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Transtornos Mentais: Um guia dos principais grupos diagnósticos
Camila Fortes
Transtornos Mentais: Um guia dos principais grupos diagnósticos
Conheça os principais tipos de transtornos mentais, como ansiedade, depressão, bipolaridade e esquizofrenia. Saiba os sintomas, causas e como tratar.

Falar sobre saúde mental tem se tornado cada vez mais urgente na sociedade contemporânea. As relações familiares, amorosas e profissionais exigem de nós cada vez mais autoconhecimento e reflexão crítica sobre nossos limites, por isso, compreender o que é transtorno mental, saber como ele se manifesta e quais são os principais tipos, é fundamental para que possamos viver melhor, consigo mesmo e com o outro.

Neste artigo, você vai conhecer os principais grupos de transtornos mentais, classificados segundo os critérios diagnósticos do DSM-5-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e da CID-11 (Classificação Internacional de Doenças), com exemplos e sintomas comuns.

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O que é transtorno mental?

Um transtorno mental é uma condição psíquica que afeta de forma significativa o funcionamento emocional, comportamental e/ou cognitivo de uma pessoa, com impacto na sua vida social, familiar, profissional ou escolar.

Os fatores que levam a um transtorno mental são diversos, e podem incluir questões genéticas, sociais, ambientais, culturais, políticas e econômicas. Nesse sentido, as condições para um transtorno psíquico não estão ligadas a “fraquezas” ou escolhas pessoais, pois incluem fatores externos ao indivíduo como determinantes.

São diversos os grupos de transtornos mentais, e cada um apresenta características semelhantes em relação aos sintomas, duração, impacto funcional e causas. A seguir, iremos apresentar os principais grupos e suas características:


Transtornos de Ansiedade

Os transtornos de ansiedade tratam-se de um elevado nível de estresse psicológico que interfere de modo significativo na vida da pessoa. A ansiedade tem origem no medo e na sensação de estar vivendo uma situação perigosa, que necessita de uma resposta de luta ou fuga.

Os transtornos de ansiedade estão entre os transtornos mentais mais comuns no mundo. No Brasil, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 18 milhões de pessoas sofrem com ela. Embora a ansiedade seja uma emoção natural do ser humano, quando se torna excessiva e passa a gerar sofrimento, pode configurar um quadro clínico.

Entre os principais tipos de transtornos de ansiedade, estão:

  • Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)
  • Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
  • Transtorno de Pânico

Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)

O transtorno de ansiedade generalizada é caracterizado por preocupações excessivas e intensas em diversos aspectos da vida. A pessoa tende a se sentir preocupada e angustiada com uma certa facilidade, e tem dificuldade de controlar esses sentimentos. Há uma intensificação e catastrofização das sensações.

Os sintomas incluem tensão muscular, irritabilidade, taquicardia, fadiga e dificuldade para respirar. Além disso, há uma tendência para um esgotamento mental e necessidade de fuga.

A ansiedade tem sido frequentemente relacionada aos casos de Burnout - ou síndrome do esgotamento profissional - e usos excessivos de mídias sociais.

Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)

O TOC é caracterizado por pensamentos intrusivos (obsessões) e comportamentos repetitivos (compulsões) que a pessoa não consegue controlar.

Gestos como lavar as mãos inúmeras vezes, verificar dezenas de vezes se portas, janelas e fechaduras estão realmente trancadas, fazer contagens incessantes, repetir palavras, frases e números, e ter necessidade de reorganizar objetos constantemente, podem ser sintomas do TOC.

Transtorno de Pânico

O transtorno de pânico é caracterizado por crises repentinas e recorrentes de medo intenso, que surgem de forma inesperada, mesmo em contextos que não há uma ameaça real. Mais do que apenas “nervosismo”, o transtorno de pânico tem relação com o medo concreto de um ataque, que leva a pessoa a um estado constante de vigilância.

Os sintomas incluem taquicardia, sudorese, tremores, tontura e sensação iminente de morte.

Tratamento: Os tratamentos para os transtornos de ansiedade costumam envolver psicoterapia, especialmente abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que ajuda a identificar padrões de pensamento distorcidos e desenvolver estratégias de enfrentamento. Em alguns casos pode envolver indicação de medicamentos ansiolíticos ou antidepressivos, sempre sob prescrição médica.

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Transtornos de Humor

Também conhecidos como transtornos afetivos, esse grupo de transtornos inclui alterações persistentes no humor que envolvem períodos prolongados de tristeza excessiva (depressão), de euforia excessiva (mania) ou ambos.

Essa oscilação pode variar de acordo com o quadro, apresentando duração e intensidade diversas.

Entre os principais tipos, estão:

  • Depressão
  • Transtorno Bipolar

Depressão

A depressão é um transtorno de humor que provoca tristeza persistente, perda de interesse por atividades que antes gostava, cansaço excessivo, alterações de sono e apetite, sentimentos de culpa e inutilidade, além de possíveis pensamentos suicidas.

Essa condição afeta não apenas os pensamentos e sentimentos de uma pessoa, mas o humor e o comportamento, o que pode causar dificuldades significativas no cotidiano. A baixa auto-estima e o pessimismo também podem ser sintomas a se apresentarem de modo isolado ou somatizado.


Transtorno Bipolar

A bipolaridade, ou transtorno bipolar, é caracterizada por oscilações intensas de humor entre episódios de mania e depressão. Seus sintomas incluem a alteração entre uma euforia exagerada, o aumento de energia e autoestima, a falta de sono e o comportamento impulsivo (mania), e uma tristeza profunda, um cansaço extremo, somado a pensamentos negativos recorrentes (depressão).

De acordo com o DSM-5 e o CID-10, a bipolaridade pode ser classificada por:

Transtorno Bipolar I: episódios de mania intensos (com ou sem episódios depressivos);

Transtorno Bipolar II: episódios de depressão com episódios de hipomania (forma mais leve da mania);

Transtorno Ciclotímico: oscilações de humor menos intensas, mas persistentes, que duram dois anos ou mais;

Transtorno Bipolar misto: quando sintomas de mania e depressão ocorrem ao mesmo tempo ou se alternam rapidamente.

Tratamento: Os tratamentos para os transtornos de humor requerem uma abordagem terapêutica combinada, que inclui psicoterapia e, quando necessário, medicamentos como antidepressivos ou estabilizadores de humor.

Transtornos de Personalidade

Os transtornos de personalidade se referem a padrões rígidos e duradouros nos modos de pensar, sentir e se comportar, que se desviam das expectativas sociais e causam sofrimento.

Como o nome já aponta, a personalidade da pessoa tende a ser inflexível e rígida sobre situações, contextos e perspectivas, manifestando-se principalmente na vida adulta. Nesse sentido, pessoas com transtornos de personalidade podem ter dificuldades em manter relações, gerir e controlar suas emoções e impulsos, e lidar com situações difíceis.

Entre os principais tipos de transtornos de personalidade, está:

Borderline

O transtorno de personalidade Borderline - ou limítrofe - é marcado por instabilidade nas emoções, nos relacionamentos e na autoimagem. Pode gerar comportamentos impulsivos e medo intenso de abandono.

Neste transtorno, há uma hipersensibilidade nos sentimentos que faz com que a pessoa sinta tudo a sua volta de modo bastante intenso e, ao mesmo tempo, instável. Assim, tanto os sentimentos positivos quanto os negativos se manifestam de modo expressivo.

Entre os sintomas mais comuns, estão: oscilações extremas de humor que podem durar horas ou dias, impulsividade em áreas como alimentação, gastos, sexo ou álcool, sensação crônica de vazio, comportamentos autolesivos ou ideação suicida.

Tratamento: Os tratamentos para os transtornos de personalidade são centrados na psicoterapia de médio a longo prazo. Medicamentos podem ser utilizados para tratar sintomas específicos.



Transtornos de Neurodesenvolvimento

Os transtornos de neurodesenvolvimento são alterações dos processos iniciais de desenvolvimento neurológico que causam impacto na aquisição, relação ou produção de habilidades.

Essas alterações se dão na memória, na linguagem e na interação social, podendo interferir no cotidiano da pessoa.

Entre os principais transtornos de neurodesenvolvimento, destacam-se:

  • Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
  • Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

O TDAH é um transtorno caracterizado pelo comprometimento expressivo na atenção, concentração e no gerenciamento de atividades mentais. Os seus sintomas incluem o esquecimento de coisas importantes, a dificuldade de prestar atenção em detalhes, de seguir instruções e de concluir tarefas.

Pessoas com TDAH podem, com uma certa frequência, interromper a fala de outras pessoas, pois têm dificuldades de aguardar a sua vez. Além disso, podem falar excessivamente e apresentar uma certa inquietação no comportamento, tendo dificuldades com atividades que exigem esforço mental prolongado.

Os sinais de TDAH podem ser percebidos ainda na infância, mas atenção: um elevado nível de atividade pode ser completamente normal e ser apenas uma fase do temperamento infantil comum. Por isso, é fundamental avaliar em que fase da vida ocorre e se o nível de atividade está combinado com outros sinais, para que um diagnóstico não seja elaborado erroneamente.




Transtorno do Espectro Autista (TEA)

O TEA é um transtorno de neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na comunicação social e em padrões de comportamento repetitivos ou restritos. O espectro é amplo e varia de forma significativa entre os indivíduos, afetando o desenvolvimento motor, da linguagem e comportamental.

O TEA pode ser classificado em três tipos: autismo clássico, autismo de alto desempenho (também chamado de Síndrome de Asperger) ou distúrbio global do desenvolvimento sem outra especificação.

Entre os principais sintomas do TEA, destacam-se: atraso na fala, desinteresse em pessoas ou objetos ao redor, seletividade extrema em relação a cheiros, sabores e texturas, dificuldade para combinar palavras em frases ou repetir a mesma fala com frequência, além de uma expressiva sensibilidade visual e sonora.

Além disso, algumas pessoas com TEA podem manifestar sinais como impaciência, hiperatividade, déficit de atenção e aumento ou diminuição na resposta à dor.

Tratamento: Para os transtornos de neurodesenvolvimento, os tratamentos também são multifatoriais. Eles podem incluir medicação (como psicoestimulantes no caso do TDAH), apoio educacional e terapias ocupacionais (no caso do TEA), tendo o suporte psicossocial como indispensável.

Transtornos Psicóticos

Os Transtornos Psicóticos são transtornos que alteram as percepções e interpretações da realidade. Podem incluir delírios, alucinações e pensamentos desorganizados. Isso pode afetar a forma como a pessoa pensa, percebe o mundo, sente e se comporta.

As causas podem incluir fatores genéticos, alterações neuroquímicas, traumas, uso de substâncias ou complicações neurológicas. Em muitos casos, há uma interação entre predisposição biológica e fatores ambientais.

O tipo mais comum de transtorno psicótico, inclui:

Esquizofrenia

A esquizofrenia é um transtorno mental grave que envolve distorções no pensamento, nas percepções e na forma como a pessoa se relaciona com a realidade.

Os sintomas da esquizofrenia costumam ser divididos entre positivos e negativos. Os sintomas positivos referem-se a alucinações, delírios, pensamento desorganizado e comportamentos agitados, enquanto os sintomas negativos referem-se à apatia, isolamento social e falta de motivação e interesse.

Além disso, também ocorrem sintomas cognitivos, como a dificuldade de atenção, problemas de memória e comprometimento no julgamento e na tomada de decisões. A esquizofrenia geralmente se manifesta no final da adolescência ou início da idade adulta, podendo ter início gradual ou súbito.

Tratamento: Os tratamentos envolvem o uso de medicamentos antipsicóticos, que ajudam a reduzir os sintomas. A psicoterapia auxilia para o fortalecimento da autonomia e da capacidade de lidar com a realidade. Além disso, programas de reabilitação social são essenciais para a recuperação e para a elaboração de estratégias de reinserção comunitária.

Transtornos Alimentares

Os transtornos alimentares envolvem uma relação disfuncional com a alimentação e o corpo. Caracterizam-se por uma preocupação excessiva com o peso, a forma corporal e os hábitos alimentares, frequentemente associada a distorções de imagem - ou seja, a pessoa vê seu corpo de maneira distinta, sobretudo, negativamente.

Além dos sintomas físicos, esses transtornos denunciam questões emocionais profundas, como baixa autoestima, ansiedade, depressão e sensação de perda de controle.

Os principais tipos de transtornos alimentares são:

  • Anorexia
  • Bulimia

Anorexia

Na anorexia, a pessoa reduz drasticamente a ingestão de alimentos, de forma repentina ou progressiva. É comum haver medo intenso de engordar, mesmo quando o corpo já está abaixo do peso ideal.

Bulimia

A bulimia se caracteriza por episódios recorrentes de grande ingestão alimentar, seguidos de comportamentos compensatórios, como vômitos induzidos, uso de laxantes ou jejuns prolongados.

Tratamentos: Os tratamentos para os transtornos alimentares incluem uma abordagem multiprofissional. Psicoterapia individual e familiar e acompanhamento nutricional são fundamentais. Em alguns casos, pode ser necessário o uso de medicamentos para ansiedade, depressão ou compulsão alimentar.


Conclusão: Conhecimento e acolhimento sobre transtornos mentais são essenciais

Compreender os tipos de transtornos mentais é fundamental para promover cuidado, prevenção e acolhimento. Estar atento aos sinais, especialmente quando os sintomas persistem por mais de 6 meses, é um passo importante para buscar o suporte necessário.

Cabe mencionar que alguns sintomas podem fazer parte da experiência humana comum. No entanto, eles se tornam motivo de atenção quando passam a causar sofrimento ou prejudicar o cotidiano da pessoa.

Nesse caminho, a psicoterapia é uma ferramenta potente tanto para o diagnóstico quanto para o autoconhecimento. O suporte psiquiátrico também é importante, desde que a administração de medicamentos ocorra sempre com prescrição e acompanhamento médico.

É importante reforçar que nenhum diagnóstico define uma pessoa. Um transtorno é apenas uma parte da complexidade de um sujeito, que pode viver com mais qualidade e bem-estar quando conta com uma rede de apoio psicossocial.

Por fim, cuidar da saúde psíquica não deve ser uma responsabilidade apenas de quem tem algum transtorno mental, mas de todas as pessoas que buscam caminhos para uma vida mentalmente mais saudável.

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Referências

https://www.paho.org/pt/topicos/transtornos-mentais

Conheça os Principais Filósofos da História
Paula Delgado
Conheça os Principais Filósofos da História
Conheça os principais filósofos da história, seus conceitos e como suas ideias transformaram a sociedade e a forma como pensamos.

A filosofia é um um campo do conhecimento que se desenvolve a cada dia a partir de reflexões dos principais filósofos sobre questões da vida, nossa interação com o mundo e com o outro.

Por isso, para você compreender melhor os conceitos e ideias, separamos para você neste texto os grandes nomes da filosofia.

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Sócrates – O filósofo do autoconhecimento

imagem de filósofo sócrates

Sócrates (470 - 399 a.C.) é um dos maiores filósofos da história. Foi ele quem deu início ao Período Antropológico da filosofia, quando levou os estudos desta ciência das questões naturais para o homem.

A partir de seu método, a maiêutica - que tem como princípio questionar o outro para que reconhecesse sua ignorância e encontrasse o conhecimento - desenvolveu suas principais contribuições sobre justiça, ética e virtude.

“Conhece-te a ti mesmo”

Com esta emblemática frase, ele enfatizava que o reconhecimento da ignorância era o primeiro passo para o conhecimento.

Sócrates foi acusado de desrespeitar as tradições religiosas e corromper a juventude, o que o levou a ser condenado à morte. Embora pudesse ter fugido ou ter se declarado culpado, ele aceitou a pena sendo fiel aos seus princípios: a verdade e a razão.

Apesar de não ter deixado obras escritas, seus pensamentos foram registrados por seus discípulos, principalmente, Platão.

Platão – O mundo das ideias

escultura de platão

Platão (427 - 348 a.C.) foi discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles e é um dos grandes nomes da filosofia.

Ele desenvolveu a Teoria das Ideias, que propõe a existência de um mundo de formas perfeitas e imutáveis (o mundo das ideias), e a realidade (o mundo sensível) é apenas uma cópia imperfeita. Também fundou a Academia de Atenas, considerada a primeira universidade do mundo ocidental.

Além disso, em "A República", sua principal obra, Platão discute sobre o que seria um governo ideal. Para ele, o governo deveria estar nas mãos dos filósofos, já que representam aqueles que estão mais próximos da verdade e da justiça.

Assim como seu mestre, Platão abordou temas como ética, política e a natureza da alma, influenciando profundamente o pensamento ocidental. Suas ideias continuam a ser estudadas e debatidas nos dias de hoje, reforçando sua relevância na filosofia.

Aristóteles – O pai da lógica e da ética prática

escultura do filósofo Aristóteles

Aristóteles (384–322 a.C.), discípulo de Platão e tutor de Alexandre, o Grande, é um dos grandes nomes da filosofia grega.

Diferentemente de seu mestre, ele valorizava a experiência empírica como fonte do conhecimento, sistematizando uma nova forma de pensar e influenciando diversas áreas do saber que dialogam com a filosofia, como:

  • Lógica
  • Ética
  • Política
  • Biologia
  • Retórica


Ele fundou Liceu (335 a.C.), sua escola em Atenas, onde desenvolveu suas ideias e uma nova forma inovadora de ensinar filosofia: caminhava pelos jardins da escola aristotélica enquanto seus discípulos o acompanhavam anotando suas falas.

Com sua abordagem analítica, desenvolveu o que ficou conhecido como Período Sistemático, que é marcado pela categorização e sistematização do conhecimento existente.

Ademais, Aristóteles trouxe o conceito de virtude e razão como o caminho para a felicidade - objetivo final da vida ética. Suas ideias e conceitos seguem sendo visitados e influenciando a nossa vida atualmente.

Santo Agostinho – Fé e razão na filosofia cristã

pintura retratando santo agostinho de hipona

Santo Agostinho de Hipona (354 - 430 d.C.) foi um dos principais filósofos da corrente filosófica patrística, responsável por criar uma base teológica para integrar o pensamento filosófico e o cristão na transição da Antiguidade e para a Idade Média.

Ele defendia que a filosofia grega, especialmente o platonismo, era capaz de fornecer meios que contribuíssem para a estrutura da doutrina cristã.

Além da construção da base para a formulação do cristianismo, Santo Agostinho filosofou sobre o tempo, que ele dizia saber o que é, mas que não podia explicá-lo, caso perguntado.

Também falou sobre livre-arbítrio, o bem e o mal. Defendia que a proximidade de Deus é o único caminho para o bem, enquanto o afastamento d'Ele representa o mal. Contudo, o livre-arbítrio foi concedido ao homem, permitindo escolher até mesmo o caminho do mal.

Em sua autobiografia "Confissões", relata sua trajetória até a conversão, abordando temas como pecado, maniqueísmo e hedonismo, tornando-se referência na literatura cristã até os dias atuais.


René Descartes – A razão como ponto de partida

pintura retratando rene descartes

René Descartes (1596–1650) é considerado o fundador do racionalismo moderno, movimento que influenciou fortemente o pensamento moderno e teve nomes de famosos filósofos como expoentes, como Francis Bacon e Thomas Hobbes.

Ele sistematizou um método que buscava uma certeza básica, livre dos questionamentos céticos, que fosse base para a fundamentação de uma nova teoria científica.

Sendo assim, este método precisava de diretrizes para que o procedimento fosse cumprido. Descartes formulou 4 regras para o pensamento lógico:

Regra Descrição
Regra da evidência Nunca aceitar algo como verdadeiro se não tiver certeza clara que realmente é verdadeiro.
Regra da análise Separar um problema em quantas partes forem necessárias para compreendê-lo melhor
Regra da síntese Organizar os pensamentos dos mais fáceis para os mais complexos de entender
Regra da enumeração Fazer uma lista e revisá-la com atenção para garantir que nada foi omitido


Segundo Descartes, conhecer a natureza e compreender o mundo só é possível quando acompanhado do autoconhecimento, da reflexão sobre quem somos enquanto sujeitos pensantes.

“Cogito ergo sum”

Cogito é a certeza do sujeito pensante como tal.


Immanuel Kant – A ética da razão pura

pintura retratando immanuel kant

Immanuel Kant (1724 - 1804) revolucionou a filosofia ao fundamentar a ética na razão pura, objetivando estabelecer os princípios universais e imutáveis da moral.

Para ele, as questões éticas pertencem à razão prática e não à razão teórica. Pois é na razão prática que agimos livremente segundo princípios morais; já na razão teórica, do conhecimento, estamos condicionados a nossa própria estrutura cognitiva.

Em sua obra Crítica da Razão Pura, Kant investigou os limites e as condições do conhecimento humano, propondo uma combinação da intuição sensível (sensibilidade) e dos conceitos e categorias (entendimento) para a compreensão da realidade.

De acordo com Kant, os princípios da razão prática são universais e defendem os nossos deveres, já que se aplicam a todos os indivíduos - ética do dever.

Para compreender melhor as ideias desenvolvidas por Kant sobre ética e filosofia moral, acesse o curso Os pensadores: Immanuel Kant em nossa plataforma.



Friedrich Nietzsche – A crítica à moral tradicional

fotografia de Friedrich Nietzsche

Friedrich Nietzsche (1844 - 1900) foi um filósofo que foi de encontro aos fundamentos da moral tradicional ocidental, especialmente a judaico-cristã, propondo uma reavaliação dos valores pré-estabelecidos.

Ele é considerado o fundador do niilismo, movimento que questiona os valores tradicionais da sociedade e a existência de um propósito de vida.

Segundo Nietzsche, a criação de novos valores baseados na afirmação da vida e na individualidade seriam o caminho para superar a crise social no ocidente.

Em seu livro Assim Falou Zaratustra, Nietzsche propõe o conceito de além-do-homem, que seria um ser capaz de criar seus próprios valores e viver de forma autêntica.

Ademais, também desenvolveu o conceito de eterno retorno, que diz respeito à ideia de que a vida se repete incessantemente, desafiando o indivíduo a viver da maneira que desejasse sem se prender à moralidade da sociedade - um modelo ideal para a humanidade.

Karl Marx – Filosofia e transformação social

fotografia de karl Marx

Karl Marx (1818 - 1883) desenvolveu uma forte crítica ao sistema capitalista, especialmente referente à alienação e à exploração do trabalhador, influenciando diretamente os sistemas políticos e econômicos da época.

Uma de suas obras mais significativas é O Capital, na qual ele faz uma análise do funcionamento da economia capitalista apresentando a lógica do lucro como causadora da desigualdade e intensificadora da opressão.

O ponto central do trabalho de Marx é o trabalho. De acordo com sua filosofia, o capitalismo transforma o trabalhador em instrumento de produção, desconsiderando sua humanidade. Com isso, tem-se a alienação social que ocorre em várias dimensões: do produto, do processo de trabalho, da essência humana e do outro.

Então, seria a luta de classes, segundo ele, o motor da história e também o elemento capaz de superar o capitalismo e alcançar uma sociedade mais igual por meio da revolução proletária.

Jean-Paul Sartre – O existencialismo e a liberdade radical

fotografia de Jean Paul Sartre

Jean-Paul Sartre (1905 - 1980) é considerado um dos principais filósofos do existencialismo, juntamente com Albert Camus. A ideia central de sua filosofia é a liberdade do homem.

Ele propõe que a “existência precede a essência”, ou seja, o ser humano não possui uma essência pré-determinada, ele é livre para construir sua própria identidade por meio de escolhas e ações - o reconhecimento da liberdade.

Em 1943, Sartre explora o reconhecimento da liberdade do indivíduo e a responsabilidade que vem junto com ela, gerando a sensação de angústia existencial como consequência dessa liberdade.

Embora tenha se aproximado do marxismo, ao inserir o homem na realidade social e na alienação da consciência, ele manteve uma postura crítica conciliando a liberdade individual com as estruturas sociais.

Simone de Beauvoir – Filosofia da liberdade e do feminino

fotografia de Simone de Beauvoir

Simone de Beauvoir (1908 - 1986) foi uma filósofa influente no século XX e fundamental no desenvolvimento do pensamento feminista e na filosofia existencialista.

Sua obra mais importante foi O Segundo Sexo, onde examina a construção social da mulher, desafiando as concepções tradicionais que limitavam o comportamento feminino à biologia.

Uma de suas frases mais marcantes é "ninguém nasce mulher, torna-se mulher" que resume sua tese de que a identidade feminina é moldada por fatores históricos e culturais, e não por uma essência natural.


Simone de Beauvoir não só influenciou como também foi influenciada pelos princípios do existencialismo, especialmente pela ideia de que "a existência precede a essência".

A partir disso ela argumenta que as mulheres devem assumir a responsabilidade por sua liberdade e se libertar das imposições patriarcais.

Filósofos contemporâneos

A filosofia contemporânea surge a partir da crise do pensamento moderno no século XIX e ainda permanece até os dias atuais, o que pode tornar mais difícil o processo de enxergar suas características.

Contudo, esta filosofia busca fundamentar o conhecimento e as teorias científicas através da análise da subjetividade e da estrutura cognitiva do indivíduo, recebendo influência do racionalismo e empirismo.

Conheça alguns dos principais filósofos contemporâneos:

Michel Foucault

Ele fazia uma forte crítica ao poder e formulou a ideia de microfísica do poder, onde falava sobre como as relações de poder tentam docilizar as pessoas através da disciplina.

Para Foucault, as instituições moldam comportamentos e regras da sociedade, além do conhecimento estar sempre ligado ao controle e à hierarquia social.

Judith Butler

Judith Butler revolucionou o estudo de gênero ao apontar que a identidade de gênero é socialmente construída, não uma essência fixa. Ela propôs que a repetição de atos de gênero cria e fortalece as identidades, desafiando normas tradicionais.

Byung-Chul Han

Byung-Chul Han pesquisa a “Sociedade do cansaço” , a busca incessante pela produtividade e desempenho da sociedade contemporânea, a partir de uma crítica ao neoliberalismo, leva ao esgotamento e a doenças neuronais, como depressão e burnout.

Filósofos brasileiros

Apesar de o Brasil não ter uma longa tradição dentro da filosofia, alguns filósofos brasileiros estão se fazendo pertinentes e populares quanto aos estudos deste campo de saber.

Um dos principais nomes nacionais é Marilena Chaui que, influenciada e especialista na obra de Spinoza, explora temas como a filosofia política e a democracia como garantia de direitos.

Também temos Clóvis de Barros Filho, reconhecido por tornar a filosofia acessível e democratizar o pensamento filosófico na sociedade. Além de Renato Noguera que aborda a filosofia africana e a decolonialidade.


Por que estudar os principais filósofos?

A busca pelo conhecimento é de grande valia em qualquer campo. Porém, na filosofia, esse aprendizado te ajuda a compreender melhor o mundo, a sociedade e a si mesmo.

A principal proposta deste texto foi convidar você para refletir sobre as ideias dos principais filósofos e começar a busca pelo conhecimento e se preparar para enfrentar as complexidades da vida e agir com maior responsabilidade e racionalidade.

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Referências:

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 12. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.

RODRIGUES, Carla. Judith Butler. Blogs de Ciência da Universidade Estadual de Campinas: Mulheres na Filosofia, v. 6, n. 3, p. 99–113, 2020.

Conheça as Principais Correntes Filosóficas
Paula Delgado
Conheça as Principais Correntes Filosóficas
Conheça as principais correntes filosóficas e suas perspectivas sobre realidade, conhecimento e o sentido da existência humana.

As correntes filosóficas são escolas ou linhas de pensamento que apresentam perspectivas semelhantes sobre questões fundamentais da filosofia, como a natureza da realidade, do conhecimento, da ética.

Cada corrente filosófica busca entender e responder a essas questões a partir de características comuns, muitas vezes modificando ideias de outras correntes.

Neste texto, você vai conhecer as principais correntes filosóficas e ter acesso a diferentes interpretações sobre o mundo e o ser humano.



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Correntes filosóficas da antiguidade à modernidade

As correntes filosóficas da antiguidade, como estoicismo, epicurismo e ceticismo, desenvolveram-se durante o período helenístico.

O pensamento do helenismo é o pensamento de escola, ou seja, aquele que valoriza, mais do que a originalidade, a vinculação do indivíduo a uma corrente filosófica.

Uma característica comum das três principais escolas da antiguidade é a busca pela felicidade através da tranquilidade e da imperturbabilidade.

Estoicismo

Fundada por Zenão de Cítio, o estoicismo recebeu este nome em referência ao local que os membros da escola se reuniram, o stoa poikilé (“pórtico pintado”).

O estoicismo compreende a filosofia de forma sistemática e dividida em três partes fundamentais: física, lógica e ética — explicadas através da metáfora da árvore.


Metáfora da Árvore - Estoicismo / Imagem produzida pela autora


Na metáfora da árvore, a ética é a mais relevante porque representa os frutos da árvore do saber que podemos colher, mas não podemos tê-los sem o tronco (lógica) e sem a raiz (física).

Segundo os estoicos, a felicidade - que consiste na tranquilidade ou na ausência de perturbação - surge da harmonia com o cosmos. Como parte da natureza, o homem deve agir com ética para assegurar a felicidade.

Portanto, a boa ação (ação ética) é aquela pautada nos princípios da natureza. As quatro virtudes, que são consideradas o objetivo principal da vida, são:

  • Inteligência/Sabedoria: conhecimento do bem e do mal
  • Coragem: conhecimento do que temer ou não temer
  • Justiça: conhecimento de dar a cada um o que lhe é devido
  • Temperança: conhecimento do que moderar ou não moderar


Para a escola estoica, o homem deve agir de acordo com os princípios éticos, porém também deve aceitar as consequências de suas atitudes - determinismo ético.

Principais nomes do estoicismo:

  • Sêneca
  • Epicteto
  • Marco Aurélio



Epicurismo

Fundado por Epicuro, em 306 a.C., a escola fundamenta sua filosofia na valorização da experiência imediata, introduzindo o conceito de prolepsis (pré-noção), que é a preservação dos elementos da experiência, que funcionam como fundamentos para a aquisição de conhecimentos futuros.

Assim como o estoicismo, o epicurismo também tinha como princípio básico a felicidade através da tranquilidade e da imperturbabilidade. Entretanto, o ponto de discordância das duas escolas estava na forma de se chegar à felicidade.

O homem, para os epicuristas, agia de forma ética ao dar vazão aos desejos e necessidades naturais de maneira equilibrada e moderada, valorizando a inteligência prática e dizendo não ter conflito entre razão e paixão.

A partir da ideia do prazer como algo natural e que a realização de nossos desejos naturais como algo positivo fez com que os epicuristas fossem rotulados como aqueles que se entregam a uma vida de prazer.

Esta corrente filosófica abriu espaço para o surgimento do humanismo, quando foi retomada na época do Renascimento.

Os principais autores da escola epicurista:

  • Filodemo de Gadara
  • Tito Lucrécio


Ceticismo

Apesar de ser um termo conhecido, o ceticismo não é uma única coisa, existem vários entendimentos do que é ceticismo.

A tradição cética foi se formando gradualmente a partir da reunião e reelaboração de práticas e ideias já pré-existentes.

Da mesma forma que o estoicismo e o epicurismo, o ceticismo também se preocupa com a ética. Para essa escola, é a partir dela que se consegue atingir a imperturbabilidade para, enfim, alcançar a felicidade.

Alguns dos caminhos do ceticismo são:

  • Protoceticismo:
  • Ceticismo
  • Ceticismo acadêmico
  • Pirronismo



Pirro é colocado como o iniciador do ceticismo e, assim como Sócrates, acreditava que a filosofia era uma atitude, uma prática.

Os céticos questionam a possibilidade de se colocar uma verdade que seja imune ao questionamento. Sendo assim, a noção de époche (suspensão do juízo) é colocada como ponto central da estratégia cética.

O ceticismo é um procedimento no qual os filósofos, ao não chegarem a um acordo de ideias, acabaram se deparando com várias teorias que não só eram conflituosas como excludentes.

Portanto, como não há uma determinação sobre qual teoria é a verdadeira, diz-se que o cético suspende o juízo diante de qualquer afirmação, livrando-se, portanto, das inquietações.

Principais filósofos do ceticismo:

  • Pirro
  • Carnéades
  • Sexto Empírico


🤔 Você sabia?

Apesar de alguns estudiosos argumentarem que “filosofia oriental” não existe, já que a filosofia, como método racional e sistemático, teria surgido na Grécia, no oriente haviam alguns pensamentos sobre a existência do homem e a vida.

Algumas tradições como o budismo e o hinduísmo propunham reflexões profundas sobre questões debatidas pela filosofia. Mesmo diferentes, ambas compartilham a busca por sentido e sabedoria. Para saber mais, clique aqui.



Escolas socráticas

É importante destacar que as escolas socráticas, como a Academia de Platão e Liceu de Aristóteles, buscaram inspiração em Sócrates, orientando seus pensamentos para o homem a partir do método de valorização da ética e a sabedoria como bem maior do homem.

Correntes filosóficas modernas e iluministas

A filosofia moderna está mais próxima dos nossos tempos, o que pode torná-la mais fácil de ser compreendida.

Entretanto, isso pode fazer com que seja mais difícil caracterizar seus elementos principais por estar mais próximo da nossa realidade.

Duas ideias fundamentais da modernidade são: a valorização do indivíduo e o progresso.

Racionalismo

Embora a razão já fosse debatida desde a Grécia Antiga, René Descartes é considerado o pai do racionalismo porque sistematizou o uso da razão como método do pensamento filosófico.

O racionalismo defende que a razão é a principal fonte do conhecimento verdadeiro, sendo mais confiável que os sentidos ou a experiência sensorial.

As principais características do racionalismo são:

  • Crença em ideias inatas (ideias presentes desde o nascimento)

  • Defesa da razão como principal fonte do conhecimento

  • Demonstração lógica como caminho de validação das ideias


Os racionalistas defendem que certas ideias (inatas) já nascem com o ser humano e que, por meio do raciocínio lógico é que se encontra as verdades universais, sem cair nos desvios da experiência sensorial.

Para os filósofos que seguem essa escola, o mundo verdadeiro não é aquele recebido pelos sentidos, mas, sim, aquele que pode ser descrito através de conclusões racionais.

Principais filósofos do racionalismo:



Empirismo

Empirismo vem do grego empeiria que significa “experiência”. Diferentemente dos racionalistas, os filósofos dessa escola acreditam que todo o conhecimento é resultado de experiências e impressões sensoriais.

Desenvolvido no mesmo período do racionalismo, seu desenvolvimento deu-se a partir da intensa atividade comercial da época.

A corrente filosófica do empirismo valorizava a experiência humana e a percepção de realidade que construímos a partir das percepções, sendo contrária a metafísica e especulativa.

Seu caráter empírico de pensamento influenciou a ciência experimental do período, que teve grandes marcos, como a descoberta da gravidade, com Isaac Newton; e a descoberta da lei de Boyle, por Robert Boyle, que estabeleceu a relação inversa entre pressão e volume de um gás.

Principais filósofos do empirismo:



Idealismo

O idealismo é uma escola filosófica que defende que não existe outro ser além do pensante.

Para esta escola, nós só temos acesso à realidade através das ideias, que são representações mentais das coisas. Desta forma, nós temos acesso não aos objetos materiais, mas às ideias que temos deles.

Immanuel Kant é considerado o pai desta corrente filosófica porque foi ele quem sistematizou o pensamento moderno de idealismo.

Segundo a teoria kantiana, o conhecimento é resultado da combinação racional da sensibilidade (intuições de espaço e tempo) e entendimento (que aplica categorias ao que é intuído). Essas duas faculdades juntas são capazes de constituir a experiência cognitiva.

Essa escola filosófica propôs um modelo que buscasse o conhecimento de forma legítima, superando as dificuldades e impasses que o empirismo (ceticismo sobre o conhecimento universal) e o racionalismo (confiança na razão pura) enfrentaram na época.


Correntes filosóficas contemporâneas

A filosofia contemporânea resulta da crise do pensamento moderno no século XIX. Ainda é difícil trazer conceitos chave ou caracterizá-la porque estamos temporalmente muito próximos a ela.

Contudo, o questionamento central ao modernismo na contemporaneidade é contra a noção de subjetividade nas fundamentações teóricas feitas pelo racionalismo e pelo empirismo.

Alguns pontos de transformação deste período são: a razão como explicação universal, a valorização da linguagem e uma nova perspectiva do “eu”.



Existencialismo

Fundado por Jean-Paul Sartre, foi uma das correntes filosóficas mais relevantes do pensamento francês pós Segunda Guerra Mundial, trazendo luz aos questionamentos sobre o sentido da vida.

O existencialismo influenciou a filosofia, a literatura, as artes em geral, conseguindo expandir sua influência para além do meio acadêmico, chegando a um público mais amplo.

De acordo com os existencialistas, a liberdade e a autenticidade são elementos fundamentais da existência humana, colocando o homem como um ser autoconsciente.

Entretanto, a angústia, muito presente e discutida por esta filosofia, não é vista de forma negativa, mas como uma reveladora da responsabilidade frente à liberdade.

Alguns dos principais filósofos existencialistas, além de Sartre:

  • Soren Kierkegaard
  • Karl Jaspers
  • Gabriel Marcel


Marxismo

A filosofia proposta por Karl Marx teve influência desde o final do século XIX até os dias de hoje nos planos teórico, econômico e político.

Antes de tudo, é importante apontar que existem diferenças entre a doutrina política desenvolvida a partir do pensamento de Marx e o desenvolvimento filosófico do marxismo.

A corrente filosófica chamada marxismo propõe uma análise crítica da sociedade capitalista, que entende que é a partir das condições materiais e históricas que se molda a sociedade.

Ela propõe a compreensão da estrutura econômica e social como base para uma transformação revolucionária, através da luta de classes, visando superar as desigualdades e construir uma sociedade sem classes sociais.

Existem diferentes linhas do pensamento filosófico marxista que tem como principais personalidades:

  • Lênin
  • Georg Lukács
  • Louis Althusser


Positivismo

Auguste Comte utilizou o termo positivismo para dar nome à sua corrente filosófica, fundamentada na ideia de que o conhecimento verdadeiro só pode ser alcançado a partir da experiência empírica sistemática e da observação dos fenômenos.

Para os positivistas, é a partir da observação, da experimentação e da verificação empírica que se alcança o progresso contínuo e confiável do conhecimento humano, que constitui o método objetivo, segundo Comte.

De forma geral, o positivismo é uma filosofia que valoriza a ciência, colocando-a como principal guia para a vida individual e para a organização da sociedade.

Principais pensadores do positivismo:

  • Auguste Comte
  • John Stuart Mill




Comparações entre algumas correntes

Para esclarecer ainda mais, veja comparações possíveis com semelhanças e diferenças entre as correntes filosóficas discutidas neste texto na tabela abaixo:

Corrente Filosófica Ideia Principal Fonte do Saber Elemento-Chave
Racionalismo Conhecimento vem da razão e da lógica Razão Ideias inatas
Empirismo Conhecimento vem da experiência sensorial Experiência Ideias adquiridas
Existencialismo A existência precede a essência Experiência pessoal Liberdade e autenticidade
Positivismo Ciência como única forma de conhecimento Ciência Crença no conhecimento científico
Epicurismo Felicidade como resultado do prazer Experiência pessoal Prazer moderado
Estoicismo Felicidade como fruto da virtude e da razão Razão e virtude Tranquilidade e felicidade



Por que conhecer diferentes correntes filosóficas?

Conhecer diferentes correntes filosóficas é fundamental para ampliar a compreensão sobre a nossa existência, a realidade e o saber.

Cada uma das linhas de pensamento filosófico oferece um caminho para interpretar o mundo e pensar de forma crítica para desenvolvermos nossas próprias opiniões.

Filosofia é mais que teoria, ela é uma ferramenta para entender a complexidade da vida e nos posicionar de forma mais consciente diante das escolhas, dúvidas e relações que atravessam nossa existência.

Neste texto,talvez, você tenha tido um primeiro contato com diversas escolas filosóficas e agora já pode começar a refletir sobre quais dialogam mais com sua experiência e maneira de ver o mundo.

Mergulhe no universo das diferentes correntes filosóficas e se permita construir mais conhecimento. Aqui na Casa do Saber, você encontra diversos cursos e conteúdos que podem te ajudar a conhecer mais profundamente a si mesmo, a vida e ampliar seus horizontes.

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Referências

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein.

RIBEIRO, João. O que é Positivismo.

UOL Educação. Positivismo: ordem, progresso e a ciência como religião da humanidade.

Psicanálise
O Que é Histeria? Entenda sua Importância para a Psicanálise
Ella Barruzzi
O Que é Histeria? Entenda sua Importância para a Psicanálise
Entenda o que é histeria, sua importância para a história da psicanálise e como Freud revelou o inconsciente ao relacioná-la aos sintomas corporais.

Provavelmente, você já ouviu alguém dizer: “aquela mulher é histérica!”. Essa expressão tem uma longa história, e não por acaso. Mas o que é histeria? A palavra “histeria” – tema deste post – tem suas raízes na Grécia Antiga, derivada do termo “hystéra”, que significa útero.

Na antiguidade, acreditava-se que a histeria era uma condição exclusivamente feminina, atribuída ao deslocamento do útero pelo corpo – eles achavam que esse movimento do órgão, chegando até regiões como o diafragma ou o cérebro, causava sintomas físicos e emocionais incomuns, levando as mulheres a apresentarem comportamentos considerados estranhos. Como forma de tratamento, eram usados banhos de assento com ervas específicas, acreditando-se que isso ajudaria a “chamar” o útero de volta ao seu lugar.

Essa ideia foi fortemente influenciada pelos escritos de Hipócrates, visto que era ele quem associava os sintomas histéricos a distúrbios do aparelho reprodutor feminino.

Tal visão persistiu por séculos, reforçada pela ideia de que as mulheres eram mais suscetíveis a desordens emocionais devido à sua biologia. Foi apenas no final do século XIX, com o avanço dos estudos médicos e psicológicos, que essa interpretação começou a ser questionada.

Charcot, neurologista francês, teve um papel crucial nesse processo ao demonstrar que a histeria não era restrita ao sexo feminino e que seus sintomas poderiam ser induzidos e aliviados por meio da hipnose – e é aqui que Freud entra.

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A histeria para a psicanálise

Desde as primeiras investigações de Freud até as reformulações propostas por Lacan, a histeria não apenas marcou o início da psicanálise como também permanece relevante para a compreensão das dinâmicas do inconsciente.

Em sua essência, revela a complexidade das relações entre o corpo e a mente, manifestando-se através de sintomas físicos para expressar conflitos psíquicos profundos, como falamos anteriormente.

Sigmund Freud, ao estudar pacientes com sintomas inexplicáveis pela medicina tradicional, percebeu que havia uma conexão entre algumas manifestações e traumas psíquicos reprimidos – sintomas físicos que expressam conflitos psíquicos profundos.

Sendo assim, introduziu a ideia de que a histeria era uma forma de neurose onde o inconsciente se expressava por meio de sintomas somáticos, como paralisias, cegueira histérica ou convulsões, por exemplo.



Esse entendimento foi revolucionário, pois deslocou a visão da histeria como uma condição exclusivamente fisiológica para uma interpretação psicodinâmica.

Jacques Lacan, por sua vez, trouxe uma nova abordagem, destacando a histeria como uma estrutura subjetiva. Para ele, a pessoa histérica está sempre em busca de respostas sobre seu próprio desejo e o desejo do outro. Essa insatisfação constante e a necessidade de reconhecimento são características fundamentais da histeria lacaniana, que ultrapassam a mera manifestação de sintomas físicos e se inserem em uma complexa dinâmica de linguagem e desejo.

Portanto, a histeria é muito mais do que um diagnóstico clínico – é um campo de estudo que permite explorar as profundezas do inconsciente, a construção do desejo e as formas como os sujeitos lidam com suas angústias.

Essa condição, que já foi vista como um mistério ou até mesmo como encenação, hoje é reconhecida como uma chave essencial para entender a psicanálise e a condição humana.

O significado e a origem da histeria

Freud, inspirado pelas pesquisas de Charcot, aprofundou o estudo da histeria ao vinculá-la a traumas psíquicos e desejos inconscientes. Em sua obra "Estudos sobre a Histeria", escrita em parceria com Josef Breuer, apresentou casos clínicos que demonstravam como sintomas físicos sem causa orgânica eram, na verdade, manifestações de conflitos emocionais reprimidos.

Essa abordagem – considerada inovadora – abriu caminho para o desenvolvimento da psicanálise, estabelecendo a histeria como um modelo paradigmático para a compreensão das neuroses.



Hoje, a histeria é reconhecida como uma forma de neurose, caracterizada por manifestações físicas de conflitos psíquicos. Os sintomas histéricos, muitas vezes dramáticos e sem explicação médica aparente, continuam sendo objeto de estudo e debate, revelando a complexa interação entre corpo, mente e desejo.

Casos de histeria coletiva e histeria em massa, por exemplo, mostram como essas manifestações podem se expandir para além do indivíduo, atingindo grupos sociais inteiros em momentos de tensão e ansiedade, como podemos ver no quadro abaixo:

ASPECTO HISTERIA INDIVIDUAL HISTERIA COLETIVA | HISTERIA EM MASSA
ORIGEM Conflitos psíquicos pessoais, como traumas e desejos reprimidos. Emoções compartilhadas, como medo, ansiedade ou excitação, amplificadas socialmente.
EXEMPLOS DE SINTOMAS Paralisias, cegueira histérica, convulsões sem causa orgânica. Desmaios coletivos, sintomas psicossomáticos compartilhados, comportamentos anômalos.
EXEMPLOS HISTÓRICOS Caso Anna O. (Freud e Breuer). Dança de São Vito (século XIV), surtos de pânico em ambientes escolares ou de trabalho.
DESENCADEADORES Traumas psíquicos individuais, repressão de desejos inconscientes. Situações de tensão, ansiedade ou sugestão coletiva.


Apesar de ocorrerem em diferentes escalas, ambos os fenômenos refletem a vulnerabilidade do psiquismo diante de situações de crise, mostrando como o inconsciente individual e o inconsciente coletivo podem se entrelaçar na construção de sintomas histéricos.

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A histeria na psicanálise e a contribuição de Freud

O caso de Anna O., documentado por Freud e Breuer, é um dos exemplos mais conhecidos da histeria na literatura psicanalítica e foi crucial para a formulação de conceitos fundamentais da psicanálise.

Anna O. apresentava um conjunto complexo de sintomas físicos e psíquicos, como paralisias, dificuldades de fala, distúrbios visuais e episódios de alucinação. Esses sintomas não tinham uma causa orgânica identificável, o que os levou a explorar a conexão entre as manifestações somáticas e o estado emocional da paciente.

Através do método catártico, Breuer conseguiu aliviar os sintomas ao ajudá-la a relembrar e verbalizar memórias traumáticas associadas a essas manifestações físicas. Esse processo mostrou como experiências emocionais reprimidas poderiam se expressar de forma somática, inaugurando a ideia de que a fala e a elaboração consciente de eventos traumáticos tinham um efeito terapêutico direto.

Para Freud, a histeria estava intimamente ligada à sexualidade e ao desejo inconsciente. Ele observou que os sintomas histéricos frequentemente derivavam de desejos reprimidos, traumas infantis ou conflitos emocionais não resolvidos. Essa perspectiva foi essencial para a formulação da teoria da sexualidade na psicanálise, que enfatiza a importância dos impulsos inconscientes na formação dos sintomas neuróticos, como visto anteriormente.

Além de Anna O., Freud documentou outros casos clínicos de histeria que se tornaram clássicos na literatura psicanalítica. O caso de Dora, por exemplo, revelou novas dimensões da relação entre repressão, desejo inconsciente e sintomas somáticos.

Esses casos ajudaram a consolidar a compreensão de que a histeria não se limitava a uma condição exclusivamente física, mas envolvia uma intrincada interação entre psique e corpo.

A abordagem psicanalítica proposta por Freud e Breuer, ao dar voz às experiências reprimidas dos pacientes, abriu caminho para a prática da associação livre e a interpretação dos conteúdos inconscientes, pilares da psicanálise moderna.



Neurose histérica e obsessiva, quais as principais diferenças

A neurose histérica e a neurose obsessiva são duas formas distintas de manifestações psíquicas, cada uma refletindo maneiras específicas de lidar com conflitos internos. Embora ambas tenham origens em processos inconscientes, suas expressões e dinâmicas são bastante diferentes. Confira:

Neurose histérica:

  • Sintomas: manifesta-se através de sintomas físicos e emocionais intensos, como paralisias, cegueira histérica, convulsões sem causas orgânicas, dores inexplicáveis e outros sintomas somáticos.
  • Causa: os sintomas representam a expressão simbólica de conflitos psíquicos reprimidos, geralmente ligados a traumas ou desejos inconscientes.
  • Exemplos: casos como a cegueira histérica — onde a pessoa perde a visão sem nenhuma causa orgânica detectável — ou paralisias temporárias sem explicação médica.
  • Dinâmica psíquica: a histeria transforma angústias psíquicas em manifestações corporais, funcionando como uma representação simbólica de questões internas não resolvidas.


Neurose obsessiva:

  • Sintomas: caracteriza-se por pensamentos intrusivos e obsessivos, acompanhados de comportamentos repetitivos ou rituais compulsivos.
  • Causa: surge como um mecanismo de controle para lidar com ansiedades profundas, levando à repetição como forma de alívio temporário.
  • Exemplos: a necessidade de verificar repetidamente se uma porta está trancada, lavar as mãos excessivamente por medo de contaminação ou seguir rituais meticulosos para evitar catástrofes imaginárias.
  • Dinâmica psíquica: nessa neurose, há uma constante luta entre pensamentos obsessivos e as defesas criadas para neutralizá-los, resultando em compulsões e rituais.


Entenda a diferença entre neurose, psicose e perversão neste artigo


Essas duas manifestações psíquicas, apesar de diferentes, mostram como a mente cria mecanismos complexos para enfrentar angústias e conflitos internos, cada uma à sua maneira.

Para finalizar, podemos dizer que a histeria, longe de ser um termo pejorativo ou ultrapassado, revela-se como uma chave fundamental para a compreensão do inconsciente humano.

Desde os primeiros estudos de Freud até as contribuições de Lacan, a histeria mostra como sintomas físicos e emocionais podem ser expressões simbólicas de conflitos psíquicos profundos.

Ao estudar essa estrutura, a psicanálise não só ampliou o entendimento sobre as neuroses, mas também abriu caminhos para uma abordagem mais profunda sobre o desejo, a linguagem e a subjetividade.

Dessa forma, a histeria segue sendo uma peça essencial para entender as complexas interações entre mente e corpo, trazendo à tona questões que ainda ressoam na prática clínica e no estudo do inconsciente.

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Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. Estudos sobre a histeria. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

LACAN, Jacques. O seminário, livro 3: As psicoses. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

LACAN, Jacques. O seminário, livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.





A Interpretação dos Sonhos: Freud e o Inconsciente
Gabriel Cravo Prado
A Interpretação dos Sonhos: Freud e o Inconsciente
Explore a interpretação dos sonhos de Freud, a função dos sonhos e o inconsciente, ideias essenciais de Freud que fundaram a psicanálise.

O conceito de inconsciente foi desenvolvido por Sigmund Freud em seu influente livro A Interpretação dos Sonhos, publicado em 1900. Esta obra é amplamente reconhecida como a peça inaugural da psicanálise, estabelecendo as bases para a compreensão do aparelho psíquico proposto por Freud.

Neste texto iremos ver:



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O que é a interpretação dos sonhos para Freud?

O livro A Interpretação dos Sonhos, escrito por Sigmund Freud, não apenas estabeleceu as bases fundamentais da teoria psicanalítica, mas também marcou o início da psicanálise. Reconhecida como a obra mais significativa da vasta produção de Freud, esse livro revolucionário apresentou conceitos cruciais que moldaram a psicanálise. Entre os principais aportes, Freud propôs e formulou nesse texto uma estrutura de aparelho psíquico, que abrange os níveis consciente, inconsciente e pré-consciente.

Capa do livro A Interpretação dos Sonhos (1900), de Sigmund Freud, volume 4 da coleção Obras Completas, publicado pela Companhia das Letras, com tradução de Paulo César de Souza.
Capa de 'A Interpretação dos Sonhos', clássico de Sigmund Freud lançado em 1900, parte do volume 4 da coleção Obras Completas, publicado pela Companhia das Letras e traduzido por Paulo César de Souza.


O livro é do final do ano de 1889, mas foi publicado no ano de 1900, pois Freud escolheu essa data para que o livro marcasse a entrada no século XX, por isso foi lançado posteriormente.

Para fundamentar a interpretação do sonho como um método, Freud realiza uma análise minuciosa do sonho, fragmentando-o em suas partes constitutivas. Ele observa atentamente as associações que emergem de cada um desses fragmentos, utilizando essa abordagem em sua famosa (auto)análise do sonho da injeção de Irma.

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O trabalho do sonho

O trabalho do sonho se desenvolve por meio de distintas etapas. A primeira etapa, denominada condensação e a segunda deslocamento.

Condensação

Revela que os sonhos contêm variados tipos de conteúdos, que Freud classificou como manifesto e latente. O conteúdo manifesto, que se expressa de forma mais aparente, representa apenas uma fração do que é efetivamente latente. Os elementos que compõem o conteúdo manifesto se organizam em uma única imagem psíquica, conectando-se por meio de cadeias associativas. Em contrapartida, o conteúdo latente se manifesta de maneira mais intensa em sonhos altamente condensados, pois, esses conteúdos muitas vezes apresentam um caráter perturbador para a consciência.

Deslocamento

O deslocamento é um mecanismo fundamental do trabalho do sonho para converter desejos ou pensamentos inconscientes em representações que se manifestam de forma distinta no sonho. Este processo ocorre quando o conteúdo latente, muitas vezes perturbador ou inaceitável para a consciência, é deslocado para elementos menos significativos ou mais neutros no conteúdo manifesto. Essa distorção resulta em uma representação que, embora não reflita diretamente o desejo original, ainda retém aspectos de seu significado intrínseco. Consequentemente, os sonhos podem exibir imagens ou eventos que parecem desconectados do desejo reprimido, mas que, por meio da análise, revelam suas interconexões subjacentes.



A função e o significado dos sonhos

Freud afirma que os sonhos seguem uma lógica própria, distinta do funcionamento da consciência. Ele argumenta que os sonhos são a principal porta de entrada para o inconsciente, revelando conteúdos e desejos que muitas vezes permanecem ocultos na vida diária.

No contexto de A Interpretação dos Sonhos, Freud elucida que a função dos sonhos é dual, consistindo, primordialmente, na realização de desejos inconscientes e na proteção do sono. Ele argumenta que os sonhos atuam como uma via simbólica para a expressão de desejos reprimidos que, por serem inaceitáveis na consciência, encontram uma forma de manifestação por meio de imagens oníricas. Dessa maneira, mesmo conteúdos perturbadores são traduzidos em representações que permitem sua satisfação, ainda que de forma disfarçada. Simultaneamente, essa função de realização é acompanhada por um aspecto protetivo, assegurando que o estado de repouso não seja interrompido. Assim, os sonhos se configuram como uma janela para o inconsciente.

A interpretação do sonho é uma ferramenta indispensável para a psicanálise, pois é por meio dela que o analista pode acessar o conteúdo inconsciente do paciente, tendo em vista que os sonhos, os sintomas, os atos falhos e os chistes são formações do inconsciente. As formações do inconsciente referem-se a expressões ou manifestações que emergem do inconsciente, revelando desejos, conflitos e experiências que não estão acessíveis à consciência.

O que é inconsciente?

Pode-se dizer que o inconsciente seria uma parte desconhecida para o próprio sujeito, ou seja, não é possível se conhecer por inteiro, existe uma parte que não se revela, ou ao menos, não se mostra tão facilmente. Por exemplo, existem desejos dos quais não se tem o menor conhecimento, mas mesmo assim eles influenciam a vida do sujeito e a sua relação com o outro. Nesse sentido Freud afirmou que:

“o Eu não é senhor em sua própria casa” (FREUD [1917] 2010: p. 186).


Cabe dizer que Freud, em textos anteriores já dava notícias sobre a conceituação de inconsciente, o texto Lembranças Encobridoras (1899), é um exemplo disso, mas a formulação, conceituação e consolidação do aparelho psíquico e seu funcionamento se deu no livro A Interpretação dos Sonhos.




Como aprender mais sobre interpretação dos sonhos?

Para aprofundar seus conhecimentos sobre a interpretação dos sonhos na teoria psicanalítica, é fundamental começar pela leitura das obras clássicas de Sigmund Freud, como A Interpretação dos Sonhos (1900), que estabelece as bases para a compreensão dos processos oníricos e suas relações com o inconsciente. Outro texto importante é Além do Princípio do Prazer (1920), que expande as ideias sobre o significado e a função dos sonhos na realização de desejos.


Além disso, assistir os cursos sobre os conceitos fundamentais da psicanálise na Casa do Saber. Apresentamos algumas recomendações de cursos disponíveis na plataforma Casa do Saber + que abordam a interpretação dos sonhos com rigor acadêmico e relevância prática.

Freud e os Fundamentos da Psicanálise: Teoria e Clínica

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Freud e as Fantasias

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Freud Fundamental: As Ideias e as Obras

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Referências bibliográficas:

FREUD, Sigmund. A Interpretação dos Sonhos (1900). Companhia das Letras: São Paulo,

2019.

FREUD, Sigmund. Uma Dificuldade no Caminho da Psicanálise (1917). Companhia das Letras: São Paulo,

2010.

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o Inconsciente. Zahar: Rio de Janeiro, 1985.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar,

1998.








A melancolia na psicanálise: Freud, Lacan e suas perspectivas
Gabriel Cravo Prado
A melancolia na psicanálise: Freud, Lacan e suas perspectivas
Acompanhe uma breve compreensão sobre o que é a melancolia na teoria psicanalítica, explorando o seu significado e a sua história ao longo do tempo.

O psicanalista Sigmund Freud foi fundamental na redefinição da melancolia no século XX. Em seu trabalho Luto e Melancolia (1917), Freud propôs que a melancolia não era simplesmente uma doença, mas sim uma forma patológica do luto. Em vez de superar a perda de um objeto amado, o sujeito melancólico se identifica com o objeto perdido, o que o impede de seguir em frente e o mantém preso a um sofrimento sem fim.

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Freud E A Melancolia

Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, aborda a melancolia em sua obra "Luto e Melancolia" (1917). Para Freud, a melancolia não é apenas um estado de tristeza, mas uma condição psíquica profunda, distinta da depressão comum. Ele identificou que, enquanto o luto é uma reação natural à perda de um objeto significativo, a melancolia está ligada a uma perda interna, mais complexa e inconsciente.

A pessoa melancólica, ao contrário do enlutado, não apenas sofre pela perda do objeto, mas também direciona uma parte significativa de seu sofrimento contra si mesma. Freud propôs que esse processo de autoagressão poderia ser interpretado como uma identificação do eu com o objeto perdido, o que gerava uma intensificação do sofrimento psíquico.

Além disso, Freud destacou a relação entre melancolia e a incapacidade do eu de elaborar e aceitar a perda. Ao contrário do luto, que permite um certo distanciamento emocional do objeto perdido, a melancolia está marcada por um vínculo persistente e patológico com esse objeto. A pessoa melancólica não consegue desvincular-se da perda, o que impede a recuperação emocional e favorece a internalização de sentimentos de culpa e autocensura.

Esse conceito psicanalítico inovador ajudou a entender a melancolia de uma forma mais ampla, não apenas como um distúrbio afetivo, mas como uma dinâmica complexa entre o eu, os desejos inconscientes e a relação com os objetos de amor e perda.

Do Amor e das Trevas: Depressão e Psicanálise

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Lacan E A Melancolia

Para Lacan, a melancolia está intimamente ligada à relação do sujeito com o objeto "a", que representa o objeto causa do desejo. Ao contrário do processo de luto, onde o sujeito busca substituir o objeto perdido, o melancólico não busca esse reposicionamento, mas mantém uma relação com o objeto "a" de forma radicada e excessiva. O melancólico se vê dominado por esse objeto que o transcende, mas que, ao mesmo tempo, se confunde com o próprio sujeito. A ausência desse objeto, que deveria ser um ponto de referência para a constituição do desejo, se transforma em uma presença opressiva que invade o melancólico, dificultando qualquer tentativa de restabelecer a ligação com o mundo exterior e, consequentemente, com o desejo. Essa relação com o objeto ausente leva a uma imersão profunda no vazio, um estado tão intenso que, em casos extremos, pode conduzir à tentativa de aniquilação do próprio sujeito, como forma de escapar dessa ausência insuportável.

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A melancolia e a psicopatologia: luto vs. melancolia

Uma das questões mais debatidas na psicanálise é a diferença entre luto e melancolia. Ambas as condições envolvem a perda de algo importante para o sujeito, mas enquanto o luto é um processo de adaptação a essa perda, a melancolia é caracterizada por uma falha nesse processo.

No luto, a pessoa pode se sentir triste, mas a dor da perda é acompanhada de uma progressiva aceitação e uma retomada da vida. Já a melancolia se caracteriza pela incapacidade do sujeito reconhecer o que perdeu ou o que realmente perdeu com a perda. Em "Luto e Melancolia", Freud descreve a melancolia como uma espécie de luto não resolvido, no qual o sujeito se identifica com o objeto perdido a tal ponto que a perda se torna internalizada, como uma parte de si mesmo.

Uma diferença chave entre os dois é que no luto, o objeto da perda é reconhecido conscientemente, enquanto na melancolia, o sujeito pode não saber exatamente o que perdeu, mas sente a ausência de algo fundamental. Essa ambivalência e confusão são centrais na experiência melancólica.

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A história da melancolia na psiquiatria

Cabe dizer que a melancolia não foi debatida apenas pela psicanálise. Na psiquiatria, o conceito de melancolia tem sido desenvolvido desde o século XIX. Autores como É. Esquirol, H. Dagonet e A. Foville demonstraram grande interesse pela condição, mas também expressaram certo ceticismo em relação ao seu tratamento. Esquirol, por exemplo, preferia o termo "lipemania" (tristeza) para descrever essa condição, relegando a palavra "melancolia" ao domínio dos poetas e moralistas. Esse ceticismo refletia a dificuldade em classificar a melancolia como uma doença orgânica, já que ela se relaciona com a esfera psíquica e emocional.

Por outro lado, a psiquiatria alemã trouxe uma abordagem mais complexa, enfatizando o processo psicológico envolvido na melancolia. Durante o século XIX, psiquiatras alemães começaram a explorar o papel do psiquismo no desenvolvimento de condições como a melancolia, e sua relação com o eu e o inconsciente.

A melancolia é frequentemente confundida com a depressão, mas embora ambas compartilhem sintomas, a melancolia tem características distintas. Ela é definida, na psiquiatria, como uma forma de transtorno afetivo, e pode ser mais intensa e duradoura que a depressão comum. Historicamente, a melancolia foi tratada como uma condição mental separada da psicose maníaco-depressiva (PMD), mas com o tempo os especialistas passaram a revisitar essa categorização.

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Para aprender mais sobre psicanálise

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Referências Bibliográficas

FREUD, Sigmund. Luto e Melancolia (1917). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

LACAN, Jacques. O Seminário 6 - O Desejo e Sua Interpretação (1958-1959). Rio de Janeiro: Zahar, 2016.

KAUFMANN, Pierre. Dicionário Enciclopédico de Psicanálise: Rio de Janeiro: Zahar, 1996.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998

Psicologia
Psicologia: O que é, Áreas, Abordagens e Como Estudar Online
Rodrigo Gomes
Psicologia: O que é, Áreas, Abordagens e Como Estudar Online
Psicologia: O que é, graduação, áreas de atuação e abordagens teóricas. Veja cursos para estudar online com certificado e aprofundar-se na profissão.

Entenda as possibilidades de se estudar psicologia através de cursos online, os famosos EAD (educação à distância). A seguir, exploraremos as áreas de atuação e abordagens da psicologia, além de apresentar opções e custos para quem deseja aprofundar os conhecimentos na área de forma remota.



Como estudar Psicologia online?

Se você está procurando opções para cursar a faculdade de psicologia à distância, infelizmente temos uma má notícia para te dar. Até o momento, de acordo com a determinação do Ministério de Educação (MEC), a graduação de psicologia não pode ser oferecida na modalidade EAD. Por outro lado, há muitas possibilidades de se estudar psicologia online por meio de cursos livres, pós-graduação e especializações.

A opção pelo ensino à distância atende tanto a estudantes quanto profissionais da área, onde o aluno pode explorar diferentes abordagens da psicologia com liberdade, seja para aprender sobre conteúdo introdutório ou especializar-se em algum tema de sua preferência. É possível estudar a psicologia analítica, de Carl Jung, a psicanálise, de Freud, e, ao mesmo tempo assistir a cursos sobre a logoterapia para investigar as ideias de Viktor Frankl.

Existe faculdade de Psicologia EaD?

Como já mencionado acima, não existe a possibilidade de realizar a graduação em psicologia EaD . Em julho de 2022, o Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU) chegou a conseguir a autorização do MEC para oferecer o curso à distância, através da portaria MEC 749. Porém, no dia seguinte, o próprio Ministério da Educação a anulou, sob alegação de erro material.

À época, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) e mais de 20 entidades publicaram uma nota de repúdio à Portaria MEC 749, afirmando que a presencialidade é indispensável para a formação de qualidade em Psicologia.

Posteriormente, em setembro de 2023, pela Portaria Nº 1.838, o Ministério da Educação abriu consulta pública para elaboração de proposta de regulamentação de oferta do curso de Psicologia - entre outras graduações - na modalidade de educação à distância.

Desde então, a discussão vem sendo constantemente adiada, sem uma previsão de desfecho à vista. Desta forma, não é possível definir ainda se, no futuro, a modalidade de graduação à distância será ou não viabilizada para o curso de psicologia. Mas, se depender da opinião do conselho dos profissionais de psicologia, a decisão permanecerá em mantê-lo somente no modelo presencial.

Atenção para não confundir:

Embora a graduação em psicologia seja recomendada, algumas abordagens da psicoterapia, como a psicanálise, não exigem formação superior específica no curso de psicologia para o exercício da atividade profissional. Por isso, é possível encontrar algumas instituições oferecendo o curso de formação para psicanalista 100% ead - o que é permitido.

O que é Psicologia e qual o papel do profissional da área?

A psicologia é uma ciência que se dedica a tratar, estudar e analisar o comportamentos dos indivíduos e os processos mentais, como sentimentos, pensamentos e razão. Embora a área de estudo tenha sido elaborada há alguns séculos no campo da filosofia, a psicologia estruturou-se como uma ciência independente somente em meados do século 19. Desde então, surgiram diversas teorias sobre o comportamento humano e novas descobertas científicas - como a chegada das neurociências..

O cenário dinâmico exige estudo constante do profissional da área. O psicólogo deve atuar na promoção da saúde mental, tratamento, intervenção em crises e em desenvolvimento pessoal e profissional. Seu trabalho tem grande importância social e demanda certa sofisticação, pois deve desenvolver habilidades como empatia e comunicação, mas também conhecimento técnico para diagnosticar e tratar problemas de saúde mental de forma eficaz.

Como em diversas outras profissões, há muitas áreas de atuação. No caso da psicologia, além desta segmentação, também encontramos diferentes teorias, técnicas e abordagens para analisar o comportamento humano, como veremos mais adiante.

Sobre o curso de graduação em Psicologia

O curso de psicologia prepara o profissional para atuar em diferentes contextos sociais e profissionais de forma ética, desenvolver o conhecimento científico, analisar criticamente os fenômenos sociais e biológicos e atuar na promoção da saúde. Dados do Sisu 2024 mostram que psicologia foi o 4° curso com maior número de inscrições, no topo da lista das graduações mais procuradas pelos estudantes.

POSIÇÃO CURSO QTDE. INSCRITOS
MEDICINA 298.316
DIREITO 157.364
ADMINISTRAÇÃO 118.883
PSICOLOGIA 103.336
ENFERMAGEM 99.768
PEDAGOGIA 89.702
MEDICINA VETERINÁRIA 65.271
CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO 57.385
EDUCAÇÃO FÍSICA 55.437
10° CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 52.822


Dados extraídos do relatório do Sisu 2024

Qual a duração da faculdade de Psicologia?

A graduação em psicologia tem duração de 5 anos. Segundo as diretrizes curriculares para o curso de psicologia estipuladas pelo MEC, o estágio supervisionado é atividade obrigatória.

“Art. 11. A carga horária referencial dos cursos de Psicologia é de 4.000 (quatro mil) horas com, no mínimo, 20% (vinte por cento) da carga efetiva global para estágios supervisionados básicos e específicos, e duração mínima de 5 (cinco) anos.


Todas as instituições devem oferecer acesso ao núcleo comum do curso de Psicologia ao estudante. No entanto, as instituições podem possuir estruturas curriculares diferentes de acordo com as ênfases curriculares oferecidas. As ênfases curriculares são caminhos possíveis de estudo para aprofundamento de determinadas competências e habilidades necessárias para o exercício da profissão.

Em determinado momento da graduação, o aluno deverá optar pela ênfase que reflita o seu interesse para seguir as disciplinas e estágios correspondentes à sua escolha. Respeitando o projeto pedagógico, cada instituição deve disponibilizar ao menos duas opções de ênfases aos alunos, considerando as demandas sociais contemporâneas ou potenciais, assim como as características da instituição e da região em que se situa.

Isso significa que cada faculdade formulará os próprios eixos que são peculiares aos objetos de estudo e história do curso desenvolvido na instituição. Tenha isto em mente no momento de pesquisar as opções de faculdade de psicologia que deseja ingressar.

Para atuar profissionalmente como psicólogo, é necessário possuir o diploma de bacharelado em Psicologia por uma instituição reconhecida pelo MEC, além de estar inscrito no Conselho Regional de Psicologia (CRP) de sua região.

Quais as áreas da Psicologia?

Apesar de a imagem do psicólogo clínico atendendo o paciente frente a frente em seu consultório ser uma das primeiras a vir à mente, a psicologia tem diferentes áreas de atuação. Cabe ao estudante em formação ou ao profissional identificar qual delas se adequa mais ao seu perfil.

Uma vez com o diploma na mão, o psicólogo está apto a exercer a profissão em qualquer área de atuação da psicologia. A partir da resolução CFP 23/2022, foram reconhecidas 13 especialidades para o exercício da psicologia . Confira as áreas da psicologia na lista abaixo:

  • Psicologia Clínica
  • Psicólogo Organizacional e do Trabalho
  • Psicologia Jurídica
  • Psicologia do Esporte
  • Psicologia Social
  • Psicologia Escolar ou Educacional
  • Psicologia de Tráfego
  • Neuropsicologia
  • Psicomotricidade
  • Psicopedagogia
  • Psicologia Hospitalar
  • Psicologia em Saúde
  • Avaliação Psicológica


Conheça as principais abordagens da Psicologia

Há diversas abordagens da psicologia sendo praticadas na atualidade. Mas por que precisam existir tantas ramificações teóricas? É importante compreender que não há uma definição sobre qual abordagem é a melhor. O que vamos descobrir - e veremos detalhadamente neste tópico - é que elas apresentam diferenças importantes entre si, como objetos de estudo distintos.

A Psicanálise, fundada por Sigmund Freud, por exemplo, dedica-se ao estudo do inconsciente e os processos mentais internos para entender o comportamento humano. Já o Behavorismo, desenvolvido por Skinner, se concentra na observação do comportamento, pautado pela análise e estudo do comportamento a partir de estímulos externos.

“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana” - Carl Jung
foto de Carl Gustav Jung
Carl G. Jung, fundador da Psicologia Analítica


Veja algumas das abordagens teóricas:

  • Psicanálise
  • Psicologia Analítica
  • Behaviorismo ou Analítico Comportamental
  • Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC)
  • Gestalt


Psicanálise:

Fundada por Sigmund Freud, a psicanálise surgiu no final do séc. 19, quando o médico austríaco revelou ao mundo uma grande descoberta: o inconsciente. Segundo sua teoria, a origem dos sintomas, transtornos mentais e emocionais está guardada neste campo oculto, que só pode ser acessado através da fala. Desta forma, o processo terapêutico para tratamento e cura dos fenômenos de ordem mental se dariam a partir do método de livre associação, onde o paciente pode falar livremente sobre qualquer assunto que lhe vier à mente (por isso, comumente conhecida como “terapia da fala”).

Fundamentada na investigação do inconsciente, o analista pode conduzir o paciente através da interpretação dos sonhos, análise de padrões de comportamento e repetições originadas ainda na infância. A partir da teoria criada pelo “pai da psicanálise”, começaram a ser trabalhados conceitos que hoje são bastante conhecidos, como complexo de édipo , ato falho e recalque.

Além disso, é bem comum que a psicanálise seja associada ao uso do divã, aquele sofá sem encosto em que o paciente se deita, embora ele nem sempre seja utilizado. Inspirados pela obra do médico austríaco, outros pensadores fundaram novas linhas da psicanálise, como a linha lacaniana, do francês Jacques Lacan, a linha kleiniana, da austríaca Melanie Klein e a linha winnicottiana, criada pelo inglês Donald Winnicott.

foto do divã utilizado por Freud  coberto pelo tapete de lã Qashqa'i shekarlu exposto no museu de Freud em Londres
Divã original de Freud, utilizado nas sessões com os seus pacientes (Reprodução: Freud Museum London)


A origem do divã de Freud

O icônico divã utilizado por Freud foi, na verdade, um presente recebido de sua paciente Madame Benvenisti , em 1890. Estima-se que mais de 500 pacientes tenham se deitado neste divã, que está exposto no Museu de Freud em Londres.

Psicologia Analítica Junguiana:

Fundada pelo psiquiatra Carl G. Jung no início do séc. 20, a psicologia analítica foi criada após o médico suíço se deparar com divergências teóricas em relação às ideias de Freud, com quem colaborou por algum tempo. Jung elaborou uma teoria totalmente nova, fundamentada em conceitos importantes como o inconsciente coletivo, individuação e os arquétipos.

Jung coloca que o inconsciente coletivo compõe uma camada universal, herdada pelos indivíduos através de seus ancestrais. Segundo sua teoria, as pessoas nascem com predisposição na forma de pensar e agir, que refletem imagens presentes em todas as culturas, representados pela noção dos arquétipos.

A partir da análise de símbolos, da interpretação de sonhos e mitos, o tratamento proporcionado pela psicologia analítica consegue auxiliar o paciente a encontrar novos caminhos de simbolização, que o conduzem ao autoconhecimento e a uma vida mais equilibrada.

Behaviorismo ou Analítico Comportamental:

O termo behaviorismo foi cunhado pelo psicólogo estadunidense John B. Watson, em 1913. A origem do nome remete ao termo “behavior”, da língua inglesa, que traduzido para o português significa “comportamento”. Na década de 1940, o psicólogo B. F. Skinner deu continuidade às ideias propostas por Watson e formulou novas contribuições à teoria, no que ficou conhecido como “behaviorismo radical”.

O behaviorismo surge em oposição às abordagens focadas nos processos mentais internos e passa a se dedicar ao estudo do comportamento observável, trabalhando observação, influência do ambiente e coleta de dados mensuráveis.

Esta proposta terapêutica propõe-se a compreender padrões comportamentais para tratamento de diversos transtornos, como depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, entre outros. A concepção é de que a partir da análise do comportamento, é possível treinar habilidades e modificar padrões comportamentais através de técnicas específicas como reforço e punição, de forma a melhorar o bem-estar do paciente.

Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC):

A Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC) foi criada pelo psiquiatra norte-americano Aaron Beck na década de 1960. Com alguns elementos em comum ao behaviorismo radical, a TCC incorpora elementos cognitivos ao tratamento. Isto significa que este modelo de terapia além de incluir a análise do comportamento influenciado por estímulos do ambiente, leva também em consideração os pensamentos e emoções do paciente como forma de identificar, questionar, modificar e tratar os sintomas.

A partir do tratamento, o psicólogo auxilia o paciente na busca pela identificação de padrões de pensamento distorcidos., bem como a modificação de crenças e hábitos disfuncionais.. Amparada por pesquisas e publicações científicas, a TCC se propõe a utilizar técnicas de intervenção de eficácia comprovada, atendendo às especificidades de cada transtorno mental.

Gestalt-terapia:

A Gestalt-terapia, conhecida como “terapia da forma”, foi criada no início do séc. 20 pelo médico alemão Fritz Perls, inspirada pelas ideias da Psicologia da Gestalt, de Wertheimer, Köhler e Koffka. Este modelo de terapia valoriza a subjetividade e o momento presente ( “aqui e agora”) , onde o paciente é estimulado a se concentrar em seus sentimentos, pensamentos e ações a partir de técnicas específicas utilizadas pelo profissional.

São diversas abordagens utilizadas, como a da cadeira vazia, onde o paciente senta-se de frente para uma cadeira vazia e simula uma conversa consigo mesmo ou com uma pessoa que tenha tido papel relevante em algum evento que tenha impactado a sua vida.

Outra técnica é a dramatização, onde a pessoa pode ser encorajada a interpretar papéis, expressar algum sentimento verbalmente ou em forma de movimento. Estas técnicas tem o objetivo de promover o autoconhecimento. e, consequentemente, a identificação de padrões de pensamentos negativos que podem prejudicar a sua vida.

Psicoterapia Contemporânea: Por uma Integração Transteórica de Diversas Práticas e Teorias
por Luiz Hanns

Em sua história, a psicoterapia ficou marcada pela divisão entre abordagens, cada uma com suas próprias concepções, métodos e indicações clínicas, com diferenças, à primeira vista, irreconciliáveis e muitas vezes dogmáticas.

Neste curso, Luiz Hanns aborda o integracionismo metodológico, que difere do ecletismo selvagem, e que permite uma clínica transteórica em busca da integração das melhores práticas e teorias.

Confira o curso!

Conhecemos agora algumas das abordagens da psicologia. Embora todos os profissionais da área passem, de certa forma, por este processo de definição teórica, a linha seguida por cada um é notada de forma mais perceptível nos tratamentos de psicoterapia, onde o paciente costuma ser acompanhado por períodos mais longos.

Não existe regulação ou exigência formal que obrigue o psicólogo a escolher uma das abordagens disponíveis. Assim como nas áreas de atuação, o psicólogo graduado está apto a praticar qualquer abordagem teórica.

Esta escolha representa um direcionamento pessoal do psicólogo, que não exclui a possibilidade de estudo ou aplicação de técnicas de diferentes linhas teóricas. No fundo, o que todos querem - tanto o psicólogo quanto o paciente - é conseguir encontrar um caminho comum para a melhora da saúde mental. Por isso, a aliança terapêutica - relação entre terapeuta e paciente - tem uma importância muito grande e é fundamental para qualquer modelo psicoterapêutico.

O que é “Aliança Terapêutica”?

É um conceito universal que caracteriza a relação de trabalho e de confiança entre terapeuta e paciente, comum a todas as abordagens teóricas. Tem grande importância para o bom desenvolvimento do processo psicoterapêutico, pois influencia na formação e manutenção do vínculo, permanência, desfecho e encerramento da psicoterapia.

Agora que já conhecemos as áreas e abordagens da psicologia, é provável que você já tenha se interessado por algum tema que gostaria de estudar. A seguir, apresentaremos algumas opções de curso para você começar a sua trajetória na área!

Onde Encontrar Cursos de Psicologia Online? Veja as Melhores Opções

Uma boa alternativa tanto para estudantes como para profissionais já em atuação são os cursos livres de psicologia à distância. A grande vantagem deste modelo é que costumam ter um valor mais acessível, sendo possível encontrar conteúdo de muita qualidade e em constante atualização.

Confira 5 cursos para você dar os primeiros passos na área:

  • A Tal da Felicidade, por Luiz Hanns

    Entenda os argumentos da psicologia para definir felicidade como um sentimento de realização pessoal e individual, mais próximo do bem estar mental pleno do que da prosperidade material.

  • Freud Fundamental: As Ideias e as Obras, por Pedro de Santi

    O curso oferece uma introdução acessível aos principais conceitos de Sigmund Freud e suas obras, transformando a compreensão dos desejos e dilemas humanos. Ideal tanto para iniciantes quanto para aqueles que já possuem contato com a psicanálise, proporcionando novas reflexões.

  • Uma Introdução Guiada e Descomplicada ao Pensamento de Jung, por Lilian Wurzba:

    O curso oferece uma introdução acessível ao pensamento de Carl Gustav Jung, focando no autoconhecimento e na busca por uma vida mais íntegra. Ele esclarece equívocos comuns sobre suas ideias e acompanha o desenvolvimento de sua psicologia.

  • Quatro Livros para Entender Jung, por Tatiana Paranaguá

    O curso explora quatro obras fundamentais de Carl G. Jung, oferecendo uma introdução aos principais aspectos de seu pensamento e à Psicologia Analítica. As aulas funcionam como um guia para iniciar a jornada pelo vasto trabalho do autor

  • O Sentido da Vida, por Contardo Calligaris.

    Ser plenamente feliz é um objetivo muito buscado pela humanidade, e nos tempos atuais este estado parece ser ainda mais desejado. Neste encontro, o psicanalista Contardo Calligaris discute a obrigação da felicidade, o “morrer bem” e o sentido da vida.

Na plataforma de streaming Casa do Saber +, por uma única assinatura, você tem acesso a diversos cursos livres da área de psicologia , ministrados grandes referências da área, como Christian Dunker, Luiz Hanns, Lilian Wurzba, Ana Suy, Alexandre Patrício, Tatiana Paranaguá, entre tantos outros.

A boa notícia é que com apenas uma assinatura você consegue assistir a mais de 300 cursos de diversas áreas do saber e ainda garantir um certificado de conclusão após finalizá-los . Além de conteúdos sobre psicologia e psicanálise, a plataforma oferece cursos de Filosofia, Artes, Literatura, História, entre tantas outras áreas que ajudam a complementar o conhecimento necessário para a prática da psicologia.

Quanto custa:

R$478,80 (Plano anual) , podendo ser dividido em 12x de R$39,90 ou a R$430,92 à vista (desconto de 10%). Também existe a opção de pagamento à vista via pix ou boleto bancário.

Vantagens:

  • Novos cursos lançados periodicamente
  • Acesso a diversos cursos com professores de referêcia por uma única assinatura
  • Cursos de diferentes abordagens teóricas da psicologia, do introdutório ao especializado
  • Certificado de conclusão


Conheça todos os cursos da Casa do Saber



Perguntas Frequentes

  1. É possível estudar Psicologia online?

    Sim, existem diversas opções de cursos livres, pós-graduações e especializações disponíveis 100% online.
  2. A graduação em Psicologia tem duração de quantos anos?

    A duração é de 5 anos, com no mínimo, 20% (vinte por cento) da carga efetiva global para estágios supervisionados básicos e específicos.
  3. Existe graduação em Psicologia EaD?

    Atualmente, não há graduação em Psicologia totalmente online aprovada pelo MEC, mas há opções semipresenciais.


Agora você já entendeu sobre a impossibilidade de realizar a graduação em psicologia no modelo EAD, conheceu as áreas de atuação da psicologia e abordagens teóricas da área.

Na atualidade, informação é o que não falta… E para facilitar o percurso de aprendizagem , nada como uma boa curadoria de conteúdo.

Por isso, se sentir vontade de explorar mais sobre psicologia e tantas outras áreas do saber a partir de uma proposta criteriosa, cuidadosa e de qualidade, conte com a plataforma da Casa do Saber+!

Esperamos que este conteúdo tenha facilitado a sua caminhada em direção ao conhecimento.






Depressão tem cura? Conheça os sinais e tratamentos
Carolina Tosetti
Depressão tem cura? Conheça os sinais e tratamentos
Você sabe quais são os tipos de depressão? Entenda esse transtorno psíquico desde o diagnóstico psiquiátrico até as profundezas da psicanálise.

Quando fala-se sobre depressão hoje, a realidade aponta que este é um transtorno complexo e cada vez mais comum, que não faz distinção de idade ou status social.

Explore as estatísticas alarmantes no Brasil, entenda as classificações psiquiátricas, os manejos psicanalíticos e a importância do diagnóstico profissional na identificação e tratamento da depressão.

O contexto da depressão na atualidade

A depressão é um transtorno mental ou psíquico que pode atingir qualquer um, independentemente da idade, gênero, etnia ou classe social. Apesar da sua gravidade, muitas pessoas não dão a atenção necessária para a doença, o que pode dificultar o diagnóstico e, consequentemente, o seu tratamento.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil tem a maior taxa de prevalência de depressão da América Latina e a segunda maior nas Américas. A previsão é que, em 2030, a depressão seja a primeira causa específica de incapacidade funcional no mundo.

De maneira geral e simplificada, pela visão psiquiátrica, a depressão é um transtorno biológico que se manifesta em forma de tristeza e angústia. A pessoa deprimida perde o interesse ou prazer em realizar atividades que antes gostava, podendo levar a mudanças bruscas de humor e comportamento, afetando diversas áreas de sua vida.

As alterações repentinas do humor são, inclusive, um dos sintomas mais comuns da doença. Por isso, o acompanhamento profissional se faz essencial para diagnosticar a depressão ou episódios de tristeza prolongados.

imagem de divulgação de masteclass sobre psicopatologias na atualidade com alexandre patrício



A visão da psiquiatria sobre a depressão

Em 1952, a Associação Psiquiátrica Americana (American Psychiatric Association, APA) publicou pela primeira vez o Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, DSM-1), a primeira tentativa de abordar o diagnóstico das doenças mentais por meio de definições e critérios padronizados.

A DSM-5-TR, publicada em 2022, fornece um sistema de classificação que tenta separar as doenças mentais em categorias diagnósticas com base na descrição dos sintomas.

A Classificação Internacional de Doenças, décima-primeira revisão (CID-11), e a mais recente versão publicada pela Organização Mundial da Saúde, utiliza categorias diagnósticas semelhantes às encontradas no DSM-5-TR. Essa semelhança indica que o diagnóstico das doenças mentais específicas está sendo feito de forma mais padronizada em todo o mundo.

A coleta da história clínica, a anamnese e o exame devem observar os critérios da décima primeira versão da Classificação Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde (CID), da Organização Mundial da Saúde.

Nenhum sinal ou sintoma representa propriamente uma patologia. A confecção do diagnóstico da depressão deve levar em conta que os critérios da CID apresentam grau de subjetividade, devendo-se evitar a psicopatologização e a medicalização de sentimentos humanos normais.

Sintomas da depressão: a importância do diagnóstico profissional

O diagnóstico da depressão é feito a partir da avaliação clínica de um profissional com base na persistência, abrangência e interferência que os sintomas apresentam na vida do indivíduo. Segundo o DSM-5-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), os sintomas da depressão incluem:

  • Humor deprimido constante
  • Diminuição do interesse ou prazer em quase todas as atividades
  • Perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta
  • Diminuição ou aumento significativo do apetite
  • Insônia ou sonolência
  • Agitação ou retardo psicomotor
  • Falta de energia, preguiça ou cansaço excessivo
  • Sentimentos de inutilidade, culpa excessiva ou inadequada
  • Diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou indecisão
  • Pensamentos de morte ou suicídio


Para que os sintomas tenham uma relevância clínica, é preciso que se note uma mudança nos pensamentos, sentimentos, comportamento ou na fisiologia, devendo esta ser vivenciada por um período significativo de tempo.

Há regras específicas que indicam quantos sintomas de cada categoria devem estar presentes para se fazer o diagnóstico. Essa complexidade é apenas uma das razões pelas quais um profissional deve ser consultado para diagnosticar a depressão.

Quais são os tipos de depressão?

Um indivíduo que sofre de depressão também pode apresentar sintomas de ansiedade, distúrbios do sono e de apetite e podem demonstrar sentimentos de culpa ou baixa auto-estima, falta de concentração.

Um episódio depressivo pode ser leve, moderado ou grave, a depender da intensidade dos sintomas. Durante um episódio depressivo grave, é pouco provável que a pessoa afetada possa continuar com atividades sociais, de trabalho ou cotidianas. Também pode-se fazer uma diferenciação da depressão em pessoas que têm ou não histórico de episódios de mania.

Episódios de mania envolvem humor exaltado ou irritado, excesso de atividades, pressão de fala, auto-estima inflada e uma menor necessidade de sono, além da aceleração do pensamento. Os tipos de depressão podem ser crônicos (isto é, acontecem durante um período prolongado de tempo), com recaídas, especialmente se não forem identificados e tratados, ou pontuais.

Conheça alguns dos principais tipos de depressão e a sua classificação na CID-11:

  • Transtorno depressivo recorrente | CID-11 6A71: esse distúrbio envolve repetidos episódios depressivos. Durante esses episódios, a pessoa experimenta um humor deprimido, perda de interesse e prazer e energia reduzida, levando a uma diminuição das atividades em geral. Este tipo de sofrimento pode ser longo, duradouro e mais difícil de ser diagnosticado.
  • Transtorno bipolar | CID-11 6A6Z: esse tipo de depressão consiste tipicamente na alternância entre episódios de mania e depressivos, separados por períodos de humor regular.
  • Transtorno depressivo de episódio único | CID-11 6A70: é caracterizado pela presença de um episódio depressivo quando não há histórico de episódios depressivos anteriores.
  • Transtorno distímico | CID-11 6A72: o transtorno distímico é caracterizado por um estado depressivo persistente (isto é, com duração de 2 anos ou mais), durante a maior parte do dia, na maior parte dos dias. Durante os primeiros 2 anos do distúrbio, nunca houve um período de 2 semanas durante o qual o número e a duração dos sintomas foram suficientes para satisfazer os requisitos de diagnóstico para um Episódio Depressivo.
  • Transtorno misto de ansiedade e depressão| CID-11 6A73: o transtorno misto de ansiedade e depressão é caracterizado por sintomas de ansiedade e depressão na maior parte dos dias por um período de duas semanas ou mais. Nenhum conjunto de sintomas, considerado separadamente, é suficientemente grave, numeroso ou persistente para justificar o diagnóstico de um episódio depressivo, distimia ou um distúrbio relacionado à ansiedade e ao medo.
  • Transtorno disfórico pré-menstrual |CID-11 GA34.4: um padrão de sintomas de humor (humor deprimido, irritabilidade), sintomas somáticos (letargia, dor nas articulações, excessos alimentares) ou sintomas cognitivos (dificuldades de concentração, esquecimento) que comece vários dias antes do início da menstruação, e comece a melhorar dentro de alguns dias após o início da menstruação e, em seguida, torne-se mínima ou ausente dentro de aproximadamente 1 semana após o início da menstruação, estando presente na maioria dos ciclos menstruais no último ano.
  • Depressão psicótica: o indivíduo em sofrimento geralmente convive com episódios de delírio e alucinação, em que se somam os sintomas de depressão a alguma forma de psicose. Pode ser considerado um tipo de depressão grave.


O que é depressão para a psicanálise?

No contexto da psicanálise, a partir da obra Luto e Melancolia, Freud (1917) inicialmente considerava a depressão como um fenômeno que envolvia a "diminuição do sentimento de auto-estima" e "expectativas ilusórias de punição". Sua visão inicial era de que as crianças, devido à falta de capacidade de auto-estima e de prever o futuro, não poderiam experimentar a depressão.

Acreditava-se que na adolescência o desenvolvimento da personalidade permitia a vivência da depressão, embora até a década de 1970 alguns estudiosos considerassem os sintomas depressivos como parte normal do desenvolvimento adolescente.

Ao longo do século 20, a compreensão da relação entre eventos na infância e o funcionamento da personalidade no futuro começou a ganhar destaque. Freud propôs que a personalidade de uma criança era amplamente desenvolvida até os cinco anos de idade, sendo influenciada pela maneira como ela se ajustava a experiências precoces. A depressão, para Freud, surgia da resolução inadequada dos conflitos entre impulsos primitivos (id) e a aceitação de tabus sociais pelo superego.

mão encostando na própria sombra sob fraca luz

Numa leitura mais recente, o mal-estar contemporâneo, para o psiquiatra Joel Birman, manifesta-se no corpo, na ação e na intensidade como uma dor difícil de ser simbolizada.

Nesse cenário, a depressão destaca-se como uma forma de subjetivação, refletindo um aumento significativo nos diagnósticos e previsões de uma sociedade predominantemente depressiva.

A contemporaneidade revela a psicanálise como um discurso relevante para entender questões sociais e culturais. As mudanças na estrutura familiar, a crise da paternidade e a ascensão do individualismo na vida pós-moderna contribuem para a proliferação da cultura do narcisismo.

A falta de consenso sobre o termo "depressão" na sociedade atual reflete a dificuldade em lidar com as transformações sociais, econômicas e culturais que afetam a evolução da subjetividade.

Por uma perspectiva psicanalítica, a depressão pode ser considerada uma posição subjetiva diante das demandas sociais que enfatizam o individualismo e a cultura do espetáculo.

O sujeito contemporâneo, sob pressão para buscar a satisfação constante, muitas vezes se vê paralisado, afastado de seu desejo, resistindo às exigências sociais. Assim, a depressão pode ser uma resposta à sociedade que não tolera a falta, a dor e o sofrimento.

Neste contexto, enquanto dispositivo de "cura pela palavra" a psicanálise concebe a escuta do "singular" como importante possibilidade de abertura para as manifestações subjetivas, que podem estar relacionadas às múltiplas expressões sintomáticas, inclusive as depressivas.

Em todos os casos, torna-se essencial o diagnóstico precoce para que o tratamento seja bem sucedido, evitando novos episódios. É fato que a depressão pode aparecer em diversas fases da vida, a começar pela infância.

Depressão na Era Digital
por Ana Suy e Alexandre Patrício

No curso Depressão na Era Digital, os psicanalistas e escritores Ana Suy e Alexandre Patricio de Almeida apresentam uma discussão sobre saúde mental, cultura e sociedade a partir da psicanálise, oferecendo uma imersão nas complexidades do adoecimento psíquico na era atual, em especial sobre o fenômeno da depressão.

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Sintomas e diagnóstico da depressão infantil

Em crianças pré-escolares - de idade até sete anos - a manifestação clínica mais comum é representada pelos sintomas físicos, tais como dores, fadiga e tontura. Ainda segundo o autor, seguem-se além das queixas dos sintomas físicos a presença de ansiedade, fobias, agitação psicomotora ou hiperatividade, irritabilidade, diminuição do apetite com falha em alcançar o peso adequado, e alterações do sono.

Alguns estudiosos citam surgimento de choro excessivo e frequente, comunicação falha, tristeza na fisionomia e um comportamento que apresenta agressividade.

Em crianças escolares - entre seis a doze anos -, o humor depressivo já pode ser verbalizado e é frequentemente relatado como tristeza, irritabilidade ou tédio. As crianças podem apresentar apatia, tristeza, fadiga, isolamento, aparência triste, queda do desempenho escolar, ansiedade diante de uma separação, dentre outros.

Os estudos dedicados à depressão infantil, semelhantes aos adultos, revelam a importância do diagnóstico precoce. A peculiaridade do diagnóstico infantil reside na possibilidade de identificação tardia, agravando a situação.

A depressão infantil pode passar despercebida ou ser confundida com características temperamentais, tornando-se desafiador reconhecê-la. Desde a década de 1970, há consenso de que as crianças apresentam sintomas depressivos semelhantes aos dos adultos, com a irritabilidade assumindo o papel do abatimento no diagnóstico infantil.

15 sinais da depressão infantil

  • Angústia.
  • Pessimismo
  • Agressividade
  • Falta de apetite
  • Falta de prazer em executar atividades
  • Isolamento
  • Apatia
  • Insônia ou sono excessivo que não satisfaz
  • Queixas de dores
  • Sentimentos de desesperança
  • Dificuldade de concentração, atenção memória ou raciocínio
  • Baixa auto-estima e sentimento de inferioridade
  • Sensação frequente de cansaço ou perda de energia
  • Sentimentos de culpa
  • Dificuldade de se afastar da mãe


A depressão em crianças: uma visão da psicanálise

A teoria de Sigmund Freud trouxe uma nova perspectiva sobre as angústias infantis, que se assemelham às vivenciadas na idade adulta. Estudos recentes corroboram a ideia de que, contrariamente a concepções antigas, as crianças experimentam emoções, enfrentam perdas, mudanças e traumas, que podem ter repercussões na vida adulta, tornando-se terrenos férteis para o desenvolvimento da depressão.

Para a psicanálise freudiana, a depressão infantil está relacionada a situações de perdas e luto, impactando diretamente na fase narcísica da criança. A infância, caracterizada pela ainda incompleta constituição psíquica, evidencia a singularidade de como cada criança vivencia e elabora suas perdas, considerando que as histórias de vida são distintas.

banner do curso Melanie Klein e a refundação do eu desenvolvimento psiquico e a teoria das posicoes, do professor Alexandre Patricio, para a Casa do Saber



Psicanálise, psicoterapia e psiquiatria no tratamento da depressão

Pesquisas sobre a depressão de difícil tratamento enfatizam a importância da associação do acompanhamento psiquiátrico ao acompanhamento psicanalítico. Nestes casos graves, nota-se a predominância de derivados de impulsos agressivos nos humores depressivos.

Na clínica psicanalítica destacam-se dois tipos de desprazer: a ansiedade e o afeto depressivo, decorrentes de situações como luto, perdas amorosas ou punições.

Uma leitura psiquiátrica associada ao manejo psicanalítico ressalta que o afeto depressivo desempenha papel equivalente à ansiedade na psicopatologia, sendo uma parte inevitável da vida mental, acionando defesas e conflitos, podendo ser ou não consciente em um dado compromisso.

Aqui os transtornos depressivos são definidos como a "sensação de impotência e desesperança diante da realização de um desejo intenso", colorindo toda a auto-representação com sentimentos de inferioridade, incapacidade e ameaça.

Grandes autores da psicanálise, como Melanie Klein, criaram conceitos e formas de compreensão das manifestações do transtorno depressivo. Aprofunde-se no tema da depressão com a Masterclass do professor e psicanalista Alexandre Patricio de Almeida dedicada às psicopatologias atuais.



Como vencer a depressão?

O acolhimento das pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo depressão e as necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, e seus familiares é fundamental para a identificação das necessidades assistenciais, alívio do sofrimento e planejamento de intervenções medicamentosas e terapêuticas, se e quando necessárias.

No Brasil, além de contar com a disponibilidade de consultórios e clínicas particulares, os indivíduos em situações de crise podem ser atendidos em qualquer serviço da rede pública de saúde.

Os casos de pacientes em situação de emergência devem ser atendidos nos serviços de urgência e emergência e nos serviços da RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) é composta por equipamentos variados, em sua maioria guiados por princípios de cuidado comunitário e em liberdade, tais como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), os Centros de Convivência e Cultura e as Unidade de Acolhimento (UAs). As diretrizes da política envolvem o governo federal e os estados e municípios.






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Ansiedade: Sintomas, Causas, Crise de Ansiedade e Transtornos
Xavana Celesnah
Ansiedade: Sintomas, Causas, Crise de Ansiedade e Transtornos
Saiba o que é ansiedade, crise de pânico e transtornos relacionados. O tratamento da ansiedade com psicólogo e psiquiatra e a melhora da saúde mental

A ansiedade é uma emoção humana universal caracterizada por sentimentos de preocupação, medo e apreensão, geralmente despertados em situações de incerteza ou pressão. Todos nós a experimentamos em algum momento. Em si, ela não é uma doença.

Apesar de ser uma reação natural e muitas vezes útil, que nos prepara para enfrentar desafios, a ansiedade pode se tornar um problema quando ganha proporções excessivas e se transforma em um transtorno, passando a interferir no cotidiano, afetando o sono, o humor e as relações interpessoais.

Os casos de sofrimento psíquico, exigem cuidado especializado. Assim como todos os problemas de saúde mental, os transtornos de ansiedade precisam ser tratados com mais naturalidade, retirando-se o preconceito e o estigma tão culturalmente arraigados em relação a tudo o que diz respeito às questões de ordem emocional.

O Que é Ansiedade?

A ansiedade é uma reação emocional do corpo diante de situações que envolvem incerteza ou perigo. De acordo com o psiquiatra Rodrigo Bressan, “nosso corpo, através dos sistemas nervosos autônomo e simpático, está preparado para situações de luta ou fuga”, por possuir um mecanismo biológico capaz de lidar com situações de perigo. Mas, existem contextos de estresse que ultrapassam a capacidade de regulação emocional do corpo, fazendo com que as pessoas saiam do eixo e causando diversos problemas de saúde mental, como os transtornos de ansiedade.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os transtornos de ansiedade são os transtornos mentais mais comuns do mundo e afetaram aproximadamente 301 milhões de pessoas em 2019, o que corresponde a cerca de 4% da população mundial. Ainda segundo a OMS, as mulheres são mais afetadas por este tipo de transtorno do que os homens e os sintomas começam a surgir na infância e na adolescência.

Os transtornos de ansiedade, além de provocarem sofrimento, interferem de forma significativa nas atividades cotidianas, causando grande impacto no nível de incapacitação da nossa sociedade. Quando não tratados, esses sintomas podem persistir por anos, impactando ainda mais na saúde mental e emocional do indivíduo.

A boa notícia é que grande parte dos transtornos mentais, como os de ansiedade, são tratáveis e existem terapias e intervenções altamente eficazes, como a psicoterapia e o uso de medicamentos, que podem ajudar a controlar os sintomas e permitir que a pessoa recupere o bem estar e a qualidade de vida.

Apesar da alta prevalência e do impacto significativo desses transtornos, estima-se que apenas 1 em cada 4 pessoas com os sintomas busque tratamento. A falta de conscientização sobre a natureza tratável da condição, o baixo investimento público em serviços de saúde mental, a falta de profissionais de saúde qualificados para este tipo de atendimento e o estigma social em torno do tema são algumas das barreiras que dificultam o acesso a um tratamento adequado, segundo a OMS.

A conectividade moderna tem um impacto direto na nossa saúde mental. Acordar, checar notificações, rolar feeds infinitos, adiar o sono... Isso soa familiar? Se sim, é hora de refletir sobre como as redes sociais podem estar afetando o seu equilíbrio emocional.

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Sintomas de Ansiedade

Os sintomas de ansiedade podem variar de pessoa para pessoa, mas geralmente incluem manifestações físicas e emocionais. É importante entender que a ansiedade não é um fenômeno exclusivamente psicológico. Ela também afeta o corpo e muitas pessoas com transtornos de ansiedade experimentam uma série de sintomas físicos que podem ser tão intensos ao ponto de se confundirem com outros problemas de saúde. Assim, os transtornos de ansiedade podem provocar sintomas físicos, emocionais e comportamentais.

Sintomas Físicos da Ansiedade

Os sintomas físicos mais recorrentes dos transtornos de ansiedade incluem:

  • Tensão muscular: A musculatura do corpo, especialmente nas regiões do pescoço, ombros e mandíbula, tende a se contrair, causando desconforto.
  • Taquicardia: O aumento da frequência cardíaca é o sintoma clássico da ansiedade. As palpitações e a sensação de coração acelerado são muito frequentes.
  • Falta de ar: A dificuldade para respirar ou "respiração curta" é recorrente em episódios de ansiedade, especialmente durante ataques de pânico.
  • Suor excessivo: Suor demasiado, especialmente nas palmas das mãos, axilas ou testa, mesmo em situações sem estresse imediato.
  • Tremores nas mãos: O nervosismo pode causar tremores involuntários nas mãos ou até mesmo em outras partes do corpo
  • Boca seca: A ansiedade pode diminuir a produção de saliva, resultando em boca seca e desconforto.
  • Dores no peito: O estresse físico pode provocar dores no peito ou uma sensação de pressão, frequentemente confundida com problemas cardíacos.
  • Náuseas e desconforto abdominal: O estômago e o sistema digestivo podem reagir de maneira exacerbada ao estresse, causando náuseas, cólicas ou diarreia.


Sintomas Emocionais e Psicológicos da Ansiedade

Os transtornos de ansiedade, além de causarem sintomas físicos, manifestam-se no emocional do indivíduo, afetando o seu bem-estar e a qualidade dos seus relacionamentos. Dentre os sintomas psicológicos da ansiedade, as pessoas experimentam:

  • Preocupação excessiva: A mente fica sem paz, devido à preocupação permanente com todas as atividades cotidianas. Tarefas do trabalho, problemas familiares, atividades pessoais, tudo está sendo processado com muita velocidade e os pensamentos estão sempre direcionados à próxima atividade que deve ser realizada, retirando o indivíduo do presente. Nesses casos, a meditação mindfulness pode auxiliar como uma terapia complementar e trazer a mente de volta ao presente.
  • Medo iminente: A sensação angustiante de que algo terrível pode acontecer a qualquer momento é outro sintoma comum. Esse medo pode não ter um motivo claro, mas também pode estar associado a algum evento na vida do indivíduo, como uma viagem, uma apresentação importante, algum evento social.
  • Irritabilidade: Pessoas ansiosas tendem a se tornar mais irritadas e impacientes, agindo de maneira ríspida no cotidiano.
  • Dificuldade de concentração: Como a mente está repleta de pensamentos voltados para o futuro, é comum que haja uma dificuldade de concentração em tarefas do dia a dia. Esse fator é particularmente prejudicial à produtividade, afetando o indivíduo no trabalho.
  • Nervosismo ou inquietação: As pessoas tendem a se sentir em alerta constante, sem relaxar. Daí a sensação de inquietude, pois vivem como se estivessem prestes a ter uma crise a qualquer momento.




Sintomas Comportamentais da Ansiedade

Todos os sintomas da ansiedade estão interligados, mas de maneira didática eles são divididos nesses três tipos: físicos, emocionais e comportamentais. Em relação ao comportamento, os indivíduos acometidos com o transtorno podem começar a adotar certos padrões com o desejo de evitar o desconforto da ansiedade. Veja exemplos de como a ansiedade afeta o comportamento:

  • Dificuldade para dormir (insônia): As pessoas com transtornos de ansiedade geralmente têm dificuldades para relaxar e adormecer. A mente hiperativa, cheia de preocupações, impede o descanso adequado.
  • Isolamento: Uma das respostas mais comuns à ansiedade é evitar situações que possam desencadear medo ou desconforto. Assim, alguém com transtorno de ansiedade pode evitar encontros sociais ou eventos públicos.
  • Procrastinação: A ansiedade provoca dificuldade de tomada de decisões e acaba deixando as pessoas sem realizar suas atividades. O medo do fracasso é outro motivo que gera a procrastinação.
  • Comportamentos de fuga: Em alguns casos, a pessoa pode buscar formas de "escapar" da ansiedade, como o abuso de substâncias.


O que é uma Crise de Ansiedade?

Uma crise de ansiedade é um episódio intenso e súbito em que os sintomas de ansiedade atingem um pico, causando grande desconforto e aflição. Geralmente, essas crises estão relacionadas a eventos estressantes. Elas costumam ter uma duração limitada, por volta de 30 minutos, mas podem deixar a pessoa com uma sensação de cansaço extremo ou vulnerabilidade quando passam.

Durante uma crise de ansiedade, a pessoa normalmente vivencia sintomas emocionais e físicos. Entre os sintomas psicológicos estão: sensação de medo, angústia, nervosismo, apreensão, sensação de estar fora de si mesma e de que o mundo ao redor não é real. A mente tende a se concentrar nas piores possibilidades, com o medo iminente de perder o controle ou até mesmo de morrer.

Já os sintomas físicos são consequência da liberação de hormônios como o cortisol e a adrenalina, que são ativados pelo sistema nervoso simpático em situações de estresse. Eles podem incluir:

  • Aceleração do batimento cardíaco e palpitações
  • Sensação de sufocamento ou falta de ar
  • Tontura e sensação de desmaio
  • Formigamento nas extremidades
  • Aumento da pressão arterial
  • Suor excessivo, boca seca, mãos geladas e pele fria
  • Náuseas, podendo até levar ao vômito
  • Vontade frequente de urinar


Durante uma crise, as pessoas sentem dificuldade em realizar tarefas cotidianas, e ficam incapazes de retomar a normalidade até que o episódio termine. Existem tratamentos eficazes para as crises de ansiedade, que podem ser feitos através de atendimentos psicológicos. Além disso, as técnicas de relaxamento e atenção plena podem reduzir os sintomas do transtorno.

Diferença entre Crise de Ansiedade e Crise de Pânico

A crise de pânico é um tipo específico de ataque de ansiedade e ambos possuem sintomas semelhantes. O que costuma diferenciá-los é a causa. A crise de pânico normalmente ocorre sem um motivo identificável, sem uma causa óbvia e costuma ser acompanhada de um medo súbito de morrer.

Uma crise de pânico, pode ocorrer de forma inesperada, sem qualquer aviso, e se caracteriza por ser extremamente aterrorizante.

Já a crise de ansiedade é desencadeada por algum estímulo estressante específico. A síndrome do pânico, por sua vez, é a recorrência de ataques de pânico, que acontecem com frequência e de forma imprevisível.

Os sintomas da crise de pânico incluem:

  • Aumento súbito do batimento cardíaco
  • Dificuldade para respirar ou sensação de sufocamento
  • Suor excessivo, calafrios ou tremores
  • Sensação de morte iminente ou perda de controle


Embora assustadoras, as crises de pânico geralmente não apresentam risco físico imediato. No entanto, quando são recorrentes, elas podem levar ao desenvolvimento de um transtorno de pânico, que prejudica significativamente a qualidade de vida da pessoa.

Tipos de Transtornos de Ansiedade

Pela visão da psiquiatria, os transtornos de ansiedade podem se manifestar de várias formas e cada tipo tem características específicas que afetam a vida cotidiana de maneira distinta. Os transtornos mais comuns incluem o transtorno de ansiedade generalizada (TAG), o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), a fobia social e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Veja a seguir os principais tipos de transtornos de ansiedade, com suas particularidades e sintomas típicos.

TIPOS DE TRANSTORNO DE ANSIEDADE SINTOMAS
Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) É caracterizado por preocupações persistentes e exageradas com as situações do cotidiano. As pessoas com esse tipo de transtorno se sentem ansiosas em relação ao trabalho, à saúde, aos relacionamentos, às finanças. Ou seja, o medo abrange basicamente todos os aspectos da vida e causa um forte desgaste emocional e físico no indivíduo.
Transtorno de Pânico É identificado quando a pessoa tem o histórico de vários episódios de ataque de pânico. A sensação de perda de controle, falta de ar, desespero, medo da morte são constantes.
Transtorno de Ansiedade Social (Fobia Social) Diz respeito a um medo de ser julgado, rejeitado ou humilhado em situações sociais. Ademais, a pessoa com fobia social tem pavor de apresentações em público ou reuniões. É um transtorno que prejudica as relações interpessoais e o desenvolvimento profissional.
Agorafobia É um transtorno relacionado ao medo de estar em lugares desconhecidos ou onde o indivíduo sente que não tem o controle sobre a situação. O medo de não conseguir escapar ou de não conseguir obter ajuda limitam o deslocamento de quem tem esse tipo de transtorno. Viajar de ônibus ou avião, estar em espaços fechados, como cinemas, lojas, ou mesmo no transporte público podem ser extremamente difíceis para quem tem agorafobia.
Fobias Específicas São medos irracionais e intensos de objetos ou situações específicas, como medo de voar, de aranhas, de cobras, de locais fechados ou de altura. Esses medos podem ser tão paralisantes que a pessoa afetada fará o possível para evitar enfrentar a situação ou objeto temido. Apesar de serem inconscientes, essas fobias podem gerar grande sofrimento emocional e interferir nas atividades diárias.
Mutismo Seletivo É um transtorno que afeta principalmente crianças e é mais comum em meninas. Caracteriza-se pela incapacidade de falar em determinadas situações sociais. As crianças com mutismo seletivo têm dificuldade em interagir fora do seu círculo familiar próximo, atrapalhando sua adaptação escolar e social.
Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) Ocorre após a pessoa viver uma situação traumatizante, como um acidente grave, um abuso ou violência. Ela se manifesta através de flashbacks, pesadelos e uma sensação de alerta. A pessoa fica revivendo o trauma e tende a evitar lugares e atividades que lembrem o evento traumático.
Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) Envolve a presença de pensamentos repetitivos: ideias, imagens ou impulsos que surgem de forma repetitiva e incontrolável. Para aliviar a ansiedade causada por esses pensamentos, a pessoa pode desenvolver comportamentos compulsivos, como lavar as mãos repetidamente, verificar várias vezes se a porta está trancada ou realizar constantes rituais de organização.



Vivemos em uma cultura que proporciona o desenvolvimento da ansiedade. Estamos sempre consumidos com as próximas tarefas que precisam ser realizadas e existe uma competitividade extrema por desempenho. Nesse sentido, mesmo que não ocorram fatores estressantes diretos, é possível que as pessoas desenvolvam algum transtorno de ansiedade devido ao estilo de vida que levam.

Além disso, a ansiedade pode ser causada por relacionamentos abusivos, ambientes familiares e profissionais tóxicos, traumas e estresse crônico. O histórico familiar também pode aumentar as chances de desenvolver o problema.

Relação entre Ansiedade e Depressão

É comum a coexistência da ansiedade com a depressão em uma mesma pessoa. Os sintomas de um transtorno acabam agravando os do outro, gerando um ciclo vicioso. Transtornos de ansiedade podem causar uma preocupação intensa em relação ao futuro que acabam gerando uma descrença no próprio potencial.

Além disso, pessoas deprimidas podem tentar usar substâncias como uma forma de anestesiar suas dores e acabam desenvolvendo crises de ansiedade devido ao consumo de drogas.

Psicólogo ou Psiquiatra: Quando Consultar Cada Um?

A escolha entre consultar um psicólogo ou um psiquiatra depende das necessidades e características de cada caso. Ambos os profissionais têm papeis complementares, mas com enfoques diferentes no tratamento da ansiedade.

  • Psicólogo: O psicólogo trabalha com o paciente para explorar e compreender as causas emocionais e comportamentais da ansiedade. Ele pode utilizar diversas abordagens terapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que foca em identificar e modificar padrões de pensamento disfuncionais que alimentam a ansiedade.
  • Psiquiatra: O psiquiatra, por sua vez, tem a capacitação necessária para diagnosticar transtornos mentais e, quando necessário, prescrever medicamentos, como antidepressivos ou ansiolíticos, para controlar os sintomas da ansiedade. Embora os psiquiatras também realizem sessões de psicoterapia, sua especialização é focada no tratamento medicamentoso e no diagnóstico de condições relacionadas a outros transtornos de saúde mental, como depressão, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ou transtornos de pânico.


A Psicanálise e o Tratamento da Ansiedade

A análise pessoal, por meio da psicanálise, também é eficaz no tratamento dos transtornos de ansiedade, pois trata a questão a partir do inconsciente. De acordo com a psicanálise, existe uma parte da mente humana que armazena conteúdos que o sujeito não consegue perceber conscientemente. Isso ocorre, dentre outros aspectos, porque esses elementos podem entrar em conflito com a imagem que a pessoa construiu a respeito de si mesma.

Para a psicanálise, a ansiedade excessiva ou patológica está frequentemente associada a esses conteúdos inconscientes. Em vez de ver os eventos estressores como a causa direta da ansiedade, a psicanálise considera que eles funcionam como gatilhos, que desencadeiam reações emocionais intensas. Esses gatilhos, na verdade, estão relacionados a experiências ou conflitos reprimidos no inconsciente, que ainda não foram processados.

Nesse sentido, a psicanálise entende que grande parte de nossas questões e conflitos mais profundos estão guardados no inconsciente, e, por isso, somos incapazes de reconhecê-los por conta própria. Isso é mais evidente ainda em relação aos traumas e emoções reprimidos durante a infância ou adolescência, que, mais tarde, podem se manifestar como sintomas de ansiedade na vida adulta.

O trabalho do psicanalista é ajudar o paciente a perceber que a situação imediata, que ele acredita ser a causa da ansiedade, é apenas um gatilho que ativa questões mais profundas e inconscientes. Durante a análise, por meio do discurso, o paciente passa a trazer suas questões e o psicanalista o ajuda a elaborar essas conexões.

Esse processo gradual permite que o paciente entre em contato com os conteúdos reprimidos do inconsciente, os reconheça e, ao fazer isso, reduza a sua ansiedade e insegurança. Portanto, pessoas que sofrem de ansiedade podem se beneficiar significativamente de um tratamento baseado nos princípios da psicanálise.

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Como tratar a ansiedade?

O tratamento para os transtornos de ansiedade é eficaz e pode ser realizado por meio de diferentes abordagens, incluindo terapias, o processo de análise, intervenções medicamentosas orientadas por um psiquiatra e mudanças no estilo de vida. O sucesso do tratamento depende não apenas das intervenções, mas também da qualidade da relação entre o paciente e o profissional de saúde.

A confiança e o vínculo terapêutico são fundamentais, pois ajudam no processo de autoconhecimento, essencial para o enfrentamento da ansiedade. Como explica o Dr. Rodrigo Bressan, “se a gente entende como a gente funciona, é mais fácil se autorregular emocionalmente e estabelecer estratégias de superação”. Isso significa que, quanto mais uma pessoa compreende seus próprios mecanismos emocionais, mais preparada ela estará para lidar com situações estressantes.

Perguntas Frequentes sobre Ansiedade

Pergunta 1: Ansiedade tem cura?

Sim, já existem vários tratamentos eficazes para os transtornos de ansiedade, que incluem intervenções e tratamentos psicológicos, psicanálise, medicamentos e técnicas de mindfulness. Pessoas com sintomas de ansiedade devem procurar atendimento, além de aliar a prática de exercícios físicos regulares e uma alimentação saudável.

Pergunta 2: Quais são os tratamentos disponíveis para a ansiedade?

Os tratamentos mais comuns incluem psicoterapia, medicamentos (como ansiolíticos e antidepressivos) e técnicas específicas, como a prática de mindfulness e a gestão do estresse.

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Referências:

https://www.who.int/

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/174/a-ciencia-dos-sentimentos-alcancando-bem-estar-psicologico

https://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/224_ansiedade.html

https://www.paho.org/pt/noticias/17-6-2022-oms-destaca-necessidade-urgente-transformar-saude-mental-e-atencao

Filosofia
É possível praticar o estoicismo hoje? Livros, caminhos e dicas para seguir a filosofia
Tainá Voltas
É possível praticar o estoicismo hoje? Livros, caminhos e dicas para seguir a filosofia
O estoicismo tem reaparecido como uma resposta ao mundo moderno. Mas será realmente possível aplicar a filosofia aos dias atuais? Descubra!

Embora tenha se desenvolvido e aprofundado suas raízes há mais de 2000 anos, o estoicismo tem reaparecido como uma resposta ao complexo e desconfortável mundo moderno, marcado pelo esgotamento coletivo e pelas frustrações geracionais.

Tal filosofia, que é banhada em uma ideia de felicidade resiliente às adversidades e às influências externas, ganha adeptos e curiosos, cuja motivação se dá em direção comum: é realmente possível aplicar a práxis estoica nos dias de hoje?

Neste artigo vamos destacar algumas obras, cursos e dicas que podem oferecer uma resposta certeira ao questionamento, além de mostrar como viver de um modo mais estoico, mesmo em meio a tantas distrações.

Mulher deitada sobre a mesa, aparentando cansaço, com peso de pedras nas costas. Alusão ao estoicismo
O Estoicismo aplicado à modernidade surge como uma alternativa para amenizar os efeitos comuns da experiência humana superestimulada, oferecendo uma nova interpretação possível para a vida, para os desafios e para os problemas do cotidiano. Trata-se de uma filosofia que apresenta ferramentas para aprimorar a resiliência ao inevitável, incentivando a clareza emocional.


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Recordação: o que é o estoicismo?

“A felicidade e a liberdade começam com a clara compreensão de um princípio: algumas coisas estão sob nosso controle, outras não”. A expressão, de autoria um dos maiores filósofos estoicos da antiguidade - Epicteto, define com bastante clareza os pilares que sustentam o estoicismo.

Criada durante o período helenístico, ainda na Grécia Antiga, e tendo como pano de fundo a crença nas leis da natureza, essa vertente filosófica buscou explicar o sentido da vida a partir da racionalização e de uma proposta de aceitação do inevitável.

Na prática, estruturou um entendimento acerca da "felicidade" como um resultado dado àqueles que conseguiam desvencilhar-se das paixões avassaladoras e das emoções exageradas.

Ou seja, para o estoicismo a felicidade se materializava quando as emoções eram racionalizadas, assim como quando os episódios da vida eram entendidos como pertencentes todos à uma teia natural e inevitável de causas e efeitos.

Nessa perspectiva, os esforços e desejos de mudança humanos deveriam ser direcionados para as coisas passíveis de serem controladas e não para aquelas alheias à vontade dos homens, tal qual a morte.

Dessa forma, o estoicismo passou a ser caracterizado como uma filosofia prática, que orientava os indivíduos a viverem em harmonia com a natureza e a razão, buscando a virtude como um bem maior.

Para os estoicos, a vida virtuosa seria aquela baseada no agir lógico, ético e sereno, capaz de enfrentar os desafios com resiliência por entendê-los como pertencentes a uma ordem natural das coisas.

A abordagem, rigorosa e libertadora na mesma medida, faz com que o estoicismo seja uma ferramenta resgatada na modernidade para lidar com os novos desafios e contornos sociais, oportunizando a busca pelo equilíbrio mesmo em cenários turbulentos.


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O que é agir com estoicismo nos dias atuais?

A pergunta "é possível praticar o estoicismo nos dias atuais?" depende essencialmente da compreensão do que é o agir estoico nesse novo contexto.

Em meio à Era da Informação, aos dados gerados em velocidade exponencial, às demandas por performance e resultado e ao excesso de estímulos, o estoicismo apresenta uma bússola mental, que cultiva a clareza e a resiliência emocional como forma de melhor viver e sobreviver a este cenário.

Trata-se de uma aplicação da abordagem que incentiva o foco àquilo que é controlável, como as ações e reações individuais, ao passo que pratica a compreensão serena daquilo que escapa ao domínio pessoal.

Homem segurando um guarda-chuva, virado para parede com metas e planejamentos. Reflete a necessidade de entrega e resultado.
O estoicismo moderno incentiva uma leitura de mundo focada no controle do que se é controlável, ajudando a redefinir prioridades e a encontrar clareza em meio às exigências incessantes por desempenho e resultados.


Assim, no mundo contemporâneo, essas ideias podem se traduzir em práticas, como:

Gerenciar o tempo e a atenção Evitar dispersar energia com distrações ou preocupações improdutivas, dedicando-se ao que realmente importa, bem como ao autocuidado e auto escuta.
Reavaliar o conceito de sucesso Adotar uma perspectiva baseada na virtude e no progresso interno, afastando-se da busca contínua por uma validação externa ou padrões sociais inatingíveis.
Cultivar o autocontrole Responder às adversidades com calma e reflexão, resistindo aos impulsos imediatos ou a emoções exageradas, as quais podem comprometer o senso crítico e a tomada de decisão racional.
Praticar a gratidão e a perspectiva Reconhecer o valor das coisas e aprender a ressignificar os desafios como oportunidades de crescimento pessoal.



No cotidiano moderno, o estoicismo, uma filosofia para tempos de crise, continua emergindo como um consolo e como uma libertação de ilusões. Por isso, oferece uma base sólida para enfrentar crises pessoais ou profissionais, promovendo uma atitude resiliente frente a desafios inevitáveis.

Mauricio Marsola , professor de história e filosofia da Unifesp, contribui para a acepção do conceito, em um material produzido pela Casa do Saber:

“Para o estoicismo o mundo é um grande sistema composto de relações causais necessárias. É uma racionalidade plena, na qual todas as coisas concorrem para uma harmonia maior. A isso os estoicos chamam de logos (o que também pode ser compreendido como physis, ou Deus). Cabe a nós criarmos uma harmonia em nossa alma que reproduza a harmonia do cosmos”

Assista na íntegra:




3 livros para entender o estoicismo

Livros são uma excelente maneira de transportar as ideias filosóficas estoicas da Antiguidade para contemporaneidade, indicando um caminho para a prática da filosofia no cotidiano.

Nesse sentido, as obras selecionadas abaixo repercutem os princípios estoicos em seus diferentes tempos, além de apresentarem aplicações palpáveis do conceito e contextos históricos que ajudam na compreensão do pensamento filosófico em sua totalidade.

1) Diário estoico: 366 lições sobre sabedoria, perseverança e a arte de viver - Ryan Holiday e Stephen Hanselman

Uma das mais populares obras do movimento moderno de resgate ao estoicismo, o Diário Estoico propõe a leitura de 366 meditações baseadas em ensinamentos de grandes filósofos estoicos, como Sêneca, Marco Aurélio e Epicteto.

Seu objetivo é funcionar como um guia prático e acessível para quem deseja introduzir o agir estoico à sua rotina, cultivando a arte de viver bem. Para isso, Ryan Holiday e Stephen Hanselman instigam os leitores a expandir a compreensão do mundo e a experimentar novas maneiras de agir e pensar.

Encontrar o propósito da vida, lidar com perdas irreparáveis e o caminho para a felicidade verdadeira são apenas alguns dos tópicos abordados no texto.

Com os ensinamentos dos antigos estoicos, em uma metodologia meditativa a cada dia do ano, o livro proporciona uma reavaliação das percepções, atitudes e metas de vida.

2) Meditações - Marco Aurélio

Uma das mais influentes obras filosóficas de todos os tempos, Meditações transforma-se em uma janela direta para a mente de Marco Aurélio, o imperador romano conhecido como "imperador filósofo".

Escrito como um diário pessoal, o livro reúne reflexões sobre a busca pela virtude, a compreensão do universo e a arte de viver em harmonia com a natureza, mesmo em cenários inconstantes e desequilibrados.

Mesmo que inicialmente não tenha sido destinado à publicação, o texto se tornou um verdadeiro mantra para a prática estoica, atemporal e requisitada ao longo de várias décadas.

No projeto, Marco Aurélio menciona a necessidade da ponderação em meio às pressões, sobretudo aquelas relacionadas ao poder, assim como destaca os desafios do enfrentamento das incertezas e das dores inevitáveis da existência humana, priorizando a serenidade e o autocontrole.

As lições valiosas apresentadas, como a importância de aceitar o que não se pode controlar, focar no presente e viver de acordo com princípios éticos, têm sido incorporadas neste novo momento do estoicismo, guiando os adeptos a uma forma de praticar a filosofia de forma flexível e adaptada.




3) Sobre a Brevidade da Vida (De Brevitate Vitae) – Sêneca

Escrita por outro grande pensador estoico, esta obra concisa, mas profundamente impactante, aborda um dos temas centrais para o estoicismo: a natureza do tempo e as armadilhas de uma vida perpassada pelo negligenciamento.

Para Sêneca, a duração da vida importa à medida que escolhemos como iremos vivê-la. Ou seja, ele convida o leitor a refletir sobre a urgência do cultivo da totalidade interior, contrastando os valores culturais modernos guiados pela prosperidade material e pela produtividade incessante.

Argumenta ser o tempo o bem mais precioso existente, embora seja frequentemente tratado como infinito. Assim, o filósofo critica, sobretudo, a tendência humana de procrastinar, acumular riquezas sem propósito e buscar validação externa, ao invés de focar no desenvolvimento interno e nas relações significativas.

“A vida que recebemos não é curta, mas a tornamos desse modo; tampouco a temos de sobra, mas a desperdiçamos” - Sêneca


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4 cursos para aprender de forma rápida sobre o estoicismo

Os cursos são outra excelente oportunidade para mergulhar mais profundamente nos conceitos do estoicismo, a partir da orientação de especialistas que conectam essa filosofia ao mundo contemporâneo, entendendo como e onde aplicá-la. Veja três cursos recomendados para esse propósito:

  1. Aprender a Viver: Como a Sabedoria Pode Ser o Caminho para uma Vida Melhor

    Este curso explora como a sabedoria filosófica pode transformar o cotidiano. Para isso, oferece uma visão geral sobre as escolas filosóficas, com destaque para os estoicos, mostrando como seus ensinamentos podem ajudar a superar os desafios da vida moderna, como o tédio e a banalidade. “Como a sabedoria pode ser o caminho para uma vida melhor? Como aprender a viver e superar o tédio e a banalidade da vida cotidiana?”, essas são algumas das perguntas que a ementa do texto se dedica a responder.

  2. A Filosofia Como Forma de Vida: Estoicos, Epicuristas e Cínicos

    Focado na relação entre filosofia e prática de vida, este curso apresenta Sócrates e escolas como o Estoicismo, o Epicurismo e o Cinismo, refletindo sobre suas diferentes concepções de mundo e suas consequentes formas de vida. O curso explora, principalmente, como os pensadores dessas escolas propunham exercícios espirituais e uma arte de viver, conceitos que permanecem relevantes nos dias de hoje.

  3. Jornada da Filosofia: Vida e Morte no Ocidente

    Com uma abordagem interdisciplinar, este curso examina como o pensamento ocidental lida com a finitude humana. Ele conecta as raízes filosóficas do estoicismo com questões psicológicas e políticas, oferecendo uma compreensão mais ampla sobre como viver e morrer com significado e serenidade.

  4. Trilha da Filosofia | 2ª Temporada

    Esta série propõe uma jornada que aborda, de maneira introdutória, alguns dos principais pensadores, temas e conceitos da história do pensamento filosófico. Com a orientação dos professores Franklin Leopoldo e Silva e Oswaldo Giacoia Junior, o curso esclarece questões fundamentais para o aprendizado da filosofia. Como é o caso do pensamento de Aristóteles (384-322 a.C.) e Santo Agostinho (354-430), do estoicismo e epicurismo do período helenístico. O curso também inclui temas como a Teoria do Justo Meio, os conceitos de Transcendência e Imanência, e a questão do espírito como a fonte principal de todo conhecimento, assim como Deus como fundamento radical do conhecimento.

Explore essas leituras e cursos para aprofundar seu conhecimento sobre o estoicismo e aprender a como praticar essa filosofia em sua vida cotidiana!

A plataforma Casa do Saber + tem uma categoria de cursos inteiramente dedicada ao estudo da filosofia, desde a antiguidade até os dias atuais. Acesse para assistir a todos os cursos indicados acima e muito mais.

Conclusão:

Ao final da leitura, devemos nos perguntar: é então possível praticar o estoicismo nos dias de hoje ou estamos condicionados a sucumbir às pressões de uma sociedade que prioriza o imediatismo e o materialismo?

Ou ainda, é realmente viável pensar em uma filosofia de práxis individual em meio a um sistema com falhas estruturais?

A resposta depende do ponto de vista a ser abordado, compreendendo que as filosofias apontam não para a solução absoluta de todos os dilemas humanos, mas para caminhos que auxiliam na reflexão, no enfrentamento das adversidades e na busca por uma vida mais alinhada aos próprios valores.

O estoicismo, nesse sentido, se destaca como uma prática acessível e adaptável ao cotidiano moderno, reconhecido por promover a resiliência individual diante das incertezas externas.

Embora seja interessante reconhecermos as limitações impostas pelo contexto social, destaca-se que o estoicismo também desafia o indivíduo a agir com virtude e propósito, independentemente das circunstâncias.

Em última análise, o estoicismo oferece um convite para olharmos mais profundamente para nós mesmos e para as circunstâncias à nossa volta.

Assim, mais do que uma resposta definitiva, essa escola filosófica antiga nos faz refletir sobre como podemos moldar nossas escolhas e atitudes para encontrar significado em meio ao caos.




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Referências

¹SANTOS, Kleys Jesuvina dos. A influência do estoicismo na filosofia de Foucault. Kinesis, Marília, v. 11, n. 28. 2019. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/kinesis/article/view/9140. Acesso em: 25 set. 2024.


GAZOLLA, Rachel. Representação compreensiva: critério de verdade e virtude no Estoicismo Antigo. Revista da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, v. 19, n. 2, 2006. Disponível em: https://www-periodicos-capes-gov-br.ez40.periodicos.capes.gov.br/index.php/acervo/buscador.html?task=detalhes&source=&id=W1511359753. Acesso em: 25 set. 2024.

Antropocentrismo: o que é, conceitos, bases e controvérsias
Tainá Voltas
Antropocentrismo: o que é, conceitos, bases e controvérsias
Entenda o que é o antropocentrismo, como essa doutrina filosófica influenciou as ciências ocidentais e porquê ela é questionada atualmente.

Se você busca um resumo sobre o antropocentrismo, seus conceitos, ideias, além de um aporte sobre qual visão essa corrente defende, está no lugar certo. Ao longo desse artigo, vamos destrinchar o tema a partir do seguinte guia:



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De forma geral, podemos definir o antropocentrismo como um conceito filosófico que acredita na importância e preponderância do potencial humano, principalmente em comparação às demais coisas que compõem o universo.

Ou seja, tem como objeto de estudo o ser humano, compreendendo-o como um ser dotado de inteligência e que, por isso, é capaz de usar a razão para explicar o cosmos, a vida e os elementos que estão ao seu redor.

Trata-se de uma visão de mundo que usa o “homem” como principal referencial, ou que interpreta a realidade sob uma perspectiva dos valores, feitos e experiências humanas.

Desenho homem Vitruviano.
Desenhado por Leonardo da Vinci em 1490, o Homem Vitruviano é um dos mais conhecidos símbolos do antropocentrismo e do renascimento. As proporções matemáticas da imagem são destacadas como forma de enaltecer a simetria básica do corpo humano, destacando o olhar cuidadoso do pintor para o ser humano e para as medidas matemáticas. (Fonte: Leonardo Da Vinci - Photo from Luc Viatour.. 2007-09-08)


Qual o conceito de antropocentrismo e como ele influenciou a Filosofia Moderna?

Para compreender o que é o antropocentrismo é necessário, primeiro, saber sobre quais bases essa filosofia foi desenvolvida.

A visão antropocêntrica está associada diretamente à queda da Idade Média, da acepção medieval de mundo e do referencial predominante à época - o teocentrismo. Enquanto este acreditava em uma realidade totalmente orientada por e para Deus, advindo daí o termo "teo (Deus) + centrismo (centro)", o antropocentrismo propunha uma crítica direta a tal modelo.

Dessa forma, utilizava o "homem" como seu ponto de partida para a compreensão do universo, explicando os fenômenos cosmológicos e naturais não mais pela lógica da fé, mas sim pela racionalidade.

Assim, podemos definir o antropocentrismo como uma visão de mundo racionalista e científica, que tem o ser humano como figura central, priorizando a experimentação como seu método oficial de checagem dos fatos.

Quando surgiu o antropocentrismo?

O antropocentrismo foi estruturado em meados do século XV e XVI, enquanto a Europa passava por grandes transformações, tais quais as navegações, a reforma protestante, o surgimento da burguesia, entre outros marcos históricos que indicavam a ruptura do sistema feudal com a passagem para a dinâmica mercantil/capitalista.

Na prática, o conceito filosófico fez parte do movimento humanista renascentista, que buscava incentivar a reflexão a partir da cientificidade, afastando-se diametralmente da crença de uma realidade condicionada às vontades de uma divindade.

Por fazer tal crítica ao teocentrismo e por estabelecer novos caminhos para a filosofia moderna em geral, o antropocentrismo influenciou significativamente o desenvolvimento de diversas áreas do conhecimento, como as ciências naturais, a política e a arte.

Figura de Nicolau Copérnico
Nicolau Copérnico (1473 - 1543) é reconhecido por ter desenvolvido a teoria do “Heliocentrismo”, a qual acreditava que a Terra girava ao redor do sol e não o contrário - como se acreditava até então. A partir dessa perspectiva, o teocentrismo e o geocentrismo (defendidos pela Igreja Católica) passaram a ser questionados tecnicamente, o que contribui para uma transformação dos paradigmas de compreensão do mundo e da humanidade. Os estudos Copérnicos são considerados marcos pioneiros do antropocentrismo.(Fonte: Domínio Público)


Esse pensamento voltado ao ser humano foi essencial para a consolidação do racionalismo, abrindo espaço, inclusive, para que outras escolas filosóficas importantes prosperassem, como o empirismo e o iluminismo. Ambas valorizavam a razão e a experiência humana como fontes de conhecimento, adequando suas pautas aos ideais antropocêntricos.

Assim, a partir da sistematização do antropocentrismo, a sociedade ocidental passou a se organizar de modo a objetivar o progresso humano, o desenvolvimento tecnológico e a exploração dos recursos naturais para benefício da humanidade e do seu avanço.

Nesse contexto, a subordinação a uma ordem divina foi abdicada, ao passo que outras fontes de verdade, que não aquelas dispostas nas liturgias religiosas, passaram a ser consideradas legítimas.

Ainda que a fé continuasse como parte constitutiva da realidade da época, não sendo deixada de lado, o antropocentrismo possibilitou que a realidade também fosse confrontada com a racionalização.

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O curso apresenta um panorama das bases do pensamento ocidental, do renascimento à virada do século XX. Galileu e Copérnico, Descartes, Locke, Kant, Maquiavel a Adam Smith, Marx, John Stuart Mill, Max Weber, entre outros. Aprenda com a Casa do Saber +!

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Diferença entre teocentrismo e antropocentrismo

Tanto o antropocentrismo quanto o teocentrismo desempenharam papeis fundamentais na formação do pensamento ocidental ao longo dos séculos, mas diferem-se essencialmente em seu ponto de partida para interpretar a realidade.

No teocentrismo, Deus é o centro absoluto e ocupa uma posição de superioridade hierárquica em relação a todas as outras coisas no universo, sendo a divindade a única fonte legítima para explicar o mundo natural e a vida humana. Essa visão teocêntrica foi amplamente promovida pela Igreja Católica durante a Idade Média, reforçando sua autoridade e influência sobre a sociedade.

Com o surgimento do antropocentrismo, porém, a centralidade foi transferida do divino para o ser humano, destacando a racionalidade e a experimentação científica como as principais formas de interpretar a realidade.

Aspectos Teocentrismo Antropocentrismo
Conceito Visão de mundo que coloca Deus como o centro de tudo, sendo a divindade a fonte de explicação do universo e da vida humana. Perspectiva filosófica que coloca o ser humano como o centro do universo, explicando a realidade a partir da racionalidade e da experiência humana.
Período Predominou durante a Idade Média (séculos V-XV). Surgiu no Renascimento (séculos XV-XVI), com forte influência nas eras subsequentes.
Fundamentos Explicação dos fenômenos a partir da fé e das escrituras sagradas. Busca pela explicação científica, racional e metodológica dos fenômenos.
Figura central Deus e as divindades. O ser humano, com ênfase em sua capacidade de raciocínio.
Relação com a ciência A ciência subordinada à teologia e aos dogmas religiosos. A ciência desvinculada da religião, centrada na observação, experimentação e raciocínio lógico.
Expoentes Santo Agostinho (354-430), Tomás de Aquino (1225-1274). Leonardo da Vinci (1452-1519), Nicolau Copérnico (1473-1543), René Descartes (1596-1650).



O filósofo alemão Ludwig Feuerbach (1804 - 1872), em sua crítica às religiões e ao teocentrismo, sugeria que ambos os paradigmas não seriam necessariamente opostos, mas sim duas faces de uma mesma moeda.

Para ele, as religiões teriam sido criadas para atender às necessidades humanas, funcionando como uma projeção dos anseios e fragilidades do ser humano.

Nesse sentido, mesmo o teocentrismo, que colocava Deus no centro, serviria indiretamente ao homem oferecendo consolo e explicações que ajudassem a minimizar suas angústias existenciais.

Contudo, a maioria dos estudiosos e a visão comum tendem a interpretar o antropocentrismo e o teocentrismo como entendimentos contrastantes, alicerçados nas diferenças evidenciadas na tabela acima.

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Resumo do Antropocentrismo em 10 tópicos

Para sistematizarmos o conhecimento, vamos compreender o que é o antropocentrismo por meio de um resumo do que apresentamos até aqui.

Dizemos, assim, que o antropocentrismo refere-se à uma visão e a um conjunto de ideias que tem o ser humano como seu referencial de compreensão de mundo.

É uma das principais críticas ao teocentrismo, tendo como objetivo a observação das relações humanas, sociais e naturais a partir da racionalidade, da cientificidade e da experimentação.

Ao promover essa ruptura com a perspectiva teocêntrica, o antropocentrismo se tornou um pilar fundamental do pensamento moderno, moldando disciplinas como a ciência, a política, a filosofia e a ética.

Antropo (homem) + centrismo (centro).

Assim:

  1. É estruturado em meio à queda da Idade Média, do sistema feudal e da crise do teocentrismo (séculos XV e XVI);
  2. Faz parte do humanismo renascentista e tem na figura de Nicolau Copérnico um de seus marcos criadores;
  3. Prioriza o ser humano como figura central;
  4. Distancia-se da visão de mundo subordinada às vontades de uma divindade e das escrituras religiosas (teocentrismo);
  5. Difunde o pensamento científico, tecnicista e metodológico;
  6. Propõe uma perspectiva na qual o ser humano é o ponto central.
  7. Marca o início da Idade Moderna e também do sistema econômico mercantil (capitalista).
  8. Impactou as artes e as culturas, refletindo em uma produção artística que se preocupava com a representação do corpo humano, das perspectivas geométricas e do indivíduo como centro das obras.
  9. Influenciou um novo olhar para a ética e a moral, assim como a filosofia moderna, afastando esses conceitos dos preceitos religiosos de bom e ruim, bem e mal.
  10. Foi abordado por diversas áreas para além da filosofia, utilizado, inclusive, como discurso de justificação para a exploração dos recursos naturais e do meio ambiente.

Dicionário Michaelis



antropocentrismo

an·tro·po·cen·tris·mo

sm


Filos, Rel Sistema filosófico ou crença religiosa que considera o homem como o fato central ou mais significativo do Universo ou, ainda, como objetivo último de toda a realidade.




Qual a principal ideia do antropocentrismo?

A principal ideia do antropocentrismo é a valorização do ser humano como o centro de todas as coisas.

O homem deixa de ser um espectador passivo dos desígnios divinos, tornando-se um agente ativo da busca pelo conhecimento e da transformação da realidade.

Para isso, utiliza a inteligência e a razão, desenvolvendo condições ideias para que as diversas hipóteses acerca do que ocorre à nossa volta sejam empiricamente testadas e validadas.

Além disso, estabelece uma crítica robusta ao teocentrismo e aos ideais da Igreja Católica, assim como é um dos grandes marcos da filosofia moderna, das ciências, artes, cultura, entre outros campos.

Qual é a visão antropocêntrica?

A visão antropocêntrica é fundamentada na crença de que o ser humano ocupa uma posição privilegiada no universo, dotado de inteligência e racionalidade para moldar e transformar seu ambiente.

Nessa perspectiva, a humanidade não é mais subjugada por forças místicas ou divinas, mas, sim, torna-se o centro da reflexão filosófica, científica e moral.

Críticas modernas e as controvérsias do antropocentrismo

Ainda que o modelo antropocêntrico tenha guiado significativamente a filosofia ocidental, a necessidade de uma nova relação entre a humanidade e a natureza, na qual não há mais a sobreposição da primeira à segunda, propicia o debate acerca da sua falibilidade.

Na prática, o crescimento da consciência ecológica moderna, as urgências climáticas constantes e as questões ambientais refletem também na reavaliação das bases antropocêntricas e na proposição de outros paradigmas, tais quais o biocentrismo - uma visão mais holística e inclusiva, que reconhece a importância de todos os seres vivos e da natureza como um todo.

O biocentrismo questiona a centralidade do ser humano e defende que a natureza e o meio ambiente possuam acesso à dignidade e proteção, sendo sujeitos de direitos em sua própria essência.

Tal mudança de referencial é exemplificada, por exemplo, na Constituição do Equador de 2008 - a primeira do mundo a reconhecer a natureza como sujeito de direitos, equiparando-a à dignidade humana.

esquema que explica a lógica antropocêntrica e biocêntrica.
Na dinâmica estabelecida à esquerda (antropocêntrica), o ser humano encontra-se em posição de superioridade em relação aos demais elementos; já no biocentrismo, há uma proposta para que todos os seres da natureza/meio ambiente coexistam em harmonia e com iguais direitos.


Além disso, as críticas contemporâneas ao antropocentrismo não se limitam apenas à sua visão restrita sobre a natureza, como também apontam para a sua origem e implicações sociais.

Em muitos de seus desdobramentos, o antropocentrismo é frequentemente associado a uma perspectiva eurocêntrica, que privilegia a experiência e a visão de mundo do "homem europeu", deslegitimando outras culturas, etnias, gêneros e formas de vida.

Por isso, as perspectivas que têm emergido nos últimos anos representam um convite à construção de novos modelos e conceitos que priorizam a sustentabilidade, a justiça social e o respeito mútuo.

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Referências:

DAITX, Vanessa Vitcoski. O ensino de ciências e a visão antropocêntrica. 2010. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Biociências, Comissão de Graduação do Curso de Ciências Biológicas, Porto Alegre, 2010. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/35277#:~:text=O%20antropocentrismo%20consiste%20na%20vis%C3%A3o,n%C3%A3o%20sustent%C3%A1vel%20dos%20recursos%20naturais Acesso em: 20 out. 2024.







O que é o estoicismo? Entenda os pilares, conceitos e significados
Tainá Voltas
O que é o estoicismo? Entenda os pilares, conceitos e significados
Criado há mais de 2000 anos, o estoicismo encontra adeptos ainda hoje. Entenda mais sobre a corrente filosófica marcada pela resiliência ao inevitável

Como reagir à imprevisibilidade da vida e qual o seu sentido? Essas são as principais questões do estoicismo, uma escola filosófica potente na Grécia Antiga, mas que ainda hoje produz efeitos significativos ao incentivar reflexões acerca da felicidade, desapego e apatia.

Neste texto você viajará rumo ao período helenístico, nos séculos IV, III e II a.C, para conhecer a importante filosofia estoica e o seu significado. Faremos isso a partir do seguinte roteiro:

  • O que é o Estoicismo
  • Os Pilares do Estoicismo
  • Estoicismo vs. Cinismo: Diferenças Essenciais
  • Os Principais Filósofos Estoicos: Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio


Pintura de Epicteto, um dos expoentes filósofos do estoicismo.
Ao lado de Marco Aurélio e Sêneca, Epicteto foi um dos expoentes filósofos estoicos (Fonte: Domínio Público)


Entenda o que é Filosofia, como surgiu, área de estudo,principais pensadores e melhores cursos para estudar online neste artigo!

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O que é o Estoicismo?

A observação da vida e a busca pela explicação de seus fenômenos é um traço comum na história da Filosofia Ocidental, independentemente da sua escola. Cada uma delas se empenhou para explicar essa equação (e ainda o faz) por meio de argumentos complexos e bastante aprofundados.

No estoicismo não foi diferente. A doutrina filosófica, fundada durante o período helenístico, sobretudo nas leis da natureza, se debruçava sobre a compreensão do sentido da vida, tendo a lógica e a razão como aliadas para esse processo.

De forma geral, a abordagem estoica tinha a felicidade com um fim último e acreditava alcançá-la através da aceitação da inevitabilidade da vida e do cultivo de uma resiliência emocional diante das adversidades e do que era imprevisível.

Ou seja, para o estoicismo a felicidade poderia ser palpável a partir do momento em que as emoções eram racionalizadas, os episódios da vida eram entendidos como pertencentes a uma teia natural e inevitável de causas e efeitos, e os esforços/desejos de mudança humanos eram direcionados para as coisas passíveis de serem controladas e não para aquelas alheias à nossa vontade, tal qual a morte.

Por esse motivo, a felicidade estoica figura como um dos temas mais difundidos e importantes da filosofia. Mas como essa escola foi idealizada?

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De que forma o Estoicismo começou?

Zenão de Cítio (333 a.C - 263 a.C), seu precursor, foi influenciado pela Escola de Cínica, a qual defendia o desapego aos bens materiais e deu origem à expressão cinismo*, a estruturar uma corrente de pensamento alicerçada na ideia de uma vida simples, distante dos vícios e medos e mais próxima da virtude.

* A ideia de cinismo associado à falsidade trata-se de uma perspectiva contemporânea acerca do tema, afastada da sua concepção original. Na Grécia Antiga, o cinismo descrevia, na verdade, o movimento dos “filósofos do desapego”, ou seja, aqueles não aficionados com a matéria/bens.

Para isso, praticava o ensino por meio de uma lógica cosmopolita - realizada em um ambiente aberto chamado "stoá", que traduzido dá conta de algo como Pórtico (uma ágora utilizada para difundir os pensamentos filosóficos da época e para propiciar discussões intelectuais sobre os mais variados temas).

Ágoras, espaços nos quais os filósofos estoicos disseminavam suas ideias. Estrutura arquitetônica romana.
O Stoá Poikilé, ou Pórtico Pintado, era o espaço destinado à transmissão das reflexões estoicas, em uma estrutura de pensamento livre e dinâmico (Designed by Freepik)



É dessa tradição, praticada por Zenão e outros filósofos, que a palavra estoicismo toma forma e que a doutrina, criada inicialmente na Grécia Antiga, se populariza para outras regiões, tal qual Roma, sendo, inclusive, uma das bases do cristianismo

A partir disso, a filosofia estoica foi abraçada por grandes nomes, como Marco Aurélio, Epicteto e Sêneca, expandindo seu significado conforme as especificidades de cada tempo.

Na era moderna, por exemplo, Foucault usou o pensamento estoico para destacar a relevância do desenvolvimento de uma escuta bem conduzida¹.

"Aprender a Viver: Como a Sabedoria Pode ser o Caminho para uma Vida Melhor"

Um convite às descobertas do pensamento de expoentes que moldaram a filosofia, desde Platão, Sêneca, Aristóteles e Tomás de Aquino, a Descartes, Espinosa, Nietzsche


Características do estoicismo

Em resumo, o estoicismo acredita que o ser humano faz parte e é habitado pela natureza (physis - Φύσις, em grego), de modo que acompanhá-la é, de igual modo, agir segundo nosso próprio ser (GAZOLLA, 2006).

Por esse motivo, a perfeição e virtuosidade está na compreensão de uma ligação intrínseca entre homem e natureza, que orienta a busca pela felicidade a partir da negativa aos desejos e do estabelecimento de uma razão em conformidade com as leis naturais do universo.

De acordo com a escola, o ser humano é a própria natureza, afastando-se dela quando atormentado pelas paixões:

(...) se a natureza é dita perfeita, se é divina, se todos os seres são excelentes por ela e nela, e seu modo de mover-se é eterno, o reverso é perguntar sobre as perturbações da perfeição e como são possíveis. Ora, as perturbações do mover-se perfeito têm nome na Stoa: são as paixões pleonásticas ou exacerbadas (GAZOLLA, 2006, p. 189).


Assim, para entender o que é o estoicismo, basta que compreendamos também a sua perspectiva ética baseada na ataraxia (ou indiferença/apatia) como forma de driblar a tendência humanoide ao afastamento da physis (natureza).

Para seus pensadores, a vida era determinada inafastavelmente por uma força cósmica equilibrada e harmoniosa, sobre a qual a virtude se estabeleceria em uma existência experienciada conforme desígnios da physis.

Desse modo, deveriam ser evitados os desejos vazios, os excessos, as paixões perturbadoras e as coisas supérfluas, à medida que a razão e a lógica seriam privilegiadas.

Na filosofia estoica, então, agir virtuosamente seria reconhecer o potencial do ciclo cósmico infindável, aceitando as mudanças sobre as quais não se teria controle, posicionando-se com resiliência frente à elas, e dedicando-se a alterar somente aquilo que fosse possível, como, por exemplo, as reações ao “não programável”.

Por essa razão, a máxima estoica é descrita como “a vida deve seguir a natureza", tese de autoria de Zenão.

Leis da Natureza Imutáveis O agir estoico
Morte Priorizar a qualidade de vida
Mudanças Aceitar a impermanência
Sofrimento Cultivar resiliência emocional
Incerteza Focar no controle sobre as próprias reações
Limitações humanas Buscar autoconhecimento e desenvolvimento pessoal
Destino Agir com virtude, aceitando o que não se pode mudar
Ciclo da vida Viver no presente. Valorizar cada momento


O estoicismo, estruturado há mais de 2 mil anos, continua reverberando suas reflexões e conquistando adeptos ao longo da história

Nos tempos contemporâneos, marcados pelos excessos (de informação, produção, consumo, acúmulo, entre outros), oferece respostas apaziguadoras para o ambiente caótico, pressionado cada vez mais pelo ritmo acelerado das transformações digitais.

Leia também:

“Por que estamos tão esgotados? Como a filosofia de Byung-Chul Han (Sociedade do Cansaço) nos oferece uma resposta!”


Assim, podemos definir o estoicismo como uma escola filosófica que procura dar respostas à inquietação humana, propondo um modo de vida sereno e guiado pela racionalização.

Trata-se de um exercício para privilegiar a razão como ferramenta para lidar com as emoções, afastando os vícios e cultivando as virtudes.

Mauricio Marsola , professor de história e filosofia da Unifesp, contribui para a acepção do conceito, em um material produzido pela Casa do Saber:

“Para o estoicismo o mundo é um grande sistema composto de relações causais necessárias. É uma racionalidade plena, na qual todas as coisas concorrem para uma harmonia maior. A isso os estoicos chamam de logos (o que também pode ser compreendido como physis, ou Deus). Cabe a nós criarmos uma harmonia em nossa alma que reproduza a harmonia do cosmos”

Assista na íntegra:



Os componentes e os pilares do estoicismo

Como vimos, o estoicismo propõe uma lógica de pensamento realista, que não idealiza o mundo, mas sim o aceita tal como é.

Nesse contexto, a apatheia (indiferença às emoções perturbadoras da paixão) é compreendida como um pré-requisito para um estado de paz interior, conhecido como ataraxia.

Componentes do estoicismo

Para concretizar a sua doutrina e tornar o objetivo acima factível, o estoicismo sugere ainda um sistema para pensar a filosofia, metaforicamente, como um organismo vivo, interconectado e interdependente, assim como formado por três componentes:

"Os antigos estóicos, como se sabe, criam um interessante sistema para pensar a Filosofia no qual todas as partes, absolutamente interligadas, são metaforicamente expostas como se fosse um organismo. Uma das metáforas é a de que os ossos e nervos seriam a Lógica, a carne seria a Ética e a alma, a Física" (GAZOLLA, 2006, p. 185)


Pilares do estoicismo

Além disso, a sabedoria estoica se traduz no exercício de um trabalho de consciência interior, que leva em consideração os campos que podem ser realmente modificados pelo ser humano.

Nesse sentido, surgem as virtudes cardeais, também enquadradas como os 4 pilares ou modos de atuação do estoicismo, quais sejam:

  1. Sabedoria: entender as dinâmicas do mundo de uma maneira lógica e calma, com discernimento sobre o que é realmente importante. Fazemos isso por meio da meditação, da leitura de textos filosóficos, do ensino, e através das nossas experiências.

  2. Justiça: agir com equidade e sem impulsividade, considerando as consequências das ações em relação ao próximo.

  3. Coragem: ter o conhecimento do que deve ser temido e o que deve ser suportado, sendo uma ferramenta incrível para o enfrentamento das adversidades com bravura.

  4. Moderação (ou Temperança): equilibrar os desejos, minimizar os vícios e experimentar as virtudes. Trata-se de evitar os excessos e buscar constantemente a harmonia.


Para o estoicismo, esses 4 pilares, que se complementam e se retroalimentam, performam a base da virtuosidade plena.




Estoicismo vs. Cinismo: Diferenças Essenciais

As duas correntes emergiram na Grécia Antiga, compondo as chamadas filosofias helenísticas - as quais são caracterizadas por se preocuparem com a ética, felicidade e bem-viver.

Porém, embora se entrelacem e se aproximem em uma ideia central (busca por uma harmonia com a natureza), tais escolas possuem diferenças significativas, sobretudo quanto à radicalidade das suas percepções.

Enquanto o cinismo enfatiza o desapego e a rejeição total das convenções sociais, o estoicismo busca uma aceitação ativa da realidade, propondo a virtude como um caminho para a felicidade.

Estoicismo Cinismo
Principais Expoentes Sêneca, Epicteto, Marco Aurélio. Diógenes de Sinop, Crates de Tebas.
Visão de Mundo Harmonia entre homem e universo. Rejeição das normas e convenções sociais
Relação com a Virtude Aceitação e racionalidade. Desprezo pelas convenções e comodidades.
Conceito de Felicidade Alcançada por meio da aceitação do inevitável e da busca pela mudança daquilo que pode ser controlado. Encontrada na harmonia com a natureza.
Autonomia Aceitação do que não se pode controlar. Autarquia e controle sobre a própria vida.


Os Principais Filósofos Estoicos

1) Sêneca

Nascido em 4 a.C, Sêneca foi um dos mais influentes filósofos e o principal expoente do estoicismo no Império Romano.

Faleceu em Roma, no ano 65 d.c, acusado de conspiração contra o imperador Nero, mesmo que tivesse sido seu preceptor anteriormente. O episódio é narrado no quadro “A Morte de Sêneca”, de Jacques-Louis David (1748–1825).

Pintura a morte de Sêneca
La morte di Seneca, olio su tela, Musée du Petit-Palais, Parigi, de Jacques-Louis David (1748–1825) (Fonte: Domínio Público). Acusado, junto a Pisão, de conspiração para o assassinato planejado de Nero, Sêneca foi obrigado a tirar a própria vida. Não houve qualquer tipo de julgamento. O quadro retrata o momento em que o filósofo cumpre seu destino na presença de amigos.



Entrou para a história não só como um exímio filósofo, como também um humanista dedicado, além de excelente orador, escritor, advogado e político.

Enfatizava a importância da razão e do autoconhecimento, acreditando ser a reflexão sobre a vida o caminho para a verdadeira felicidade.

Além disso, como diferencial, preocupou-se e se indispôs contra as desigualdades entre os homens, sendo avesso à escravidão e à distinção social.

Tem como umas de suas principais obras a "Sobre a brevidade da vida", um ensaio moral dedicado a seu amigo Paulino, pelo qual o autor discrimina vários princípios estoicos - entre eles a natureza do tempo e o tempo gasto na perseguição de objetivos sem valor.

"Nós sofremos mais na imaginação do que na realidade." - Sêneca
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2) Epicteto

Epicteto (55 d.C - 135 d.C), é um dos mais respeitados filósofos estoicos da Antiguidade e, ao lado de Sêneca e Marco Aurélio, faz parte da terceira fase estoica, chamada de “Novos Estoicos”*.

Escravo por muito tempo em Roma, após ser libertado dedicou sua vida à filosofia e aos ensinamentos sobre a verdadeira liberdade. Para ele, ser livre não dependia da posição social, mas da capacidade de controlar as próprias reações diante dos eventos da vida.

Na sua perspectiva, a essência do estoicismo estava na separação clara entre o que está sob o controle humano (ações, pensamentos e atitudes) e o que não está (as circunstâncias externas).

Seu ensinamento foi registrado principalmente no texto Manual e em alguns discursos assinados por seu discípulo Flávio Arriano, tendo em vista que ele próprio, assim como Sócrates, não deixou nada escrito.

Em tais obras o filósofo explora a importância da aceitação das adversidades com serenidade, refletindo em uma postura prática para enfrentar os desafios cotidianos.

Depois de exilado pelo imperador Domiciano, junto com outros filósofos romanos, decidiu abrir a própria escola, em Nicópolis, local onde faleceu anos mais tarde.

*

  • A primeira fase do estoicismo é representada Zenão de Cítio, Cleantes de Asso e Crisipo de Solunte (ou de Sole);
  • A segunda fase, ou médio estoicismo, é caracterizada pelos nomes de Panécio de Rodes e Posidônio.


“A felicidade e a liberdade começam com a clara compreensão de um princípio: algumas coisas estão sob nosso controle, outras não” - Epicteto



3) Marco Aurélio

Marco Aurélio (121 d.C.a 180 d.C.) foi um dos mais célebres imperadores romanos, responsável pela autoria de uma obra bastante aclamada no estoicismo: o livro Meditações, um conjunto de reflexões pessoais que escreveu ao longo de sua vida.

Como líder do maior império da época, enfrentou inúmeras adversidades, tanto políticas quanto militares, o que o orientou ao estoicismo como ferramenta para contornar os desafios

Por esse motivo, ficou conhecido como o “monarca-filósofo”, cujo traço proeminente era valorizar os prazeres da alma e face daqueles do mundo material. Para ele, a vida se apresentava como uma oportunidade para agir de forma ética e virtuosa, independentemente das circunstâncias externas.

Embora fosse o homem mais poderoso de seu tempo, defendia uma visão mais humilde da existência, com a crença de que tudo na vida, inclusive a morte, deveria ser aceito com serenidade, uma vez que faria parte da ordem natural do universo.

"A felicidade da vida depende da qualidade de nossos pensamentos." - Marco Aurélio



Conheça também o que pensava Santo Agostinho, um dos mais importantes nomes da história da filosofia e teologia

Os três pensadores foram essenciais para o desenvolvimento e disseminação do estoicismo e também para a filosofia Ocidental, influenciando a observação do mundo e da vida ainda hoje.






Referências:

¹SANTOS, Kleys Jesuvina dos. A influência do estoicismo na filosofia de Foucault. Kinesis, Marília, v. 11, n. 28. 2019. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/kinesis/article/view/9140. Acesso em: 25 set. 2024.


GAZOLLA, Rachel. Representação compreensiva: critério de verdade e virtude no Estoicismo Antigo. Revista da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, v. 19, n. 2, 2006. Disponível em: https://www-periodicos-capes-gov-br.ez40.periodicos.capes.gov.br/index.php/acervo/buscador.html?task=detalhes&source=&id=W1511359753. Acesso em: 25 set. 2024.







Artes, Literatura e História
Impressionismo: Obras, Características, Claude Monet, Pinturas
Xavana Celesnah
Impressionismo: Obras, Características, Claude Monet, Pinturas
Impressionismo: Movimento artístico, obras de Monet, Degas, Renoir, estilo impressionista, pinceladas rápidas e captura de momentos

Impressionismo: O que é, Características, Principais Artistas

O impressionismo foi um divisor de águas na arte do mundo ocidental do final do século XIX. Os artistas que criaram esse movimento na França estavam insatisfeitos com as limitações impostas pela academia, que definia quais deveriam ser os temas das obras de arte, bem como as cores utilizadas e a técnica aplicada. Até mesmo o local onde os artistas produziriam suas telas era imposto: tinha que ser no atelier.

Os impressionistas bateram de frente com esses “dogmas” acadêmicos e foram em busca da liberdade criativa. Nomes como Claude Monet e Pierre-Auguste Renoir estudaram a fundo as cores e a luminosidade, percebendo que os contornos nítidos das pinturas feitas até ali não condiziam com a realidade. Assim, criaram pinturas com pinceladas mais soltas, abandonando a nitidez e criando efeitos visuais inovadores a partir da indefinição dos contornos e do uso de cores variadas, inclusive nas sombras. Inicialmente, o movimento foi depreciado pela crítica, mas logo as pessoas passariam a compreender a proposta impressionista que marcou um ponto de virada na História da Arte.

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Como surgiu a Pintura Impressionista?

O impressionismo nasceu na segunda metade do século XIX, na França. O contexto histórico da época foi marcado pelas consequências da Revolução Francesa do final do século XVIII, que tinha promovido uma verdadeira ruptura com a tradição. A quebra de paradigmas sociais abriu espaço para os artistas questionarem também os preceitos das Escolas de Belas Artes.

A primeira metade do século havia sido marcada pela volta ao clássico, com o neoclassicismo. Esse movimento iria conviver com o romantismo, expressão artística que, dentre outras características, se voltou bastante para a natureza, com o desenvolvimento de muitas pinturas de paisagens. É nesse cenário que surge o impressionismo.

Os artistas não estavam mais interessados em pintar temas históricos ou mitológicos. Agora, havia um interesse maior pelas cenas do cotidiano, que não estavam entre os grandes temas acadêmicos. Aliás, chocar a burguesia a partir da escolha de novos temas e do uso de técnicas diferenciadas acabou virando uma espécie de desejo dos jovens artistas da época, que se consideravam uma espécie de classe à parte da sociedade.

É nesse momento que entra em jogo a representação da realidade e os artistas do impressionismo ousaram ao inventar novas soluções criativas que desafiavam as convenções artísticas da época. O maior interesse da pintura impressionista era capturar a luz e o movimento, da maneira como os vemos, com toda a sua fugacidade. Assim, os artistas passaram a pintar ao ar livre e criaram novas imagens, voltadas para temas do cotidiano, onde realizavam seus estudos de cor, luz e movimento. Com suas pinturas, questionam os contornos bem delineados da pintura feita nos ateliês, pois percebem que na natureza, ao ser observada ao ar livre, não existiam essas linhas tão definidas.

As pinceladas desmembradas, a mistura de cores vibrantes e as novas concepções a respeito da representação do mundo fizeram com que o impressionismo influenciasse todas as futuras expressões da arte moderna. A ideia era confiar nos próprios olhos e não mais seguir as receitas prontas dadas pela academia sobre o que é a arte.

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A primeira exposição Impressionista

A Academia de Belas Artes, que organizava a curadoria do tradicional Salão Oficial de Paris, no ano de 1874, recusou obras de diversos artistas. Foi assim que aconteceu o Salão dos Recusados. No dia 15 de abril deste mesmo ano, cerca de 30 artistas que não haviam sido selecionados para a mostra oficial, dentre eles Claude Monet, Edgar Degas, Pierre-Auguste Renoir, Édouard Manet, Berthe Morisot e Paul Cézanne resolvem expor no atelier do fotógrafo Félix Nadar.

É quando Monet expõe o seu quadro Impressão: Nascer do Sol que causa bastante polêmica. Era uma pintura rápida, quase um esboço, cujo objetivo era captar as impressões daquele momento. Tornou-se a pintura mais marcante do impressionismo e foi justamente a ela que um crítico de arte se referiu ao desqualificar as obras da exposição. No livro A História da Arte, do historiador Ernst Gombrich, uma crítica ao movimento foi transcrita:

“A Rua Le Peletier é uma sucessão de desastres. Após o incêndio na Ópera, temos agora uma outra catástrofe. Acaba de ser lançada uma exposição na Durand-Ruel que supostamente contém pinturas.

Entro, e meus olhos horrorizados são assombrados por uma visão terrível. Cinco ou seis lunáticos, entre eles uma mulher, reuniram-se para expor suas obras. Vi gente chorando de rir diante das telas, mas meu coração verteu sangue quando as vi. Esses pretensos artistas autointitulam-se revolucionários, “impressionistas”. Pegam um pedaço de tela, tinta e pincel, besutam-na com manchas aleatórias e assinam seu nome. É uma ilusão como se internos de um hospício pegassem algumas pedras na rua e julgassem ter encontrado diamantes.”

(Nota publicada em uma revista humorística semanal em 1876)

Quadro 'Impressão: Sol Nascente' de Claude Monet, pintado em 1872. Retrata uma cena ao amanhecer, com sol laranja brilhante refletindo na água, cercado por barcos e uma névoa suave, utilizando pinceladas soltas e cores vibrantes.
Impressão: Sol Nascente, Claude Monet. 1872. Óleo sobre tela, 48X63 cm. Museu Marmottan, Paris.


Apesar da crítica pejorativa, os artistas acabam adotando o termo para se autodenominarem. E assim como aconteceu com outros movimentos, como o cubismo e o barroco, o impressionismo foi batizado a partir de um comentário negativo.

A pintura impressionista estava interessada no instante, no momento imediato que pode ser captado pelo olhar sensível. Os artistas deste movimento tinham uma percepção fenomenológica da realidade, eles não estavam preocupados com o que pensamos ser a realidade, mas sim em como ela aparece diante dos nossos olhos.

Por isso, eles são considerados revolucionários na arte. Foram os primeiros a perceber a mistura das cores na natureza e a pintá-las. A questão do movimento também foi essencial para os pintores. Eles mostraram o movimento a partir de uma nova perspectiva: focavam em um único acontecimento da cena e o restante aparecia de forma desfocada, como um amontoado de formas indefinidas. Isso tudo demonstra o interesse desses artistas pelo estudo de óptica. Possivelmente, o surgimento da fotografia no início do século XIX contribuiu para as novas concepções desses artistas a respeito da captação da realidade a partir dos nossos olhos.

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Quais são as características do Impressionismo?

O movimento impressionista ficou marcado por suas inovações técnicas e ideológicas. Os artistas do movimento se inspiraram em cenas do dia a dia, observando paisagens, pessoas e atividades sociais, como danças e festividades.

Ao invés de produzir imagens que traziam os tradicionais temas históricos ou mitológicos, as obras impressionistas mostravam momentos efêmeros, como encontros de pessoas em tardes ensolaradas. Dentre as principais características do movimento, destacam-se:

  • A inovação nas pinceladas: os artistas pintam de uma forma diferente, fazendo pinceladas mais curtas e livres na tela. Assim, criam uma sensação de movimento e uma maior dinâmica de cores, que deixam de ser estáticas e frias.
  • Abandono dos Contornos Nítidos: os contornos das obras impressionistas são propositalmente indefinidos, sugerindo as formas, em vez de criar delineados.
  • Uso de cores vibrantes: as cores dos impressionistas se misturam e são aplicadas muitas vezes diretamente na tela. Isso porque os artistas pintavam o efêmero e não tinham mais tempo para realizar uma minuciosa mistura de cores. A ideia agora era captar o instante.
  • Pintura ao ar livre: influenciados por Monet, que era um grande defensor da pintura ao ar livre, os impressionistas saem dos ateliês para observarem as cenas in loco.
  • Estudo da luz: a luz natural estava entre os temas centrais para os impressionistas. Em todas as composições, o elemento da luminosidade era central. A partir do estudo da luz, os artistas criaram obras com uma nova percepção das cores. Isso se refletiria, inclusive, nas sombras que ganharam nuances e deixaram de ser um reflexo amorfo e uniforme.
  • Momentos Efêmeros: o artista agora estava pela primeira vez tendo a liberdade de escolher os seus temas. Não precisava mais fazer uma pintura oficial. Dessa maneira, tudo poderia ser fonte de inspiração, como o nascer do sol ou um passeio de barco.
  • Representação do Movimento: no impressionismo, o movimento ganha um novo brilho. As cenas não parecem estáticas, pois com o uso das novas técnicas, os artistas conseguem capturar o instante de uma maneira mais dinâmica.

Principais Artistas do Impressionismo

Aqui está uma pequena tabela com os principais pintores do movimento impressionista.

Pintores Impressionistas Características Principais Obras
Claude Monet Foi o primeiro grande nome da pintura impressionista. A partir do quadro dele intitulado Impressão: Nascer do Sol, o movimento foi nomeado. Teve influência da arte japonesa e chegou a cultivar um jardim aquático japonês. - Impressão: Nascer do Sol (1872)

- Mulher com sombrinha (1875)
Pierre-Auguste Renoir Conhecido pelo seu estudo da luz, o pintor ficou famoso por pintar pessoas banhadas em uma luminosidade vibrante, preferencialmente em cenas ao ar livre. - O Baile no Moulin de la Galette (1876)

- O Almoço dos Barqueiros (1881)
Edgar Degas Consagrado por suas pinturas de balé clássico, Degas costumava frequentar os teatros para criar suas composições. - Sala de Ensaio do Balé no Teatro da Ópera (1872)

- Bailarinas no Palco (1879)
Edouard Manet Trouxe cenas do cotidiano para a pintura, abordando a nudez de forma crua e não idealizada. Trabalha muito bem o jogo de luz e sombras. - O Almoço na Relva (1863)

- Claude Monet pintando no seu barco-ateliê (1874)
Camille Pissarro Destaca-se pela captura da vida cotidiana e das paisagens, utilizando uma técnica de pinceladas rápidas e uma paleta rica em luz, que transmite os efeitos das mudanças sazonais e da luz natural. - O Boulevard Montmartre em uma Manhã de Inverno (1897)

- Praça do Teatro Francês (1898)
Berthe Morisot Uma das poucas mulheres do movimento, suas obras exploram a vida privada das mulheres, além de uma abordagem intimista e emocional que captura momentos efêmeros do cotidiano. - O Berço (1872)

- Mulher Jovem Tricotando (1885)


Principais Obras Representativas do Impressionismo

Confira a seguir algumas das principais obras impressionistas, além da já citada Impressão: Nascer do Sol, de Monet.

Mulher com Sombrinha (1875) | Claude Monet

Uma mulher elegante, vestida com um vestido claro é vista ao lado de um menino enquanto segura uma sombrinha em um dia ensolarado. Ela está em um campo florido, cercada por uma paisagem verdejante. A luz suave e difusa cria sombras delicadas e destaca os detalhes do vestido, transmitindo uma sensação de movimento e leveza, típica da estética impressionista.
Mulher com Sombrinha, Claude Monet. 1875. Óleo sobre Tela, 100 x 81cm. National Gallery of Art em Washington, Estados Unidos.


O Almoço dos Remadores (1880) | Pierre-Auguste Renoir

Um grupo de pessoas realiza uma celebração da vida social e o pintor capta a alegria e a luz do verão. As figuras estão em poses descontraídas, conversando e rindo, enquanto bebidas e pratos estão sobre a mesa.
O Almoço dos Remadores, Auguste Renoir, 1880. Óleo sobre tela, 130x173cm. The Phillips Collection, Washington, EUA.


Bailarina Balançando (1879) | Edgar Degas

Retrata uma cena das bailarinas dançando durante um espetáculo, destacando o movimento e o figurino.
Bailarina balançando (bailarina verde), Edgar Degas, 1879. Pastel e guache sobre papel, 64x36cm. Museu Nacional Thyssen-Bornemisza, Madrid.


Boulevard Montmartre, Manhã, Tempo Nublado (1897) | Camille Pissarro

Uma cena urbana retrata o Boulevard Montmartre em um dia nublado, com pessoas caminhando nas calçadas e carruagens na rua. Edifícios históricos cercam a área, e a paleta de cores suaves, com tons de cinza e marrom, reflete a atmosfera melancólica do clima. Pissarro utiliza pinceladas soltas para capturar a vida cotidiana e a luz difusa, criando uma sensação de movimento e dinamismo na cena.
Boulevard Montmartre, Manhã, Tempo Nublado, Camille Pissarro, 1897. Óleo sobre tela, 73 x 92 cm. National Gallery of Victoria, NGV. Melbourne , Victoria , Austrália.



O Berço (1872) | Berthe Morisot

Um delicado retrato da maternidade, com uma mulher diante do berço observando um bebê, refletindo um momento cotidiano da vida feminina.
O Berço, Camille Pissarro, 1872. Óleo sobre tela, 46 x 56 cm. Museu de Orsay, Paris, França.


Entenda o que Transforma um Trabalho Artístico em uma Obra de Arte

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Impacto e Legado do Impressionismo

O movimento impressionista revolucionou a arte do final do século XIX, abrindo espaço para uma nova forma de ver e representar o mundo. O pintor Claude Monet, que foi um dos pioneiros do movimento, mostrou a importância da captura da luz in loco. Além disso, a abordagem inovadora da pintura impressionista teve influência das gravuras japonesas. Foi dessa arte oriental que os artistas beberam para elaborar composições sem uma perspectiva central e com enquadramentos diferentes do habitual. Inclusive, o próprio Monet cultivava um jardim aquático de inspiração japonesa, de onde tirou a inspiração para pintar a série de quadros da sua ponte japonesa.

Quadro 'Ponte sobre um lago de nenúfares' de Claude Monet, pintado em 1899. A obra apresenta uma ponte curva sobre um lago repleto de nenúfares, com reflexos vibrantes na água e uma rica paleta de verdes.
Ponte sobre um lago de nenúfares, 1899, Claude Monet. 1872. Óleo sobre tela, 92,7 x 73,7 cm. Coleção HO Havemeyer, legado da Sra. HO Havemeyer, 1929


Monet e seus contemporâneos perceberam que a natureza não era apenas um objeto a ser retratado, mas uma experiência a ser vivida e transmitida. Ao adotar uma abordagem mais subjetiva, os impressionistas estabeleceram as bases para a Arte Moderna, permitindo que os artistas explorassem novas formas e técnicas que ainda não haviam sido concebidas. O uso de pinceladas curtas e rápidas, que parecem caóticas de perto, revela, ao serem observadas à distância, uma harmonia e vitalidade que desafia a percepção tradicional.

A resistência inicial ao Impressionismo foi significativa, com muitos críticos e o público não compreendendo imediatamente a proposta dos artistas. Era necessário um novo olhar, uma nova maneira de ver a arte. Essa necessidade de distância física para que a obra "ganhasse vida" demonstra a ruptura com as expectativas anteriores. Contudo, com o passar do tempo, o Impressionismo foi ganhando espaço e respeito, e artistas como Monet e Renoir alcançaram fama e reconhecimento em vida, consolidando seu legado em importantes coleções públicas.

Além disso, o Impressionismo preparou o terreno para movimentos subsequentes, como o Pós-Impressionismo e o Modernismo. Artistas como Paul Cézanne e Vincent van Gogh, que foram influenciados pelos impressionistas, continuaram a explorar novas formas de expressão, cada um à sua maneira. O pontilhismo, uma técnica desenvolvida no Pós-Impressionismo, exemplifica a evolução da experiência estética proposta pelos impressionistas.

O Impressionismo iniciou uma nova forma de perceber e representar o mundo, mas continuou querendo representá-lo. As transformações estéticas revolucionaram o fazer artístico, mas os artistas continuavam buscando ilustrar a realidade. A arte impressionista abriu caminhos para a inovação criativa que, posteriormente, iria se manifestar nas vanguardas europeias.

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Perguntas Frequentes sobre Impressionismo

O que é Impressionismo?
O Impressionismo é um movimento artístico que surgiu no final do século XIX, na França. É caracterizado pela captura da luz e do movimento através de pinceladas soltas e cores vivas.

Quais são as principais características do Impressionismo?
As características do movimento incluem o abandono dos contornos nítidos e o uso de pinceladas aleatórias, o uso de cores puras, a observação da natureza e a captura da luz do instante observado. Além disso, os artistas buscavam representar cenas simples do cotidiano.

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Referências:

https://www.marmottan.fr/en/

https://mam.org.br/

https://www.musee-orsay.fr/en

GOMBRICH, E.H. A História da Arte



Expressionismo: Características, obras, O Grito, Van Gogh, artistas
Xavana Celesnah
Expressionismo: Características, obras, O Grito, Van Gogh, artistas
Expressionismo alemão:arte anterior à I Guerra Mundial, principais obras, cinema, expressionismo abstrato, o que é a arte expressionista, artistas.

O expressionismo foi um movimento artístico que surgiu na Alemanha, no ano de 1905, como uma reação à proposta estética do impressionismo, que buscava realizar uma arte baseada em estudos de óptica, retratando a luminosidade e as imagens da maneira como as vemos. Ao contrário do impressionismo, o expressionismo procurava realizar uma arte onde a emoção do artista tivesse mais espaço do que a técnica.

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A expressão dos pintores, seus sentimentos e sua visão de mundo importavam mais do que o realismo para essa vanguarda modernista. A obra O Grito (1893), do norueguês Edvard Munch, é precursora do expressionismo e traz muitas de suas características, como a deformação das figuras e a temática pessimista. O movimento não ficou restrito à pintura, mas também se manifestou na literatura, no cinema, na arquitetura e na fotografia.

Neste artigo, vamos mostrar como surgiu a arte expressionista, seus principais artistas e cursos para você aprofundar seus conhecimentos na Arte Moderna. O artigo passará pelos seguintes conteúdos:



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O que é Expressionismo?

O expressionismo foi um movimento artístico que emergiu no início do século XX, com origem na Alemanha, que valorizava a visão particular de mundo de cada artista, bem como suas emoções íntimas. O movimento refletia um mundo em crise, marcado pela Revolução Industrial, pela urbanização crescente e por tensões sociais e políticas intensas.

Os artistas distorciam formas, cores e perspectivas para expressar sentimentos profundos de angústia, sofrimento e desespero, em vez de retratar a realidade de maneira fiel. Em contraste com estilos artísticos anteriores, como o impressionismo, que se concentrava na representação objetiva e realista do mundo, os expressionistas buscaram transmitir a subjetividade e as turbulências internas do indivíduo.

Grandes nomes do expressionismo, como Edvard Munch e Egon Schiele, usaram essas distorções para capturar as intensas emoções humanas e o impacto psicológico das mudanças da sociedade moderna. O expressionismo é considerado uma das primeiras vanguardas históricas, ao lado do fauvismo francês. As vanguardas europeias da arte modernista foram um conjunto de movimentos artísticos que surgiram entre o início do século XX, antes da Primeira Guerra Mundial até o final da Segunda Guerra Mundial

Esses movimentos desafiavam as convenções estéticas tradicionais e traziam novas formas de expressão, abordando questões psicológicas, existenciais e sociais de maneira inovadora e muitas vezes perturbadora. Surgia uma nova era na arte ocidental com a mudança da mentalidade acerca do que faz um trabalho artístico uma obra de arte.

Como surgiu o Expressionismo?

O expressionismo surgiu em uma Alemanha imersa em uma profunda crise, cujas tensões sociais e políticas acabariam por culminar na eclosão da Primeira Guerra Mundial. As consequências da Revolução Industrial, o crescimento das áreas urbanas e os conflitos políticos criaram um cenário de angústia que se refletiu na arte expressionista.

Os artistas expressionistas reagiram a esse ambiente com uma paleta cromática agressiva, utilizando cores intensas e contrastantes para transmitir suas emoções internas. As temáticas centrais do movimento incluem a solidão, o sofrimento e a miséria, refletindo a crise existencial vivida pela sociedade.

O pintor norueguês Edvard Munch, com obras como O Grito (1893), tornou-se um ícone do expressionismo, retratando o desespero e a incomunicação humanas em um cenário de opressão psicológica. Seu trabalho, marcado por uma forte carga emocional e uma paleta de cores intensas, foi uma das principais inspirações para o movimento.

Além de Munch, outros artistas, como o francês Paul Cézanne, cujas experimentações com a desfragmentação da realidade e os pós-impressionistas Vincent van Gogh e Paul Gauguin, também foram precursores do expressionismo, trazendo à tona uma ênfase na subjetividade, na distorção das formas e na expressão de emoções profundas.

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O Expressionismo Alemão na Pintura

O movimento expressionista teve início em 1905, com a formação do grupo Die Brücke (A Ponte), fundado em Dresden por artistas como Ernst Ludwig Kirchner, Karl Schmidt-Rottluff e Erich Heckel. Este grupo se propôs a romper com as tradições artísticas acadêmicas e buscar uma expressão mais direta e emocional da realidade. Influenciados por movimentos como o pós-impressionismo e o primitivismo, os membros do Die Brücke usaram cores intensas e distorções nas formas para retratar temas como a angústia e o sofrimento causados pelas transformações sociais e culturais da época. A arte expressionista visava, assim, representar a subjetividade humana e os sentimentos conflitantes do indivíduo. O fazer artístico estava se transformando, bem como o perfil do consumo da arte.

Em 1911, o termo "expressionismo" foi formalmente associado ao movimento pela primeira vez ao ser escrito na revista Der Sturm (A Tempestade), uma das mais importantes publicações da vanguarda alemã. Ao mesmo tempo, o movimento se expandiu com a formação do grupo Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), em Munique, composto por artistas como Wassily Kandinsky e Franz Marc. Embora ambos os grupos compartilhassem a ideia de distorcer a realidade e explorar a subjetividade, o Der Blaue Reiter adotou uma abordagem mais espiritual, buscando expressar realidades metafísicas por meio da arte.

O Nazismo contra o Expressionismo

O regime nazista teve um impacto devastador sobre a arte expressionista, considerando-a "degenerada" e incompatível com seus valores nacionalistas e tradicionais. O movimento de censura do nazismo visava eliminar formas de arte modernas, como o expressionismo, o cubismo e o futurismo, que eram vistas como antinacionais e subversivas. Em 1937, os nazistas organizaram a Exposição de Arte Degenerada em Munique, onde obras de artistas como Ernst Ludwig Kirchner, foram expostas de forma grotesca, sendo ridicularizadas como expressão da loucura e usadas como exemplo do que o regime considerava corrompido. Muitas dessas obras foram retiradas de museus, destruídas ou vendidas a colecionadores estrangeiros, enquanto outras foram armazenadas fora do alcance do público.

O regime nazista tentou eliminar o expressionismo da cena artística alemã e ainda associou esse movimento ao comunismo e o rotulou de imoral e subversivo. Em 1937, cerca de 16.500 obras de arte foram confiscadas, incluindo trabalhos de artistas renomados como Van Gogh, Pablo Picasso e Matisse, muitas das quais foram vendidas em leilões ou destruídas, resultando em um prejuízo irreparável para a arte alemã e mundial.

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A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock

O curso "A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock" oferece uma análise profunda das transformações que ocorreram na arte moderna entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX.

Através das obras e vidas de artistas icônicos como Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock, o curso revela como a arte moderna rompeu com as convenções estéticas anteriores e aborda o impacto desse movimento nas instituições, na crítica de arte e no mercado.

O curso é ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp e pesquisador de pós-doutorado no Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP), Felipe Martinez. Com vasta experiência acadêmica e profissional, Felipe Martinez é especialista na obra de Van Gogh e tem atuação em instituições renomadas, como o MASP e o MAM de São Paulo. Confira a seguir uma prévia do curso:

Thumb curso 'A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock' com Felipe Martinez


Introdução à História da Arte

O curso "Introdução à História da Arte" oferece uma visão abrangente dos principais marcos e transformações na arte ocidental, desde o Renascimento até a arte moderna e contemporânea. Ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp e pesquisador da USP (MAC-USP), Felipe Martinez, o curso mostra como nossos conceitos de beleza e arte são construídos a partir do contexto histórico.

As aulas cobrem uma vasta gama de movimentos e artistas, como Michelangelo, Caravaggio, Monet, Degas, Van Gogh e Matisse, além de discutir as influências estéticas, técnicas e sociais que formaram cada período. A arte moderna e as vanguardas europeias fazem parte do conteúdo do curso e você pode conferir um pouco das aulas dando play no vídeo abaixo:

Thumb curso 'Introdução à História da Arte' com Felipe Martinez


O que é Arte?

O curso "O Que é Arte?" busca responder a essa pergunta, que permanece relevante e aberta a diversas interpretações. Através de uma abordagem crítica, o pesquisador Felipe Martinez investiga a arte a partir de seus diferentes sentidos, funções e efeitos, analisando como ela se conecta com a sociedade e provoca reflexões. As aulas envolvem obras e autores de períodos clássicos, modernos e contemporâneos, oferecendo novas formas de compreender e questionar o papel da arte em nosso mundo. Assista abaixo um trecho de uma das aulas para se familiarizar com o conhecimento compartilhado:

Thumb curso 'O que é arte?' com Felipe Martinez


Quais são as Características do Expressionismo?

Influenciado pelo gótico alemão, o movimento expressionista é caracterizado pela distorção das formas, uso de cores intensas para refletir emoções, e ênfase no impacto psicológico sobre a realidade objetiva. O expressionismo também se concentra no isolamento urbano, alienação e solidão do indivíduo, além de usar linhas dramáticas e angulares para aumentar a tensão emocional. Embora tenha sido um movimento heterogêneo, com grupos e artistas apresentando grandes diferenças estilísticas e temáticas, sua influência se estendeu por várias décadas, até a Segunda Guerra Mundial, e alcançou outros países além da Alemanha.

Principais características do expressionismo:

  • Distorção das formas para expressar emoções, não a realidade
  • Uso de cores vibrantes e intensificadas
  • Foco nas emoções e tensões interiores, não na objetividade
  • Representação de cenas urbanas e do isolamento
  • Linhas dramáticas e angulares para aumentar a intensidade emocional
  • Impacto psicológico mais importante que a beleza visual
  • Diversidade estilística e temática entre os grupos e artistas



Principais Artistas do Expressionismo

Abaixo, apresentamos uma tabela com alguns dos principais artistas do movimento expressionista, suas características e obras mais representativas. Além disso, incluímos artistas do pós-impressionismo, cujas obras influenciaram diretamente o surgimento e o desenvolvimento do expressionismo. Confira:

PINTORES EXPRESSIONISTAS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS OBRAS
Edvard Munch Conhecido por expressar emoções de angústia e ansiedade, especialmente a solidão humana O Grito (1893)
Egon Schiele Famoso por suas representações distorcidas do corpo humano, explorando temas de desejo e morte Retrato de Wally (1912)
Ernst Ludwig Kirchner Membro do grupo Die Brücke, seus trabalhos eram caracterizados por distorções de figuras e cores vibrantes Autorretrato com Modelos (1910)
Wassily Kandinsky Pioneiro da arte abstrata, ele acreditava que a arte deveria expressar a espiritualidade e a emoção Composição VII (1913)


Pintura Expressionista

Aqui estão algumas das principais obras expressionistas, que exemplificam a distorção da realidade e a ênfase nas emoções, tão características do expressionismo:

O Grito (1893) | Edvard Munch

Quadro 'O Grito' de Edvard Munch, pintado em 1893. Retrata, de forma distorcida, uma pessoa gritando em cima de uma ponte, com expressão de aflição.
O Grito, Edvard Munch. 1893. Têmpera e pastel oleoso sobre cartão, 91 x 73,5 cm. Galeria Nacional de Oslo, Noruega.


O Grito é uma das obras mais icônicas do expressionismo, capturando a angústia e o desespero humano. A distorção da figura e a explosão de cores vibrantes transmitem a sensação de uma crise emocional profunda.

Mulher Sentada com Joelhos Dobrados (1917) | Egon Schiele

Quadro 'Mulher Sentada com Joelhos Dobrados' de Egon Schiele, pintado em 1917. Retrata uma mulher sentada, com as pernas abertas, encostando a cabeça em um dos joelhos dobrados.
Mulher Sentada com Joelhos Dobrados, Egon Schiele, 1917. Guache, aquarela e giz de cera preto sobre papel. Galeria Nacional de Praga, Praga.


Mulher Sentada com Joelhos Dobrados é uma das imagens mais conhecidas de Schiele e revela uma mulher representada de uma maneira que destoava completamente dos padrões convencionais da arte da época. Ele mistura um ângulo nada convencional com uma estética erótica.

Composição VII(1913) | Wassily Kandinsky

Quadro 'Composição VII' de Wassily Kandinsky, pintado em 1913. É uma pintura abstrata, de traços fortes e marcantes, com uso de cores intensas e contrastantes.
Composição VII, Wassily Kandinsky, 1913. Óleo sobre tela, 200,6 cm x 302,2 cm. Galeria Tretyakov , Moscou.


Kandinsky foi um dos primeiros artistas a criar a arte abstrata. "Composição VII" é uma obra caótica, com cores vibrantes. O quadro não faz uma representação figurativa da realidade e traz uma composição complexa que cria novos caminhos e possibilidades para a arte modernista.

O Expressionismo no Brasil

O Expressionismo no Brasil, embora não tenha se consolidado como um movimento dominante, surgiu no início do século XX influenciado pelas inovações da vanguarda europeia e deixou uma marca significativa nas artes, especialmente na pintura. Artistas como Cândido Portinari , Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti e Anita Malfatti buscaram transmitir emoções intensas e subjetivas por meio da distorção das formas, cores fortes e contrastantes, além de uma representação mais psicológica e emocional do ser humano. Obras como Retirantes e Guerra, de Portinari, exemplificam a busca por representar o sofrimento e as tensões sociais, refletindo as angústias de sua época.

Quadro 'Retirantes' de Cândido Portinari, pintado em 1944. Mostra uma família de camponeses em fuga, com rostos expressando sofrimento e fadiga, em uma composição de cores fortes que transmite a dor e a luta das dificuldades sociais.
Retirantes, Cândido Portinari, 1944. Óleo sobre tela, 190 cm x 180 cm. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (SP)


Impacto e Legado do Expressionismo

O expressionismo, embora inicialmente rejeitado, desempenhou um papel fundamental na reconfiguração da arte moderna, abrindo caminho para movimentos como o surrealismo e a arte abstrata. Sua ênfase na distorção das formas e na representação do mundo interior desafiou as convenções estéticas da época e transformou a concepção da arte de uma mera representação da realidade externa para uma expressão profunda das experiências humanas. O legado do expressionismo, com suas inovações e reflexões sobre a condição humana, continua a influenciar as artes visuais e outras formas criativas até os dias de hoje. Além disso, o movimento também deixou uma marca significativa no cinema, especialmente nos gêneros de horror e suspense.

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Perguntas Frequentes sobre Expressionismo

O que é o expressionismo?

O expressionismo é um movimento artístico que começou no início do século XX, focado na expressão das emoções do artista através da distorção de formas e do uso intensivo de cores vibrantes.

Quais são as principais características do expressionismo?

As características do expressionismo incluem distorção das formas para expressar emoções, uso de cores intensas e vibrantes, e a exploração de temas como alienação, angústia e a tensão interior do ser humano.

Referências:

https://enciclopedia.itaucultural.org.br/termos/80046-expressionismo

História da Arte: definição, períodos, tipos de arte e grandes obras
Xavana Celesnah
História da Arte: definição, períodos, tipos de arte e grandes obras
Explore a História da Arte, dos desenhos rupestres à contemporânea. Conheça os períodos artísticos, grandes obras ,artistas e para que serve a arte.

A História da Arte é um campo do conhecimento que investiga a evolução das manifestações artísticas ao longo do tempo, desde as pinturas rupestres da Arte Pré-Histórica até as expressões contemporâneas que estão presentes no nosso cotidiano. Neste texto, vamos focar principalmente na História da Arte ligada à pintura, passando pelos principais períodos da História da Arte Mundial, pelos grandes artistas e suas obras, e vamos destacar também a História da Arte no Brasil.



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O que é Arte?

Antes de mergulharmos nas divisões históricas e nas correntes artísticas, é essencial entender o conceito de arte. Arte pode ser entendida como a expressão da criatividade e sensibilidade humana, através das mais diferentes linguagens, como pintura, música, literatura, cinema, escultura, desenho, dança, entre outras. As obras de arte, em sua maioria, são realizadas com algum propósito comunicativo, seja através do visual, do sonoro ou do narrativo. Portanto, a arte transmite emoções, ideias, valores e questionamentos sobre a sociedade e a existência humana.

Cada tipo de arte tem características próprias e formas de expressar uma mensagem. Por exemplo, a pintura pode ser figurativa ou abstrata, a escultura pode ser uma representação tridimensional de figuras ou formas, e a música pode explorar diferentes ritmos e harmonias. A dança, por sua vez, se expressa por meio do movimento corporal, enquanto a literatura utiliza as palavras para criar histórias, reflexões e críticas sociais.

A arte reflete o modo de vida, as crenças e as inovações de cada época. Mas para que serve a arte? Ela vai além da apreciação estética e é fundamental na formação de nossa identidade cultural e na reflexão sobre questões sociais e políticas.

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Períodos da História da Arte

A História da Arte é geralmente dividida em períodos e movimentos que ajudam didaticamente na compreensão das manifestações de cada época. Claro que essas divisões periódicas não são rígidas e algumas formas de se fazer arte coexistiram, mas a divisão em fases facilita a identificação dos estilos e também das ideias que estavam aflorando em cada momento histórico.

Cada período tem suas características próprias, refletindo mudanças de pensamento, inovações técnicas e influências sociais. A seguir, fizemos um resumo com os principais períodos da História da Arte.

Arte Pré-Histórica

A arte pré-histórica remonta aos primórdios da humanidade e é marcada por ser uma arte desenvolvida antes da invenção da escrita. As pinturas rupestres são os principais exemplos desta fase e as famosas pinturas das cavernas de Altamira, na Espanha, e de Lascaux, na França, seguem como os grandes marcos da arte rupestre no mundo.

As pinturas nas cavernas retratam animais e algumas cenas da vida cotidiana da época, como a caça. Essas obras têm um caráter simbólico e ritualístico, também chamado de “magia simpática ou propiciatória”. São pinturas muitas vezes associadas a crenças espirituais e ao entendimento do mundo natural.

Bisonte na Caverna de Altamira, Espanha.  As pinturas rupestres da Caverna de Altamira foram realizadas entre 36.000 e 13.000 anos atrás.

Bisonte na Caverna de Altamira, Espanha. As pinturas rupestres da Caverna de Altamira foram realizadas entre 36.000 e 13.000 anos atrás.


Arte Antiga

Com o surgimento das primeiras civilizações, como as dos povos que habitaram a Mesopotâmia, o Egito, a Grécia e Roma, a arte passou a ter um caráter mais formal e funcional. A arte produzida durante a Antiguidade foi muito diversa, principalmente quando comparamos a arte do Egito Antigo com a da Grécia Antiga, por exemplo, pois os artistas egípcios produziam imagens a partir de esquemas pré-definidos, enquanto os gregos buscavam o realismo na representação dos corpos humanos.

Isso acontecia porque a arte para a sociedade egípcia possuía um significado político e espiritual que precisava ser preservado. Portanto, as pinturas tinham que seguir certos padrões, como a lei da frontalidade que era usada na representação de corpos humanos, como é possível ver na imagem abaixo:

Pintura egípcia mostrando processo de mumificação, hábito comum na sociedade do Egito Antigo.

Pintura egípcia mostrando processo de mumificação, hábito comum na sociedade do Egito Antigo.


As civilizações antigas criaram obras de arte famosas, como as esculturas de Fídias na Grécia e as pirâmides do Egito, que não só adornavam os templos e palácios, mas também tinham significados religiosos e políticos profundos. A arte antiga foi marcada pela busca da perfeição e harmonia nas formas e pela representação idealizada do corpo humano.

Arte Medieval

A Arte Medieval foi realizada no longo período que vai do século V ao século XV, e se caracteriza pela religiosidade. Durante este período, a arte cristã predominou, com grande foco em temas bíblicos e na construção de igrejas, mosteiros e catedrais, além de manuscritos iluminados, que ficaram conhecidos como iluminuras.

A arte medieval utilizou pintura em murais, vitrais e a escultura religiosa. A arte gótica e bizantina, com suas imponentes catedrais e ícones religiosos, também são destaques deste período. Este período é essencialmente marcado pela busca de transmitir mensagens espirituais e teológicas.

Cenas da Vida de Cristo - Lamentação. Giotto, obra realizada entre 1304 e 1306. 200 cm X 185 cm. Capela Scrovegni, em Pádua, Itália.

Cenas da Vida de Cristo - Lamentação. Giotto, obra realizada entre 1304 e 1306. 200 cm X 185 cm. Capela Scrovegni, em Pádua, Itália.


Arte Renascentista

A Arte Renascentista, compreendida entre os séculos XIV e XVI, marca um retorno aos ideais da Antiguidade Clássica e uma revolução na maneira de pensar a arte e a humanidade. Artistas como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael buscaram a representação naturalista do corpo humano, explorando a perspectiva, a proporção e a luz.

A Renascença é, sem dúvida, um dos períodos mais ricos da história da arte, com grandes obras de arte famosas, como "A Última Ceia" de Da Vinci e "O David" de Michelangelo.

A Última Ceia. Leonardo da Vinci, obra realizada entre 1495 e 1498. Dimensões: 460 cm X 880 cm. Refeitório da igreja de Santa Maria delle Grazie, em Milão, Itália.

A Última Ceia. Leonardo da Vinci, obra realizada entre 1495 e 1498. Dimensões: 460 cm X 880 cm. Refeitório da igreja de Santa Maria delle Grazie, em Milão, Itália.


Arte Pré-Colombiana

A arte pré-colombiana refere-se à produção artística das civilizações indígenas das Américas antes das Grandes Navegações, que culminaram com a chegada de Cristóvão Colombo, no final do século XV, ao continente americano. Esse período é imensamente diversificado, refletindo a rica variedade de culturas que habitaram as Américas, como os maias, astecas, incas e diversos povos indígenas da América do Norte, Sul e América Central.

A arte pré-colombiana é caracterizada por uma profunda relação com a natureza, a religião e o poder. Entre os principais tipos de arte desse período estão as esculturas, pinturas, cerâmicas e tecelagens, todas com grande simbolismo. Os maias e astecas criaram magníficas esculturas de pedra, como os templos e figuras divinas que decoravam suas cidades. Os incas, por sua vez, desenvolveram técnicas de tecelagem complexas e a arte da metalurgia, criando peças de ouro e prata com significados religiosos e cerimoniais.

Templo de Kukulkán, pirâmide maia que começou a ser construída no século VI. Iucatã, México.

Templo de Kukulkán, pirâmide maia que começou a ser construída no século VI. Iucatã, México.


A arte pré-colombiana também apresenta uma rica simbologia, com forte presença de elementos geométricos e figuras mitológicas, como os deuses e heróis das lendas dessas civilizações.

Arte Moderna

A Arte Moderna (séculos XIX e XX) começou a apresentar suas primeiras obras a partir da Revolução Industrial e de toda a transformação social e política decorrente dela. Movimentos como o Impressionismo, Cubismo, Surrealismo e Expressionismo, que ficaram conhecidos como as vanguardas europeias, trouxeram novas formas de ver e entender a arte, distantes da representação figurativa clássica. Artistas como Pablo Picasso, Vincent van Gogh, Claude Monet e Salvador Dalí são alguns dos grandes nomes desse período.

A arte passou a explorar a abstração e a subjetividade, questionando as convenções tradicionais das academias e a própria realidade. O fazer artístico se diversificou, incluindo novos experimentos com o uso da cor, da forma e da luz, além de novas linguagens da arte, como a fotografia e a arte digital.

Guernica, quadro de Pablo Picasso. 1937, pintura a óleo. 349,3 cm X 776,5 cm. Museu Reina Sofia, Madrid.

Guernica, quadro de Pablo Picasso. 1937, pintura a óleo. 349,3 cm X 776,5 cm. Museu Reina Sofia, Madrid.


A Arte Moderna ou Modernismo foi um período riquíssimo da produção artística mundial e também no Brasil. Você pode compreender melhor esse estilo de arte através do curso A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock, ministrado pelo doutor em História da Arte, Felipe Martinez. No curso, ele faz uma análise da vida e da obra de grandes artistas modernistas, mostrando os impactos causados pelas novas ideias e como a arte dialoga com as grandes questões sociais.

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Arte Contemporânea

A Arte Contemporânea (século XX até o presente) é um campo diversificado e amplo, de difícil definição. Diversos movimentos artísticos coexistem, como o minimalismo, o arte pop, a arte conceitual e as manifestações da arte digital. A arte contemporânea rompe com as fronteiras dos tipos de arte tradicionais, explorando novas linguagens da arte como o vídeo, a performance e as instalações interativas. Banksy, Yayoi Kusama e Damien Hirst são alguns dos artistas contemporâneos mais influentes no mundo. A arte contemporânea está muito relacionada às ideias e geralmente aborda temas sociais, culturais e políticos, desafiando as normas da arte tradicional e incentivando uma reflexão crítica sobre o mundo atual.

Grandes Artistas da História e Suas Obras

A história da arte é marcada por inúmeros grandes artistas, cujas obras ajudaram a definir os rumos da arte. Cada um desses artistas famosos trouxe uma contribuição única, seja através da técnica, do estilo ou das ideias que procuraram expressar. Listamos a seguir algumas obras de arte famosas na história e seus respectivos autores:

Século XIV (1300)

  • Giotto di Bondone:

O Beijo de Judas (1305)
Afrescos da Capela Scrovegni (1304–1306)

Século XV–XVI (Renascimento)

A Última Ceia (1495–1498)
Mona Lisa (c. 1503–1506)

  • Michelangelo Buonarroti

O Davi (1501–1504)
Afrescos da Capela Sistina (1508–1512)

Século XIX (Impressionismo e Pós-Impressionismo)

  • Édouard Manet

Almoço na Relva (1863)
Olympia (1863)

  • Claude Monet

Impressão, nascer do sol (1872)
Nenúfares (série, 1897–1926)

  • Edgar Degas

A Aula de Balé (c. 1874)
O Balé Azul (c. 1890)

  • Vincent van Gogh

Girassóis (1888)
A Noite Estrelada (1889)

Século XIX–XX (Simbolismo, Art Nouveau e Modernismo)

  • Gustav Klimt

Retrato de Adele Bloch-Bauer I (1907)
O Beijo (1907–1908)

  • Antoni Gaudí

Parque Güell (projeto iniciado em 1900)
Sagrada Família (iniciada em 1882, ainda em construção)

Século XX (Modernismo, Abstracionismo, Surrealismo e Pop Art)

  • Pablo Picasso

Les Demoiselles d'Avignon (1907)
Guernica (1937)

  • Wassily Kandinsky

Composição VIII (1923)
Amarelo-Vermelho-Azul (1925)

  • Frida Kahlo

Auto-retrato com Espinho e Colibri (1940)
As Duas Fridas (1939)

  • Andy Warhol

Campbell's Soup Cans (1962)
Marilyn Diptych (1962)

História da Arte no Brasil

A história da arte no Brasil é marcada por uma rica e diversa trajetória, que reflete a complexidade cultural do país. Desde os tempos anteriores à colonização, as expressões artísticas indígenas já revelavam uma profunda conexão com a natureza, os mitos e os rituais das diferentes etnias. Arte plumária, cerâmica, pinturas corporais e grafismos em objetos e superfícies naturais eram — e ainda são — manifestações de um conhecimento ancestral transmitido de geração em geração.

Com a chegada dos colonizadores portugueses no século XVI, iniciou-se o período da arte colonial, fortemente influenciado pela estética europeia, especialmente o barroco. Igrejas ricamente ornamentadas, como as de Ouro Preto e Salvador, são testemunhos do talento de artistas como Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa) e Manuel da Costa Ataíde, que reinterpretaram as referências europeias sob uma ótica brasileira, mesclando elementos locais, africanos e indígenas em suas obras sacras.

No século XIX, com a vinda da Missão Artística Francesa (1816), liderada por Jean-Baptiste Debret, o Brasil passou por um processo de academização da arte. A fundação da Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro, contribuiu para a formação de artistas dentro de um modelo europeu clássico. Nomes como Pedro Américo e Victor Meirelles se destacaram com grandes telas históricas, representando cenas como o Grito do Ipiranga e episódios da história nacional com uma estética grandiosa e idealizada.

O Grito do Ipiranga, quadro de Pedro Américo, 1888. Óleo sobre tela, 415cm X 760 cm. Museu Paulista da USP, São Paulo.

O Grito do Ipiranga, quadro de Pedro Américo, 1888. Óleo sobre tela, 415cm X 760 cm. Museu Paulista da USP, São Paulo.


A virada do século XX trouxe profundas transformações. O movimento modernista brasileiro, com a Semana de Arte Moderna de 1922, rompeu com os padrões acadêmicos e buscou uma nova linguagem artística, autenticamente nacional.

Artistas como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Di Cavalcanti e Oswald de Andrade propuseram uma arte que refletisse a realidade brasileira, suas cores, suas contradições sociais e culturais, ao mesmo tempo em que dialogava com as vanguardas europeias.

Obras como Abaporu (Tarsila), que se tornou símbolo do movimento antropofágico, tinham como proposta a “digestão” crítica das influências estrangeiras para criar algo novo e original, em sintonia com a história do Brasil.

Candido Portinari, por sua vez, levou o realismo social às telas, retratando com sensibilidade temas como o trabalho, a infância pobre e as injustiças sociais, em obras como Retirantes e os painéis de Guerra e Paz, encomendados pela ONU.

Na segunda metade do século XX, a arte brasileira expandiu-se ainda mais, incorporando novas linguagens como a arte concreta, o neoconcretismo, a arte conceitual, o cinema experimental e a performance. Figuras como Lygia Clark, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Tomie Ohtake, entre outros, romperam com os limites tradicionais da pintura e escultura, criando experiências sensoriais e interativas que colocavam o espectador como parte da obra.

Hoje, a arte contemporânea brasileira é plural, crítica e inovadora. Artistas como Adriana Varejão, Ernesto Neto, Vik Muniz, Rosana Paulino e Jaider Esbell (este último representando a retomada da arte indígena no circuito contemporâneo) continuam a explorar temas como identidade, corpo, ancestralidade, meio ambiente, desigualdade e memória, levando a produção artística nacional a dialogar com os grandes debates do mundo atual — sem perder o enraizamento nas realidades locais.

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Para que serve a Arte?

A arte tem várias funções e serve para inúmeros propósitos. Ela pode ser uma ferramenta de expressão pessoal, um meio de questionamento social e político, uma forma de comunicação universal e até um instrumento terapêutico. A arte também tem uma função educativa, ajudando a transmitir a história, as emoções e as ideias de diferentes culturas e épocas.

Conclusão

A História da Arte é uma jornada fascinante que nos permite entender a evolução das expressões humanas através de diferentes épocas e estilos. Desde a Arte Pré-Histórica até a arte contemporânea, cada período e movimento artístico oferece insights valiosos sobre a cultura, os valores e as ideias de seu tempo. Além disso, grandes artistas e obras de arte influenciam nossa percepção de mundo, e desenvolvem legados que permanecem como um registro da história da humanidade.

Seja para entender as complexidades de nossa sociedade, para se envolver emocionalmente com uma obra ou simplesmente para apreciar a beleza estética, estudar História da Arte é fundamental para qualquer um que deseje expandir sua visão do mundo e compreender a profundidade da experiência humana.

Se você tem interesse em História da Arte e deseja aprender mais sobre o tema, confira o curso Introdução à História da Arte, da Casa do Saber, ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp, Felipe Martinez.

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Referências

https://www.cultura.gob.es/mnaltamira/cueva-altamira/arte.html

https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-11160/chichen-itza/

Autores

A psicanálise de Wilfred Ruprecht Bion analisa a mente em grupo e a formação das emoções através do autoconhecimento. Além de ter produzido uma teoria sobre o funcionamento da personalidade, W. Bion criou a perspectiva que defende uma psicanálise aplicada para além do inconsciente, na medida em que os aspectos conscientes também revelariam o mundo dos sujeitos.

Para compreender os seus principais conceitos e percorrer sobre as particularidades da sua história, confira:



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Quem foi Wilfred Bion?

Nascido em 1897 em Penjab, na Índia, Bion foi criado até os sete anos por uma ama indiana, Ayah, que exerceu grande influência sobre seus estudos e interesses educacionais. Com uma família pouco estruturada, Bion foi enviado a um colégio interno na Inglaterra aos oito anos, no entanto, teve dificuldades de adaptação por conta da rigidez institucional e da solidão, uma vez que seus pais e irmã raramente o visitavam.

Para auxiliar no seu processo de sociabilidade, Wilfred passou a praticar esportes como natação e rugby, se tornando capitão de equipes. Além disso, ingressou nas Forças Armadas e atingiu patente de capitão, chegando a ser condecorado em função do seu desempenho. Com o final da I Guerra Mundial, Bion passa a desenvolver seus estudos em História na Universidade de Oxford, onde se aprofunda nos estudos filosóficos, com especial atenção ao empirismo inglês de Immanuel Kant.

O interesse na História Moderna e na Teologia, impulsionaram W. Bion a cursar Medicina na University College London e se tornar psicanalista. Trabalhos como o de Sigmund Freud despertaram o interesse para a prática clínica, assim como William Shakespeare, que o inspirou através dos estudos artísticos e estéticos.

Pioneiro na criação da terapia em grupo para militares, Bion buscava auxiliar no processo de reabilitação psíquica dos sujeitos após o elemento traumático.

Após formado, se qualifica em psicoterapia psicanalítica na Clínica Tavistock em Londres, onde entra em contato com o trabalho de Donald Winnicott e Herbert Rosenfeld. Foi somente em meados de 1946 que W. Bion entra em análise de treinamento com Melanie Klein, se tornando, em 1950, membro pleno da Sociedade Psicanalítica Britânica.

Nesse contexto, Bion produz estudos sobre as dinâmicas de grupo e o trabalho psicanalítico em pacientes com transtornos psicóticos, pois defendia que a sociedade tem uma tendência inata ao desejo de conhecimento e do saber.


Bion: a relação com outros psicanalistas e influências

Com o trabalho de Melanie Klein – referência nos estudos sobre escuta e desenvolvimento humano –, Bion se aprofunda na psicanálise, sobretudo em relação à vida psíquica primitiva, à identificação projetiva e ao desenvolvimento do pensamento.

Para o psicanalista, interessava compreender como a mente humana aprende a pensar.

Com Freud e a teoria do princípio do prazer e da realidade, W. Bion avança ao sugerir que o pensamento se dá justamente para que o indivíduo saiba lidar com a frustração da ausência do objeto desejado.

Esse processo é o que Bion denomina por aprendizado pela experiência: a psique se desenvolve no exercício de suportar as frustrações da vida e criar formas de compreendê-las.

Caso contrário, ao invés de pensar e processar a informação, o sujeito continuaria despejando impulsivamente seus estados emocionais, o que permitiria, segundo o psicanalista, uma abertura à patologias psíquicas.


O que diz a teoria de Wilfred Bion?

Ao trafegar por suas ideias, Bion deixa claro que não se preocupa em criar teorias, pois o seu objetivo maior estaria centrado em orientar o processo de análise do paciente a partir da experiência emocional.

No entanto, quando compara-se a sua perspectiva com a psicanálise clássica, é notório que a sua visão avança no que se refere a um processo de análise que não se dá somente a partir do analista, mas, sobretudo, a partir do sujeito analisado.

Para ele, não se trata da busca pela origem do trauma ou das fantasias do indivíduo, mas de uma expansão da capacidade de reflexão do sujeito em um universo que está em constante movimento. Nesse sentido, o que o psicanalista sugere, é que o processo analítico seja realizado principalmente pelo analisado, a partir das suas descobertas, verdades e contradições. Assim, o psicanalista auxilia o paciente no processo, não como um agente central, mas como um guia.

Para o autor, o pensamento humano se transforma em uma máquina de pensar por conta do acúmulo de experiências, sensações e percepções.

Desse modo, seria através dos processos de internalização dos pensamentos, que a compreensão de mundo do sujeito ganharia forma, no qual o indivíduo construirá suas próprias impressões, dotando-as de significado e experiência.

Quais os principais conceitos de Wilfred Bion?

Mesmo que o autor sugira que não há uma teoria em específico a seguir, alguns conceitos são centrais para o processo de compreensão de sua obra. Nesse aspecto, foram diversas as contribuições de W. Bion, algumas, em particular, merecem destaque pelo aprofundamento nos estudos psicanalíticos.

Teoria do Pensamento

Ainda na década de 1940, Bion desenvolve a Teoria do Pensamento a partir dos estudos de Freud e Klein. Em sua perspectiva, o pensar surge como uma saída, uma solução, para se lidar com a frustração no indivíduo.

Nesse sentido, a frustração, a não realização, é o primeiro passo para a origem do pensamento que, por sua vez, irá construir o aparelho psíquico. Em outras palavras, para Bion, o pensamento é precursor. Assim, o aparelho psíquico existe para dar resposta à necessidade do pensar.

“O pensamento está em busca de um pensador” (W. Bion)


Bion defende que a primeira frustração ocorre a partir da “experiência do não seio”, caracterizada pela percepção do bebê em não encontrar, instintivamente, o seio materno. A partir dessa não realização, o bebê desenvolverá o que ele denomina por Protopensamento, ou seja, uma primeira manifestação da capacidade do pensar, dando, então, condições para a elaboração dos pensamentos, para a produção dos sonhos e das funções do intelecto.

Função Alfa e Função Beta

Nesse caminho, se o bebê lidar de forma positiva com a frustração, ocorrerá o pensamento em si, gerando, assim, a capacidade de tolerância do indivíduo. Esse processo é denominado por W. Bion por Função Alfa, ou seja, trata-se da constituição de uma compreensão das necessidades humanas a partir da primeira frustração.

Há, ainda, experiências que não puderam ser pensadas ou vividas pelo indivíduo, provocadas pela incapacidade de tolerar a frustração. A esses elementos, Bion denomina por Função Beta, compreendida como as experiências sensoriais primitivas que não foram elaboradas como positivas pelo bebê, e que geram uma espécie de agitação motora, ou seja, o excesso de sensações.

Em outras palavras, para ele, os elementos beta são armazenados não como forma de memória, mas como fatos e situações não digeridas, enquanto os elementos alfa foram digeridos e processados pelo indivíduo.

Teoria do Continente e Conteúdo

Outra perspectiva de W. Bion que merece destaque, é a Teoria do Continente e Conteúdo – um dos conceitos centrais da psicanálise contemporânea, que se refere à relação entre mãe e bebê.

Para o autor, o bebê nasce repleto de experiências sensoriais intensas, com baixa capacidade de organizá-las cognitivamente. Nesse sentido, um dos principais papéis da figura da cuidadora primária, é o de “conter” as necessidades orgânicas e emocionais, os medos e angústias do bebê.

A mãe, então, age como continente das emoções do bebê, sendo os conteúdos, a própria experiência da criança. Se a mãe transforma as angústias e as sensações do bebê em pensamentos e experiências, ela auxiliará no processo de aprendizagem e produção de autoconhecimento do sujeito.

Vínculos L/K/H

Outra percepção de W. Bion trata-se do conceito de vínculo, elaborado a partir de três obras do autor: Aprendendo com a experiência (1962), Elementos de Psicanálise (1963) e Transformações (1965). Nos livros, ele descreve os três tipos de elos: vínculo de amor (L – love), vínculo de ódio (H – hate) e vínculos de conhecimento (K – knowledge).

Os sentimentos que conhecemos pelos nomes 'amor' e 'ódio' parecem ser escolhas óbvias se o critério for a emoção básica. Inveja e Gratidão, Depressão, Culpa, Ansiedade, todos ocupam um lugar dominante na teoria psicanalítica” (Bion, 1962, p. 42-43).


Com isso, o que W. Bion nos diz, é que os elos são formados de modo dinâmico através de uma inter relação primitiva que afeta o desenvolvimento individual e que é investida por esses vínculos. Para ele, não há conhecimento sobre os objetos que não estejam profundamente enraizados em laços afetivos, ou seja, toda experiência emocional pode ser percebida como um elo, pois coloca um Eu e um objeto na presença um do outro.

Cabe ainda mencionar que, para o autor, os três tipos de vínculos podem ser sinalizados de forma positiva (+) ou negativa (-). Por exemplo: menos amor (-L) não é o mesmo que sentir ódio, assim como menos ódio (-H) não significa amor.

Para ler mais sobre amor e psicanálise, confira o curso Freud e o Amor - Casa do Saber.



Três obras de Wilfred Bion que você precisa conhecer

Com mais de 50 títulos publicados, a obra de Bion reflete a complexidade dos estudos contemporâneos da psicanálise a partir da psicologia social, baseada nas experiências emocionais que ocorreram na prática psicanalítica do autor.

No entanto, em particular, algumas obras merecem destaque:

(1961) BION, Wilfred R. Experiências em grupos. Buenos Aires: Paidos Iberica Ediciones S. A., 1980.

capa do livro Experiências em Grupos, de Wilfred Bion

No livro “Experiências em Grupos”, Bion reúne artigos próprios construídos entre 1948 e 1960, e constrói uma análise psicanalítica sobre a concepção e a mentalidade dos grupos. Apresentando conceitos Kleinianos, o psicanalista chama atenção para como o processo de análise deve se dar sob o olhar do que se diz e do que não se diz em terapia, avaliando não apenas as palavras do paciente, mas também, os seus silêncios.

(1962) BION, Wilfred R. Aprender da experiência. São Paulo: Editora Blucher, 2021.

capa do livro aprendar da experiência, de Wilfred Bion

Já em “Aprender da experiência”, W. Bion mostra a sua principal teoria sobre a formação do pensamento, chamando a atenção para a experiência emocional dos indivíduos enquanto propulsor para a reestruturação de ideias. Além disso, explora o aprendizado através do conhecimento aos problemas, pois sugere que o conhecimento sobre si, pode gerar um grau de sofrimento no sujeito.

(1963) BION, Wilfred R. Elementos da Psicanálise. Ribeirão Preto: Espaço Psi, 2023.

capa do livro elementos da psicanalise, de Wilfred Bion

Considerado uma das obras mais importantes e fundamentais da obra de Bion, “Elementos da Psicanálise” trata sobre a origem e a natureza dos pensamentos e da capacidade de pensar. O autor define os elementos da psicanálise a partir de um uso sadio ou patológico do pensamento, abrindo caminhos para se pensar a formação dos sentimentos de angústia, confiança e vitalidade a partir da frustração.




Resumo sobre Wilfred Bion

Com sua pioneira capacidade intelectual de investigar sobre a experiência dinâmica de grupos, e aprofundar nos estudos sobre desenvolvimento individual, Wilfred Bion se tornou uma referência para a psicanálise moderna.

A Casa do Saber oferece um curso que apresenta um panorama das questões centrais do pensamento do autor. Saiba mais: Bion e os Dilemas da Vida Comum: O Pensar na Contemporaneidade - Casa do Saber.

O seu trabalho ativo abriu caminhos para que as experiências emocionais dos sujeitos se apresentassem como um espaço de autodescoberta psicanalítica, na qual o autor destaca ser sempre de natureza vincular.

Nesse sentido, os estudos de W. Bion apresentam instigantes possibilidades de reflexão e análise dos sujeitos a partir de uma leitura expansionista e dialética.

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Referências:

https://psychoanalysis.org.uk/our-authors-and-theorists/wilfred-bion

https://www.bion.org.br/

https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372013000200015

https://www.encyclopedia.com/psychology/dictionaries-thesauruses-pictures-and-press-releases/love-hate-knowledge-lhk-links

https://sbpmg.org.br/wp-content/uploads/2022/11/6-Bion-1.pdf

ZIMERMAN-D.-E.-A-obra-Uma-Resenha-dos-Trab.-de-Bion.-In-Bion-Da-teoria-a-pratica.-pag.-31-47.-Cap.2.pdf

Sándor Ferenczi fez parte da primeira geração da psicanálise e é considerado um dos psicanalistas mais originais e inovadores. Ele recebeu a alcunha de enfant terrible (pessoa que se destaca pela irreverência e pelo espírito transgressor) da psicanálise, tamanha era sua ousadia para mergulhar e trazer novas perspectivas para o corpo teórico e clínico do campo.

Ferenczi foi um dos seguidores mais estimados por Freud e era chamado pelo mesmo de “meu amado filho”, apesar das discordâncias entre os dois, uma vez que Ferenczi aprofundou-se em temas que foram deixados em segundo plano por Freud, como o trauma na psicanálise, durante o desenvolvimento de sua obra.



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Sándor Ferenczi antes da psicanálise

Antes de tudo, conhecer as origens de Ferenczi ajuda a compreender a trajetória deste psicanalista tão relevante para a história, apesar de ter sido negligenciado pela academia. Sándor Ferenczi nasceu na Hungria, em 1893, na cidade de Miskolc. Era filho de dois editores, o que fez com que nascesse inserido no universo da cultura Húngara.

Além de seu idioma nativo, o húngaro, ele também falava alemão, francês, latim, grego e inglês. Em 1890, ingressou na Faculdade de Medicina de Viena, a mesma que Freud, e especializou-se em neurologia e neuropatologia.

Entretanto o seu primeiro contato com o pensamento freudiano foi por meio do livro “Sobre mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos - comunicação preliminar”. Neste período a psicanálise estava nascendo e Ferenczi bebeu da fonte do primeiro Freud da nova ciência, a psicanálise.

Logo após terminar sua formação em medicina, Ferenczi retornou à Hungria para a cidade de Budapeste, onde viveu quase toda sua vida, e exerceu a profissão desde médico assistente até o exercício da clínica psicanalítica.

Ferenczi também dava significativo valor às causas sociais, uma vez que, para ele, elas auxiliavam na compreensão do sofrimento humano. Com isso, ele se engajou em causas sociais através do atendimento e tratamento médico para pacientes à margem da sociedade na época, como os mais pobres, homossexuais, meretrizes.

Curiosidade: Sándor Ferenczi recebeu este nome em homenagem ao revolucionário húngaro Sándor Petofi, poeta e revolucionário nas jornadas da Primavera dos Povos de 1848.




Freud e Ferenczi: entre acordos e divergências

Posteriormente, em 1908, Freud e Ferenczi têm seu primeiro encontro, o qual foi muito rico profissionalmente e deu origem também a uma amizade pessoal.

Além disso, é importante lembrar que o grupo de analistas que Freud se relacionava, além de ser restrito, era composto por nomes muito conhecidos da época, como Otto Rank, Ernest Jones, que trouxeram grandes contribuições para o campo teórico e prático da psicanálise.

Logo após o seu encontro com Freud, Ferenczi fez uma viagem aos Estados Unidos, em 1909, e apresentou o 1° Ensaio Psicanalítico, no qual ele formulou o conceito de Introjeção, no texto “Transferência e Introjeção”, considerada uma das principais contribuições do autor para a psicanálise.

Ainda que Sándor Ferenczi tenha sido um dos colaboradores mais estimados de Freud, o médico húngaro rompeu com alguns paradigmas já estabelecidos por Freud. Uma destas rupturas foi a irreverência na psicanálise com a ideia da “ética do cuidado” e uma nova perspectiva sobre o papel do analista.

Antes a psicanálise era respaldada na dinâmica da interpretação, onde o paciente entrava em associação livre e o analista, de forma distante, interpretava-o. Entretanto Ferenczi tece uma crítica pontual à ausência de empatia dos psicanalistas, ao passo que defendia que o paciente precisava ser ouvido com mais sensibilidade, com mais empatia e a análise poderia ter mais intervenções do analista, o que chamou de técnica ativa.

Apesar das discordâncias de pensamento entre Freud e Ferenczi, um respeito mútuo entre os dois se manteve ao ponto que Freud convidou-o para proferir o discurso que propôs a criação da Associação Psicanalítica Internacional, no 2° Congresso de Psicanálise de Nuremberg, em 1910.

comite secreto de Sigmund Freud, com a presença de Ferenczi

O “comitê secreto” ou “círculo íntimo” de Sigmund Freud. Freud é o primeiro à esquerda, sentado, e Ferenczi está em pé, à direita. Fonte: Instituto de Psicologia - USP


Pouco depois, em 1912, foi criado um “comitê secreto” formado pelos mais próximos de Freud a fim de transmitir a teoria pura da psicanálise. Alguns dos integrantes que compunham este grupo além de Ferenczi eram Otto Rank, Karl Abraham e Ernest Jones.



Trajetória de produções de Sándor Ferenczi

Em 1919, Ferenczi publicou o texto “A técnica psicanalítica” que aborda a contratransferência, conceito que desenvolve questões sobre a técnica psicanalítica clássica e as necessárias adaptações para que ela se aprimorasse. Com isso, futuramente, ele influenciou o pensamento de outros analistas relevantes, como Melanie Klein.

A relação com estes e outros psicanalistas, assim como entre Freud e Ferenczi, foi muito rica, e proporcionou produções importantes para o campo da psicanálise, como o livro “Inovações na técnica psicanalítica” (1922), de Sándor Ferenczi e Otto Rank.

Tempos depois, em 1928, Ferenczi publica o texto “Elasticidade da técnica psicanalítica “ que trouxe a proposta de uma mudança de postura dos analistas para que eles descessem do degrau do saber e se colocassem mais próximos do paciente e sentindo junto com ele.

“a modéstia do analista não é uma atitude aprendida, mas a expressão da aceitação dos limites do nosso saber” (Ferenczi, 1928/1992, p.31)


Pouco antes do seu falecimento, em 1933, Ferenczi apresentou na Sociedade Psicanalítica de Viena, 1931, a conferência “Análise de crianças com adultos”, um dos principais elementos da sua obra sobre trauma. Neste texto, ele resgatou uma ideia que Freud acabou tirando do fator central de sua obra, a experiência traumática como origem dos sintomas.

Nos anos seguintes Ferenczi desenvolveu outros textos e conferências que complementaram a teoria do trauma, como “A confusão de língua entre os adultos e crianças - a linguagem da ternura e da paixão” (1932), reafirmando a originalidade de suas contribuições para a problemática do trauma na psicanálise.


Teoria de Sándor Ferenczi e principais conceitos

Ferenczi foi um dos discípulos mais criativos e singulares de Freud. Ele elaborou conceitos irreverentes para a época e começou um processo de mudanças na prática tradicional da psicanálise. Algumas de suas principais colaborações para o campo foram:

Teoria ativa:

Uma proposta de modelo clínico no qual o analista assumisse uma postura mais ativa, ou seja, fizesse mais intervenções no processo da análise. A partir disso, para Sándor Ferenczi, seria necessário colocar mais empatia nas interações clínicas rompendo com a proposta freudiana da postura mais passiva e silenciosa.

Elasticidade da técnica:

Conceito que sugere uma abordagem psicanalítica que se adapte às necessidades do paciente e não o contrário. A flexibilidade nas técnicas de análise permite ajustes na postura do analista para favorecer maior acolhimento do paciente.

Transferência e Introjeção:

Apesar do conceito de transferência já ter sido desenvolvido por Freud, Ferenczi trouxe novas perspectivas. Para ele, a transferência não é somente um mecanismo de repetição do passado, mas uma possibilidade para uma reparação emocional. Desta forma a relação entre paciente e analista deveria ser um espaço seguro e de empatia.

Já a introjeção era um mecanismo central do trauma. Ou seja, o processo em que o paciente introjeta os abusos que sofreu e, assim, assume a culpa. Desta forma acredita que merece a violência que passou. Para ele, esse era um processo psíquico de sobrevivência à dor emocional que foi causada.

A relação entre esses dois conceitos, de transferência e introjeção, dá-se a partir do momento em que o paciente pode repetir o padrão de transferência e introjeção na relação com o analista. A partir disso, o foco na dimensão afetiva da psicanálise, a empatia e o acolhimento, seriam fundamentais para ajudar o paciente ressignificar as experiências.

Contratransferência:

Diretamente ligado aos conceitos anteriores, Ferenczi se reavaliou, mostrando seu caráter inquieto que buscava sempre o bem-estar dos pacientes. Em 1925, aprofundou o conceito de contratransferência, reação emocional do analista ao paciente. Portanto, o profissional deveria reconhecer suas próprias respostas emocionais para lidar com as questões do paciente e fortalecer o vínculo terapêutico.

Teoria do Trauma:

Em síntese, a teoria do trauma considera o trauma como um evento real que era mais do que um evento externo, mas também uma questão que afetava emocionalmente o indivíduo. Para Sándor Ferenczi, a confiança era um elemento fundamental para ressignificar a dor e uma análise com empatia e acolhedora seria ideal para restabelecer a saúde do paciente.



Principais obras de Sándor Ferenczi

Ferenczi escreveu diversos artigos, textos que contribuíram de forma expressiva para psicanálise mais humana e empática. Apesar de muitos de seus livros e compilados não terem tradução para o português, conheça as obras que destacam as principais contribuições de Ferenczi para a psicanálise:

  • O diário clínico (1932): Este livro reúne as anotações de Ferenczi sobre experiências terapêuticas, reflexões sobre o trauma e críticas à psicanálise tradicional. Ele aprofunda a relação entre abuso infantil e transtornos psíquicos e discute sua técnica ativa e a importância do afeto na análise. A obra revela seu distanciamento de Freud e sua busca por uma abordagem mais humanizada na psicanálise. Atualmente o livro encontra-se esgotado e sem previsão de disponibilidade.

    capa livro o diario clinico de Sandor Ferenczi

  • Thalassa: um ensaio sobre a Teoria da Genitalidade (1924): Explora a relação entre sexualidade e evolução psíquica. A teoria sugere que o orgasmo simboliza esse retorno temporário. Ferenczi também relaciona traumas infantis à repressão da sexualidade e à formação de neuroses.

    capa do livro Thalassa de Sandor Ferenczi

  • Obras Completas – Psicanálise I, II, III, IV: Este box contempla em 4 volumes traduções de textos ilustres de Ferenczi. Confira o conteúdo de cada volume:
    • Volume I: Textos completos escritos por Ferenczi entre 1908 e 1912, abrangendo alguns clássicos da literatura analítica como "Transferência e introjeção", "Palavras obscenas", "O papel da homossexualidade na patogenia da paranoia", "Sintomas transitórios".
    • Volume II: Obras completas de Ferenczi de 1913 a 1919, abrangendo o período da 1ª Guerra Mundial e da análise de Ferenczi com Freud. Algumas de suas mais importantes contribuições à psicanálise estão presentes, como "O desenvolvimento do sentido da realidade e seus estágios", "Um pequeno homem-galo", "Sintomas transitórios no decorrer de uma psicanálise" e "A técnica psicanalítica".
    • Volume III: Compilado de artigos escritos entre 1919 e 1926, período das experiências técnicas mais famosas de Ferenczi, a chamada "técnica ativa". O volume inclui também o famoso "Thalassa: ensaio sobre a teoria da genitalidade".
    • Volume IV: Conjunto de artigos escritos de 1927 a 1933, ano da morte de Ferenczi. Não foi um período de muitas produções, mas são fundamentais no desenvolvimento das ideias do autor e registram as experiências técnicas de Ferenczi. Essa compilação não inclui o Diário Clínico do autor.


Contribuições de Ferenczi para a psicanálise

Apesar de ter sido “o filho amado” de Freud e todo seu trabalho ter sido muito debatido e transformador no campo da psicanálise, a originalidade e criatividade de Sándor Ferenczi tiveram um preço.

Sua produção fugia do comum e abriu espaço para debates sobre questões da relação psicanalítica e da abordagem mais empática e flexível na análise, na qual não era o paciente que deveria se adequar ao método, mas, sim, o método ser adequado ao paciente, o conceito de elasticidade da técnica.

Com isso, o autor foi marginalizado na comunidade acadêmica em decorrência das suas críticas à psicanálise tradicional que até então era vigente na Associação Internacional de Psicanálise. Isso fez com que Ferenczi fosse colocado nas sombras desde o final de 1920 até a década de 1980. Quando, então, foi resgatado na tradução para o francês de “O Diário clínico” (1932), por Judith Dupont, psicanalista francesa, e fez com que o autor retornasse ao cenário da psicanálise internacional.


A revolução proposta por Sándor Ferenczi demorou um certo tempo para que fosse difundida entre os psicanalistas, porém, na contemporaneidade, Ferenczi vem se mostrando o precursor de muitas das ideias e pensamentos de autores relevantes como, Winnicott, Balint, Searles e outros.

Desse modo, ele solidificou a sua expressividade a partir da proposta de uma psicanálise com mais empatia, humanizada e a importância do vínculo entre analista e paciente.

Atualmente, as contribuições de Ferenczi são amplamente reconhecidas, e muitos de seus conceitos foram incorporados à prática clínica contemporânea e seguem sendo estudados tanto por pessoas interessadas no tema e desejam começar a estudar psicanálisequanto por psicanalistas que lidam com trauma e abuso. Mesmo um século depois, Ferenczi continua atual.

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Referências:

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/496/sandor-ferenczi-contribuices-a-psicanalise-contemporanea

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/501/trauma-em-psicanalise-aspectos-teoricos-e-clinicos-em-freud-e-ferenczi

https://youtu.be/OZlJ5LzUsjc?si=LNX4qP4QWChXhtG7

https://www.ip.usp.br/site/noticia/para-conhecer-ferenczi-co-criador-da-psicanalise/

https://www.alsf-chile.org/Indepsi/Publicaciones/Dicionario-do-Pensamento-de-Sandor-Ferenczi.pdf

Jean-Paul Sartre foi um filósofo francês que viveu no século XX e se tornou um dos principais expoentes da corrente filosófica que ficou conhecida como existencialismo. Suas ideias influenciaram não apenas a filosofia contemporânea, mas repercutiram na literatura e na política, oferecendo uma reflexão radical sobre a liberdade humana, a angústia existencial e a responsabilidade individual em um mundo considerado sem um sentido pré-determinado.

Em sua célebre obra O Ser e o Nada (1943), Sartre propôs uma filosofia onde o ser humano é livre para construir seu próprio destino, sem depender de essências ou valores estabelecidos. Ao afirmar que "a existência precede a essência", ele apresentou uma ideia revolucionária para sua época. Além disso, seu engajamento com o marxismo e suas posições políticas geraram debates acirrados. Neste artigo, vamos discorrer sobre a vida e a obra de Jean-Paul Sartre, destacando os principais acontecimentos que marcaram sua trajetória.



Biografia de Jean-Paul Sartre

Jean-Paul Sartre nasceu em 21 de junho de 1905, em Paris, França, em uma família de classe média. Seu pai, Jean-Baptiste Sartre, faleceu quando ele tinha apenas 1 ano de idade, e ele foi criado pela mãe, Anne-Marie e pelos avós maternos, na cidade de Meudon, que ficava perto de Paris.

Desde cedo, Sartre se mostrou interessado em literatura e cinema, sendo admitido aos 19 anos no curso de Filosofia da Escola Normal Superior, em Paris. Lá, ele conheceu a filósofa Simone de Beauvoir, que viria a ser sua companheira intelectual e amorosa durante toda a vida.

Jean-paul Sartre e Simone de Beauvoir em visita à Faculdade Nacional de Filosofia no Brasil, hoje UFRJ

Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir em visita ao Brasil, em 1960. Foto na Faculdade Nacional de Filosofia(atualmente UFRJ). Repdução: Wikimedia Commons


Durante sua estadia em Paris, entrou em contato com as ideias de pensadores como Friedrich Nietzsche, Martin Heidegger e Søren Kierkegaard, que influenciariam sua visão filosófica mais tarde.

Jean-Paul Sartre graduou-se em 1928 e iniciou sua carreira como professor, uma experiência que o motivou a aprofundar seus estudos na filosofia existencialista. Esse interesse crescente o levou a buscar uma compreensão mais profunda dos conceitos filosóficos, com o objetivo de desenvolver sua própria teoria sobre a liberdade, a responsabilidade e a existência humana. Em busca de novos conhecimentos, Sartre conquistou uma bolsa de estudos e foi estudar no Instituto Francês em Berlim.

No entanto, durante a Segunda Guerra Mundial, foi convocado para servir como meteorologista no exército francês e acabou sendo preso pelos nazistas e indo parar no campo de concentração de Trier. Essa experiência foi fundamental para sua filosofia, já que lhe trouxe uma maior consciência sobre a liberdade humana e a condição existencial do ser humano no mundo.

Em seguida, fundou o movimento Socialismo e Liberdade, como parte da Resistência Francesa. Com o fim do conflito, em 1945, ele dissolveu o movimento e, junto com Simone de Beauvoir e Maurice Merleau-Ponty, criou a revista Les Temps Modernes, que se tornaria um importante veículo de reflexão filosófica e política. Posteriormente, Sartre se juntou ao Partido Comunista Francês, mas logo entrou em desacordo com suas diretrizes, rompendo com a organização e seguindo um caminho mais independente em suas convicções políticas.

A partir da década de 1940, Sartre começou a se tornar conhecido internacionalmente com o lançamento de sua obra O Ser e o Nada (1943), em que delineava as bases do existencialismo.

Sartre recusou o Prêmio Nobel de Literatura em 1964, afirmando que isso implicaria em um reconhecimento institucional que ele considerava incompatível com sua filosofia da liberdade individual. Ele continuou a escrever e a participar da vida política até sua morte, em 1980, em Paris, de edema pulmonar.



O Conceito de Existência e Liberdade em Sartre

A ideia central na filosofia de Sartre é a liberdade humana, que ele entendia como uma característica essencial do ser humano. Para ele, não há uma natureza humana predeterminada; os seres humanos são condenados a serem livres, ou seja, eles têm de criar seu próprio sentido de vida e suas próprias escolhas. O ser humano, para Sartre, está sempre "lançado" no mundo, sem uma explicação prévia de sua existência.

Esse conceito de liberdade está intimamente ligado à responsabilidade. Ao reconhecer que somos livres, também somos responsáveis por nossas escolhas e pelas consequências dessas escolhas, sem poder atribuir a culpa a fatores externos como a natureza ou o destino.

Isso gera a sensação de "angústia existencial", pois a liberdade não é algo fácil de carregar. Sartre acreditava que, ao tomarmos consciência de nossa liberdade, nos deparamos com a responsabilidade de dar sentido às nossas vidas, sem esperar que esse sentido venha de fora.

A Obra-Prima “O Ser e o Nada”

Publicado em 1943, O Ser e o Nada é a obra mais conhecida de Sartre e um marco fundamental do existencialismo. Nesse livro, Sartre aborda uma das questões centrais para a filosofia: o que significa ser? Ele analisa a experiência humana, distinguindo entre o "ser-em-si", o ser das coisas objetivas e concretas, e o "ser-para-si", o ser consciente que tem a capacidade de refletir sobre sua própria existência.

Uma das ideias mais revolucionárias do livro é a noção de que a existência precede a essência. Para Sartre, os seres humanos não possuem uma essência pré-determinada, como os objetos. Eles existem primeiro e, só depois, se definem por suas ações. Essa visão contrasta com a visão tradicional da filosofia, que acreditava que os seres humanos tinham uma essência fixa que determinava suas ações e características.

Além disso, Sartre introduz o conceito de "má-fé" (mauvaise foi), que se refere à tendência humana de negar a própria liberdade e responsabilidade, enganando a si mesmo para escapar da angústia existencial. A má-fé seria um mecanismo de defesa psicológica, mas que, para Sartre, impede a verdadeira liberdade.

Sartre e o Existencialismo

Embora o existencialismo de Sartre seja conhecido por sua ênfase na liberdade individual e na busca pelo sentido da vida, Sartre rejeitou a ideia de um Deus ou de uma força sobrenatural que guiasse ou determinasse a vida humana. Para ele, a ausência de Deus ou de qualquer essência pré-determinada coloca ainda mais peso sobre a liberdade humana, já que, em um mundo sem divindade, somos nós que temos a responsabilidade de criar significado para nossas vidas.

A famosa frase de Sartre "O homem está condenado a ser livre" reflete essa perspectiva. O ser humano não tem escolha a não ser ser livre, mas essa liberdade é angustiante porque ela implica uma constante necessidade de fazer escolhas que definem nossa própria existência.

Sartre e o Marxismo

Sartre se envolveu com o marxismo a partir da década de 1950, quando começou a estudar as obras de Karl Marx e a refletir sobre as condições sociais e econômicas que constroem a existência humana. No entanto, Sartre manteve uma relação complexa com o marxismo, especialmente devido às suas divergências sobre a natureza da liberdade e da política.

Embora ele compartilhasse a crítica ao capitalismo e ao opressor sistema social, Sartre acreditava que a liberdade individual era o ponto central, o que o levou a distanciar-se de certas interpretações marxistas que enfatizavam o determinismo social.

Ele procurou conciliar o existencialismo com o marxismo, criando uma abordagem filosófica que, ao mesmo tempo, reconhecia a importância das condições sociais e políticas para a liberdade humana, mas também afirmava a primazia da ação individual na luta pela liberdade.

Jean-paul Sartre e Simone de Beauvoir em reunião com Ernesto Che Guevara, em visita à Cuba, em 1960

Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir se encontram com Ernesto Che Guevara, em visita à Cuba, em 1960. Repdução: Wikimedia Commons


Obras de Jean-Paul Sartre: Principais Livros

Confira a tabela abaixo com uma relação das principais obras de Sartre e o que o filósofo abordou em cada uma delas:
PRINCIPAIS LIVROS DE SARTRE RESUMO
O Ser e o Nada (1943) Considerada a obra-prima de Sartre, em que ele explora a liberdade, a responsabilidade e o conceito de existência humana, distinguindo entre o ser-em-si e o ser-para-si.
A Náusea (1938) Romance existencialista que descreve o desconforto e a angústia de um homem que começa a perceber a realidade como absurda e sem sentido.
Crítica da Razão Dialética (1960) Trabalho filosófico em que Sartre tenta integrar o existencialismo com o marxismo, discutindo a relação entre a liberdade individual e as condições materiais da sociedade.
Entre Quatro Paredes (1944) Peça de teatro existencialista que aborda a questão da liberdade, da culpa e da interação humana em um espaço fechado.
A Idade da Razão (1945) Romance que faz parte da "trilogia dos caminhos da liberdade", onde Sartre discute a liberdade, a escolha e as relações humanas em uma Paris pré-Segunda Guerra Mundial.
As Palavras (1964) É a reflexão autobiográfica de Sartre sobre sua infância, o despertar para a escrita e a maneira como as palavras o ajudaram a construir sua identidade e visão de mundo



Frases de Jean-Paul Sartre:

"O homem está condenado a ser livre."

Essa citação é retirada da obra "O Existencialismo é um Humanismo" (1946), onde Sartre discute o conceito de liberdade radical e sua implicação na vida humana. A frase reflete a ideia de que, ao não haver uma essência pré determinada, o ser humano é livre para fazer suas próprias escolhas, mas, ao mesmo tempo, está "condenado" a essa liberdade, sem possibilidade de escapar da responsabilidade que ela carrega.

"A liberdade é o que você faz com o que foi feito de você."

Essa frase aparece na obra "As Palavras" (1964), uma reflexão autobiográfica de Sartre, em que ele explora sua infância e as influências que moldaram sua identidade. Ele se apropria dessa ideia para refletir sobre a liberdade como um processo contínuo de transformação pessoal, mesmo diante das limitações da nossa origem e circunstâncias.

"O inferno são os outros."

Essa citação vem da peça de teatro "Entre Quatro Paredes" (1944), onde Sartre explora os conflitos existenciais através de uma situação em que três personagens estão condenados a conviver eternamente em um mesmo quarto. A frase reflete a ideia de Sartre sobre a "visão do outro", ou seja, como a presença dos outros seres humanos pode limitar nossa liberdade, pois nos definem e nos julgam de maneira constante.

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Conclusão

A filosofia de Jean-Paul Sartre revolucionou o pensamento do século XX, fornecendo uma abordagem radical sobre a liberdade, a responsabilidade e a busca de sentido em um mundo sem predefinições. Sua ideia de que a existência precede a essência e sua ênfase na liberdade humana fizeram dele uma das figuras centrais do existencialismo.

Embora suas posições políticas e sua relação com o marxismo tenham sido controversas, Sartre continua sendo uma referência fundamental para aqueles que buscam compreender a condição humana e a busca pela autenticidade. Seu legado permanece presente na filosofia contemporânea, desafiando-nos a refletir sobre a liberdade, as escolhas e a responsabilidade em nossas vidas.

Perguntas Frequentes sobre Sartre

Quem foi Jean-Paul Sartre e o que ele defendia?

Jean-Paul Sartre foi um filósofo francês e principal nome do existencialismo. Ele defendia que o ser humano não tem uma essência predeterminada e é livre para criar seu próprio significado na vida, assumindo total responsabilidade por suas escolhas.

Qual a principal teoria de Jean-Paul Sartre?

A principal teoria de Sartre é o existencialismo, que afirma que "a existência precede a essência". Ou seja, os humanos não nascem com uma natureza fixa, mas constroem sua identidade através das escolhas que fazem, sendo responsáveis por suas ações.

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Referências

https://revistacult.uol.com.br/home/o-mal-estar-no-mundo/

https://piaui.folha.uol.com.br/materia/vidas-literarias-jean-paul-sartre/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Paul_Sartre

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