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Como surgiu o Cristianismo: das origens à expansão

Como surgiu o Cristianismo: das origens à expansão

O cristianismo foi fundado no século I, na Palestina, e é uma das maiores religiões do mundo, com elementos culturais e filosóficos que moldaram a história da humanidade. Atualmente, ela é a religião com o maior número de seguidores do mundo, mais de 2 bilhões, segundo dados do Pew Research Center.

A mensagem cristã é centrada na vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, que segue sendo respeitada e praticada há mais de dois mil anos.



O que é o cristianismo?

O cristianismo é uma religião baseada na crença em um único Deus que se manifesta em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. A figura central desta religião é Jesus de Nazaré, conhecido também como Jesus Cristo, considerado pelos cristãos o Filho de Deus e o Messias prometido.

Jesus é o profeta que pregou valores como o amor, a misericórdia e a justiça. Além disso, também foi quem inspirou a consolidação de uma fé que alcançou proporções mundiais, tendo influência e relevância em setores como filosofia, política e cultura.

Fundado no século I, momento histórico marcado pela dominação romana sobre a Palestina, o cristianismo nasceu inicialmente como um movimento dentro de outra religião, o judaísmo.

Entretanto, como explica Saulo Goulart, professor, historiador e doutor em História pela Unicamp no curso As Origens do Cristianismo, o cristianismo foi se estruturando como religião independente após a crucificação de Cristo.

O cristianismo surgiu dentro do judaísmo e só se tornou uma religião independente após a crucificação de Jesus Cristo.

Origem e história do cristianismo

Entender a origem do cristianismo é compreender um momento histórico decisivo para o Ocidente. O nascimento dessa religião está ligado a um contexto de intensas transformações políticas e espirituais, em que os ensinamentos de Jesus se espalharam entre comunidades que, aos poucos, estruturaram uma nova forma de fé e convivência.

Como surgiu o cristianismo

O surgimento do cristianismo deu-se em um contexto histórico marcado por tensões políticas, sociais e religiosas. A Palestina do século I estava sob domínio romano e os judeus viviam divididos entre correntes religiosas como fariseus, saduceus, essênios e zelotes, que aguardavam um enviado de Deus que libertaria Israel da opressão.

A partir disso, Jesus de Nazaré iniciou sua missão. É importante compreender que ele não propunha um projeto político de libertação, mas pregava valores como justiça, misericórdia e amor ao próximo, que atraíam a população na época.

Entretanto, o poder de suas palavras e extensão de sua influência também despertava resistência entre líderes religiosos e autoridades romanas.

A missão de Jesus

Jesus pregou seus valores na Galileia e na Judeia, realizando milagres e ensinando por meio de parábolas.

Sua atitude de se aproximar da população mais marginalizada fez com que conseguisse alcançar mais pessoas a ponto de incomodar a classe poderosa do império romano.

A pluralidade de ideias contribuiu para que a mensagem cristã encontrasse terreno fértil. No entanto, sua prática - considerada clandestina na época - despertou desconfiança e gerou perseguição.

Os motivos que geraram essa perseguição de Jesus foram:

  • negação dos cultos romanos;
  • o caráter oculto da religião (não no sentido místico, mas de se praticar escondido);
  • reuniões noturnas;
  • rituais em catacumbas.


Com isso, Jesus foi condenado à morte por crucificação pelo governador romano Pôncio Pilatos, acusado de subversão.

No entanto, seus seguidores anunciaram que ele havia ressuscitado. Esse acontecimento se tornou a base da fé cristã.

As primeiras comunidades

Para entender como surgiu o cristianismo, também é necessário saber como as primeiras comunidades cristãs foram se formando.

Após a morte de Jesus Cristo, seus discípulos organizaram comunidades com influência helenística, como Antioquia, Corinto e Roma, que passaram a ver em Jesus Cristo como figura das profecias messiânicas, como explica o professor Saulo Goulart.

A estrutura da igreja ainda não era institucional, mas seus fiéis praticavam a fé e construíam redes de comunicação entre si, o que ajudou o cristianismo ganhar autonomia como religião.

As cartas de Paulo de Tarso, missionário convertido, foram fundamentais para expansão da fé e ensinamentos de Cristo.

Paulo interpretou a mensagem de Jesus em diálogo com o pensamento grego, dando início à formulação dos pontos centrais da teologia cristã.

Da perseguição à oficialização do cristinismo no Império Romano

Nos primeiros séculos, os cristãos foram perseguidos pelo Império Romano, acusados de não venerar os deuses oficiais e o imperador, o que levou muitos à execução e se tornarem mártires.

Entretanto, dois fatos foram marcantes para a virada histórica do cristianismo:

  • a conversão do imperador Constantino, onde concedeu-se a liberdade religiosa com o Édito de Milão (313).
  • a oficialização da fé cristã pelo imperador Teodósio em 380.


Após esse momento de expansão e estruturação das bases da fé cristã, o Novo Testamento foi criado como uma maneira de divulgar os ensinamentos, a vida, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.

O novo testamento é um conjunto de livros com registros do testemunho das primeiras gerações de discípulos e apóstolos de Jesus Cristo, contando com relatos de pessoas e comunidades diversas.

O novo testamento é dividido em:

  • Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João.
  • Livro histórico: os atos dos apóstolos.
  • Epístolas Paulinas: as cartas redigidas por São Paulo.
  • As gerais: as demais cartas.
  • O livro profético: o Apocalipse.


O Édito de Milão, de 313, foi o decreto que garantiu liberdade religiosa aos cristãos no Império Romano.

Da Idade Média à Modernidade

Durante a Idade Média, a Igreja tornou-se a instituição mais poderosa do Ocidente. Além de ter grande influência religiosa e política, também impactou profundamente na educação com a criação de universidades, preservação de manuscritos e inspirar obras de arte reconhecidas mundialmente.

A Última Ceia, pintura de Leonardo da Vinci representando Jesus Cristo e os apóstolos reunidos antes da crucificação
A Última Ceia, de Leonardo da Vinci (1495–1498), retrata o momento em que Jesus anuncia a traição entre os apóstolos.

Ademais, também se envolveu em conflitos históricos, como as Cruzadas.

Entre os séculos XI e XIII, a Igreja Católica promoveu expedições militares com o intuito de retomar Jerusalém e a Terra Santa do domínio muçulmano.

Sendo assim, a Igreja Católica uniu fé, política e poder, exercendo influência direta no curso da história.

No século XVI, a Reforma Protestante trouxe algumas mudanças no ocidente. Reformadores, como Martinho Lutero, criticavam os abusos da Igreja Católica e propuseram a retomada da Bíblia e da fé como elemento central da religião.

Contudo, respondendo ao movimento, aconteceu a Contrarreforma, que buscou reafirmar doutrinas e fortalecer a autoridade e figura do Papa.

Com isso, por volta do século XV, com as grandes navegações, o cristianismo se expandiu alcançando novos continentes, chegando até às Américas, África e Ásia.

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Diferença entre Jesus da fé e Jesus histórico

Ao falar de Jesus, é importante entender que existem duas perspectivas: a do Jesus da Fé e a do Jesus Histórico. Porém, as duas visões afirmam a existência de Jesus.

Cristo da Fé

Primeiro vamos entender quem é Jesus Cristo. “Cristo da fé” é a interpretação teológica desta figura tão conhecida. Para a religião cristã, “Cristo” significa Messias e Filho de Deus.

De acordo com essa fé, Jesus não é apenas um profeta e líder religioso, mas é Deus feito homem, aquele que assumiu a condição humana e sacrificou-se, por meio de sua morte e ressurreição, para absolvição dos pecados e a salvação eterna dos homens.

Ou seja, para os cristãos, Jesus não é apenas um mestre, mas o Filho de Deus encarnado, o Messias prometido e o Salvador da humanidade.

Além de que sua ressurreição é o fundamento da fé cristã. Portanto, a interpretação teológica que ultrapassa os dados históricos.

O Jesus histórico

Segundo o pesquisador Bart Ehrman, é consenso que Jesus foi um judeu do norte da Palestina, nascido em Nazaré que pregava entre os judeus e foi executado pelos romanos.

Historiadores como Bart Ehrman destacam que Jesus foi um mestre judeu carismático, cujas ações podem ser estudadas a partir de fontes históricas.

Reconstrução facial moderna de Jesus histórico com traços semitas, baseada em estudos arqueológicos e antropológicos
Reconstrução facial aproximada do Jesus histórico, baseada em estudos forenses e arqueológicos. Fonte: BBC.

Jesus histórico viveu aproximadamente 33 anos e foi condenado à crucificação sob Pôncio Pilatos, governador romano da Judeia.

Esses elementos, confirmados por historiadores e fontes documentais, consolidam uma base histórica sobre a existência de Jesus.

Enquanto o Jesus histórico pode ser analisado por meio de dados e registros históricos, o Cristo da fé pertence ao campo da religião e da teologia.

Desta forma, entender essa diferença é fundamental para a compreensão do cristianismo, pois une razão e crença à história e espiritualidade.

A importância do cristianismo na formação do Ocidente

O cristianismo não só trouxe uma das práticas religiosas mais ascendentes do mundo, como também exerceu forte influência em áreas como a filosofia, a cultura e a política na civilização do ocidente.

O cristianismo na filosofia

A filosofia cristã surgiu a partir do diálogo entre a fé bíblica e o pensamento grego. Muitos filósofos e teólogos buscaram compreender racionalmente a fé.

Santo Agostinho (354–430):

Santo Agostinho é um dos principais filósofos da corrente filosófica patrística, fundou uma teologia que integrava o pensamento cristão e filosófico, unindo o platonismo com o cristianismo.

Para ele, a verdade está em Deus e a proximidade d’Ele é o único caminho para o bem. Ele se tornou uma referência na filosofia cristã até os dias de hoje.

São Tomás de Aquino (1225–1274):

São Tomás de Aquino foi um nome importante para a filosofia medieval, principalmente na tradição escolástica.

Ele se propôs a sistematizar o pensamento cristão integrando a teologia à razão aristotélica.

Desta forma, defendia que fé e razão não se contradizem, pelo contrário, completam-se.

Ou seja, ele entendia que a razão pode ajudar a alcançar certas verdades, mas a revelação divina é o caminho para o conhecimento.

Contudo, não foi só na construção da teologia que o cristianismo teve grande influência e relevância. Alguns autores refletiam de forma crítica sobre a fé e a religião.

Kierkegaard (1813–1855):

Kierkegaard foi um filósofo existencialista que refletiu sobre a fé como salto diante do absurdo. Para ele, o cristianismo não é apenas doutrina, mas relação pessoal com Deus.

Nietzsche (1844–1900):

Embora crítico do cristianismo, sua filosofia também trazia importantes reflexões sobre o tema.

Nietzsche foi um dos principais nomes do Niilismo, e quando trouxe a máxima “Deus está morto”, ele buscou apontar o declínio da fé tradicional da época no Ocidente.

Santo Agostinho uniu a fé cristã e o pensamento de Platão, enquanto Tomás de Aquino aproximou o cristianismo da filosofia de Aristóteles.

Impactos do cristianismo na sociedade

O cristianismo foi fundamental na formação cultural e social do Ocidente. O seu pensamento foi responsável por introduzir na sociedade a noção de igualdade, como exemplificado em “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8).

Posteriormente, essas ideias transformaram-se em valores básicos da organização da civilização ocidental, sendo aplicados, por exemplo, em fundamentos éticos e jurídicos que embasaram os direitos humanos modernos.

Além disso, a Igreja Católica foi fundamental na preservação do conhecimento e na organização das primeiras universidades.

Assim, o cristianismo é mais do que uma tradição religiosa, ele se tornou um elemento histórico com grande impacto social, político e intelectual.

Cristianismo e política

Politicamente, o cristianismo legitimou e sustentou reinados e impérios, mas também serviu como inspiração para movimentos de libertação.

Na Idade Média, a Igreja exerceu poder direto sobre os monarcas. Já na modernidade, os princípios cristãos, como a justiça e a dignidade humana, influenciaram debates sobre democracia, abolição da escravidão e direitos civis.

Como foi possível perceber, o cristianismo foi inspirador para a elaboração de novas ideias tanto como base de um pensamento quanto como alvo de críticas na história da filosofia.

O cristianismo nasceu em meio à Palestina do século I, como movimento de fé em torno de Jesus de Nazaré.

Com o tempo, transformou-se na maior religião do mundo, moldando não apenas a espiritualidade de milhões, mas também a filosofia, a cultura, a política e a moral do Ocidente.

Ilustração medieval de Carlos Magno sendo coroado pelo Papa Adriano I, simbolizando a aliança entre Igreja e Império

Representação de Carlos Magno e o Papa Adriano I, símbolo da união entre poder político e religioso durante o Império Carolíngio. Fonte: domínio público.

Carlos Magno (742–814), ou Charlemagne, foi um dos maiores responsáveis por transformar o cristianismo em uma força institucional e cultural na Europa. Como imperador do chamado Império Carolíngio, ele fortaleceu a aliança entre o poder político e a Igreja, garantindo à fé cristã um papel central na administração e na educação.

Sob sua liderança, foram criadas escolas ligadas aos mosteiros e catedrais, o que deu origem ao chamado Renascimento Carolíngio - um movimento de preservação e difusão do conhecimento clássico.

Ao incentivar o estudo, a formação do clero e a padronização dos rituais religiosos, Carlos Magno ajudou a consolidar a Igreja como uma das instituições mais influentes da Idade Média e a moldar as bases culturais da civilização ocidental.


Cursos para aprofundar seus conhecimentos sobre o cristianismo

Para quem quer ir além e deseja se aprofundar nas origens, transformações e reflexões em torno do cristianismo, a Casa do Saber oferece uma seleção de cursos ministrados por professores renomados. Confira alguns deles:


  • As Origens do Cristianismo, com Saulo Goulart:
    um panorama sobre o primeiro milênio de formação e expansão do cristianismo, revelando suas raízes históricas e o impacto de suas ideias na cultura ocidental.

  • História do Cristianismo: Mística e Espiritualidade, com Marcus Reis Pinheiro:
    explora os conceitos de ascese e mística nos primeiros séculos da fé cristã e como essas práticas continuam a inspirar a espiritualidade até hoje.

  • Santo Agostinho: Uma Introdução, com Andrei Venturini Martins:
    apresenta o percurso filosófico e espiritual de um dos maiores pensadores cristãos, explorando como sua obra moldou a teologia e a ética no Ocidente.

  • Por Que Ainda Estudar Religião?, com Andrei Venturini Martins:
    uma reflexão sobre o papel da religião no mundo contemporâneo e sua relevância diante dos dilemas entre fé, razão e sentido de vida.

  • Terra Santa: A Trajetória Histórica de Jerusalém, com Plinio Gomes:
    uma jornada histórica pela Terra Santa, explorando como as origens do judaísmo, cristianismo e islamismo se entrelaçam nas disputas e narrativas da região.

  • Entre o Céu e a Terra, com Julia Myara, Ed René Kivitz, iyá Paula de Odé, Rodrigo Jalloul, Samy Pinto, Monja Heishin e Carlos Alberto Contieri:
    uma minissérie que aproxima diferentes tradições religiosas, revelando pontos de convergência entre fé, filosofia e humanidade.

Todos esses cursos estão disponíveis por uma única assinatura na Casa do Saber, plataforma de streaming dedicada ao conhecimento e à reflexão.



Perguntas frequentes sobre o cristianismo

Como surgiu o cristianismo?

O cristianismo surgiu no século I, na Palestina, dentro do judaísmo, e se tornou uma religião independente após a crucificação de Jesus Cristo.

Quem fundou o cristianismo?

O cristianismo tem origem nos ensinamentos de Jesus de Nazaré, mas não foi fundado por ele como uma religião. Após sua morte, seus discípulos formaram as primeiras comunidades cristãs, responsáveis por difundir e estruturar suas ideias.

Qual era a verdadeira religião de Jesus?

Jesus nasceu sob as tradições judaicas, portanto, seguiu o judaísmo e cumpriu suas leis. Mas trouxe uma nova proposta sobre as ideias do judaísmo, o que deu início ao que hoje chamamos de cristianismo.

Qual é a diferença entre o Jesus histórico e o Cristo da fé?

O Jesus histórico é estudado a partir de registros e evidências; o Cristo da fé é a figura teológica, considerada o Filho de Deus pelos cristãos.

Qual foi a importância do cristianismo na história do Ocidente?

O cristianismo moldou a cultura, a filosofia e as instituições do Ocidente, influenciando valores éticos, jurídicos e políticos.

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Referências

Bíblia Sagrada.

Curso Casa do Saber: As Origens do Cristianismo, com Saulo Goulart.

Ehrman, B. D. (2014). Jesus Existiu ou Não?. Rio de Janeiro: Agir.

Enciclopédia Católica. Disponível em: https://arquivo.ecclesia.pt/catolicopedia/

Artigo escrito por
Paula Delgado
Jornalista pela UFJF, mestra e doutoranda em Comunicação pela mesma instituição, integra o grupo de pesquisa Núcleo de Jornalismo Audiovisual (NJA).
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