Quem nunca levou uma preocupação do trabalho para casa? Ou, quem nunca se sentiu cobrado de modo desproporcional no ambiente profissional?
No mundo contemporâneo, a relação com o trabalho tem gerado cada vez mais adoecimento psíquico, chamando atenção de empresas e especialistas de saúde mental.
Neste texto, trataremos dos principais fatores que afetam o bem-estar psicológico no ambiente profissional, os sinais de alerta e boas práticas para empresas e trabalhadores. Além disso, abordaremos sobre a importância de uma cultura organizacional que promova o cuidado com a mente.
O artigo abordará os seguintes tópicos:
- O que é ter saúde mental no ambiente profissional?
- O que afeta a saúde mental no trabalho?
- Sinais de que algo não vai bem no trabalho: quando o corpo e a mente avisam
- Burnout e ansiedade: os transtornos mais comuns no trabalho
- Como as empresas podem promover a saúde mental?
- O que o trabalhador pode fazer por si mesmo?
- Dicas rápidas para começar agora

O que é ter saúde mental no ambiente profissional?
A saúde mental no ambiente corporativo diz respeito à capacidade de lidar com os desafios cotidianos, manter relações interpessoais saudáveis, equilibrar vida pessoal e profissional, e encontrar sentido e satisfação no que se faz.
Não significa estar sempre feliz e realizado profissionalmente, mas sim ter suporte para atravessar momentos difíceis no trabalho sem adoecer.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os transtornos mentais estão entre as principais causas de afastamento do trabalho no mundo, impactando diretamente a produtividade e a sustentabilidade das organizações.
De acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan/Ministério da Saúde), somente em 2024, no Brasil, quase 5 mil pessoas foram afastadas do trabalho por questões de saúde mental. Em 2025, já foram mapeados mais de 850 registros.
Mas porque isso acontece?
A realidade cotidiana ainda é muitas vezes marcada por jornadas exaustivas, cobranças silenciosas e falta de espaço para o diálogo. Em ambientes assim, não há criatividade, eficiência ou engajamento, há apenas o medo, a pressão e a invisibilidade profissional.
Nesse sentido, saber identificar processos de adoecimento psíquico no ambiente profissional é fundamental para desenvolver uma melhor relação com o trabalho.
O que afeta a saúde mental no trabalho?
A saúde emocional no ambiente corporativo é afetada por um conjunto de fatores estruturais, relacionais e organizacionais.
Embora cada pessoa tenha uma trajetória única e reaja de forma distinta aos desafios profissionais, alguns elementos vêm se tornado cada vez mais frequentes nos relatos de adoecimento no trabalho.
- Excesso de cobranças e metas inalcançáveis: Quando o desempenho é priorizado em detrimento do bem-estar, instala-se um ciclo de autocobrança e medo de errar. O resultado? Profissionais sempre alerta, porém emocionalmente esgotados.
- Cultura organizacional tóxica, com comunicação agressiva e competitividade excessiva: Erros no trabalho acontecem, eles fazem parte da jornada profissional. No entanto, nessas estruturas, o erro passa a ser punido em vez de ser acolhido e aperfeiçoado.
- Falta de reconhecimento e de feedbacks construtivos: A desvalorização do esforço individual provoca desmotivação, queda da autoestima e perda do sentido no trabalho. A longo prazo, essa sensação favorece quadros de exaustão mental e emocional.
- Ambientes com sobrecarga e jornadas extensas: A naturalização da sobrecarga de tarefas é muitas vezes compreendida como parte da “entrega” ou da “alta performance”, gerando efeitos nocivos nos profissionais.
- Isolamento e solidão no trabalho remoto: O home office tem permitido uma maior qualidade de rendimento e otimização de tempo, no entanto, pode gerar uma dificuldade de desconexão entre trabalho e vida pessoal.
- Insegurança em relação à estabilidade no emprego: O cenário de incerteza profissional pode fazer com que as pessoas trabalhem mais do que o acordado, para tentar garantir a sua manutenção na empresa. Medidas como essa aceleram um estado de alerta crônico, podendo evoluir para transtornos mentais graves.
- Falta de espaço para escuta e acolhimento emocional: A ausência de uma rede de suporte psíquico no ambiente profissional distancia a pessoa da possibilidade de autocuidado e auto identificação de sintomas.
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Sinais de que algo não vai bem no trabalho: quando o corpo e a mente avisam
Quando o bem-estar psíquico está comprometido, o impacto aparece não só nos resultados, mas, principalmente, na qualidade de vida.
A mente tem formas (sutis e não sutis) de pedir socorro. Muitas vezes, é o corpo quem fala primeiro. Por isso, estar atento aos sinais de alerta pode evitar que o sofrimento se aprofunde ou se transforme em um quadro clínico grave.
Alguns dos sintomas mais comuns incluem:
- Cansaço físico e mental persistente, mesmo após períodos de descanso;
- Distúrbios do sono, como insônia ou sono excessivo sem sensação de repouso;
- Irritabilidade, impaciência e alterações de humor repentinas;
- Dificuldade de concentração, lapsos de memória e queda de rendimento;
- Desmotivação profissional, sensação de vazio ou perda do prazer nas tarefas cotidianas;
- Sintomas físicos recorrentes, como dores de cabeça, gastrite, tensões musculares ou queda da imunidade;
- Isolamento social e afastamento das relações afetivas e/ou profissionais.
Esses sinais são mecanismos de defesa do corpo e da mente, que indicam que algo precisa ser olhado com atenção. Quando persistem por semanas, meses ou se intensificam, é essencial buscar apoio especializado.
Atenção: A manifestação desses sintomas pode estar associada a outros transtornos psicológicos como ansiedade e depressão, por isso, é fundamental compreender de onde parte o sofrimento, e qual o peso do trabalho na produção desse sofrimento.

Burnout e ansiedade: os transtornos mais comuns no trabalho
Dentre os transtornos mais frequentes relacionados ao ambiente profissional, dois se destacam: Síndrome de Burnout e os Transtornos de Ansiedade.
Ambos têm crescido de forma expressiva nos últimos anos, impulsionados por modelos de trabalho excessivamente exigentes e abusivos, além de culturas organizacionais pouco empáticas e uma valorização contínua da hiperprodutividade.
Reconhecida pela OMS desde 2022 como uma doença ocupacional, a Síndrome de Burnout é resultado do estresse crônico relacionado ao trabalho.
Seus sintomas incluem:
- Exaustão emocional profunda, que não melhora após horas, dias ou semanas de descanso;
- Distanciamento afetivo ou desinteresse pelo trabalho e pelas relações profissionais;
- Sensação de baixa realização, como se nenhum esforço fosse suficiente ou reconhecido.
O curso Burnout, Um Problema Atual - Casa do Saber explora alguns casos clínicos para ilustrar os sintomas, desdobramentos e estratégias de tratamento. Saiba mais.
Por sua vez, os Transtornos de Ansiedade no trabalho podem surgir tanto de pressões cotidianas quanto de ambientes saudáveis, tóxicos ou imprevisíveis.
Ele se manifesta de diferentes formas, como:
- Preocupações constantes e pensamentos acelerados sobre desempenho, cobranças ou possíveis erros;
- Sensação de que “nada do que se faz é suficiente”;
- Dificuldade para relaxar, mesmo fora do horário de expediente;
- Crises de pânico, com sintomas físicos como taquicardia, sudorese, falta de ar ou tremores;
- Medo paralisante de reuniões, apresentações ou interações com lideranças.
Embora a ansiedade seja uma emoção humana natural, quando se torna crônica e desproporcional ao contexto, passa a comprometer o bem-estar e a performance profissional.
A boa notícia é que tanto a ansiedade quanto o Burnout podem ser prevenidos e tratados. Para isso, é fundamental que empresas adotem práticas estruturadas de cuidado e que os profissionais tenham acesso a apoio psicológico e ferramentas de autoconhecimento.
Como as empresas podem promover a saúde mental?
Cuidar da saúde mental no trabalho se tornou uma necessidade estratégica para empresas e profissionais.
Promover saúde mental no trabalho exige um compromisso institucional que pede mais do que um happy hour empresarial às sextas-feiras. Requer compromisso real com o bem-estar, políticas institucionais claras e uma liderança empática, preparada para lidar com a complexidade humana e com os desafios que essas relações exigem.
Algumas práticas efetivas incluem:
- Políticas de escuta ativa: Criação de canais seguros para que os colaboradores possam expressar dificuldades e propor melhorias. Rodas de conversas e grupos de apoio também são bem vindos, a fim de proporcionar um ambiente seguro.
- Pausas reais e respeito aos limites: O incentivo às pequenas pausas durante o expediente e o respeito aos horários de descanso e férias, são fundamentais.
- Programas de apoio psicológico: Parcerias com clínicas ou plataformas de psicoterapia para profissionais é um passo importante para promover a saúde mental no trabalho. Além disso, treinamentos sobre saúde emocional, empatia e regulação emocional também podem colaborar de modo significativo.
- Liderança empática e preparada: Gestores treinados em inteligência emocional e comunicação não violenta são formas importantes de construir uma rede profissional mais saudável.
- Ambientes mais inclusivos: O combate ao assédio e à discriminação é fundamental. Além disso, é relevante pensar em espaços seguros para pessoas com transtornos mentais.
- Certificação de empresas monitoras de saúde mental: A nova legislação brasileira através da Lei 14.831/2024 prevê um certificado para empresas que adotam boas práticas em saúde mental, reconhecendo e estimulando iniciativas que criem ambientes de trabalho mais saudáveis, além do combate à discriminação e ao assédio em todas as suas formas.
Mas, como diferenciar um ambiente saudável e um ambiente tóxico no trabalho?
Ambiente saudável | Ambiente tóxico |
---|---|
Comunicação clara, respeitosa e aberta Ex: Reuniões onde as opiniões são reconhecidas e ouvidas sem julgamentos. |
Comunicação passivo-agressiva ou silenciamento Ex: Colegas que falam mal pelas costas ou líderes que gritam com a equipe. |
Feedbacks construtivos e reconhecimento frequente Ex: Elogios por metas alcançadas e orientações para melhorias. |
Críticas destrutivas e ausência de reconhecimento Ex: Só receber cobranças ou ser ignorado após esforço extra. |
Incentivo ao equilíbrio entre vida pessoal e trabalho Ex: Flexibilidade para atender compromissos pessoais sem medo. |
Exigência de disponibilidade constante e horas extras frequentes Ex: Receber mensagens fora do expediente e ser cobrado por respostas imediatas. |
Oportunidades de crescimento e desenvolvimento Ex: Treinamentos, mentorias e possibilidades de promoção. |
Estagnação e desmotivação crônica Ex: Ausência de plano de carreira, com pessoas sem perspectivas de crescimento profissional. |
O que o trabalhador pode fazer por si mesmo?
Cuidar da saúde mental no trabalho é uma responsabilidade compartilhada entre empresas e profissionais. No entanto, há ações individuais que podem funcionar como âncoras de bem-estar em meio à correria do cotidiano corporativo.
Assumir pequenas atitudes no dia a dia pode fazer diferença real. Não se trata de “dar conta de tudo sozinho”, mas de criar espaços de respiro, refletir sobre os próprios limites e buscar apoio quando necessário.
Veja algumas práticas:
- Estabelecer limites: Separar tempo de trabalho e tempo pessoal é um passo importante de autocuidado e proteção emocional. Ter horários definidos e respeitá-los ajuda a preservar energia mental e prevenir sobrecargas.
- Criar pausas e rituais de transição: Caminhadas, alongamentos, respiração consciente entre tarefas, podem ser excelentes aliados. Técnicas como o mindfulness são grandes aliadas na reconexão com o presente.
- Buscar apoio profissional: A psicoterapia e a participação em grupos de suporte são elementos fundamentais para o cuidado psíquico diante cenários de sobrecarga no trabalho. Com apoio especializado, a pessoa pode encontrar os mecanismos psíquicos para evitar sofrimento e desgaste.
- Investir em autoconhecimento: Cursos, leitura, práticas de autocuidado e desenvolvimento emocional ampliam a consciência sobre si mesmo e ajudam na construção de relações mais saudáveis no trabalho e na vida.
Cuidar da mente, portanto, não deve ser um luxo, mas sim uma escolha consciente de sustentar e buscar o bem-estar e a qualidade de vida ao longo da trajetória profissional.
Situação comum, mas pouco falada: E quando a pessoa tóxica é o meu chefe?
Infelizmente, lideranças tóxicas existem, e seus impactos na saúde mental podem ser profundos. Supervisores que desqualificam, sobrecarregam, controlam excessivamente ou desrespeitam limites colaboram diretamente para o adoecimento mental.
Se você está vivendo uma situação assim, é importante documentar os comportamentos abusivos ou recorrentes que possam comprovar comportamentos inadequados. Estabeleça limites com assertividade, quando possível, e busque apoio em outros setores da empresa, como RH ou ouvidoria.
É importante também fortalecer a sua rede de suporte fora do trabalho. Além disso, se a situação for insustentável e não houver espaços para mudanças, refletir sobre novas possibilidades profissionais também é um ato de cuidado.
Dicas rápidas para começar agora
A relação entre saúde mental e produtividade é direta: pessoas com bem-estar emocional têm maior capacidade de foco, criatividade, tomada de decisão e relações saudáveis no ambiente corporativo.
Cuidar da mente no dia a dia pode ser mais simples do que parece. Pequenas ações geram grandes impactos ao longo do tempo.
Veja algumas práticas simples para iniciar agora mesmo:
- Reserve 10 minutos por dia para uma pausa sem telas. Tome um café, faça um alongamento ou simplesmente se desconecte dos estímulos digitais.
- Desative notificações profissionais fora do expediente.
- Converse com colegas sobre formas de apoio mútuo.
- Se você é líder ou gerente, pergunte com genuína escuta “como você está hoje?”
- Se você é colaborador, permita-se pedir ajuda. Nenhum profissional deve enfrentar o esgotamento sozinho.
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Referências:
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinannet/cnv/transmentalbr.def
http://www.portalsinan.saude.gov.br/o-sinan