Filosofia

Áreas da filosofia: quais são, o que estudam e por que importam

Áreas da filosofia: quais são, o que estudam e por que importam

A filosofia é o campo do conhecimento que busca compreender a realidade, o ser humano e o mundo e, para ser capaz de compreender este todo, dividiu os saberes em diferentes áreas da filosofia.

Diferente de outras formas de saber, como a religião, a filosofia trabalha, a partir de um pensamento lógico e racional, buscar nas perguntas, que não têm respostas prontas, explicações para as nossas inquietações.

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Quais são as principais áreas da filosofia?

Desde a Grécia Antiga, os filósofos se dedicam a investigar temas como a existência, o conhecimento, a moral, a justiça, a linguagem, a beleza e o pensamento lógico.

Para organizar este diverso campo de interesses, a filosofia foi se dividindo em áreas, cada uma com foco específico e questionamentos próprios.

Nessa divisão, muitas vezes os ramos da filosofia se cruzam e se complementam, inclusive compartilhando a atenção dos mesmos filósofos.

Neste texto, apresentamos as principais áreas da filosofia e seus autores.

As 8 áreas da filosofia que você vai conhecer:

  • metafísica
  • epistemologia
  • ética
  • filosofia política
  • estética
  • lógica
  • filosofia da linguagem
  • filosofia da mente
  • autores da filosofia
  • história da filosofia


Metafísica: O que é a realidade?

Metafísica vem das palavras meta, que significa depois, além, e physis, que significa natureza ou física. Ou seja, a metafísica é aquilo que está além da natureza ou da física.

Mas o que seria essa natureza?

Para os filósofos, a natureza é tudo aquilo que compõe tudo o que existe, desde elementos do mundo físico até os fenômenos naturais e os seres vivos.

Aristóteles foi o primeiro filósofo a colocar o foco de questionamentos no ser enquanto ser. Ele defendia que existe uma substância individual - o indivíduo material concreto (synolon) - a qual, o seu conjunto, concebe a realidade.

Contudo, ele dizia que esses indivíduos são compostos de matéria (hyle) - substância básica de tudo - e forma (eidos) - o que define e dá identidade à matéria.

E o que isso significa?

De acordo com Aristóteles, a substância (matéria + forma) é o que existe por si mesmo, sendo a essência de tudo que é real.

Um exemplo que o filósofo apresenta é o da estátua de uma deusa. Uma estátua é feita de bronze (matéria - causa material) e essa quantidade de matéria recebe uma forma (causa formal) que é a de estátua de uma deusa.

Caso modifique o material que a estátua foi feita, a forma se mantém, porém a matéria se altera.

Sendo assim, a matéria só existe porque possui uma forma. Entretanto, a forma sempre será a forma de um objeto material concreto - neste caso, a estátua de uma deusa.

Resumindo, a metafísica é o ramo da filosofia que investiga a natureza da realidade. Ela busca compreender o que existe, o que significa ser e quais são os princípios que regem o universo.


"O ser se diz de muitas maneiras. - Aristóteles"

Vale acrescentar que Martin Heidegger trouxe uma perspectiva diferente. Ele questionou o esquecimento do ser na tradição filosófica e propôs uma recuperação da ontologia na filosofia ocidental, que coloca o ser novamente no centro da reflexão.

Epistemologia: O que podemos conhecer?

A epistemologia é a área da filosofia que estuda o conhecimento, ou seja, investiga a natureza, a origem e os limites da razão.

Em outras palavras, busca entender como é possível afirmar que algo é verdadeiro e quais são os limites do conhecimento.

Já que estamos falando sobre razão, precisamos falar sobre René Descartes.

Ele acreditava que a razão era a única fonte confiável para o conhecimento e que a experiência sensorial poderia distorcer a compreensão do mundo verdadeiro.

Descartes, através do cogito ("Penso, logo existo"), propôs um fundamento irrefutável do conhecimento. Para ele, se um indivíduo é capaz de duvidar, ele está pensando.

Então, necessariamente, existe um sujeito pensante. Esta é a conclusão do argumento do cogito, no qual ele constrói a busca do fundamento seguro do conhecimento.

Resumindo, Descartes buscou, a partir da dúvida metódica, um caminho para o conhecimento verdadeiro.

Posteriormente, Immanuel Kant revolucionou a epistemologia ao sintetizar e superar as tensões de duas correntes filosóficas: o racionalismo e o empirismo.

Em sua obra “Crítica da razão pura“, argumenta que o conhecimento se dá a partir da interação entre as ideias inatas da mente e a experiência sensível.

Com isso, demonstrou que as “coisas em si” (a realidade em si) não são conhecidas, mas sim os seus fenômenos (a realidade como se apresenta). Esses fenômenos são percebidos a partir da intuição sensível (sensibilidade) e dos conceitos e categorias (entendimento).

Para Kant, o sujeito está no centro do processo de construção do conhecimento.

Como a Metafísica e a Epistemologia questionam Deus?

  • Metafísica: Deus existe?
  • Epistemologia: É possível Deus existir?

A metafísica questiona a existência ou não de Deus, já a epistemologia investiga a possibilidade de se ter conhecimento sobre essa existência.

Ética: O que é certo e errado?

A ética é a área da filosofia que estuda os princípios que orientam o comportamento humano, questionando, por exemplo, o que é uma boa vida, o que é certo e errado.

Para este ramo da filosofia, além das regras sociais, a virtude, o dever e as consequências de nossos atos também são pontos de interesse.

Alguns filósofos se debruçaram sobre este conceito e trouxeram visões diferentes:

Filósofo Visão de Ética Ideia Principal Ações
Aristóteles Ética da virtude Buscar a felicidade por meio da virtude e do equilíbrio Valoriza a intenção e o caráter
Immanuel Kant Ética do dever Agir conforme o dever e a razão Valoriza a intenção moral
Jeremy Bentham Ética utilitarista A melhor ação é a que gera felicidade para o coletivo Foco nas consequências das ações



Filosofia Política: Como devemos viver em sociedade?

A filosofia política é o estudo do corpo social que busca entender suas causas e consequências.

Desde os primórdios da filosofia se reflete sobre as estruturas e princípios que regem a sociedade.

Platão em sua obra “A República“ idealizou uma sociedade que era governada por aqueles que estão mais próximos da verdade e da justiça, os filósofos.

Thomas Hobbes propôs que os indivíduos cedam parte de seus direitos a um soberano para que se tenha uma sociedade organizada. Uma vez que, para ele, os homens são essencialmente iguais e, por isso, são capazes de se exterminar.

Posteriormente, Jacques Rousseau trouxe a ideia do contrato social, que diz que a política pertence à sociedade. Para se ter liberdade civil e proteção, o indivíduo deve renunciar seus direitos individuais e entregá-los à uma autoridade escolhida pela comunidade.

Por outro lado, Karl Marx sugere que a luta de classes é que possibilitaria a revolução, propondo uma sociedade sem classes baseada na propriedade comum dos meios de produção.

Em suma, a filosofia política questiona o convívio do indivíduo na sociedade e busca encontrar um modelo ideal.


Estética: O que é o belo? O que é arte?

A estética é a área da filosofia que investiga a natureza do belo, da arte e da experiência estética.

Diversos autores da filosofia se dedicaram ao debate sobre o que era belo, o que fazia algo ser belo e compreender a subjetividade da estética.

Para Aristóteles, o belo estava ligado a grandes proporções, a imponência. Aquilo que era equilibrado, tinha ordem e simetria, porém em pequenas proporções, para Aristóteles era gracioso.

Contudo, Kant argumentou em "Crítica do Juízo" que o juízo estético é subjetivo, mas possui uma pretensão de universalidade. Ou seja, a experiência do indivíduo na contemplação da coisa fazia parte de suas características.


"O belo é o símbolo do bem moral." - Immanuel Kant

Nietzsche, por sua vez, compreendia que a arte era a expressão da vontade de poder e uma forma de afirmar a vida frente ao caos e ao sofrimento.

Resumidamente, a estética questiona o que torna algo belo, como percebemos a arte e qual o papel do gosto na apreciação estética.


Lógica: Como pensamos corretamente?

A lógica é o ramo da filosofia que estuda as regras do pensamento válido e da argumentação correta. Ela se torna fundamental para o pensamento porque permite uma avaliação racional e crítica dos argumentos, evitando a afirmação de falsas verdades.

Apesar da lógica inicialmente não fazer parte do Sistema Aristotélico, para ele, ela é muito mais do que um saber instrumental metodológico, pois todos os saberes pressupõem algum tipo de lógica.

Entretanto, Aristóteles é considerado pioneiro ao sistematizar a lógica formal, introduzindo a teoria do silogismo. Para ele, a teoria científica é formada de um conjunto de deduções a partir de indícios claros que são alcançados por meio da definição e apreensão.


“A lógica não é ciência e sim um instrumento (órganon) para o correto pensar." - Aristóteles

Dando um salto na história da filosofia, no século XX, Bertrand Russell contribuiu para a lógica matemática, buscando fundamentos sólidos para a matemática e a linguagem.

Segundo Russell, muitos dos problemas filosóficos surgem das confusões na linguagem, por isso considerava a lógica uma ferramenta fundamental para filosofia.

Filosofia da linguagem: O que é o significado?

A filosofia da linguagem busca investigar como a linguagem representa o mundo e como damos significado às palavras.

Ludwig Wittgenstein aponta que o significado das palavras está em seu uso no contexto dos jogos de linguagem.

De acordo com ele, as coisas não têm sentido por si mesmas, porque elas só recebem um significado a partir da relação com as outras.

A mesma lógica pode ser aplicada às palavras, porque elas só fazem sentido quando aplicadas a uma frase e um contexto correspondente à estrutura do mundo.

Entretanto, para Saussure, a língua é um sistema social e abstrato, enquanto a fala é a utilização individual e concreta da língua.


"Na linguagem, não há união natural entre o significante e o significado." - Ferdinand de Saussure

Ele entende a língua como um sistema de signos composto pela união de um significante (forma da palavra - sonora ou visual) e de um significado (a ideia que a palavra representa).

Essa distinção entre a a língua e a fala é um questionamento sobre a natureza arbitrária dos signos linguísticos.

Filosofia da mente: O que é consciência?

A filosofia da mente é o ramo da filosofia que estuda a natureza da mente, da consciência e sua relação com o corpo.

Descartes propôs o dualismo ao separar a mente (res cogitans) do corpo (res extensa), os quais teriam propriedades diferentes. Além de questionar como essas substâncias interagem - a mente controla o corpo, mas não é parte dele.

Por outro lado, Daniel Dennett defende uma abordagem materialista e funcionalista da mente, na qual a consciência é resultado de processos cerebrais complexos e comportamentos observáveis.

Portanto, ele busca explicar a mente como um fenômeno natural, uma postura intencional, sem recorrer a explicações sobrenaturais.


“Acho que a melhor ideia da religião é encorajar uma certa modéstia, um respeito e uma reverência pela natureza neste incrível Universo que nós habitamos” - Daniel Dennett


A filosofia como campo plural de investigação

Neste texto você conheceu as principais áreas da filosofia. Este é um campo diverso, formado por perguntas e que instiga o que temos de mais humano. Essas divisões da filosofia são caminhos para investigar grandes questões da nossa existência, do conhecimento, da vida em sociedade e da nossa relação com o mundo interno e externo.

Mas o mais interessante é perceber que esses ramos da filosofia se encontram. Eles dialogam, complementam-se e coexistem. A reflexão que o conhecimento sobre o que a filosofia estuda nos faz pensar sobre o que é certo, o que é belo, o que é justo, o que é ético e que nós somos e podemos ser.

Cada uma dessas áreas é uma porta esperando para ser aberta e você tem a chave para cada uma delas, basta você ter coragem e curiosidade para desbravar o mundo e a si mesmo.

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Referências

DERRIDA, Jacques. A Filosofia da Linguagem.

MARCONDES, Danilo. Introdução à História da Filosofia.

UOL. Filosofia da Linguagem: (3), (4) e (5).

SCHOLZ, Barbara C.; PELLETIER, Francis Jeffry; PULLUM, Geoffrey K. Philosophy of linguistics. In: ZALTA, Edward N. (Ed.). Stanford encyclopedia of philosophy.

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