (geralmente os pais) para a figura do terapeuta. Freud percebeu que esses sentimentos podem ser tanto positivos quanto negativos e que podem revelar aspectos profundos do inconsciente do paciente.

Já a contratransferência é definida por Freud como o modo através do qual o analista reage às transferências de seus pacientes, que deve ser manejado com cautela pelo profissional.

Associação livre

A associação livre é o processo no qual o paciente é incentivado a falar livremente, abrindo espaço para o analista acessar o inconsciente e interpretar o que é dito de forma distante. Por isso, a psicanálise é comumente conhecida como “terapia da fala”.

ID, Ego e Superego

Id, Ego e Superego são três conceitos da segunda tópica freudiana, que propõe explicar o funcionamento da psique a partir da divisão do aparelho psíquico nesses 3 conceitos.

📌 Nota sobre os termos Id, Ego e Superego

Caso você veja os termos escritos como “Eu”, “Isso” e “Supereu”, existe uma explicação. Freud nasceu em Freiberg, então parte do Império Austro-Húngaro, e escrevia em alemão — sua língua materna. Os termos originais usados por ele eram “Ich” (Eu), “Es” (Isso) e “Über-Ich” (Supereu).

Esses termos foram traduzidos para o inglês como Ego, Id e Superego, utilizando o latim numa tentativa de conferir um tom mais científico à teoria psicanalítica. Essa versão inglesa, feita por James Strachey, tornou-se referência mundial e influenciou as primeiras traduções brasileiras, que foram feitas a partir do inglês — e não diretamente do alemão. Por isso, até hoje, é comum encontrar nos textos em português as formas Id, Ego e Superego, embora elas não correspondam literalmente ao vocabulário original de Freud.



Segundo Freud, o Ego (eu) é a instância psíquica que estrutura a nossa personalidade. Ele representa o mundo externo, ou seja, é formado a partir da relação entre o sujeito e a realidade. Sendo assim, o ego é o elemento conciliador das exigências do ID (isso).

Uma vez que o Ego é responsável por essa mediação, a nossa mente busca estratégias para se proteger de situações de sofrimento, e Freud deu nome a este processo de mecanismos de defesa do ego. Para ele, esses mecanismos atuam como uma defesa para evitar dores e ansiedades diante de conflitos internos ou externos.

Os principais mecanismos de defesa do ego:

  • Recalque (Repressão)
  • Regressão
  • Deslocamento
  • Negação
  • Racionalização
  • Sublimação
  • Projeção


Já o ID (isso), para Freud, é o que representa o mundo interno, a instância psíquica inconsciente, a fonte dos impulsos, desejos e satisfação dos nossos instintos voltados para o prazer. O ID é desconhecido, é indomável.

Por último, temos o Superego, que é a instância psíquica formada a partir do ego que une os valores morais e culturais. Ele é o representante das normas e regras internas que correspondem às expectativas do Eu ideal.

O Superego pode ser considerado como o herdeiro do Complexo de Édipo, uma vez que se torna um representante das influências sociais e culturais, como educação religião imoralidade, que o sujeito recebeu de seus pais e, por isso, exerce a posição de vigiar, julgar e punir o Ego (eu).

Complexo de Édipo

Para entender o Complexo de Édipo, é interessante saber antes: quem foi Édipo?

Édipo é o personagem de uma tragédia grega escrita por Sófocles. Ele era o príncipe de Tebas, filho do rei Laio e da rainha Jocasta.

Édipo foi abandonado ao nascer após seu pai ouvir uma profecia que dizia que o próprio filho o mataria e se casaria com a mãe. Sem saber de sua origem, Édipo cumpre o destino: mata Laio e casa-se com Jocasta. Ao descobrir a verdade, Jocasta se suicida e Édipo fura os próprios olhos.

Freud se inspirou na tragédia grega para exemplificar o que acreditava estar reprimido no inconsciente infantil. Segundo o médico, a criança, na primeira infância, desenvolve um desejo (amoroso e/ou hostil) inconsciente para com os pais.

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Ato falho

O ato falho, conceito também cunhado por Sigmund Freud, é uma manifestação do inconsciente através de deslizes verbais ou comportamentais, que parecem insignificantes, mas que revelam desejos reprimidos ou conflitos internos.

Esses podem surgir em momentos de estresse ou tensão, expondo sentimentos ou pensamentos que estão inconscientes, mas que ainda assim influenciam as ações.

Narcisismo

Conceito muito importante também elaborado por Freud, narcisismo é o termo que se refere a transição do autoerotismo para a escolha de um objeto de amor, etapa crucial no desenvolvimento do eu. E ele pode se dividir em primário e secundário.

Narcisismo primário: Este é o estado em que a criança investe toda a libido em si mesma, ou seja quando a libido está direcionada ao próprio eu. Nesse momento, o sujeito ainda não distingue o eu dos objetos externos e não há direcionamento da libido para o outro. É uma fase em que o bebê vive uma relação de completude consigo mesmo, sendo ele o centro de seu mundo psíquico. Esse tipo de narcisismo é considerado normal e necessário nas primeiras etapas da vida.

Narcisismo secundário: Neste estágio, a libido que foi anteriormente direcionada a objetos externos é retirada e reinvestida no próprio eu. Esse movimento costuma ocorrer quando o sujeito experimenta frustrações ou falhas nas relações com o outro, passando a buscar no eu a fonte de satisfação e proteção psíquica.


Principais autores da psicanálise

Embora Freud tenha fundado a psicanálise, ela vai muito além de sua obra. No começo do século XX, o médico austríaco começou a formar grupos com alguns seletos seguidores que contribuíram muito para o desenvolvimento e difusão da psicanálise.

Às quartas-feiras à noite, Freud convidava um grupo de homens, que era composto por médicos, educadores, intelectuais da época, para dialogar sobre qualquer produção cultural ou científica que fosse relacionada aos estudos psicanalíticos.

A partir disso, fundou-se a Sociedade Psicanalítica de Viena, em 1906, composta inicialmente por Carl Jung, Karl Abraham, Ernest Jones. Ademais, em 1912, Freud criou o “Comitê Secreto “ ou “Círculo Íntimo “ com alguns dos seus integrantes mais próximos, como Ferenczi, Otto Rank e outros ilustres da época.

Apesar de divergências nas abordagens, conceitos e perspectivas teóricas, Freud e seus seguidores contribuíram de forma decisiva para a construção da psicanálise como a conhecemos hoje. Entre os nomes que marcaram a trajetória da psicanálise estão Jacques Lacan, Melanie Klein, Donald Winnicott, Sándor Ferenczi, Wilfred Bion, entre muitos outros.

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Carl Jung

Freud e Jung, desde o início do relacionamento profissional, já anunciavam grandes discordâncias sobre pontos cruciais, como o papel da sexualidade na vida do indivíduo.

Apesar das diferenças, os dois concordavam quanto à relevância do inconsciente e dos processos psíquicos profundos, o que levou a Freud a se interessar pelas pesquisas e experiências de Jung.

Enquanto Freud enfatizava os impulsos instintivos, a libido como ponto central da vida psíquica, Jung propôs um olhar no qual a libido não era apenas sexual, mas uma força mais ampla e criativa.

Além disso, Freud debruçou-se sobre a importância dos traumas da infância na construção do indivíduo. Ao passo que Jung apresentou o conceito de inconsciente coletivo, o qual defende que as experiências universais moldam o psiquismo. Após o rompimento entre os dois, Jung fundou a psicologia analítica.

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Melanie Klein

Melanie Klein, nascida em 1882, é uma psicoterapeuta austríaca e desenvolveu diversos conceitos e estudos sobre a psicanálise infantil, além de grande contribuição na compreensão do conceito de inconsciente.

Alguns dos conceitos desenvolvidos e revisados por Klein foram:

  • Análise do brincar
  • Relações objetais primárias
  • Posição esquizo-paranóide
  • Posição depressiva
  • Teoria da inveja e gratidão
  • Revisão do complexo de Édipo


Suas inovações abriram novos horizontes para a compreensão da análise infantil e novas abordagens na teoria e na clínica psicanalítica.

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Jacques Lacan

Jacques Lacan foi um dos principais psicanalistas pós-freudianos. Ele propôs uma reinterpretação das teorias de Freud a partir da linguística saussuriana, da filosofia heideggeriana e estruturalismo de Lévi-Strauss.

Uma das suas principais contribuições para a psicanálise foi a ideia de que o inconsciente é estruturado como uma linguagem e que nossos pensamentos e desejos são fundamentados a partir disso, influenciando a forma como percebemos o mundo.

Além disso, também introduziu um conceito de estádio do espelho, que descreve o momento em que a criança, ao se olhar no espelho, torna-se capaz de reconhecer a sua própria imagem e ter uma percepção da sua totalidade corporal - a percepção do eu.

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Como funciona uma sessão de psicanálise?

Agora você já conheceu alguns dos principais autores e conceitos da psicanálise. Antes de entendermos como funciona uma sessão de psicanálise, é importante termos compreensão sobre qual a função do psicanalista durante a consulta para saber o que esperar de uma sessão.

Primeiramente, é preciso entender que existem diferentes linhas da psicanálise e cada uma leva a uma condução diferente da sessão. Entretanto, existe um ponto necessariamente comum: a função do psicanalista na construção do setting analítico.

Entendendo o que é o setting psicanalítico

O termo “setting”, do inglês, pode ser traduzido como "configuração” ou “contexto". Portanto, setting psicanalítico refere-se à construção simbólica compartilhada entre analista e paciente que estabelece as diretrizes e procedimentos variáveis, visando criar um ambiente propício para que o tratamento tenha êxito.

O setting se desenvolveu com a consolidação da psicanálise como teoria e prática. Com isso, ele é definido pelo método, pela técnica e pela ética. Em seu texto “Recordar, repetir e elaborar” (1914), Freud aponta alguns dos elementos que compõe o conjunto do setting psicanalítico:

  • analista
  • paciente
  • tempo
  • pagamento
  • regra fundamental
  • atenção flutuante


Resumindo: o setting psicanalítico é uma construção da posição simbólica que o analista assume no percurso de uma análise para que o tratamento tenha êxito.

A sessão de psicanálise

A sessão de psicanálise, segundo os fundamentos de Sigmund Freud, deve ser um espaço de escuta e fala livre - associação livre -, onde o paciente é incentivado a associar ideias sem censura. É comum o analista incentivar que o paciente relate seus sonhos como forma de estimular o acesso ao conteúdo presente em seu inconsciente.

O trabalho com os sonhos é um processo sofisticado que envolve as associações do paciente e, quando pertinente, intervenções do analista. A interpretação dos sonhos, nesse contexto, não é uma decodificação pronta, mas um recurso clínico que busca abrir sentidos a partir do que emerge na fala do analisando.

O setting analítico é fundamental para que a relação flua e seja criado um ambiente de segurança. Desta forma, o paciente sente-se confortável para falar livremente e o profissional consegue exercer de fato a função do psicanalista, que é escutar sempre sem julgamentos, favorecendo o surgimento e o trabalho da transferência.

O final de uma análise é um tema complexo. Algumas pessoas interrompem o processo ao perceberem mudanças significativas, sentindo-se mais capazes de lidar com suas questões — o que pode ser, paradoxalmente, um sinal de que o tratamento está surtindo efeito. Outras continuam por entender que ainda há aspectos importantes a serem trabalhados.

O término da análise não é definido unilateralmente, mas construído ao longo do processo. Cabe ao psicanalista, com escuta atenta e ética, ajudar o paciente a avaliar se ainda há caminhos a serem percorridos ou se chegou o momento de encerrar a travessia analítica.


A dúvida sobre as diferenças entre o psicanalista e o psicólogo é muito comum. Uma questão importante a ser sobre o assunto refere-se ao laudo, configurando uma das grandes diferenças entre eles, além do caminho de formação.

Todo psicólogo pode ser psicanalista, mas a recíproca não é verdadeira. As diferenças entre psicanalista e psicólogo existem, mas os dois profissionais têm como propósito comum cuidar da saúde mental dos pacientes e ajudá-los no tratamento de seus conflitos psíquicos.

O psicólogo é o profissional graduado em Psicologia, podendo se especializar em psicanálise e atuar como psicanalista ou escolher outras abordagens da psicologia para seguir, como a Terapia Cognitivo-Comportamental, Psicologia Analítica, entre tantas outras. Além disso, tem autorização legal para emitir laudos e pareceres psicológicos.

o psicanalista pode ter formação em outras áreas do conhecimento — como Filosofia, Medicina, Letras ou Sociologia — desde que complemente sua formação por meio de estudos específicos em psicanálise. No entanto, por não ser regulamentado por um conselho profissional, o psicanalista não está autorizado a emitir laudos psicológicos formais.

O psicanalista assume a função de escutar o paciente, ajudá-lo a lidar com suas dores e enfrentar os seus conflitos internos, e não de patologizar a sua condição.


Como se tornar psicanalista?

O interesse pela psicanálise vem crescendo e cada vez mais pessoas estão buscando conhecimento e caminhos para começar a estudar psicanálise.

A psicanálise é reconhecida como uma ocupação profissional e, por isso, pode ser exercida por pessoas formadas em diversas áreas do conhecimento, desde que tenham realizado uma formação específica ou especialização em psicanálise.

Embora não exista um caminho único e formalmente regulamentado no Brasil para se tornar um psicanalista, critérios éticos e formativos reconhecidos pelas principais escolas psicanalíticas orientam o exercício da profissão.

Entre esses critérios, destaca-se o chamado “tripé da formação psicanalítica”: a análise pessoal, o estudo teórico e a supervisão clínica, considerados pilares essenciais na formação de um psicanalista.

Alguns dos caminhos que podem te levar à formação em psicanálise clínicas são:

  • Especialização
  • Programa de mestrado
  • Programas de doutorado
  • Residência



Caso você seja um psicanalista e queira aprofundar os seus conhecimentos, você pode buscar cursos para se aperfeiçoar, conhecer novas perspectivas, ficar a par das discussões atuais, novas tendências, debates e autores relevantes para dar continuidade ao processo de aprendizado infinito que a área proporciona e se manter sempre atualizado.

Agora, se você quer se tornar um psicanalista, como já foi dito anteriormente, precisa ter concluído algum curso de graduação. Para exercer a psicanálise clínica, é indicado procurar por cursos de psicanálise de instituições reconhecidas, além de seguir investindo no estudo contínuo.

Caso você queira, antes de começar a profissionalização, dar os primeiros passos para introdução na psicanálise, você pode participar de eventos, workshops e fazer cursos para começar a ter contato com a teoria e prática da psicanálise.

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Existem diversas áreas, como a literatura e a filosofia, que utilizam a psicanálise fora do ambiente clínico como ferramenta para entender processos inconscientes.

A psicanálise ajuda a compreender mais sobre quem somos em diferentes contextos. Uma boa dica para explorar o tema, por exemplo, é o curso "A Literatura no Divã: Um Olhar da Psicanálise Sobre Grandes Obras" , de Saulo Durso.

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Esperamos que esse artigo tenha te ajudado a dar os primeiros passos na busca por mais conhecimento sobre o grande e rico universo da psicanálise.

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Referências

BARROS, Glória. O setting analítico na clínica cotidiana. Estudos de Psicanálise, Belo Horizonte, n. 40, p. 71–78, 2013.

PENA, Breno Ferreira; GUERRA, Andréa Máris Campos. Supereu e neurose: dos pecados do pai à demanda do Outro. aSEPHallus, [S.l.], n. 6, p. 1–9, 2019.

Transferência e Contratransferência: O Papel na Psicanálise
Ricardo Salztrager
Transferência e Contratransferência: O Papel na Psicanálise
Entenda o que são transferência e contratransferência na psicanálise, como surgem na clínica, exemplos e sua importância para o analista desde Freud.

Você já ouviu falar em transferência e contratransferência, mas não sabe exatamente o que esses termos significam na prática da psicanálise? Neste texto, você vai entender o que são transferência e contratransferência, suas origens no pensamento de Freud, como se manifestam na clínica e por que exigem tanto cuidado por parte do analista.

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O que é transferência e contratransferência na psicanálise?

A transferência é definida por Freud como o vínculo que o paciente estabelece com seu analista. Este vínculo pode ser, por exemplo, de amor, de ódio, de idealização, de ciúmes, de inveja, etc. Na maioria das vezes, inclusive, uma relação transferencial engloba vários destes sentimentos ao mesmo tempo.

Já a contratransferência é definida por Freud como o modo através do qual o analista reage às transferências de seus pacientes. Tais reações podem ser igualmente de amor, de ódio e dos demais sentimentos acima elencados.

Freud e a descoberta da transferência

A transferência foi descoberta já nos primórdios da psicanálise enquanto Freud observava a relação da paciente Anna O. com seu médico Joseph Breuer (Breuer & Freud, 1895/1996).

Com efeito, era visível que Anna O. apaixonara-se pelo terapeuta. Ela não parava de falar em Breuer, dizia também sentir muitas saudades dele e até – segundo Ernest Jones (1999), biógrafo de Freud – chegou a desenvolver uma espécie de “gravidez psicológica” durante o tratamento.

O amor de transferência

A partir deste e de tantos outros casos, Freud (1915/1996) concluiu ser comum que se estabeleça na clínica uma relação transferencial amorosa da parte do paciente. Ou seja, em uma relação terapêutica, temos, de um lado, um paciente que sofre demais em virtude de seus tantos conflitos e, de outro, alguém que ele supõe poder curá-lo. Assim, a relação terapeuta e paciente passa a ser marcada por uma idealização tal que o analista vem a assumir uma posição central na vida do paciente.

Deste modo, é comum que o paciente venha a pensar demais em seu psicanalista e que não pare de falar dele para seus familiares e amigos. É também corriqueiro que venha a stalkear as redes sociais do analista visando descobrir alguma informação sobre sua vida privada: onde mora, se é casado, se tem filhos... E muitos pacientes são capazes de passar horas e horas vendo repetidas vezes algumas fotos de seus analistas.

Outros exemplos comuns de transferência no vínculo entre terapeuta e paciente

Como o amor é um sentimento que nunca vem sozinho, é normal que o vínculo entre terapeuta e paciente seja também mesclado por intensos ciúmes, ódios, sentimentos de posse, competições, etc.

  • O ciúme: Se onde há amor há ciúme, nada mais previsível que as relações terapêuticas sejam também por ele marcadas. Assim, pode o paciente, por exemplo, vir a detestar os outros pacientes de seu analista e, nesta medida, às vezes, o ambiente de uma sala de espera é marcado por muita hostilidade. É inclusive comum que um paciente questione: “por que você atende tal paciente por mais tempo que a mim?”, “por que você sorri para ele, mas nunca para mim?” ou então “eu tenho certeza que você prefere a ele que a mim”.
  • O ódio: Em todo este contexto é também de se imaginar que a relação terapeuta e paciente seja marcada por um grande ódio. Com efeito, nós também odiamos aqueles que tanto amamos e, por isto, pode acontecer que o paciente diga coisas horríveis sobre a pessoa de seu analista, tenha sonhos maléficos com ele, ou então, que se entregue às mais variadas brigas e disputas. Desta forma, o analista pode ser alvo de algumas ironias e indiretas e a situação às vezes chega ao limite de o paciente descarregar uma grande raiva em cima de seu terapeuta.
  • O sentimento de posse: Outro exemplo é quando o vínculo entre terapeuta e paciente é acompanhado por um intenso sentimento de posse. Daí pode acontecer de o paciente vir a encher o analista de presentes com o intuito de conquistá-lo, tentar manipular sua agenda para que consiga protagonismo diante de seus outros pacientes ou mesmo de se colocar como alguém gentil e amável para que o analista retribua todo o seu amor.
  • A competição: É também provável que este vínculo seja marcado por forte competição. Ou seja, se o paciente presume que o analista tudo sabe, é capaz que ele próprio insista em defender que sabe muito mais que o terapeuta. Uma relação transferencial baseada na competição pode também incluir questionamentos do paciente sobre quem é mais jovial, bonito, magro ou atlético dentre tantas outras coisas.


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Por que ocorre a transferência?

No artigo “A dinâmica da transferência”, Freud (1912/1996) diz que ela ocorre porque quando uma pessoa está em análise, ela costuma deslocar uma série de tendências suas para o psicanalista. Trata-se, geralmente, de algumas formas de se comportar na vida que o paciente traz consigo desde a infância mais remota e que agora serão direcionadas ao terapeuta.

Como exemplo, podemos citar o caso de uma pessoa que, desde criança, sente muita inveja dos outros. Ela agia desta maneira com seus irmãos e irmãs, com as outras crianças do colégio e, conforme crescia, passou a se comportar assim com os amigos, com aqueles que conseguiam namorados melhores que os seus e mesmo com os que tinham um trabalho mais valorizado.

Ora, nada mais óbvio que quando esta pessoa inicie um tratamento, também passe a sentir inveja do analista, já que ela é assim com todo mundo e é desta forma que ela se relaciona.

A transferência e o inconsciente

No entanto, destaca-se que não necessariamente o paciente possui a exata consciência daquilo que transfere ao analista.

Ou seja, se tomarmos o exemplo acima, podemos dizer que tal paciente talvez nem tenha noção do quanto é invejoso nem do quanto transfere suas relações de inveja para o terapeuta. Pelo contrário, a psicanálise estabelece que todos nós temos um inconsciente, ou seja, todos nós desconhecemos grande parte dos nossos desejos, fantasias e comportamentos. Neste sentido, Freud vai dizer que são justamente estas tendências inconscientes aquelas que com maior frequência estarão presentes na cena transferencial.

Como ilustração, tomemos o exemplo de uma pessoa que se julga extremamente boa. Uma pessoa religiosa, caridosa e incapaz de praticar qualquer maldade. No entanto, ela não possui a exata consciência do quanto é agressiva com os outros, fazendo com eles pequenas maldades como fofocas, intrigas e injustiças.

Ora, quando esta pessoa entra em análise, é exatamente desta forma que ela vai se comportar com o psicanalista. É provável que dirá o tempo inteiro o quanto é boa e íntegra, porém sem perceber, direcionará ao analista todas as suas pequenas agressividades. E, assim, ela só poderá se tornar consciente do quanto é agressiva quando isso for apontado por seu psicanalista.


O caso Dora

Conforme colocamos, Freud descobriu a existência da transferência bastante cedo quando seu colega Breuer atendia a Anna O. Todavia, foi a partir de situações vividas com sua paciente Dora que ele concedeu maior atenção ao tema. O conjunto de suas observações sobre o tema está em “Fragmentos da análise de um caso de histeria” (Freud, 1905/1996).

Dora era uma jovem envolta em paixões por algumas pessoas de seu convívio, paixões estas que jamais se concretizavam. Dentre elas, estava seu apaixonamento pelo melhor amigo de seu pai, o Sr. K. Com ele a jovem mantinha uma relação no mínimo curiosa: sem medir quaisquer esforços, Dora seduzia completamente o Sr. K. e se entregava a tal jogo de sedução com todas as suas armas. Porém, quando ela sentia que estava conseguindo seu objetivo, de repente, abandonava a cena e sumia. Claro que a jovem não tinha a exata consciência de que agia desta maneira.

E foi exatamente assim que Dora se comportou com Freud. Seduziu o analista em demasia a ponto de Freud em muito se dedicar a sua análise e, inclusive, ter o desejo de publicar o caso (algo que não acontecia com qualquer paciente seu). Dora também insistia em não relatar determinadas coisas, deixando Freud extremamente curioso e praticamente em suas mãos. E em meio a tamanho jogo de sedução, de repente, Dora abandonou a análise.

Quando se dá o abandono, Freud finalmente percebe o quanto não tinha se dado conta da transferência de Dora.


A contratransferência na psicanálise

Foram poucas as vezes que Freud escreveu sobre a contratransferência. Em linhas gerais, ela é definida como o conjunto de sentimentos que um paciente é capaz de despertar em seu analista: amores, ódios, invejas, raivas, etc. Vale marcar que assim como a transferência do paciente para o analista é marcada por tendências inconscientes, o psicanalista também não possui a exata consciência daquilo que contratransfere.

Deste modo, o terapeuta pode, por exemplo, desenvolver um apaixonamento por certo paciente sem que disso esteja consciente. Da mesma maneira, pode ter inveja de um paciente sem que exatamente perceba isso. E pode até mesmo, sem saber, desenvolver um sentimento de posse em relação a seus pacientes, o que em muito prejudicaria seu trabalho.

A contratransferência e a importância da análise pessoal

Assim, ao contrário da transferência que é tida como algo a ser estimulado no tratamento psicanalítico, Freud (1915/1996) situa a contratransferência como uma coisa a ser incisivamente evitada. Isto porque um amor, um ódio, uma inveja ou uma raiva que o analista venha a sentir de seus pacientes pode, em muito, atrapalhar seus tratamentos.

Daí a necessidade de os analistas também fazerem uma análise pessoal. Ora, é comum – e até mesmo inevitável – que um terapeuta venha a sentir os mais variados afetos por seus pacientes. Alguns podem despertar-lhes maior interesse, outros podem fazer com que o psicanalista se lembre de traumas e ainda há os que ele possa vir a conceder um exagero de cuidados.

Por isso é imprescindível que um analista seja uma pessoa suficientemente analisada. Com sua análise pessoal, ele conseguirá melhor elaborar seus sentimentos e fazer com que suas próprias questões não interfiram tanto em seu trabalho.


O manejo da contratransferência

Com base nesta discussão, podemos perguntar: como um tratamento analítico poderia progredir se o analista respondesse com raiva aos sentimentos transferenciais de seus pacientes? Com certeza, o vínculo entre terapeuta e paciente passaria a ser marcado por uma raiva imensa que em muito prejudicaria o tratamento.

Ou então: como um tratamento analítico pode progredir se o analista responde com certo cansaço às falas de seus pacientes? Aqui a contratransferência também é prejudicial. E a mesma pergunta deve ser feita em relação a outros sentimentos do analista que venham a se manifestar na contratransferência.

Nesta medida, é importante frisar que o psicanalista não deve necessariamente se portar como uma pedra de gelo diante de seus pacientes, pois isso é humanamente impossível. Enquanto ser humano, ele possui os mais variados sentimentos que sempre se manifestarão independentemente de sua boa vontade e demais esforços. Por isso, certa dose de contratransferência é inevitável ao tratamento. Porém, é importante frisar que determinados exageros sentimentais da parte do analista são prejudiciais e por isto devem ser analisados.

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E quando o terapeuta se apaixona pelo paciente?

Foi para responder esta pergunta que Freud (1915/1996) escreveu o artigo “Observações sobre o amor transferencial”.

Apesar de ser uma coisa rara, nenhum psicanalista está livre de se apaixonar por alguns de seus pacientes. De fato, não controlamos nossos sentimentos e, às vezes, quando menos esperamos, eles acabam transbordando. E, assim, cabe ao psicanalista analisar-se e, com sua paixão devidamente elaborada, decidir se o tratamento prossegue ou termina em virtude de seu amor contratransferencial.

Deve o psicanalista orgulhar-se quando um paciente se apaixona por ele?

Uma discussão sobre esta pergunta também se faz em “Observações sobre o amor transferencial”.

Nele, Freud (1915/1996) é incisivo ao responder que não, alertando ser raro um paciente se apaixonar por seu psicanalista devido aos seus encantos pessoais. Conforme vimos, o amor transferencial é induzido pela própria situação analítica, mas jamais pelo charme, beleza ou inteligência do psicanalista. Por isto o terapeuta não teria motivos para orgulhar-se do fato de um paciente estar por ele apaixonado. Tampouco para entregar-se a uma ardente paixão com um de seus clientes.

Este texto foi escrito pelo professor Ricardo Salztrager, psicanalista e professor associado da UNIRIO e da Casa do Saber. Possui Graduação em Psicologia, mestrado e doutorado em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

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Referências:

BREUER, J. & FREUD, S. (1895/1996). Estudos sobre histeria. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 2. Rio de Janeiro: Imago. p. 11-316.

Freud, Sigmund. (1905/1996). Fragmentos da análise de um caso de histeria. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 7. Rio de Janeiro: Imago. p. 13-116.

_____. (1912/1996). A dinâmica da transferência. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 12. Rio de Janeiro: Imago. p. 107-119.

_____. (1915/1996). Observações sobre o amor transferencial. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 12. Rio de Janeiro: Imago. p. 173-188.

Jones, Ernest. (1999). A Vida e a Obra de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago.

O que é Psicanálise? História, Conceitos e Como Funciona
Gabriel Cravo Prado
O que é Psicanálise? História, Conceitos e Como Funciona
Entenda o que é e o que faz um psicanalista a partir de uma análise da teoria, da história e da clínica criada por Freud.

A psicanálise tem um legado profundo e complexo na história. Criada por Sigmund Freud no final do século XIX, ela busca compreender os processos inconscientes. Embora sua teoria tenha avançado ao longo dos anos, com diferentes escolas de pensamentos, a psicanálise continua a ser um valioso campo para o tratamento de conflitos internos, angústias e sofrimentos.



O que é a Psicanálise e como ela surgiu?

Freud criou o termo psicanálise para descrever um novo método investigativo, baseado na exploração do inconsciente. Inicialmente, ele usou o termo "psico-análise" em 1896, em um artigo sobre a hereditariedade e a etiologia das neuroses, e mais tarde a psicanálise se consolidou como uma disciplina científica e clínica.

A psicanálise tem como base a ideia de que os sintomas, sofrimento e angústias dos sujeitos são resultados de processos psíquicos inconscientes, geralmente reprimidos, que se manifestam de forma distorcida.

Freud reformulou a sua abordagem terapêutica antes de criar a psicanálise, rejeitando o uso da hipnose e da sugestão que eram comuns nas técnicas da época, preferindo um método que estimulasse o paciente a associar livremente seus pensamentos e sentimentos.



Como funciona a terapia psicanalítica?

O método de associação livre é uma das principais técnicas psicanalíticas , que permite ao paciente expressar qualquer pensamento ou sensação que venha à mente, sem censura ou moderação, permitindo ao analista interpretar os significados subjacentes.

Por meio da interpretação dos sonhos, das associações livres e dos conteúdos trazidos pela fala do paciente em sessão, o psicanalista pode identificar as causas dos sintomas que afligem o sujeito.

Freud comparava o trabalho do psicanalista com o trabalho de um químico, que disseca uma substância complexa para entender sua composição básica. Da mesma forma, o analista busca decompor os sintomas em seus componentes, como as emoções e os desejos reprimidos, revelando-os ao paciente para facilitar o certo alívio em relação a queixa.

A psicanálise como tratamento consiste em o paciente, em um ambiente seguro, se expresse de forma livre os seus pensamentos, sentimentos e fantasias - processo que Freud chamou de "associação livre".

O analista, por sua vez, aplica o método de "atenção flutuante", ouvindo sem interferir diretamente, ajudando o paciente a desvendar significados inconscientes ocultos nas palavras e ações.




Teoria e prática: entenda como é a estrutura da psicanálise clínica

Uma das características centrais da psicanálise é a relação dialética entre teoria e clínica. A prática clínica, para Freud, nunca deve ser desvinculada da teoria.

A teoria psicanalítica é construída com base nas experiências clínicas, enquanto a clínica psicanalítica é moldada pelas descobertas teóricas.

Freud enfatiza que a psicanálise não pode ser reduzida a uma simples técnica de verificação de teorias, mas deve se manter atenta às necessidades do paciente.

A promessa de cura, portanto, é um aspecto fundamental de sua prática, embora a "cura" não signifique necessariamente a eliminação de sintomas, mas a transformação da relação do sujeito com seu sofrimento.

Qual o objetivo da psicanálise?

De acordo com Freud, o objetivo da psicanálise é mais profundo do que a simples remoção de sintomas. Ele acredita que, por meio da análise, os pacientes podem alcançar uma "verdade" sobre seus desejos inconscientes, e, assim, modificar sua relação com o sofrimento psíquico.

Esse processo não visa à cura no sentido médico clássico — com base em diagnósticos orgânicos e físicos — mas sim ao entendimento da "mensagem" que os sintomas têm, dentro do campo da linguagem e dos significados psíquicos.

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O sintoma e a linguagem: a psicanálise como “cura pela palavra”

Ao contrário da medicina, que frequentemente vê os sintomas como manifestações de disfunções orgânicas, a psicanálise considera que os sintomas psíquicos têm um significado simbólico . Eles são, na visão psicanalítica, uma expressão da divisão interna do sujeito e das lutas inconscientes que ele enfrenta.

O sintoma não é apenas um mal-estar físico ou fisiológico, mas um reflexo de um conflito mais profundo, que precisa ser desvelado e entendido.

Através da fala e da associação livre, o paciente começa a compreender o que seus sintomas significam, construindo uma nova relação com o que lhe causa sofrimento. Isso torna a psicanálise um processo de cura pela palavra, ou como Freud descreveu, uma "talking cure".

Os limites da psicanálise

No entanto, a psicanálise tem seus limites. Como Lacan posteriormente desenvolveu, a castração e a divisão subjetiva representam barreiras que não podem ser totalmente simbolizadas ou resolvidas.

O sujeito nunca alcança uma plenitude, pois a castração — entendida como a imposição de limites à satisfação do desejo — sempre deixa algo de irredutível, algo do real que não pode ser simbolizado. Esse limite é o que torna a análise impossível de ser completada de maneira absoluta.

A psicanálise, portanto, não oferece uma cura total, mas uma mudança na posição do sujeito em relação ao seu próprio desejo e sofrimento.



Qual o papel do psicanalista? Entenda sobre a transferência na psicanálise

Outro aspecto fundamental da prática psicanalítica é o papel do analista na construção do setting analítico.

Freud destacou a importância da transferência, que é o processo pelo qual o paciente projeta sentimentos, desejos e conflitos inconscientes em relação ao analista. Isso cria um espaço único para que o paciente possa reviver e reprocessar suas experiências de uma maneira segura.

A transferência é um conceito central na psicanálise e refere-se à projeção de sentimentos inconscientes do paciente sobre o analista.

Essa dinâmica é cuidadosamente analisada, pois revela aspectos cruciais do relacionamento do paciente com figuras importantes de sua vida, como pais ou outras autoridades. A análise da transferência ajuda a compreender como os conflitos e afetos impactam a vida do paciente e contribuem para seus sintomas.


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Qual deve ser a postura do psicanalista?

O analista deve manter uma postura de abstinência e neutralidade, não interferindo diretamente nas associações do paciente.

Esse é um ponto central da psicanálise: o desejo do analista não é que o paciente alcance um estado de "normalidade" ou conformidade com certos padrões sociais, mas que ele consiga se encontrar com seus próprios desejos e conflitos inconscientes.

Freud acreditava que, ao se deparar com a verdade sobre seu desejo inconsciente, o paciente pode ter uma transformação psíquica significativa.


A psicanálise como um campo vivo e evolutivo

A psicanálise continua a evoluir e se expandir, com diferentes escolas teóricas enriquecendo e desafiando a obra de Freud.

As teorias pós-freudianas, como as de Lacan, Klein e Winnicott, oferecem novas leituras e interpretações do inconsciente, do desejo e da transferência, mas todas compartilham a premissa básica de que o inconsciente é um campo fundamental que influencia profundamente o sujeito.

Em última análise, a psicanálise não se limita a ser uma técnica terapêutica ou uma teoria psicológica.

Ela é, antes de tudo, uma disciplina que busca entender a relação do sujeito com seu desejo e sofrimento, e como, através da fala, podemos acessar essas dimensões ocultas e transformar nossa relação com o inconsciente.

Se, como Freud afirmou, a psicanálise não tivesse valor terapêutico, ela não teria sobrevivido e se expandido por mais de cem anos. E, ainda hoje, continua a oferecer uma perspectiva única sobre a mente humana, sendo indispensável tanto para a psicologia quanto para a compreensão das complexidades da experiência humana.


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

Por Onde Começar a Estudar Psicanálise: Um Guia Completo
Ella Barruzzi
Por Onde Começar a Estudar Psicanálise: Um Guia Completo
Saiba por onde começar a estudar psicanálise: conheça os principais conceitos, autores fundamentais, métodos de estudo e caminhos detalhados.

A psicanálise é uma das principais áreas do conhecimento voltadas para o estudo do inconsciente, dos comportamentos humanos e das emoções.

Criada por Sigmund Freud, essa prática se consolidou como uma ferramenta valiosa para a compreensão profunda da mente humana e tem aplicações tanto na clínica quanto em diversas áreas do conhecimento, como a educação, a filosofia e as artes.

Mas, para quem deseja se aprofundar nesse universo, surge uma dúvida comum: por onde começar a estudar psicanálise?

A jornada exige mais do que simplesmente ler os textos clássicos. É um processo que envolve um mergulho profundo na mente humana, na compreensão das emoções e na capacidade de analisar os fenômenos inconscientes.

Se você deseja embarcar nessa, este guia foi elaborado para fornecer um roteiro claro e bem estruturado, com indicações de leituras fundamentais, cursos disponíveis, métodos de estudo e referências importantes.

Ao final deste artigo, você terá um caminho definido para iniciar seus estudos com confiança e uma base sólida para compreender o pensamento psicanalítico.




Por dentro da história, suas teorias e por onde começar a estudar psicanálise

Antes de decidir onde e como estudar psicanálise, é fundamental entender o que ela abrange.

A psicanálise investiga os processos mentais inconscientes, os mecanismos psíquicos que moldam nossos comportamentos e emoções e as forças internas que influenciam nossos pensamentos e decisões.

Freud postulou que a mente humana é composta por três instâncias psíquicas principais:

  • Id: a parte instintiva, responsável pelos desejos primitivos e inconscientes.
  • Ego: o mediador entre o id e a realidade externa, responsável pelo pensamento racional e pela tomada de decisões.
  • Superego: a instância moral, que internaliza valores e normas sociais.


Além dessa estrutura, a psicanálise se aprofunda em conceitos essenciais, como:

  • O inconsciente e suas manifestações: muitas de nossas ações e emoções são influenciadas por conteúdos reprimidos que escapam à consciência.
  • Os mecanismos de defesa: estratégias psicológicas usadas para lidar com conflitos internos, como a repressão, a projeção e a sublimação.
  • A interpretação dos sonhos: os sonhos são considerados manifestações simbólicas do inconsciente.
  • A transferência e a contratransferência: fenômenos que ocorrem na relação entre o paciente e o analista, essenciais para a prática clínica.
  • O desenvolvimento psicossexual: Freud dividiu o desenvolvimento da personalidade em estágios psicossexuais (oral, anal, fálico, latência e genital).


Embora Freud tenha sido o pioneiro da psicanálise, muitos outros teóricos contribuíram para o avanço dessa ciência. Entre eles estão Carl Jung, Jacques Lacan, Melanie Klein, Donald Winnicott, Wilfred Bion e Erik Erikson, cada um com perspectivas e aprofundamentos distintos.

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Quem pode estudar psicanálise

Diferentemente de algumas áreas da saúde, como a psicologia e a psiquiatria, a formação em psicanálise não exige um curso superior específico.

Essa característica torna a psicanálise uma área acessível, mas também carrega a responsabilidade de uma formação rigorosa e comprometida com a ética e a prática adequada.

No Brasil, qualquer pessoa interessada pode estudar psicanálise e até mesmo atuar como psicanalista, desde que siga um percurso de formação adequado.

Esse percurso envolve não apenas a assimilação teórica dos conceitos psicanalíticos, mas também uma transformação pessoal profunda, já que o trabalho do psicanalista é diretamente influenciado pela sua própria capacidade de autoconhecimento e interpretação das dinâmicas inconscientes.


Para se tornar um psicanalista, é necessário seguir o chamado tripé psicanalítico, um modelo de formação essencial que garante a qualidade e a profundidade da prática. Esse tripé consiste em:

Formação teórica

O estudo aprofundado das obras fundamentais da psicanálise é um compromisso exigente e transformador.

Não se trata apenas de compreender conceitos teóricos, mas de mergulhar em uma leitura que demanda interpretação, reflexão e uma escuta atenta ao que está dito e ao que permanece nas entrelinhas.

Esse estudo não se restringe aos textos inaugurais de Freud – embora eles sejam a base –, mas se expande para os desenvolvimentos realizados por autores como Jacques Lacan, Donald Winnicott, Melanie Klein, Carl Gustav Jung, entre muitos outros.

A teoria psicanalítica exige uma leitura cuidadosa, capaz de captar não apenas o conteúdo explícito das obras, mas também os significados simbólicos, as metáforas e as sutilezas do inconsciente que permeiam esses textos.

Cada autor traz uma perspectiva singular, mas todos convergem na busca por decifrar as complexidades da psique humana.

Freud nos apresenta conceitos fundamentais como o inconsciente, a repressão e a transferência, inaugurando um campo que seria amplamente explorado e revisitado.



Lacan, com sua releitura estruturalista, introduz a primazia da linguagem e do simbólico, convidando-nos a pensar o sujeito como efeito do discurso.

Melanie Klein aprofunda a compreensão dos primeiros vínculos e das fantasias inconscientes, enquanto Winnicott nos oferece a delicada noção de ambiente suficientemente bom e do espaço potencial.

Jung amplia o escopo da psicanálise ao abordar o inconsciente coletivo e os arquétipos, abrindo portas para uma visão mais ampla e simbólica da experiência psíquica.

Esse processo de estudo não é linear. Requer revisitas constantes aos textos, cruzamentos entre diferentes teorias e uma disposição para lidar com as ambiguidades e contradições próprias desse campo.

A psicanálise não oferece respostas definitivas, mas provoca questionamentos contínuos. A interpretação dos textos muitas vezes demanda a escuta de supervisores, a troca com colegas e a experiência pessoal em análise, uma vez que o conhecimento teórico só ganha profundidade quando atravessado pela vivência subjetiva.

Além disso, a leitura psicanalítica implica uma relação dialética entre teoria e prática. A compreensão dos conceitos se enriquece na medida em que são articulados com a experiência clínica, permitindo que o psicanalista desenvolva uma escuta mais sensível e uma interpretação mais precisa.

Esse movimento de ir e vir entre os textos e a prática é fundamental para a formação, possibilitando que a teoria não se cristalize em dogmas, mas permaneça viva e aberta a novas leituras.

Análise pessoal

O estudante deve passar por um processo de análise para compreender seus próprios processos psíquicos.

Esse aspecto é considerado indispensável, já que permite ao futuro psicanalista identificar suas próprias resistências, projeções e transferências, evitando que essas questões interfiram na escuta e na condução dos seus pacientes.

A análise pessoal promove um mergulho nas próprias angústias, desejos e conflitos, tornando-se uma experiência transformadora e essencial para a prática clínica.

Supervisão clínica

O trabalho clínico deve ser supervisionado por um psicanalista experiente. Durante a supervisão, o estudante tem a oportunidade de discutir casos, refletir sobre suas intervenções e receber orientações sobre a condução dos atendimentos.

Esse processo é fundamental para o desenvolvimento da escuta psicanalítica, da interpretação dos sintomas e da construção de uma postura ética na relação com os analisandos.

Sem esse tripé, é difícil garantir a qualidade da formação psicanalítica, pois a psicanálise não se baseia apenas em conhecimento teórico, mas também na vivência e no aprofundamento do inconsciente do próprio analista.

O modelo de formação visa assegurar que o psicanalista seja capaz de oferecer um espaço de escuta qualificada, compreensão empática e intervenções que promovam transformações genuínas no processo terapêutico.

A prática psicanalítica, portanto, é construída a partir de um compromisso contínuo com a própria análise e com o estudo permanente, visto que o inconsciente é uma dimensão inesgotável e sempre aberta a novas interpretações.

Como estudar psicanálise?

Se você está se perguntando como começar a estudar psicanálise, saiba que há diferentes caminhos, e o ideal é combinar métodos teóricos e práticos.

A seguir, apresentamos algumas sugestões para estruturar seus estudos:

Como Indicações
Comece pelos clássicos A base da psicanálise está nas obras de Freud, e seus textos são fundamentais para qualquer iniciante. Por isso, trouxemos algumas indicações de livros para começar a estudar psicanálise:
  • "A interpretação dos sonhos" – um dos principais textos de Freud, no qual ele apresenta sua teoria sobre os sonhos como expressões do inconsciente.
  • "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade" – explora o desenvolvimento da sexualidade desde a infância.
  • "O mal-estar na civilização" – analisa o conflito entre os impulsos humanos e as exigências da sociedade.
  • "Totem e Tabu" – relaciona psicanálise e antropologia, explorando a origem das normas sociais.
Aprofunde-se Após Freud, é recomendável estudar os principais autores que deram continuidade ao pensamento psicanalítico:
  • Jacques Lacan – trabalhou a relação entre linguagem e psicanálise, reinterpretando Freud.
  • Carl Jung – desenvolveu a teoria do inconsciente coletivo e dos arquétipos.
  • Melanie Klein – introduziu conceitos fundamentais sobre a psicanálise infantil.
  • Donald Winnicott – abordou o desenvolvimento emocional e a importância do ambiente no psiquismo.
Faça cursos de psicanálise Existem diversas opções de cursos presenciais e online para quem deseja estudar psicanálise. Algumas instituições reconhecidas podem oferecer cursos à distância, na modalidade EAD, como é o caso do Programa +Psicanálise da Casa do Saber. Você consegue acessar a assinatura de cursos de psicanálise, garantindo um repertório inédito e plural para se atualizar em teoria psicanalítica e qualificar sua clínica.
Complemente assistindo filmes e documentários Eles podem ajudar a visualizar conceitos psicanalíticos de forma prática:
  • "Freud, além da alma" – biografia sobre Freud e o nascimento da psicanálise.
  • "Um método perigoso" – relação entre Freud, Jung e Sabina Spielrein.
  • "O gabinete do Dr. Caligari" – clássico do cinema expressionista que remete a questões do inconsciente.
Participe de grupos de estudo Os textos psicanalíticos são densos e, muitas vezes, difíceis de compreender sem discussão. Participar de grupos de estudo permite trocar ideias, esclarecer dúvidas e aprofundar o conhecimento. Esses grupos podem ser presenciais ou online, organizados por instituições ou de forma independente.


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Os desafios, transformações e recompensas na jornada psicanalítica

Estudar psicanálise vai muito além da aquisição de conhecimento teórico – é um mergulho profundo em um processo que envolve autoconhecimento, resiliência e uma constante disposição para lidar com a complexidade da mente humana.

Um dos primeiros obstáculos que muitos encontram é a densidade dos textos clássicos. Obras de Freud, Lacan, Klein e outros autores exigem uma leitura cuidadosa e interpretativa, onde cada conceito carrega múltiplos significados, muitas vezes simbólicos e entrelaçados.

A psicanálise não oferece respostas simples ou definitivas, mas convida à reflexão contínua, exigindo paciência e disposição para revisitar ideias sob novas perspectivas.

Outro ponto desafiador é a necessidade de passar pela análise pessoal – um processo transformador e, ao mesmo tempo, confrontador. Ao se colocar no papel de analisando, o futuro psicanalista precisa lidar com suas próprias angústias, resistências e conteúdos inconscientes.



Esse aprofundamento é essencial, já que permite identificar projeções, transferências e defesas, evitando que essas questões interfiram na escuta clínica, como falamos anteriormente.

A supervisão clínica também se apresenta como uma etapa crucial, mas desafiadora. Discutir casos reais sob a orientação de um psicanalista experiente exige humildade e abertura para receber críticas construtivas.

É nesse espaço que o estudante aprende a interpretar sintomas, formular intervenções adequadas e desenvolver uma escuta sensível, sem julgamentos ou precipitações.

No entanto, apesar dos desafios, a formação psicanalítica oferece recompensas profundas. A capacidade de compreender as dinâmicas inconscientes, escutar além das palavras e promover transformações genuínas na vida dos analisandos é um privilégio.

A prática psicanalítica não se resume a uma profissão, mas a um compromisso ético e pessoal com a busca pela verdade psíquica — tanto do outro quanto de si mesmo.

Por fim, a jornada psicanalítica não tem um ponto de chegada definitivo. Trata-se de um processo contínuo de aprendizado, onde cada leitura, análise ou supervisão revela novas camadas de compreensão. É essa eterna abertura ao desconhecido que torna a psicanálise uma prática tão rica, desafiadora e transformadora.

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Referências bibliográficas:

https://www.casadosaber.com.br/blog

https://www.casadosaber.com.br/categorias/psicanalise

FREUD, S. Cinco lições de psicanálise. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

LACAN, J. O Seminário, Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

WINNICOTT, D. W. Conceitos e distorções. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

Libido e Menopausa: O Prazer e as Mudanças no Desejo Sexual
Xavana Celesnah
Libido e Menopausa: O Prazer e as Mudanças no Desejo Sexual
O que é libido e como a menopausa afeta o desejo sexual? Descubra formas de manter o prazer, aliviar sintomas e melhorar sua qualidade de vida.

Na menopausa, ocorrem transformações hormonais que podem afetar o desejo sexual, reduzindo a libido em muitas mulheres. Curiosamente, algumas mulheres podem experimentar um aumento do desejo sexual nessa fase. Durante esse período da vida, a redução dos níveis hormonais, especialmente do estrogênio, afeta diretamente a sexualidade. Mas, questões psicológicas, emocionais e relacionais também influenciam no desejo sexual.

A menopausa é um marco biológico que acompanha o envelhecimento e provoca uma reconfiguração da identidade feminina. Em alguns casos, mudanças no corpo, como ressecamento vaginal ou alteração na percepção da imagem corporal, podem gerar desconforto, mas existem maneiras de lidar com essas transformações. Este artigo abordará os diversos aspectos relacionados à libido e à menopausa.



O que é libido e como ela se relaciona com a menopausa?

A libido é definida como o desejo sexual ou a energia psíquica que motiva os impulsos sexuais. Sigmund Freud desenvolveu a teoria da libido, onde a enxergava como um componente essencial da psique humana, que, embora ligado ao prazer físico, também carrega dimensões emocionais e psicológicas. A libido e a menopausa se conectam de maneira muito particular, pois a diminuição dos hormônios reprodutivos tende a afetar diretamente a resposta sexual. No entanto, a menopausa não anula o desejo sexual, mas pode promover uma transformação no que se entende por prazer e desejo.

Com a chegada da menopausa, muitas mulheres experienciam uma redução na produção de estrogênio, o que pode causar uma série de efeitos fisiológicos, como secura vaginal e alterações no desejo. No entanto, é possível sentir prazer na menopausa. Por exemplo, mulheres podem explorar novas formas de prazer, como a utilização de lubrificantes ou a abertura para uma sexualidade mais livre de pressões. A ausência da menstruação e a possibilidade de não engravidar também podem proporcionar um alívio psicológico, permitindo uma vivência mais relaxada da sexualidade.

Entretanto, as questões hormonais não são as únicas influências sobre os encontros e desencontros no sexo.No campo da psicanálise, a sexualidade feminina na menopausa é compreendida como um território complexo de desejos inconscientes. A libido, ou energia sexual, não desaparece, mas pode se manifestar de formas diferentes.

Como saber se estou entrando na menopausa?

A menopausa é uma fase natural na vida da mulher, geralmente ocorrendo entre os 45 e 55 anos, marcada pelo fim da menstruação e mudanças hormonais. Para saber se você está entrando nesse período, é importante observar alguns sinais. A transição para a menopausa, conhecida como perimenopausa, pode ocorrer alguns anos antes da última menstruação. Os sintomas da menopausa podem variar de mulher para mulher, mas alguns dos mais comuns incluem:

SINTOMAS DA MENOPAUSA CARACTERÍSTICAS
Ondas de calor (fogachos) Sensação repentina de calor intenso, geralmente acompanhada de suor excessivo
Suores noturnos Suores intensos durante a noite, que podem afetar o sono
Irregularidade menstrual Menstruações mais espaçadas ou com fluxos mais intensos ou mais leves
Dificuldade para dormir Insônia ou sono interrompido, muitas vezes devido a suores noturnos
Alterações no humor Irritabilidade, ansiedade e, em alguns casos, sintomas depressivos
Secura vaginal Ressecamento da vagina, causando desconforto, especialmente durante a relação sexual
Diminuição do desejo sexual Mudanças hormonais podem reduzir a libido
Alterações no cabelo e na pele Cabelo mais fino e queda de cabelo, além de pele mais seca e menos elástica
Aumento de peso Algumas mulheres notam ganho de peso, especialmente na região abdominal
Problemas de memória e concentração Dificuldade para focar ou lembrar de coisas com clareza


Como aumentar a libido feminina durante a menopausa?

Para muitas mulheres, o maior desafio da libido na menopausa é a diminuição do desejo sexual. Contudo, isso não significa que o prazer precisa ser completamente perdido. Existem formas de aumentar a libido feminina, tanto a partir de tratamentos médicos quanto de mudanças no estilo de vida e práticas terapêuticas. Primeiramente, a consulta a um ginecologista pode ser fundamental, pois existem tratamentos que podem aliviar os sintomas da menopausa e restaurar a qualidade de vida sexual, como terapia hormonal, lubrificantes e até mesmo terapias com laser vaginal.

No entanto, é importante também observar o aspecto psicológico da menopausa. A abordagem psicanalítica da sexualidade revela que, muitas vezes, o desejo sexual é afetado por tensões emocionais, autoimagem negativa e até mesmo traumas antigos. A terapia pode ser uma excelente maneira de trabalhar esses aspectos emocionais e promover uma relação mais positiva com a sexualidade. O acompanhamento psicológico ajuda a mulher a entender melhor suas próprias expectativas sexuais e a lidar com o que está envolvido no processo de envelhecimento e de reconfigurar seu desejo sexual.

Além disso, práticas de relaxamento, como yoga, meditação e exercícios físicos regulares, têm mostrado benefícios significativos na melhoria do desejo sexual. O exercício, por exemplo, melhora a circulação sanguínea e reduz o estresse, fatores que podem contribuir para um aumento da libido. Mulheres que sentem que perderam o desejo durante a menopausa podem se beneficiar muito com essas mudanças no estilo de vida, já que elas promovem uma sensação de bem-estar e confiança, aspectos essenciais para o prazer sexual.



É possível sentir prazer na menopausa?

A menopausa é uma fase da vida associada a uma série de mudanças hormonais e físicas. Durante esse período, o corpo passa por transformações, como a diminuição da produção de estrogênio, o que pode impactar a saúde sexual e afetiva. Muitas mulheres acreditam que, com a chegada da menopausa, a libido diminui e o prazer sexual se torna algo do passado. No entanto, essa visão é simplista e não leva em consideração a complexidade do desejo sexual.

É possível sim sentir prazer na menopausa. Mesmo que a diminuição da produção hormonal possa causar alguns desconfortos, como a secura vaginal e as ondas de calor, isso não significa que o prazer sexual esteja fora de alcance. Pelo contrário, muitas mulheres relatam que, ao longo dessa fase, o prazer na menopausa pode se transformar, assumindo novas formas e sendo experimentado de maneiras diferentes.



Mais importante ainda, é o impacto que a percepção de envelhecer tem sobre a sexualidade. Para muitas mulheres, a menopausa pode ser vista como uma libertação das pressões da fertilidade e da procriação, abrindo espaço para um novo tipo de prazer que não está mais vinculado à reprodução, mas sim ao prazer puro e ao autoconhecimento.

A menopausa, ao marcar o fim da fase reprodutiva, pode ser também um período de redescoberta da sexualidade e do prazer, pois muitas mulheres experimentam uma sensação de liberdade emocional que não sentiam antes. O desejo, assim como a libido, não é algo estático. Na menopausa, ele pode ser ressignificado, levando a uma experiência sexual mais focada no prazer emocional e na conexão íntima, em vez de se preocupar com a performance ou dos aspectos físicos relacionados à fertilidade.

Portanto, sim, é possível sentir prazer na menopausa. O prazer sexual pode, sim, ser vivido de uma maneira diferente, mas não menos intensa ou satisfatória. A chave está em compreender as mudanças físicas e psicológicas que essa fase traz e aceitar que o prazer sexual pode ser ressignificado ao longo do tempo.

O impacto psicológico da menopausa na sexualidade

A menopausa é, acima de tudo, um evento psicobiológico que envolve muito mais do que mudanças no corpo. O envelhecimento, em si, traz questões complexas para a mulher, não apenas sobre a perda da fertilidade, mas sobre a percepção de sua própria identidade e sexualidade. A libido na menopausa pode ser uma fonte de ansiedade, principalmente se a mulher associa sua sexualidade à sua capacidade de gerar filhos ou à imagem jovem e sensual que é frequentemente valorizada na sociedade.

A psicanálise, ao explorar as questões do desejo e o processo de envelhecer, ajuda a compreender que a sexualidade não desaparece na menopausa, mas se transforma. O desejo não se extingue, mas é reinterpretado e ressignificado. Nesse sentido, a menopausa pode ser um momento de amadurecimento e autoconhecimento, onde a mulher tem a oportunidade de redefinir o que o prazer significa para ela, independentemente de padrões estéticos ou sociais. Ao longo da vida, as mulheres têm se relacionado com o sexo e o desejo de diferentes maneiras, e a menopausa é apenas mais uma etapa de reconfiguração desse processo.

A psicanálise e a sexualidade entram em cena ao considerar que as experiências passadas, as expectativas frustradas e até as relações familiares podem impactar diretamente na vivência da sexualidade na menopausa. Desejos inconscientes, que surgem como fantasias ou sonhos, podem ajudar a mulher a reconectar-se com sua sexualidade de maneira mais plena. A teoria freudiana também sugere que, durante esse período, ressignificar a própria história sexual pode ser fundamental para o reestabelecimento do desejo.



Qual a diferença entre climatério e menopausa?

A menopausa e o climatério são dois conceitos que se referem a diferentes aspectos da transição hormonal na vida da mulher, mas muitas vezes são confundidos. A menopausa é o momento específico em que a mulher deixa de menstruar permanentemente, marcando o fim da fase reprodutiva. Ela é definida como a ausência de menstruação por 12 meses consecutivos e ocorre, em média, entre os 45 e 55 anos. Esse é um evento biológico que indica a cessação da fertilidade.

Já o climatério é o período de transição que inclui a menopausa, mas vai além dela. Ele abrange a fase de mudanças hormonais que começa anos antes da última menstruação e pode durar até a pós-menopausa, envolvendo tanto os anos de preparação para a menopausa quanto os que se seguem a ela. Durante o climatério, a mulher passa por uma série de alterações no corpo, como variações nos ciclos menstruais e o surgimento de sintomas como ondas de calor, suores noturnos, secura vaginal e alterações de humor.

Portanto, enquanto a menopausa é o evento que marca o fim da menstruação, o climatério é um período mais amplo, que engloba toda a transição hormonal e as mudanças físicas e emocionais que ocorrem antes e após esse momento.

O Complexo de Édipo e a Sexualidade

O complexo de Édipo é um conceito central na teoria psicanalítica de Sigmund Freud, que descreve o conflito emocional e psíquico vivido por uma criança, geralmente entre os 3 e 6 anos de idade, durante o processo de desenvolvimento sexual. Segundo Freud, nesse período, a criança desenvolve um desejo inconsciente pela figura do sexo oposto, geralmente a mãe, e uma rivalidade em relação à figura do mesmo sexo, que, no caso dos meninos, seria o pai. Este processo é visto como uma parte essencial da formação da identidade sexual e das primeiras estruturas psíquicas da pessoa, tendo um impacto duradouro na sexualidade adulta.

Quando se fala de sexualidade na vida adulta, o complexo de Édipo tem relevância, pois muitas das questões e dinâmicas afetivas e sexuais que surgem mais tarde podem estar relacionadas a esse primeiro momento de desenvolvimento. O desejo inconsciente que a criança experimenta por um dos pais e a rivalidade com o outro não são superados automaticamente; ao contrário, essas experiências se refletem nas relações emocionais e sexuais ao longo da vida. Freud acreditava que a resolução bem-sucedida do complexo de Édipo, ou seja, a aceitação da autoridade do pai e o distanciamento dos desejos infantis pela mãe, seria fundamental para o desenvolvimento da sexualidade madura.



No contexto da sexualidade adulta, o que ocorre na fase do complexo de Édipo pode ter efeitos de longo alcance, com suas ressonâncias se manifestando em padrões de relacionamento, desejo e comportamento sexual. Por exemplo, questões não resolvidas relacionadas ao complexo podem levar a padrões de escolha de parceiros que replicam, de forma inconsciente, as figuras parentais. Mulheres podem se envolver com homens que reeditam a figura paterna, e homens podem procurar mulheres que lembram a mãe, muitas vezes sem se dar conta disso. Essas dinâmicas psíquicas inconscientes podem influenciar profundamente a libido e até os padrões de intimidade e afetividade ao longo da vida adulta.

A teoria da libido de Freud coloca o desejo como um impulso psíquico fundamental que atravessa as diferentes fases do desenvolvimento humano. A forma como o complexo de Édipo é vivenciado e superado pode, assim, impactar diretamente na forma como um indivíduo experimenta a sexualidade e o desejo ao longo da vida. É importante destacar que, na abordagem psicanalítica, o complexo de Édipo não é algo que se resolve apenas uma vez, mas sim um processo dinâmico que se reflete em diversas camadas da vida emocional e sexual do adulto.

Além disso, o complexo de Édipo também nos leva a refletir sobre as questões do desejo, e como essas questões podem ser distorcidas ou até reforçadas por ideais e expectativas sociais sobre o papel da mulher e do homem nas relações sexuais e afetivas. A psicanálise nos ajuda a compreender que a sexualidade não é uma questão puramente fisiológica ou social, mas um campo vasto e complexo, enraizado em dinâmicas inconscientes profundas que se originam nas primeiras fases da vida.

Embora seja um conceito que se refira a uma fase inicial do desenvolvimento, suas repercussões podem ecoar durante toda a vida sexual de uma pessoa, influenciando a maneira como ela se relaciona com seu corpo, com os outros e, principalmente, com sua libido e desejos inconscientes. Compreender esses mecanismos pode ser um caminho para o amadurecimento do desejo.

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Conclusão

A libido e menopausa estão interligadas por uma série de fatores fisiológicos, emocionais e psíquicos. Embora a menopausa traga consigo alterações hormonais que podem reduzir o desejo sexual, ela também oferece uma oportunidade para a mulher reconfigurar sua identidade sexual, explorar novas formas de prazer e lidar com as questões do envelhecimento. A chave para viver a sexualidade de maneira plena durante a menopausa está na aceitação das mudanças do corpo e na busca por práticas que favoreçam o bem-estar físico e psicológico.

É possível sentir prazer na menopausa, mas isso envolve uma mudança de perspectiva, um olhar mais livre e autêntico sobre a sexualidade, onde não apenas o físico, mas também os aspectos emocionais e inconscientes desempenham um papel fundamental. Ao trabalhar as questões do desejo, através da psicanálise ou outras terapias, a mulher pode viver sua sexualidade de forma renovada, superando os desafios e aproveitando os novos caminhos que se abrem com a maturidade.

Perguntas Frequentes sobre Libido e Menopausa

  1. A libido realmente diminui durante a menopausa?

    Embora a libido na menopausa possa diminuir devido às mudanças hormonais, não é uma regra para todas as mulheres. Algumas mulheres podem experimentar uma transformação no desejo, enquanto outras podem perceber um aumento na libido.
  2. É possível aumentar a libido feminina durante a menopausa?

    Sim, existem maneiras de aumentar a libido feminina, incluindo tratamentos médicos, terapia hormonal e mudanças no estilo de vida. Além disso, abordagens psicoterapêuticas, como a psicanálise, podem ajudar a lidar com bloqueios emocionais que afetam o desejo.



Referências

https://www.casadosaber.com.br/blog/sexualidade-e-teoria-da-libido-em-freud

https://www.tuasaude.com/sintomas-da-menopausa/




Mitos e Verdades sobre a Psicanálise: entre fatos e mal-entendidos
Ella Barruzzi
Mitos e Verdades sobre a Psicanálise: entre fatos e mal-entendidos
Conheça mitos e verdades sobre a psicanálise, suas abordagens e como ela transforma a compreensão do inconsciente e das relações humanas.

A psicanálise vai muito além da simples compreensão de sintomas psicológicos. Ela investiga o inconsciente, os desejos reprimidos e os conflitos internos que influenciam o comportamento humano. Justamente por ser um tema tão amplo, é cercada por diversas crenças – algumas verdadeiras, outras nem tanto. Por isso, é importante esclarecer os mitos e verdades sobre a psicanálise.

Muitas pessoas acreditam que a psicanálise se restringe a um modelo rígido criado por Freud e que suas ideias permanecem estáticas.

No entanto, ela evoluiu significativamente desde sua fundação, incorporando novas perspectivas e diálogos com outras áreas do conhecimento. Hoje, há diferentes escolas psicanalíticas, como a lacaniana, a winnicottiana e a kleiniana, que ampliam o alcance e a aplicabilidade da teoria freudiana.

Diferentemente de abordagens que focam exclusivamente no alívio sintomático, a psicanálise trabalha com o tempo subjetivo de cada indivíduo. O processo analítico não é imediato, pois envolve a construção de significados, a ressignificação de experiências e a elaboração de conteúdos inconscientes.

Todo psicanalista é psicólogo?

Falar sobre as diferenças entre psicólogo e psicanalista é fundamental para compreender a diversidade de abordagens dentro da saúde mental. Enquanto a Psicologia é uma ciência com base acadêmica formal, a Psicanálise é um campo de estudo e prática que segue uma trajetória formativa distinta, baseada na transmissão de conhecimento entre analistas.

Diferentemente da Psicologia, que exige uma graduação reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC) e, no caso do exercício clínico, registro no Conselho Regional de Psicologia (CRP), a Psicanálise não é regulamentada como uma profissão de ensino acadêmico tradicional. Os profissionais que desejam começar a formação psicanalítica precisam seguir três pilares fundamentais:

  1. Estudo teórico: o psicanalista precisa se aprofundar nos textos clássicos e contemporâneos da Psicanálise, incluindo as obras de Sigmund Freud, Jacques Lacan, Melanie Klein, Donald Winnicott, entre outros. Essa formação é conduzida por institutos de Psicanálise, sociedades psicanalíticas, grupos de estudo e cursos livres como o +Psicanálise da Casa do Saber.
  2. Análise pessoal: um dos requisitos mais importantes para um psicanalista é passar pelo próprio processo de análise. Essa experiência é considerada essencial para que o futuro analista compreenda suas próprias questões inconscientes, evitando que interfiram na escuta do paciente.
  3. Supervisão clínica: o aprendizado prático se dá por meio do acompanhamento de casos clínicos, sob a orientação de um psicanalista mais experiente. Esse processo de supervisão garante que o analista em formação refine sua escuta e sua capacidade interpretativa dentro da prática clínica.


Então, se você está se perguntando: “Para ser psicanalista é obrigatório ter curso superior?”, a resposta é não. Isso porque os psicanalistas podem atender sem formação em Psicologia.

Como a Psicanálise não exige uma graduação específica, um psicanalista pode ter diferentes formações acadêmicas – Filosofia, Comunicação, Medicina, Direito, Letras, entre outras. O que define um psicanalista não é um diploma universitário, mas sim seu percurso formativo dentro da tradição psicanalítica.

É importante destacar que sua atuação está focada na escuta do inconsciente e na condução do processo terapêutico a partir das associações livres e da interpretação das formações do inconsciente, como os sonhos e atos falhos.

O psicólogo clínico, por outro lado, tem uma formação acadêmica estruturada e regulamentada. Sua prática envolve o uso de métodos científicos para avaliar e intervir em processos cognitivos, emocionais e comportamentais.

Ou seja, enquanto a Psicanálise enfatiza o papel do inconsciente e das experiências infantis na constituição da subjetividade, a Psicologia Clínica pode adotar uma abordagem mais voltada para padrões de pensamento e comportamento no presente, dependendo da linha teórica escolhida.

Com essas distinções em mente, vamos abordar algumas questões recorrentes sobre a psicanálise para desmistificar, de uma vez por todas, as crenças que o senso comum muitas vezes trata como verdades absolutas – mesmo quando são difíceis de engolir.



Para a psicanálise, todo mundo tem raiva da mãe?

Desde os primeiros momentos da vida, a mãe – ou a figura que representa esse papel – desempenha funções cruciais no desenvolvimento do bebê e constrói essa relação mãe e filho na psicanálise.

Mas não se trata apenas de afeto ou cuidado físico, mas de uma construção subjetiva: é por meio desse vínculo inicial que o indivíduo começa a formar sua identidade, reconhecer limites e estruturar seus primeiros desejos.

Nos primeiros meses, o bebê vive um estado de fusão simbiótica com a mãe, em que não se percebe como separado dela. Gradualmente, à medida que o mundo externo se impõe e outras figuras entram em cena, ocorre a diferenciação entre o “eu” e o “outro”. Esse processo de separação é fundamental para o desenvolvimento emocional e pode ser marcado por momentos de frustração e ambivalência.

Dessa forma, Sigmund Freud formulou o conceito de complexo de Édipo, que descreve como a criança organiza seus primeiros sentimentos amorosos e conflitos em torno das figuras parentais. Nesse processo, é comum que sentimentos contraditórios surjam, incluindo amor, desejo de proximidade, ciúme e até raiva.

No entanto, é um erro interpretar isso de forma literal ou universal – ou como sendo uma verdadeira raiva da mãe na psicanálise. O complexo de Édipo não significa que todas as pessoas desenvolvem ressentimento ou hostilidade contra a mãe. Em vez disso, ele ilustra como as relações familiares moldam a forma como lidamos com nossos afetos e criamos modelos de relacionamento para o futuro.

Outro conceito fundamental vem do pediatra e psicanalista Donald Winnicott, que introduziu a ideia da mãe suficientemente boa. Para ele, não existe uma mãe perfeita, mas uma mãe que atende às necessidades do bebê de forma responsiva, sem sufocar nem abandonar.

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Terapia é coisa de doido?

A ideia de que “terapia é coisa de doido” é um dos mitos mais prejudiciais à saúde mental, pois cria um estigma que impede muitas pessoas de buscarem ajuda psicológica ou psicanalítica.

A verdade é que a terapia não é destinada apenas a quem enfrenta transtornos psíquicos graves, mas a qualquer pessoa que deseje compreender melhor seus sentimentos, comportamentos e desafios emocionais.

Historicamente, a sociedade sempre teve dificuldades em lidar com questões ligadas à mente e às emoções. Durante séculos, distúrbios psíquicos foram associados à loucura, possessões demoníacas ou fraqueza moral.

Além disso, a Psiquiatria, no passado, esteve fortemente ligada à internação compulsória em manicômios, o que contribuiu para reforçar a visão negativa sobre o tratamento da saúde mental.

Com o tempo, o avanço da Psicologia, da Psicanálise e da Neurociência mostrou que o sofrimento psíquico faz parte da experiência humana e que todos podem se beneficiar de um espaço de escuta e reflexão. No entanto, o preconceito ainda persiste em algumas culturas e contextos sociais.

A psicanálise e outras abordagens terapêuticas da psicologia não são exclusivas para quem tem transtornos mentais diagnosticados. Muitos procuram terapia para:

  • Compreender melhor seus sentimentos e padrões de comportamento.
  • Melhorar seus relacionamentos interpessoais e profissionais.
  • Aprender a lidar com momentos de crise, como luto, separação ou mudanças na vida.
  • Desenvolver um senso mais profundo de identidade e propósito.
  • Trabalhar questões como ansiedade, insegurança e autoestima.


Ou seja, buscar terapia não é um sinal de fraqueza, mas um ato de cuidado consigo mesmo. Assim como cuidamos do corpo indo ao médico ou praticando exercícios, cuidar da saúde mental deveria ser encarado como algo natural e necessário.



Psicanalista não fala nada?

A concepção de que o psicanalista permanece em silêncio durante toda a sessão, apenas ouvindo o paciente, é uma das ideias mais equivocadas sobre a psicanálise.

De fato, a escuta ativa é uma parte central do processo terapêutico, mas o papel do psicanalista vai muito além de simplesmente ser um ouvinte passivo – envolve uma participação ativa, com intervenções que estimulam o paciente a refletir sobre seu inconsciente, seus conflitos e seus padrões emocionais.

Freud, o pai da psicanálise, estabeleceu que o psicanalista deve ouvir atentamente as palavras do paciente, mas também prestar atenção nos lapsos, esquecimentos, hesitações e até nos silêncios. Esses aspectos podem revelar o que está reprimido ou fora da consciência, oferecendo pistas preciosas sobre o inconsciente.

Porém, essa escuta ativa não significa que o analista não fale. O psicanalista utiliza a escuta como uma ferramenta para compreender as dinâmicas internas do paciente, mas também intervém de maneira estratégica, questionando, sugerindo e interpretando.

O silêncio do analista, quando presente, não é passividade, mas um espaço que permite ao paciente elaborar seus próprios pensamentos e sentimentos.

Embora a psicanálise se concentre na escuta e no processo de livre associação, onde o paciente fala livremente sobre tudo o que vem à mente, o psicanalista intervém de maneira cuidadosa e ponderada. Essas intervenções podem ocorrer de várias formas:

INTERVENÇÃO NA PRÁTICA
Questões O psicanalista faz perguntas que incentivam o paciente a aprofundar sua reflexão. Essas perguntas muitas vezes buscam explorar inconscientemente os sentimentos e pensamentos que surgem nas associações livres. Elas podem ser simples, mas com grande potencial de provocar uma mudança de perspectiva no paciente.
Interpretações Uma das funções principais do psicanalista é ajudar o paciente a conectar as pontes entre os pensamentos conscientes e os inconscientes. Quando o analista percebe um padrão ou um conflito inconsciente, pode oferecer uma interpretação que ajude o paciente a compreender suas resistências, medos ou desejos ocultos. A interpretação visa trazer à luz o que está reprimido ou não plenamente consciente.
Reflexões O analista também pode refletir sobre o que foi dito pelo paciente, destacando padrões emocionais ou comportamentais que ele observa. Isso pode ajudar o paciente a perceber aspectos da sua psique que talvez não tivesse notado, promovendo insights valiosos sobre seu próprio comportamento.
Contratransferência Refere-se às reações emocionais do analista em relação ao paciente. O psicanalista deve estar ciente de como suas próprias emoções e percepções influenciam a terapia. Muitas vezes, essas reações podem oferecer informações valiosas sobre os sentimentos inconscientes do paciente, e o analista pode usá-las para ajudar a entender melhor a dinâmica da relação terapêutica.


Ao dar ao paciente tempo e espaço para pensar, o psicanalista ajuda a criar um ambiente de liberdade psíquica, no qual o paciente pode se abrir e trazer à tona aspectos mais profundos de sua psique. O silêncio do psicanalista pode, assim, ser visto como uma ferramenta terapêutica importante.



Tudo é sobre sexo?

A afirmação de que "tudo é sobre sexo" é um mal-entendido comum sobre a psicanálise, muitas vezes simplificando excessivamente as ideias complexas de Freud.

Embora a sexualidade seja de fato uma parte fundamental da teoria psicanalítica, ela não é a única área de investigação da psicanálise. O trabalho de Freud estabeleceu a importância da libido, ou energia psíquica relacionada ao desejo, mas sua teoria vai muito além da sexualidade, envolvendo uma análise abrangente das motivações inconscientes, das relações interpessoais e das experiências formativas ao longo da vida.

Sigmund Freud introduziu o conceito de libido como uma energia psíquica que, em sua forma mais simples, está relacionada ao desejo sexual. Em sua teoria inicial, ele sugeriu que a libido se manifesta primariamente na sexualidade e, portanto, muitos dos impulsos humanos e comportamentos são de alguma forma influenciados por desejos sexuais inconscientes.

A ideia central da teoria da libido é que nossas motivações e conflitos não são apenas conscientes, mas também profundamente enraizados em aspectos ocultos da nossa psique.

No entanto, Freud também enfatizou que a libido não se limita ao sexo genital, mas se manifesta em uma variedade de formas ao longo do desenvolvimento humano. Ele sugeriu que a energia libidinal se desloca por diferentes estágios do desenvolvimento sexual, começando com a infância e a fase oral, passando para a fase anal, fálica e, por fim, à fase genital, com diferentes fixações e formas de expressão da libido ao longo desses estágios.

Embora a sexualidade tenha sido um foco central da teoria de Freud, a psicanálise moderna abrange uma gama muito mais ampla de experiências humanas. Freud reconheceu que as pulsões de vida e de morte, a dinâmica do inconsciente e as relações de apego são igualmente cruciais para o entendimento da mente humana.

Para ele, os conflitos inconscientes entre desejos instintivos e a moralidade imposta pela sociedade eram fundamentais para compreender as motivações e os sintomas psíquicos.

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Psicanálise não funciona?

Muitas vezes, as pessoas buscam soluções imediatas para seus problemas emocionais ou psíquicos, mas a psicanálise, ao contrário de métodos terapêuticos mais diretos, é um processo gradual e profundo. Ela não promete alívio instantâneo, mas sim a transformação lenta e consistente de padrões emocionais e comportamentais que podem estar enraizados em experiências passadas e dinâmicas inconscientes.

A psicanálise é um processo de longo prazo, que pode durar anos, dependendo das necessidades do analisando. Ao contrário de terapias mais breves, que se concentram em resolver problemas específicos em um tempo limitado, a psicanálise busca uma compreensão profunda e duradoura da psique humana.

Esse tempo prolongado de análise permite que a pessoa consiga entrar em contato com partes da sua psique que estão geralmente escondidas, e também com sentimentos e memórias reprimidas.

Embora a psicanálise não prometa uma solução rápida ou "cura" para os sintomas, ela tem o potencial de provocar transformações profundas e duradouras.

Ao longo da análise, o paciente pode descobrir as raízes inconscientes de seus conflitos e sintomas, o que muitas vezes permite uma mudança significativa no modo como ele vê a si mesmo e ao mundo ao seu redor.

Outra razão pela qual algumas pessoas podem acreditar que a psicanálise "não funciona" está ligada ao conceito de resistência, um fenômeno central no processo psicanalítico.

A resistência se refere às defesas psíquicas que as pessoas desenvolvem para evitar enfrentar conteúdos emocionais dolorosos ou traumáticos. Isso pode ocorrer de várias formas, como a falta de vontade de falar sobre certos assuntos, a sensação de que o processo não está trazendo resultados ou a tendência a sabotar o próprio progresso.

Outro aspecto fundamental é a relação entre o paciente e o psicanalista. A chamada "transferência" é um processo no qual o paciente projeta sentimentos, desejos e expectativas em relação ao psicanalista, muitas vezes revivendo relacionamentos significativos do passado.

Em um mundo em que a rapidez e a eficiência são muitas vezes vistas como os maiores valores, a psicanálise se destaca por seu compromisso com a exploração mais rica e complexa da mente humana.



O tratamento demora muito?

O tempo de tratamento na psicanálise é frequentemente visto como uma das suas características mais distintas, e também uma das que geram mais questionamentos.

De fato, quando comparada a outras abordagens terapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que tende a ser mais curta e focada em soluções práticas e imediatas, a psicanálise pode parecer demorada.

No entanto, a duração do tratamento psicanalítico está diretamente relacionada à sua profundidade e ao objetivo de compreensão do inconsciente, tornando-o um processo transformador e, muitas vezes, de longa duração.

Ao contrário de abordagens que visam tratar os sintomas de forma mais rápida e objetiva, a psicanálise se propõe a uma exploração profunda das causas subjacentes dos problemas emocionais e psíquicos do paciente, como dito anteriormente. Ela busca compreender padrões inconscientes, traumas de infância, dinâmicas familiares e os mecanismos psíquicos que moldam o comportamento e os conflitos emocionais.

Esse tipo de análise exige tempo, porque muitas vezes os conteúdos inconscientes estão protegidos por mecanismos de defesa, como a repressão, que impedem que a pessoa tenha acesso imediato às suas questões mais profundas.

O psicanalista, portanto, ajuda o paciente a "desbloquear" esses conteúdos e a enfrentar suas resistências ao longo do processo. Esse trabalho gradual de descobrimento e integração exige tempo para que a pessoa compreenda, aceite e se transforme.

Embora a psicanálise seja geralmente mais longa, a duração do tratamento pode variar amplamente entre os pacientes, dependendo de vários fatores, como a gravidade dos sintomas, os objetivos terapêuticos e a intensidade do trabalho que é necessário para acessar o inconsciente.

Algumas pessoas podem sentir que as questões que estão explorando são resolvidas em menos tempo, enquanto outras podem passar anos em análise, especialmente se estiverem lidando com traumas complexos ou questões emocionais profundamente enraizadas – em muitos casos, a psicanálise não tem um "prazo final" pré-estabelecido.




Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

Psicopatologias e Saúde Mental: Um Olhar Crítico da Psicanálise
Ella Barruzzi
Psicopatologias e Saúde Mental: Um Olhar Crítico da Psicanálise
Entenda como a psicanálise interpreta as psicopatologias, sua relação com a saúde mental e os impactos da sociedade moderna e da medicalização.

A discussão sobre psicopatologias tem ganhado cada vez mais espaço na sociedade contemporânea, refletindo uma preocupação crescente com a saúde mental e os impactos do mundo moderno no bem-estar das pessoas.

No entanto, a forma como essas questões são abordadas pode variar consideravelmente, dependendo do referencial teórico utilizado.

A psicanálise, por exemplo, compreende a psicopatologia de maneira distinta, considerando a subjetividade do indivíduo e sua relação com o inconsciente. Para a abordagem, os sintomas não são apenas sinais de uma doença, mas manifestações de conflitos internos que podem ser trabalhados através da fala e da escuta.

Por isso, neste texto, iremos nos aprofundar em cada um dos aspectos da psicopatologia, explorando significados, além da sua relação com a sociedade contemporânea e as críticas à medicalização do sofrimento.

Saúde mental e sua relação com as psicopatologias

A psicopatologia é o campo de estudo que investiga os transtornos mentais, buscando compreender suas causas, manifestações e formas de tratamento. A palavra vem do grego "psykhē" – alma – e "pathos" – sofrimento –, indicando a análise do sofrimento psíquico.

Desde o século XIX, o conceito de psicopatologia tem sido estudado por diversas correntes, incluindo a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise. A abordagem psicanalítica se diferencia das perspectivas biomédicas ao priorizar o inconsciente, os processos simbólicos e a subjetividade do sofrimento psíquico.

Enquanto a psiquiatria compreende as doenças mentais principalmente como disfunções biológicas ou neuroquímicas passíveis de tratamento medicamentoso e intervenções comportamentais, a psicanálise as interpreta como manifestações de conflitos internos e experiências subjetivas.

A abordagem psiquiátrica, amplamente adotada na medicina moderna, fundamenta-se em classificações diagnósticas como o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) e a Classificação Internacional de Doenças (CID), que estruturam os critérios para identificação e tratamento dos transtornos mentais.

A psicopatologia psicanalítica, estudada por Freud e aprofundada por diversos autores ao longo do tempo, adota uma perspectiva distinta. Para a psicanálise, os sintomas não são apenas disfunções a serem corrigidas, mas expressões do inconsciente que devem ser compreendidas no contexto da história singular de cada indivíduo.

Dessa forma, um mesmo diagnóstico pode assumir significados completamente diferentes para cada pessoa, dependendo de sua subjetividade, vivências e traumas.

A principal diferença entre essas abordagens está no tratamento: enquanto a psiquiatria frequentemente recorre à prescrição de medicamentos para aliviar os sintomas, a psicanálise propõe um espaço de escuta e elaboração, permitindo que o sujeito compreenda e ressignifique seus conflitos internos.



A relação entre psicopatologias, a sociedade contemporânea e a psicanálise

A psicanálise compreende as psicopatologias como formas de expressão do sofrimento humano ligadas à estrutura psíquica de cada sujeito. Sigmund Freud foi um dos primeiros a categorizar os transtornos mentais de acordo com três estruturas clássicas, que classificou como neurose, psicose e perversão.

  • Neurose: conflitos inconscientes gerando sintomas como ansiedade e fobias.
  • Psicose: perda do contato com a realidade, como ocorre na esquizofrenia.
  • Perversão: modo de organização psíquica em que o desejo se realiza por meio da transgressão das normas e da negação da castração simbólica.

Atualmente, a psicopatologia psicanalítica amplia esses conceitos, incorporando elementos socioculturais e novas formas de sofrimento psíquico, como transtornos relacionados à hiperconectividade e ao mal-estar na sociedade contemporânea.
A sociedade moderna tem desempenhado um papel central no aumento dos diagnósticos de transtornos mentais como depressão, ansiedade e burnout. O ritmo acelerado de vida, o excesso de informação e as exigências de produtividade são fatores que impactam diretamente a saúde psíquica dos indivíduos, criando um cenário no qual o sofrimento emocional se torna cada vez mais presente.
O neoliberalismo, enquanto modelo econômico e ideológico, impôs uma lógica de performance e competitividade, na qual o indivíduo é constantemente incentivado a se reinventar, otimizar seu tempo e alcançar resultados cada vez mais expressivos.

CARACTERÍSTICAS DO NEOLIBERALISMO IMPACTO NA SAÚDE MENTAL RESPOSTA PSICANALÍTICA
Competitividade excessiva Ansiedade e depressão Reflexão sobre o impasse social e individual.
Busca por resultados rápidos Burnout e exaustão Compreensão dos conflitos internos e da pressão externa.
Falta de tempo para o lazer Dificuldades em descansar e certos vícios Aprofundamento do sofrimento psíquico e questionamento do ritmo de vida.




Essa pressão constante tem transformado a saúde mental em uma questão mercadológica – em vez de serem compreendidas como respostas legítimas ao contexto social, angústia, medo e insatisfação passaram a ser tratadas como falhas individuais a serem corrigidas.

A patologização do sofrimento se torna, assim, uma resposta cultural. Muitos buscam soluções rápidas, como o consumo de psicofármacos ou métodos de autoajuda, na tentativa de manter um funcionamento produtivo, ignorando as raízes subjetivas e estruturais do problema.

O sujeito neoliberal se vê como o único responsável pelo próprio sucesso ou fracasso, o que acarreta um sentimento de culpa diante da exaustão e da incapacidade de atender às expectativas impostas.

Podemos dizer que a cultura digital amplificou esse processo ao criar ambientes de exposição e comparação constante. Redes sociais funcionam como vitrines de um ideal de vida bem-sucedida, onde felicidade, beleza e produtividade se tornam métricas de validação social. Essa dinâmica gera uma pressão para que os indivíduos não apenas performem bem no trabalho, mas também exibam uma vida pessoal impecável.

Isso tem levado a um aumento significativo nos índices de depressão e ansiedade, especialmente entre os mais jovens. O fenômeno da "economia da atenção" reforça essa lógica ao transformar o próprio tempo livre em um ativo explorável – o lazer se torna um espaço para autopromoção, e o descanso, uma pausa estratégica para voltar ao jogo da performance.

Diante desse cenário, a psicanálise propõe uma abordagem distinta. Em vez de tratar sintomas como transtornos isolados a serem eliminados, enxerga-os como manifestações subjetivas que carregam significados profundos sobre o indivíduo e seu contexto – a depressão, por exemplo, pode ser entendida não apenas como um distúrbio químico, mas como um sintoma que expressa conflitos internos e impasses da vida moderna.

Ao contrário de soluções padronizadas, a psicanálise incentiva uma reflexão sobre a origem dos sofrimentos psíquicos, possibilitando que o sujeito compreenda seus próprios desejos e angústias de maneira singular. Em um mundo que valoriza a velocidade e a superficialidade, essa abordagem propõe um olhar mais profundo para a existência humana e suas complexidades.

Dessa forma, ao considerar as psicopatologias como respostas subjetivas a uma sociedade marcada por excessos e exigências, é possível não apenas tratá-las, mas questionar as próprias estruturas que as produzem. Afinal, o sofrimento psíquico não é apenas uma falha a ser corrigida, mas um sinal de que algo na forma como vivemos precisa ser repensado.

A medicalização do sofrimento

Uma das principais críticas feitas pela psicanálise à psiquiatria contemporânea é a tendência de transformar todas as formas de sofrimento psíquico em transtornos mentais que exigem tratamento medicamentoso. Esse fenômeno pode ser chamado de medicalização do sofrimento.

A psiquiatria moderna, baseada em evidências biológicas, tem avançado no tratamento de doenças mentais, mas também tem sido alvo de críticas por sua tendência a simplificar o sofrimento humano. Em muitos casos, sintomas como tristeza, angústia e insatisfação são reclassificados como distúrbios que precisam ser corrigidos com medicamentos.

Isso cria uma série de problemas, como a dependência de psicofármacos, a falta de uma compreensão mais profunda dos sintomas e a desconsideração da singularidade de cada indivíduo.

A psicanálise propõe uma abordagem diferente: em vez de buscar eliminar os sintomas rapidamente, ela convida o paciente a compreendê-los. O sintoma, segundo Freud, tem uma função no psiquismo, e tratá-lo exige uma escuta cuidadosa que vá além de um simples rótulo diagnóstico.



Psicopatologias e o corpo: o fenômeno psicossomático

O conceito de psicossomática refere-se à relação entre mente e corpo, destacando como conflitos psíquicos podem se manifestar em sintomas físicos.

Muitas doenças sem explicação médica clara – como dores crônicas, distúrbios gastrointestinais e problemas dermatológicos – podem ter origem em questões emocionais. A psicanálise sugere que, quando um sofrimento não pode ser elaborado psiquicamente, ele pode se expressar no corpo, sendo o organismo uma espécie de "canal" por onde a mente inconsciente comunica suas questões não resolvidas.

Esse fenômeno reforça a importância de abordagens terapêuticas que considerem o sujeito em sua totalidade, e não apenas como um conjunto de sintomas isolados. A psicanálise, por exemplo, oferece uma compreensão mais ampla do sujeito ao integrar o corpo e a mente, considerando que o sofrimento emocional pode se transformar em manifestações físicas quando não encontrado um espaço para sua expressão simbólica.

Nesse contexto, a psicossomática não se limita a um entendimento de que o corpo apenas reflete a mente, mas que o corpo também exerce um papel ativo no processo de comunicação do inconsciente.

Além disso, propõe que, ao trabalhar o sofrimento psíquico por meio da fala e da interpretação, é possível promover um processo de integração entre corpo e mente, permitindo que os conflitos internos sejam elaborados de maneira mais saudável, reduzindo, assim, os sintomas físicos que surgem como consequências de tais conflitos.

Nesse sentido, o tratamento psicanalítico pode oferecer alívio tanto no nível emocional quanto físico, ao restabelecer o equilíbrio entre as dimensões psíquica e corporal.



A compreensão da psicossomática, portanto, vai além da simples ideia de que o corpo manifesta o que está acontecendo na mente. Ela envolve uma complexa interação entre o sofrimento psíquico não elaborado e as respostas do corpo, que, muitas vezes, trazem à tona as dores não processadas do sujeito.

A cura, então, não se dá apenas por meio de medicamentos ou intervenções físicas, mas também por meio de uma escuta profunda e sensível, capaz de compreender as causas emocionais subjacentes aos sintomas.

Em um mundo onde as pressões externas parecem ditar o ritmo da vida, é crucial lembrar que o sofrimento psíquico não deve ser visto como um erro a ser corrigido rapidamente, mas como uma manifestação legítima da complexidade humana.

A psicanálise nos convida a olhar para as psicopatologias com um olhar mais profundo, entendendo-as não como falhas, mas como expressões de conflitos internos que merecem ser ouvidos, compreendidos e trabalhados.

O caminho para o cuidado da saúde mental vai além do tratamento sintomático. Ao integrar corpo e mente, e ao dar espaço para que as dores internas se manifestem de forma simbólica e construtiva, podemos promover um tratamento mais completo e efetivo.

O verdadeiro cuidado com a saúde mental exige não apenas remédios para os sintomas, mas também uma profunda escuta e compreensão do sujeito como um todo.

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Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Introdução à psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: O eu e o id. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: A psicopatologia da vida cotidiana. Rio de Janeiro: Imago, 1996.





O que é recalque e repressão na psicanálise de Sigmund Freud
Ella Barruzzi
O que é recalque e repressão na psicanálise de Sigmund Freud
Saiba o que é recalque e repressão na psicanálise de Freud, explorando como os processos psíquicos moldam nossos pensamentos e comportamentos.

O conceito de inconsciente, presente na teoria de Sigmund Freud, é amplamente conhecido e fundamental para a psicanálise e o entendimento da mente humana.

Pode até parecer verdade – e muitos leigos pensam assim –, mas o inconsciente não é somente aquilo que esquecemos – ou que gostaríamos de esquecer –, mas sim um espaço psíquico ativo, que influencia nossas emoções, pensamentos e comportamentos de maneira indireta.

É no inconsciente que ocorrem mecanismos como o recalque, impedindo que certos conteúdos traumáticos ou inaceitáveis se tornem conscientes.

Para Freud, dentro desse contexto, existiam certas manifestações do inconsciente, tais como:

  • Sonhos – que ele chamava de "a via régia para o inconsciente".
  • Atos falhos – com certeza você já cometeu algum, como trocar o nome do parceiro, por exemplo (polêmico, mas pode revelar um pensamento reprimido).
  • Sintomas neuróticos – fobias, ansiedades e compulsões.


Compreender o inconsciente freudiano é essencial para entendermos como nossa mente lida com desejos, traumas e conflitos internos, para isso é preciso observar para além de um depósito de memórias esquecidas.

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O conceito de repressão através da história da psicanálise

Falar sobre o recalque pode parecer bastante simples quando pensamos no conceito disseminado pela internet, onde a imagem de um iceberg está sempre em evidência. Tudo bem! É importante desmistificar algumas teorias e trazê-las para o universo contemporâneo, ampliando o alcance de muitos conteúdos acadêmicos.

Porém, também é necessário um certo aprofundamento a fim de termos embasamento suficiente para entendermos como existe um emaranhado de outros conceitos e teorias por trás de cada um dos detalhes apresentados por nomes como Sigmund Freud.

Quando pesquisamos para a elaboração deste texto, esbarramos em um grande conjunto complexo de explicações colocadas por Freud em diferentes épocas de seu trabalho, onde iremos destacar alguns de seus escritos.

No volume XX, que traz trabalhos de 1925 a 1926 – Um estudo autobiográfico: inibições, sintomas e ansiedade; a questão da análise leiga e outros trabalhos – o apêndice A nos oferece algumas referências em que podemos encontrar os conceitos de recalque, bem como de repressão.

O primeiro uso do termo “repressão” apareceu na “Comunicação preliminar”, de 1974 – edição brasileira. Já em “Estudos sobre histeria”, Freud cita o conceito diversas vezes, estando misturado à “defesa”, que começou a desaparecer após o período de Breuer.

Foi então que “repressão” se tornou predominante em suas obras, tendo sido quase que exclusivamente utilizada no famoso caso “Dora” e nos “Três ensaios”. Uma mudança que foi efetivamente chamada à atenção em um artigo sobre sexualidade das neuroses, em 1905.

Encarava a própria divisão psíquica como o efeito de um processo de repulsão que naquela ocasião denominei de “defesa”, e depois, de “repressão”. Freud, em “A história do movimento psicanalítico" (1914d), Edição Standard Brasileira, Vol. XIV, p. 20, IMAGO Editora, 1974.

E foi após 1905 que a palavra “repressão” teve sua dominância, como por exemplo na análise do texto “O homem dos ratos” – de 1909. Dito isso, podemos trazer uma pincelada sobre o sentido de “repressão” para Freud.

Para aprofundar ainda mais, trouxemos uma sugestão de curso que irá oferecer uma abordagem simples e acessível para explorar as origens e os significados de diversos conceitos, com base em algumas das obras mais relevantes de Freud. As aulas servem como uma introdução à psicanálise para iniciantes e uma excelente fonte de novas perspectivas para aqueles que já conhecem o tema.



O conceito de repressão de Sigmund Freud

Quando sentimos um impulso instintivo, como um desejo ou necessidade, ele pode encontrar obstáculos que tentam bloqueá-lo. Se fosse um estímulo externo – algo vindo de fora, como um som alto ou um cheiro forte – a solução natural seria fugir. Mas, quando o impulso vem de dentro de nós, não há para onde escapar.

Nesse caso, o que acontece é esse processo inconsciente chamado repressão, uma operação psíquica que procura repelir – ou manter no inconsciente – pensamentos, lembranças, traumas ou imagens que não conseguimos lidar e que podem nos ameaçar a experienciar o desprazer.

Esse conceito foi desenvolvido na psicanálise e ajuda a explicar como lidamos com desejos ou pensamentos que nos causam certo desconforto. Mas a pergunta que fica é: “por que um impulso instintivo precisaria ser reprimido?

Isso acontece quando a ideia de satisfazê-lo causa mais desprazer do que prazer. Normalmente, nossos instintos nos levam a buscar sensações agradáveis.

No entanto, algumas circunstâncias podem fazer com que algo que deveria ser prazeroso se torne incômodo ou doloroso. Por exemplo, na mente, quando um desejo reprimido se torna desconfortável, nosso cérebro pode tentar afastá-lo para evitar sofrimento.

Vale ressaltar que a repressão, ao contrário do que muitas pessoas pensam, também não acontece uma única vez, de forma definitiva.

Para que a repressão ocorra, primeiro precisa haver uma divisão entre o consciente e o inconsciente. No início, ela impede que um pensamento ou desejo desconfortável chegue ao consciente. Depois, continua atuando sobre ideias e lembranças associadas a esse conteúdo reprimido.

Porém, o que foi reprimido não desaparece. Ele pode se reorganizar no inconsciente, influenciando nossas emoções, comportamentos e até mesmo reaparecendo de formas indiretas, como em sonhos, atos falhos ou sintomas psicológicos, como falamos no início do texto.

Além disso, a repressão exige um esforço contínuo para se manter ativa. Se essa "força de repressão" enfraquece, o conteúdo reprimido pode tentar emergir novamente, exigindo novos esforços para ser contido. Ou seja, a repressão não é um evento único e fixo, mas um processo dinâmico e constante ao longo da vida psíquica.

E é nesse ponto que entramos no conceito de recalque, um mecanismo psíquico mais profundo e estruturado dentro da teoria freudiana. Se a repressão atua como uma barreira inicial, impedindo que certos conteúdos entrem na consciência, o recalque é o processo responsável por mantê-los no inconsciente de forma mais duradoura.

Agora, se você já está estudando conteúdos e conceitos como esses – ou já está atuando na clínica –, é imprescindível ter uma base de conhecimento que auxilie no desenvolvimento da escuta, além de ampliar toda a sua base teórica.

Pensando nisso, a Casa do Saber oferece o Programa +Psicanálise, um programa especialmente desenvolvido para profissionais e estudantes de psicanálise que buscam aprofundar seus conhecimentos teóricos e práticos , com acesso contínuo a um acervo de mais de 45 cursos online.

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O que significa recalque?

O recalque é um tipo específico de repressão, podemos dizer que mais profundo e estruturado. Freud usava esse conceito para explicar como certos pensamentos, memórias ou desejos incômodos são "empurrados" para o inconsciente de forma duradoura.

Isso significa que a pessoa não tem acesso direto a esse conteúdo, mas ele continua influenciando sua vida, podendo reaparecer de maneira disfarçada, como em sonhos, atos falhos ou até sintomas neuróticos, como fobias e ansiedades – o que anda lado a lado com a repressão, convenhamos.

Antes de seguirmos, é importante ter atenção ao seguinte adendo: supressão e repressão não são a mesma coisa para Freud:

  • Repressão (Verdrängung): como já citado, é um mecanismo de defesa inconsciente, ou seja, ocorre sem que a pessoa perceba. O ego "expulsa" desejos, memórias ou pensamentos indesejáveis da consciência e os mantém no inconsciente para evitar sofrimento.
  • Supressão: diferente da repressão, a supressão é um ato consciente. A pessoa decide deliberadamente afastar um pensamento incômodo ou evitar lembrar de algo desagradável – um processo que pode ser revertido quando a pessoa quiser acessar aquela memória ou pensamento novamente.


Ou seja, enquanto a repressão acontece de forma involuntária e inconsciente, a supressão é um esforço consciente de afastar um pensamento incômodo.

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Voltando… diferente da supressão, onde conscientemente evitamos pensar em algo, o recalque acontece de forma involuntária, sem que a pessoa perceba. Ele funciona como um mecanismo de defesa da mente para evitar o sofrimento, impedindo que certos conteúdos perturbadores cheguem à consciência.

No entanto, Freud destacava que o material reprimido não desaparece – ele pode se acumular e se manifestar de outras formas, como angústia, dificuldades emocionais ou padrões de comportamento disfuncionais.

O trabalho da psicanálise, segundo Freud, é justamente trazer esses conteúdos recalcados de volta à consciência, ajudando a pessoa a compreendê-los e, assim, aliviar seus efeitos. Afinal, podemos esquecer por causa do recalque, mas o que é reprimido sempre encontra uma maneira de retornar.

Lendo assim, parece bem confuso de entender – e, acredite em mim, também de explicar –, mas vamos a um resumo prático, com exemplos, a fim de clarificar mais as ideias:

CONCEITO EXPLICAÇÃO EXEMPLO
Repressão

Mecanismo de defesa inconsciente que afasta pensamentos, desejos ou lembranças que causam sofrimento. O ego, para evitar o desprazer, bloqueia esses conteúdos e os mantém no inconsciente. Pode ter duas fases:

  • Repressão primária: quando o desejo ou pensamento nunca chega a se tornar consciente.
  • Repressão propriamente dita: quando um conteúdo que já foi consciente é "empurrado" para o inconsciente.

Uma pessoa que sofreu um trauma na infância pode não se lembrar conscientemente do evento, mas ainda sentir ansiedade ou medo sem saber a origem.

Recalque

Tipo específico de repressão, mais profundo e estruturado, que está na base da formação do inconsciente. Quando algo é recalcado, ele não só é reprimido, mas também se fixa no inconsciente de forma duradoura, gerando sintomas indiretos. O recalque está na base da teoria freudiana sobre os conflitos psíquicos e a formação dos sintomas neuróticos.

Um desejo proibido (como uma raiva intensa contra os pais) pode ser recalcado e reaparecer de forma distorcida, como dificuldade em se relacionar com figuras de autoridade.



Todo recalque é um tipo de repressão, mas nem toda repressão é um recalque.



A barreira do recalque e seu funcionamento

Você sabia que nem tudo o que a gente sente ou pensa chega à consciência? Pois é! Alguns conteúdos podem não conseguir atingir esse lugar, como se passassem por um grande filtro, porém, eles não desaparecem e interferem indiretamente na vida.

Os relacionamentos são um excelente exemplo, visto que crianças que foram rejeitadas pelos pais podem ter dificuldades na vida adulta – seja para confiar nas pessoas ou para escolher seus parceiros (que acabam reforçando essa sensação de abandono).

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Mas essa barreira da mente não é perfeita, visto que alguns desses conteúdos encontram brechas para emergir – através de pequenos deslizes ou pelos conteúdos oníricos dos sonhos (esse é um conceito de Jung que cabe muito bem aqui).

O recalque acontece porque nossa mente busca evitar o sofrimento. Mas o problema é que ignorar um problema não faz com que ele desapareça – apenas o esconde. Com o tempo, conteúdos recalcados podem surgir como ansiedade, fobias ou comportamentos autossabotadores.

A psicanálise acredita que, para reduzir os efeitos negativos do recalque, é necessário trazer esses conteúdos reprimidos à consciência. Dessa forma, terapia, autoconhecimento e até a análise dos sonhos são formas de acessar esses conteúdos e integrá-los à vida de forma saudável.

Em outras palavras, aquilo que você recalca não some – apenas encontra outras formas de se manifestar.

Agora que você já conhece um pouco mais sobre como os conteúdos recalcados podem impactar sua vida – e a vida dos pacientes – de maneira indireta , que tal se aprofundar os aprendizados com os cursos da plataforma da Casa do Saber+?

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Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: A interpretação dos sonhos (segunda parte) e sobre os sonhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Um estudo autobiográfico. Inibições, sintomas e ansiedade. A questão da análise leiga e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996.





A Sexualidade na Psicanálise: Desejos Inconscientes
Gabriel Cravo Prado
A Sexualidade na Psicanálise: Desejos Inconscientes
Descubra como a psicanálise interpreta a sexualidade, seus desejos inconscientes e sua influência nas relações e no processo terapêutico.

A sexualidade na psicanálise é um tema essencial para entender os desejos e conflitos inconscientes. A psicanálise aborda a sexualidade, considerando sua influência nas dinâmicas de transferência e nas relações afetivas. Neste texto, exploramos como a psicanálise interpreta a sexualidade e sua importância no processo terapêutico.

A sexualidade sempre foi um dos temas centrais da psicanálise, abordado por Sigmund Freud e seus sucessores de maneiras complexas e reveladoras. Para Freud, a sexualidade vai além dos aspectos físicos e biológicos, envolvendo processos emocionais, psicológicos e, principalmente, inconscientes que moldam nossos desejos, comportamentos e identidade. Ao longo de mais de um século de estudos, as teorias psicanalíticas sobre a sexualidade passaram por transformações significativas, sendo acompanhadas de perto pelos debates sobre a transferência, a resistência e o desejo no contexto terapêutico.

Sexualidade e transferência: conexões inconscientes

Um dos conceitos fundamentais da psicanálise que melhor explica como a sexualidade se manifesta no tratamento terapêutico é a transferência. Freud introduziu esse termo no início do século XX para descrever o fenômeno em que os desejos e sentimentos inconscientes do paciente, muitas vezes relacionados a figuras parentais ou a experiências da infância, se deslocam para o terapeuta. Em outras palavras, a transferência é um processo pelo qual o paciente projeta, inconscientemente, emoções e comportamentos vivenciados com outros objetos ou pessoas para o analista, criando um campo fértil para o trabalho psicanalítico.

Ao longo do tempo, Freud refinou sua compreensão da transferência, distinguindo a transferência positiva, associada a sentimentos de amor e ternura, da transferência negativa, que se manifesta através de sentimentos hostis e agressivos. Além disso, Freud observou que esses fenômenos não são exclusivos da psicanálise, mas permeiam todas as relações humanas. Assim, o conceito de transferência oferece uma chave para entender como a sexualidade inconsciente do paciente se expressa nas interações terapêuticas, e como essas emoções podem ser trabalhadas durante o tratamento.




A sexualidade e o complexo de édipo: repetição e desejo

Outro aspecto crucial da teoria freudiana é a relação entre sexualidade, desejo e o complexo de Édipo. Para Freud, a sexualidade infantil não é algo marginal ou secundário, mas uma força formadora e estruturante da psique humana. Através do complexo de Édipo, o desejo sexual da criança é canalizado em direções específicas, com o filho ou filha desenvolvendo sentimentos ambivalentes em relação aos pais: o desejo pelo genitor do sexo oposto e a rivalidade com o genitor do mesmo sexo.

Freud argumentou que esse processo é uma fonte primária de neurose, sendo projetado de maneira repetitiva ao longo da vida do indivíduo. O conceito de transferência se conecta diretamente ao complexo de Édipo, uma vez que o paciente, ao revisitar seus sentimentos inconscientes sobre os pais, reatualiza essas questões emocionais durante a terapia. Assim, a sexualidade, ao ser trazida para o campo terapêutico, pode ser vista como uma repetição de padrões emocionais originados na infância.

Teorias pós-freudianas: a sexualidade e o inconsciente coletivo

Após Freud, diversas abordagens psicanalíticas continuaram a explorar o vínculo entre sexualidade e psique humana, com figuras como Melanie Klein, Donald Winnicott, Heinz Kohut e Jacques Lacan oferecendo novas perspectivas. No campo das teorias pós-freudianas, a sexualidade continua a ser um tema central, mas a forma de abordá-la e interpretá-la foi expandida.

Melanie Klein, por exemplo, desenvolveu a ideia de que a transferência não é apenas uma reprodução de relações parentais, mas também uma reencenação das fantasias inconscientes do paciente. Ela associou as experiências transferenciais a processos profundos de amor, ódio, agressão e culpa, presentes desde as primeiras fases do desenvolvimento humano. Para Klein, esses sentimentos se conectam diretamente ao desejo inconsciente, transformando a sexualidade em um terreno fértil para a expressão de conflitos psíquicos profundos.

Donald Winnicott, influenciado pela ideia do vínculo materno, sugeriu que a transferência poderia ser vista como uma repetição deste vínculo primordial. Em sua abordagem, o analista não se coloca apenas como uma figura neutra, mas como um facilitador que pode ajudar o paciente a reconectar-se com a verdade emocional que foi distorcida ou reprimida ao longo da vida. Essa perspectiva mais relacional da transferência, voltada para a criação de um ambiente seguro e receptivo, tem grande relevância no tratamento de pacientes mais fragilizados emocionalmente.

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A sexualidade no pensamento lacaniano: desejo e verdade inconsciente

Jacques Lacan, por sua vez, trouxe uma contribuição fundamental para a compreensão da sexualidade na psicanálise, ao relacioná-la diretamente ao conceito de desejo. Em sua leitura da transferência, Lacan propôs que a relação entre o paciente e o analista não é apenas uma repetição das relações familiares, mas uma busca pela verdade do desejo inconsciente. Lacan viu a transferência como um processo em que o paciente busca atribuir ao analista o papel de “sujeito suposto saber”, ou seja, alguém que detém o conhecimento sobre o que o paciente verdadeiramente deseja.

Para Lacan, a transferência e o desejo estão entrelaçados de maneira intrínseca. Ele se inspirou em Platão, usando a metáfora de Alcibíades e Sócrates para ilustrar como o desejo inconsciente do paciente pode ser distorcido, projetando objetos de desejo de maneira que não correspondem à realidade. Essa visão foi revolucionária, pois trouxe a ideia de que a sexualidade e o desejo inconsciente não são apenas expressões de traumas ou frustrações, mas também sinais de uma busca profunda por entendimento e liberdade psíquica.

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Transferência e sexualidade: desafios éticos e terapêuticos

A sexualidade na psicanálise não se limita apenas a uma questão teórica. O manejo da transferência, especialmente quando envolvem sentimentos intensos de amor ou hostilidade, levanta importantes questões éticas no tratamento. O analista, ao lidar com a sexualidade transferencial, precisa manter uma postura de neutralidade e abstinência, evitando a satisfação de qualquer desejo transferido que possa prejudicar o processo terapêutico.

O desafio ético é grande, especialmente em casos em que o paciente desenvolve sentimentos românticos ou eróticos pelo analista. Freud e seus sucessores alertaram para a necessidade de um manejo cuidadoso e atento dessas manifestações, pois elas são, em grande parte, resistência ao próprio processo de cura. A sexualidade transferida, portanto, se torna não apenas um campo de exploração, mas também um terreno de resistência que precisa ser compreendido e trabalhado dentro das normas da psicanálise.

Conclusão: a sexualidade como via de acesso ao inconsciente

A sexualidade na psicanálise revela-se como uma expressão fundamental dos desejos e conflitos inconscientes que moldam a psique humana. Seja através da transferência, do complexo de Édipo ou das abordagens pós-freudianas, a sexualidade é vista como um fenômeno dinâmico e repetitivo, que se manifesta nas relações terapêuticas de forma intensa e reveladora. O manejo ético e técnico dessas questões demanda do analista uma sensibilidade profunda, sendo fundamental para o avanço do processo analítico.

Assim, ao compreender a sexualidade na psicanálise, não se trata apenas de explorar questões fisiológicas ou de desejo, mas de mergulhar nas profundezas do inconsciente, onde se revelam as dinâmicas que moldam nossa identidade, nossos relacionamentos e, acima de tudo, o nosso desejo mais íntimo.





Sexualidade e Teoria da Libido em Freud
Gabriel Cravo Prado
Sexualidade e Teoria da Libido em Freud
Explore a visão de Sigmund Freud sobre sexualidade, libido e desenvolvimento, e como influenciam a formação da personalidade humana.

O estudo da libido revela como as pulsões impactam o sujeito e influenciam a sexualidade. Este texto explora essas transformações teóricas e como elas ajudam a compreender as complexas relações entre desejo, identidade e subjetividade.




A libido na teoria psicanalítica: origens, evolução e implicações clínicas

O conceito de libido, cuja etimologia remonta ao latim, em que significa "desejo", carrega consigo uma história complexa, que se entrelaça com diversas teorias sobre o sexual e psíquico ao longo do século XIX e XX. Inicialmente, o termo foi utilizado por Moriz Benedikt e, posteriormente, por cientistas como Albert Moll e Richard von Krafft-Ebing, para designar uma energia instintiva ligada à sexualidade, ou libido sexualis. No entanto, foi Sigmund Freud quem transformou e ampliou o significado de libido, conferindo-lhe um papel central na psicanálise, ao utilizá-lo para descrever as manifestações das pulsões sexuais na vida psíquica e, por extensão, para explicar a sexualidade humana, incluindo suas manifestações infantis e não-genitais.

Freud e a construção do conceito de libido

Sigmund Freud apresentou uma mudança paradigmática ao incorporar a libido em sua teoria da sexualidade, a qual ele delineou de maneira mais clara em 1905, com a publicação de Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. Nessa obra, Freud introduziu a libido como uma manifestação da pulsão sexual, que, em sua visão, não se limitava ao aspecto genético ou somático, mas estava profundamente imersa nas dinâmicas psíquicas do sujeito. Esse movimento foi uma revolução na compreensão da sexualidade, uma vez que Freud desafiou as noções vigentes da época, que viam a sexualidade como uma mera questão biológica ou moral.

A libido, conforme Freud, era uma energia psíquica vinculada à pulsão sexual, mas com um caráter multifacetado e polimorfo. A ideia de uma sexualidade infantil que se manifestaria de diferentes formas ao longo da vida foi uma das maiores inovações de Freud. De acordo com sua teoria, a libido não se restringe à genitalidade, mas se desloca, ao longo da vida, para diferentes objetos e metas, sendo capaz de se sublimar em atividades não sexuais, como a arte e a intelectualidade. Assim, Freud expandiu o conceito de libido para além do sexo, entendendo-o como a força motivadora para o sujeito fazer investimentos no mundo externo.



O narcisismo e a libido do eu

Uma das grandes inovações de Freud foi a introdução da ideia de que a libido não se limita à busca de objetos externos, mas também pode ser direcionada ao próprio eu, conceito que ficou conhecido como libido do eu ou libido narcísica. A partir de 1914, Freud incorporou o narcisismo à sua teoria, entendendo-o como uma forma de investimento libidinal voltada para a própria pessoa. O narcisismo, então, torna-se uma das formas mais complexas e interessantes de manifestação da libido, uma vez que envolve tanto o amor-próprio quanto a relação do sujeito com sua imagem e identidade. Essa mudança teórica foi uma resposta direta às tensões e conflitos gerados pela interpretação sexual da psique humana, ampliando a compreensão da libido para além de suas expressões genitais ou objetais.

O conceito de libido e as críticas

A teoria da libido, especialmente após as reformas que Freud introduziu nas primeiras décadas do século XX, foi alvo de críticas e resistência. A crítica de Carl Gustav Jung, que se distanciou de Freud e desenvolveu uma abordagem alternativa, foi um dos momentos mais significativos dessa resistência. Jung propôs que a libido deveria ser vista não como uma energia sexual, mas como uma energia psíquica mais geral, capaz de se manifestar em diversas formas de comportamento, incluindo processos espirituais e intelectuais. Para Jung, a libido não estava restrita ao impulso sexual, mas era uma força motriz subjacente a toda a atividade psíquica.

A reação ao pansexualismo de Freud também ganhou força entre alguns de seus discípulos, como Alfred Adler, e na comunidade médica e científica da época, que viam a sexualidade como um componente mais restrito e menos central da vida psíquica. No entanto, Freud se manteve firme em sua perspectiva, defendendo que a libido, como expressão da pulsão sexual, era um fator primordial na constituição do psiquismo humano.

A libido na psicanálise lacaniana

Na psicanálise lacaniana, a libido é vista como uma energia que está profundamente ligada ao conceito de "objeto a". Lacan descreve o "objeto a" como o que o sujeito perde ao nascer, algo essencial à sua constituição psíquica. Esse "objeto perdido" pode se manifestar de diferentes formas, como excrementos, o olhar ou a voz. A busca por esse objeto reflete a tentativa do sujeito de restaurar sua perda original, criando a base para o desejo e a pulsão. A teoria de Lacan oferece uma nova perspectiva sobre a libido, ampliando a visão de Freud e conectando-a a questões de falta e sexualidade.

  • Libido e Pulsão: A Relação entre Energia Sexual e Subjetividade
    Freud identificou a libido como uma energia sexual, inicialmente associada à polaridade entre virilidade e feminilidade. Lacan, no entanto, amplia esse conceito, situando a libido não apenas como um impulso sexual, mas como uma força que interage com a pulsão. A pulsão, em Lacan, está ligada ao destino do sujeito e à sua estrutura psíquica, marcada pela falta e pelo desejo. A libido, portanto, não é só uma energia sexual, mas também um ponto de ancoragem para o sujeito, em sua busca por completar o que foi perdido.
  • Tipos Libidinais: A Diversidade Psíquica segundo Lacan
    A teoria lacaniana propõe uma tipologia dos tipos libidinais, que considera a forma como a libido se organiza nas diferentes instâncias psíquicas. De acordo com Lacan, esses tipos podem ser classificados em três grandes categorias: erótico, narcisista e obsessivo. Cada tipo é caracterizado pela predominância da libido em relação ao isso (instância pulsional), ao eu (instância do eu) ou ao supereu (instância moral). Essa tipologia permite entender melhor a dinâmica da libido e sua relação com os processos psíquicos, fornecendo uma estrutura para compreender as diferentes formas de desejo e sexualidade no sujeito.
  • A Sublimação e o Destino Pulsional: O Impacto na Psicologia
    A sublimação é um conceito essencial na psicanálise, que Lacan também integra em sua teoria sobre a libido. A libido pode ser desviada ou transformada em outras formas de expressão, não diretamente ligadas à sexualidade. Esse processo, conhecido como sublimação, está relacionado ao modo como o sujeito lida com a falta e o desejo. Além disso, Lacan explora como a pulsão molda o destino pulsional do indivíduo, influenciando suas escolhas e ações ao longo da vida. A teoria lacaniana da libido, assim, conecta a sexualidade com a estrutura psíquica e com o desenvolvimento do sujeito, criando uma visão mais abrangente da psicanálise.





Conclusão:

A teoria da libido, tanto em Freud quanto em Lacan, oferece uma compreensão profunda das dinâmicas psíquicas que envolvem o desejo, a pulsão e a falta. Para Freud, a libido é uma energia sexual fundamental que atravessa todas as fases do desenvolvimento humano, sendo moldada por questões de virilidade, feminilidade e a castração. Lacan, por sua vez, expande esse conceito ao situar a libido no contexto do "objeto a" – o objeto perdido que dá origem ao desejo e à pulsão. Ambos os pensadores exploram como a libido não se limita à sexualidade explícita, mas também se reflete em questões psíquicas mais profundas, como a sublimação e as relações do sujeito com o Outro.

Para aprender mais sobre a libido, é essencial estudar as vicissitudes da pulsão, a construção dos tipos libidinais e como esses conceitos são fundamentais para compreender a psicanálise e a psicologia humana em sua totalidade.

Para aqueles que desejam se aprofundar ainda mais nos conceitos de libido, pulsão e psicanálise, a Casa do Saber oferece cursos especializados que exploram essas e outras questões fundamentais da teoria psicanalítica. Com um corpo docente qualificado e uma abordagem teórica profunda, os cursos da Casa do Saber proporcionam um ambiente de aprendizado dinâmico e enriquecedor, ideal para quem busca uma compreensão mais aprofundada do pensamento de Freud, Lacan e outros grandes teóricos. Ao se inscrever, você terá a oportunidade de explorar os conceitos psicanalíticos de maneira prática e teórica.

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Referências Bibliográficas

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.




Complexo de Édipo: o que é?
Gabriel Cravo Prado
Complexo de Édipo: o que é?
Saiba o que é o Complexo de Édipo, qual a sua relação com a sexualidade e o que pensava Freud sobre a função paterna e a função materna.

Neste texto veremos um pouco sobre a teorização de Freud sobre o complexo de édipo. Uma das principais ideias da teoria psicanalítica, sendo revolucionária na maneira de pensar a constituição do sujeito e a sexualidade.



A história de édipo: um resumo

Freud se inspirou na tragédia grega de Sófocles Édipo Rei para teorizar sobre o conjunto das relações que a criança estabelece com as figuras parentais e que constituem uma rede em grande parte inconsciente de representações e de afetos entre os dois polos de suas formas positiva e negativa. (Kaufmann, p.135)

Édipo era filho de Laio e Jocasta, rei e rainha de Tebas e o casal recebeu uma profecia por meio de um oráculo de que Édipo iria matar o próprio pai e se casaria com sua mãe. E assustados com o revelado, o casal pediu para um servo matar a criança, contudo ele apenas abandonou o menino em uma árvore porque não teve coragem de matá-lo e com isso Édipo foi encontrado por um camponês que o criou.

Ao passar dos anos, Édipo reencontra com Laio, seu pai, e o mata, mas sem saber que este era seu próprio pai, e como recompensa por salvar Tebas de uma esfinge, se casa com Jocasta, também sem saber que a rainha era sua mãe. Então, a profecia se cumpriu.

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O complexo de édipo para a psicanálise

Pode-se dizer que o complexo de édipo está ligado ao período da constituição do eu, ou seja, atua como um organizador do sujeito. É uma fase do desenvolvimento infantil que a criança passa a ter uma atração pela figura que exerce a função materna, enquanto nutre uma rivalidade com a parte que faz a função paterna.

Freud não tem um texto específico sobre o complexo de édipo, mas no livro inaugural da psicanálise, A Interpretação dos Sonhos, ele já cita o mito do personagem, mas é apenas em 1910 que ele de fato teoriza sobre a questão.

A criança ao nascer necessita ser acolhida por outro ser humano e quem faz essa função materna fica sendo tudo para aquela criança, ou seja, seu primeiro objeto de amor. Com isso, a criança quer a mãe somente para ela e a função paterna entra para fazer essa separação e colocar um certo limite nessa relação mãe-bebê, para estabelecer limites, regras e normas que irão regular futuramente o desejo daquele bebê. Então, pai é visto como a figura que representa a lei e a autoridade, essencial para a formação do supereu, a parte do aparelho psíquico que internaliza os valores sociais e morais.

Na saída do Édipo, irá se constituir a forma que o sujeito irá se vincular com o mundo, com a possibilidade de ser neurótico, psicótico ou perverso, sendo estas as três grandes estruturas clínicas que fundamentam a teoria psicanalítica.

O complexo de édipo em meninos e meninas: características

O Complexo de Édipo apresenta diferenças significativas entre meninos e meninas. Nos meninos, o Édipo e o complexo de castração ocorrem simultaneamente. Já nas meninas, inicialmente se vivencia o pré-Édipo, seguido pelo complexo de castração, e, somente então, elas entram no Complexo de Édipo. Assim, pode-se afirmar que meninos e meninas experienciam o complexo de castração de maneiras distintas: os meninos abandonam o Édipo por medo da castração, enquanto as meninas ingressam no Édipo temendo ser castradas.

O momento crucial da constituição do sujeito situa-se no campo da cena edípica. Dessa forma, o Édipo não é somente o “complexo nuclear” das neuroses, mas também o ponto decisivo da sexualidade humana, ou melhor, do processo de produção da sexuação. Será a partir do Édipo que o sujeito irá estruturar e organizar, sobretudo em torno da diferenciação entre os sexos e de seu posicionamento frente à angústia de castração.

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As fases do desenvolvimento psicossexual

Ao investigar o complexo de Édipo, é fundamental considerar as diferentes fases do desenvolvimento psicossexual da criança, conforme delineado por Freud. Cada etapa — oral, anal e fálica — desempenha um papel crucial na formação da subjetividade

Fase Oral O desenvolvimento infantil inicia-se com uma fase centrada na região oral, que abrange desde o nascimento até cerca de um ano e meio. Nesta etapa, a amamentação se destaca como uma experiência fundamental, proporcionando prazer à criança através da sucção e da satisfação derivada da nutrição. Então, a boca é a principal fonte de prazer. A satisfação vem de atividades como mamar, chupar e explorar objetos com a boca.
Fase anal O prazer se concentra no controle dos esfíncteres. A criança experimenta a satisfação ao controlar a liberação e retenção das fezes. Nessa fase a criança passa a manifestar um interesse exacerbado pela região anal, frequentemente envolvendo-se em atividades relacionadas a suas fezes.
Fase fálica A atenção se volta para os órgãos genitais, e a criança começa a explorar a diferença entre os sexos. É nesta fase que surge o complexo de Édipo. Nessa fase, a criança também começa a explorar as questões de masculinidade e feminilidade.



É importante também observar o período de latência e a fase genital:

Período de latência: aqui acontece um intervalo caracterizado pela repressão de desejos inconscientes. Durante essa etapa, a criança já superou o complexo da fase fálica e, embora os impulsos e desejos sexuais possam persistir, eles se manifestam de maneira assexuada por meio de atividades como amizades, estudos e práticas esportivas, até o início da puberdade.

Período genital: seria o estágio final do desenvolvimento psicossocial, onde o sujeito direciona seus investimentos sexuais - libido - para os órgãos genitais. Esse investimento que vai para além dos seus primeiros cuidadores o leva a se interessar por relações amorosas.

Assim, o complexo de édipo diz respeito de como o sujeito irá se relacionar com o mundo exterior. Então o filho se afeicçoa com o genitor do sexo oposto e rivaliza com o genitor do mesmo sexo. Então pode-se dizer que esse triângulo edípico é o que constitui o humano, tendo em vista que os afetos surgem nesse momento.




Função materna e função paterna

A análise das funções materna e paterna proposta por Lacan revela que não é necessário ter uma mãe ou um pai biológicos para que as dinâmicas do complexo de Édipo se manifestem. Essas funções são simbólicas e podem ser exercidas por outras figuras ou instituições que representem o cuidado, a proteção e a introdução da lei. Dessa forma, a estrutura psíquica e as relações de desejo e rivalidade no contexto do complexo de Édipo são acessíveis a qualquer indivíduo, independentemente de sua configuração familiar, enfatizando a primazia dos significantes sobre as figuras biológicas na constituição da subjetividade.

A função materna transcende a mera figura biológica da mãe, assumindo um papel simbólico que engloba nutrição, cuidado e a introdução da criança no universo dos significantes. Essa função se relaciona à criação de um espaço de amor e proteção, essencial para o desenvolvimento das primeiras relações objetais, pois oferece um ambiente propício à manifestação do desejo. Sua importância se revela na formação do eu e na capacidade de estabelecer vínculos sociais, com a mãe exercendo a função de primeira portadora do desejo, fundamentando, assim, as bases para as relações futuras da criança.

A função paterna não está necessariamente ligada à figura biológica do pai, representando a introdução da lei, da ordem e da castração na vida da criança. Nesse contexto, o pai emerge como o agente responsável por conduzir a criança ao mundo dos limites e normas que são essenciais para a internalização da lei social e para a separação do desejo materno, favorecendo assim a autonomia do indivíduo.

Sua importância se manifesta na formação do supereu, sendo crucial para a capacidade da criança de lidar com a frustração e a ambivalência, permitindo-lhe inserir-se adequadamente na estrutura social e desenvolver uma identidade que não se fundamenta exclusivamente no desejo materno.

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Como aprender mais sobre o complexo de édipo?

O conceito do complexo de Édipo, desenvolvido por Freud, é uma das ideias centrais da psicanálise e merece um estudo aprofundado. Para compreender sua importância, é fundamental analisar as obras de Freud, explorando suas principais obras, como "A Interpretação dos Sonhos" e "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade". Nesses textos, Freud elucida as fases do desenvolvimento psicosexual e a importância da resolução do complexo de Édipo para a formação do eu.

Além disso, a Casa do Saber + e o Programa + Psicanálise oferecem cursos que representam uma oportunidade valiosa para aprofundar a compreensão não apenas do complexo de Édipo, mas também de outros conceitos fundamentais da psicanálise. Esses cursos são elaborados para proporcionar uma análise detalhada e uma discussão enriquecedora, permitindo aos participantes explorar as nuances e as implicações teóricas da psicanálise de maneira mais abrangente.





Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (1905). São Paulo: Cia das Letras, 2011.

______. A Dissolução do Complexo de Édipo (1924). São Paulo: Cia das Letras, 2016.

LACAN, Jacques. O Seminário 5 - As Formações do Inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.