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A filosofia moderna é uma corrente filosófica que representa a transição do pensamento medieval, teocêntrico, para o antropocentrista.
Situada entre os séculos XV e XVII, este foi um período de revoluções em muitas áreas, desde às ciências até às artes, o que reformulou o pensamento ocidental trazendo foco para a valorização humana em detrimento da fé.
O artigo abordará os seguintes tópicos:
O que é e quando surgiu a filosofia moderna?
Apesar de existir um debate histórico sobre a origem da modernidade, ela surgiu por volta do século XV e século XVI.
A transição da filosofia medieval para a filosofia moderna foi marcada por importantes revoluções científicas, culturais e intelectuais que transformaram a forma do ser humano entender a si mesmo e o mundo.
Enquanto a filosofia medieval (patrística e escolástica) tinha um pensamento voltado para Deus (teocentrismo) e para a fé, a filosofia moderna foca na valorização humana e da razão para se alcançar o conhecimento. Portanto, o pensamento passou do teocentrismo para o antropocentrismo.
A origem da palavra modernidade vem de fora do campo da ciência. O termo “moderno” sempre existiu, mas a palavra “modernidade” é um neologismo. Ela foi inventada no século XIX pelo poeta francês Charles Baudelaire na obra “O pintor da vida moderna”.
Fonte: Curso Guia Essencial da Filosofia: Pensamento Moderno, ministrado pelo Professor Doutor Paulo Niccoli Ramirez.
Diversas áreas discutem quando foi o surgimento da modernidade, porém existem alguns momentos importantes para a história que marcam essa transição.
Na ciências exatas, com a revolução Copernicana, houve uma ruptura com a visão aristotélica e com a ciência medieval ao questionar qual a nossa posição no universo.
Já nas artes, com o surgimento do Renascimento, a visão antropocêntrica trouxe uma nova compreensão do universo a partir de uma perspectiva humana.
Quando falamos de comunicação, a prensa de Gutenberg foi uma invenção marcante, porque trouxe o fim do monopólio absoluto da igreja do conhecimento a partir das publicações de livros científicos e opositores do pensamento religioso .
No campo da história, o contato e choques entre civilizações trouxe uma reformulação do mundo europeu, uma vez que tinha o cristianismo como forma de felicidade e passou a colocar a razão antes da fé, o que ocasionou um novo projeto civilizatório.
Já na ciência política, as obras de Maquiavel, em especial o príncipe, colocou a política como autônoma. Ou seja, os governos têm origem dos próprios seres humanos, portanto não tendo vínculo com o divino (como os Reis) ou com imposições naturais, como no pensamento aristotélico.
A Reforma Protestante também foi um ponto marcante, porque o protestantismo foi a primeira religião moderna trazendo uma descentralização do poder religioso e propondo uma organização racional de trabalho e do mundo como virtude.
Por fim, na filosofia moderna o indivíduo é colocado no centro das discussões e reflexões e é entendido como sujeito pensante.
A frase “penso logo existo“ de Descartes, marcou esta etapa em que, como explica o professor e doutor em ciências sociais Paulo Niccoli Ramirez no curso “Guia Essencial da Filosofia: Pensamento Moderno”, os pensadores buscavam estabelecer uma base sólida para a construção do conhecimento através da razão.
“A primeira verdade a ser estabelecida não é a existência de Deus, mas a existência do próprio pensamento.” - Paulo Niccoli Ramirez
Ainda que cada área tenha realizado um esforço voltado para o seu campo, todos têm algo em comum: colocam o homem como centro da questão.
Portanto, a filosofia moderna se constrói em um período em que o pensamento se desloca da visão teocêntrica para antropocêntrica. Ou seja, as reflexões e os questionamentos se voltam para a razão, para a autonomia e para o próprio ser humano.
Este movimento foi impulsionado por movimentos que questionaram o poder religioso da época e buscavam explicações racionais.
Algumas das principais correntes da filosofia moderna são racionalismo, empirismo e idealismo, com nomes reconhecidos como René Descartes, Thomas Hobbes e Immanuel Kant.

Correntes filosóficas da modernidade: racionalismo, empirismo e iluminismo
O racionalismo e o empirismo são correntes filosóficas que buscam compreender a origem e o processo do conhecimento, mas divergem quanto à sua fonte principal.
O racionalismo coloca a razão como ponto central para o conhecimento verdadeiro, o qual nasce das ideias inatas e do uso do pensamento lógico, capaz de revelar verdades universais.
O empirismo diz que todo conhecimento vem da experiência sensorial. O indivíduo nasce como uma “tábula rasa”, adquirindo ideias e conceitos a partir do contato com o mundo.
Assim, o empirismo valoriza a observação e a experiência, enquanto o racionalismo confia na razão como instrumento central para compreender a realidade.
O Iluminismo também foi uma corrente filosófica moderna que valorizou a razão como caminho para liberdade e progresso humano. Este movimento foi influenciado pela ciência e pela crítica ao absolutismo, rompendo com a autoridade da tradição e da fé.
Para os iluministas, pensar de forma autônoma e crítica seria uma maneira de conquistar liberdade, igualdade e justiça, construindo uma sociedade guiada pela razão e pelos direitos universais.
📖 Leia mais: Conheça as Principais Correntes Filosóficas
Principais características da filosofia moderna
A filosofia moderna, ao romper com o pensamento medieval, construiu um cenário próprio que tem como principais características os seguintes elementos:
Valorização da razão e da ciência
A filosofia moderna coloca a razão como o principal fator para alcançar o conhecimento verdadeiro. A ciência baseada na observação e na experiência, torna-se o modelo de pensamento racional, substituindo explicações baseadas na fé ou na autoridade.
Autonomia do sujeito e questionamento da autoridade
O ser humano passa a ser o centro do conhecimento e da reflexão filosófica. A filosofia moderna defende a liberdade de pensar e a independência intelectual, rompendo com a submissão às verdades impostas pela religião ou pela tradição.
Busca por fundamentos seguros do conhecimento
Os filósofos modernos buscavam um caminho seguro para o conhecimento. Por exemplo, o método racional, proposto por Descartes, busca a certeza através da dúvida metódica e da clareza das ideias.
Ênfase na liberdade, ética e política racional
A liberdade é vista como valor essencial da condição humana. A ética e a política passam a se fundamentar na razão e na autonomia moral, defendendo uma sociedade baseada em direitos, justiça e responsabilidade individual.
Principais filósofos da filosofia moderna
A filosofia moderna se estendeu por volta do século XV ao XVIII, o que permitiu que diversos pensadores fizessem parte da construção do seu conhecimento e do pensamento ocidental.
Conheça alguns dos filósofos modernos e suas contribuições:
René Descartes
Conhecido como o "pai da filosofia moderna" e fundador do racionalismo, Descartes propôs estabelecer um conhecimento seguro e verdadeiro através do método científico conhecido como dúvida metódica.

Principais obras de Descartes:
- Discurso do Método (1637)
- Meditações Metafísicas (1641)
- Princípios da Filosofia (1644)
“Penso, logo existo” - René Descartes
📖 Leia mais: René Descartes: vida, filosofia e principais ideias
John Locke
Principal nome do empirismo, Locke afirma que todo conhecimento deriva da experiência sensível. A mente humana nasce como uma “tábula rasa”, sendo preenchida aos poucos pelas percepções e reflexões que o indivíduo tem sobre o mundo.

Principais obras de Locke:
- Ensaio sobre o Entendimento Humano (1689)
- Primeiro Tratado sobre o Governo Civil (1689)
- Segundo Tratado sobre o Governo Civil (1689)
“Nada existe no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos.” - Jhon Locke
📖 Leia mais: John Locke: pensador Iluminista que fundamentou o liberalismo e popularizou a ideia da Tábula Rasa
David Hume
Assim como Locke, Hume também é empirista, mas um empirismo radical e cético, o qual nega a existência de ideias inatas e de certezas absolutas. Para ele, o conhecimento é o resultado de impressões e hábitos formados pela experiência.

Principais obras de Hume:
- Tratado da Natureza Humana (1739-40);
- Ensaios Morais e Políticos (1742);
- Investigação sobre o Entendimento Humano (1748);
"Todos nós temos uma prodigiosa parcialidade em favor de nós mesmos". - David Hume
Baruch Spinoza
Spinoza foi um dos expoentes do racionalismo moderno. Ele defendeu uma ética baseada na razão como um guia para compreender o mundo e alcançar o divino, unindo racionalismo e moralidade em uma visão ética e iluminista.

Principais obras de Spinoza:
- Tratado da reforma do entendimento (1661)
- Princípios da filosofia de Descartes (1663)
- Tratado Teológico-político (1670)
“Quem vive dirigido pela razão, se esforça, tanto quanto pode, por compensar pelo amor e pela generosidade, o ódio, o desprezo que tem outrem por ele.” - Baruch Spinoza
Immanuel Kant
Kant propõe um diálogo entre racionalismo e empirismo, afirmando que o conhecimento surge a partir da experiência organizada, isto é, surge da interação entre os dados sensoriais (empirismo) e das estruturas racionais da mente (racionalismo).
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Principais obras de Kant:
- Crítica da Razão Pura (1781)
- Crítica da Razão Prática (1788)
- Crítica do Juízo (1790)
“O sábio pode mudar de opinião. O ignorante, nunca.” - Immanuel Kant
Gottfried Wilhelm Leibniz
Leibniz defende que todo conhecimento verdadeiro nasce da razão, que atua sobre ideias inatas. A lógica revela verdades universais e nada existe sem uma explicação suficientemente racional.

Principais obras de Leibniz:
- Discurso de Metafísica (1686)
- Novo sistema da natureza (1695)
- Monadologia (1720)
"Para o espírito a claridade, para a matéria a utilidade". - G.W. Leibniz
Jean-Jacques Rousseau
Rousseau busca compreender como o ser humano, corrompido pela civilização, pode conquistar sua liberdade e viver com justiça através de um contrato social baseado na vontade geral.

Principais obras de Rousseau:
- Do contrato social (1762)
- Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens (1755)
- Emílio ou Da educação (1762)
"O homem nasce bom, e a sociedade o corrompe" - Jean-Jaques Rousseau
A filosofia moderna na contemporaneidade
A filosofia moderna deixou um legado que ainda orienta o pensamento contemporâneo. Sua preocupação com a razão crítica e com a autonomia do indivíduo moldou a forma como entendemos o conhecimento, a liberdade e a responsabilidade individual.
Ao colocar o ser humano no centro da reflexão, a filosofia moderna fez um esforço filosófico para o pensamento científico e o desenvolvimento da pesquisa empírica, que até hoje está presente no nosso dia a dia, por exemplo, com o avanço tecnológico e a busca por verdades verificáveis.
Além disso, abordando temas presentes no texto, quando se fala de política, o ideal de autonomia inspirou as democracias modernas, os direitos humanos e a noção de cidadania ativa.
Já na ética, consolidou a ideia de que a moral deve ser guiada pela razão e não pela autoridade.
Por fim, o pensamento moderno continua influenciando o pensamento ocidental contemporâneo ao estimular o espírito crítico, a reflexão racional e a defesa da liberdade como valores fundamentais da vida.
Perguntas frequentes sobre Filosofia Moderna
O que é a filosofia moderna?
A filosofia moderna é o movimento filosófico que se situou entre os séculos XV e XVII, marcado pela valorização da razão, da ciência e da autonomia, buscando fundamentos racionais e seguros para o conhecimento.
Quando surgiu a filosofia moderna?
A filosofia moderna surgiu entre os séculos XV e XVI, durante o Renascimento, quando o pensamento europeu passou a valorizar a razão, a ciência e a autonomia, rompendo com a visão teocêntrica medieval.
Quem são os filósofos modernos?
Os principais filósofos modernos são René Descartes, John Locke, Baruch Spinoza, David Hume, Gottfried Wilhelm Leibniz, Immanuel Kant e Jean-Jacques Rousseau, pensadores que transformaram a reflexão sobre conhecimento, ética, política, ciência e liberdade humana.
Quem é o pai da filosofia moderna?
René Descartes é considerado o pai da filosofia moderna por ter dado início ao racionalismo e propor a dúvida metódica como caminho para alcançar verdades seguras, sintetizada em sua afirmação “Penso, logo existo”.
Quais são os 4 ramos da filosofia?
A pergunta pode ser respondida de duas formas. Pelo recorte histórico: Filosofia Antiga, Filosofia Medieval, Filosofia Moderna e Filosofia Contemporânea. Ou pelos ramos conceituais: metafísica, epistemologia, ética, lógica e estética.
Qual a diferença entre racionalismo e empirismo?
O racionalismo afirma que o conhecimento verdadeiro nasce da razão e de ideias inatas, independentes da experiência sensorial. Já o empirismo sustenta que todo saber provém das percepções e experiências dos sentidos, rejeitando conhecimentos prévios à vivência.

Referências
Curso da Casa do Saber. Academia de Filosofia. Tópico 1.3 - Pensamento moderno.
Curso da Casa do Saber. Guia Essencial da Filosofia: Pensamento Moderno.





