Neurociência, Saúde Mental & Comportamento

Como cuidar da saúde mental: dicas para o bem-estar emocional

Como cuidar da saúde mental: dicas para o bem-estar emocional

Em um mundo cada vez mais acelerado e hiperconectado, cuidar da saúde mental deixou de ser uma recomendação pontual e tornou-se uma urgência da contemporaneidade.

As pressões no trabalho, as instabilidades nos relacionamentos, o excesso de estímulos e a crescente incidência de transtornos como ansiedade, depressão e Burnout, nos mostram que o autocuidado precisa ser mais profundo do que um momento de lazer ou descanso.

Neste texto, você encontrará dicas de cuidado com a saúde mental a partir de diferentes dimensões — emocional, relacional, corporal e simbólica — com base em princípios da psicologia, da psicanálise e da neurociência.

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Entenda o que é saúde mental — e o que não é

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde mental como um estado de bem-estar no qual o indivíduo percebe suas próprias habilidades, consegue lidar com as adversidades da vida, trabalhar de forma produtiva e contribuir com a comunidade.

A saúde mental está longe de ser apenas a ausência de transtornos mentais. Trata-se de uma construção dinâmica, que envolve a capacidade de lidar com os altos e baixos da vida, elaborar emoções, manter relações significativas e encontrar sentido na própria existência, mesmo diante das incertezas, frustrações e sofrimentos que fazem parte da experiência humana.

Esse entendimento rompe com a ideia de que “ser forte” é não sentir ou não demonstrar emoções. Pelo contrário: é justamente o contato consciente com nossas emoções que fortalece a nossa saúde psíquica.

Portanto, mais do que um ideal de equilíbrio constante, a saúde mental deve ser compreendida como uma travessia possível, feita de pequenas escolhas, apoios e significados que se renovam no tempo.

Vamos entender melhor como isso é possível.


Crie rotinas de autocuidado com intenção — e não com culpa

O autocuidado em saúde mental não precisa ser caro, instagramável ou complexo. Ele começa em pequenas escolhas do cotidiano que ajudam a regular o corpo e a mente. Mas para funcionar, precisa ser feito com intenção e sem culpa, a partir de um contexto real, ou seja, do que é possível.

Algumas soluções podem ser praticadas aos poucos:

  • Durma pelo menos 6 horas por noite: o sono regula hormônios do humor, da memória e da atenção.
  • Faça pequenas pausas com movimento: alongue os ombros, o pescoço e respire fundo entre as tarefas do dia a dia.
  • Caminhe, dance ou faça atividades de movimento corporal regularmente: atividades físicas leves ajudam a liberar serotonina e dopamina, ou seja, hormônios responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar.
  • Desligue notificações do celular por 1 hora ao dia: isso ajuda a reduzir estímulos e favorece o foco e o descanso cerebral.
  • Experimente práticas de mindfulness: comece com 3 minutos diários prestando atenção na respiração ou nas sensações do corpo.

Na neurociência, esses pequenos cuidados estão relacionados à ativação do sistema parassimpático, que ajuda a regular o estresse e promove sensações de segurança e calma. Assim, perceber o autocuidado como uma etapa da rotina é um passo importante para se construir um bem-estar psicológico.

Homem negro meditando com fones de ouvido em casa, prática de autocuidado e bem-estar emocional
A prática do mindfulness pode ajudar na saúde mental (Fonte: nubelson-fernandes/unsplash)



Pratique a escuta interna e nomeie as suas emoções

A psicanálise nos ensina que nomear o que sentimos é o primeiro passo para elaborar um pensamento. Muitas vezes sofremos mais pela tentativa de negar o que sentimos do que pela emoção em si.

Sentir irritação frequentemente pode estar relacionado a frustrações acumuladas. Ao nomear isso, você se aproxima da raiz do desconforto, construindo uma ponte entre o que sente e o acontecimento de fato. Assim, o ato de verbalizar sentimentos, sensações e percepções ajuda não apenas em um processo de autoconhecimento, mas também de estímulo à saúde mental.

A psicologia também trabalha essa compreensão: identificar e validar as emoções reduz a ativação da amígdala cerebral, diminuindo o impacto do estresse e aumentando a regulação emocional.

💡 Dica prática: mantenha um caderno de emoções, anotando o que você sentiu e o que desencadeou essa sensação. Esse hábito irá auxiliar a compreender a situação e a si mesmo com um olhar mais gentil.

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Cuide do corpo: movimento e regulação

Nosso corpo é também um instrumento de percepção emocional. Sensores no corpo nos avisam do estresse antes mesmo de termos consciência dele. Por isso tem se tornado cada vez mais comum a manifestação de doenças psicossomáticas na sociedade, pois o corpo denuncia e dá sinais de alerta.

Uma tensão no maxilar, uma respiração curta e o coração acelerado, são sinais importantes que exigem atenção. Dores nas costas, pés e articulações, além da sensação de falta de descanso mesmo quando o corpo relaxou por horas, também são indícios de que há algo que precisa ser investigado e tratado.

Mas, como romper com isso? Práticas regulares como caminhada, alongamento, yoga ou dança ativam circuitos cerebrais ligados aos prazer, à concentração e à disposição. Estudos mostram que o movimento corporal regular reduz os níveis de cortisol (hormônio do estresse) e melhora a capacidade de foco.

Além disso, o mindfulness também pode ser um excelente aliado: ao prestar atenção às sensações físicas sem julgá-las, criamos uma ponte entre mente e corpo. Isso contribui não apenas para a redução da ansiedade, mas também na prevenção e na diminuição de outros quadros e sintomas.


Desenvolva vínculos seguros e uma rede de apoio

Somos seres relacionais. Desde o nascimento, nossa saúde mental é moldada pelas relações que estabelecemos. Vínculos seguros oferecem apoio emocional, validam nossa existência e nos ajudam a elaborar conflitos.

Segundo a psicologia, relações saudáveis promovem um estado interno de segurança. Isso se reflete na vida adulta: quem tem apoio emocional tende a lidar melhor com situações de crise e sofrimento.

E como nutrir uma rede de apoio?

  • Invista em amizades com quem você pode confiar e ser autêntico. É preciso se desvincular das performances e apenas ser você.
  • Peça ajuda sem medo de parecer frágil ou de acreditar que está incomodando — amigos são para isso também, não apenas para os momentos de alegria.
  • Escute ativamente as pessoas ao seu redor, acolha o que elas compartilham com você com gentileza e empatia. Isso ajudará você a construir uma relação horizontal de confiança.

Ser sensível ao que o outro nos diz envolve saber ouvir e saber falar. Assim, estabelecer vínculos verdadeiros passa pela capacidade de sustentar conversas honestas, respeitando os próprios limites e os do outro.

Relações afetivas não precisam ser perfeitas, mas precisam ser cuidadas. A sua manutenção é fundamental, pois vínculos se fortalecem com presença, e não com formalidades.

Pessoas se abraçando em grupo durante atividade de acolhimento emocional e saúde mental
Uma rede de apoio é essencial para o bem-estar psíquico (Fonte: yuriy-vertikov/unsplash)


Abra espaço para o simbólico: arte, espiritualidade e sentido

O que dá sentido à sua vida? Essa pergunta, embora ampla e complexa, é fundamental para a construção de uma saúde mental. A dimensão simbólica do cuidado envolve criar espaços onde você possa se expressar para além das tarefas do dia a dia.

Isso pode se manifestar por meio da arte, da espiritualidade, da escrita ou de rituais pessoais. Buscar grupos, coletivos ou comunidades com interesses em comum, pode ser um caminho para construir relações de modo orgânico e com vínculos genuínos.

Por exemplo: escrever cartas, pintar, desenhar ou fotografar como forma de expressão, ler poesia ou filosofia para estimular o pensamento, ou criar um altar pessoal com objetos significativos são formas de abrir caminhos para uma saúde mental.

Cabe mencionar que esse espaço simbólico é também um antídoto contra o vazio existencial que pode surgir nas rotinas hiperprodutivas. Assim, se expressar é dar materialidade a coisas que podem não ter sido digeridas com facilidade em um contexto de intensa emoção e exaustão.



Psicoterapia: o encontro com o outro para encontrar a si

A psicoterapia é um processo estruturado de escuta, onde você pode olhar para si com profundidade. Mais do que conselhos, elas oferecem um espaço para construir caminhos para uma saúde mental.

Entre as principais abordagens, estão:

  • Psicanálise: investiga o inconsciente, os sonhos, os desejos e a história da pessoa, com o objetivo de ajudá-la a acessar e superar traumas e marcas psíquicas.
  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): identifica padrões de pensamento e comportamento disfuncionais e propõe formas mais saudáveis de agir.
  • Gestalt-terapia: trabalha com a perspectiva do aqui e agora, com foco na experiência e na consciência da pessoa.
  • Psicologia analítica: investiga os arquétipos, os sonhos e os símbolos, com foco no desenvolvimento da personalidade.

Fazer terapia é um investimento em si. Mesmo que você não esteja em crise, esse processo pode ajudar a prevenir transtornos e a lidar com sofrimentos e desafios da vida.


Cuide da sua saúde mental no trabalho

O trabalho pode ser fonte de realização ou de adoecimento. O que determina isso é, muitas vezes, o ambiente e a forma como você se relaciona com ele. Diagnósticos de burnout se tornaram cada vez mais frequentes, pois está cada vez mais difícil separar os problemas profissionais dos problemas pessoais.

A sensação de esgotamento constante, perda de interesse no trabalho, além da baixa autoestima e insegurança profissional, podem ser sinais de alerta que denunciaram a Síndrome do Esgotamento Profissional.

Confira dicas práticas para preservar a saúde mental no trabalho:

  • Defina limites claros de horário e dias semanais de contato para questões profissionais. Não é natural e nem saudável enviar ou receber mensagens profissionais em dias de descanso.
  • Negocie prazos quando possível. Sobrecargas e imprevistos acontecem frequentemente, por isso, busque não ultrapassar o seu horário de trabalho para entregar demandas recém solicitadas.
  • Evite checar e-mails e agendas fora do expediente. Busque aproveitar o tempo “off” com atividades que não tenham relação com temas profissionais.
  • Converse com colegas sobre formas coletivas de apoio. Todos podem se ajudar.

A saúde mental no trabalho também depende de mudanças estruturais. Por isso, é importante levar esse debate aos espaços institucionais.


Recomendações bônus: como aprofundar no cuidado em saúde mental

Para auxiliar no cuidado com a saúde mental de forma realista e gentil, vamos além das práticas para pensar a forma como nos relacionamos com nós mesmos nesse processo.

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Por exemplo, o curso Ansiedade Sob Controle - Casa do Saber aborda em detalhes mais dicas práticas e bem fundamentadas de como cuidar da saúde mental. Mas, aqui entre nós, vamos te dar um spoiler:

  • Evite comparações: o que você sente é legítimo

    Em um mundo onde todos parecem bem o tempo todo nas redes sociais, é fácil cair na armadilha da comparação. Mas lembre-se: cada pessoa tem um histórico, um repertório emocional e uma rede de suporte diferente. Comparar seu sofrimento ou progresso com o dos outros pode gerar frustração e culpa.

    Dica: Quando perceber que está se comparando, pergunte-se: “O que faz sentido pra mim nesse momento?”. Traga o foco para si, pois a sua trajetória é única.

  • Fale e pense sobre si com mais gentileza

    A forma como nos tratamos internamente tem impacto direto sobre a autoestima e a saúde mental. Se o seu diálogo interno é dominado por autocrítica, exigência ou dureza, tente inverter o tom: acolha suas falhas como parte do processo de ser humano.

    Dica: Quando errar ou falhar, experimente dizer para si algo que diria para um amigo querido. Lembre-se que você fez o que conseguiu naquele momento.

  • Valorize os pequenos avanços

    Não espere grandes transformações imediatas. Na saúde mental, pequenos passos consistentes são mais sustentáveis que mudanças radicais. O simples fato de reconhecer uma emoção, fazer uma pausa ou dormir melhor, já é uma conquista.

    Dica: Ao final do dia ou da semana, anote 1 ou 2 coisas que conseguiu fazer por si. Pode ser “fui dormir mais cedo” ou “desliguei o celular por 30 minutos”. São passos importantes a se orgulhar.



Resumo: Cuidar da saúde mental é um compromisso com a vida

Cuidar da saúde mental passa por reconhecer as próprias emoções, estabelecer limites saudáveis, buscar ajuda especializada e manter uma escuta ativa de si e do mundo.

Cuidar da saúde psíquica é um exercício contínuo de auto compaixão, por isso, é fundamental reconhecer que estar bem não significa estar feliz o tempo todo, mas sim desenvolver recursos para atravessar os momentos difíceis com mais consciência e resiliência, e com menos solidão.

O autocuidado psíquico é um compromisso com a vida que queremos ter. Requer priorização, escuta e coragem. Mas lembre-se: não existe solução rápida. O que existe é um caminho possível, com recaídas, avanços e descobertas. A saúde mental não é um destino fixo, mas uma travessia — e cada passo conta.

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