Filosofia

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Racionalismo: conceitos, filósofos e principais ideais
Paula Delgado
Racionalismo: conceitos, filósofos e principais ideais
Racionalismo é a corrente filosófica que valoriza a razão como fonte do conhecimento. Conheça as ideias de Descartes, Spinoza e Leibniz.

Você já parou para pensar de onde vem o nosso conhecimento? Para o racionalismo, a resposta está dentro de nós: a razão.

O racionalismo é um marco na história do pensamento, porque introduziu na filosofia a razão como principal fonte do conhecimento, buscando encontrar um método confiável que leve ao conhecimento verdadeiro.

Pensadores como Descartes, Spinoza e Leibniz são pilares desse pensamento. Neste texto, além de conhecer as ideias desses filósofos racionalistas, você vai entender o que é essa corrente filosófica.

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Principais ideias racionalistas

O Racionalismo representa uma virada na história da filosofia moderna, pois defende que certas verdades são inerentes à existência humana ou podem ser alcançadas a partir do uso da razão, sem depender dos sentidos.

Portanto, não dependemos exclusivamente da experiência sensível para conhecer o mundo. A razão, parte central da compreensão da realidade, é capaz de revelar princípios universais.

Também se destaca o esforço do pensamento racionalista para se alcançar uma verdade lógica, aquela que é clara e universal.

O conceito de verdade lógica, apesar de ter algumas incertezas quanto à origem do termo, é algo relevante para esta corrente, porque uma verdade lógica é aquela que é verdadeira independente dos fatores externos (empíricos ou observacionais), porque ela segue uma estrutura lógica.

O Racionalismo se sustenta a partir de argumentos que seguem regras e não dependem da variação da interpretação do mundo sensível.

Outro ponto fundamental para essa escola é a busca por certeza. Para que o conhecimento verdadeiro seja claro, os racionalistas desenvolveram métodos rigorosos de pensamento, como a dúvida metódica – você vai entender este conceito adiante.

Resumindo: o Racionalismo é uma corrente filosófica que coloca a razão como a principal fonte do conhecimento verdadeiro. Entretanto, para alcançá-lo, é necessário encarar a dúvida tendo como ferramenta de compreensão o pensamento racional e lógico.


Filósofos do racionalismo: Descartes, Spinoza e Leibniz

Como foi dito anteriormente, alguns dos principais filósofos racionalistas são René Descartes, Baruch Spinoza e Gottfried Wilhelm Leibniz. Conheça os pontos essenciais de cada pensador:

René Descartes



René Descartes (1596-1650) é considerado o pai do Racionalismo moderno. O ponto-chave de seu pensamento foi elaborar um fundamento seguro para o conhecimento verdadeiro, isto é, algo que não pudesse ser colocado em dúvida.

Para isso, desenvolveu a dúvida metódica: um modelo no qual se deve duvidar de tudo o que não seja absolutamente correto.

Segundo Descartes, a dúvida é necessária porque é a partir dela que todo o conhecimento inato pode ser testado. E com base nessa reflexão sobre a dúvida é que é possível descobrir as verdades ou argumentos falsos.

Então pode-se dizer que o indivíduo, ao duvidar, está pensando, o que torna possível a comprovação de sua existência. Daí vem a famosa frase da conclusão do argumento do cogito (do latim, penso):

“Penso, logo existo.”

Descartes acreditava que a razão humana é capaz de alcançar verdades universais, desde que siga um método rigoroso.

Por exemplo, a matemática é uma ciência exata porque, com base em regras bem definidas, obtém-se um conhecimento sólido e estruturado. E é essa certeza que os racionalistas buscam.

De acordo com René Descartes, a falta de método ao pensar é que leva aos erros. Ele propunha usar a razão ordenada, separando os problemas dos pontos mais simples para os mais complexos.

A questão central em sua filosofia é que existem ideias inatas, ou seja, verdades que já nascem com a mente humana, independentemente da experiência sensível, como a noção de Deus e da perfeição.

Para ele, Deus era uma ideia inerente ao homem e somente um ser perfeito, como Deus, poderia tê-la colocado lá, portanto, provando a existência de Deus.

Em suma, o Racionalismo cartesiano valorizava a autonomia da razão, o pensamento racional e acreditava que, ao usarmos bem a razão, podemos construir um conhecimento seguro.

Baruch Spinoza



Baruch Spinoza (1632-1677) pode ser considerado o filósofo mais radical do começo do período moderno.

Inovador em suas ideias, ele combinou razão, natureza e espiritualidade com ideias originais que fundamentaram uma filosofia moral focada na compreensão racional das paixões, que levaria o homem à virtude e à felicidade.

Spinoza entendia Deus como uma substância infinita, ou seja, uma substância formada por uma infinidade de atributos que expressam uma essência infinita e eterna.

Ele propôs que tudo o que existe é expressão de uma única realidade infinita: Deus ou a natureza (Deus sive Natura). Com isso, ele quis dizer que o mundo não está separado de Deus, porque tudo segue uma ordem racional e necessária.

Spinoza acreditava que a liberdade verdadeira não está em agir de forma impulsiva, mas, sim, na compreensão das causas que nos movem.

Dessa forma, a razão nos liberta ao mostrar que somos parte de um todo regido por leis eternas. Quando entendemos isso, deixamos de sofrer por coisas que não podemos controlar e passamos a viver com mais equilíbrio.

“A emoção que nasce da razão é mais forte do que aquela que nasce do acaso.”


Ele também defendia que o conhecimento pode ser dividido em três níveis:

  • experiência vaga (baseada nos sentidos);
  • razão (que vê relações necessárias);
  • intuição (que capta a essência das coisas).


Segundo Spinoza, quanto mais longe chegamos nesses níveis, mais próximos estamos da felicidade e da liberdade. Para Spinoza, pensar racionalmente era o caminho para viver em harmonia com o mundo.


Gottfried Leibniz



Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) é um dos nomes mais peculiares do racionalismo. Um crítico de Descartes e Spinoza, ficou conhecido por sua contribuição nos campos da lógica e da linguagem.

Leibniz acreditava que todo o conhecimento verdadeiro vem da razão, que atua sobre as ideias inatas presentes na mente humana.

Contudo, para ele, perceber (percepção sensível) e pensar fazem parte do mesmo processo racional, só que em níveis diferentes de clareza. Pois perceber é uma noção mais vaga do que o pensamento.

Leibniz dizia que as verdades a priori podem ser descobertas através da lógica, como é feito na matemática. Porém, a mente humana é limitada e, por isso, nem sempre consegue perceber que todas as verdades são analíticas. Mas Deus, encarado como unidade infinita, conseguiria.

Ele afirmava que uma linguagem simbólica, que seguisse uma lógica como a da matemática, poderia verificar se uma ideia é verdadeira.

Apesar da ideia de que a mente humana é limitada, ele defendia que a mente humana possui estruturas próprias que permitem o indivíduo compreender verdades universais.

Para ele, a realidade é composta por mônadas, unidades dinâmicas e autocontidas, que refletem o universo de forma única. Cada mônada funciona como um espelho do todo e tudo está interligado por uma ordem racional.

Leibniz acreditava que nada é por acaso. Toda existência tem uma razão suficiente, uma explicação racional de por que é como é. É isso que sustenta a ideia de que Deus, sendo uma unidade perfeita, escolheu o melhor mundo entre os possíveis para existir e para existirmos.

“Nada acontece sem razão suficiente.”

Sua filosofia buscava integrar razão e metafísica, ciência e lógica, mostrando que a realidade pode ser explicada por leis lógicas e claras.


Racionalismo x Empirismo: qual a diferença?

O racionalismo e o empirismo nasceram no mesmo período filosófico e dialogam quanto ao fato de que ambos buscam compreender a origem do conhecimento e como alcançá-lo.

Entretanto, eles se diferem quanto à fonte dos conceitos e do conhecimento. Enquanto o racionalismo se baseia na razão, o empirismo se volta para a experiência sensorial.

Contudo, os racionalistas reconhecem que os sentidos podem interferir no processo de construção do conhecimento, mas consideram a razão a fonte principal.

Desta forma, organizam um raciocínio lógico, no qual (1) prioriza-se o conhecimento em relação à experiência sensorial e (2) a razão é vista como a fonte de verdades universais. Porém, o indivíduo não está isento da interferência dos sentidos.

Já o empirismo apresenta uma abordagem diferente para a construção do conhecimento, fundamentando-se exclusivamente na experiência sensorial.

Os empiristas explicam que a experiência sensorial fornece as informações que os racionalistas atribuem à razão. Embora critiquem a visão racionalista de que a razão é a principal fonte de conhecimento, mostram que a reflexão pode preencher algumas lacunas.

Ou seja, para os empiristas, somos como uma folha em branco (tabula rasa) aprende a partir daquilo que vivemos e experimentamos do mundo (experiências sensoriais).

Característica Racionalismo Empirismo
Fonte do conhecimento Razão Experiência
Ideias inatas Confirma Nega
Modelo do conhecimento Matemático Aprendizagem
Existência do conhecimento A priori A posteriori
Frase “Penso, logo existo” - Descartes “Nada existe na mente sem antes passar pelos sentidos” - Locke


As duas correntes filosóficas - racionalismo e empirismo - ajudaram a construir a filosofia moderna. Entender o que as diferencia é fundamental e para entender melhor sobre o que é e como compreendemos a realidade.

Críticas ao racionalismo e limites da razão

Apesar de sua grande influência nas ciências e no empirismo, o racionalismo enfrentou críticas dos filósofos empiristas, como John Locke e Thomas Hobbes.

Eles questionavam a premissa de que o conhecimento nasce apenas da razão que, para eles, vem da experiência sensível. Esse embate de ideias entre racionalismo e empirismo marcou profundamente a filosofia moderna.

Contudo, Immanuel Kant foi fundamental para equilibrar essa tensão. Uma vez que reconheceu que ambas as correntes contribuíram para o desenvolvimento do pensamento filosófico, ele conseguiu integrar os dois ramos do conhecimento.

Segundo Kant, o conhecimento começa com a experiência, mas não se restringe a ela, porque as estruturas mentais inatas são o que organizam o que percebemos do mundo externo,

Ainda de acordo com a filosofia kantiana, a razão é limitada e não consegue acessar a “coisa em si” (realidade absoluta), apenas como ela se apresenta para o ser humano.

Assim, esse embate de ideias entre racionalismo e empirismo fez com que os racionalistas reconhecessem que a razão sozinha não é suficiente para compreender a verdade, o que permitiu o surgimento de abordagens mais equilibradas.


A importância do racionalismo na modernidade e no iluminismo

O racionalismo foi um dos pilares do pensamento moderno e teve grande influência no movimento iluminista, que se caracteriza pela valorização da razão, da ciência e rompeu com o absolutismo e com o pensamento religioso da época.

Quando o racionalismo colocou a razão como principal fonte de conhecimento, deu lugar a uma forma de pensar baseada na lógica, na razão e na busca por verdades universais.

O racionalismo não tinha intenção de eliminar a fé ou os sentimentos, mas propôs que o mundo poderia ser compreendido por meio da razão.

O surgimento do método racional possibilitou buscar explicações naturais para os fenômenos, em vez de aceitar explicações baseadas na tradição ou na religião.

O método da dúvida proposto por Descartes diz que o filósofo deve duvidar de tudo aquilo que se diz verdadeiro. Assim, nenhuma autoridade, senão a razão, pode ser confiável, a não ser que se submeta ao questionamento cético.

A partir disso, fortaleceu-se a confiança na razão, que inspirou a sociedade da época e contribuiu com o desenvolvimento da ciência moderna.

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Por que ainda vale estudar o racionalismo?

Racionalismo e razão são palavras que estão intrinsecamente ligadas e entender isso ajuda a compreender o que é essa corrente filosófica e as bases da filosofia moderna.

A valorização da razão propiciou o surgimento de ideias fundamentais como lógica, método científico e dúvida metódica, conceitos fundamentais para a ciência da atualidade.

Apesar de suas limitações, o racionalismo nos ajuda a pensar com clareza, tomar decisões conscientes e equilibrar razão e emoção no cotidiano.

Em um mundo tão cheio de “verdades”, ser capaz de refletir racionalmente sobre tudo aquilo que nos cerca é um caminho para conhecer melhor a realidade, a nós mesmos e toda a história e o legado que moldaram o mundo em que vivemos.

Esperamos que este texto tenha te ajudado a compreender o que é racionalismo e as principais ideias dos filósofos desse pensamento. Se você quiser ir mais fundo no universo da filosofia, tenha acesso aos nossos cursos clicando aqui.

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Referência

STANFORD ENCYCLOPEDIA OF PHILOSOPHY. Leibniz.

STANFORD ENCYCLOPEDIA OF PHILOSOPHY. Rationalism vs. Empiricism.

STANFORD ENCYCLOPEDIA OF PHILOSOPHY. Enlightenment.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein.

Budismo: Buda, religião do nirvana, Karma significado espiritual
Xavana Celesnah
Budismo: Buda, religião do nirvana, Karma significado espiritual
Budismo: o que é, origem, símbolo do budismo, suástica budista, frases de buda, significado de Karma e dharma, Siddhartha Gautama na Índia

O budismo é a quarta maior religião do mundo, com cerca de 525 milhões de adeptos, número que representa 7,1% da população mundial, de acordo com dados da PEW Research Center de 2021. O surgimento do budismo se deu na Índia, no século VI a.C., através do príncipe Siddhartha Gautama, o Buda. É uma das religiões mais antigas do mundo e uma de suas principais características é o fato de ser uma religião não teísta, ou seja, não acredita na existência de um Deus ou um Criador supremo.

Neste artigo, vamos explicar o que é o budismo, quais são os principais ensinamentos e práticas budistas e destacar conceitos centrais da religião, como o nirvana e o Karma.

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O que é Budismo?

O budismo é uma religião que surgiu no século VI a.C., na Índia, a partir dos ensinamentos do príncipe Siddhartha Gautama, que ficou conhecido como Buda, ou o iluminado. Ao longo dos séculos, o budismo se espalhou por diversos países da Ásia, como Japão, China, Tibete e o Sudeste Asiático, onde foi adaptado às diferentes culturas e contextos locais. Hoje, o budismo continua sendo uma das principais religiões do mundo, com uma rica tradição de ensinamentos espirituais, práticas meditativas e uma filosofia da religião que abrange todos os aspectos da vida humana.

O budismo não se concentra na adoração de um deus criador, como em muitas religiões monoteístas, mas se fundamenta nos ensinamentos de Buda sobre a natureza do sofrimento e como superá-lo. Buda, um príncipe que renunciou a uma vida de luxo e conforto para buscar respostas para as questões existenciais e o sofrimento humano, alcançou a iluminação após uma jornada de práticas ascéticas e profunda meditação.

Seus ensinamentos oferecem um caminho para a liberação do sofrimento, conhecido como nirvana, e orientam seus seguidores a cultivarem compaixão, sabedoria e renúncia aos desejos. O budismo é, assim, uma religião que busca transformar a mente e a vida do indivíduo, guiando-o em direção à paz interior e à liberdade do ciclo de renascimento e morte, conhecido como samsara.

As Quatro Nobres Verdades Budistas

O budismo é estruturado em torno das Quatro Nobres Verdades, que fornecem a base para entender a natureza do sofrimento e o caminho para superá-lo. Essas verdades foram ensinadas por Buda como uma maneira de ajudar os seres humanos a transcender as dificuldades da vida. Elas formam a essência do Caminho Óctuplo, um guia prático para alcançar a iluminação e a libertação do sofrimento. A seguir, estão as Quatro Nobres Verdades:

  1. A Verdade do Sofrimento (Dukkha) – O sofrimento é uma parte inevitável da vida humana. Ele se manifesta de várias formas, como dor física, emoções negativas, frustração e insatisfação, decorrentes da impermanência da vida e do ciclo de nascimento, morte e renascimento (samsara).
  2. A Verdade da Causa do Sofrimento (Samudaya) – A causa do sofrimento é o desejo, que se refere ao apego aos prazeres mundanos, às expectativas e às ilusões. Esse desejo gera avidez, aversão e ignorância, perpetuando o ciclo de sofrimento.
  3. A Verdade da Cessação do Sofrimento (Nirodha) – O sofrimento pode ser superado. Isso ocorre quando se extinguem os desejos e os apegos, alcançando-se um estado de nirvana, que é a libertação do sofrimento e do ciclo de renascimento.
  4. A Verdade do Caminho para a Cessação do Sofrimento (Magga) – O caminho para superar o sofrimento é o Caminho Óctuplo, um conjunto de práticas que envolvem ética (ações e palavras corretas), meditação (desenvolvimento da atenção plena e da concentração) e sabedoria (compreensão correta da realidade). Esse caminho leva à iluminação e à liberação do sofrimento.


Além disso, o budismo enfatiza a importância do karma, a lei de causa e efeito, e da meditação, que é fundamental para o desenvolvimento da mente e a realização da sabedoria. Cada escola de budismo, como o Zen, o Tibetano ou o Theravada, pode ter variações em suas práticas, mas todas compartilham a busca pela liberação do sofrimento e pela compreensão da verdadeira natureza da realidade.

O que o Budismo Prega?

De acordo com o budismo, Buda atingiu a plena iluminação e encontrou a resposta para o sofrimento humano, mostrando que é possível transcender as limitações da existência comum.

Nesse sentido, o budismo, através dos ensinamentos do Buda, prega que o sofrimento é uma parte inevitável da experiência humana. Mas, que é possível superá-lo. Para isso, o Buda propôs um caminho transformador: o Caminho Óctuplo, que inclui práticas de meditação, ética e sabedoria. Esse caminho orienta os praticantes a desenvolverem uma vida equilibrada, com ações conscientes, pensamentos puros e uma mente tranquila, visando alcançar a cessação do sofrimento.

O objetivo final do budismo é atingir o nirvana, que representa a libertação do ciclo de samsara, que seria o eterno ciclo de nascimento, morte e renascimento. Em essência, o que o budismo prega é que, por meio da transformação interior – através da mudança da mente, da prática do desapego e da compaixão – é possível alcançar a paz duradoura e a sabedoria, vivendo em harmonia com a realidade e com os outros.

Se você deseja realizar uma jornada de autoconhecimento para chegar a uma compreensão maior da espiritualidade, é importante estudar os principais pensadores que trouxeram reflexões sobre ética e vida plena.

Nesse sentido, apresentamos a seguir um trecho do curso Sócrates, Buda, Lao-Tzé: Filosofias na Prática, ministrado pelo doutor em filosofia e professor da UFRJ, Lucas Nascimento Machado. Clique no botão abaixo e confira o trailer do curso:

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O que é o Caminho Óctuplo Budista?

O Caminho Óctuplo budista, também conhecido como “o caminho do meio”, é um dos principais ensinamentos do budismo, apresentado por Siddhartha Gautama. Sua prática leva à superação do sofrimento e à realização do nirvana. Ele consiste em oito componentes interligados, que são divididos em três categorias essenciais: sabedoria, ética e meditação.

Cada um desses componentes é uma prática específica que, quando seguida corretamente, ajuda os praticantes a alcançar uma vida equilibrada e a iluminação. Os oito componentes do Caminho Óctuplo são:

  1. Visão Correta: Compreender a verdade sobre a vida e o sofrimento, reconhecendo as Quatro Nobres Verdades e a natureza impermanente de todas as coisas.
  2. Intenção Correta: Ter intenções e motivações puras, livre de desejo, aversão e ilusão. Cultivar pensamentos de compaixão e bondade.
  3. Fala Correta: Falar de maneira honesta, gentil e construtiva, evitando mentiras, fofocas, palavras duras ou prejudiciais.
  4. Ação Correta: Agir de forma ética, evitando ações prejudiciais, como matar, roubar e comportamentos destrutivos, e promovendo o bem-estar dos outros.
  5. Meio de Vida Correto: Escolher uma profissão ou forma de sustento que seja ética e não cause dano a outros seres vivos.
  6. Esforço Correto: Fazer esforço para cultivar qualidades mentais positivas e eliminar as negativas, mantendo uma mente clara e tranquila.
  7. Atenção Correta: Praticar a atenção plena, ou mindfulness, focando no momento presente, observando os pensamentos, sentimentos e ações de maneira consciente e imparcial.
  8. Concentração Correta: Desenvolver a meditação profunda, a prática de samadhi, para alcançar a paz interior e a clareza mental, que leva à sabedoria e à compreensão da verdadeira natureza da realidade.


Budismo é religião?

Sim, o budismo é considerado uma religião. Embora muitas vezes seja descrito também como uma filosofia de vida, ele possui todos os elementos característicos de uma religião, como práticas espirituais, crenças fundamentais, rituais e um sistema ético. Fundado pelos ensinamentos de Buda, o budismo propõe um caminho para a superação do sofrimento humano e a realização pelo nirvana, que é a libertação do ciclo de renascimento e morte, conhecido como samsara.

O budismo tem uma profunda influência na vida cotidiana de seus praticantes, abrangendo áreas como a ética no comportamento social, a arte, a economia e religião.

Em várias culturas asiáticas, o budismo influenciou o pensamento, as artes e as práticas sociais, criando uma forte conexão entre a espiritualidade e a vida diária. O comportamento ético e a busca pela harmonia, que são centrais no budismo, frequentemente se refletem em atitudes de compaixão, respeito e equilíbrio, impactando positivamente a sociedade e as relações econômicas. Portanto, o budismo é uma religião que vai além das crenças espirituais, exercendo também um papel transformador nas esferas sociais e culturais.

Símbolo do Budismo e Outros Elementos Importantes

símbolo budista da Roda do Dharma

O símbolo do budismo mais reconhecível é a roda do dharma, que representa os ensinamentos de Buda. A roda, também conhecida como Dharmachakra, é composta por oito raios que simbolizam o Caminho Óctuplo, o caminho para a iluminação e a superação do sofrimento. Cada raio da roda é um princípio fundamental dos ensinamentos budistas, refletindo as práticas de ética, meditação e sabedoria.

suástica budista no peito de uma imagem do Buda

Outro símbolo significativo no budismo é a suástica budista. Embora a suástica tenha sido associada ao nazismo, no budismo, ela tem um significado profundamente positivo, simbolizando bem-estar, boa sorte, prosperidade e o movimento eterno do ciclo de vida e renovação, ou samsara. A suástica no budismo representa também a harmonia universal e a conexão com o divino, associando-se à ideia de movimento contínuo e equilíbrio.

Além desses, outros símbolos importantes no budismo incluem:

SÍMBOLOS BUDISTAS SIGNIFICADO

Flor de Lótus

simbolo budista lotus
O lótus é um símbolo central no budismo, representando a pureza espiritual e o despertar. Como a flor de lótus cresce na lama e se eleva para a luz, ela simboliza o processo de purificação e iluminação do praticante, que emerge do sofrimento para alcançar a sabedoria.

Peixes dourados

simbolo budista peixes
Os peixes dourados simbolizam a sabedoria, a vida longa e a felicidade. Representam a harmonia e a paz.

Nó Infinito

simbolo budista nó infinito
O nó infinito, também conhecido como símbolo do karma, representa a interconexão de todos os fenômenos e a lei de causa e efeito no budismo. Suas linhas entrelaçadas, sem começo nem fim, simbolizam como todas as ações, pensamentos e palavras estão interligados, criando um ciclo contínuo de karma. Esse símbolo nos lembra que nossas escolhas geram consequências que se estendem ao longo do tempo, afetando tanto nossas vidas quanto as de outros, até que se alcance a liberação do sofrimento e a iluminação.


Budismo Acredita em Deus?

Uma das perguntas frequentemente levantadas é se Deus existe para o budismo. A resposta é um tanto complexa. Mas, ao contrário das religiões teístas, como o cristianismo, o budismo não se concentra em um deus criador. Em vez disso, ele enfoca o autoconhecimento e a experiência direta da realidade. Buda não foi visto como um deus, mas como um mestre que ensinou o caminho para a iluminação. Para os budistas, a prática espiritual e a sabedoria interior são o caminho para superar o sofrimento, e não a crença em uma entidade divina.

Karma: Significado Espiritual no Budismo

No budismo, o conceito de karma é uma das doutrinas mais fundamentais e pode ser entendido como a lei universal da causa e efeito. O karma refere-se à ideia de que todas as nossas ações, palavras e pensamentos geram consequências, que podem se manifestar no presente ou no futuro, tanto nesta vida quanto em futuras reencarnações.

Essas consequências não são vistas como punições ou recompensas, mas como reflexos naturais do que plantamos, sendo o resultado direto de nossas intenções e comportamentos. Assim, o karma ensina que somos responsáveis pelas escolhas que fazemos, e que, ao cultivar ações positivas, compassivas e altruístas, podemos criar um destino mais favorável, não apenas para nós mesmos, mas para os outros ao nosso redor. Em última análise, o karma no budismo é um convite à reflexão sobre nossas atitudes e como elas estão relacionadas a nossa experiência de vida, influenciando nosso caminho em direção ao nirvana e à superação do sofrimento.

O que é Nirvana budista?

O nirvana no budismo é o estado de liberação e iluminação final, onde o praticante supera completamente o sofrimento, o desejo e o apego, alcançando a paz e a tranquilidade absolutas. O termo nirvana significa "extinção", referindo-se ao fim do ciclo de samsara, que é o ciclo contínuo de nascimento, morte e renascimento. Nesse estado, a mente se liberta de todos os condicionamentos e ilusões, alcançando uma compreensão profunda da verdadeira natureza da realidade.

Alcançar o nirvana significa transcender as limitações do ego e do sofrimento, atingindo a sabedoria, compaixão e serenidade. Embora o nirvana seja muitas vezes descrito como a libertação do sofrimento, ele também é visto como um estado de realização espiritual, onde a pessoa vive em harmonia com o universo e experimenta uma paz que não é afetada pelas dificuldades e impermanências da vida. Para o budismo, existe um caminho para alcançar o nirvana, que seria guiado pelos ensinamentos de Buda. O caminho inclui as Quatro Nobres Verdades e o Caminho Óctuplo, que proporcionam as ferramentas necessárias para alcançar essa transformação interior.

Frases de Buda: Sabedoria para a Vida

Abaixo, apresentamos algumas das frases de Buda que transmitem a sabedoria profunda do mestre iluminado. Entre as mais célebres, destacam-se:

  • “Jamais, em todo o mundo, o ódio acabou com o ódio. O que acaba com o ódio é o amor”
  • “Ao cuidar de si mesmo, você cuida dos outros. Ao cuidar dos outros, você cuida de si mesmo”
  • “Não pela eloquência ou pela bela aparência uma pessoa é bela, se ela for invejosa, egoísta, enganadora”
  • "Somos o que pensamos. Tudo o que somos surge com nossos pensamentos. Com nossos pensamentos, fazemos o mundo."


Conclusão

O budismo é uma prática religiosa profunda que oferece um caminho de transformação pessoal e coletiva. Desde sua origem na Índia até sua disseminação pelo mundo, continua a ser uma fonte de inspiração, sabedoria e paz para milhões de pessoas. As questões centrais do budismo, como karma, nirvana e os ensinamentos de Buda, nos ajudam a entender melhor nossa própria vida e o universo em que vivemos. Afinal, o budismo nos ensina que, para alcançar a verdadeira felicidade, devemos primeiro olhar para dentro de nós mesmos e cultivar a sabedoria, a compaixão e a paz.

Perguntas Frequentes sobre o Budismo

O que os budistas acreditam?

Os budistas acreditam que a vida é permeada pelo sofrimento, conhecido como "dukkha", e que esse sofrimento pode ser superado através da compreensão profunda da natureza da realidade. Eles seguem os ensinamentos de Buda, que revelou o caminho para alcançar a iluminação e o nirvana, um estado de liberação do ciclo de sofrimento e renascimento. A prática do budismo envolve a observância do Caminho Óctuplo, que inclui ética, meditação e sabedoria, como formas de transformar a mente e alcançar a paz interior.

O que é budismo: resumo

Budismo é uma religião fundada por Buda no século VI a.C., que ensina como superar o sofrimento e alcançar a paz interior. Através de práticas como meditação, autocompreensão e ética, os budistas buscam a iluminação, ou nirvana, um estado de liberdade do sofrimento e do ciclo de renascimento. O budismo não foca na adoração a um deus, mas no desenvolvimento da sabedoria e compaixão para transformar a própria vida.

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Referências

https://pt.wikipedia.org/wiki/Budismo

https://bodisatva.com.br/os-oito-simbolos-auspiciosos-do-budismo-tibetano/

https://cebb.org.br/o-que-e-o-budismo/#:~:text=O%20budismo%20%C3%A9%20um a%20religi%C3%A3o,s%C3%A1bio%20do%20cl%C3%A3%20dos%20Sakya.

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Saiba o que é Filosofia, o que estuda e principais pensadores. Veja a lista de melhores cursos para estudar à distância, do introdutório ao avançado.

Entenda o que é Filosofia, como ela surgiu e sua importância para o mundo. Vamos conhecer os períodos e principais pensadores que marcaram a história da Filosofia, as áreas de estudo, além dos melhores cursos à distância para aprender sobre esta área do conhecimento.

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Quais os passos para estudar Filosofia?

É comum as pessoas entenderem que estão filosofando (e de fato o estão) ao se verem introspectivas refletindo sobre qual o sentido da vida, observando as árvores, animais, as estrelas e ao se espantarem diante da grandeza do universo em contraste com a pequenez do homem.

Estruturar o pensamento filosófico, no entanto, está longe de ser uma tarefa simples. É possível acessar um material rico já construído por mentes brilhantes com reflexões e métodos que servem como guia para se construir o saber filosófico.

Por isso, além de explorar uma inquietação filosófica espontânea, aprender filosofia significa essencialmente se debruçar sobre a própria história da filosofia, seus conceitos e métodos.

O que a Filosofia estuda?

Este campo do saber procura investigar as nossas origens, a existência, as transformações observadas na natureza, e as relações e experiências do homem no mundo.

A partir da curiosidade, questionamentos e observações sobre o que está à nossa volta, é possível filosofar sobre tudo o que possa provocar espanto, despertar dúvidas ou admiração. Dentro de seu estudo sistematizado, encontramos diversas áreas de investigação.

Um exemplo é o estudo da Ética, onde a filosofia se propõe a refletir sobre valores morais e as ações humanas, levanta questões sobre a definição do que é o bem e o mal, o certo e o errado ou o conceito de justiça.

Outro ramo é a Estética, em que o interesse está focado na experiência artística, sendo possíveis questionamentos sobre a concepção do que é considerado belo ou a reflexão sobre o papel da arte na sociedade. Estes são apenas alguns exemplos das muitas ramificações possíveis para desenvolver o pensamento filosófico.

pintura escola de atenas, de rafael sanzio
Afresco "A Escola de Atenas", de Rafael Sanzio, que apresenta Platão e Aristóteles ao centro.(Wikimedia Commons)

Quem pode estudar Filosofia?

Pelo seu aspecto livre e universal, a filosofia é acessível a todas as pessoas que desejam se lançar ao estudo da área, abarcando desde a trajetória acadêmica formal ao puro desejo pessoal de estudar a existência e as questões que nos concernem.

Dentro deste espaço de aprendizado, encontramos diferentes ramos de estudo - como moral, ética, política, religião, epistemologia - diversos pensadores e períodos históricos, além de tratar de dilemas ancestrais até questões contemporâneas. Em cada campo mencionado, há um universo inesgotável de possibilidades de investigação e estudo.

A Filosofia não implica em uma posição de posse do saber, mas uma prática do pensar a realidade pela razão. Por isso, seu estudo não se limita apenas ao caminho acadêmico. A Filosofia é para todos aqueles que têm curiosidade de saber, que desejam questionar, se debruçar nas questões levantadas por grandes pensadores e analisar criticamente a realidade, trilhando um caminho próprio em busca da verdade.

Por onde começar a estudar Filosofia?

A construção de aprendizado nesta área do saber é subjetiva e marcada por um exercício constante de elaboração em relação aos mistérios da vida. Para começar os estudos em Filosofia , sabemos que é necessário traçar minimamente um caminho para início da jornada.

Os estudos iniciais geralmente tomam por partida o pensamentos de filósofos ocidentais, como Sócrates, Platão e Aristóteles, através de textos considerados fundamentais, como a obra “O Banquete”, de Platão. Porém, indicar a leitura dos textos pode não ser o suficiente para a devida compreensão do tema.

Por isso, passaremos ponto a ponto pela história da filosofia, grandes pensadores e áreas de estudo para que você consiga entender um pouco mais sobre o percurso e encontrar as melhores opções de cursos de filosofia.

O que é Filosofia e como surgiu?

Traçar uma definição clara e simples da filosofia é uma tarefa desafiadora, pois sua estrutura conceitual é baseada em uma linguagem complexa e necessita de um certo conhecimento prévio na área para compreendê-la em essência. É da natureza da filosofia não contar com respostas imediatas.

A filosofia é um livre saber que se baseia na razão para explicar a realidade a partir do uso de conceitos. A palavra "filosofia" (do grego φιλοσοφία) resulta da união de outras duas palavras:

- "philos” - significa "amizade", "amor fraterno" (não no sentido erótico), desejo intenso por algo e respeito entre os iguais.

- "sophia” - significa "sabedoria", "conhecimento".

Filosofia significa, portanto, amizade ou amor pela sabedoria, amor e respeito pelo saber ou pelo conhecimento. A partir da Filosofia, o homem pode caminhar em direção à autonomia para pensar sobre si mesmo e o mundo e, por isso, carrega um sentido de liberdade. É um exercício do pensar e constante busca pelo saber, uma atitude que não se submete a nenhuma forma de controle ou qualquer outro conhecimento.

A origem da filosofia remonta à Grécia Antiga, no século VI a.C, e marca a transição do pensamento mítico para o da razão. Surge não por uma pergunta teórica ou alguma questão efetiva, mas a partir da admiração diante de fenômenos que ultrapassam o poder do conhecimento e provocam curiosidade, temor e espanto.

À época, fenômenos naturais que não podiam ser explicados, como a noção de finitude marcada pela vida e morte, a mudança das estações ou a transição entre dia e a noite, eram ilustrados por meio de mitos.

Os mitos eram narrativas que pretendiam explicar a origem dos deuses e do universo de forma fantasiosa e sobrenatural, onde eram representados os fenômenos da natureza, os sentimentos humanos e as contradições presentes na sociedade.

Mito de Perséfone: a mudança das estações pela mitologia grega

imagem antiga retratando mito de perséfone e hades exposta no British Museum,em Londres
Representação de Perséfone e Hades - Vulci, c. 440-430 BCE. (British Museum, London)

Segundo conta a mitologia grega, Perséfone era filha de Zeus com Deméter, deusa da colheita e da agricultura. Um dia, ao ver a jovem colhendo flores em uma pradaria, Hades, o deus do submundo, se apaixona por Perséfone e a sequestra.

Enfurecida e entristecida pelo sumiço da filha, Deméter deixa o Olimpo e passa a não cumprir suas funções de colheita, tornando o solo da Terra estéril. Ao notar a devastação causada pela ausência de Deméter, Zeus envia o mensageiro Hermes ao submundo para negociar a libertação de Perséfone. No entanto, sem saber das consequências, a jovem havia ingerido sementes de romã oferecidas por Hades, fato que criou uma ligação eterna com o submundo e que a impediu de deixá-lo permanentemente.

Assim, foi feito um acordo: Perséfone viveria dois terços do ano com Deméter, representado o período de boa colheita, quando Deméter estava contente pela chegada da filha (primavera e verão) e um terço do ano com Hades, representando o período de dificuldade na colheita, pois Deméter estava infeliz por conta do regresso da filha para o submundo (outono e, principalmente, inverno)

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Por que a Filosofia surgiu na Grécia?

Há diferentes teses sobre esta questão. Uma delas é conhecida como “Milagre Grego”, em que se acreditava que a Filosofia surgiu de maneira única, inesperada e espontânea na Grécia , como defendia o historiador Diógenes Laércio (180-240 d.C).

Outra vertente considera que as transformações vivenciadas pelos gregos se deram por conhecimentos advindos dos povos “orientais”, através de uma herança dos egípcios, caldeus, babilônios e persas, contribuindo para que florescessem conhecimentos como geometria, astrologia e meteorologia.

Por uma visão histórica, é possível constatar que a topografia da região facilitou a construção de portos, viagens marítimas e intercâmbio econômico. Isso levou os gregos ao contato com outras civilizações e seus diferentes mitos, trazendo descrença e busca por explicações mais racionais sobre o mundo.

mapa do mundo grego referente ao período histórico de início da filosofia
Mapa do mundo grego - Reprodução: Livro “Iniciação à História da Filosofia - dos pré-socráticos a Wittgenstein, de Danilo Marcondes


Quais foram os primeiros filósofos?

A estrutura e modelo político desenvolvidos nas polis gregas, propiciaram o surgimento dos primeiros filósofos, conhecidos como pré-socráticos. Eles se concentravam na pergunta e busca pelo arché, que seria o elemento primordial a que todas as outras coisas se derivam, a substância primeira capaz de constituir todo o universo e tudo o quanto existe na realidade.

Tales de Mileto (sec. VII e VI a.C) é considerado o primeiro filósofo da História. Marcou o rompimento em relação ao mito ao questionar racionalmente a natureza, buscando compreender o mundo a partir da investigação e não se satisfazendo com as respostas fantásticas e sobrenaturais colocadas pela mitologia. Ele propôs que a água era a substância fundamental e que compunha todas as coisas que existiam no mundo.

Não à toa os filósofos pioneiros são chamados de pré-socráticos. Esta definição já indica a importância do legado deixado por Sócrates, que contribuiu de forma consistente para o início e desenvolvimento do período conhecido como filosofia clássica, seguido por Platão e Aristóteles. A partir de então, a disciplina se desenvolve com métodos mais sistemáticos e analíticos de investigação, e se expande para áreas como´ética, política, lógica e epistemologia.

Para entendermos melhor essa caminhada, vamos conferir os períodos que marcam a filosofia e um pouquinho da característica de cada um deles.

Imagem de Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo
Imagem de Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo da História. (Wikimedia Commons)


Conheça os períodos e grandes pensadores da Filosofia

Os períodos da Filosofia são marcados por diversas condicionantes, que refletem mudanças estruturais e impactam no modo de vida da sociedade. Acontecimentos históricos, descobertas científicas e tecnológicas, mudanças políticas, entre outros fatores são determinantes para uma mudança de comportamento em relação ao modo de se pensar e se viver no mundo.

As ideias propostas por grandes pensadores, advindas de suas reflexões e expostas em suas obras, contribuem de forma substancial para esta demarcação entre os períodos. Confira a lista dos períodos abaixo:

  • Filosofia Antiga (séc.VI a.C. até sec. V d.C):

    Este período marca o início da Filosofia , que começou na Grécia Antiga e se estendeu até ao mundo romano. Foi iniciada pelos Pré-Socráticos, com as investigações sobre a natureza, ordem e origem do mundo (cosmologia) e seguiu com Sócrates, Platão e Aristóteles, que trouxeram as atenções para o homem (“conhece-te a ti mesmo”) e estabeleceram as bases da ética, epistemologia e metafísica ocidentais. No período helenístico, escolas como o Estoicismo e o Epicurismo focaram na ética prática e na busca pela felicidade.

    ⭐ Pensadores do período da Filosofia Antiga:

    Sócrates, Platão, Aristóteles, Epicuro, Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímees, Heráclito, Pitágoras, Parmênides e Zenão.

  • Filosofia Medieval (séc. V d.C até séc XV d.C):

    Este longo período histórico vai do final do helenismo até o Renascimento e o início do pensamento moderno e marca a fusão da filosofia grega com as tradições religiosas, como o cristianismo. Os principais temas incluíam a relação entre fé e razão, a natureza de Deus, a existência da alma e a moralidade.

    A maior parte da produção conhecida como “filosofia medieval”, porém, está concentrada entre os séculos XII e XIV, período do surgimento e desenvolvimento da escolástica. Filósofos como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, buscaram integrar o pensamento racional à fé religiosa. Esse período foi essencial para o desenvolvimento da filosofia e ciência modernas.

    ⭐ Pensadores do período da Filosofia Medieval:

    Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Anselmo de Cantuária, Boécio, Duns Scotus, Guilherme de Ockham e Avicena (Ibn Sina).

  • Filosofia Moderna (séc. XVII d.C até XIX d.C):

    A filosofia moderna representa um movimento centrado na ideia de progresso e valorização da subjetividade. Impulsionado pela queda do regime feudal, ascensão burguesa, descobertas científicas e declínio da influência da Igreja Católica, a filosofia passa a operar pela razão e empirismo científico.

    Pensadores como Descartes, Locke, Kant, Spinoza e Hume exploraram o conhecimento, a mente humana e a realidade. Esse período destacou a importância da liberdade, do governo e dos direitos humanos, influenciando a ciência, a política e a ética. O Iluminismo enfatizou a razão e a ciência como caminhos para o progresso, enquanto Hegel e Marx moldaram debates filosóficos e sociais que são relevantes até os dias de hoje.

    ⭐ Pensadores do período da Filosofia Moderna:

    René Descartes, Immanuel Kant, John Locke, David Hume, Baruch Spinoza, Thomas Hobbes, Jean-Jacques Rousseau, Francis Bacon, G.W.F. Hegel, Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche e Karl Marx.

  • Filosofia Contemporânea (séc. XX - atualmente):

    Abarcando o início do século XX até os dias atuais, o período abrange uma ampla gama de temas que refletem as profundas mudanças sociais, políticas e tecnológicas. Pensadores como Sartre, Foucault, Derrida e Deleuze exploraram questões fundamentais como a natureza da existência, o exercício do poder, a linguagem e a construção da identidade.

    Já o movimento analítico, representado por Wittgenstein e Russell, concentrou-se na lógica e na análise da linguagem como instrumentos centrais de investigação filosófica. Temas como ética, direitos humanos, feminismo e desafios contemporâneos relacionados à questões ambientais e tecnológicas são evidenciados neste período. Este cenário apenas comprova a importância do estudo contínuo e relevância da filosofia para pensarmos os dilemas e as complexidades do mundo atual.

    ⭐ Pensadores do período da Filosofia Contemporânea:

    Jean-Paul Sartre, Michel Foucault, Jacques Derrida, Gilles Deleuze, Martin Heidegger, Ludwig Wittgenstein, Simone de Beauvoir, Hannah Arendt e Jürgen Habermas

Foto da “O pensador”,de Auguste Rodin, escultura de homem com a mão no queixo pensando filosoficamente, exposta no Musée Rodin, em Paris, na França.
Escultura “O Pensador”, obra-prima de Auguste Rodin. Representa a introspecção, contemplação e a intelectualidade. Reprodução: Site Musée Rodin

“O que faz meu Pensador pensar é que ele pensa não só com o cérebro, mas também com suas sobrancelhas tensas, suas narinas distendidas e seus lábios comprimidos. Ele pensa com cada músculo de seus braços e pernas, com seus punhos fechados e com seus artelhos curvados”

- citação de Auguste Rodin sobre a própria obra.



Conheça as áreas de estudo da Filosofia

Entender as ramificações da filosofia é um passo interessante para vislumbrar os passos de investigação na área.

Confira de forma um pouco mais detalhada algumas das principais ramificações da Filosofia abaixo:

  • Metafísica:

    Você já parou para refletir sobre o que é a alma ou mesmo a existência?

    Essas são algumas das perguntas abordadas pelos filósofos nesta área de estudo. A palavra metafísica vem de um vocábulo grego que significa “depois da física” ou “além do físico”, por isso investiga a realidade como um todo e o que está além do mundo físico e da experiência de nossos sentidos.

  • Epistemologia:

    O que é a verdade? Ela é subjetiva ou objetiva? Como definir quais fontes de conhecimento são válidas e por que algumas ideias têm mais espaço do que outras?

    Conhecida como “teoria do conhecimento”, este é um dos campos principais da filosofia, onde se estuda a relação do sujeito com o conhecimento, os tipos de conhecimento e em que investiga-se sua origem, limites e validade.

  • Ética:

    Esta área se debruça sobre questões morais e as ações humanas como uma ciência do bom comportamento para construir uma vida boa para o todo em sociedade.

    Busca refletir sobre bem e mal, bom e ruim e levantar debates sobre condutas de comportamento humano como a definição do que é certo e errado e a noção de justiça.

  • Estética:

    Ao visitar um museu, é possível que você escute alguém questionando a beleza das obras expostas. Afinal como - ou quem - define o que é o belo?

    Conhecida também como “Filosofia da Arte” , a estética se dedica a estudar o conceito do que é belo e do fenômeno artístico, refletindo sobre percepções e sensações para além do gosto pessoal de cada um, mas levando em conta também a natureza da criatividade na arte e aspectos culturais.

  • Filosofia Política:

    Ao longo da história, presenciamos diversos tipos de ideologias e formas de governar. Este ramo da filosofia busca refletir sobre a natureza do poder, da justiça, igualdade, direitos e liberdade.

    Por que um governo precisa existir, o que o torna legítimo e de que forma ele se estabelece? O que é cidadania e qual a sua importância da participação política? A política está presente na vida social de todos e as perguntas feitas pela filosofia são de grande importância para a sociedade.

  • Lógica:

    A lógica é utilizada para construir e validar raciocínios, distinguindo o que é correto e o que é incorreto no intuito de encontrar um resultado verdadeiro.

    A partir de diferentes métodos, como dedução e indução, direciona a linha de pensamento para uma conclusão que seja coerente. Confira abaixo um exemplo de silogismo, modelo dedutivo introduzido por Aristóteles:

    1ª premissa: Todos os homens são mortais

    2ª premissa: Sócrates é homem

    Conclusão: Sócrates é mortal.

Agora que já entendemos um pouco mais sobre a história da filosofia e suas áreas de estudo, vamos conferir uma lista com os melhores cursos de filosofia para você estudar à distância?

Melhores cursos online de Filosofia com certificado

Até aqui aprendemos algumas informações importantes sobre a Filosofia, mas como começar a de fato a estudar os métodos, conceitos e enriquecer a caminhada em busca de respostas às questões filosóficas de forma mais satisfatória e menos “aventureira”? Separamos cursos por alguns recortes que podem auxiliá-lo nesta empreitada em busca de conhecimento.

Indicaremos cursos de filosofia relacionados especificamente a períodos históricos, cursos focados na vida e obra de pensadores, grandes questões da humanidade ou em áreas de estudo da Filosofia. Todos os cursos listados geram certificado de conclusão.

Cursos introdutórios sobre Filosofia

Para todo início, precisamos “começar do começo”. Considere partir por aqui se você está tendo o primeiro contato com Filosofia e gostaria de ser apresentado a ela antes de seguir para caminhos mais profundos na área.

  • Introdução à Filosofia, por Franklin Leopoldo e Silva
    07 aulas | Duração (50 min)

    Este curso é bem interessante para quem está buscando algo bem introdutório. Nele, o professor Franklin Leopoldo e Silva explica sobre o surgimento da Filosofia de maneira leve, clara, sem abordar conceitos complexos e difíceis de assimilar para um iniciante.

    O curso ajuda a entender como o início da Filosofia contribuiu para criar as bases teóricas do conhecimento e que definiram o ponto de partida para a ciência.

    Assistir ao curso


  • Introdução à Mitologia Grega, por Julia Myara
    02 aulas | (50 min)

    Se a Filosofia surgiu na Grécia Antiga e marcou uma transição do mito para a razão, é interessante conhecer um pouco sobre a mitologia grega.

    Conheça a origem do mito, as primeiras gerações de Deuses e entenda como essa concepção de mundo sustentava a compreensão dos gregos em relação à existência.

    Assistir ao curso


  • Para Começar a Estudar Filosofia, por Mauricio Pagotto Marsola
    08 aulas | (3h03)

    Este curso traça um bom caminho para efetivamente iniciar os estudos na área.

    Você será apresentado a obras fundamentais que servem como base para o aprendizado da Filosofia, como “O Banquete”, de Platão, e terá um panorama sobre pensadores e ideias que alicerçam o pensamento filosófico.

    Assistir ao curso


Cursos sobre as áreas de estudo da Filosofia

Vimos anteriormente neste texto, que a Filosofia tem algumas áreas de estudo. Seguem abaixo algumas opções de cursos relacionados às áreas de investigação da disciplina para que você possa se debruçar:

  • Jornada da Filosofia: Ética, por Douglas Rodrigues Barros
    06 aulas | (2h57)

    Como a ética pode contribuir para uma vida boa para o todo na sociedade?

    Reflita sobre público e privado, certo e errado, justo e injusto e desenvolva recursos de pensamento a partir da introdução às ideias de diferentes pensadores a respeito do tema.

  • Assistir ao curso



  • Jornada da Filosofia: O que é Beleza?, por Eduardo Wolf
    06 Aulas | (3h03)

    Como entender a Beleza para além do gosto pessoal? Seja introduzido à história do conceito de beleza ocidental.

    Entenda como os gregos a enxergavam, tenha um panorama sobre o ponto de vista da Filosofia e compreenda a importante relação da beleza com a maneira como lidamos com o mundo e a vida em sociedade.

  • Assistir ao curso



  • Jornada da Filosofia: Saber, por Suze Piza
    07 aulas | (3h56)

    Por que as afirmações e hipóteses de alguns têm mais espaço e aceitação do que outras?

    Debruce-se pela epistemologia, área de estudo da Filosofia que investiga o conhecimento, suas origens e conceitos sobre a verdade e tenha uma perspectiva da filosofia refletida sobre ela mesma e outros saberes.

  • Assistir ao curso


Cursos sobre períodos históricos da Filosofia

Nesta série, o professor Paulo Niccoli Ramizes apresenta o "Guia Essencial da Filosofia", traçando um panorama com os pontos mais importantes, mudanças, grandes pensadores e as questões trabalhadas no período destacado no curso.

Cursos sobre grandes pensadores da Filosofia

Uma boa maneira de estudar Filosofia é compreender a vida, obra e visão de mundo do filósofo em específico. Confira algumas indicações de cursos neste sentido:

  • Os pensadores: Aristóteles, por Franklin Leopoldo e Silva
    04 aulas | (1h51)

    Entenda a importância e legado de Aristóteles para a Filosofia.

    O curso aborda o pensamento aristotélico e mostra que ele entendia a virtude como a melhor maneira de agir nas ocasiões que se apresentam durante a vida, pois depende, em grande parte, do uso da razão.

  • Assistir ao curso



  • Um dia com Spinoza, por Clóvis de Barros Filho
    07 aulas | (2h54)

    Nascido em Amsterdã em uma família de origem portuguesa, Espinosa (1632-1677) é um dos nomes mais importantes da filosofia moderna.

    Neste curso, os conceitos do pensador sobre ética, Deus e paixões são abordados pelo professor Clóvis de Barros Filho.

  • Assistir ao curso



  • Nietzsche: Vida, Obra e Legado, por Scarlett Marton
    08 aulas | (1h35)

    Seja introduzido ao pensamento de um dos filósofos mais conhecidos (e mais controversos) da história: Friedrich Nietzsche.

    Criador do termo "Übermensch" e da concepção filosófica do "Eterno Retorno" , acreditava que o homem precisava superar seus próprios valores para alcançar a evolução.

  • Assistir ao curso


Cursos de Filosofia sobre temas atuais

A Filosofia permanece viva e atual, trazendo uma visão crítica sobre o modo que vivemos, levantando questões importantes sobre a dinâmica neoliberal, feminismo, questões ecológicas, entre outros assuntos. Conheça alguns cursos de filosofias interessantes para se debater os dilemas contemporâneos abaixo:

Esperamos que este texto tenha te ajudado a compreender melhor sobre o que é Filosofia, suas áreas de estudo, períodos e grandes pensadores.

Se você tem sede por conhecimento e deseja aprender mais sobre Filosofia com professores de referência, conte com os cursos da plataforma Casa do Saber +!




Antropocentrismo: o que é, conceitos, bases e controvérsias
Tainá Voltas
Antropocentrismo: o que é, conceitos, bases e controvérsias
Entenda o que é o antropocentrismo, como essa doutrina filosófica influenciou as ciências ocidentais e porquê ela é questionada atualmente.

Se você busca um resumo sobre o antropocentrismo, seus conceitos, ideias, além de um aporte sobre qual visão essa corrente defende, está no lugar certo. Ao longo desse artigo, vamos destrinchar o tema a partir do seguinte guia:



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De forma geral, podemos definir o antropocentrismo como um conceito filosófico que acredita na importância e preponderância do potencial humano, principalmente em comparação às demais coisas que compõem o universo.

Ou seja, tem como objeto de estudo o ser humano, compreendendo-o como um ser dotado de inteligência e que, por isso, é capaz de usar a razão para explicar o cosmos, a vida e os elementos que estão ao seu redor.

Trata-se de uma visão de mundo que usa o “homem” como principal referencial, ou que interpreta a realidade sob uma perspectiva dos valores, feitos e experiências humanas.

Desenho homem Vitruviano.
Desenhado por Leonardo da Vinci em 1490, o Homem Vitruviano é um dos mais conhecidos símbolos do antropocentrismo e do renascimento. As proporções matemáticas da imagem são destacadas como forma de enaltecer a simetria básica do corpo humano, destacando o olhar cuidadoso do pintor para o ser humano e para as medidas matemáticas. (Fonte: Leonardo Da Vinci - Photo from Luc Viatour.. 2007-09-08)


Qual o conceito de antropocentrismo e como ele influenciou a Filosofia Moderna?

Para compreender o que é o antropocentrismo é necessário, primeiro, saber sobre quais bases essa filosofia foi desenvolvida.

A visão antropocêntrica está associada diretamente à queda da Idade Média, da acepção medieval de mundo e do referencial predominante à época - o teocentrismo. Enquanto este acreditava em uma realidade totalmente orientada por e para Deus, advindo daí o termo "teo (Deus) + centrismo (centro)", o antropocentrismo propunha uma crítica direta a tal modelo.

Dessa forma, utilizava o "homem" como seu ponto de partida para a compreensão do universo, explicando os fenômenos cosmológicos e naturais não mais pela lógica da fé, mas sim pela racionalidade.

Assim, podemos definir o antropocentrismo como uma visão de mundo racionalista e científica, que tem o ser humano como figura central, priorizando a experimentação como seu método oficial de checagem dos fatos.

Quando surgiu o antropocentrismo?

O antropocentrismo foi estruturado em meados do século XV e XVI, enquanto a Europa passava por grandes transformações, tais quais as navegações, a reforma protestante, o surgimento da burguesia, entre outros marcos históricos que indicavam a ruptura do sistema feudal com a passagem para a dinâmica mercantil/capitalista.

Na prática, o conceito filosófico fez parte do movimento humanista renascentista, que buscava incentivar a reflexão a partir da cientificidade, afastando-se diametralmente da crença de uma realidade condicionada às vontades de uma divindade.

Por fazer tal crítica ao teocentrismo e por estabelecer novos caminhos para a filosofia moderna em geral, o antropocentrismo influenciou significativamente o desenvolvimento de diversas áreas do conhecimento, como as ciências naturais, a política e a arte.

Figura de Nicolau Copérnico
Nicolau Copérnico (1473 - 1543) é reconhecido por ter desenvolvido a teoria do “Heliocentrismo”, a qual acreditava que a Terra girava ao redor do sol e não o contrário - como se acreditava até então. A partir dessa perspectiva, o teocentrismo e o geocentrismo (defendidos pela Igreja Católica) passaram a ser questionados tecnicamente, o que contribui para uma transformação dos paradigmas de compreensão do mundo e da humanidade. Os estudos Copérnicos são considerados marcos pioneiros do antropocentrismo.(Fonte: Domínio Público)


Esse pensamento voltado ao ser humano foi essencial para a consolidação do racionalismo, abrindo espaço, inclusive, para que outras escolas filosóficas importantes prosperassem, como o empirismo e o iluminismo. Ambas valorizavam a razão e a experiência humana como fontes de conhecimento, adequando suas pautas aos ideais antropocêntricos.

Assim, a partir da sistematização do antropocentrismo, a sociedade ocidental passou a se organizar de modo a objetivar o progresso humano, o desenvolvimento tecnológico e a exploração dos recursos naturais para benefício da humanidade e do seu avanço.

Nesse contexto, a subordinação a uma ordem divina foi abdicada, ao passo que outras fontes de verdade, que não aquelas dispostas nas liturgias religiosas, passaram a ser consideradas legítimas.

Ainda que a fé continuasse como parte constitutiva da realidade da época, não sendo deixada de lado, o antropocentrismo possibilitou que a realidade também fosse confrontada com a racionalização.

Guia Essencial da Filosofia: Pensamento Moderno

O curso apresenta um panorama das bases do pensamento ocidental, do renascimento à virada do século XX. Galileu e Copérnico, Descartes, Locke, Kant, Maquiavel a Adam Smith, Marx, John Stuart Mill, Max Weber, entre outros. Aprenda com a Casa do Saber +!

thumb curso 'Guia Essencial da Filosofia: Pensamento Moderno', de Paulo Niccoli Ramirez





Diferença entre teocentrismo e antropocentrismo

Tanto o antropocentrismo quanto o teocentrismo desempenharam papeis fundamentais na formação do pensamento ocidental ao longo dos séculos, mas diferem-se essencialmente em seu ponto de partida para interpretar a realidade.

No teocentrismo, Deus é o centro absoluto e ocupa uma posição de superioridade hierárquica em relação a todas as outras coisas no universo, sendo a divindade a única fonte legítima para explicar o mundo natural e a vida humana. Essa visão teocêntrica foi amplamente promovida pela Igreja Católica durante a Idade Média, reforçando sua autoridade e influência sobre a sociedade.

Com o surgimento do antropocentrismo, porém, a centralidade foi transferida do divino para o ser humano, destacando a racionalidade e a experimentação científica como as principais formas de interpretar a realidade.

Aspectos Teocentrismo Antropocentrismo
Conceito Visão de mundo que coloca Deus como o centro de tudo, sendo a divindade a fonte de explicação do universo e da vida humana. Perspectiva filosófica que coloca o ser humano como o centro do universo, explicando a realidade a partir da racionalidade e da experiência humana.
Período Predominou durante a Idade Média (séculos V-XV). Surgiu no Renascimento (séculos XV-XVI), com forte influência nas eras subsequentes.
Fundamentos Explicação dos fenômenos a partir da fé e das escrituras sagradas. Busca pela explicação científica, racional e metodológica dos fenômenos.
Figura central Deus e as divindades. O ser humano, com ênfase em sua capacidade de raciocínio.
Relação com a ciência A ciência subordinada à teologia e aos dogmas religiosos. A ciência desvinculada da religião, centrada na observação, experimentação e raciocínio lógico.
Expoentes Santo Agostinho (354-430), Tomás de Aquino (1225-1274). Leonardo da Vinci (1452-1519), Nicolau Copérnico (1473-1543), René Descartes (1596-1650).



O filósofo alemão Ludwig Feuerbach (1804 - 1872), em sua crítica às religiões e ao teocentrismo, sugeria que ambos os paradigmas não seriam necessariamente opostos, mas sim duas faces de uma mesma moeda.

Para ele, as religiões teriam sido criadas para atender às necessidades humanas, funcionando como uma projeção dos anseios e fragilidades do ser humano.

Nesse sentido, mesmo o teocentrismo, que colocava Deus no centro, serviria indiretamente ao homem oferecendo consolo e explicações que ajudassem a minimizar suas angústias existenciais.

Contudo, a maioria dos estudiosos e a visão comum tendem a interpretar o antropocentrismo e o teocentrismo como entendimentos contrastantes, alicerçados nas diferenças evidenciadas na tabela acima.

Um Dia com Espinosa

Assista ao curso sobre o filósofo que ousou a considerar um Deus tal qual a natureza. Conheça a história por trás do lema "Deus Sive Nature" (Deus é tanto substância como natureza).

thumb do curso 'um dia com espinosa', de Clovis de Barros Filho





Resumo do Antropocentrismo em 10 tópicos

Para sistematizarmos o conhecimento, vamos compreender o que é o antropocentrismo por meio de um resumo do que apresentamos até aqui.

Dizemos, assim, que o antropocentrismo refere-se à uma visão e a um conjunto de ideias que tem o ser humano como seu referencial de compreensão de mundo.

É uma das principais críticas ao teocentrismo, tendo como objetivo a observação das relações humanas, sociais e naturais a partir da racionalidade, da cientificidade e da experimentação.

Ao promover essa ruptura com a perspectiva teocêntrica, o antropocentrismo se tornou um pilar fundamental do pensamento moderno, moldando disciplinas como a ciência, a política, a filosofia e a ética.

Antropo (homem) + centrismo (centro).

Assim:

  1. É estruturado em meio à queda da Idade Média, do sistema feudal e da crise do teocentrismo (séculos XV e XVI);
  2. Faz parte do humanismo renascentista e tem na figura de Nicolau Copérnico um de seus marcos criadores;
  3. Prioriza o ser humano como figura central;
  4. Distancia-se da visão de mundo subordinada às vontades de uma divindade e das escrituras religiosas (teocentrismo);
  5. Difunde o pensamento científico, tecnicista e metodológico;
  6. Propõe uma perspectiva na qual o ser humano é o ponto central.
  7. Marca o início da Idade Moderna e também do sistema econômico mercantil (capitalista).
  8. Impactou as artes e as culturas, refletindo em uma produção artística que se preocupava com a representação do corpo humano, das perspectivas geométricas e do indivíduo como centro das obras.
  9. Influenciou um novo olhar para a ética e a moral, assim como a filosofia moderna, afastando esses conceitos dos preceitos religiosos de bom e ruim, bem e mal.
  10. Foi abordado por diversas áreas para além da filosofia, utilizado, inclusive, como discurso de justificação para a exploração dos recursos naturais e do meio ambiente.

Dicionário Michaelis



antropocentrismo

an·tro·po·cen·tris·mo

sm


Filos, Rel Sistema filosófico ou crença religiosa que considera o homem como o fato central ou mais significativo do Universo ou, ainda, como objetivo último de toda a realidade.




Qual a principal ideia do antropocentrismo?

A principal ideia do antropocentrismo é a valorização do ser humano como o centro de todas as coisas.

O homem deixa de ser um espectador passivo dos desígnios divinos, tornando-se um agente ativo da busca pelo conhecimento e da transformação da realidade.

Para isso, utiliza a inteligência e a razão, desenvolvendo condições ideias para que as diversas hipóteses acerca do que ocorre à nossa volta sejam empiricamente testadas e validadas.

Além disso, estabelece uma crítica robusta ao teocentrismo e aos ideais da Igreja Católica, assim como é um dos grandes marcos da filosofia moderna, das ciências, artes, cultura, entre outros campos.

Qual é a visão antropocêntrica?

A visão antropocêntrica é fundamentada na crença de que o ser humano ocupa uma posição privilegiada no universo, dotado de inteligência e racionalidade para moldar e transformar seu ambiente.

Nessa perspectiva, a humanidade não é mais subjugada por forças místicas ou divinas, mas, sim, torna-se o centro da reflexão filosófica, científica e moral.

Banner jornada da filosofia 'É Possível Ser Estoico hoje?'

Críticas modernas e as controvérsias do antropocentrismo

Ainda que o modelo antropocêntrico tenha guiado significativamente a filosofia ocidental, a necessidade de uma nova relação entre a humanidade e a natureza, na qual não há mais a sobreposição da primeira à segunda, propicia o debate acerca da sua falibilidade.

Na prática, o crescimento da consciência ecológica moderna, as urgências climáticas constantes e as questões ambientais refletem também na reavaliação das bases antropocêntricas e na proposição de outros paradigmas, tais quais o biocentrismo - uma visão mais holística e inclusiva, que reconhece a importância de todos os seres vivos e da natureza como um todo.

O biocentrismo questiona a centralidade do ser humano e defende que a natureza e o meio ambiente possuam acesso à dignidade e proteção, sendo sujeitos de direitos em sua própria essência.

Tal mudança de referencial é exemplificada, por exemplo, na Constituição do Equador de 2008 - a primeira do mundo a reconhecer a natureza como sujeito de direitos, equiparando-a à dignidade humana.

esquema que explica a lógica antropocêntrica e biocêntrica.
Na dinâmica estabelecida à esquerda (antropocêntrica), o ser humano encontra-se em posição de superioridade em relação aos demais elementos; já no biocentrismo, há uma proposta para que todos os seres da natureza/meio ambiente coexistam em harmonia e com iguais direitos.


Além disso, as críticas contemporâneas ao antropocentrismo não se limitam apenas à sua visão restrita sobre a natureza, como também apontam para a sua origem e implicações sociais.

Em muitos de seus desdobramentos, o antropocentrismo é frequentemente associado a uma perspectiva eurocêntrica, que privilegia a experiência e a visão de mundo do "homem europeu", deslegitimando outras culturas, etnias, gêneros e formas de vida.

Por isso, as perspectivas que têm emergido nos últimos anos representam um convite à construção de novos modelos e conceitos que priorizam a sustentabilidade, a justiça social e o respeito mútuo.

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Referências:

DAITX, Vanessa Vitcoski. O ensino de ciências e a visão antropocêntrica. 2010. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Biociências, Comissão de Graduação do Curso de Ciências Biológicas, Porto Alegre, 2010. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/35277#:~:text=O%20antropocentrismo%20consiste%20na%20vis%C3%A3o,n%C3%A3o%20sustent%C3%A1vel%20dos%20recursos%20naturais Acesso em: 20 out. 2024.







Conheça as Principais Correntes Filosóficas
Paula Delgado
Conheça as Principais Correntes Filosóficas
Conheça as principais correntes filosóficas e suas perspectivas sobre realidade, conhecimento e o sentido da existência humana.

As correntes filosóficas são escolas ou linhas de pensamento que apresentam perspectivas semelhantes sobre questões fundamentais da filosofia, como a natureza da realidade, do conhecimento, da ética.

Cada corrente filosófica busca entender e responder a essas questões a partir de características comuns, muitas vezes modificando ideias de outras correntes.

Neste texto, você vai conhecer as principais correntes filosóficas e ter acesso a diferentes interpretações sobre o mundo e o ser humano.



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Correntes filosóficas da antiguidade à modernidade

As correntes filosóficas da antiguidade, como estoicismo, epicurismo e ceticismo, desenvolveram-se durante o período helenístico.

O pensamento do helenismo é o pensamento de escola, ou seja, aquele que valoriza, mais do que a originalidade, a vinculação do indivíduo a uma corrente filosófica.

Uma característica comum das três principais escolas da antiguidade é a busca pela felicidade através da tranquilidade e da imperturbabilidade.

Estoicismo

Fundada por Zenão de Cítio, o estoicismo recebeu este nome em referência ao local que os membros da escola se reuniram, o stoa poikilé (“pórtico pintado”).

O estoicismo compreende a filosofia de forma sistemática e dividida em três partes fundamentais: física, lógica e ética — explicadas através da metáfora da árvore.


Metáfora da Árvore - Estoicismo / Imagem produzida pela autora


Na metáfora da árvore, a ética é a mais relevante porque representa os frutos da árvore do saber que podemos colher, mas não podemos tê-los sem o tronco (lógica) e sem a raiz (física).

Segundo os estoicos, a felicidade - que consiste na tranquilidade ou na ausência de perturbação - surge da harmonia com o cosmos. Como parte da natureza, o homem deve agir com ética para assegurar a felicidade.

Portanto, a boa ação (ação ética) é aquela pautada nos princípios da natureza. As quatro virtudes, que são consideradas o objetivo principal da vida, são:

  • Inteligência/Sabedoria: conhecimento do bem e do mal
  • Coragem: conhecimento do que temer ou não temer
  • Justiça: conhecimento de dar a cada um o que lhe é devido
  • Temperança: conhecimento do que moderar ou não moderar


Para a escola estoica, o homem deve agir de acordo com os princípios éticos, porém também deve aceitar as consequências de suas atitudes - determinismo ético.

Principais nomes do estoicismo:

  • Sêneca
  • Epicteto
  • Marco Aurélio
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Epicurismo

Fundado por Epicuro, em 306 a.C., a escola fundamenta sua filosofia na valorização da experiência imediata, introduzindo o conceito de prolepsis (pré-noção), que é a preservação dos elementos da experiência, que funcionam como fundamentos para a aquisição de conhecimentos futuros.

Assim como o estoicismo, o epicurismo também tinha como princípio básico a felicidade através da tranquilidade e da imperturbabilidade. Entretanto, o ponto de discordância das duas escolas estava na forma de se chegar à felicidade.

O homem, para os epicuristas, agia de forma ética ao dar vazão aos desejos e necessidades naturais de maneira equilibrada e moderada, valorizando a inteligência prática e dizendo não ter conflito entre razão e paixão.

A partir da ideia do prazer como algo natural e que a realização de nossos desejos naturais como algo positivo fez com que os epicuristas fossem rotulados como aqueles que se entregam a uma vida de prazer.

Esta corrente filosófica abriu espaço para o surgimento do humanismo, quando foi retomada na época do Renascimento.

Os principais autores da escola epicurista:

  • Filodemo de Gadara
  • Tito Lucrécio



Ceticismo

Apesar de ser um termo conhecido, o ceticismo não é uma única coisa, existem vários entendimentos do que é ceticismo.

A tradição cética foi se formando gradualmente a partir da reunião e reelaboração de práticas e ideias já pré-existentes.

Da mesma forma que o estoicismo e o epicurismo, o ceticismo também se preocupa com a ética. Para essa escola, é a partir dela que se consegue atingir a imperturbabilidade para, enfim, alcançar a felicidade.

Alguns dos caminhos do ceticismo são:

  • Protoceticismo:
  • Ceticismo
  • Ceticismo acadêmico
  • Pirronismo



Pirro é colocado como o iniciador do ceticismo e, assim como Sócrates, acreditava que a filosofia era uma atitude, uma prática.

Os céticos questionam a possibilidade de se colocar uma verdade que seja imune ao questionamento. Sendo assim, a noção de époche (suspensão do juízo) é colocada como ponto central da estratégia cética.

O ceticismo é um procedimento no qual os filósofos, ao não chegarem a um acordo de ideias, acabaram se deparando com várias teorias que não só eram conflituosas como excludentes.

Portanto, como não há uma determinação sobre qual teoria é a verdadeira, diz-se que o cético suspende o juízo diante de qualquer afirmação, livrando-se, portanto, das inquietações.

Principais filósofos do ceticismo:

  • Pirro
  • Carnéades
  • Sexto Empírico


🤔 Você sabia?

Apesar de alguns estudiosos argumentarem que “filosofia oriental” não existe, já que a filosofia, como método racional e sistemático, teria surgido na Grécia, no oriente haviam alguns pensamentos sobre a existência do homem e a vida.

Algumas tradições como o budismo e o hinduísmo propunham reflexões profundas sobre questões debatidas pela filosofia. Mesmo diferentes, ambas compartilham a busca por sentido e sabedoria. Para saber mais, clique aqui.



Escolas socráticas

É importante destacar que as escolas socráticas, como a Academia de Platão e Liceu de Aristóteles, buscaram inspiração em Sócrates, orientando seus pensamentos para o homem a partir do método de valorização da ética e a sabedoria como bem maior do homem.

Correntes filosóficas modernas e iluministas

A filosofia moderna está mais próxima dos nossos tempos, o que pode torná-la mais fácil de ser compreendida.

Entretanto, isso pode fazer com que seja mais difícil caracterizar seus elementos principais por estar mais próximo da nossa realidade.

Duas ideias fundamentais da modernidade são: a valorização do indivíduo e o progresso.

Racionalismo

Embora a razão já fosse debatida desde a Grécia Antiga, René Descartes é considerado o pai do racionalismo porque sistematizou o uso da razão como método do pensamento filosófico.

O racionalismo defende que a razão é a principal fonte do conhecimento verdadeiro, sendo mais confiável que os sentidos ou a experiência sensorial.

As principais características do racionalismo são:

  • Crença em ideias inatas (ideias presentes desde o nascimento)

  • Defesa da razão como principal fonte do conhecimento

  • Demonstração lógica como caminho de validação das ideias


Os racionalistas defendem que certas ideias (inatas) já nascem com o ser humano e que, por meio do raciocínio lógico é que se encontra as verdades universais, sem cair nos desvios da experiência sensorial.

Para os filósofos que seguem essa escola, o mundo verdadeiro não é aquele recebido pelos sentidos, mas, sim, aquele que pode ser descrito através de conclusões racionais.

Principais filósofos do racionalismo:



Empirismo

Empirismo vem do grego empeiria que significa “experiência”. Diferentemente dos racionalistas, os filósofos dessa escola acreditam que todo o conhecimento é resultado de experiências e impressões sensoriais.

Desenvolvido no mesmo período do racionalismo, seu desenvolvimento deu-se a partir da intensa atividade comercial da época.

A corrente filosófica do empirismo valorizava a experiência humana e a percepção de realidade que construímos a partir das percepções, sendo contrária a metafísica e especulativa.

Seu caráter empírico de pensamento influenciou a ciência experimental do período, que teve grandes marcos, como a descoberta da gravidade, com Isaac Newton; e a descoberta da lei de Boyle, por Robert Boyle, que estabeleceu a relação inversa entre pressão e volume de um gás.

Principais filósofos do empirismo:



Idealismo

O idealismo é uma escola filosófica que defende que não existe outro ser além do pensante.

Para esta escola, nós só temos acesso à realidade através das ideias, que são representações mentais das coisas. Desta forma, nós temos acesso não aos objetos materiais, mas às ideias que temos deles.

Immanuel Kant é considerado o pai desta corrente filosófica porque foi ele quem sistematizou o pensamento moderno de idealismo.

Segundo a teoria kantiana, o conhecimento é resultado da combinação racional da sensibilidade (intuições de espaço e tempo) e entendimento (que aplica categorias ao que é intuído). Essas duas faculdades juntas são capazes de constituir a experiência cognitiva.

Essa escola filosófica propôs um modelo que buscasse o conhecimento de forma legítima, superando as dificuldades e impasses que o empirismo (ceticismo sobre o conhecimento universal) e o racionalismo (confiança na razão pura) enfrentaram na época.


Correntes filosóficas contemporâneas

A filosofia contemporânea resulta da crise do pensamento moderno no século XIX. Ainda é difícil trazer conceitos chave ou caracterizá-la porque estamos temporalmente muito próximos a ela.

Contudo, o questionamento central ao modernismo na contemporaneidade é contra a noção de subjetividade nas fundamentações teóricas feitas pelo racionalismo e pelo empirismo.

Alguns pontos de transformação deste período são: a razão como explicação universal, a valorização da linguagem e uma nova perspectiva do “eu”.



Existencialismo

Fundado por Jean-Paul Sartre, foi uma das correntes filosóficas mais relevantes do pensamento francês pós Segunda Guerra Mundial, trazendo luz aos questionamentos sobre o sentido da vida.

O existencialismo influenciou a filosofia, a literatura, as artes em geral, conseguindo expandir sua influência para além do meio acadêmico, chegando a um público mais amplo.

De acordo com os existencialistas, a liberdade e a autenticidade são elementos fundamentais da existência humana, colocando o homem como um ser autoconsciente.

Entretanto, a angústia, muito presente e discutida por esta filosofia, não é vista de forma negativa, mas como uma reveladora da responsabilidade frente à liberdade.

Alguns dos principais filósofos existencialistas, além de Sartre:

  • Soren Kierkegaard
  • Karl Jaspers
  • Gabriel Marcel


Marxismo

A filosofia proposta por Karl Marx teve influência desde o final do século XIX até os dias de hoje nos planos teórico, econômico e político.

Antes de tudo, é importante apontar que existem diferenças entre a doutrina política desenvolvida a partir do pensamento de Marx e o desenvolvimento filosófico do marxismo.

A corrente filosófica chamada marxismo propõe uma análise crítica da sociedade capitalista, que entende que é a partir das condições materiais e históricas que se molda a sociedade.

Ela propõe a compreensão da estrutura econômica e social como base para uma transformação revolucionária, através da luta de classes, visando superar as desigualdades e construir uma sociedade sem classes sociais.

Existem diferentes linhas do pensamento filosófico marxista que tem como principais personalidades:

  • Lênin
  • Georg Lukács
  • Louis Althusser


Positivismo

Auguste Comte utilizou o termo positivismo para dar nome à sua corrente filosófica, fundamentada na ideia de que o conhecimento verdadeiro só pode ser alcançado a partir da experiência empírica sistemática e da observação dos fenômenos.

Para os positivistas, é a partir da observação, da experimentação e da verificação empírica que se alcança o progresso contínuo e confiável do conhecimento humano, que constitui o método objetivo, segundo Comte.

De forma geral, o positivismo é uma filosofia que valoriza a ciência, colocando-a como principal guia para a vida individual e para a organização da sociedade.

Principais pensadores do positivismo:

  • Auguste Comte
  • John Stuart Mill




Comparações entre algumas correntes

Para esclarecer ainda mais, veja comparações possíveis com semelhanças e diferenças entre as correntes filosóficas discutidas neste texto na tabela abaixo:

Corrente Filosófica Ideia Principal Fonte do Saber Elemento-Chave
Racionalismo Conhecimento vem da razão e da lógica Razão Ideias inatas
Empirismo Conhecimento vem da experiência sensorial Experiência Ideias adquiridas
Existencialismo A existência precede a essência Experiência pessoal Liberdade e autenticidade
Positivismo Ciência como única forma de conhecimento Ciência Crença no conhecimento científico
Epicurismo Felicidade como resultado do prazer Experiência pessoal Prazer moderado
Estoicismo Felicidade como fruto da virtude e da razão Razão e virtude Tranquilidade e felicidade



Por que conhecer diferentes correntes filosóficas?

Conhecer diferentes correntes filosóficas é fundamental para ampliar a compreensão sobre a nossa existência, a realidade e o saber.

Cada uma das linhas de pensamento filosófico oferece um caminho para interpretar o mundo e pensar de forma crítica para desenvolvermos nossas próprias opiniões.

Filosofia é mais que teoria, ela é uma ferramenta para entender a complexidade da vida e nos posicionar de forma mais consciente diante das escolhas, dúvidas e relações que atravessam nossa existência.

Neste texto,talvez, você tenha tido um primeiro contato com diversas escolas filosóficas e agora já pode começar a refletir sobre quais dialogam mais com sua experiência e maneira de ver o mundo.

Mergulhe no universo das diferentes correntes filosóficas e se permita construir mais conhecimento. Aqui na Casa do Saber, você encontra diversos cursos e conteúdos que podem te ajudar a conhecer mais profundamente a si mesmo, a vida e ampliar seus horizontes.

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Referências

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein.

RIBEIRO, João. O que é Positivismo.

UOL Educação. Positivismo: ordem, progresso e a ciência como religião da humanidade.

É possível praticar o estoicismo hoje? Livros, caminhos e dicas para seguir a filosofia
Tainá Voltas
É possível praticar o estoicismo hoje? Livros, caminhos e dicas para seguir a filosofia
O estoicismo tem reaparecido como uma resposta ao mundo moderno. Mas será realmente possível aplicar a filosofia aos dias atuais? Descubra!

Embora tenha se desenvolvido e aprofundado suas raízes há mais de 2000 anos, o estoicismo tem reaparecido como uma resposta ao complexo e desconfortável mundo moderno, marcado pelo esgotamento coletivo e pelas frustrações geracionais.

Tal filosofia, que é banhada em uma ideia de felicidade resiliente às adversidades e às influências externas, ganha adeptos e curiosos, cuja motivação se dá em direção comum: é realmente possível aplicar a práxis estoica nos dias de hoje?

Neste artigo vamos destacar algumas obras, cursos e dicas que podem oferecer uma resposta certeira ao questionamento, além de mostrar como viver de um modo mais estoico, mesmo em meio a tantas distrações.

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Recordação: o que é o estoicismo?

“A felicidade e a liberdade começam com a clara compreensão de um princípio: algumas coisas estão sob nosso controle, outras não”. A expressão, de autoria um dos maiores filósofos estoicos da antiguidade - Epicteto, define com bastante clareza os pilares que sustentam o estoicismo.

Criada durante o período helenístico, ainda na Grécia Antiga, e tendo como pano de fundo a crença nas leis da natureza, essa vertente filosófica buscou explicar o sentido da vida a partir da racionalização e de uma proposta de aceitação do inevitável.

Na prática, estruturou um entendimento acerca da "felicidade" como um resultado dado àqueles que conseguiam desvencilhar-se das paixões avassaladoras e das emoções exageradas.

Ou seja, para o estoicismo a felicidade se materializava quando as emoções eram racionalizadas, assim como quando os episódios da vida eram entendidos como pertencentes todos à uma teia natural e inevitável de causas e efeitos.

Nessa perspectiva, os esforços e desejos de mudança humanos deveriam ser direcionados para as coisas passíveis de serem controladas e não para aquelas alheias à vontade dos homens, tal qual a morte.

Dessa forma, o estoicismo passou a ser caracterizado como uma filosofia prática, que orientava os indivíduos a viverem em harmonia com a natureza e a razão, buscando a virtude como um bem maior.

Para os estoicos, a vida virtuosa seria aquela baseada no agir lógico, ético e sereno, capaz de enfrentar os desafios com resiliência por entendê-los como pertencentes a uma ordem natural das coisas.

A abordagem, rigorosa e libertadora na mesma medida, faz com que o estoicismo seja uma ferramenta resgatada na modernidade para lidar com os novos desafios e contornos sociais, oportunizando a busca pelo equilíbrio mesmo em cenários turbulentos.

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O que é agir com estoicismo nos dias atuais?

A pergunta "é possível praticar o estoicismo nos dias atuais?" depende essencialmente da compreensão do que é o agir estoico nesse novo contexto.

Em meio à Era da Informação, aos dados gerados em velocidade exponencial, às demandas por performance e resultado e ao excesso de estímulos, o estoicismo apresenta uma bússola mental, que cultiva a clareza e a resiliência emocional como forma de melhor viver e sobreviver a este cenário.

Trata-se de uma aplicação da abordagem que incentiva o foco àquilo que é controlável, como as ações e reações individuais, ao passo que pratica a compreensão serena daquilo que escapa ao domínio pessoal.

Homem segurando um guarda-chuva, virado para parede com metas e planejamentos. Reflete a necessidade de entrega e resultado.
O estoicismo moderno incentiva uma leitura de mundo focada no controle do que se é controlável, ajudando a redefinir prioridades e a encontrar clareza em meio às exigências incessantes por desempenho e resultados.


Assim, no mundo contemporâneo, essas ideias podem se traduzir em práticas, como:

Gerenciar o tempo e a atenção Evitar dispersar energia com distrações ou preocupações improdutivas, dedicando-se ao que realmente importa, bem como ao autocuidado e auto escuta.
Reavaliar o conceito de sucesso Adotar uma perspectiva baseada na virtude e no progresso interno, afastando-se da busca contínua por uma validação externa ou padrões sociais inatingíveis.
Cultivar o autocontrole Responder às adversidades com calma e reflexão, resistindo aos impulsos imediatos ou a emoções exageradas, as quais podem comprometer o senso crítico e a tomada de decisão racional.
Praticar a gratidão e a perspectiva Reconhecer o valor das coisas e aprender a ressignificar os desafios como oportunidades de crescimento pessoal.



No cotidiano moderno, o estoicismo, uma filosofia para tempos de crise, continua emergindo como um consolo e como uma libertação de ilusões. Por isso, oferece uma base sólida para enfrentar crises pessoais ou profissionais, promovendo uma atitude resiliente frente a desafios inevitáveis.



3 livros para entender o estoicismo

Livros são uma excelente maneira de transportar as ideias filosóficas estoicas da Antiguidade para contemporaneidade, indicando um caminho para a prática da filosofia no cotidiano.

Nesse sentido, as obras selecionadas abaixo repercutem os princípios estoicos em seus diferentes tempos, além de apresentarem aplicações palpáveis do conceito e contextos históricos que ajudam na compreensão do pensamento filosófico em sua totalidade.

  • Diário estoico: 366 lições sobre sabedoria, perseverança e a arte de viver - Ryan Holiday e Stephen Hanselman
  • Meditações - Marco Aurélio
  • Sobre a Brevidade da Vida (De Brevitate Vitae) – Sêneca


1) Diário estoico: 366 lições sobre sabedoria, perseverança e a arte de viver - Ryan Holiday e Stephen Hanselman

Uma das mais populares obras do movimento moderno de resgate ao estoicismo, o Diário Estoico propõe a leitura de 366 meditações baseadas em ensinamentos de grandes filósofos estoicos, como Sêneca, Marco Aurélio e Epicteto.

Seu objetivo é funcionar como um guia prático e acessível para quem deseja introduzir o agir estoico à sua rotina, cultivando a arte de viver bem. Para isso, Ryan Holiday e Stephen Hanselman instigam os leitores a expandir a compreensão do mundo e a experimentar novas maneiras de agir e pensar.

Encontrar o propósito da vida, lidar com perdas irreparáveis e o caminho para a felicidade verdadeira são apenas alguns dos tópicos abordados no texto.

Com os ensinamentos dos antigos estoicos, em uma metodologia meditativa a cada dia do ano, o livro proporciona uma reavaliação das percepções, atitudes e metas de vida.

2) Meditações - Marco Aurélio

Uma das mais influentes obras filosóficas de todos os tempos, Meditações transforma-se em uma janela direta para a mente de Marco Aurélio, o imperador romano conhecido como "imperador filósofo".

Escrito como um diário pessoal, o livro reúne reflexões sobre a busca pela virtude, a compreensão do universo e a arte de viver em harmonia com a natureza, mesmo em cenários inconstantes e desequilibrados.

Mesmo que inicialmente não tenha sido destinado à publicação, o texto se tornou um verdadeiro mantra para a prática estoica, atemporal e requisitada ao longo de várias décadas.

No projeto, Marco Aurélio menciona a necessidade da ponderação em meio às pressões, sobretudo aquelas relacionadas ao poder, assim como destaca os desafios do enfrentamento das incertezas e das dores inevitáveis da existência humana, priorizando a serenidade e o autocontrole.

As lições valiosas apresentadas, como a importância de aceitar o que não se pode controlar, focar no presente e viver de acordo com princípios éticos, têm sido incorporadas neste novo momento do estoicismo, guiando os adeptos a uma forma de praticar a filosofia de forma flexível e adaptada.




3) Sobre a Brevidade da Vida (De Brevitate Vitae) – Sêneca

Escrita por outro grande pensador estoico, esta obra concisa, mas profundamente impactante, aborda um dos temas centrais para o estoicismo: a natureza do tempo e as armadilhas de uma vida perpassada pelo negligenciamento.

Para Sêneca, a duração da vida importa à medida que escolhemos como iremos vivê-la. Ou seja, ele convida o leitor a refletir sobre a urgência do cultivo da totalidade interior, contrastando os valores culturais modernos guiados pela prosperidade material e pela produtividade incessante.

Argumenta ser o tempo o bem mais precioso existente, embora seja frequentemente tratado como infinito. Assim, o filósofo critica, sobretudo, a tendência humana de procrastinar, acumular riquezas sem propósito e buscar validação externa, ao invés de focar no desenvolvimento interno e nas relações significativas.

“A vida que recebemos não é curta, mas a tornamos desse modo; tampouco a temos de sobra, mas a desperdiçamos” - Sêneca



Mulher deitada sobre a mesa, aparentando cansaço, com peso de pedras nas costas. Alusão ao estoicismo
O Estoicismo aplicado à modernidade surge como uma alternativa para amenizar os efeitos comuns da experiência humana superestimulada, oferecendo uma nova interpretação possível para a vida, para os desafios e para os problemas do cotidiano. Trata-se de uma filosofia que apresenta ferramentas para aprimorar a resiliência ao inevitável, incentivando a clareza emocional.


4 cursos para aprender de forma rápida sobre o estoicismo

Os cursos são outra excelente oportunidade para mergulhar mais profundamente nos conceitos do estoicismo, a partir da orientação de especialistas que conectam essa filosofia ao mundo contemporâneo, entendendo como e onde aplicá-la. Veja três cursos recomendados para esse propósito:

  1. Aprender a Viver: Como a Sabedoria Pode Ser o Caminho para uma Vida Melhor

    Este curso explora como a sabedoria filosófica pode transformar o cotidiano. Para isso, oferece uma visão geral sobre as escolas filosóficas, com destaque para os estoicos, mostrando como seus ensinamentos podem ajudar a superar os desafios da vida moderna, como o tédio e a banalidade. “Como a sabedoria pode ser o caminho para uma vida melhor? Como aprender a viver e superar o tédio e a banalidade da vida cotidiana?”, essas são algumas das perguntas que a ementa do texto se dedica a responder.

  2. A Filosofia Como Forma de Vida: Estoicos, Epicuristas e Cínicos

    Focado na relação entre filosofia e prática de vida, este curso apresenta Sócrates e escolas como o Estoicismo, o Epicurismo e o Cinismo, refletindo sobre suas diferentes concepções de mundo e suas consequentes formas de vida. O curso explora, principalmente, como os pensadores dessas escolas propunham exercícios espirituais e uma arte de viver, conceitos que permanecem relevantes nos dias de hoje.

  3. Jornada da Filosofia: Vida e Morte no Ocidente

    Com uma abordagem interdisciplinar, este curso examina como o pensamento ocidental lida com a finitude humana. Ele conecta as raízes filosóficas do estoicismo com questões psicológicas e políticas, oferecendo uma compreensão mais ampla sobre como viver e morrer com significado e serenidade.

  4. Trilha da Filosofia | 2ª Temporada

    Esta série propõe uma jornada que aborda, de maneira introdutória, alguns dos principais pensadores, temas e conceitos da história do pensamento filosófico. Com a orientação dos professores Franklin Leopoldo e Silva e Oswaldo Giacoia Junior, o curso esclarece questões fundamentais para o aprendizado da filosofia. Como é o caso do pensamento de Aristóteles (384-322 a.C.) e Santo Agostinho (354-430), do estoicismo e epicurismo do período helenístico. O curso também inclui temas como a Teoria do Justo Meio, os conceitos de Transcendência e Imanência, e a questão do espírito como a fonte principal de todo conhecimento, assim como Deus como fundamento radical do conhecimento.

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Conclusão

Ao final da leitura, devemos nos perguntar: é então possível praticar o estoicismo nos dias de hoje ou estamos condicionados a sucumbir às pressões de uma sociedade que prioriza o imediatismo e o materialismo?

Ou ainda, é realmente viável pensar em uma filosofia de práxis individual em meio a um sistema com falhas estruturais?

A resposta depende do ponto de vista a ser abordado, compreendendo que as filosofias apontam não para a solução absoluta de todos os dilemas humanos, mas para caminhos que auxiliam na reflexão, no enfrentamento das adversidades e na busca por uma vida mais alinhada aos próprios valores.

O estoicismo, nesse sentido, se destaca como uma prática acessível e adaptável ao cotidiano moderno, reconhecido por promover a resiliência individual diante das incertezas externas.

Embora seja interessante reconhecermos as limitações impostas pelo contexto social, destaca-se que o estoicismo também desafia o indivíduo a agir com virtude e propósito, independentemente das circunstâncias.

Em última análise, o estoicismo oferece um convite para olharmos mais profundamente para nós mesmos e para as circunstâncias à nossa volta.

Assim, mais do que uma resposta definitiva, essa escola filosófica antiga nos faz refletir sobre como podemos moldar nossas escolhas e atitudes para encontrar significado em meio ao caos.



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Referências:

¹SANTOS, Kleys Jesuvina dos. A influência do estoicismo na filosofia de Foucault. Kinesis, Marília, v. 11, n. 28. 2019. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/kinesis/article/view/9140. Acesso em: 25 set. 2024.

GAZOLLA, Rachel. Representação compreensiva: critério de verdade e virtude no Estoicismo Antigo. Revista da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, v. 19, n. 2, 2006. Disponível em: https://www-periodicos-capes-gov-br.ez40.periodicos.capes.gov.br/index.php/acervo/buscador.html?task=detalhes&source=&id=W1511359753. Acesso em: 25 set. 2024.

O que é o estoicismo? Entenda os pilares, conceitos e significados
Tainá Voltas
O que é o estoicismo? Entenda os pilares, conceitos e significados
Criado há mais de 2000 anos, o estoicismo encontra adeptos ainda hoje. Entenda mais sobre a corrente filosófica marcada pela resiliência ao inevitável

Como reagir à imprevisibilidade da vida e qual o seu sentido? Essas são as principais questões do estoicismo, uma escola filosófica potente na Grécia Antiga, mas que ainda hoje produz efeitos significativos ao incentivar reflexões acerca da felicidade, desapego e apatia.

Neste texto você viajará rumo ao período helenístico, nos séculos IV, III e II a.C, para conhecer a importante filosofia estoica e o seu significado.

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O que é o Estoicismo?

A observação da vida e a busca pela explicação de seus fenômenos é um traço comum na história da Filosofia Ocidental, independentemente da sua escola. Cada uma delas se empenhou para explicar essa equação (e ainda o faz) por meio de argumentos complexos e bastante aprofundados.

No estoicismo não foi diferente. A doutrina filosófica, fundada durante o período helenístico, sobretudo nas leis da natureza, se debruçava sobre a compreensão do sentido da vida, tendo a lógica e a razão como aliadas para esse processo.

De forma geral, a abordagem estoica tinha a felicidade com um fim último e acreditava alcançá-la através da aceitação da inevitabilidade da vida e do cultivo de uma resiliência emocional diante das adversidades e do que era imprevisível.

Ou seja, para o estoicismo a felicidade poderia ser palpável a partir do momento em que as emoções eram racionalizadas, os episódios da vida eram entendidos como pertencentes a uma teia natural e inevitável de causas e efeitos, e os esforços/desejos de mudança humanos eram direcionados para as coisas passíveis de serem controladas e não para aquelas alheias à nossa vontade, tal qual a morte.

Por esse motivo, a felicidade estoica figura como um dos temas mais difundidos e importantes da filosofia. Mas como essa escola foi idealizada?

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De que forma o Estoicismo começou?

Zenão de Cítio (333 a.C - 263 a.C), seu precursor, foi influenciado pela Escola de Cínica, a qual defendia o desapego aos bens materiais e deu origem à expressão cinismo*, a estruturar uma corrente de pensamento alicerçada na ideia de uma vida simples, distante dos vícios e medos e mais próxima da virtude.

* A ideia de cinismo associado à falsidade trata-se de uma perspectiva contemporânea acerca do tema, afastada da sua concepção original. Na Grécia Antiga, o cinismo descrevia, na verdade, o movimento dos “filósofos do desapego”, ou seja, aqueles não aficionados com a matéria/bens.

Para isso, praticava o ensino por meio de uma lógica cosmopolita - realizada em um ambiente aberto chamado "stoá", que traduzido dá conta de algo como Pórtico (uma ágora utilizada para difundir os pensamentos filosóficos da época e para propiciar discussões intelectuais sobre os mais variados temas).

Ágoras, espaços nos quais os filósofos estoicos disseminavam suas ideias. Estrutura arquitetônica romana.
O Stoá Poikilé, ou Pórtico Pintado, era o espaço destinado à transmissão das reflexões estoicas, em uma estrutura de pensamento livre e dinâmico. (Designed by Freepik)

É dessa tradição, praticada por Zenão e outros filósofos, que a palavra estoicismo toma forma e que a doutrina, criada inicialmente na Grécia Antiga, se populariza para outras regiões, tal qual Roma, sendo, inclusive, uma das bases do cristianismo

A partir disso, a filosofia estoica foi abraçada por grandes nomes, como Marco Aurélio, Epicteto e Sêneca, expandindo seu significado conforme as especificidades de cada tempo.

Na era moderna, por exemplo, Foucault usou o pensamento estoico para destacar a relevância do desenvolvimento de uma escuta bem conduzida¹.

"Aprender a Viver: Como a Sabedoria Pode ser o Caminho para uma Vida Melhor"

Um convite às descobertas do pensamento de expoentes que moldaram a filosofia, desde Platão, Sêneca, Aristóteles e Tomás de Aquino, a Descartes, Espinosa, Nietzsche


Características do estoicismo

Em resumo, o estoicismo acredita que o ser humano faz parte e é habitado pela natureza (physis - Φύσις, em grego), de modo que acompanhá-la é, de igual modo, agir segundo nosso próprio ser (GAZOLLA, 2006).

Por esse motivo, a perfeição e virtuosidade está na compreensão de uma ligação intrínseca entre homem e natureza, que orienta a busca pela felicidade a partir da negativa aos desejos e do estabelecimento de uma razão em conformidade com as leis naturais do universo.

De acordo com a escola, o ser humano é a própria natureza, afastando-se dela quando atormentado pelas paixões:

(...) se a natureza é dita perfeita, se é divina, se todos os seres são excelentes por ela e nela, e seu modo de mover-se é eterno, o reverso é perguntar sobre as perturbações da perfeição e como são possíveis. Ora, as perturbações do mover-se perfeito têm nome na Stoa: são as paixões pleonásticas ou exacerbadas (GAZOLLA, 2006, p. 189).


Assim, para entender o que é o estoicismo, basta que compreendamos também a sua perspectiva ética baseada na ataraxia (ou indiferença/apatia) como forma de driblar a tendência humanoide ao afastamento da physis (natureza).

Para seus pensadores, a vida era determinada inafastavelmente por uma força cósmica equilibrada e harmoniosa, sobre a qual a virtude se estabeleceria em uma existência experienciada conforme desígnios da physis.

Desse modo, deveriam ser evitados os desejos vazios, os excessos, as paixões perturbadoras e as coisas supérfluas, à medida que a razão e a lógica seriam privilegiadas.

Na filosofia estoica, então, agir virtuosamente seria reconhecer o potencial do ciclo cósmico infindável, aceitando as mudanças sobre as quais não se teria controle, posicionando-se com resiliência frente à elas, e dedicando-se a alterar somente aquilo que fosse possível, como, por exemplo, as reações ao “não programável”.

Por essa razão, a máxima estoica é descrita como “a vida deve seguir a natureza", tese de autoria de Zenão.

Leis da Natureza Imutáveis O agir estoico
Morte Priorizar a qualidade de vida
Mudanças Aceitar a impermanência
Sofrimento Cultivar resiliência emocional
Incerteza Focar no controle sobre as próprias reações
Limitações humanas Buscar autoconhecimento e desenvolvimento pessoal
Destino Agir com virtude, aceitando o que não se pode mudar
Ciclo da vida Viver no presente. Valorizar cada momento


O estoicismo, estruturado há mais de 2 mil anos, continua reverberando suas reflexões e conquistando adeptos ao longo da história

Nos tempos contemporâneos, marcados pelos excessos (de informação, produção, consumo, acúmulo, entre outros),oferece respostas apaziguadoras para o ambiente caótico, pressionado cada vez mais pelo ritmo acelerado das transformações digitais.

Assim, podemos definir o estoicismo como uma escola filosófica que procura dar respostas à inquietação humana, propondo um modo de vida sereno e guiado pela racionalização.

Trata-se de um exercício para privilegiar a razão como ferramenta para lidar com as emoções, afastando os vícios e cultivando as virtudes.



Os componentes e os pilares do estoicismo

Como vimos, o estoicismo propõe uma lógica de pensamento realista, que não idealiza o mundo, mas sim o aceita tal como é.

Nesse contexto, a apatheia (indiferença às emoções perturbadoras da paixão) é compreendida como um pré-requisito para um estado de paz interior, conhecido como ataraxia.

Componentes do estoicismo

Para concretizar a sua doutrina e tornar o objetivo acima factível, o estoicismo sugere ainda um sistema para pensar a filosofia, metaforicamente, como um organismo vivo, interconectado e interdependente, assim como formado por três componentes:

"Os antigos estóicos, como se sabe, criam um interessante sistema para pensar a Filosofia no qual todas as partes, absolutamente interligadas, são metaforicamente expostas como se fosse um organismo. Uma das metáforas é a de que os ossos e nervos seriam a Lógica, a carne seria a Ética e a alma, a Física" (GAZOLLA, 2006, p. 185)


Pilares do estoicismo

Além disso, a sabedoria estoica se traduz no exercício de um trabalho de consciência interior, que leva em consideração os campos que podem ser realmente modificados pelo ser humano.

Nesse sentido, surgem as virtudes cardeais, também enquadradas como os 4 pilares ou modos de atuação do estoicismo, quais sejam:

  1. Sabedoria: entender as dinâmicas do mundo de uma maneira lógica e calma, com discernimento sobre o que é realmente importante. Fazemos isso por meio da meditação, da leitura de textos filosóficos, do ensino, e através das nossas experiências.

  2. Justiça: agir com equidade e sem impulsividade, considerando as consequências das ações em relação ao próximo.

  3. Coragem: ter o conhecimento do que deve ser temido e o que deve ser suportado, sendo uma ferramenta incrível para o enfrentamento das adversidades com bravura.

  4. Moderação (ou Temperança): equilibrar os desejos, minimizar os vícios e experimentar as virtudes. Trata-se de evitar os excessos e buscar constantemente a harmonia.


Para o estoicismo, esses 4 pilares, que se complementam e se retroalimentam, performam a base da virtuosidade plena.


Estoicismo vs. Cinismo: Diferenças Essenciais

As duas correntes emergiram na Grécia Antiga, compondo as chamadas filosofias helenísticas - as quais são caracterizadas por se preocuparem com a ética, felicidade e bem-viver.

Porém, embora se entrelacem e se aproximem em uma ideia central (busca por uma harmonia com a natureza), tais escolas possuem diferenças significativas, sobretudo quanto à radicalidade das suas percepções.

Enquanto o cinismo enfatiza o desapego e a rejeição total das convenções sociais, o estoicismo busca uma aceitação ativa da realidade, propondo a virtude como um caminho para a felicidade.

Estoicismo Cinismo
Principais Expoentes Sêneca, Epicteto, Marco Aurélio. Diógenes de Sinop, Crates de Tebas.
Visão de Mundo Harmonia entre homem e universo. Rejeição das normas e convenções sociais
Relação com a Virtude Aceitação e racionalidade. Desprezo pelas convenções e comodidades.
Conceito de Felicidade Alcançada por meio da aceitação do inevitável e da busca pela mudança daquilo que pode ser controlado. Encontrada na harmonia com a natureza.
Autonomia Aceitação do que não se pode controlar. Autarquia e controle sobre a própria vida.


"Nós sofremos mais na imaginação do que na realidade." - Sêneca


Banner curso A Filosofia como forma de vida: Estoicos, Epicuristas e Cínicos

Os Principais Filósofos Estoicos

1) Sêneca

Nascido em 4 a.C, Sêneca foi um dos mais influentes filósofos e o principal expoente do estoicismo no Império Romano.

Faleceu em Roma, no ano 65 d.c, acusado de conspiração contra o imperador Nero, mesmo que tivesse sido seu preceptor anteriormente. O episódio é narrado no quadro “A Morte de Sêneca”, de Jacques-Louis David (1748–1825).

Pintura a morte de Sêneca
La morte di Seneca, olio su tela, Musée du Petit-Palais, Parigi, de Jacques-Louis David (1748–1825) (Fonte: Domínio Público). Acusado, junto a Pisão, de conspiração para o assassinato planejado de Nero, Sêneca foi obrigado a tirar a própria vida. Não houve qualquer tipo de julgamento. O quadro retrata o momento em que o filósofo cumpre seu destino na presença de amigos.



Entrou para a história não só como um exímio filósofo, como também um humanista dedicado, além de excelente orador, escritor, advogado e político.

Enfatizava a importância da razão e do autoconhecimento, acreditando ser a reflexão sobre a vida o caminho para a verdadeira felicidade.

Além disso, como diferencial, preocupou-se e se indispôs contra as desigualdades entre os homens, sendo avesso à escravidão e à distinção social.

Tem como umas de suas principais obras a "Sobre a brevidade da vida", um ensaio moral dedicado a seu amigo Paulino, pelo qual o autor discrimina vários princípios estoicos - entre eles a natureza do tempo e o tempo gasto na perseguição de objetivos sem valor.

2) Epicteto

Pintura de Epicteto, um dos expoentes filósofos do estoicismo.
Epicteto foi um dos expoentes filósofos estoicos

Epicteto (55 d.C - 135 d.C), é um dos mais respeitados filósofos estoicos da Antiguidade e, ao lado de Sêneca e Marco Aurélio, faz parte da terceira fase estoica, chamada de “Novos Estoicos”*.

Escravo por muito tempo em Roma, após ser libertado dedicou sua vida à filosofia e aos ensinamentos sobre a verdadeira liberdade. Para ele, ser livre não dependia da posição social, mas da capacidade de controlar as próprias reações diante dos eventos da vida.

Na sua perspectiva, a essência do estoicismo estava na separação clara entre o que está sob o controle humano (ações, pensamentos e atitudes) e o que não está (as circunstâncias externas).

Seu ensinamento foi registrado principalmente no texto Manual e em alguns discursos assinados por seu discípulo Flávio Arriano, tendo em vista que ele próprio, assim como Sócrates, não deixou nada escrito.

Em tais obras o filósofo explora a importância da aceitação das adversidades com serenidade, refletindo em uma postura prática para enfrentar os desafios cotidianos.

Depois de exilado pelo imperador Domiciano, junto com outros filósofos romanos, decidiu abrir a própria escola, em Nicópolis, local onde faleceu anos mais tarde.

*
  • A primeira fase do estoicismo é representada Zenão de Cítio, Cleantes de Asso e Crisipo de Solunte (ou de Sole);
  • A segunda fase, ou médio estoicismo, é caracterizada pelos nomes de Panécio de Rodes e Posidônio.


“A felicidade e a liberdade começam com a clara compreensão de um princípio: algumas coisas estão sob nosso controle, outras não” - Epicteto



3) Marco Aurélio

Marco Aurélio (121 d.C.a 180 d.C.) foi um dos mais célebres imperadores romanos, responsável pela autoria de uma obra bastante aclamada no estoicismo: o livro Meditações, um conjunto de reflexões pessoais que escreveu ao longo de sua vida.

Como líder do maior império da época, enfrentou inúmeras adversidades, tanto políticas quanto militares, o que o orientou ao estoicismo como ferramenta para contornar os desafios

Por esse motivo, ficou conhecido como o “monarca-filósofo”, cujo traço proeminente era valorizar os prazeres da alma e face daqueles do mundo material. Para ele, a vida se apresentava como uma oportunidade para agir de forma ética e virtuosa, independentemente das circunstâncias externas.

Embora fosse o homem mais poderoso de seu tempo, defendia uma visão mais humilde da existência, com a crença de que tudo na vida, inclusive a morte, deveria ser aceito com serenidade, uma vez que faria parte da ordem natural do universo.

"A felicidade da vida depende da qualidade de nossos pensamentos." - Marco Aurélio



Os três pensadores foram essenciais para o desenvolvimento e disseminação do estoicismo e também para a filosofia Ocidental, influenciando a observação do mundo e da vida ainda hoje.



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Referências:

¹SANTOS, Kleys Jesuvina dos. A influência do estoicismo na filosofia de Foucault. Kinesis, Marília, v. 11, n. 28. 2019. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/kinesis/article/view/9140. Acesso em: 25 set. 2024.

GAZOLLA, Rachel. Representação compreensiva: critério de verdade e virtude no Estoicismo Antigo. Revista da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, v. 19, n. 2, 2006. Disponível em: https://www-periodicos-capes-gov-br.ez40.periodicos.capes.gov.br/index.php/acervo/buscador.html?task=detalhes&source=&id=W1511359753. Acesso em: 25 set. 2024.







Áreas da filosofia: quais são, o que estudam e por que importam
Paula Delgado
Áreas da filosofia: quais são, o que estudam e por que importam
Conheça as áreas da filosofia, como ética, lógica e metafísica, e entenda como elas nos ajudam a pensar sobre o mundo, o conhecimento e a existência.

A filosofia é o campo do conhecimento que busca compreender a realidade, o ser humano e o mundo e, para ser capaz de compreender este todo, dividiu os saberes em diferentes áreas da filosofia.

Diferente de outras formas de saber, como a religião, a filosofia trabalha, a partir de um pensamento lógico e racional, buscar nas perguntas, que não têm respostas prontas, explicações para as nossas inquietações.

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Quais são as principais áreas da filosofia?

Desde a Grécia Antiga, os filósofos se dedicam a investigar temas como a existência, o conhecimento, a moral, a justiça, a linguagem, a beleza e o pensamento lógico.

Para organizar este diverso campo de interesses, a filosofia foi se dividindo em áreas, cada uma com foco específico e questionamentos próprios.

Nessa divisão, muitas vezes os ramos da filosofia se cruzam e se complementam, inclusive compartilhando a atenção dos mesmos filósofos.

Neste texto, apresentamos as principais áreas da filosofia e seus autores.

As 8 áreas da filosofia que você vai conhecer:

  • metafísica
  • epistemologia
  • ética
  • filosofia política
  • estética
  • lógica
  • filosofia da linguagem
  • filosofia da mente
  • autores da filosofia
  • história da filosofia


Metafísica: O que é a realidade?

Metafísica vem das palavras meta, que significa depois, além, e physis, que significa natureza ou física. Ou seja, a metafísica é aquilo que está além da natureza ou da física.

Mas o que seria essa natureza?

Para os filósofos, a natureza é tudo aquilo que compõe tudo o que existe, desde elementos do mundo físico até os fenômenos naturais e os seres vivos.

Aristóteles foi o primeiro filósofo a colocar o foco de questionamentos no ser enquanto ser. Ele defendia que existe uma substância individual - o indivíduo material concreto (synolon) - a qual, o seu conjunto, concebe a realidade.

Contudo, ele dizia que esses indivíduos são compostos de matéria (hyle) - substância básica de tudo - e forma (eidos) - o que define e dá identidade à matéria.

E o que isso significa?

De acordo com Aristóteles, a substância (matéria + forma) é o que existe por si mesmo, sendo a essência de tudo que é real.

Um exemplo que o filósofo apresenta é o da estátua de uma deusa. Uma estátua é feita de bronze (matéria - causa material) e essa quantidade de matéria recebe uma forma (causa formal) que é a de estátua de uma deusa.

Caso modifique o material que a estátua foi feita, a forma se mantém, porém a matéria se altera.

Sendo assim, a matéria só existe porque possui uma forma. Entretanto, a forma sempre será a forma de um objeto material concreto - neste caso, a estátua de uma deusa.

Resumindo, a metafísica é o ramo da filosofia que investiga a natureza da realidade. Ela busca compreender o que existe, o que significa ser e quais são os princípios que regem o universo.


"O ser se diz de muitas maneiras. - Aristóteles"

Vale acrescentar que Martin Heidegger trouxe uma perspectiva diferente. Ele questionou o esquecimento do ser na tradição filosófica e propôs uma recuperação da ontologia na filosofia ocidental, que coloca o ser novamente no centro da reflexão.

Epistemologia: O que podemos conhecer?

A epistemologia é a área da filosofia que estuda o conhecimento, ou seja, investiga a natureza, a origem e os limites da razão.

Em outras palavras, busca entender como é possível afirmar que algo é verdadeiro e quais são os limites do conhecimento.

Já que estamos falando sobre razão, precisamos falar sobre René Descartes.

Ele acreditava que a razão era a única fonte confiável para o conhecimento e que a experiência sensorial poderia distorcer a compreensão do mundo verdadeiro.

Descartes, através do cogito ("Penso, logo existo"), propôs um fundamento irrefutável do conhecimento. Para ele, se um indivíduo é capaz de duvidar, ele está pensando.

Então, necessariamente, existe um sujeito pensante. Esta é a conclusão do argumento do cogito, no qual ele constrói a busca do fundamento seguro do conhecimento.

Resumindo, Descartes buscou, a partir da dúvida metódica, um caminho para o conhecimento verdadeiro.

Posteriormente, Immanuel Kant revolucionou a epistemologia ao sintetizar e superar as tensões de duas correntes filosóficas: o racionalismo e o empirismo.

Em sua obra “Crítica da razão pura“, argumenta que o conhecimento se dá a partir da interação entre as ideias inatas da mente e a experiência sensível.

Com isso, demonstrou que as “coisas em si” (a realidade em si) não são conhecidas, mas sim os seus fenômenos (a realidade como se apresenta). Esses fenômenos são percebidos a partir da intuição sensível (sensibilidade) e dos conceitos e categorias (entendimento).

Para Kant, o sujeito está no centro do processo de construção do conhecimento.

Como a Metafísica e a Epistemologia questionam Deus?

  • Metafísica: Deus existe?
  • Epistemologia: É possível Deus existir?

A metafísica questiona a existência ou não de Deus, já a epistemologia investiga a possibilidade de se ter conhecimento sobre essa existência.

Ética: O que é certo e errado?

A ética é a área da filosofia que estuda os princípios que orientam o comportamento humano, questionando, por exemplo, o que é uma boa vida, o que é certo e errado.

Para este ramo da filosofia, além das regras sociais, a virtude, o dever e as consequências de nossos atos também são pontos de interesse.

Alguns filósofos se debruçaram sobre este conceito e trouxeram visões diferentes:

Filósofo Visão de Ética Ideia Principal Ações
Aristóteles Ética da virtude Buscar a felicidade por meio da virtude e do equilíbrio Valoriza a intenção e o caráter
Immanuel Kant Ética do dever Agir conforme o dever e a razão Valoriza a intenção moral
Jeremy Bentham Ética utilitarista A melhor ação é a que gera felicidade para o coletivo Foco nas consequências das ações



Filosofia Política: Como devemos viver em sociedade?

A filosofia política é o estudo do corpo social que busca entender suas causas e consequências.

Desde os primórdios da filosofia se reflete sobre as estruturas e princípios que regem a sociedade.

Platão em sua obra “A República“ idealizou uma sociedade que era governada por aqueles que estão mais próximos da verdade e da justiça, os filósofos.

Thomas Hobbes propôs que os indivíduos cedam parte de seus direitos a um soberano para que se tenha uma sociedade organizada. Uma vez que, para ele, os homens são essencialmente iguais e, por isso, são capazes de se exterminar.

Posteriormente, Jacques Rousseau trouxe a ideia do contrato social, que diz que a política pertence à sociedade. Para se ter liberdade civil e proteção, o indivíduo deve renunciar seus direitos individuais e entregá-los à uma autoridade escolhida pela comunidade.

Por outro lado, Karl Marx sugere que a luta de classes é que possibilitaria a revolução, propondo uma sociedade sem classes baseada na propriedade comum dos meios de produção.

Em suma, a filosofia política questiona o convívio do indivíduo na sociedade e busca encontrar um modelo ideal.


Estética: O que é o belo? O que é arte?

A estética é a área da filosofia que investiga a natureza do belo, da arte e da experiência estética.

Diversos autores da filosofia se dedicaram ao debate sobre o que era belo, o que fazia algo ser belo e compreender a subjetividade da estética.

Para Aristóteles, o belo estava ligado a grandes proporções, a imponência. Aquilo que era equilibrado, tinha ordem e simetria, porém em pequenas proporções, para Aristóteles era gracioso.

Contudo, Kant argumentou em "Crítica do Juízo" que o juízo estético é subjetivo, mas possui uma pretensão de universalidade. Ou seja, a experiência do indivíduo na contemplação da coisa fazia parte de suas características.


"O belo é o símbolo do bem moral." - Immanuel Kant

Nietzsche, por sua vez, compreendia que a arte era a expressão da vontade de poder e uma forma de afirmar a vida frente ao caos e ao sofrimento.

Resumidamente, a estética questiona o que torna algo belo, como percebemos a arte e qual o papel do gosto na apreciação estética.


Lógica: Como pensamos corretamente?

A lógica é o ramo da filosofia que estuda as regras do pensamento válido e da argumentação correta. Ela se torna fundamental para o pensamento porque permite uma avaliação racional e crítica dos argumentos, evitando a afirmação de falsas verdades.

Apesar da lógica inicialmente não fazer parte do Sistema Aristotélico, para ele, ela é muito mais do que um saber instrumental metodológico, pois todos os saberes pressupõem algum tipo de lógica.

Entretanto, Aristóteles é considerado pioneiro ao sistematizar a lógica formal, introduzindo a teoria do silogismo. Para ele, a teoria científica é formada de um conjunto de deduções a partir de indícios claros que são alcançados por meio da definição e apreensão.


“A lógica não é ciência e sim um instrumento (órganon) para o correto pensar." - Aristóteles

Dando um salto na história da filosofia, no século XX, Bertrand Russell contribuiu para a lógica matemática, buscando fundamentos sólidos para a matemática e a linguagem.

Segundo Russell, muitos dos problemas filosóficos surgem das confusões na linguagem, por isso considerava a lógica uma ferramenta fundamental para filosofia.

Filosofia da linguagem: O que é o significado?

A filosofia da linguagem busca investigar como a linguagem representa o mundo e como damos significado às palavras.

Ludwig Wittgenstein aponta que o significado das palavras está em seu uso no contexto dos jogos de linguagem.

De acordo com ele, as coisas não têm sentido por si mesmas, porque elas só recebem um significado a partir da relação com as outras.

A mesma lógica pode ser aplicada às palavras, porque elas só fazem sentido quando aplicadas a uma frase e um contexto correspondente à estrutura do mundo.

Entretanto, para Saussure, a língua é um sistema social e abstrato, enquanto a fala é a utilização individual e concreta da língua.


"Na linguagem, não há união natural entre o significante e o significado." - Ferdinand de Saussure

Ele entende a língua como um sistema de signos composto pela união de um significante (forma da palavra - sonora ou visual) e de um significado (a ideia que a palavra representa).

Essa distinção entre a a língua e a fala é um questionamento sobre a natureza arbitrária dos signos linguísticos.

Filosofia da mente: O que é consciência?

A filosofia da mente é o ramo da filosofia que estuda a natureza da mente, da consciência e sua relação com o corpo.

Descartes propôs o dualismo ao separar a mente (res cogitans) do corpo (res extensa), os quais teriam propriedades diferentes. Além de questionar como essas substâncias interagem - a mente controla o corpo, mas não é parte dele.

Por outro lado, Daniel Dennett defende uma abordagem materialista e funcionalista da mente, na qual a consciência é resultado de processos cerebrais complexos e comportamentos observáveis.

Portanto, ele busca explicar a mente como um fenômeno natural, uma postura intencional, sem recorrer a explicações sobrenaturais.


“Acho que a melhor ideia da religião é encorajar uma certa modéstia, um respeito e uma reverência pela natureza neste incrível Universo que nós habitamos” - Daniel Dennett


A filosofia como campo plural de investigação

Neste texto você conheceu as principais áreas da filosofia. Este é um campo diverso, formado por perguntas e que instiga o que temos de mais humano. Essas divisões da filosofia são caminhos para investigar grandes questões da nossa existência, do conhecimento, da vida em sociedade e da nossa relação com o mundo interno e externo.

Mas o mais interessante é perceber que esses ramos da filosofia se encontram. Eles dialogam, complementam-se e coexistem. A reflexão que o conhecimento sobre o que a filosofia estuda nos faz pensar sobre o que é certo, o que é belo, o que é justo, o que é ético e que nós somos e podemos ser.

Cada uma dessas áreas é uma porta esperando para ser aberta e você tem a chave para cada uma delas, basta você ter coragem e curiosidade para desbravar o mundo e a si mesmo.

Esperamos que este texto tenha te inspirado a descobrir mais sobre filosofia. Aqui na casa do saber temos diversos cursos para te ajudar a ir mais fundo neste conhecimento, você pode conhecer mais clicando aqui.

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Referências

DERRIDA, Jacques. A Filosofia da Linguagem.

MARCONDES, Danilo. Introdução à História da Filosofia.

UOL. Filosofia da Linguagem: (3), (4) e (5).

SCHOLZ, Barbara C.; PELLETIER, Francis Jeffry; PULLUM, Geoffrey K. Philosophy of linguistics. In: ZALTA, Edward N. (Ed.). Stanford encyclopedia of philosophy.

Como Estudar Filosofia: um passo a passo para iniciantes
Paula Delgado
Como Estudar Filosofia: um passo a passo para iniciantes
Confira um guia sobre como estudar filosofia com dicas de práticas para começar. Veja as principais dicas de leituras, filósofos e cursos para iniciar

A busca pelo conhecimento de si e do mundo é uma preocupação que há milênios acompanha o homem. E entender como estudar filosofia é um passo essencial para compreender estas questões.

Neste texto, você vai ver um caminho seguro e sério para você começar a sua jornada no mundo filosófico, com um passo a passo, dicas de leituras e trajeto de estudo.

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Por que começar a estudar filosofia?

Já dizia Aristóteles, a filosofia começa a partir do espanto com o mistério da vida.

O espanto, no sentido grego da palavra, é admiração. Quando a vida nos mostra algo que nos é estranho, diferente, nós admiramos e sentimos a necessidade de compreender aquilo que está à nossa frente.

Então, assim, surge o pensamento filosófico: da necessidade de compreender a realidade.

A filosofia é a ciência que te ensina a desenvolver o pensamento crítico sobre as questões que te afligem.

O desejo de entender o como, o porquê, o que é nos leva ao exercício do pensar, que pode nos trazer algumas respostas, mas também muitas perguntas.

Como começar a estudar filosofia?

Para tudo na vida há um começo, inclusive para a filosofia, quando Tales de Mileto, no século VI começou a questionar a crença mítico-religiosa que governava naquele período.

Um dos principais objetivos da filosofia é a busca pela verdade e a evitação do erro.

Desde a Grécia Antiga, filósofos vêm questionando as aparências, os costumes e até mesmo as próprias certezas, tentando compreender o que realmente é verdadeiro.

Por exemplo, Sócrates alertava sobre os perigos de viver sem examinar a própria vida. Já Platão, afirmava que o mundo sensível pode ser enganoso, enquanto a realidade verdadeira está no mundo das ideias.

Ao longo da história, a filosofia desenvolveu métodos e conceitos para evitar respostas equivocadas ou que ainda não podiam ser tidas como verdadeiras.

Portanto, estudar filosofia também é aprender a pensar de forma mais clara, questionar e buscar a verdade com sinceridade para, assim, atingir o conhecimento verdadeiro.

Entretanto, um dos erros mais comuns para quem começa a se aventurar no mundo da filosofia é querer pular uma parte importante desta ciência: a busca pelo método e a companhia de um mestre.


Como estudar filosofia pode ajudar na sua vida

Primeiramente, estudar filosofia é mais do que saber os conceitos, as escolas ou os principais filósofos. Isso é conhecer a teoria da ciência filosófica.

Ao mergulhar nesse universo, você aprende a argumentar com mais clareza, lógica e profundidade. Isso significa ser capaz de defender suas opiniões com coerência, perceber incongruências nos argumentos que lhe são apresentados e questionar os próprios pensamentos.

Além disso, a filosofia amplia sua visão de mundo. Ela te apresenta formas diferentes de pensar, de viver e de enxergar a realidade.

Você passa a perceber que muitas das suas certezas são adquiridas, e começa a analisá-las de maneira mais crítica e consciente.

Esse é o processo do pensamento filosófico: abrir horizontes, desafiar a nossa zona de conforto e libertar a nossa mente das amarras impostas pela sociedade.

Por exemplo, o estoicismo propõe a busca da liberdade interna diante das situações da vida, valorizando a razão, o dever e a tranquilidade ao enfrentar o inevitável.

Sendo assim, não é sobre reprimir sentimentos, mas sobre respeitar e entendê-los com sabedoria.

Mas, talvez, o maior desafio da filosofia seja o autoconhecimento.

Quando questões como “quem sou eu?”, “o que é uma vida boa?” ou “o que é verdade?” começam a aparecer na nossa mente, significa que estamos começando a entender mais sobre nós mesmos e sobre o que realmente importa na vida.

Estudar filosofia é um processo constante, que provavelmente nunca vai acabar. E como disse Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo.”



Mas, afinal, como começar a estudar filosofia do zero?

É importante você entender que o fim primordial de estudar filosofia é, a partir destes saberes, conseguir transformar a sua vida.

Para isso, você precisa de um caminho estruturado para que não caia em erros basilares desta ciência milenar.

Este é um campo complexo que, quando não entendido de forma profunda e crítica, pode te levar ao que a filosofia busca refutar: falsas verdades.

Vamos às dicas para estudar filosofia:

  1. Comece com livros de filosofia para iniciantes

    Inicie o estudo da filosofia com um número reduzido de obras e com uma linguagem mais acessível. Isso vai permitir que você entenda os conceitos básicos da filosofia e consiga caminhar para discussões mais profundas.

    Alguns livros introdutórios:

    • O mundo de Sofia, de Jostein Gaarder
    • Iniciação à história da filosofia, de Danilo Marcondes
    • Convite à Filosofia, de Marilena Chaui


  2. Não tenha medo dos textos clássicos

    É através das obras clássicas que você consegue ter acesso à construção do pensamento filosófico que aborda questões fundamentais para este campo, como ética, política, metafísica e epistemologia.

    Os pensamentos de Sócrates, Platão e Aristóteles são parte de um bom trajeto de estudo da filosofia depois que você começa a se inteirar sobre o assunto.

    Platão:

    • O mito da caverna
    • Fedro
    • Críton


    Aristóteles:

    • Ética
    • Política
    • Retórica


    Vale lembrar que Sócrates não tem nenhuma obra escrita, foram Platão e Xenofonte que transcreveram suas ideias.

    Ademais, siga a nossa sugestão de ordem de leitura colocada anteriormente. Isso vai ajudar a otimizar a sua compreensão.

  3. Evite escolhas aleatórias ou baseadas no gosto pessoal

    A seleção de textos, cursos de filosofia e o direcionamento da aprendizagem devem levar em conta o encadeamento de ideias, a relevância filosófica e a qualidade do que é apresentado — e não apenas afinidade temática ou fama.

    Você pode ter como meta final saber mais sobre estoicismo, por exemplo, mas entender o caminho até ele vai te ajudar a ter mais entendimento sobre essa corrente.

  4. Sem pressa e com atenção

    A leitura filosófica deve ser crítica. E isso exige tempo, paciência e reflexão sobre cada ideia apresentada. Não queira aprender rápido, queira aprender verdadeiramente.

  5. Anote tudo

    Esteja sempre com alguma ferramenta que te permita anotar suas dúvidas e reflexões para não deixar escapar nenhum insight ou questionamento.

    Isso parece óbvio, mas, com a rotina complexa da sociedade contemporânea, podemos nos esquecer de que o registro é sempre uma oportunidade de revisitar e ter um novo olhar sobre aquilo que já vimos.

  6. Busque cursos de filosofia consolidados no mercado

    Você até pode começar a estudar por conta própria para ter uma ideia geral, mas a compreensão fica muito mais fácil e profunda quando você tem profissionais capacitados e uma estrutura sólida para te guiar nessa trajetória de conhecimento.

    Aqui na Casa do Saber temos mais de 90 cursos de filosofia para iniciantes até para quem já está em uma etapa mais avançada do estudo. Conheça alguns:



  7. Aplique a filosofia na sua vida

    No início deste texto nós falamos que estudar filosofia é conseguir transformar a sua vida.

    Então, a cada estudo, busque exemplos concretos de situações que você esteja vivendo ou observando. Isso ajuda a visualizar e aplicar os conceitos filosóficos que aprendeu na vida prática.

    Mais do que saber conteúdos, o objetivo é formar um pensamento crítico, reflexivo e fundamentado.




Melhores livros de filosofia: de iniciante até mais avançados

Uma boa leitura pode ser a chave para abrir sua mente para as grandes questões da humanidade.

Portanto, separamos uma lista das obras com os principais conceitos e ideias dos mais relevantes autores da filosofia, organizadas do mais acessível ao mais desafiador.

Apologia de Sócrates (Platão)

Capa do livro Apologia de Sócrates de Platão com imagem de Sócrates em tribunal

Diálogo de Platão fundamental para entender o nascimento da filosofia ocidental. É um texto mais simples, direto e apresenta Sócrates defendendo, não a sua vida carnal, mas sim a sua vida filosófica no julgamento que o levou à morte.

Ética a Nicômaco (Aristóteles)

Um dos textos mais essenciais sobre ética. Nele você vai compreender o conceito de virtude, vida virtuosa, além de como alcançar a felicidade - eudaimonia.

Meditações (Marco Aurélio)

O estoicismo está em alta e este texto traz reflexões filosóficas de Marco Aurélio.

Com uma leitura acessível e inspiradora, ele é excelente para começar entender sobre a corrente filosófica estoica e para quem quer encontrar um propósito de vida.

Confissões (Santo Agostinho)

Nesta autobiografia filosófica, Santo Agostinho une a razão, a fé e as inquietações sobre a existência humana. Ele relata a sua trajetória de vida até a conversão ao cristianismo.

Meditações Metafísicas (René Descartes)

Livro Meditações Metafísicas de René Descartes com retrato do autor na capa

Esta é uma obra mais clássica do racionalismo moderno, a partir dela você terá acesso a conceitos essenciais para entender a dúvida filosófica, o cogito e a relação entre mente e corpo.

Este texto apresenta uma leitura mais complexa. Porém, se você seguir a ordem de leitura desta lista, apesar de ser um desafio, você conseguirá entender os conceitos do racionalismo propostos por Descartes.

Ensaio sobre o Entendimento Humano (John Locke)

Um livro basilar sobre epistemologia. Nele, Locke explora as origens do conhecimento humano e a ideia de experiência como pilar do saber - experiência sensível. Esta obra é um ponto de referência para o empirismo.

Crítica da Razão Pura (Immanuel Kant)

Aqui o estudo começa a ficar mais sério. Com uma leitura mais densa e complexa, nesta obra, Kant busca redefinir os limites da razão pura (razão sem a experiência) e como ela impacta na construção do conhecimento.

Um desafio, porém agrega muito e é fundamental para quem quer se aprofundar na filosofia.

Assim Falou Zaratustra (Friedrich Nietzsche)

Capa do livro Assim Falou Zaratustra de Friedrich Nietzsche com ilustração do filósofo

Nietzsche escrevia suas ideias de forma diferente dos demais filósofos, gostava de discorrer poeticamente.

Neste romance, ele apresenta o conceito de “super-homem” ou “além-do-homem”. Na história, Zaratustra é um filósofo que sai das montanhas para questionar e fazer críticas à moral tradicional, propondo uma nova forma social.


O Existencialismo é um Humanismo (Jean-Paul Sartre)

Neste ensaio introdutório (indicado também para iniciantes) sobre o existencialismo, Sartre desenvolve a sua teoria de que essa corrente filosófica torna a vida humana possível porque ele é um ser livre capaz de formar a sua própria essência a partir de suas escolhas.

Vigiar e Punir (Michel Foucault)

Esta obra é uma crítica social e política sobre a relação de poder, disciplina e a sociedade moderna. Foucault faz uma análise da transição da punição pública para a vigilância constante.

Vigiar e Punir é um texto mais denso, com ideias complexas. Entretanto, se o aprendizado for bem estruturado e houver a orientação de bons profissionais, a leitura pode ser compreendida e muito aproveitável.

Conclusão

Estudar filosofia não é encontrar respostas prontas para as incertezas da vida, mas sim aprender a fazer as perguntas certas para conseguir compreender o mundo e a si mesmo.

Este é um caminho para se fazer a vida toda. Esgotar os conhecimentos de filosofia é impossível, porque quando questionamos, refletimos e pensamos criticamente estamos filosofando.

Cada leitura, cada ideia debatida, é uma oportunidade de enxergar o mundo e a si mesmo sob uma nova perspectiva e, com isso, perceber que tudo e todos são uma metamorfose ambulante. Permita-se duvidar, repensar e mudar de ideia.

Por isso, cultive a curiosidade. A filosofia nos ensina que compreender a vida é um processo e não um destino final. Quanto mais você abrir a sua mente, mais libertador será o percurso do conhecimento.

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Conheça os Principais Filósofos da História
Paula Delgado
Conheça os Principais Filósofos da História
Conheça os principais filósofos da história, seus conceitos e como suas ideias transformaram a sociedade e a forma como pensamos.

A filosofia é um um campo do conhecimento que se desenvolve a cada dia a partir de reflexões dos principais filósofos sobre questões da vida, nossa interação com o mundo e com o outro.

Por isso, para você compreender melhor os conceitos e ideias, separamos para você neste texto os grandes nomes da filosofia.

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Sócrates – O filósofo do autoconhecimento

imagem de filósofo sócrates

Sócrates (470 - 399 a.C.) é um dos maiores filósofos da história. Foi ele quem deu início ao Período Antropológico da filosofia, quando levou os estudos desta ciência das questões naturais para o homem.

A partir de seu método, a maiêutica - que tem como princípio questionar o outro para que reconhecesse sua ignorância e encontrasse o conhecimento - desenvolveu suas principais contribuições sobre justiça, ética e virtude.

“Conhece-te a ti mesmo”

Com esta emblemática frase, ele enfatizava que o reconhecimento da ignorância era o primeiro passo para o conhecimento.

Sócrates foi acusado de desrespeitar as tradições religiosas e corromper a juventude, o que o levou a ser condenado à morte. Embora pudesse ter fugido ou ter se declarado culpado, ele aceitou a pena sendo fiel aos seus princípios: a verdade e a razão.

Apesar de não ter deixado obras escritas, seus pensamentos foram registrados por seus discípulos, principalmente, Platão.

Platão – O mundo das ideias

escultura de platão

Platão (427 - 348 a.C.) foi discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles e é um dos grandes nomes da filosofia.

Ele desenvolveu a Teoria das Ideias, que propõe a existência de um mundo de formas perfeitas e imutáveis (o mundo das ideias), e a realidade (o mundo sensível) é apenas uma cópia imperfeita. Também fundou a Academia de Atenas, considerada a primeira universidade do mundo ocidental.

Além disso, em "A República", sua principal obra, Platão discute sobre o que seria um governo ideal. Para ele, o governo deveria estar nas mãos dos filósofos, já que representam aqueles que estão mais próximos da verdade e da justiça.

Assim como seu mestre, Platão abordou temas como ética, política e a natureza da alma, influenciando profundamente o pensamento ocidental. Suas ideias continuam a ser estudadas e debatidas nos dias de hoje, reforçando sua relevância na filosofia.

Aristóteles – O pai da lógica e da ética prática

escultura do filósofo Aristóteles

Aristóteles (384–322 a.C.), discípulo de Platão e tutor de Alexandre, o Grande, é um dos grandes nomes da filosofia grega.

Diferentemente de seu mestre, ele valorizava a experiência empírica como fonte do conhecimento, sistematizando uma nova forma de pensar e influenciando diversas áreas do saber que dialogam com a filosofia, como:

  • Lógica
  • Ética
  • Política
  • Biologia
  • Retórica


Ele fundou Liceu (335 a.C.), sua escola em Atenas, onde desenvolveu suas ideias e uma nova forma inovadora de ensinar filosofia: caminhava pelos jardins da escola aristotélica enquanto seus discípulos o acompanhavam anotando suas falas.

Com sua abordagem analítica, desenvolveu o que ficou conhecido como Período Sistemático, que é marcado pela categorização e sistematização do conhecimento existente.

Ademais, Aristóteles trouxe o conceito de virtude e razão como o caminho para a felicidade - objetivo final da vida ética. Suas ideias e conceitos seguem sendo visitados e influenciando a nossa vida atualmente.

Santo Agostinho – Fé e razão na filosofia cristã

pintura retratando santo agostinho de hipona

Santo Agostinho de Hipona (354 - 430 d.C.) foi um dos principais filósofos da corrente filosófica patrística, responsável por criar uma base teológica para integrar o pensamento filosófico e o cristão na transição da Antiguidade e para a Idade Média.

Ele defendia que a filosofia grega, especialmente o platonismo, era capaz de fornecer meios que contribuíssem para a estrutura da doutrina cristã.

Além da construção da base para a formulação do cristianismo, Santo Agostinho filosofou sobre o tempo, que ele dizia saber o que é, mas que não podia explicá-lo, caso perguntado.

Também falou sobre livre-arbítrio, o bem e o mal. Defendia que a proximidade de Deus é o único caminho para o bem, enquanto o afastamento d'Ele representa o mal. Contudo, o livre-arbítrio foi concedido ao homem, permitindo escolher até mesmo o caminho do mal.

Em sua autobiografia "Confissões", relata sua trajetória até a conversão, abordando temas como pecado, maniqueísmo e hedonismo, tornando-se referência na literatura cristã até os dias atuais.


René Descartes – A razão como ponto de partida

pintura retratando rene descartes

René Descartes (1596–1650) é considerado o fundador do racionalismo moderno, movimento que influenciou fortemente o pensamento moderno e teve nomes de famosos filósofos como expoentes, como Francis Bacon e Thomas Hobbes.

Ele sistematizou um método que buscava uma certeza básica, livre dos questionamentos céticos, que fosse base para a fundamentação de uma nova teoria científica.

Sendo assim, este método precisava de diretrizes para que o procedimento fosse cumprido. Descartes formulou 4 regras para o pensamento lógico:

Regra Descrição
Regra da evidência Nunca aceitar algo como verdadeiro se não tiver certeza clara que realmente é verdadeiro.
Regra da análise Separar um problema em quantas partes forem necessárias para compreendê-lo melhor
Regra da síntese Organizar os pensamentos dos mais fáceis para os mais complexos de entender
Regra da enumeração Fazer uma lista e revisá-la com atenção para garantir que nada foi omitido


Segundo Descartes, conhecer a natureza e compreender o mundo só é possível quando acompanhado do autoconhecimento, da reflexão sobre quem somos enquanto sujeitos pensantes.

“Cogito ergo sum”

Cogito é a certeza do sujeito pensante como tal.


Immanuel Kant – A ética da razão pura

pintura retratando immanuel kant

Immanuel Kant (1724 - 1804) revolucionou a filosofia ao fundamentar a ética na razão pura, objetivando estabelecer os princípios universais e imutáveis da moral.

Para ele, as questões éticas pertencem à razão prática e não à razão teórica. Pois é na razão prática que agimos livremente segundo princípios morais; já na razão teórica, do conhecimento, estamos condicionados a nossa própria estrutura cognitiva.

Em sua obra Crítica da Razão Pura, Kant investigou os limites e as condições do conhecimento humano, propondo uma combinação da intuição sensível (sensibilidade) e dos conceitos e categorias (entendimento) para a compreensão da realidade.

De acordo com Kant, os princípios da razão prática são universais e defendem os nossos deveres, já que se aplicam a todos os indivíduos - ética do dever.

Para compreender melhor as ideias desenvolvidas por Kant sobre ética e filosofia moral, acesse o curso Os pensadores: Immanuel Kant em nossa plataforma.



Friedrich Nietzsche – A crítica à moral tradicional

fotografia de Friedrich Nietzsche

Friedrich Nietzsche (1844 - 1900) foi um filósofo que foi de encontro aos fundamentos da moral tradicional ocidental, especialmente a judaico-cristã, propondo uma reavaliação dos valores pré-estabelecidos.

Ele é considerado o fundador do niilismo, movimento que questiona os valores tradicionais da sociedade e a existência de um propósito de vida.

Segundo Nietzsche, a criação de novos valores baseados na afirmação da vida e na individualidade seriam o caminho para superar a crise social no ocidente.

Em seu livro Assim Falou Zaratustra, Nietzsche propõe o conceito de além-do-homem, que seria um ser capaz de criar seus próprios valores e viver de forma autêntica.

Ademais, também desenvolveu o conceito de eterno retorno, que diz respeito à ideia de que a vida se repete incessantemente, desafiando o indivíduo a viver da maneira que desejasse sem se prender à moralidade da sociedade - um modelo ideal para a humanidade.

Karl Marx – Filosofia e transformação social

fotografia de karl Marx

Karl Marx (1818 - 1883) desenvolveu uma forte crítica ao sistema capitalista, especialmente referente à alienação e à exploração do trabalhador, influenciando diretamente os sistemas políticos e econômicos da época.

Uma de suas obras mais significativas é O Capital, na qual ele faz uma análise do funcionamento da economia capitalista apresentando a lógica do lucro como causadora da desigualdade e intensificadora da opressão.

O ponto central do trabalho de Marx é o trabalho. De acordo com sua filosofia, o capitalismo transforma o trabalhador em instrumento de produção, desconsiderando sua humanidade. Com isso, tem-se a alienação social que ocorre em várias dimensões: do produto, do processo de trabalho, da essência humana e do outro.

Então, seria a luta de classes, segundo ele, o motor da história e também o elemento capaz de superar o capitalismo e alcançar uma sociedade mais igual por meio da revolução proletária.

Jean-Paul Sartre – O existencialismo e a liberdade radical

fotografia de Jean Paul Sartre

Jean-Paul Sartre (1905 - 1980) é considerado um dos principais filósofos do existencialismo, juntamente com Albert Camus. A ideia central de sua filosofia é a liberdade do homem.

Ele propõe que a “existência precede a essência”, ou seja, o ser humano não possui uma essência pré-determinada, ele é livre para construir sua própria identidade por meio de escolhas e ações - o reconhecimento da liberdade.

Em 1943, Sartre explora o reconhecimento da liberdade do indivíduo e a responsabilidade que vem junto com ela, gerando a sensação de angústia existencial como consequência dessa liberdade.

Embora tenha se aproximado do marxismo, ao inserir o homem na realidade social e na alienação da consciência, ele manteve uma postura crítica conciliando a liberdade individual com as estruturas sociais.

Simone de Beauvoir – Filosofia da liberdade e do feminino

fotografia de Simone de Beauvoir

Simone de Beauvoir (1908 - 1986) foi uma filósofa influente no século XX e fundamental no desenvolvimento do pensamento feminista e na filosofia existencialista.

Sua obra mais importante foi O Segundo Sexo, onde examina a construção social da mulher, desafiando as concepções tradicionais que limitavam o comportamento feminino à biologia.

Uma de suas frases mais marcantes é "ninguém nasce mulher, torna-se mulher" que resume sua tese de que a identidade feminina é moldada por fatores históricos e culturais, e não por uma essência natural.


Simone de Beauvoir não só influenciou como também foi influenciada pelos princípios do existencialismo, especialmente pela ideia de que "a existência precede a essência".

A partir disso ela argumenta que as mulheres devem assumir a responsabilidade por sua liberdade e se libertar das imposições patriarcais.

Filósofos contemporâneos

A filosofia contemporânea surge a partir da crise do pensamento moderno no século XIX e ainda permanece até os dias atuais, o que pode tornar mais difícil o processo de enxergar suas características.

Contudo, esta filosofia busca fundamentar o conhecimento e as teorias científicas através da análise da subjetividade e da estrutura cognitiva do indivíduo, recebendo influência do racionalismo e empirismo.

Conheça alguns dos principais filósofos contemporâneos:

Michel Foucault

Ele fazia uma forte crítica ao poder e formulou a ideia de microfísica do poder, onde falava sobre como as relações de poder tentam docilizar as pessoas através da disciplina.

Para Foucault, as instituições moldam comportamentos e regras da sociedade, além do conhecimento estar sempre ligado ao controle e à hierarquia social.

Judith Butler

Judith Butler revolucionou o estudo de gênero ao apontar que a identidade de gênero é socialmente construída, não uma essência fixa. Ela propôs que a repetição de atos de gênero cria e fortalece as identidades, desafiando normas tradicionais.

Byung-Chul Han

Byung-Chul Han pesquisa a “Sociedade do cansaço” , a busca incessante pela produtividade e desempenho da sociedade contemporânea, a partir de uma crítica ao neoliberalismo, leva ao esgotamento e a doenças neuronais, como depressão e burnout.

Filósofos brasileiros

Apesar de o Brasil não ter uma longa tradição dentro da filosofia, alguns filósofos brasileiros estão se fazendo pertinentes e populares quanto aos estudos deste campo de saber.

Um dos principais nomes nacionais é Marilena Chaui que, influenciada e especialista na obra de Spinoza, explora temas como a filosofia política e a democracia como garantia de direitos.

Também temos Clóvis de Barros Filho, reconhecido por tornar a filosofia acessível e democratizar o pensamento filosófico na sociedade. Além de Renato Noguera que aborda a filosofia africana e a decolonialidade.


Por que estudar os principais filósofos?

A busca pelo conhecimento é de grande valia em qualquer campo. Porém, na filosofia, esse aprendizado te ajuda a compreender melhor o mundo, a sociedade e a si mesmo.

A principal proposta deste texto foi convidar você para refletir sobre as ideias dos principais filósofos e começar a busca pelo conhecimento e se preparar para enfrentar as complexidades da vida e agir com maior responsabilidade e racionalidade.

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Referências:

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 12. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.

RODRIGUES, Carla. Judith Butler. Blogs de Ciência da Universidade Estadual de Campinas: Mulheres na Filosofia, v. 6, n. 3, p. 99–113, 2020.

Qual a origem da Filosofia? Descubra como, onde e por que surgiu
Paula Delgado
Qual a origem da Filosofia? Descubra como, onde e por que surgiu
Entenda o que levou os primeiros pensadores a questionarem os mitos e como isso mudou para sempre a forma como pensamos o mundo.

A origem da filosofia se deu pelo fato do ser humano se incomodar com a ideia da dúvida, com a ausência de resposta e com a “não-resposta“.

E essa inquietação sobre os aspectos fundamentais da nossa vida é que deu origem a uma das mais antigas e fundamentais ciências.

Este texto é para quem sente esse incômodo e quer conhecer a origem da filosofia, como se deu seu nascimento, os principais filósofos e conceitos, além de descobrir por que entender esse caminho pode mudar a sua forma de ver o mundo.

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A origem da Filosofia: quando e por que começamos a filosofar?

O que faz alguém deixar de contar histórias mitológicas e começar a questionar racionalmente a realidade?

Ao se perguntar “o que é…?” ou “por quê…” é que se dá o primeiro passo rumo a um caminho sem volta: o da busca pelo conhecimento. Mas, afinal, qual foi o impulso filosófico responsável pela origem da filosofia?

Spoiler: a indignação com as explicações que já não respondiam aos questionamentos da vida.

No século VI a.C., Tales de Mileto não aceitou as explicações sobrenaturais para a origem do mundo. Cem anos depois, Sócrates foi sentenciado à morte defendendo seus princípios e valores, quando foi acusado de desrespeito às tradições religiosas e por corrupção da juventude.

Então, por que começamos a filosofar? Para ir ao encontro do conhecimento e aprendermos a pensar racionalmente em busca de respostas que façam sentido para nós no momento que vivemos.

Se você tem interesse em ir mais fundo nos saberes da filosofia, conheça o nosso curso “Introdução à filosofia”, ele vai te dar as bases teóricas do conhecimento e que definiram o ponto de partida para a ciência.

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O contexto da Grécia Antiga: berço da filosofia

A filosofia surgiu na Grécia por volta do século VI a.C. com Tales de Mileto. Ele foi o primeiro homem da história a filosofar, quando questionou as explicações mítico-religiosas para as coisas que aconteciam no mundo.

Acreditar no que estava posto já não era mais uma opção ao perceber que a vida era muito mais complexa. E foi a partir da racionalização dos acontecimentos e de uma nova perspectiva para a explicação da nossa existência que a filosofia começou a se formar.

A filosofia tem uma data de origem, um criador, um local de nascimento e uma proposta de existência. E muito do que somos e pensamos hoje advém da primeira inquietação de Tales de Mileto.

Ainda no mundo pré-filosófico, a mitologia coordenava as relações humanas e estabelecia princípios para essa engrenagem, além de explicar fenômenos naturais.

Tal era a força da crença daquela sociedade, que os grandes autores da época, como Homero (Ilíada) e Hesíodo (O trabalho e os dias), eram considerados pessoas que tinham um contato mais próximo com divindades.

Dessa forma, acreditava-se que os deuses ou as musas sussurravam nos ouvidos dos poetas influenciando-os a produzir as suas obras. Portanto, o que eles escreviam não era fruto da criatividade humana e, sim, um produto divino.

Os cultos e rituais religiosos eram tão fortes socialmente na Grécia antiga que influenciaram, por exemplo, a escola de Pitágoras e o pitagorismo, que vieram tempos depois da filosofia já fazer parte daquela sociedade.

Nas transações mercantis havia, além das trocas comerciais, trocas culturais. Com isso, o contato com outras sociedades, novos conhecimentos, tradições mitológicas, acabou enfraquecendo a crença absoluta e incontestável nos mitos.

Ainda que diversos fatores tenham propiciado o surgimento da filosofia na Grécia antiga, o principal fator foi o advento da polis.

Com a decadência de uma civilização baseada na monarquia divina, começaram a surgir as cidades-Estado, nas quais havia uma participação mais ativa dos cidadãos na política.

Todo esse cenário possibilitou que começasse a surgir uma insatisfação com as explicações dadas pelo pensamento mítico.

Apesar da filosofia representar uma ruptura radical com o pensamento mítico, este foi um processo gradual de transformação da sociedade grega que permitiu o surgimento do pensamento filosófico-científico.

Do mito ao logos: o nascimento de um novo modo de pensar

Como dito anteriormente, antes do surgimento da filosofia, o mundo era explicado por mitos e, quando essas explicações não eram mais suficientes para sanar a curiosidade do homem, a tentativa de entender a vida racionalmente passou a guiar a busca pelas respostas.

E foi a filosofia a responsável por essa transição do mito ao logos.

Diferença entre mitologia e filosofia

Primeiro vamos compreender o que é mitologia. O termo Mythos, do grego, é a origem etimológica de mito e significa narrativas com um discurso imaginário, tido muitas vezes como sinônimo de “mentira”.

Portanto, a mitologia é um conjunto desses mitos. São as narrativas fictícias com elementos místicos e sobrenaturais, utilizadas para explicar o mundo e a realidade de forma simbólica - pensamento mitológico.

Já a filosofia é baseada no pensamento racional, que por sua vez fundamenta-se no uso da razão, da lógica e da observação crítica para compreender a vida e seus fenômenos.

O pensamento racional surgiu a partir de pensadores que questionaram as explicações míticas e buscavam respostas mais racionais.


Os primeiros filósofos: os pré-socráticos e a busca pelo princípio (arché)

A principal contribuição dos primeiros filósofos gregos deu-se a partir de tentativas iniciais de explicar a realidade. Com isso, desenvolveu-se os conceitos básicos das teorias da natureza.

Os filósofos pré-socráticos são aqueles que vieram antes de Sócrates (470-399 a. C), portanto, os primeiros filósofos.

Apesar de muito ter sido perdido, através de alguns fragmentos e citações de filósofos posteriores, é possível conhecer o pensamento pré-socrático.

Aristóteles, em Metafísica (1-4), e Diógenes de Laércio (I, 14-5) apontaram uma divisão deste período em duas grandes correntes: escola jônica e escola italiana.

Escola jônica: interesse sobre as teorias sobre a natureza (physis).

Conheça alguns dos principais filósofos jônicos:

Tales de Mileto

Aristóteles, em Metafísica, aponta que Tales foi ponto de partida para a criação da filosofia no século VI a. C. Ele foi o primeiro a buscar uma visão de mundo que não fosse mítica, o que o fez ser considerado o primeiro filósofo.

Tales investigava qual era a origem da natureza e colocou como elemento primordial (arqué) a água. Além disso, estimulava seus discípulos a refletirem e encontrarem diferentes princípios explicativos para a origem das coisas.

🔎 Entenda o que é Arqué

Arqué ou (arché) é um termo da filosofia que significa princípio, origem ou elemento fundamental de todas as coisas. Os filósofos pré-socrático buscavam compreender a origem da natureza, e cada pensador tinha uma ideia diferente do que seria este princípio universal.

A definição de arqué foi fundamental porque foi uma tentativa de apresentar uma explicação da realidade a partir de um princípio básico.


Anaximandro

Ele foi o principal discípulo de Tales de Mileto e propôs o ápeiron (o indeterminado) como princípio primeiro, utilizando a noção de arqué.

Seu grande diferencial foi trazer uma nova noção de arqué que não se baseava nos elementos tradicionais, propondo uma explicação mais abstrata para a origem da natureza.

Escola italiana: explicação mais naturalista da realidade.

Veja quais foram alguns dos principais filósofos dessa escola:

Pitágoras

Pitágoras foi o fundador dessa escola que mesclava pensamentos filosóficos com a manutenção de alguns elementos mítico-religiosos.

Com uma postura semirreligiosa e iniciática, a doutrina central girava em torno do número como elemento básico explicativo da realidade, sendo ele a justificativa para a harmonia cósmica.

Heráclito de Éfeso, o Obscuro:

Recebeu esta alcunha devido à complexidade de seus pensamentos que diziam que a realidade natural se caracterizava pelo movimento, estando todas as coisas em fluxo.

“Não podemos entrar no mesmo rio, porque o rio não é mais o mesmo “

Esta famosa frase de Heráclito de Éfeso representa a ideia de fluxo da realidade, onde o rio seria o movimento de todas as coisas.

Parmênides

Parmênides defendia a doutrina da existência de uma realidade única. Foi ele quem introduziu a ideia de distinção entre realidade e aparência.

Diferentemente de Heráclito, ele dizia que o movimento é apenas aparente, um aspecto superficial das coisas. Para ele, era necessário buscar aquilo que permanecia o mesmo na mudança, isso permitiria identificar a coisa.

“É o mesmo: o ser é o pensar”

Nesta frase, Parmênides diz que a racionalidade real e a razão humana pertencem à mesma natureza, permitindo ao homem pensar o ser.


Sócrates e a virada antropológica

Sócrates é tomado como um marco na história da filosofia porque trouxe uma nova problemática para a discussão filosófica: questões ético-políticas. Ou seja, questões relacionadas ao homem.

É relevante trazer a informação que, por Sócrates ter todo o seu pensamento transmitido por meio do ensinamento oral, todos os registros de sua filosofia foram feitos por seus seguidores, sendo o principal, Platão.

Antes de tudo, para entender o que foi a virada antropológica proposta por Sócrates, vamos entender o que é cosmos e logos.

Cosmos

Cosmos vem do grego Kosmos que se refere diretamente às ideias de harmonia. Na filosofia, cosmos diz respeito à realidade ordenada.

A busca por entender o universo em sua totalidade a partir das leis naturais e estrutura do universo era uma forma de explicar teoricamente o real.

Sendo assim, surgiu o termo cosmologia para se referir à explicação dos processos e fenômenos naturais, como teoria geral sobre a natureza e o funcionamento do universo.

Logos

Logos significa, literalmente, discurso, porém vinculado a uma ideia racional, diferente da narrativa mitológica. Ele utiliza de explicações justificadas sujeitas à crítica e à discussão para que se tenha um discurso racional sobre o real.

A filosofia socrática parte do questionamento do comum, de certezas que temos, porém que são incompletas ou parciais.

Sócrates tinha um interesse profundo pela problemática ético-política. O homem, enquanto cidadão da polis, passou a se organizar politicamente no sistema conhecido hoje como democracia.

Foi a partir deste olhar para o homem que ele passou a investigar questões relacionadas à virtude, à justiça e ao papel do cidadão dentro da polis.

E é a reflexão filosófica sobre o homem e a sociedade que leva a compreensão de que não se sabe o que se acha que se sabe.

Sendo assim, o método socrático aponta as fragilidades e a possibilidade de aperfeiçoamento das coisas por meio da reflexão individual.

“Só sei que nada sei”

Essa frase de Sócrates aponta que o reconhecimento da ignorância é o princípio da sabedoria.

Desta forma, o ponto de virada antropológico de Sócrates está no fato de que ele não buscava explicações sobre a origem do universo (cosmos). O seu interesse estava em questionar o comum, as certezas que já estavam postas, mas que eram incompletas. E era através da filosofia que se achava a compreensão daquilo que não se sabia.


Conclusão: por que voltar à origem da filosofia importa?

Além da obviedade de entender como a filosofia ocidental influenciou a sociedade em que vivemos hoje, estudar filosofia é mais do que saber nomes, datas ou conceitos filosóficos importantes para a história.

A filosofia surgiu como um mapa que mostra os caminhos para nós aprendermos a questionar, analisar, observar e refletir sobre a realidade de forma racional.

No final, ela nos ensina a pensar criticamente. É um convite para que estejamos abertos e sejamos capazes de enxergar o mundo e nós mesmos com mais clareza, ampliando os horizontes e despertando cada vez mais o desejo por conhecimento e estimulando mais perguntas.

Caso você queira mergulhar ainda mais fundo na filosofia, conheça nosso guia completo para estudar online e descubra como estudar online e expandir seu pensamento.

Esperamos que este texto tenha contribuído para ampliar sua compreensão sobre a origem da filosofia, os grandes primeiros filósofos gregos e o pensamento filosófico que até hoje influencia a maneira como entendemos o mundo, questionamos a realidade e buscamos sentido para a existência.

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Referências

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 12. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.

Filosofia: o que é, conceitos fundamentais e principais filósofos
Paula Delgado
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Você já se questionou sobre o mundo ou sobre si mesmo? Então, já deu o primeiro passo rumo à filosofia.

Nascida na Grécia antiga, ela é fruto de uma reflexão lógica sobre a vida e o saber.

Mais do que um conceito, a filosofia se aplica no cotidiano, estimulando o autoconhecimento, pensamento crítico e soluções mais racionais para os desafios do dia a dia.



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O que é filosofia?

Primeiramente, esta é uma pergunta filosófica. A filosofia estuda o mundo, a existência humana e esse questionamento é um retorno em si mesma. Porque filosofar é exatamente fazer perguntas que nos tiram da zona de conforto.

Apesar deste começo filosófico, o conceito de filosofia é uma tentativa de explicar de forma racional aspectos fundamentais da nossa vida.

O termo filosofia vem das palavras philia (amor) e sophia (sabedoria), então, philosophia (amante da sabedoria).

A filosofia parte de uma reflexão crítica constante, baseada no raciocínio lógico e na argumentação sobre seus fundamentos, métodos e objetivos.

Para que serve a filosofia?

A filosofia tem um caráter problematizador. Perguntar para que ela serve já expressa a sua função questionadora.

Se considerarmos a utilidade da filosofia de forma prática e imediata, talvez ela não se evidencie de maneira concreta. Seus resultados não são imediatos ou palpáveis, mas se transformam ao manter o pensamento em movimento.

Além disso, ela está presente na ética e na política, já que nos auxilia na reflexão sobre questões sociais, certo e errado, direitos e deveres.

Ademais, também pode ser um instrumento de autoconhecimento, ajudando-nos a enfrentar os conflitos da vida. Uma corrente filosófica que está diretamente ligada a isso e pode ser aplicada no cotidiano é o estoicismo.


A origem da filosofia

A filosofia surgiu no século VI a.C, na Grécia, com Tales de Mileto, primeiro homem ocidental a questionar as crenças mítico-religiosas da época.

Anteriormente, os fenômenos eram explicados por mitos, que exerciam a função de coordenar as relações humanas e explicar eventos naturais.

Apesar de diversos fatores terem contribuído para o nascimento da filosofia, como a navegação marítima, a compreensão do calendário, uso da moeda, o principal deles foi a criação das pólis (cidades-estado), que possibilitaram o debate público e o exercício do pensamento racional.

A partir dessa nova organização da sociedade grega, surgiram questionamentos racionais quanto às exigências de uma vida social mais complexa.

Entretanto, este momento não significou uma ruptura, mas uma passagem gradual para investigação racional da realidade.


Conheça os períodos da filosofia

A filosofia, como campo de conhecimento, está em constante transformação e pode ser dividida em quatro períodos.

Filosofia antiga

A filosofia antiga se divide em pré-socrática e socrática.

A filosofia pré-socrática buscava explicações racionais sobre a origem do universo - cosmos - advindas dos fenômenos naturais. Como Tales de Mileto, que via a água como o princípio fundamental da natureza (arché).

Por outro lado, a filosofia socrática, iniciada por Sócrates, focava na busca pela verdade e no desenvolvimento do pensamento crítico.

Portanto, Sócrates mudou o foco da investigação filosófica do cosmo para as questões relativas ao homem.

Filosofia medieval

Influenciada pelo cristianismo, a filosofia medieval buscava conciliar fé e razão. Era uma construção de pensamento enraizada na antiguidade, voltada para responder aos problemas de sua época, tempo em que as questões religiosas ainda eram fundamentais.

A filosofia medieval é tradicionalmente dividida em dois períodos: a patrística e a escolástica.

A patrística se desenvolveu entre os séculos II e VIII, reunindo o pensamento dos Padres da Igreja, como Santo Agostinho.

Já a escolástica, do século V ao XV, teve seu desenvolvimento nas escolas, destacando-se Tomás de Aquino, com a intenção de sistematizar o pensamento cristão.

Filosofia moderna

A filosofia moderna tem início no Renascimento e termina com o Iluminismo, tendo como principais marcas o rompimento com a tradição medieval e a valorização da razão, considerando-a fonte de conhecimento.

Também proporcionou o surgimento do Iluminismo a partir de grandes debates sobre liberdade, ética, política e ciência.

Filosofia contemporânea

A filosofia contemporânea começou no século XIX e está presente até os dias de hoje.

Além de sua vastidão temporal, também apresenta uma diversidade de pensamentos. Entretanto, sua máxima é a busca pela reflexão sobre a realidade e as suas mudanças.

Em vez de buscar verdades absolutas, foca na complexidade da existência humana, na linguagem, na subjetividade e no contexto histórico. Assim, correntes como o existencialismo, o marxismo e o niilismo surgiram.



Principais correntes filosóficas

Como a filosofia está em constante desenvolvimento, novas abordagens surgiram, formando diferentes escolas de pensamento influenciadas pelos filósofos que, ao longo do tempo, abordaram questões fundamentais da existência humana.

Vamos conhecer quais as principais correntes filosóficas:

Estoicismo

Fundado por Zenão de Cítio durante o período helenístico, o estoicismo é uma doutrina filosófica que busca a virtude, valoriza o autocontrole e a aceitação do destino, tendo a razão como caminho para o fim principal, a felicidade.

Racionalismo

O racionalismo é uma vertente filosófica da era moderna que coloca a razão como principal fonte de conhecimento, valorizando as ideias inatas e o raciocínio fundamentado na razão.

Empirismo

Diferentemente do racionalismo, o empirismo é uma teoria filosófica que defende que o conhecimento vem a partir da experiência sensorial e não de ideias inatas. Ou seja, a origem de todas as ideias vem da relação do homem com o ambiente externo.

Positivismo

O positivismo é uma corrente filosófica que coloca o conhecimento científico como a única forma verdadeira de conhecimento. Com isso, prioriza a lógica e os fatos, recusando explicações metafísicas.

Existencialismo

O existencialismo surgiu no final do século XIX, na Europa. Essa corrente filosófica tem como foco a experiência humana e a existência individual. Portanto, valoriza a liberdade e a responsabilidade pessoal diante do sentido da existência.

Marxismo

O marxismo é uma teoria filosófica, social e econômica que entende a sociedade a partir da luta de classes, propondo a superação do capitalismo.

Utilitarismo

Utilitarismo é uma doutrina ética que tem como ideal final promover o bem maior para o maior número de pessoas possível, minimizando o sofrimento e maximizando o bem-estar da sociedade.

Niilismo

Uma das principais características do niilismo é o afastamento de valores absolutos, questionando, principalmente, a existência de um propósito na vida, que são, geralmente, atribuídos à moral absoluta e ao próprio ser.

Fenomenologia

Fenomenologia estuda a experiência humana a partir daquilo que aparece na consciência, buscando entender como os fenômenos se manifestam na mente. A descrição é parte fundamental, porque busca do próprio entender a experiência a partir do próprio fenômeno.


Áreas da filosofia

A filosofia não é uma coisa única, ela é composta por várias áreas, como a metafísica, ética, política e tantos outros.

Entenda um pouco mais sobre algumas áreas da filosofia:

Metafísica

A metafísica é uma área da filosofia que estuda todos os temas relacionados ao ser humano. Investiga a natureza fundamental da realidade, questionando conceitos como a existência, o tempo, o espaço e a casualidade.

Epistemologia

A epistemologia é um campo que estuda o conhecimento, investigando sua origem, natureza e limites.

Ética

A ética busca compreender os princípios que orientam o comportamento humano, a partir da moralidade, ou seja, o que é certo e errado, bom ou mau. Além de buscar compreender como as pessoas agem em diferentes situações morais.

Estética

A estética investiga o belo e a arte a partir de uma perspectiva sensorial, ou seja, como as pessoas percebem e interpretam essas expressões artísticas.

Filosofia política

A filosofia política analisa formas de governo, organização social e a relação entre o indivíduo e o Estado. Para isso, estuda temas como a natureza do poder, o governo, a justiça, a liberdade e os direitos.

Lógica

A partir da busca pela compreensão do pensamento e da linguagem, essa vertente filosófica estuda a natureza lógica, os princípios e fundamentos do raciocínio válido.

Filosofia da religião

Essa corrente examina o fenômeno religioso de uma perspectiva racional, buscando compreender questões como a existência de Deus, a fé, a moral religiosa e a relação entre razão e crença.

Conheça os principais filósofos e suas contribuições

Sócrates

Sócrates foi um filósofo grego, considerado o pai da filosofia ocidental. Acreditava que a sabedoria começa no indivíduo e ficou conhecido por suas ideias sobre ética, imoralidade e pelo método dialético de questionamento, influenciando profundamente o pensamento filosófico.

“Conhece-te a ti mesmo.”

Platão

Platão, discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles, contribuiu para a filosofia ocidental, especialmente com a teoria do mundo das ideias, que seria o mundo da perfeição e da alma.

“Existe em cada um de nós, mesmo aqueles que parecem ser os mais moderados, um tipo de desejo que é terrível, selvagem e sem lei.”

Aristóteles

Aristóteles, discípulo de Platão e mestre de Alexandre o Grande, influenciou profundamente a filosofia ocidental. Suas grandes contribuições estão nas áreas política, lógica e metafísica, defendendo, na teoria da virtude, que o equilíbrio é o caminho para a felicidade.

“Somos o que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é um feito, mas um hábito”.

Kant

Immanuel Kant foi um dos principais filósofos do Iluminismo e fundador da filosofia crítica, que buscou unir racionalismo e empirismo. Em sua frase célebre, mostra que razão e experiência são complementares na construção do conhecimento humano.

“Pensamentos sem conteúdos são vazios; intuições sem conceitos são cegas. “

Nietzsche

Friedrich Nietzsche é frequentemente associado ao niilismo e ao existencialismo. Criticava valores morais tradicionais, especialmente os religiosos. Colocou a “vontade de poder” como a força vital que impulsiona o ser humano a alcançar seu pleno potencial.

“Deus está morto”

René Descartes

Descartes acreditava que a razão era a única fonte segura de conhecimento. Seu principal conceito, o “Método”, propunha um caminho para alcançar o conhecimento verdadeiro através de uma abordagem sistemática e rigorosa.

“Penso logo existo “

Karl Marx

Karl Marx foi um filósofo alemão que teve como uma de suas principais contribuições o materialismo histórico, que afirmava que a história da humanidade é definida pela luta de classes.

“A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes“

Epicuro

Epicuro, filósofo grego, fundou o epicurismo, que considera o prazer um bem supremo. Para ele, a felicidade podia ser alcançada através da busca de prazeres simples e moderados.

“A felicidade não é atingida por grandes riquezas, mas pela ausência de dor no corpo e perturbação na alma “.

Rousseau

Jean-Jacques Rousseau, filósofo do Iluminismo, ficou conhecido por suas reflexões sobre liberdade, sociedade e educação. Sua teoria contratualista defende que a soberania pertence ao povo e que o homem é naturalmente bom, mas corrompido pela sociedade.

“O homem nasce livre, e em todo lugar está acorrentado “

Jean-Paul Sartre

Jean-Paul Sartre foi um filósofo existencialista. Suas principais ideias são sobre liberdade e responsabilidade individual. Um grande defensor da liberdade, colocava-se contrário a toda amarra social.

“Estamos condenados a ser livres.”

Michel Foucault

Michel Foucault foi um filósofo francês conhecido pelo conceito de poder, através da investigação de instituições sociais, desde escolas a hospitais, que tentam moldar o comportamento das pessoas através da disciplina e do poder.

“Onde há poder, há resistência.


Como estudar filosofia?

Para começar a estudar filosofia, inicie com leituras introdutórias e busque cursos com especialistas da área que ofereçam uma visão geral das escolas filosóficas. Aqui na Casa do Saber temos uma variedade de cursos de filosofia para você viajar pela história da filosofia, refletir sobre as áreas de estudo, conceitos, o sentido da vida e muito mais!

Dicas de leitura para começar:

  • Diálogo de Fédon - Platão
  • Retórica - Aristóteles
  • Ética a nicômaco - Aristóteles
  • O mundo de Sofia - Jostein Gaarder


Além disso, busque aplicar os conceitos filosóficos no cotidiano para internalizá-los, permitindo uma compreensão mais profunda da realidade e de si. Exercite a escuta ativa e, como propunha Sócrates, dialogue e debata sobre os temas, isso exercita o pensamento crítico.


Pensar é preciso

Por fim, a filosofia nos ensina que pensar é essencial para a vida. Assim que nos desafiamos a questionar, refletir e buscar a verdade, é nela que encontramos as ferramentas para pensarmos de forma mais clara e racional.

Quando nos permitimos ter acesso e cultivar o conhecimento, ampliamos nossos horizontes, tendo uma visão mais complexa e completa do mundo. A prática filosófica nos liberta porque nos ensina a pensar, e isso nos guia para uma existência mais plena.

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Referências

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 12. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.

SILVA, M. R. da. Filosofia medieval: uma breve introdução. Pelotas: Universidade Federal de Pelotas, 2019.

UOL EDUCAÇÃO. Filosofia. [S.l.]: UOL Educação].

ATENA EDITORA. Existencialismo: fundamentos e conceitos da existência para a atualidade. [S.l.]: Atena Editora, 2024.


SANTOS, M. C. dos; SILVA, R. A. da. A importância da filosofia na formação do enfermeiro. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 72, n. 6, p. 1539-1543, 2019.