E se o niilismo te ajudasse a entender por que você busca o sentido da sua vida? Isso se tornou praticamente uma obsessão, mas parece que esse destino final está cada vez mais longe. E por que temos essa sensação?
Em meio ao ritmo frenético da vida contemporânea, das redes sociais, da busca incessante pela felicidade utópica, criamos no nosso imaginário que precisamos ser algo que talvez não somos, mas que nos parece precisar ser.
Mas o que realmente faz sentido para você? O niilismo é uma vertente filosófica contemporânea que coloca em xeque tudo aquilo que está posto ao te provocar encontrar – ou não – um sentido das coisas.
Neste blog, além de conhecer o niilismo como como corrente filosófica, também entenderá porque a sensação de vazio permeia a contemporaneidade. Além disso, você também conhecerá a figura mais importante desta corrente e suas principais características.
O artigo abordará os seguintes tópicos:
O que é niilismo?
Niilismo é uma corrente filosófica que tem como base a ideia de que a vida não possui um sentido objetivo, nem valores ou verdades universais intrínsecos.
Derivado do latim nihil, que significa "nada", essa corrente questiona e até mesmo nega as bases já estabelecidas que sustentam a nossa realidade, como crenças, valores e verdades.
Portanto, entende-se que as crenças tradicionais são ilusões criadas pelo homem para suportar o peso da existência.
Existem 2 tipos de niilismo: o niilismo passivo e o niilismo ativo. O último foi proposto por um dos nomes mais relevantes desta corrente, Friedrich Nietzsche. Ele dizia que o niilismo é tanto uma força destrutiva quanto uma força criadora.
Sendo assim, Nietzsche, ao reconhecer a crise de valores, abriu espaço para que o indivíduo criasse seus próprios significados, assumindo a responsabilidade de viver sem garantias.
O termo niilismo vem do latim nihil, que significa “nada”. Essa origem já expressa a essência da filosofia: questionar se há realmente algo com valor ou sentido absoluto.
Niilismo em Nietzsche, Schopenhauer, Cioran
Apesar do niilismo ser muito relacionado e referenciado à Nietzsche, foi outro Friedrich que cunhou o termo.
Friedrich Heinrich Jacobi foi o filósofo que usou pela primeira vez o termo niilismo, no século XVIII. Ele se referia a um movimento do pensamento filosófico relacionado à negação da existência e do significado.
Conheça três nomes fundamentais do niilismo: Friedrich Nietzsche, Arthur Schopenhauer e Emil Cioran.
Niilismo em Nietzsche

Apesar da similaridade do nome, Friedrich Nietzsche não foi o fundador do niilismo, mas ajudou a popularizar e desenvolver o niilismo ao fazer fortes críticas aos costumes, à moral e à cultura ocidental. Ele não apenas colocou o niilismo como um fenômeno cultural e filosófico, mas também buscou superá-lo.
Segundo Nietzsche, o niilismo não era uma doutrina a ser seguida, mas um sintoma da morte dos antigos valores, sobretudo os da religião e da moral vigentes, que por séculos sustentaram o pensamento ocidental.
Quando declarou “Deus está morto”, frase que se tornou muito popular devido ao seu livro Assim Falou Zaratustra (1883), Nietzsche não negou a fé propriamente dita, mas indicou que algo estava desestabilizando o sistema de crenças absolutas da época.
Com isso, a perda dessas certezas abriu espaço para que surgisse o niilismo passivo, que é marcado pela desorientação e apatia. No entanto, Nietzsche tinha uma outra perspectiva, uma que não só destruía, mas também poderia ser capaz de reconstruir.
O niilismo ativo, muito forte em Nietzsche, é uma ideia de que as ilusões (ou crenças) herdadas são exterminadas e, com isso, é possível ter um novo começo, a partir da criação de valores próprios.
Portanto, a ideia central de Nietzsche está em sua proposta de substituição dos antigos valores por novos, que podem ser criados pelo próprio indivíduo.
Com isso, ele criou o conceito de Super-Homem ou Além-do-homem (Übermensch) que é o indivíduo que supera o niilismo, ou seja, aceita a ausência de sentido como liberdade. Assim, Nietzsche apresenta o niilismo como caminho para a reinvenção do próprio ser.
Ao contrário do que muitos pensam, o niilismo não incentiva o desespero. Em pensadores como Nietzsche, ele representa a possibilidade de reconstruir valores e afirmar a vida com liberdade.
Principais características da filosofia de Nietzsche
Friedrich Nietzsche tinha um jeito muito peculiar de externalizar suas ideias. Além de sua singularidade de pensamentos, ele escreveu desde poesias até textos filosóficos.
Como aponta a professora Scarlett Marton, no curso Nietzsche: Vida, Obra e Legado,em todos os seus escritos, Nietzsche apresenta o estilo aforismático, ou seja, ele aborda diferentes assuntos, temas e questões filosóficas, sem que nenhum elo aparente os una.
Uma das suas obras mais conhecidas é “Assim falou zaratustra". A professora Scarlett Marton comenta que Nietzsche era conhecido por sua irreverência e escrita chocante e este é um livro polêmico porque ele faz uma paródia dos evangelhos.
Scarlett Marton aponta os 4 principais pilares da filosofia de Nietzsche:
- Pluralismo: Diversidade de estilos;
- Perspectivismo: Variedade de pontos de vista;
- Dinamismo: Eterno Retorno
- Experimentalismo: Experiência e experimentação na construção de conhecimento

Niilismo em Schopenhauer

Arthur Schopenhauer foi um filósofo do século XIX que, mesmo tendo sido influenciado pelo pensamento de Platão e Kant, ficou conhecido por suas ideias de que o universo não é um lugar racional.
Para ele, em meio a um mundo repleto de caos e conflitos, o indivíduo deveria controlar a influência dos desejos naturais a fim de alcançar um estado de mais tranquilidade e empatia.
Segundo Schopenhauer, o ser humano tem uma vontade de viver, a qual ele coloca como uma força cega e irracional, sem intenção de fim ou propósito.
Com isso, essa vontade é a origem de todo sofrimento: como é insaciável, o desejo é vivido como frustração constante. Portanto, ele entende o prazer como uma interrupção momentânea da dor e com significado momentâneo.
Desta forma, trazendo para uma perspectiva niilista, sua filosofia se aproxima do niilismo passivo, uma vez que descreve uma realidade pessimista, onde o melhor caminho seria a renúncia aos desejos, à vontade e, de uma forma mais ideal, até ao próprio querer viver.
Schopenhauer rompe com a visão otimista de filósofos anteriores e até mesmo com os valores cristãos da época, uma vez que Deus, segundo o filósofo, seria uma ilusão metafísica e psicológica. Contudo, para ele, Deus seria indiferente ao bem-estar dos indivíduos.
Em contraponto ao niilismo ativo, ele não propunha a criação de novos valores, mas mostrou um caminho para a tranquilidade em meio ao caos do mundo, apresentando um niilismo que não se contenta com resignação, mas busca uma renúncia consciente aos desejos que alimentam o sofrimento.
Desta forma, Schopenhauer trouxe um niilismo metafísico e existencial que influenciou autores e filósofos posteriores, como Nietzsche, que, embora tivesse críticas às suas ideias, reconhecia sua importância.
Niilismo em Cioran

Emil Cioran é um filósofo francês do século XX que ficou conhecido como um dos autores mais subversivos da época e seus textos são marcados pelo niilismo existencial em última instância, mas ainda mais complexo. Ele colocava a vida como um acaso sem finalidade.
Diferentemente de Nietzsche, ele não pretendia superar o niilismo, mas se colocava confortável no desespero do mundo, fazendo do vazio um lugar para se estar.
O niilismo de Cioran era uma compreensão e aceitação da ausência de sentido. Em vez de soluções, ele trazia, a partir de um humor ácido e uma lucidez dura, o desconforto de se viver em um mundo sem um propósito.
O niilismo em Cioran não é político, moral ou metafísico, na verdade ele é pessoal. Tão pessoal, que durante sua vida, ele se contradisse algumas vezes em seus escritos, mas isso não era um problema para Cioran. Para ele, isso significava que a mente estava viva, ativa.
Sua escrita ia de encontro com o idealismo ou qualquer crença reconfortante. Portanto, Cioran levava o niilismo existencial ao extremo. Ele não se revoltava e nem se resignava, apenas vivia com o absurdo de forma consciente.
O niilismo não é uma doutrina com princípios fixos, mas uma atitude filosófica: questionar se há sentido ou propósito em algo é, por si só, um gesto niilista.
Principais obras dos autores niilistas
Dentre as diversas obras de Friedrich Nietzsche, Arthur Schopenhauer e Emil Cioran, separamos algumas das mais importantes:
- O Nascimento da Tragédia (Nietzsche, 1871)
- A Gaia Ciência (Nietzsche, 1881)
- O Mundo como Vontade e Representação (Schopenhauer, 1818)
- Sobre a Vontade na Natureza (Schopenhauer, 1836/1854)
- Nas Alturas do Desespero ( Cioran, 1934)
- O Problema de Nascer ( Cioran, 1973)
O niilismo na arte e na cultura
O niilismo esteve presente em várias esferas da sociedade, como na arte e na cultura. Nesses espaços, ele refletia a crise dos valores tradicionais e a busca por sentido diante do vazio existencial.
Movimentos como o dadaísmo e o expressionismo romperam com as normas estéticas, mostrando o caos da existência humana.
O dadaísmo, com sua proposta chocante e irreverente, rejeitava a lógica tradicional da arte e propunha uma arte provocativa, como resposta aos horrores da Primeira Guerra Mundial.

Já na literatura, escritores, como Kafka, exploraram em suas obras o absurdo e a alienação do indivíduo.
Quando falamos sobre cultura, o niilismo é a expressão da desconfiança em diversos âmbitos, desde em instituições até na religião.
A partir de uma postura crítica, o incômodo sentido e causado pela perspectiva niilista abre espaço para novos valores e formas de expressão, desafiando o indivíduo e a sociedade a encarar o vazio e (re)construir novos sentidos e respirar novos ares.
Tipos de niilismo
O niilismo é uma corrente filosófica que tem diferentes vertentes, com algumas mais populares, como o passivo e ativo, moral, existencial e político.
Conheça outros tipos de niilismo e seus conceitos:
Além do niilismo tradicional, a filosofia identifica diferentes vertentes que expressam maneiras variadas de lidar com a ausência de sentido e de valores absolutos. Veja alguns dos principais tipos e seus significados:
| Tipo de niilismo | Conceito |
|---|---|
| Niilismo Passivo | Resignação diante da ausência de sentido; apatia, desânimo e desistência. |
| Niilismo Ativo | Reconhecimento e destruição dos valores antigos para criar novos sentidos. |
| Niilismo Existencial | Sentimento de vazio e falta de propósito na existência individual. |
| Niilismo Epistemológico | Negação da possibilidade de conhecimento objetivo e verdadeiro. |
| Niilismo Moral | Negação de valores morais universais ou objetivos; tudo é relativo ou construído. |
| Niilismo Político | Desconfiança radical em relação a todas as formas de governo ou organização política. |
| Niilismo Religioso | Rejeição da existência de Deus, da ordem divina e da moral religiosa. |
| Niilismo Positivo | Abandono do sentido absoluto como liberdade para criar valores próprios. |
| Niilismo Negativo | Desesperança total diante do vazio; recusa da vida e negação de todo valor. |
Cursos para se aprofundar no tema do niilismo
-
Nietzsche: Vida, Obra e Legado - Scarlett Marton
Um dos pensadores mais controversos da história, Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844–1900) continua no centro da discussão filosófica. Criador do termo Übermensch e da concepção do Eterno Retorno, defendia que o homem deveria superar seus próprios valores para alcançar a evolução. -
Os Pensadores: Nietzsche - Maria Lúcia Cacciola
Um panorama aprofundado da filosofia de Nietzsche, abordando conceitos como vontade de poder, niilismo e a crítica à moral. Ideal para quem busca compreender sua influência no pensamento moderno. -
Guia Essencial da Filosofia: Pensamento Contemporâneo - Paulo Niccoli Ramirez
Apresenta as principais questões filosóficas da modernidade e da crítica aos ideais iluministas, situando o niilismo no contexto da virada do século XIX para o XX e suas repercussões na filosofia contemporânea. -
Orientações para o Bem-Viver: A Sabedoria de Vida no Pensamento de Schopenhauer - Leandro Chevitarese
Curso sobre Schopenhauer, filósofo cuja visão pessimista da existência influenciou diretamente Nietzsche. Investiga a relação entre vontade, liberdade e sofrimento, propondo reflexões sobre a arte de viver. -
Nietzsche e o Teatro de Zaratustra - Hamilton Vaz Pereira
Um mergulho na obra Assim falou Zaratustra, considerada a síntese poético-filosófica do pensamento de Nietzsche. O curso alia filosofia, literatura e performance em uma leitura dramatizada e comentada. -
Nietzsche e Freud: Consciência, Culpa e Moral - Oswaldo Giacóia Junior
Analisa os conceitos de moral, culpa e consciência em Genealogia da Moral (Nietzsche) e Totem e Tabu (Freud), explorando como ambos questionam os fundamentos éticos e religiosos da civilização.
Perguntas frequentes sobre niilismo
O que o niilismo prega?
O niilismo não é uma doutrina, mas uma postura filosófica que nega a existência de um propósito ou sentido intrínseco à vida. Essa visão rejeita valores, crenças e sistemas morais tidos como verdades absolutas, questionando qualquer fundamento universal de significado.
Quais são os 4 tipos de niilismo?
O niilismo possui diversas vertentes, mas quatro tipos principais se destacam:
Niilismo moral: nega a existência de valores morais universais e considera que todo juízo ético é relativo, variando conforme a cultura.
Niilismo existencial: recusa a ideia de um sentido maior, divino ou valor intrínseco à vida humana.
Niilismo político: rejeita a legitimidade e o valor de instituições políticas, governos ou ideologias.
Niilismo passivo/ativo: o niilismo passivo aceita a ausência de sentido com resignação, enquanto o niilismo ativo — conceito explorado por Nietzsche — destrói antigos valores para criar novos, reafirmando a vida e a autonomia do indivíduo.
Referências:
Curso Casa do Saber: Os Pensadores: Nietzsche
Curso Casa do Saber: Nietzsche: Vida, Obra e Legado
PARTENIE, Catalin D. Cioran, Emil (1911–95). In: Routledge Encyclopedia of Philosophy. Londres: Routledge, 2003.
WICKS, Robert. Arthur Schopenhauer. In: ZALTA, Edward N. (ed.). The Stanford Encyclopedia of Philosophy. Stanford: The Metaphysics Research Lab, first published 12 May 2003; substantive revision 11 May 2017.



