Neurociência, Saúde Mental & Comportamento

Como superar um término: caminhos para se reconstruir

Como superar um término: caminhos para se reconstruir

Como lidar com o fim de um relacionamento? Essa é uma das experiências mais intensas e dolorosas que podemos vivenciar. A perda de apetite, as noites sem sono, os pensamentos repetitivos sobre o que poderia ter sido diferente… tudo isso faz parte do que muitos chamam de dor do término.

Mas por que ela é tão avassaladora? E, mais importante, como lidar com ela de forma saudável e construtiva?

Este guia completo vai ajudar você a superar um término, com base em reflexões e ensinamentos dos cursos da Casa do Saber, oferecendo dicas práticas, estratégias de autocuidado e caminhos para o autoconhecimento.

Quem nunca passou por aquela mistura de sentimentos contraditórios: amor, raiva, saudade e alívio, tudo ao mesmo tempo? Se você está vivendo isso agora, saiba que não está sozinho. O que você sente é humano, e é possível atravessar essa fase sem se perder de si mesmo.



Por que dói tanto um término

O fim de um relacionamento mexe com aspectos profundos da nossa vida emocional. A separação não é apenas sobre a ausência da outra pessoa; ela toca a nossa identidade, autoestima e nossa sensação de pertencimento.

Quando investimos tempo, energia e expectativas em alguém, perder essa conexão pode gerar uma espécie de vazio existencial.

A dor do término também atinge o nosso corpo. Sintomas como insônia, perda de apetite, dificuldade de concentração e até dores físicas são comuns nesse período.

É como se o corpo inteiro sentisse o impacto da ausência. Isso acontece porque o término ativa áreas do cérebro ligadas à dor física e à sensação de rejeição, liberando hormônios do estresse como o cortisol.

Por isso, é comum experimentar cansaço, ansiedade ou até quedas na imunidade após a separação.

Pesquisas mostram que o fim de um relacionamento ativa as mesmas áreas cerebrais associadas à dor física. A liberação de cortisol - o hormônio do estresse - explica por que o sofrimento amoroso é sentido também no corpo.

Impactos emocionais e psicológicos

Essa dor é sentida no corpo, mas também na mente. Estudiosos de psicologia afirmam que o cérebro reage a perdas afetivas de forma semelhante à perda de um ente querido, liberando hormônios relacionados ao estresse e à tristeza.

A solidão que sentimos também é emocional, pois nosso sistema de recompensas afetivas sente falta da presença, do contato e da atenção do outro.

A dependência emocional e a idealização do parceiro, temas abordados nos cursos Dependência e Codependência Emocional guiado por Carol Tilkian e Vício e Dependência do Outro orientado por Lygia Vampré Humberg, chamam atenção para os contornos dessa dor.

Segundo as professoras, quando depositamos a própria felicidade na outra pessoa, a ruptura se torna ainda mais traumática. A sensação de abandono se mistura com a culpa, arrependimento e dúvidas sobre si mesmo.

Aceitando a dor: os primeiros passos para lidar com o término

Superar um término não significa ignorar a dor, pelo contrário, aceitar e validar seus sentimentos é essencial.

Negar que está triste ou tentar “passar por cima” rapidamente só adia a cura e pode gerar comportamentos prejudiciais, como recaídas emocionais ou autossabotagem.

Estratégias iniciais

  • Aceite seus sentimentos: tristeza, raiva, medo ou alívio são sentimentos comuns à todos nós, e fazem parte da nossa vida. Escreva sobre eles, converse com amigos de confiança ou registre em diário.
  • Evite contato compulsivo com o ex: verificar redes sociais, enviar mensagens ou espiar a vida do outro é um caminho certo para aumentar o sofrimento. Pergunte-se: “isso ajuda ou me machuca?”
  • Dê espaço para o luto: assim como qualquer perda, o término exige um processo de luto, que pode incluir negação, raiva, negociação e aceitação. Cada pessoa passa por essas fases de maneira única.
    Quem nunca sentiu aquela vontade de “voltar atrás” apenas para aliviar a dor momentânea? É uma armadilha comum, mas é importante lembrar que o tempo e a distância ajudam a clarear a mente e o coração.

Placas em direções opostas simbolizando escolhas e novos caminhos após o fim de um relacionamento
Amar também é saber a hora de seguir por caminhos diferentes, levando com a gente o que ficou de aprendizado.
Photo by Marco Kaufmann/Unsplash

Resgate da individualidade

Um dos maiores desafios após o término é reconectar-se consigo mesmo.

Muitos relacionamentos fazem com que partes da nossa identidade fiquem em segundo plano: hobbies abandonados, amizades negligenciadas, projetos pessoais engavetados...

Parece que aos poucos fomos nos misturando tanto ao outro que esquecemos de algumas partes nossas.

Carol Tilkian, no curso Resgate do Eu, ensina que o momento pós-término é ideal para retomar essas áreas e fortalecer sua autonomia emocional.

Como reconectar-se com você mesmo

  • Redescubra hobbies e paixões: retomar atividades antigas ou explorar novas experiências ajuda a preencher o vazio e a criar novas memórias.

    Tocar violão, desenhar, cozinhar ou até experimentar algo novo, como dança ou fotografia, pode ajudar. Essas atividades criam memórias frescas e ajudam a preencher o vazio.

  • Fortaleça amizades: o apoio de amigos é essencial. Compartilhar sentimentos, rir, sair e se divertir reforça a sensação de pertencimento e reduz a solidão.

    Marque um café com aquela amiga que você não vê há tempos, aceite convites para sair ou organize uma noite de filmes em casa. Estar com quem gosta de você reforça esse conforto necessário!

  • Estabeleça metas pessoais: pequenas conquistas, como aprender algo novo ou organizar a vida, reforçam a autoestima e o senso de controle sobre sua própria vida.

    Defina objetivos simples, como terminar um livro, organizar seu espaço ou planejar uma viagem solo. Essas conquistas reforçam sua autoestima e mostram que sua vida pode seguir em movimento.

Quando você volta a se valorizar, percebe que a sua felicidade não depende de outra pessoa, e sim de como você se relaciona consigo mesmo.



Dica de filme:

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004), de Michel Gondry

Cena do filme O Brilho eterno de uma mente sem lembranças, onde Joel e Clementine estão deitados lado a lado na neve

Joel e Clementine decidem apagar as lembranças do relacionamento após o término doloroso. No entanto, à medida que as memórias desaparecem, Joel percebe que ainda deseja mantê-las, revelando como o amor e a dor estão profundamente entrelaçados.

O filme é uma metáfora poderosa sobre a impossibilidade de apagar o que nos marca e sobre o papel da memória na construção de quem somos. Uma obra sensível, que dialoga diretamente com os temas do luto amoroso, do esquecimento e da reconstrução emocional.

Leia a análise do professor e psicanalista Ricardo Salztrager no blog da Casa do Saber.



O coração também se cura

A dor emocional não desaparece da noite para o dia, mas pequenas práticas de autocuidado podem acelerar a recuperação e fortalecer a autoestima.

Estratégias de autocuidado

  • Sono e alimentação equilibrada: tente dormir e acordar nos mesmos horários, criando um ritual noturno simples, como tomar um chá ou ler antes de deitar.

    Na alimentação, pequenas mudanças já ajudam: preparar um café da manhã nutritivo, incluir frutas no dia a dia ou cozinhar uma refeição caseira já ajudam a confortar o coração.

  • Atividade física: caminhar, correr, dançar ou praticar yoga libera endorfina, reduz a ansiedade e melhora o bem-estar geral.

    Escolha algo que combine com você. Pode ser caminhar no bairro ouvindo um podcast, dançar suas músicas favoritas em casa, praticar yoga pelo YouTube ou até se inscrever em uma aula de natação. O importante é movimentar o corpo de um jeito prazeroso.

  • Terapia ou acompanhamento psicológico: conversar com um profissional ajuda a compreender padrões emocionais e lidar com a dependência afetiva.

    Marcar uma sessão online com algum profissional pode ser mais prático para quem tem a rotina corrida, mas outra opção é participar de grupos de apoio ou rodas de conversa, que ajudam a compartilhar experiências e a se sentir menos sozinho.

  • Autocompaixão: respeite seu ritmo. Se estiver difícil, permita-se descansar sem culpa.

    Escrever em um diário sobre o que sente, praticar cinco minutos de respiração guiada ou separar um tempo para assistir a uma série leve já são formas de se cuidar.

Até aqui, sabemos que esse processo de cura pode levar tempo, mas que ele irá passar. O curso Curando o Coração mostra que essa cura é gradual, mas cada passo, por menor que pareça, tem impacto real no processo de superação.

Duas mãos prestes a se tocar diante do mar ao entardecer, simbolizando o fim e o recomeço de uma relação
Um término pode ser um convite para escrever novos capítulos da própria vida.
Photo by Teagan Methorst on Unsplash

Repensando o amor e os vínculos

Superar o término também é oportunidade de refletir sobre o que aprendemos com o relacionamento. Sentimentos como insegurança, ciúmes, conforto emocional e bem-estar são sinais importantes que devem ser considerados quando se refere a como nos sentimos diante do outro.

Nem todas as experiências passadas são ruins; elas podem ensinar sobre limites, comunicação, expectativas e compatibilidade emocional.

Por isso, é fundamental que você se pergunte:

  • Quais aspectos do relacionamento me ajudaram a crescer?
  • Quais comportamentos quero evitar no futuro?
  • Como posso me relacionar de forma mais saudável comigo mesmo e com os outros?

Essa reflexão transforma o término em aprendizado e abre espaço para novas formas de se conectar emocionalmente.

Dicas práticas para o dia a dia

Quando passamos por um término, é comum sentir que tudo perdeu a cor. A rotina parece vazia, os dias ficam mais longos e até tarefas simples, como cozinhar ou arrumar a casa, podem parecer um peso.

É justamente nesses momentos que as ações práticas do cotidiano ganham importância: elas não apagam a dor, mas funcionam como pequenas âncoras que devolvem equilíbrio e sensação de controle.

Reconstruir a vida após o fim de um relacionamento não depende de grandes gestos imediatos, e sim de atitudes constantes, simples e possíveis.

Por isso, transformar essas reflexões em hábitos concretos são pequenos passos que, somados, criam movimento, fortalecem a autoestima e lembram que a vida segue em frente, mesmo que em um ritmo novo.

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Criando novos hábitos

  • Experimente novas atividades, como cursos, esportes ou hobbies artísticos.
  • Estabeleça metas semanais e celebre pequenas conquistas. Cada passo conta!
  • Redecore seu espaço pessoal, mudando o ambiente para refletir sua nova fase.

Evitando gatilhos digitais

  • Silencie notificações ou bloqueie temporariamente perfis do(a) ex.
  • Evite revisar fotos antigas ou conversas que possam gerar recaídas.
  • Estabeleça horários de uso consciente das redes sociais.

Buscando apoio

  • Converse com amigos e familiares de confiança.
  • Participe de grupos de apoio ou comunidades de interesse.
  • Procure ajuda profissional se perceber sinais de autossabotagem, ansiedade intensa ou depressão.

Superar um término não significa apagar a história vivida, mas ressignificar o que foi aprendido. A dor transforma-se em sabedoria quando deixamos o passado ensinar - e não aprisionar.



O que não fazer

Durante o processo de superação, algumas atitudes comuns podem, na verdade, atrapalhar a recuperação.

É importante reconhecê-las para evitar armadilhas que aumentam a dor ou geram novos problemas.

  • Afastar-se das pessoas: isolar-se do convívio social pode parecer confortável no momento, mas aumenta a solidão e faz com que os sentimentos negativos se amplifiquem. Continuar em contato com amigos, familiares ou grupos de apoio é essencial para sentir acolhimento e perspectiva.
  • Descontar a dor em substâncias: recorrer a álcool, drogas ou outros comportamentos compulsivos pode aliviar temporariamente a tristeza, mas não promove cura emocional e pode criar dependência ou problemas graves de saúde.
  • Negar os sentimentos ou se cobrar demais: fingir que está tudo bem ou se culpar por sentir dor só prolonga o sofrimento. Aceitar a tristeza, a raiva ou a saudade faz parte do processo de luto e é necessário para avançar.
  • Tomar decisões impulsivas: mudanças drásticas, como mudar de cidade, começar um novo relacionamento imediatamente ou gastar dinheiro de forma descontrolada, podem trazer mais arrependimentos do que soluções.

Em resumo, é fundamental não se punir, não se isolar e não buscar alívio rápido em hábitos prejudiciais.

A recuperação é gradual, e respeitar o próprio ritmo é parte fundamental do processo, porque cada pessoa sente e processa a dor de um jeito único.

Lembre-se: acolher a dor é parte do caminho para a cura. Cada pessoa tem seu ritmo, e não existe um tempo “certo” para superar um término.



Cursos para lidar com o fim de um relacionamento e reconstruir o amor

  • Luto, Rejeição e Abandono, com Carol Tilkian : Um mergulho nas etapas do luto e nas feridas emocionais deixadas pelo fim das relações. O curso oferece reflexões sobre apego, ressentimento e perdão, além de caminhos psicanalíticos para elaborar perdas e romper ciclos de dor.

  • Amor e Solidão, com Ana Suy : Um olhar sensível sobre como amor e solidão se entrelaçam. A psicanalista propõe compreender o medo da solidão e o papel do amor próprio, revelando como a solidão pode ser espaço fértil de reencontro consigo e amadurecimento emocional.

  • Freud e o Amor, com Ricardo Salztrager : Uma análise psicanalítica das razões inconscientes que moldam nossas paixões e escolhas amorosas. O curso ajuda a compreender os mecanismos afetivos que sustentam o desejo e como transformá-los em autoconhecimento.

  • As Relações Amorosas e Seus Contratempos, com Alessandra Affortunati Martins : Um olhar interdisciplinar — entre psicanálise, filosofia e artes — sobre as complexidades do amor, o jogo da sedução e os sentimentos que desafiam os vínculos, como o ciúme, o poder e o ressentimento.

  • Predadores Amorosos: Uma Visão Junguiana sobre Relações Corrosivas, com Tatiana Paranaguá : Baseado na psicologia junguiana, o curso mostra como padrões inconscientes sabotam a vida afetiva. A autora usa mitos e arquétipos para desvendar os “predadores amorosos” que minam relações e a autoestima.

  • Resgate do Eu, com Carol Tilkian : Uma reflexão sobre o eu ideal e o ideal de eu, mostrando como a busca por uma “melhor versão” pode se tornar opressiva. O curso propõe reencontrar a autenticidade e reconstruir a relação consigo mesmo a partir do afeto e da consciência.

Todos esses cursos estão disponíveis por uma única assinatura na Casa do Saber, plataforma de streaming dedicada ao conhecimento.



Perguntas frequentes sobre como superar um término

Quanto tempo demora para superar um término?

Não há prazo fixo. Cada pessoa processa a dor de maneira diferente. Aceitar sentimentos e investir em autocuidado acelera a superação, mas é normal que leve semanas, meses ou até mais, dependendo da intensidade do vínculo.

É saudável manter amizade com o ex?

Se houver sentimentos ainda intensos ou padrões de dependência emocional, o ideal é manter distância temporária. A amizade pode surgir mais tarde, quando houver clareza emocional e limites bem estabelecidos.

Como saber se estou pronto para um novo relacionamento?

Quando você consegue se sentir feliz sozinho, sem depender do outro para validar seu valor, e refletir sobre relacionamentos passados de forma objetiva, você provavelmente está pronto para novos vínculos.

O que fazer quando sinto que não consigo seguir em frente?

Busque apoio: amigos, terapia, grupos de convivência. Estabeleça pequenas metas diárias, pratique autocuidado e permita-se sentir. Lembre-se: cada passo, por menor que pareça, é um avanço.


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Referências:

https://www.scientificamerican.com/article/how-the-brain-copes-with-grief/

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/428/luto-rejeicao-e-abandono-como-lidar-com-o-fim-das-relaces

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/568/resgate-do-eu

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/569/dependencia-e-codependencia-emocional

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/567/curando-o-coracao

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/460/como-fazer-o-amor-ser-possivel-hoje

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/513/vicio-e-dependencia-do-outro-relacionamentos-adictivos

Artigo escrito por
Camila Fortes
Pesquisadora. Jornalista e mestra em Comunicação pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde do ICICT/FIOCRUZ/RJ.