Você já parou para pensar o quanto os seus sentidos podem influenciar na sua visão de mundo e no seu dia a dia? Neste texto, você vai saber mais sobre o que é empirismo, suas principais ideias, pensadores e como essa corrente filosófica pode ajudar na reflexão e explicação de várias questões do cotidiano.
O artigo abordará os seguintes tópicos:
- O que é empirismo e por que ele moldou a ciência moderna?
- Empirismo na filosofia: definição e fundamentos
- Crítica ao inatismo e à razão pura: a mente como “tábula rasa”
- Principais representantes do empirismo
- Empirismo x Racionalismo
- Impactos do empirismo na ciência e na modernidade
- O legado do empirismo hoje

O que é empirismo e por que ele moldou a ciência moderna?
Empirismo é uma corrente filosófica moderna, que ganhou força no final do século XVII e defendeu que todo conhecimento tem origem na experiência sensível.
Essa corrente discorda da teoria das ideias inatas, segundo o empirismo nós as construímos observando e interagindo com o mundo.
Os principais filósofos empiristas, Locke, Berkeley e Hume, defendiam que nossa mente é moldada pelas percepções e que o saber é resultado da organização dessas experiências.
O empirismo foi fundamental para a ciência moderna ao romper com o racionalismo quanto à fonte do conhecimento. Em vez da razão pura, colocou-se o olhar sobre a observação e a experiência, o que influenciou diretamente o surgimento de um método científico baseado na observação e na experimentação.
Além de estabelecer que o conhecimento deve ser sustentado por evidências, o empirismo foi fundamental para as ciências naturais, embora também tenha influenciado as ciências humanas. Também estimulou a dúvida e a revisão sistemática das crenças e ideias.
Empirismo na filosofia: definição e fundamentos
Empirismo vem do grego empeiria, que significa uma forma de saber derivada da experiência sensível e do acúmulo de informações advindo dessa experiência.
Basicamente, empirismo é uma corrente filosófica que diz que todo conhecimento deriva da experiência sensível.
Autores como Locke, Berkeley e Hume afirmam que a mente humana nasce como uma "tábula rasa", sendo preenchida ao longo da vida por percepções vindas dos sentidos.
“Nada está no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos.”
Lema do empirismo (Frase aristotélica)
O ponto inicial da filosofia empírica está na distinção entre dois tipos de conteúdo mental: impressões e ideias.
Segundo a teoria desenvolvida por David Hume, as impressões são as informações captadas e repassadas pelos sentidos, por exemplo, ver uma situação e sentir tristeza ou felicidade. Já as ideias são cópias dessas impressões, alteradas pela memória ou pela imaginação.
E essa ideia pode se associar por semelhança, proximidade no tempo ou espaço, ou relação de causa e efeito.
Sendo assim, esse pensamento ficou conhecido como empirismo psicológico, porque entende o conhecimento como resultado da atividade subjetiva da mente.
A partir disso, Hume desenvolveu uma postura cética, como na ideia de que seria, por exemplo, a ideia de que a causalidade não vem da razão, mas do costume ou hábito de fazer associações de eventos semelhantes e constantes.
Posteriormente, surge o chamado empirismo lógico, no qual as palavras só têm significado se estiverem ligadas a fatos concretos. Com isso, os conceitos metafísicos especulativos são desconsiderados por não se referirem a qualquer experiência sensível.
Portanto, o empirismo coloca a experiência sensível como origem do saber e transforma a experiência em critério de validade, influenciando a filosofia e a ciência moderna.
Crítica ao inatismo e à razão pura: a mente como “tábula rasa”
O empirismo e o racionalismo surgiram na mesma época, no século XVII. Entretanto, o pensamento empírico surgiu como uma crítica ao racionalismo, especialmente quanto às ideias inatas e à crença de que a razão, sozinha, é capaz de gerar conhecimento verdadeiro e seguro.
Diferentemente dos racionalistas, os filósofos empiristas defendiam que o conhecimento humano tem origem na experiência sensível. E é exatamente nessa discordância que Locke critica a ideia dos princípios inatos universais.
Um dos principais pontos da crítica ao inatismo está na questão de que a mente não nasce com princípios ou ideias prontas.
Na verdade, ela se apresenta desde a infância, como uma “tábula rasa”, ou seja, uma folha em branco pronta para ser preenchida pelas experiências.
Portanto, sendo a mente infantil livre de ideias anteriores, molda-se à medida que interage com o mundo.
Então a concepção de “ideias inatas” é refutada, segundo os empiristas, quando aplicada à análise empírica, pois, se essas ideias fossem realmente inatas, estariam presentes na mente de todos os indivíduos, o que não se observa.
Ademais, os filósofos empiristas também colocam em dúvida a razão, isto é, o uso da razão sem a experiência. Eles diziam que a razão depende das informações adquiridas pela percepção, assim, todo o saber é condicionado pelo contato com o mundo sensível.
A crítica ao inatismo foi importante na filosofia moderna, porque deslocou o foco da investigação do pensamento para a observação, a percepção e a experiência na construção do conhecimento.
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Principais representantes do empirismo
O empirismo moderno teve três representantes que se destacaram: John Locke, George Berkeley e David Hume. Cada um desenvolveu, a partir da experiência sensível, uma teoria sobre o conhecimento e a realidade.

Embora os três tivessem a mesma ideia sobre a negação das ideias inatas e o compromisso com a experiência como fundamento do saber, as abordagens filosóficas se diferenciavam.
Enquanto Locke se destacou pela teoria do conhecimento e pela filosofia política; Berkeley se debruçou sobre a defesa do imaterialismo; e Hume, pelo marcante ceticismo frente à razão e à causalidade.
John Locke: teoria do conhecimento e política
John Locke (1632–1704) é considerado o fundador do empirismo moderno. Uma de suas obras mais clássicas, Ensaio Sobre o Entendimento Humano, desenvolve-se a teoria “tábula rasa”.
Nela, ele afirma que a mente humana nasce como uma “tábula rasa”, ou seja, sem conteúdo inato. Portanto, todo conhecimento do indivíduo vem da experiência, que pode ser externa (sensações) ou interna (reflexão).
Para explicar como um pensamento individual pode ser reconhecido como comum a todos, Locke discorre que o entendimento se forma a partir de ideias simples, captadas pela experiência, que são correspondentes às qualidades, e que depois são combinadas para formar ideias complexas.
Ele também diferencia as qualidades primárias e secundárias dos objetos:
- Qualidades primárias: propriedades do próprio objeto (forma, extensão, volume)
- Qualidades secundárias: propriedades que dependem da percepção do sujeito (cor, sabor, textura).
Exemplificando: o açúcar tem solidez, forma cristalina e divisibilidade (qualidades primárias). Também é branco e doce (qualidades secundárias).
Em suma, as qualidades primárias são inerentes ao objeto e tornam a substância o que ela é. Enquanto as qualidades secundárias não são propriedades objetivas do objeto, mas são derivadas do poder de produzir ideias, como o açúcar tem o poder de produzir o gosto doce.
Essa distinção permitiu reflexões sobre a confiabilidade do conhecimento sensível e os limites da percepção humana.
Além da teoria do conhecimento, John Locke também atuou na filosofia política.
Na obra Segundo Tratado Sobre o Governo, defende a ideia de que os indivíduos possuem direitos naturais (vida, liberdade e propriedade) e que o governo deve garantir tais direitos com base no consentimento dos governados. Essa concepção foi fundamental para o pensamento liberal e para a teoria do contrato social.
George Berkeley: imaterialismo e percepção
George Berkeley (1685–1753) negava a existência da matéria como substância independente da mente. Para ele, todos os objetos que experimentamos existem apenas enquanto são percebidos por uma mente.
Apesar de Berkeley admitir que a teoria do conhecimento empirista proposta por Locke foi fundamental para que ele alcançasse os seus objetivos quanto ao questionamento da materialidade do universo, ele chegou a resultados muito diferentes.
O ponto de discordância entre os dois filósofos está na passagem do conhecimento adquirido por meio dos dados fornecidos pelos sentidos para o conceito abstrato da substância material.
Para ele, essa substância material não pode ser conhecida em sua plenitude, porque o que sabemos dela advém do processo de percepção.
“Ser é ser percebido”
(esse est percipi)
Portanto, a percepção é o fundamento da realidade. Uma vez que Berkeley acredita que todas as qualidades dependem da mente para existir, negando a distinção entre qualidades primárias e secundárias feita por Locke.
Assim, o mundo material só existe enquanto é percebido, porque as coisas são percebidas continuamente, seja pelo indivíduo ou por Deus, o que garante a permanência dos objetos mesmo quando não os estamos percebendo.
Berkeley via sua filosofia como uma forma de proteger a fé religiosa do ceticismo e do materialismo. Ele acreditava que sua doutrina fortalecia a relação entre o espírito humano e Deus, o qual atua como a mente suprema que ordena e sustenta o mundo.
David Hume: ceticismo e causalidade
David Hume (1711–1776) desenvolveu um forte ceticismo sobre a razão e a possibilidade do conhecimento certo.
Em sua obra Investigação Sobre o Entendimento Humano (1748), ele propõe uma divisão entre dois tipos de conteúdos mentais:
- Impressões: dados imediatos da experiência;
- Ideias: cópias enfraquecidas das impressões.
Com isso, Hume estabelece que não podemos conhecer nada que não derive de forma direta ou indireta da experiência.
Uma de suas contribuições mais importantes é a crítica à ideia de causalidade. Nela, Hume diz que na experiência não há nenhum indicativo da conexão necessária entre causa e efeito.
O que se chama de causa é apenas o hábito ou costume de associar eventos que ocorrem repetidamente.
Para exemplificar: a crença no nascer do sol todos os dias não é racionalmente justificável, mas sim baseada em uma expectativa construída pela repetição.
“O homem é um ser dotado de razão e, como tal, recebe da ciência o seu alimento e nutrição própria. Mas tão estreitos são os limites do entendimento humano que pouca satisfação se pode esperar neste particular, quer da certeza, quer da extensão das aquisições.”
Ademais, Hume aplicou esse ceticismo à identidade pessoal: não há uma impressão contínua do “eu”, apenas uma sucessão de percepções.
Ele concluiu que a razão é limitada e que muitas crenças não têm fundamento racional, mas são resultado de sentimentos, hábitos e costumes.
A filosofia de Hume influenciou, posteriormente, Kant e a tradição filosófica, trazendo uma nova perspectiva sobre o conhecimento, a ciência e os limites da razão humana.
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Empirismo x Racionalismo
Empirismo e racionalismo são correntes filosóficas com ideias opostas sobre a origem do conhecimento.
Enquanto o empirismo inglês afirma que todo saber vem da experiência sensível, o racionalismo, representado diz que a razão é a principal fonte do conhecimento, e que certas ideias são inatas, anteriores à experiência.
Confira na tabela abaixo um comparativo entre as duas vertentes filosóficas:
Empirismo | Racionalismo | |
---|---|---|
Ideia central | Conhecimento vem da experiência | Conhecimento vem da razão |
Fonte do saber | Sentidos e percepções | Intelecto e dedução lógica |
Conceitos principais | Impressões, ideias, hábito, tábula rasa | Ideias inatas, dedução, clareza e distinção |
Características | Indutivo, observacional, concreto | Dedutivo, abstrato, matemático |
Discordância de ideias | Origem e validade do conhecimento | |
Concordância de ideias | Compreensão do como conhecemos | |
Principais autores | Locke, Berkeley, Hume | Descartes, Spinoza, Leibniz |
Impactos do empirismo na ciência e na modernidade
O empirismo foi fundamental na formação do pensamento moderno, influenciando a metodologia científica e as ciências humanas.
Ao defender que todo conhecimento vem da experiência sensível, os empiristas colocaram a observação, a experimentação e a verificação dos fatos no centro das questões filosóficas.
Isso influenciou o desenvolvimento de um método científico baseado nessas características, que proporcionou a formulação de hipóteses testáveis, além de favorecer análises empíricas dos fenômenos sociais e humanos.
O legado do empirismo fortaleceu a valorização do conhecimento científico, da experiência e da observação da realidade. Também questionou a ideia de conhecimento inato e colocou em debate os limites da razão.
Sendo assim, o empirismo trouxe uma visão moderna do saber, mais crítica e empírica.
O legado do empirismo hoje
Quando o empirismo afirma que o conhecimento nasce da experiência, ele nos alerta que para compreender o mundo é preciso vivência, observação e abertura ao novo.
Refletir sobre como pensamos, sentimos e julgamos é uma das principais propostas do pensamento filosófico. É a partir desses tensionamentos e questionamentos que vamos sendo capazes de compreender melhor o mundo, nós mesmos e como podemos lidar de forma racional com as questões que nos afligem.
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Referências:
Vários autores. História das grandes ideias do mundo ocidental. Volume 2.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia.
SCRUTON, Roger. Introdução à filosofia moderna