Epicurismo: o caminho para a felicidade e a tranquilidade

Epicurismo: o caminho para a felicidade e a tranquilidade

Você já se perguntou se está desejando o que realmente importa? Prepare-se para um texto que vai te trazer muitas reflexões por meio de uma filosofia milenar que propõe uma vida mais leve, moderada e prazerosa: o Epicurismo.

O Epicurismo te ajuda a entender o que realmente vale a pena e como encontrar a felicidade e tranquilidade da alma.

Você vai conhecer as origens desta filosofia, entender quem foi Epicuro e mergulhar em seus conceitos centrais, como ataraxia, aponia e liberdade interior, além de repensar o significado do prazer.



O Epicurismo foi fundado por Epicuro em 306 a.C., momento em que Atenas era um dos centros intelectuais do mundo. Como você já deve ter imaginado, "Epicurismo" vem do nome de seu fundador.

Epicuro fundou sua escola no que ficou conhecido como Jardim (Kepos), nome que recebeu por ser o local onde ele praticava sua filosofia revolucionária e inclusiva.

Neste espaço, os discípulos de Epicuro o acompanhavam enquanto caminhava pelo jardim e iam absorvendo o que ele dizia.

Busto de Epicuro, filósofo grego fundador do epicurismo
Busto de Epicuro


O que é Epicurismo?

A teoria do conhecimento do Epicurismo se define pela valorização da experiência imediata. Isso pode levar a pensar que sua filosofia é apenas sobre a ideia de qualquer tipo de prazer.

Contudo, o Epicurismo é uma filosofia que busca ter a vida mais prazerosa possível. Mas o que seria essa vida prazerosa?

No curso “A Filosofia Como Forma de Vida: Estoicos, Epicuristas e Cínicos”, o professor de filosofia Marcus Reis Pinheiro explica que o prazer epicurista é o “suave fluir”. Esse “suave fluir” seria um caminho sereno em direção à tranquilidade da alma (ataraxia) por meio da felicidade (eudaimonia).

Para se alcançar isso, Epicuro propunha que o homem levasse uma vida simples, sem excessos, pautada no conhecimento, boas amizades e na moderação.

Na verdade, o prazer epicurista é sobre a ausência de dor (aponia). Ou seja, buscar evitar o máximo possível a dor e buscar o máximo possível o prazer.

Para melhor entender o significado da ideia “evitar a dor e buscar o prazer” no epicurismo, o professor Marcus Reis Pinheiro utiliza um exemplo cotidiano, exemplificado pelo caso da bebida alcoólica.

Vamos supor que você beba uma grande quantidade de vinho. De certa forma, você sente um nível de prazer alto enquanto está bebendo. Posteriormente, você passa mal, tem dor de cabeça e sofre com a ressaca no dia seguinte.

O Epicurismo se manifesta quando você reflete: o prazer foi maior que a dor que a atitude causou?

É isso que os epicuristas buscam: um prazer que elimina uma dor e faz o ser humano voltar para um estado natural.

“O melhor tipo de prazer é aquele que elimina uma dor e faz a gente voltar para um estado natural” - Prof. Marcus Reis Pinheiro

Quanto a esse estado natural, Epicuro retoma ideias de Demócrito e Leucipo. Essas ideias foram discutidas por Lucrécio no tratado Sobre a Natureza, que apresenta uma física materialista, atomista e mobilista.

No estudo da física, o filósofo epicurista entende a natureza como uma maneira de o homem entender a sua função no mundo.

Epicuro dizia que tudo no universo era feito de átomos e vazio, inclusive a alma, que, por ser material, desfaz-se com a morte.

A partir dessa visão materialista, Epicuro diz que esse é um meio para se alcançar a liberdade do medo e da ignorância, aliviando a dor espiritual.

Sendo assim, compreender a natureza ajuda a encontrar o caminho para uma vida de virtude. Virtude essa que não se opõe ao prazer, mas orienta e se alcança por meio da prudência, do convívio proveitoso e da moderação.

"É impossível viver uma vida agradável sem viver com sabedoria, honestidade e justiça." - Epicuro


Ainda que o Epicurismo e o Estoicismo tenham em comum a busca pela felicidade e pela paz interior, a diferença entre eles está na maneira de alcançar a felicidade.

Enquanto o estoicismo valoriza a razão e a virtude, o epicurismo prioriza o prazer moderado e a ausência de dor.

Com essa ideia de viver plenamente, você já parou para pensar na pergunta que o Epicurismo nos faz refletir: o que se precisa para viver bem e alcançar a felicidade?

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Principais conceitos do Epicurismo

O prazer, para Epicuro, era algo diferente do que talvez o senso comum imaginasse e ainda imagine, como as férias ou comer uma comida deliciosa.

Ele defendia que o verdadeiro prazer é a ausência de dor no corpo (aponia) e que a felicidade está na tranquilidade da alma (ataraxia).

Entretanto, nós precisamos ir um pouco além para compreender o que Epicuro queria dizer com prazer, ausência de dor e tranquilidade da alma.

Para Epicuro, o verdadeiro prazer não é o prazer imediato, mas a ausência de dor (aponia) e a tranquilidade da alma (ataraxia).



Ataraxia: Tranquilidade da alma

A ataraxia é um conceito que diz sobre uma serenidade verdadeira e profunda.

Portanto, é quando encontramos a liberdade interior quando não temos mais medo – por exemplo, da morte ou de Deus – e nem aceitamos a ignorância.

Epicuro disse que a morte “não é nada para nós”, porque enquanto estamos vivos, ela ainda não chegou. E quando ela chegar, já não estaremos mais aqui para ter consciência e sentir medo.

Além disso, Marcus Reis Pinheiro destaca que, para Epicuro, o conhecimento elimina o que considera a pior das dores: a ignorância, onde entende que o conhecimento é o remédio para os sofrimentos criados pela falta de compreensão da realidade.



Vida virtuosa: Prudência, moderação e busca pelo essencial

Então, para alcançar esse estado de ataraxia é preciso praticar uma das virtudes centrais do Epicurismo: a prudência.

Em vez da impulsividade, Epicuro aconselha a reflexão antes da ação. Assim, a moderação assume o papel de guiar e de trazer equilíbrio na busca pelo prazer.

Portanto, o prazer epicurista não é qualquer tipo de prazer, é um prazer criterioso e que busca a felicidade e a ausência da dor.

Aponia: ausência da dor

No Epicurismo, aponia é o estado de prazer obtido quando não há dor. Diferentemente do prazer imediato e passageiro, como o do exemplo dado anteriormente do vinho, este é sereno, moderado e tranquilo.

Epicuro acreditava que a felicidade (eudaimonia) nasce do que é essencial para se viver bem:

  • não sentir dor;
  • viver com serenidade ;
  • cultivar relações saudáveis.


A dor, seja física ou emocional, perturba a alma. Como reflete o professor Marcus Pinheiro ao abordar o tema pela ótica do epicurismo, “você se torna infeliz porque não consegue viver da melhor forma possível”. Para Epicuro, viver bem era viver com leveza.

A amizade e a reflexão para epicuro

Você viu anteriormente que, segundo Epicuro, uma vida de virtude é pautada na prudência, na moderação e na amizade, além de valorizar a reflexão.

Como visto anteriormente no texto, já abordamos a prudência e a moderação na filosofia epicurista. Mas por que ele colocava tanta importância na amizade e na reflexão?

Amizade para Epicuro:

Este filósofo traz um dos conceitos mais irreverentes sobre amizade. Para ele, a amizade era uma das maiores fontes de prazer e segurança da vida.

Inclusive a ideia dele em fazer sua filosofia no “Jardim” era para criar vínculos mais fortes entre os discípulos.

“Não temos tanta necessidade da ajuda dos amigos como de confiança na sua ajuda.” - Epicuro

Sendo assim, estar entre amigos é como um remédio para a alma, porque a confiança na ajuda alivia as dores, reforça as alegrias ao compartilhá-las e até mesmo é capaz de afastar os medos, inclusive o da morte, porque ajuda viver o momento intensamente.

Para Epicuro, a amizade era uma das maiores fontes de prazer e segurança, capaz de aliviar dores, reforçar alegrias e afastar medos.

A importância de pensar antes de desejar

Essa frase parece óbvia, mas as ideias de Epicuro nos colocam para refletir quando pensamos: será que todos os desejos merecem ser atendidos? Spoiler: não.

Ele diferenciava os desejos naturais dos desejos vazios (ilusórios). Para ele, desejar sem pensar ou refletir parece satisfazer, mas na verdade não só causa como piora a angústia.

A inteligência prática (phronesis) nos ajuda a escolher o que realmente vale a pena. Então, antes de tomar uma atitude importante pense como um epicurista: isso vai me trazer serenidade ou inquietação?

E as amizades podem ser grandes aliadas nesse momento, porque podem nos ajudar, apoiar ou aconselhar. Por isso é importante também refletir quando escolhemos quem vamos trazer para as nossas vidas.

Frases marcantes de Epicuro

  • “O prazer é o princípio e o fim da vida feliz.”
  • “A morte nada é para nós, pois enquanto nós existimos, a morte não está presente; e quando a morte está presente, então nós não existimos.”
  • “De todas as coisas que nos oferece a sabedoria para a felicidade de toda a vida, a maior é a aquisição da amizade.”


Como aplicar o Epicurismo nos dias de hoje?

E quem, nos dias de hoje, não está buscando a tranquilidade da alma? Em um mundo tão conectado, exigente e que nos absorve em sua velocidade parece que estamos cercados por uma felicidade instantânea, amizades frágeis e desejos inconscientes.

Vamos aceitar o convite do Epicuro e refletir sobre isso!

Liberdade interior em tempos de excesso

Vivemos inundados de notificações, compras, conquistas que nos prometem – ou nós mesmos nos prometemos – uma felicidade instantânea e momentânea.

Contudo, é neste momento que devemos agir como Epicuristas. A liberdade, para o fundador da corrente filosófica Epicurista, não está em ter tudo, mas em ter o que se precisa e compreender que se precisa de pouco para ser feliz e viver bem.

Superação do medo da morte e do sofrimento

Vamos retomar a frase citada acima: “A morte não é nada para nós”. Esse pensamento alivia o medo e a angústia que vem com essa inquietação.

Apesar do medo da morte e da dor paralisarem, o conhecimento ajuda a entender que isso não está no agora, e que precisamos desfrutar da vida, porque quando este momento chegar não estaremos mais aqui e não vamos temê-lo.

Epicuro dizia que a morte “não é nada para nós” porque, enquanto estamos vivos, ela não chegou; e quando chega, já não estamos mais conscientes para temê-la.

Epicurismo na vida: Escolhas conscientes, vínculos e bem-estar

Viver como um epicurista moderno é buscar o essencial, portanto, escolher conscientemente desde as amizades até o que vai se consumir, como comidas ou informações.

Então chame de “amigo” aquela pessoa que você sabe que vai poder contar na alegria e na tristeza. Crie vínculos com quem é certeza, serenidade e confiança.

Cultivar amizades sinceras, refletir antes de desejar e buscar prazeres duradouros são o caminho para entender que a felicidade não está no excesso, mas na moderação e equilíbrio. Escolher com sabedoria é o caminho para viver bem.

Assim como a medicina não serve de nada se não cura os males do corpo, a filosofia não tem utilidade se não cura os males da alma." - Epicuro, Fragmento do Corpus Epicureum

Segundo o professor Marcus Pinheiro, “a filosofia do Epicurismo exige da pessoa um certo trabalho sobre si mesma”. E é exatamente esta ideia que, para ele, Epicuro traz sobre a filosofia: que ela é um tipo de prazer porque ela elimina as dores.

O autoconhecimento, além de nos ajudar a entender a nós mesmos, também nos ajuda a compreender e lidar com a realidade. Se você tem interesse nesses temas – autoconhecimento e filosofia – visite a plataforma da Casa do Saber e descubra várias horas de conteúdo para mergulhar no universo do conhecimento.



Perguntas frequentes sobre Epicurismo

Quais são os princípios de Epicuro?

Os princípios de Epicuro são:

  • Visão materialista e naturalista do universo;

  • Objetivo ético de tranquilidade e ausência de dor com prazer moderado;

  • Uso da prudência para ao elaborar escolhas;

  • Controle dos desejos;

  • Superação dos medos fundamentais (tetrafármaco);

  • Vida pautada na amizade e autossuficiência.

Esses princípios resumem sua ética: viver a vida voltada à conquista da tranquilidade da alma (ataraxia) por meio da razão, da moderação e da liberdade interior.


Qual é o conceito de Epicurismo?

O epicurismo é uma corrente filosófica que busca a felicidade (eudaimonia) por meio da tranquilidade da alma (ataraxia). Ela pode ser alcançada através do prazer moderado, ausência de dor e liberdade interior.







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Referências:

ADAMSON, Peter. Epicurus and his principles. History of Philosophy Without Any Gaps, [2001]. Episódio 55.

CASA DO SABER. A filosofia como forma de vida: estóicos, epicuristas e cínicos – aula 04.

DURANT, Will. História das grandes ideias do mundo ocidental. Vol. 1. Coleção Os Pensadores. 1. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

DURANT, Will. Epicuro, Lucrécio, Cícero, Sêneca, Marco Aurélio. Coleção Os Pensadores. 1. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

MARCONDES, Danilo. Introdução à História da Filosofia.

O'KEEFE, Tim. Epicurus. Stanford Encyclopedia of Philosophy, 2021.

Artigo escrito por
Paula Delgado
Jornalista pela UFJF, mestra e doutoranda em Comunicação pela mesma instituição, integra o grupo de pesquisa Núcleo de Jornalismo Audiovisual (NJA).
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