Psicanálise

Conheça os principais autores da psicanálise e seus conceitos

Conheça os principais autores da psicanálise e seus conceitos

A psicanálise, também conhecida como “terapia da fala”, é uma teoria e prática clínica que busca, a partir da análise do inconsciente, entender a mente humana.

Embora tenha sido fundada por Sigmund Freud no final do século XIX, outros autores e teóricos contribuíram para que a psicanálise se desenvolvesse até como a conhecemos hoje.

Freud reuniu um grupo de colaboradores, o que resultou na criação da Sociedade Psicanalítica de Viena. Apesar das divergências conceituais, os debates entre ele e seus seguidores foram fundamentais para os desdobramentos da psicanálise.

Vamos agora conhecer alguns dos principais autores da psicanálise, os conceitos elaborados por eles e suas ideias.

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Sigmund Freud

Foto de Sigmund Freud

Sigmund Freud (Reprodução)


Sigmund Freud nasceu em 6 de maio de 1856, em Freiberg in Mähren, no antigo Império Austríaco. Filho de comerciantes de lã, mudou-se ainda criança com a família para Viena.

Em 1873, ingressou na Universidade de Viena para cursar medicina. Interessou-se por biologia e neurociência, com destaque para os estudos sobre o cérebro humano.

Apesar de sua inicial preferência, foi da clínica que nasceu sua principal contribuição: a psicanálise.

Observando pacientes com sintomas histéricos, Freud percebeu que as causas do sofrimento não eram apenas fisiológicas. Aos poucos, distanciou-se dos métodos médicos tradicionais e passou a investigar os conflitos psíquicos.

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Os principais conceitos de Sigmund Freud são:

Inconsciente:

O inconsciente é um pilar fundamental da psicanálise, porque é nele que se encontram os conteúdos da mente que escapam à consciência, mas que influenciam nossos pensamentos, comportamentos e relações.

A partir do método da associação livre, o psicanalista auxilia o paciente a encontrar as origens do sofrimento psíquico presentes no inconsciente, possibilitando a transformação de sua jornada subjetiva e pessoal.

Transferência e contratransferência:

Os conceitos de transferência e contratransferência tem grande importância para a psicanálise. A transferência ocorre quando o paciente projeta no analista sentimentos e experiências ligadas a figuras do passado, revelando conteúdos inconscientes.

Já a contratransferência é a reação emocional do analista diante do vínculo estabelecido com o paciente. Embora inicialmente vista por Freud como um obstáculo, passou a ser compreendida como um recurso valioso para compreender o paciente e fortalecer o vínculo terapêutico.

Id, ego e superego:

Estes três conceitos fazem parte da estrutura do aparelho psíquico que Freud construiu na segunda tópica freudiana.

Ego

O ego é a instância psíquica com dimensões conscientes e inconscientes que representa a realidade, formado pelas interações sociais. Atua como instância mediadora entre os impulsos do id, as exigências do superego e a realidade externa.

Uma vez que é responsável pela mediação dos impulsos do id e as exigências do superego, ele substitui o princípio do prazer pelo da realidade.

Id

O id é a instância inconsciente e instintiva da mente, controlada pelo princípio do prazer. Ele representa impulsos, desejos e pulsões, buscando satisfação imediata. Segundo Freud, é a origem de conflitos e sintomas psíquicos, uma vez que abriga conteúdos reprimidos que podem gerar sintomas e conflitos internos.

Superego

Por fim, o superego, considerado por Freud como herdeiro direto do complexo de Édipo. Este é a instância psíquica que se situa entre o consciente e o inconsciente.

Ao passo que ele representa normas, valores e moralidade internalizados ao longo da vida, acaba atuando como um juiz interno dos pensamentos, desejos e ações, punindo desvios com sentimentos como culpa e vergonha. Sendo assim, influencia profundamente o comportamento do indivíduo.




Jacques Lacan

Foto de Jacques Lacan

Jacques Lacan (Reprodução)


Jacques Lacan nasceu em Paris, em 14 de abril de 1901. Criado em uma família católica, rompeu cedo com a religião e se interessou por Nietzsche, Spinoza e Freud. Em 1919, ingressou na Faculdade de Medicina de Paris e, em 1927, iniciou seus estudos em psiquiatria no Hospital Sainte-Anne.

Conhecido por revisar e divulgar a obra freudiana, Lacan reformulou a psicanálise a partir da linguística, filosofia e estruturalismo, sendo um dos teóricos mais influentes da psicanálise contemporânea.

Conheça alguns dos principais conceitos de Jacques Lacan:

Inconsciente estruturado como uma linguagem

Segundo Lacan, o inconsciente é estruturado como uma linguagem.

Influenciado por Saussure, entendeu que o inconsciente segue uma lógica própria, guiada por metáforas e metonímias, manifestando desejos e conteúdos reprimidos em sonhos, atos falhos e sintomas. Assim, não se revela explicitamente, mas como um texto que precisa ser interpretado.

Estádio do espelho

O Estádio do Espelho é um momento no qual a criança é capaz de reconhecer a sua própria imagem refletida no espelho, sendo assim, ela passa a ser capaz de perceber a sua totalidade corporal. Esta é uma etapa fundamental na constituição do sujeito.

Desejo na teoria de Lacan

O desejo, para Lacan, se diferencia do impulso ou da necessidade, porque o desejo lacaniano nunca se satisfaz completamente. Ele não é algo que possuímos, mas algo que nos constitui.

Desta forma, desejo não é algo que possuímos, mas sim algo que nos constitui. Ele é a tentativa de preencher uma falta, um vazio que nunca sana.

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Melanie Klein

Foto de Melanie Klein

Melanie Klein (Reprodução)


Melanie Klein nasceu em 30 de março de 1882, em Viena. Apesar do desejo de cursar medicina, estudou história por limitações financeiras.

Ela teve uma vida pessoal turbulenta, desde uma relação conturbada com a mãe até a perda de vários entes queridos, incluindo seu filho Hans.

Melanie Klein ficou conhecida por desenvolver a psicanálise infantil e ampliar as ideias de Freud. Para ela, os conflitos psíquicos começam mais cedo do que Freud havia indicado, ainda nos primeiros meses de vida.

Alguns dos conceitos mais importantes de Melanie Klein:

Análise do brincar

De acordo com Melanie, brincar é uma das principais formas de expressão do inconsciente durante a infância, assemelhando-se aos sonhos e à associação livre dos adultos.

O ato de brincar permite que as crianças expressem suas emoções, manifestando suas fantasias e desejos inconscientes. Sendo assim, o psicanalista é capaz de interpretar os processos inconscientes da criança.

Relações objetais primárias

As relações objetais primárias se referem aos primeiros vínculos afetivos da criança, sobretudo com a mãe. Para Klein, o primeiro objeto não é a mãe inteira, mas o seio materno.

Sendo assim, a amamentação, além da função nutritiva, é vista como um momento fundamental de interação entre mãe e filho, influenciando profundamente as futuras formas de se relacionar com os outros.

Complexo de Édipo

Melanie Klein fez uma releitura do Complexo de Édipo proposto por Sigmund Freud.

Na visão de Klein, o Complexo de Édipo - a expressão de sentimentos como inveja e ciúme - inicia-se no primeiro ano de vida da criança, portanto, mais cedo do que Freud propôs.

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Donald Winnicott

Foto de Donald Winnicott

Donald Winnicott (Reprodução)


Donald Winnicott nasceu em 7 de abril de 1896, na Inglaterra. Formou-se em medicina em 1920 e iniciou sua formação psicanalítica em 1927. Durante esse período, vivenciou o conflito entre os seguidores de Anna Freud e Melanie Klein na Sociedade Britânica de Psicanálise. Apesar de adotar uma postura independente, teve maior afinidade com a escola kleiniana.

Winnicott destacou-se por suas contribuições ao desenvolvimento infantil, enfatizando o papel fundamental do ambiente e dos cuidados maternos no amadurecimento emocional saudável da criança.

Conceitos de Donald Winnicott:

Mãe suficientemente boa

Segundo Donald, a mãe suficientemente boa é aquela que é capaz de se adaptar e proporcionar um ambiente seguro e acolhedor para a criança. Portanto, este contexto deve oferecer estabilidade emocional para que o verdadeiro self da criança possa se expressar e o bebê seja capaz de desenvolver a sua autonomia psíquica.

Objeto transicional

De acordo com Winnicott, o objeto transicional trata-se de um item que a criança escolhe para simbolizar a mãe (como um cobertor ou um brinquedo). Este objeto representa um sentimento de segurança, especialmente no momento em que o bebê percebe que a mãe é uma parte separada dele. Sendo assim, ele ajuda a criança a lidar com a fase de transição entre a realidade interna e externa.

Verdadeiro e Falso self

Enquanto verdadeiro selfie representa a autenticidade da personalidade da criança, que se desenvolve a partir de um cuidado adequado e um ambiente seguro e acolhedor, o falso self se manifesta como uma defesa diante de um ambiente inadequado para que o verdadeiro selfie se apresente, porém isso impede a expressão autêntica da pessoa.


Sándor Ferenczi

Foto de Sandor Ferenczi

Sándor Ferenczi (Reprodução)


Sándor Ferenczi nasceu em 7 de julho de 1893, na Hungria, e iniciou seus estudos em medicina na Faculdade de Medicina de Viena, especializando-se em neurologia e neuropatologia.

Embora colaborador estimado de Freud e ter feito parte de seu círculo íntimo, chegando integrar o “Comitê Secreto”, divergiam em alguns conceitos e práticas.

Freud e Jung também tiveram uma relação inicial de colaboração, mas se separaram devido a diferenças teóricas. Freud via o inconsciente como repressor, enquanto Jung introduziu o conceito de inconsciente coletivo, ampliando o foco. Essa divergência marca um rompimento que impactou profundamente a psicanálise moderna.



Conhecido como enfant terrible, Ferenczi revolucionou a psicanálise introduzindo novos conceitos e um olhar inovador sobre o papel do psicanalista, impactando tanto o campo teórico quanto o clínico.

Alguns conceitos de destaque de Ferenczi:

Elasticidade da técnica

Ferenczi rompeu com a rigidez técnica proposta por Freud e defendeu uma postura mais flexível, empática e responsiva do analista durante a sessão.

Desta forma, o profissional poderia acolher o sofrimento do paciente de forma mais humanizada. Ferenczi acreditava que o método deveria se adaptar ao paciente e não ao contrário.

Transferência e introjeção

Sándor Ferenczi fez uma releitura do conceito de transferência de Freud. Para ele, a transferência era mais do que uma repetição de experiências traumáticas, mas sim uma tentativa de reparação.

Já a introjeção é um processo no qual o paciente internaliza experiências e figuras importantes, assumindo a culpa pelo que aconteceu. Para Ferenczi, este era um mecanismo central do trauma.

Teoria do trauma

Para Sándor, o trauma é mais do que o evento em si, mas também as consequências emocionais da negação ou do silêncio frente ao trauma vivido.

Ele ainda complementa que, para ressignificar o sofrimento, é necessário que haja confiança na relação analista e paciente. Desta forma, uma análise empática seria o caminho para que o analisado encontrasse a cura.


Wilfred Bion

Foto de Wilfred Bion

Wilfred Bion (Reprodução)


Wilfred Bion, nascido em 8 de setembro de 1897 no Punjab, foi um autor contemporâneo da psicanálise, destacando-se pela sua originalidade teórica sobre o pensamento e as experiências emocionais primitivas.

Na década de 1920, depois de ter contato com as obras de Freud, decidiu estudar medicina na University College London. Influenciado por Melanie Klein, aprofundou suas pesquisas nos processos psíquicos iniciais e na construção do aparelho mental, marcando a psicanálise com novas abordagens e ideias.

Alguns dos principais conceitos de Wilfred Bion:

Teoria do pensar

Segundo Wilfred Bion, a mente se desenvolve a partir da necessidade de significar as experiências emocionais. Esse processo é o primeiro passo da função Alfa, que permite a transformação de emoções brutas em pensamentos.

A partir dessa capacidade de transformação, a mente cria pensamentos e o sujeito se torna capaz de se tornar um pensador.

Função alfa e beta:

A teoria alfa-beta de Bion descreve como a mente processa experiências emocionais. A função alfa transforma essas experiências sensoriais em pensamentos, palavras ou sonhos (elementos alfa).

Quando falha, cria elementos beta, experiências brutas que não podem ser pensadas e podem gerar angústia, e a pessoa acaba projetando-as. Se ausente, o analista ajuda a transformar esses elementos por identificação projetiva.

Identificação projetiva

Para Bion, a identificação projetiva é uma forma de comunicação primitiva, em que o paciente projeta conteúdos brutos no analista.

Sendo assim, o analista, ao acolher e transformar essas projeções, pode devolvê-las de forma mais compreensível. Isso possibilita ao paciente integrar essas partes e desenvolver sua capacidade de pensar.


Obras selecionadas de cada um dos autores da psicanálise para você conhecer

  • A Interpretação dos Sonhos – Sigmund Freud (1900)

  • O Estádio do Espelho como Formador da Função do Eu – Jacques Lacan (1949)

  • A Psicanálise de Crianças – Melanie Klein (1932)

  • Bebês e Suas Mães – Donald Winnicott (1983)

  • Thalassa: Um Ensaio sobre a Teoria da Genitalidade – Sándor Ferenczi (1924)

  • O Aprender com a Experiência – Wilfred Bion (1963)


Este texto pode ter sido um passo importante na sua imersão na psicanálise. Trata-se de um campo com muitos caminhos para você desbravar e mergulhar cada vez mais na compreensão da mente humana.

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Referências:

PAVÃO, Antônio Carlos. A teoria projetiva da consciência. Revista Simbio-Logias, v. 13, n. 19, 2021.

BION, Wilfred. O conceito de continente e contido. Revista Mineira de Psiquiatria, v. 24, n. 2, p. 44-48, jul./dez. 2022.

WINNICOTT, Donald W. Processos de amadurecimento e ambiente facilitador: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. São Paulo: Ubu Editora, 2022.

FEBRAPSI. Wilfred Ruprecht Bion.

FEBRAPSI. Donald Woods Winnicott



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