
O existencialismo está em alta, mas você já pensou por que ele ainda é tão atual?
Em algum momento da sua vida você deixou de fazer algo porque alguém, algo ou o tempo o impediu? Por exemplo, “não faço exercício porque não tenho tempo”?
Os existencialistas lhe diriam que não se pode responsabilizar terceiros pelas decisões que tomamos. A nossa existência se baseia nas decisões que tomamos e precisamos assumir a responsabilidade disso.Então você, talvez, não faça atividade física, porque sua saúde não é prioridade para você.
Possivelmente este tenha sido um começo de texto impactante, mas para entender o existencialismo, você precisa continuar esta leitura e olhar para o fato de que a sua existência precede a sua essência.
O artigo abordará os seguintes tópicos:
O que é o existencialismo?
O existencialismo é uma corrente filosófica e um movimento intelectual que tem como principal foco de reflexão a concretude da existência humana.
Esse pensamento começou a se difundir no início do século XX, na França, no contexto da Segunda Guerra Mundial.
Este foi um período marcado por fatos trágicos da história, como os campos de concentração nazistas e o uso de bombas atômicas. Foi nesse contexto que surgiram reflexões sobre a vida, a morte e a existência do indivíduo.
A filosofia existencialista tem como característica fundamental a análise do ser humano em sua completude, não apenas como um ser racional.
Um dos principais tópicos do existencialismo é a liberdade individual, porém isso não é necessariamente algo agradável ou leve. Pelo contrário, com a liberdade vem junto a responsabilidade pelas nossas atitudes.
Um dos principais autores do existencialismo é Jean-Paul Sartre, que guiava seus pensamentos sobre liberdade a partir da reflexão da experiência humana concreta, discussão de questões morais. Além de dizer que a filosofia deve ter impacto prático na vida, ou seja, deve nos ensinar algo.
Diferentemente dos outros pensamentos filosóficos, o existencialismo não se restringiu ao meio acadêmico. Ele prosperou na literatura, na filosofia, no teatro e no cinema, com nomes populares como Friedrich Nietzsche, Simone de Beauvoir, Leon Tolstói e Fiódor Dostoiévski.
Temas que o existencialismo abordava:
- liberdade
- angústia
- absurdo
- finitude
- autenticidade
- sentido da vida
Portanto, a filosofia existencialista propõe uma reflexão sobre a nossa existência, nossas escolhas e o desafio de viver com as consequências da liberdade e da autenticidade em uma realidade sem respostas.
5 FRASES MAIS MARCANTES DO EXISTENCIALISMO
- "O homem está condenado a ser livre." — Jean-Paul Sartre
- “A única maneira de lidar com um mundo sem liberdade é tornar-se tão absolutamente livre que a própria existência seja um ato de rebelião." — Albert Camus
- "Não se nasce mulher: torna-se." — Simone de Beauvoir
- "Viver é sofrer, sobreviver é encontrar algum significado no sofrimento." — Friedrich Nietzsche
- “O eu é uma relação que se relaciona consigo mesma." — Søren Kierkegaard
Principais ideias do existencialismo
O existencialismo teve diferentes abordagens e autores que debatiam temas que iam desde a liberdade radical até a ausência de sentido da vida.
Contudo, essas ideias giravam em torno de um ponto em comum: o ser humano deveria buscar construir o propósito de vida por meio de suas ações.
Vamos às principais características do existencialismo:
A existência precede a essência
“O homem é o ser cuja existência precede a essência.” - Jean-Paul Sartre
Essa afirmação de Sartre é uma das bases do existencialismo. Ao trazer a existência para o foco da reflexão, a inverteu-se a noção tradicional da filosofia.
O professor Franklin Leopoldo, que leciona um curso sobre Jean-Paul Sartre na Casa do Saber, explica que “como não existe mais uma essência que determine especificamente a existência, essa existência será indeterminada. […] Portanto, o que caracteriza a existência, no caso do ser humano, é a indeterminação. [...] Sartre considera essa indeterminação muito importante e a chama de liberdade.”
Sendo assim, o ser humano não nasce com uma essência ou com ela já estabelecida. Primeiro ele existe, vive, faz suas escolhas e, assim, consegue entender quem realmente é.
Diferentemente dos objetos, os quais já são criados para determinada função, os seres humanos constroem o sentido da vida ao longo de sua existência por meio da liberdade de suas ações.
Liberdade e responsabilidade
Para o pensamento existencialista, somos responsáveis pelo o que somos, fazemos e pela forma como reagimos ao que acontece conosco.
“O importante não é o que fazemos de nós, mas o que nós fazemos daquilo que fazem de nós.” - Jean-Paul Sartre
Por isso, cada escolha é uma afirmação de quem somos, pois somos autoconscientes e totalmente responsáveis pelas nossas decisões e pelas consequências derivadas delas.
Entretanto, com essa liberdade vem a responsabilidade, e não podemos culpar terceiros – seja Deus, os outros ou a sociedade – pelas escolhas que fazemos. Isso pode ser até libertador, mas também angustiante.
Apesar dessa liberdade, nós não tomamos decisões de forma totalmente indeterminada. Não temos uma essência fixa, somos uma construção que está em constante mudança a partir das escolhas que fazemos diante daquilo que nos acontece.
Em suma, para o existencialismo, a liberdade e a autenticidade são elementos fundamentais da existência humana e do homem como ser autoconsciente, que é capaz de criar a si mesmo (Marcondes, 2007).
Angústia e absurdo
A liberdade que estamos “condenados”, segundo Sartre, coloca-nos na situação de sempre buscarmos construir um sentido para a vida, a existência autêntica.
É nessa situação que a liberdade nos coloca frente a frente com a angústia: a sensação de estar diante de escolhas que ninguém pode fazer por nós.
Então surge o absurdo ao entendermos que o mundo não tem respostas prontas, a vida não tem um sentido determinado e que nós somos responsáveis por criar nossos valores.
Ainda que este cenário gere uma sensação de falta de esperança, o existencialismo estimula a encarar a falta de propósito com consciência e ação, o que, para os existencialistas, é a forma mais autêntica de se viver.
Autenticidade e má-fé
A autenticidade é um ponto de concordância entre os diversos autores do existencialismo.
Resumidamente, a autenticidade é assumir a liberdade e agir de acordo com as próprias escolhas.
Já a “má-fé” consiste em enganar a própria consciência e acreditar que não se tem liberdade, tornando-nos vítimas das circunstâncias.
Você se lembra do exemplo do início do texto? Pois é, você tem a liberdade de escolher se exercitar, mas opta por terceirizar a culpa das consequências das suas decisões (como anda a sua saúde?).
Portanto, má-fé, para Sartre, é um autoengano para evitar a responsabilidade. A autenticidade exige coragem para encarar quem somos, inclusive nossas contradições, erros e a solidão das escolhas que só nós podemos fazer por nós mesmos.

Existencialismo Ateu e Existencialismo Cristão
O existencialismo, como corrente filosófica, apresenta duas vertentes principais: o existencialismo ateu, representado por Jean-Paul Sartre e Albert Camus; e o existencialismo cristão, de Søren Kierkegaard e Karl Jaspers.
Enquanto o existencialismo ateu enfatiza a autonomia humana em um universo sem Deus, o existencialismo cristão destaca a necessidade da fé para alcançar uma existência plena.
Ainda que divirjam sobre Deus e o fundamento do sentido da vida, compartilham a ideia da existência individual.
Existencialismo Ateu: Jean-Paul Sartre Sartre e Albert Camus

Para Sartre, a existência precede a essência. Ele afirmava que o ser humano é responsável por formar a própria essência a partir das escolhas livres e conscientes, contrapondo a ideia de Deus como entidade superior que define a essência do homem.
Com isso, a liberdade está atrelada à responsabilidade, sem possibilidade de se colocar como vítima das circunstâncias.
“O homem está condenado a ser livre.”
Embora Camus não aceitasse o rótulo de filósofo, foi um autor importante para a difusão do pensamento do existencialismo. Ele enfatizava o absurdo da existência, ou seja, a busca do homem pelo sentido da vida e do universo, o que o evidencia uma ausência de sentido intrínseca.
Em sua obra “O Mito de Sísifo”, ele discorre sobre o absurdo da condição humana, na qual concluiu, de forma metafórica, que é preciso aceitar o absurdo e criar sentido nas pequenas coisas da vida, sem depender de encontrar um propósito.
“O absurdo nasce desse confronto entre o apelo humano e o silêncio irracional do mundo.”
Diante disso, ele tem a revolta como resposta para o absurdo, que consiste em continuar vivendo plenamente, ainda que não haja sentido.
Existencialismo Cristão: Søren Kierkegaard e Karl Jaspers

Kierkegaard precedeu Sartre e é considerado o pai do existencialismo. A fé é um ponto central de suas obras e elemento essencial para superar o desespero existencial.
Para ele, a verdadeira existência exige uma crença irredutível em Deus, ainda que não se tenha certeza, porque ele não nos responde.
Kierkegaard aborda este tema em seu livro Temor e Tremor, usando como contexto para explorar a natureza da fé o texto bíblico de Abraão.
A angústia, segundo Kierkegaard, é reconhecer a finitude da existência humana e a morte, além da aceitação do “silêncio de Deus”, ou seja, a incerteza da salvação.
“A angústia é a vertigem da liberdade.”
Jaspers, existencialista cristão, introduziu o conceito de “situações-limite”, que diz que experiências extremas revelam a fragilidade humana e a necessidade de transcendência.
“A filosofia é um caminho para a transcendência.”
Para ele, a fé filosófica surge da confrontação com essas situações, levando à autêntica existência.
Dicas da Casa do Saber:
Você recorda que o existencialismo permeou diversos campos, desde o acadêmico até o cinema? Nós separamos algumas dicas para você mergulhar na filosofia existencialista:
- O existencialismo é um humanismo, de Jean-Paul Sartre
- Assim falou Zaratustra, de Friedrich Nietzsche
- O show de Truman (1998), com Jim Carrey
- Matrix (1999), com Keanu Reaves
- Metamorfose Ambulante, de Raul Seixas
Por que o existencialismo é tão atual?
Esta foi a primeira provocação deste texto e a resposta é: porque ele fala sobre o que somos, o que fazemos e como fazemos.
As crises e buscas de sentido, como você pode perceber neste texto, não são exclusividade dos tempos atuais. Contudo, em um mundo com uma rápida capacidade de transformação, temos que estar prontos para tomar decisões que só cabem a nós.
Ter consciência da responsabilidade dessas escolhas é o que alega o existencialismo: apesar das incertezas, temos que ter coragem de construir uma existência que faça sentido para nós mesmos e também de assumir as consequências dessas decisões.
Uma existência autêntica é aquela que segue a ética da singularidade, ou seja, devemos agir com consciência, construindo os próprios valores, fazendo escolhas e assumindo as consequências.
Perguntas frequentes
Qual é a principal ideia do existencialismo?
A principal ideia do existencialismo é que a existência humana vem antes da essência. Nascemos sem um propósito prévio e, por meio das escolhas, construímos quem somos. Essa liberdade traz também responsabilidade, angústia e a busca por autenticidade.
Quais são os autores mais importantes do existencialismo?
Entre os principais nomes estão Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Martin Heidegger e Albert Camus. Também influenciaram essa corrente Karl Jaspers e Friedrich Nietzsche.
Quais são os principais temas abordados pelo existencialismo?
Entre os principais temas estão a liberdade, a responsabilidade, a angústia, o absurdo, a autenticidade, a finitude e a busca pelo sentido da vida.
Qual a diferença entre existencialismo ateu e existencialismo cristão?
O existencialismo ateu, representado por Sartre e Camus, defende a autonomia humana em um universo sem Deus. Já o existencialismo cristão, de Kierkegaard e Jaspers, valoriza a fé como caminho para superar a angústia e alcançar uma existência autêntica.

Referências
Curso Casa do Saber: Os Pensadores: Sartre, com Franklin Leopoldo e Silva
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: , dos pré-socráticos a Wittgenstein.
MCDONALD, William. Søren Kierkegaard. In: ZALTA, Edward N. (ed.). The Stanford Encyclopedia of Philosophy. Summer 2023 Edition. Stanford: Metaphysics Research Lab, Stanford University, 2023.
CROWELL, Steven. Existentialism. In: ZALTA, Edward N. (ed.). The Stanford Encyclopedia of Philosophy. Summer 2023 Edition. Stanford: Metaphysics Research Lab, Stanford University, 2023.
SHEPPARD, Anne. Karl Jaspers. In: ZALTA, Edward N. (ed.). The Stanford Encyclopedia of Philosophy. Summer 2023 Edition. Stanford: Metaphysics Research Lab, Stanford University, 2023.