Ok, talvez a palavra não seja bálsamo. Quem sabe trocar por informações importantes, necessárias e preciosas faça mais sentido quando estamos falando de prevenção ao câncer de mama. Pedrada certamente está correto.
Me explico: em 2023, uma prima muito jovem, com 25 anos na época, diagnosticou um câncer de mama raro e agressivo, resultado de uma combinação genética que mesclou uma mutação X com uma mutação Y, e que deu origem a uma espécie de tumor altamente periculoso e anormal em uma mulher tão jovem. A prima, de primeiro grau, descobriu que uma das mutações vinha do seu pai, e a outra da sua mãe - minha tia, irmã do meu pai. Ou seja, se meu pai tivesse, nós - eu e minhas irmãs - poderíamos ter também. Não temos histórico da doença na família, por isso boa parte dos parentes se recusou a testar, já que “isso não é nada, a prima deu azar".
Não havíamos, portanto, como rastrear a árvore genealógica daquela mutação, mas com a informação do nome e das características que minha prima apresentava, era possível realizar um exame para detectar ou não a sua existência. Naquele mesmo momento, minha mãe diagnosticava um outro tipo de câncer, não genético, o mieloma múltiplo e eu, como principal cuidadora, não tinha condições emocionais de investigar se poderia conviver com a dúvida sobre ter ou não ter o gene. Como não sabíamos se meu pai tinha a mutação - por negligência e conservadorismo dele, diga-se de passagem -, Gabriella, minha irmã mais velha, foi a primeira a fazer o exame. Depois a Fernanda, irmã do meio. Uma testou negativo e a outra positivo.
Só fui testar depois de um ano, quando a poeira da minha mãe baixou e eu pude voltar a lembrar de que também preciso me cuidar. Não estava nervosa, mas como todos os seres do mundo que ainda não tiveram alguma questão de saúde, confiava de que era imune a qualquer flerte com a doença. Foi essa certeza de que sou incólume às enfermidades biológicas que me fez encarar com tranquilidade o resultado positivo do exame.
Tenho, então, um gene para chamar de meu. O CHEK2 enquanto mutação genética amplia de forma moderada o risco de mulheres a terem câncer de mama, aumentando em cerca de 30% as chances de desenvolver a doença. É uma descoberta relativamente nova da ciência, que expandiu o mapeamento de outras mutações hereditárias para além dos já conhecidos BRCAs. Não chega a ser um risco alto, nem é uma previsão acertada de que vai acontecer, mas é um risco iminente. Então, sim, claro que confrontar essa informação é como levar uma pedrada sem aviso. Mas é possível colocar capacete e encarar a notícia como algo de extremo valor.
O privilégio de saber que tenho a carga genética me traz a possibilidade de me consultar corretamente e realizar um protocolo adequado de acompanhamento, com exames periódicos dentro das normas já estabelecidas para o CHEK2 e meu histórico familiar. É a oportunidade de acompanhar tão de perto que se um dia aparecer um terço de grão de areia, deve ser possível detectar com a devida antecedência, aumentando em muito as chances de cura. Não tenho dúvidas de que é sempre melhor saber. Mas como a vida é arbitrária, ter uma mutação não significa ter, necessariamente, um câncer de mama, do mesmo jeito que não tê-la não quer dizer que um tumor não vá aparecer. Os índices da doença estão aumentando entre mulheres cada vez mais novas, com 85% dos novos casos aparecendo em mulheres sem histórico hereditário.
A boa notícia é que o diagnóstico rápido, feito por exames como mamografia, ressonância ou mesmo ultrassom de mama, são fundamentais para identificar alterações ainda em estágio inicial, quando as chances de cura ultrapassam 90%. Sem falar nas inovações que a ciência e tecnologia tem proporcionado para tratamentos mais eficazes e com alta recorrência de cura. O bálsamo aqui é saber que, no Brasil, não é só o sistema privado que oferece acesso à saúde de qualidade. O SUS garante diagnóstico e tratamento gratuitos para todas as mulheres durante todo o ano, e neste mês de outubro, está com carretas do programa Agora Tem Especialistas em 20 estados Brasil, oferecendo exames de imagem, punção e biópsia da mama, colposcopia e consultas médicas.
Graças ao diagnóstico precoce minha prima está bem, e eu também acabei de fazer meus exames periódicos. Tudo CHEKado, com o perdão do trocadilho. Mas, cá entre nós, e você: já fez seus exames de mama esse ano?


