A origem da filosofia se deu pelo fato do ser humano se incomodar com a ideia da dúvida, com a ausência de resposta e com a “não-resposta“.
E essa inquietação sobre os aspectos fundamentais da nossa vida é que deu origem a uma das mais antigas e fundamentais ciências.
Este texto é para quem sente esse incômodo e quer conhecer a origem da filosofia, como se deu seu nascimento, os principais filósofos e conceitos, além de descobrir por que entender esse caminho pode mudar a sua forma de ver o mundo.
O artigo abordará os seguintes tópicos:

A origem da Filosofia: quando e por que começamos a filosofar?
O que faz alguém deixar de contar histórias mitológicas e começar a questionar racionalmente a realidade?
Ao se perguntar “o que é…?” ou “por quê…” é que se dá o primeiro passo rumo a um caminho sem volta: o da busca pelo conhecimento. Mas, afinal, qual foi o impulso filosófico responsável pela origem da filosofia?
Spoiler: a indignação com as explicações que já não respondiam aos questionamentos da vida.
No século VI a.C., Tales de Mileto não aceitou as explicações sobrenaturais para a origem do mundo. Cem anos depois, Sócrates foi sentenciado à morte defendendo seus princípios e valores, quando foi acusado de desrespeito às tradições religiosas e por corrupção da juventude.
Então, por que começamos a filosofar? Para ir ao encontro do conhecimento e aprendermos a pensar racionalmente em busca de respostas que façam sentido para nós no momento que vivemos.
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O contexto da Grécia Antiga: berço da filosofia
A filosofia surgiu na Grécia por volta do século VI a.C. com Tales de Mileto. Ele foi o primeiro homem da história a filosofar, quando questionou as explicações mítico-religiosas para as coisas que aconteciam no mundo.
Acreditar no que estava posto já não era mais uma opção ao perceber que a vida era muito mais complexa. E foi a partir da racionalização dos acontecimentos e de uma nova perspectiva para a explicação da nossa existência que a filosofia começou a se formar.
A filosofia tem uma data de origem, um criador, um local de nascimento e uma proposta de existência. E muito do que somos e pensamos hoje advém da primeira inquietação de Tales de Mileto.
Ainda no mundo pré-filosófico, a mitologia coordenava as relações humanas e estabelecia princípios para essa engrenagem, além de explicar fenômenos naturais.
Tal era a força da crença daquela sociedade, que os grandes autores da época, como Homero (Ilíada) e Hesíodo (O trabalho e os dias), eram considerados pessoas que tinham um contato mais próximo com divindades.
Dessa forma, acreditava-se que os deuses ou as musas sussurravam nos ouvidos dos poetas influenciando-os a produzir as suas obras. Portanto, o que eles escreviam não era fruto da criatividade humana e, sim, um produto divino.
Os cultos e rituais religiosos eram tão fortes socialmente na Grécia antiga que influenciaram, por exemplo, a escola de Pitágoras e o pitagorismo, que vieram tempos depois da filosofia já fazer parte daquela sociedade.
Nas transações mercantis havia, além das trocas comerciais, trocas culturais. Com isso, o contato com outras sociedades, novos conhecimentos, tradições mitológicas, acabou enfraquecendo a crença absoluta e incontestável nos mitos.
Ainda que diversos fatores tenham propiciado o surgimento da filosofia na Grécia antiga, o principal fator foi o advento da polis.
Com a decadência de uma civilização baseada na monarquia divina, começaram a surgir as cidades-Estado, nas quais havia uma participação mais ativa dos cidadãos na política.
Todo esse cenário possibilitou que começasse a surgir uma insatisfação com as explicações dadas pelo pensamento mítico.
Apesar da filosofia representar uma ruptura radical com o pensamento mítico, este foi um processo gradual de transformação da sociedade grega que permitiu o surgimento do pensamento filosófico-científico.
Do mito ao logos: o nascimento de um novo modo de pensar
Como dito anteriormente, antes do surgimento da filosofia, o mundo era explicado por mitos e, quando essas explicações não eram mais suficientes para sanar a curiosidade do homem, a tentativa de entender a vida racionalmente passou a guiar a busca pelas respostas.
E foi a filosofia a responsável por essa transição do mito ao logos.
Diferença entre mitologia e filosofia
Primeiro vamos compreender o que é mitologia. O termo Mythos, do grego, é a origem etimológica de mito e significa narrativas com um discurso imaginário, tido muitas vezes como sinônimo de “mentira”.
Portanto, a mitologia é um conjunto desses mitos. São as narrativas fictícias com elementos místicos e sobrenaturais, utilizadas para explicar o mundo e a realidade de forma simbólica - pensamento mitológico.
Já a filosofia é baseada no pensamento racional, que por sua vez fundamenta-se no uso da razão, da lógica e da observação crítica para compreender a vida e seus fenômenos.
O pensamento racional surgiu a partir de pensadores que questionaram as explicações míticas e buscavam respostas mais racionais.
Os primeiros filósofos: os pré-socráticos e a busca pelo princípio (arché)
A principal contribuição dos primeiros filósofos gregos deu-se a partir de tentativas iniciais de explicar a realidade. Com isso, desenvolveu-se os conceitos básicos das teorias da natureza.
Os filósofos pré-socráticos são aqueles que vieram antes de Sócrates (470-399 a. C), portanto, os primeiros filósofos.
Apesar de muito ter sido perdido, através de alguns fragmentos e citações de filósofos posteriores, é possível conhecer o pensamento pré-socrático.
Aristóteles, em Metafísica (1-4), e Diógenes de Laércio (I, 14-5) apontaram uma divisão deste período em duas grandes correntes: escola jônica e escola italiana.
Escola jônica: interesse sobre as teorias sobre a natureza (physis).
Conheça alguns dos principais filósofos jônicos:
Tales de Mileto
Aristóteles, em Metafísica, aponta que Tales foi ponto de partida para a criação da filosofia no século VI a. C. Ele foi o primeiro a buscar uma visão de mundo que não fosse mítica, o que o fez ser considerado o primeiro filósofo.
Tales investigava qual era a origem da natureza e colocou como elemento primordial (arqué) a água. Além disso, estimulava seus discípulos a refletirem e encontrarem diferentes princípios explicativos para a origem das coisas.
🔎 Entenda o que é Arqué
Arqué ou (arché) é um termo da filosofia que significa princípio, origem ou elemento fundamental de todas as coisas. Os filósofos pré-socrático buscavam compreender a origem da natureza, e cada pensador tinha uma ideia diferente do que seria este princípio universal.
A definição de arqué foi fundamental porque foi uma tentativa de apresentar uma explicação da realidade a partir de um princípio básico.
Anaximandro
Ele foi o principal discípulo de Tales de Mileto e propôs o ápeiron (o indeterminado) como princípio primeiro, utilizando a noção de arqué.
Seu grande diferencial foi trazer uma nova noção de arqué que não se baseava nos elementos tradicionais, propondo uma explicação mais abstrata para a origem da natureza.
Escola italiana: explicação mais naturalista da realidade.
Veja quais foram alguns dos principais filósofos dessa escola:
Pitágoras
Pitágoras foi o fundador dessa escola que mesclava pensamentos filosóficos com a manutenção de alguns elementos mítico-religiosos.
Com uma postura semirreligiosa e iniciática, a doutrina central girava em torno do número como elemento básico explicativo da realidade, sendo ele a justificativa para a harmonia cósmica.
Heráclito de Éfeso, o Obscuro:
Recebeu esta alcunha devido à complexidade de seus pensamentos que diziam que a realidade natural se caracterizava pelo movimento, estando todas as coisas em fluxo.
“Não podemos entrar no mesmo rio, porque o rio não é mais o mesmo “
Esta famosa frase de Heráclito de Éfeso representa a ideia de fluxo da realidade, onde o rio seria o movimento de todas as coisas.
Parmênides
Parmênides defendia a doutrina da existência de uma realidade única. Foi ele quem introduziu a ideia de distinção entre realidade e aparência.
Diferentemente de Heráclito, ele dizia que o movimento é apenas aparente, um aspecto superficial das coisas. Para ele, era necessário buscar aquilo que permanecia o mesmo na mudança, isso permitiria identificar a coisa.
“É o mesmo: o ser é o pensar”
Nesta frase, Parmênides diz que a racionalidade real e a razão humana pertencem à mesma natureza, permitindo ao homem pensar o ser.
Sócrates e a virada antropológica
Sócrates é tomado como um marco na história da filosofia porque trouxe uma nova problemática para a discussão filosófica: questões ético-políticas. Ou seja, questões relacionadas ao homem.
É relevante trazer a informação que, por Sócrates ter todo o seu pensamento transmitido por meio do ensinamento oral, todos os registros de sua filosofia foram feitos por seus seguidores, sendo o principal, Platão.
Antes de tudo, para entender o que foi a virada antropológica proposta por Sócrates, vamos entender o que é cosmos e logos.
Cosmos
Cosmos vem do grego Kosmos que se refere diretamente às ideias de harmonia. Na filosofia, cosmos diz respeito à realidade ordenada.
A busca por entender o universo em sua totalidade a partir das leis naturais e estrutura do universo era uma forma de explicar teoricamente o real.
Sendo assim, surgiu o termo cosmologia para se referir à explicação dos processos e fenômenos naturais, como teoria geral sobre a natureza e o funcionamento do universo.
Logos
Logos significa, literalmente, discurso, porém vinculado a uma ideia racional, diferente da narrativa mitológica. Ele utiliza de explicações justificadas sujeitas à crítica e à discussão para que se tenha um discurso racional sobre o real.
A filosofia socrática parte do questionamento do comum, de certezas que temos, porém que são incompletas ou parciais.
Sócrates tinha um interesse profundo pela problemática ético-política. O homem, enquanto cidadão da polis, passou a se organizar politicamente no sistema conhecido hoje como democracia.
Foi a partir deste olhar para o homem que ele passou a investigar questões relacionadas à virtude, à justiça e ao papel do cidadão dentro da polis.
E é a reflexão filosófica sobre o homem e a sociedade que leva a compreensão de que não se sabe o que se acha que se sabe.
Sendo assim, o método socrático aponta as fragilidades e a possibilidade de aperfeiçoamento das coisas por meio da reflexão individual.
“Só sei que nada sei”
Essa frase de Sócrates aponta que o reconhecimento da ignorância é o princípio da sabedoria.
Desta forma, o ponto de virada antropológico de Sócrates está no fato de que ele não buscava explicações sobre a origem do universo (cosmos). O seu interesse estava em questionar o comum, as certezas que já estavam postas, mas que eram incompletas. E era através da filosofia que se achava a compreensão daquilo que não se sabia.
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Conclusão: por que voltar à origem da filosofia importa?
Além da obviedade de entender como a filosofia ocidental influenciou a sociedade em que vivemos hoje, estudar filosofia é mais do que saber nomes, datas ou conceitos filosóficos importantes para a história.
A filosofia surgiu como um mapa que mostra os caminhos para nós aprendermos a questionar, analisar, observar e refletir sobre a realidade de forma racional.
No final, ela nos ensina a pensar criticamente. É um convite para que estejamos abertos e sejamos capazes de enxergar o mundo e nós mesmos com mais clareza, ampliando os horizontes e despertando cada vez mais o desejo por conhecimento e estimulando mais perguntas.
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Esperamos que este texto tenha contribuído para ampliar sua compreensão sobre a origem da filosofia, os grandes primeiros filósofos gregos e o pensamento filosófico que até hoje influencia a maneira como entendemos o mundo, questionamos a realidade e buscamos sentido para a existência.
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Referências
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 12. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.