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Áreas da filosofia: quais são, o que estudam e por que importam
Paula Delgado
Áreas da filosofia: quais são, o que estudam e por que importam
Conheça as áreas da filosofia, como ética, lógica e metafísica, e entenda como elas nos ajudam a pensar sobre o mundo, o conhecimento e a existência.

A filosofia é o campo do conhecimento que busca compreender a realidade, o ser humano e o mundo e, para ser capaz de compreender este todo, dividiu os saberes em diferentes áreas da filosofia.

Diferente de outras formas de saber, como a religião, a filosofia trabalha, a partir de um pensamento lógico e racional, buscar nas perguntas, que não têm respostas prontas, explicações para as nossas inquietações.

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Quais são as principais áreas da filosofia?

Desde a Grécia Antiga, os filósofos se dedicam a investigar temas como a existência, o conhecimento, a moral, a justiça, a linguagem, a beleza e o pensamento lógico.

Para organizar este diverso campo de interesses, a filosofia foi se dividindo em áreas, cada uma com foco específico e questionamentos próprios.

Nessa divisão, muitas vezes os ramos da filosofia se cruzam e se complementam, inclusive compartilhando a atenção dos mesmos filósofos.

Neste texto, apresentamos as principais áreas da filosofia e seus autores.

As 8 áreas da filosofia que você vai conhecer:

  • metafísica
  • epistemologia
  • ética
  • filosofia política
  • estética
  • lógica
  • filosofia da linguagem
  • filosofia da mente
  • autores da filosofia
  • história da filosofia


Metafísica: O que é a realidade?

Metafísica vem das palavras meta, que significa depois, além, e physis, que significa natureza ou física. Ou seja, a metafísica é aquilo que está além da natureza ou da física.

Mas o que seria essa natureza?

Para os filósofos, a natureza é tudo aquilo que compõe tudo o que existe, desde elementos do mundo físico até os fenômenos naturais e os seres vivos.

Aristóteles foi o primeiro filósofo a colocar o foco de questionamentos no ser enquanto ser. Ele defendia que existe uma substância individual - o indivíduo material concreto (synolon) - a qual, o seu conjunto, concebe a realidade.

Contudo, ele dizia que esses indivíduos são compostos de matéria (hyle) - substância básica de tudo - e forma (eidos) - o que define e dá identidade à matéria.

E o que isso significa?

De acordo com Aristóteles, a substância (matéria + forma) é o que existe por si mesmo, sendo a essência de tudo que é real.

Um exemplo que o filósofo apresenta é o da estátua de uma deusa. Uma estátua é feita de bronze (matéria - causa material) e essa quantidade de matéria recebe uma forma (causa formal) que é a de estátua de uma deusa.

Caso modifique o material que a estátua foi feita, a forma se mantém, porém a matéria se altera.

Sendo assim, a matéria só existe porque possui uma forma. Entretanto, a forma sempre será a forma de um objeto material concreto - neste caso, a estátua de uma deusa.

Resumindo, a metafísica é o ramo da filosofia que investiga a natureza da realidade. Ela busca compreender o que existe, o que significa ser e quais são os princípios que regem o universo.


"O ser se diz de muitas maneiras. - Aristóteles"

Vale acrescentar que Martin Heidegger trouxe uma perspectiva diferente. Ele questionou o esquecimento do ser na tradição filosófica e propôs uma recuperação da ontologia na filosofia ocidental, que coloca o ser novamente no centro da reflexão.

Epistemologia: O que podemos conhecer?

A epistemologia é a área da filosofia que estuda o conhecimento, ou seja, investiga a natureza, a origem e os limites da razão.

Em outras palavras, busca entender como é possível afirmar que algo é verdadeiro e quais são os limites do conhecimento.

Já que estamos falando sobre razão, precisamos falar sobre René Descartes.

Ele acreditava que a razão era a única fonte confiável para o conhecimento e que a experiência sensorial poderia distorcer a compreensão do mundo verdadeiro.

Descartes, através do cogito ("Penso, logo existo"), propôs um fundamento irrefutável do conhecimento. Para ele, se um indivíduo é capaz de duvidar, ele está pensando.

Então, necessariamente, existe um sujeito pensante. Esta é a conclusão do argumento do cogito, no qual ele constrói a busca do fundamento seguro do conhecimento.

Resumindo, Descartes buscou, a partir da dúvida metódica, um caminho para o conhecimento verdadeiro.

Posteriormente, Immanuel Kant revolucionou a epistemologia ao sintetizar e superar as tensões de duas correntes filosóficas: o racionalismo e o empirismo.

Em sua obra “Crítica da razão pura“, argumenta que o conhecimento se dá a partir da interação entre as ideias inatas da mente e a experiência sensível.

Com isso, demonstrou que as “coisas em si” (a realidade em si) não são conhecidas, mas sim os seus fenômenos (a realidade como se apresenta). Esses fenômenos são percebidos a partir da intuição sensível (sensibilidade) e dos conceitos e categorias (entendimento).

Para Kant, o sujeito está no centro do processo de construção do conhecimento.

Como a Metafísica e a Epistemologia questionam Deus?

  • Metafísica: Deus existe?
  • Epistemologia: É possível Deus existir?

A metafísica questiona a existência ou não de Deus, já a epistemologia investiga a possibilidade de se ter conhecimento sobre essa existência.

Ética: O que é certo e errado?

A ética é a área da filosofia que estuda os princípios que orientam o comportamento humano, questionando, por exemplo, o que é uma boa vida, o que é certo e errado.

Para este ramo da filosofia, além das regras sociais, a virtude, o dever e as consequências de nossos atos também são pontos de interesse.

Alguns filósofos se debruçaram sobre este conceito e trouxeram visões diferentes:

Filósofo Visão de Ética Ideia Principal Ações
Aristóteles Ética da virtude Buscar a felicidade por meio da virtude e do equilíbrio Valoriza a intenção e o caráter
Immanuel Kant Ética do dever Agir conforme o dever e a razão Valoriza a intenção moral
Jeremy Bentham Ética utilitarista A melhor ação é a que gera felicidade para o coletivo Foco nas consequências das ações



Filosofia Política: Como devemos viver em sociedade?

A filosofia política é o estudo do corpo social que busca entender suas causas e consequências.

Desde os primórdios da filosofia se reflete sobre as estruturas e princípios que regem a sociedade.

Platão em sua obra “A República“ idealizou uma sociedade que era governada por aqueles que estão mais próximos da verdade e da justiça, os filósofos.

Thomas Hobbes propôs que os indivíduos cedam parte de seus direitos a um soberano para que se tenha uma sociedade organizada. Uma vez que, para ele, os homens são essencialmente iguais e, por isso, são capazes de se exterminar.

Posteriormente, Jacques Rousseau trouxe a ideia do contrato social, que diz que a política pertence à sociedade. Para se ter liberdade civil e proteção, o indivíduo deve renunciar seus direitos individuais e entregá-los à uma autoridade escolhida pela comunidade.

Por outro lado, Karl Marx sugere que a luta de classes é que possibilitaria a revolução, propondo uma sociedade sem classes baseada na propriedade comum dos meios de produção.

Em suma, a filosofia política questiona o convívio do indivíduo na sociedade e busca encontrar um modelo ideal.


Estética: O que é o belo? O que é arte?

A estética é a área da filosofia que investiga a natureza do belo, da arte e da experiência estética.

Diversos autores da filosofia se dedicaram ao debate sobre o que era belo, o que fazia algo ser belo e compreender a subjetividade da estética.

Para Aristóteles, o belo estava ligado a grandes proporções, a imponência. Aquilo que era equilibrado, tinha ordem e simetria, porém em pequenas proporções, para Aristóteles era gracioso.

Contudo, Kant argumentou em "Crítica do Juízo" que o juízo estético é subjetivo, mas possui uma pretensão de universalidade. Ou seja, a experiência do indivíduo na contemplação da coisa fazia parte de suas características.


"O belo é o símbolo do bem moral." - Immanuel Kant

Nietzsche, por sua vez, compreendia que a arte era a expressão da vontade de poder e uma forma de afirmar a vida frente ao caos e ao sofrimento.

Resumidamente, a estética questiona o que torna algo belo, como percebemos a arte e qual o papel do gosto na apreciação estética.


Lógica: Como pensamos corretamente?

A lógica é o ramo da filosofia que estuda as regras do pensamento válido e da argumentação correta. Ela se torna fundamental para o pensamento porque permite uma avaliação racional e crítica dos argumentos, evitando a afirmação de falsas verdades.

Apesar da lógica inicialmente não fazer parte do Sistema Aristotélico, para ele, ela é muito mais do que um saber instrumental metodológico, pois todos os saberes pressupõem algum tipo de lógica.

Entretanto, Aristóteles é considerado pioneiro ao sistematizar a lógica formal, introduzindo a teoria do silogismo. Para ele, a teoria científica é formada de um conjunto de deduções a partir de indícios claros que são alcançados por meio da definição e apreensão.


“A lógica não é ciência e sim um instrumento (órganon) para o correto pensar." - Aristóteles

Dando um salto na história da filosofia, no século XX, Bertrand Russell contribuiu para a lógica matemática, buscando fundamentos sólidos para a matemática e a linguagem.

Segundo Russell, muitos dos problemas filosóficos surgem das confusões na linguagem, por isso considerava a lógica uma ferramenta fundamental para filosofia.

Filosofia da linguagem: O que é o significado?

A filosofia da linguagem busca investigar como a linguagem representa o mundo e como damos significado às palavras.

Ludwig Wittgenstein aponta que o significado das palavras está em seu uso no contexto dos jogos de linguagem.

De acordo com ele, as coisas não têm sentido por si mesmas, porque elas só recebem um significado a partir da relação com as outras.

A mesma lógica pode ser aplicada às palavras, porque elas só fazem sentido quando aplicadas a uma frase e um contexto correspondente à estrutura do mundo.

Entretanto, para Saussure, a língua é um sistema social e abstrato, enquanto a fala é a utilização individual e concreta da língua.


"Na linguagem, não há união natural entre o significante e o significado." - Ferdinand de Saussure

Ele entende a língua como um sistema de signos composto pela união de um significante (forma da palavra - sonora ou visual) e de um significado (a ideia que a palavra representa).

Essa distinção entre a a língua e a fala é um questionamento sobre a natureza arbitrária dos signos linguísticos.

Filosofia da mente: O que é consciência?

A filosofia da mente é o ramo da filosofia que estuda a natureza da mente, da consciência e sua relação com o corpo.

Descartes propôs o dualismo ao separar a mente (res cogitans) do corpo (res extensa), os quais teriam propriedades diferentes. Além de questionar como essas substâncias interagem - a mente controla o corpo, mas não é parte dele.

Por outro lado, Daniel Dennett defende uma abordagem materialista e funcionalista da mente, na qual a consciência é resultado de processos cerebrais complexos e comportamentos observáveis.

Portanto, ele busca explicar a mente como um fenômeno natural, uma postura intencional, sem recorrer a explicações sobrenaturais.


“Acho que a melhor ideia da religião é encorajar uma certa modéstia, um respeito e uma reverência pela natureza neste incrível Universo que nós habitamos” - Daniel Dennett


A filosofia como campo plural de investigação

Neste texto você conheceu as principais áreas da filosofia. Este é um campo diverso, formado por perguntas e que instiga o que temos de mais humano. Essas divisões da filosofia são caminhos para investigar grandes questões da nossa existência, do conhecimento, da vida em sociedade e da nossa relação com o mundo interno e externo.

Mas o mais interessante é perceber que esses ramos da filosofia se encontram. Eles dialogam, complementam-se e coexistem. A reflexão que o conhecimento sobre o que a filosofia estuda nos faz pensar sobre o que é certo, o que é belo, o que é justo, o que é ético e que nós somos e podemos ser.

Cada uma dessas áreas é uma porta esperando para ser aberta e você tem a chave para cada uma delas, basta você ter coragem e curiosidade para desbravar o mundo e a si mesmo.

Esperamos que este texto tenha te inspirado a descobrir mais sobre filosofia. Aqui na casa do saber temos diversos cursos para te ajudar a ir mais fundo neste conhecimento, você pode conhecer mais clicando aqui.

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Referências

DERRIDA, Jacques. A Filosofia da Linguagem.

MARCONDES, Danilo. Introdução à História da Filosofia.

UOL. Filosofia da Linguagem: (3), (4) e (5).

SCHOLZ, Barbara C.; PELLETIER, Francis Jeffry; PULLUM, Geoffrey K. Philosophy of linguistics. In: ZALTA, Edward N. (Ed.). Stanford encyclopedia of philosophy.

Como cuidar da saúde mental: dicas para o bem-estar emocional
Camila Fortes
Como cuidar da saúde mental: dicas para o bem-estar emocional
Veja como cuidar da saúde mental com práticas embasadas na psicologia, psicanálise e neurociência. Veja dicas de autocuidado, terapia e rotina.

Em um mundo cada vez mais acelerado e hiperconectado, cuidar da saúde mental deixou de ser uma recomendação pontual e tornou-se uma urgência da contemporaneidade.

As pressões no trabalho, as instabilidades nos relacionamentos, o excesso de estímulos e a crescente incidência de transtornos como ansiedade, depressão e Burnout, nos mostram que o autocuidado precisa ser mais profundo do que um momento de lazer ou descanso.

Neste texto, você encontrará dicas de cuidado com a saúde mental a partir de diferentes dimensões — emocional, relacional, corporal e simbólica — com base em princípios da psicologia, da psicanálise e da neurociência.

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Entenda o que é saúde mental — e o que não é

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde mental como um estado de bem-estar no qual o indivíduo percebe suas próprias habilidades, consegue lidar com as adversidades da vida, trabalhar de forma produtiva e contribuir com a comunidade.

A saúde mental está longe de ser apenas a ausência de transtornos mentais. Trata-se de uma construção dinâmica, que envolve a capacidade de lidar com os altos e baixos da vida, elaborar emoções, manter relações significativas e encontrar sentido na própria existência, mesmo diante das incertezas, frustrações e sofrimentos que fazem parte da experiência humana.

Esse entendimento rompe com a ideia de que “ser forte” é não sentir ou não demonstrar emoções. Pelo contrário: é justamente o contato consciente com nossas emoções que fortalece a nossa saúde psíquica.

Portanto, mais do que um ideal de equilíbrio constante, a saúde mental deve ser compreendida como uma travessia possível, feita de pequenas escolhas, apoios e significados que se renovam no tempo.

Vamos entender melhor como isso é possível.


Crie rotinas de autocuidado com intenção — e não com culpa

O autocuidado em saúde mental não precisa ser caro, instagramável ou complexo. Ele começa em pequenas escolhas do cotidiano que ajudam a regular o corpo e a mente. Mas para funcionar, precisa ser feito com intenção e sem culpa, a partir de um contexto real, ou seja, do que é possível.

Algumas soluções podem ser praticadas aos poucos:

  • Durma pelo menos 6 horas por noite: o sono regula hormônios do humor, da memória e da atenção.
  • Faça pequenas pausas com movimento: alongue os ombros, o pescoço e respire fundo entre as tarefas do dia a dia.
  • Caminhe, dance ou faça atividades de movimento corporal regularmente: atividades físicas leves ajudam a liberar serotonina e dopamina, ou seja, hormônios responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar.
  • Desligue notificações do celular por 1 hora ao dia: isso ajuda a reduzir estímulos e favorece o foco e o descanso cerebral.
  • Experimente práticas de mindfulness: comece com 3 minutos diários prestando atenção na respiração ou nas sensações do corpo.

Na neurociência, esses pequenos cuidados estão relacionados à ativação do sistema parassimpático, que ajuda a regular o estresse e promove sensações de segurança e calma. Assim, perceber o autocuidado como uma etapa da rotina é um passo importante para se construir um bem-estar psicológico.

Homem negro meditando com fones de ouvido em casa, prática de autocuidado e bem-estar emocional
A prática do mindfulness pode ajudar na saúde mental (Fonte: nubelson-fernandes/unsplash)



Pratique a escuta interna e nomeie as suas emoções

A psicanálise nos ensina que nomear o que sentimos é o primeiro passo para elaborar um pensamento. Muitas vezes sofremos mais pela tentativa de negar o que sentimos do que pela emoção em si.

Sentir irritação frequentemente pode estar relacionado a frustrações acumuladas. Ao nomear isso, você se aproxima da raiz do desconforto, construindo uma ponte entre o que sente e o acontecimento de fato. Assim, o ato de verbalizar sentimentos, sensações e percepções ajuda não apenas em um processo de autoconhecimento, mas também de estímulo à saúde mental.

A psicologia também trabalha essa compreensão: identificar e validar as emoções reduz a ativação da amígdala cerebral, diminuindo o impacto do estresse e aumentando a regulação emocional.

💡 Dica prática: mantenha um caderno de emoções, anotando o que você sentiu e o que desencadeou essa sensação. Esse hábito irá auxiliar a compreender a situação e a si mesmo com um olhar mais gentil.

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Cuide do corpo: movimento e regulação

Nosso corpo é também um instrumento de percepção emocional. Sensores no corpo nos avisam do estresse antes mesmo de termos consciência dele. Por isso tem se tornado cada vez mais comum a manifestação de doenças psicossomáticas na sociedade, pois o corpo denuncia e dá sinais de alerta.

Uma tensão no maxilar, uma respiração curta e o coração acelerado, são sinais importantes que exigem atenção. Dores nas costas, pés e articulações, além da sensação de falta de descanso mesmo quando o corpo relaxou por horas, também são indícios de que há algo que precisa ser investigado e tratado.

Mas, como romper com isso? Práticas regulares como caminhada, alongamento, yoga ou dança ativam circuitos cerebrais ligados aos prazer, à concentração e à disposição. Estudos mostram que o movimento corporal regular reduz os níveis de cortisol (hormônio do estresse) e melhora a capacidade de foco.

Além disso, o mindfulness também pode ser um excelente aliado: ao prestar atenção às sensações físicas sem julgá-las, criamos uma ponte entre mente e corpo. Isso contribui não apenas para a redução da ansiedade, mas também na prevenção e na diminuição de outros quadros e sintomas.


Desenvolva vínculos seguros e uma rede de apoio

Somos seres relacionais. Desde o nascimento, nossa saúde mental é moldada pelas relações que estabelecemos. Vínculos seguros oferecem apoio emocional, validam nossa existência e nos ajudam a elaborar conflitos.

Segundo a psicologia, relações saudáveis promovem um estado interno de segurança. Isso se reflete na vida adulta: quem tem apoio emocional tende a lidar melhor com situações de crise e sofrimento.

E como nutrir uma rede de apoio?

  • Invista em amizades com quem você pode confiar e ser autêntico. É preciso se desvincular das performances e apenas ser você.
  • Peça ajuda sem medo de parecer frágil ou de acreditar que está incomodando — amigos são para isso também, não apenas para os momentos de alegria.
  • Escute ativamente as pessoas ao seu redor, acolha o que elas compartilham com você com gentileza e empatia. Isso ajudará você a construir uma relação horizontal de confiança.

Ser sensível ao que o outro nos diz envolve saber ouvir e saber falar. Assim, estabelecer vínculos verdadeiros passa pela capacidade de sustentar conversas honestas, respeitando os próprios limites e os do outro.

Relações afetivas não precisam ser perfeitas, mas precisam ser cuidadas. A sua manutenção é fundamental, pois vínculos se fortalecem com presença, e não com formalidades.

Pessoas se abraçando em grupo durante atividade de acolhimento emocional e saúde mental
Uma rede de apoio é essencial para o bem-estar psíquico (Fonte: yuriy-vertikov/unsplash)


Abra espaço para o simbólico: arte, espiritualidade e sentido

O que dá sentido à sua vida? Essa pergunta, embora ampla e complexa, é fundamental para a construção de uma saúde mental. A dimensão simbólica do cuidado envolve criar espaços onde você possa se expressar para além das tarefas do dia a dia.

Isso pode se manifestar por meio da arte, da espiritualidade, da escrita ou de rituais pessoais. Buscar grupos, coletivos ou comunidades com interesses em comum, pode ser um caminho para construir relações de modo orgânico e com vínculos genuínos.

Por exemplo: escrever cartas, pintar, desenhar ou fotografar como forma de expressão, ler poesia ou filosofia para estimular o pensamento, ou criar um altar pessoal com objetos significativos são formas de abrir caminhos para uma saúde mental.

Cabe mencionar que esse espaço simbólico é também um antídoto contra o vazio existencial que pode surgir nas rotinas hiperprodutivas. Assim, se expressar é dar materialidade a coisas que podem não ter sido digeridas com facilidade em um contexto de intensa emoção e exaustão.



Psicoterapia: o encontro com o outro para encontrar a si

A psicoterapia é um processo estruturado de escuta, onde você pode olhar para si com profundidade. Mais do que conselhos, elas oferecem um espaço para construir caminhos para uma saúde mental.

Entre as principais abordagens, estão:

  • Psicanálise: investiga o inconsciente, os sonhos, os desejos e a história da pessoa, com o objetivo de ajudá-la a acessar e superar traumas e marcas psíquicas.
  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): identifica padrões de pensamento e comportamento disfuncionais e propõe formas mais saudáveis de agir.
  • Gestalt-terapia: trabalha com a perspectiva do aqui e agora, com foco na experiência e na consciência da pessoa.
  • Psicologia analítica: investiga os arquétipos, os sonhos e os símbolos, com foco no desenvolvimento da personalidade.

Fazer terapia é um investimento em si. Mesmo que você não esteja em crise, esse processo pode ajudar a prevenir transtornos e a lidar com sofrimentos e desafios da vida.


Cuide da sua saúde mental no trabalho

O trabalho pode ser fonte de realização ou de adoecimento. O que determina isso é, muitas vezes, o ambiente e a forma como você se relaciona com ele. Diagnósticos de burnout se tornaram cada vez mais frequentes, pois está cada vez mais difícil separar os problemas profissionais dos problemas pessoais.

A sensação de esgotamento constante, perda de interesse no trabalho, além da baixa autoestima e insegurança profissional, podem ser sinais de alerta que denunciaram a Síndrome do Esgotamento Profissional.

Confira dicas práticas para preservar a saúde mental no trabalho:

  • Defina limites claros de horário e dias semanais de contato para questões profissionais. Não é natural e nem saudável enviar ou receber mensagens profissionais em dias de descanso.
  • Negocie prazos quando possível. Sobrecargas e imprevistos acontecem frequentemente, por isso, busque não ultrapassar o seu horário de trabalho para entregar demandas recém solicitadas.
  • Evite checar e-mails e agendas fora do expediente. Busque aproveitar o tempo “off” com atividades que não tenham relação com temas profissionais.
  • Converse com colegas sobre formas coletivas de apoio. Todos podem se ajudar.

A saúde mental no trabalho também depende de mudanças estruturais. Por isso, é importante levar esse debate aos espaços institucionais.


Recomendações bônus: como aprofundar no cuidado em saúde mental

Para auxiliar no cuidado com a saúde mental de forma realista e gentil, vamos além das práticas para pensar a forma como nos relacionamos com nós mesmos nesse processo.

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Por exemplo, o curso Ansiedade Sob Controle - Casa do Saber aborda em detalhes mais dicas práticas e bem fundamentadas de como cuidar da saúde mental. Mas, aqui entre nós, vamos te dar um spoiler:

  • Evite comparações: o que você sente é legítimo

    Em um mundo onde todos parecem bem o tempo todo nas redes sociais, é fácil cair na armadilha da comparação. Mas lembre-se: cada pessoa tem um histórico, um repertório emocional e uma rede de suporte diferente. Comparar seu sofrimento ou progresso com o dos outros pode gerar frustração e culpa.

    Dica: Quando perceber que está se comparando, pergunte-se: “O que faz sentido pra mim nesse momento?”. Traga o foco para si, pois a sua trajetória é única.

  • Fale e pense sobre si com mais gentileza

    A forma como nos tratamos internamente tem impacto direto sobre a autoestima e a saúde mental. Se o seu diálogo interno é dominado por autocrítica, exigência ou dureza, tente inverter o tom: acolha suas falhas como parte do processo de ser humano.

    Dica: Quando errar ou falhar, experimente dizer para si algo que diria para um amigo querido. Lembre-se que você fez o que conseguiu naquele momento.

  • Valorize os pequenos avanços

    Não espere grandes transformações imediatas. Na saúde mental, pequenos passos consistentes são mais sustentáveis que mudanças radicais. O simples fato de reconhecer uma emoção, fazer uma pausa ou dormir melhor, já é uma conquista.

    Dica: Ao final do dia ou da semana, anote 1 ou 2 coisas que conseguiu fazer por si. Pode ser “fui dormir mais cedo” ou “desliguei o celular por 30 minutos”. São passos importantes a se orgulhar.



Resumo: Cuidar da saúde mental é um compromisso com a vida

Cuidar da saúde mental passa por reconhecer as próprias emoções, estabelecer limites saudáveis, buscar ajuda especializada e manter uma escuta ativa de si e do mundo.

Cuidar da saúde psíquica é um exercício contínuo de auto compaixão, por isso, é fundamental reconhecer que estar bem não significa estar feliz o tempo todo, mas sim desenvolver recursos para atravessar os momentos difíceis com mais consciência e resiliência, e com menos solidão.

O autocuidado psíquico é um compromisso com a vida que queremos ter. Requer priorização, escuta e coragem. Mas lembre-se: não existe solução rápida. O que existe é um caminho possível, com recaídas, avanços e descobertas. A saúde mental não é um destino fixo, mas uma travessia — e cada passo conta.

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O que são chistes na psicanálise? Freud, o humor e o inconsciente
Ricardo Salztrager
O que são chistes na psicanálise? Freud, o humor e o inconsciente
O que são chistes na psicanálise? Veja como Freud conecta humor e inconsciente, e por que certas piadas dizem mais do que parecem.

Algumas frases ditas de forma espontânea podem carregar muito mais do que apenas uma piada. Para Freud, os chamados chistes revelam desejos inconscientes e funcionam como uma via de escape para pensamentos que normalmente seriam reprimidos.

Neste artigo, você vai entender o que são os chistes na psicanálise, qual sua relação com o inconsciente e por que essas tiradas espirituosas dizem tanto sobre nós.

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O que é um chiste?

Em linhas gerais, os chistes respondem por tudo aquilo que se relaciona à ordem do cômico. Segundo a psicanálise, através do humor, o sujeito conseguiria manifestar algumas das suas tendências inconscientes, sejam elas agressivas ou mesmo obscenas.

O significado de chiste para a psicanálise

Para a psicanálise, ao contrário do que muitos pensam, os chistes não são exatamente piadas. Trata-se, aqui, de um antigo mal-entendido ocasionado pela problemática tradução do alemão “Witz” (termo empregado por Freud) por “chiste” que, literalmente, significa “piada”. No entanto, a ideia presente no texto freudiano não é exatamente esta.

Nesta perspectiva, destaca-se a opção de Lacan (1998) que, em seu “Seminário 5”, defendeu a tradução de “Witz” por “tirada espirituosa”. Para mim, esta é uma opção mais compatível com as análises de Freud e com os exemplos por ele mencionados. Por este viés, não seria através de qualquer piada que o inconsciente se manifestaria, mas apenas através de um tipo particular delas: as tiradas.

Uma “tirada” pode ser definida como qualquer fala, observação ou comentário mais ou menos espontâneo que através de jogos de palavras, trocadilhos ou neologismos consegue provocar riso nos outros. Em todas as tiradas, é comum haver certa dose de cinismo, ironia ou mesmo sarcasmo. E, de fato, qualquer um de nós reconhece que através de uma tirada, conseguimos dizer uma série de coisas que jamais poderiam ser ditas de outra maneira.

Qual a diferença entre chiste e piada?

Ao contrário do que muitos pensam, quando Freud escreveu sobre os chistes, ele não estava se referindo às piadas de maneira geral. Porém, a apenas um tipo delas: as “tiradas”.

As “tiradas” são espécies de trocadilhos, neologismos ou jogos de palavras que fazemos durante uma conversa e através dos quais conseguimos manifestar algumas das nossas tendências inconscientes.


Freud e o humor

São muitos os exemplos de chistes ou tiradas fornecidos por Freud. A maioria sem graça alguma... Há uns dois ou três mais engraçadinhos, mas mesmo assim, nem tanto.

Lembro de já ter compartilhado com alguns amigos psicanalistas a estranha sensação de não ter rido de quase nenhuma das tiradas apresentadas por Freud (muitas delas, inclusive, sequer entendi...). Como eles também confessaram não ter rido, concluímos que das duas uma: ou Freud era um péssimo piadista ou então há coisas que realmente só tem graça em alemão<. Ou as duas coisas...

Trata-se de algo semelhante ao que acontece quando, por exemplo, assistimos à transmissão do Oscar e também não rimos de exatamente nenhuma piada. E isso enquanto o apresentador conta mil delas no palco e a plateia inteira se esgoela de tanto rir. Deve haver coisas que só tem graça pra eles mesmo...


O chiste segundo Freud

Enfim, seguem os dois exemplos de tiradas mais ou menos engraçadinhas apresentadas por Freud:

Exemplo 1: A vaidade e os quatro calcanhares de Aquiles

O primeiro é o de dois amigos que conversavam sobre alguém que eles odiavam. Tratava-se de uma figura em evidência e bastante eminente na época. Durante a conversa, um comenta com o outro: “Bem, a vaidade é um de seus quatro calcanhares de Aquiles”.

Obviamente, o amigo riu de tamanha espirituosidade e sarcasmo. Uma tirada bem engraçadinha! Ora, percebe-se que ao referir-se à pessoa nestes termos, o piadista quis igualá-la a um animal, já que somente estes possuem quatro calcanhares.

Segundo Freud (1905/1996), o que ocorreu nesta ocasião foi o seguinte: o piadista possuía um impulso hostil em relação a alguém eminente, mas, por motivos óbvios, tal hostilidade não podia de forma alguma transparecer. Ante esta impossibilidade, ele acaba construindo um dito irônico capaz de expressar seus duros sentimentos.

Exemplo 2: Phocion e o elogio irônico

O outro exemplo é o de Phocion, estadista ateniense. Quando, em certa ocasião, ele termina um discurso e se vê aplaudido pelo povo, vira para os amigos e pergunta: “Qual foi a besteira que eu falei agora”?

Ora, para quem não entendeu a tirada, é necessário explicar que Phocion encarava o povo como propriamente estúpido. Portanto, se o estavam aplaudindo, certamente era porque ele havia dito alguma asneira durante seu pronunciamento. De fato, esta foi uma fala irônica e sarcástica que manifestava todo o seu desdém pela população.


O chiste e sua relação com o inconsciente

Com a publicação do livro “Os chistes e suas relações com o inconsciente”, em 1905, Freud encerrava a sua trilogia sobre o conceito de inconsciente.

A trilogia se inicia com “A interpretação de sonhos” de 1900 e prossegue com a “Psicopatologia da vida cotidiana” de 1901. Através destas três obras, Freud realizou suas intenções de analisar como o inconsciente se estrutura e funciona, além de também examinar como ele se manifesta.

Nestes três livros, Freud nos mostra as cinco formas de manifestação do inconsciente: os sonhos, os atos falhos, os lapsos, os sintomas e os chistes.

Mas, então, como os chistes se relacionam com o inconsciente?

Para a psicanálise, tudo se passa como se tivéssemos um domínio inconsciente no qual encontram-se algumas das nossas tendências recalcadas. Ou seja, vivemos em uma sociedade que não nos permite dar livre curso a tudo o que desejamos e, neste sentido, não podemos deixar que tais tendências proibidas se manifestem. Trata-se de desejos sexuais e obscenos, ou então, de tendências por demais agressivas que, por motivos meramente morais, não podemos realizar.

Porém, através de um chiste, de um trocadilho ou de um jogo de palavras conseguimos dar livre curso a estas tendências imorais. Com efeito, através de uma tirada espirituosa podemos dizer alguma coisa querendo, no fundo, dizer outra. Assim, algo proibido e inconveniente pode finalmente ser mostrado, conforme atestam os exemplos a seguir.

Uma tirada é uma maneira não tão direta de falarmos sobre coisas imorais, sejam elas sexuais ou agressivas: algo que jamais poderia ser dito de forma nua e crua o pode através de um jogo de palavras engraçado e inteligente.


Alguns exemplos de chistes

Segundo Freud (1905/1996), os chistes ou tiradas mais comuns são os obscenos, os agressivos e os cínicos. Vejamos exemplos dos três:

  • Chiste ou tirada obscena

    No escurinho do cinema
    Chupando drops de anis

    Longe de qualquer problema
    Perto de um final feliz

    Se a Deborah Kerr que o Gregory Peck
    Não vou bancar o santinho
    Minha garota é Mae West
    Eu sou o Sheik Valentino

    Mas de repente o filme pifou
    E a turma toda logo vaiou
    Acenderam as luzes, cruzes!
    Que flagra, que flagra, que flagra!

    (Rita Lee & Roberto de Carvalho – Flagra)

    Imaginem uma roqueira brasileira e seu marido, os dois ardendo de paixão, querendo fazer uma música repleta de obscenidades em plena ditadura militar? Não ia dar!

    Então, a solução foi apelar para a espirituosidade. E o verso “Se a Deborah Kerr que o Gregory Peck” é uma tirada que entrega tudo! Ora, Deborah Kerr e Gregory Peck são dois atores antigos de Hollywood. E Rita e Roberto fizeram um trocadilho interessantíssimo com o nome dos dois: algo que soa como “Se a Deborah quer que o Gregory peque”.

    Assim, através do humor e da espirituosidade, os dois conseguiram manifestar suas tendências obscenas, compondo uma música sobre como deve ser praticar o sexo oral no escurinho do cinema. Neste sentido, os versos “chupando drops de anis”, “perto de um final feliz” e “acenderam as luzes, cruzes, que flagra!” adquirem novos sentidos para além do literal. Sentidos, aliás, engraçadíssimos!

  • Chiste ou tirada agressiva

    Diz pra eu ficar muda, faz cara de mistério
    Tira essa bermuda que eu quero você sério
    Tramas do sucesso, mundo particular
    Solos de guitarra não vão me conquistar

    Uh, eu quero você como eu quero
    Uh, eu quero você como eu quero

    (...)

    Longe do meu domínio, cê vai de mal a pior
    Vem que eu te ensino como ser bem melhor

    (Leoni & Paula Toller – Como eu quero)

    Ao contrário do que muitos pensam, esta não é uma música de amor, mas sim, de ódio. E o alvo de tanto ódio é uma ex-empresária do Kid Abelha que, na época, namorava o antigo baterista da banda. Um relacionamento bastante conturbado por ela ficar exigindo que o músico abandonasse seu trabalho para dedicar-se a algo mais sério. Daí os versos “tira essa bermuda que eu quero você sério” e “solos de guitarra não vão me conquistar”.

    A tirada está no refrão: notem que não há vírgula em “eu quero você como eu quero”. Ou seja, não se trata de uma exclamação (eu quero você, como eu quero!), mas sim, de uma imposição: eu quero você como eu quero (que você seja...). Uma sacada inteligente e engraçada.

    Com efeito, através do humor e aproveitando dos duplos sentidos de algumas expressões, a gente consegue dizer um bando de coisas e ainda passarmos desapercebidos.

  • Chiste ou tirada cínica

    Oh, musa do meu fado
    Oh, minha mãe gentil
    Te deixo consternado
    No primeiro abril

    Mas não sê tão ingrata
    Não esquece quem te amou
    E em tua densa mata
    Se perdeu e se encontrou
    Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
    Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

    (...)

    Guitarras e sanfonas
    Jasmins, coqueiros, fontes
    Sardinhas, mandioca
    Num suave azulejo
    E o rio Amazonas
    Que corre trás-os-montes
    E numa pororoca
    Deságua no Tejo

    Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
    Ainda vai tornar-se um império colonial

    (Ruy Guerra & Chico Buarque – Fado tropical)

    “Fado tropical” é super irônica. Trata-se de uma composição do ano de 1973, época na qual a censura perseguia por demais o Chico Buarque e não o deixava gravar quase nada... Então, ele era obrigado a compor músicas repletas de trocadilhos e jogos de palavras com o intuito de burlar os censores.

    Esta música, então, conseguiu passar pela censura que, aliás, amou a letra. E isto porque eles pensaram que o Chico estava fazendo um elogio saudosista aos tempos nos quais o Brasil era uma colônia portuguesa. Tal interpretação se fez graças aos versos “Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar-se um imenso Portugal”, “E o rio Amazonas que corre trás-os-montes e numa pororoca deságua no Tejo” e, sobretudo, “Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar-se um império colonial”.

    No entanto, não era nada disso. Os elogios do Chico aos portugueses, bem como os anseios para que o Brasil se tornasse um imenso Portugal, se deram porque exatamente naquele ano, a Revolução dos Cravos destruía uma ditadura que já durava décadas... Daí o Chico querer que o mesmo acontecesse ao Brasil! Outra tirada, portanto, super espirituosa, sarcástica e irônica!

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Chistes, prazer e laço social

Por fim, é necessário frisar a interessante ideia de Freud (1905/1996) de que os chistes ou tiradas se constituem como verdadeiros promotores de laços sociais.

De fato, há no mínimo três sujeitos envolvidos no contexto de uma tirada: o sujeito que joga com as palavras, aquele que o ouve, além do objeto da ironia ou sarcasmo. E quando esta tirada é replicada por aquele que a ouve ainda podem inserir-se nesta cadeia outros tantos sujeitos.

Portanto, uma rede de laços sociais mais ou menos extensa e feita a partir de um prazer compartilhado. Prazer este promovido por uma espécie de “suspensão” (ainda que momentânea) do recalque que alguns ditos espirituosos conseguem tão bem promover.


Este texto foi escrito pelo professor Ricardo Salztrager, psicanalista e professor associado da UNIRIO e da Casa do Saber. Possui Graduação em Psicologia, mestrado e doutorado em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

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Referências:

Freud, S. (1905). Os chistes e sua relação com o inconsciente. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 8. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 9-231.

LACAN, J. (1999). O Seminário livro 5: As formações do inconsciente. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed.



Psicanálise
O que são chistes na psicanálise? Freud, o humor e o inconsciente
Ricardo Salztrager
O que são chistes na psicanálise? Freud, o humor e o inconsciente
O que são chistes na psicanálise? Veja como Freud conecta humor e inconsciente, e por que certas piadas dizem mais do que parecem.

Algumas frases ditas de forma espontânea podem carregar muito mais do que apenas uma piada. Para Freud, os chamados chistes revelam desejos inconscientes e funcionam como uma via de escape para pensamentos que normalmente seriam reprimidos.

Neste artigo, você vai entender o que são os chistes na psicanálise, qual sua relação com o inconsciente e por que essas tiradas espirituosas dizem tanto sobre nós.

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O que é um chiste?

Em linhas gerais, os chistes respondem por tudo aquilo que se relaciona à ordem do cômico. Segundo a psicanálise, através do humor, o sujeito conseguiria manifestar algumas das suas tendências inconscientes, sejam elas agressivas ou mesmo obscenas.

O significado de chiste para a psicanálise

Para a psicanálise, ao contrário do que muitos pensam, os chistes não são exatamente piadas. Trata-se, aqui, de um antigo mal-entendido ocasionado pela problemática tradução do alemão “Witz” (termo empregado por Freud) por “chiste” que, literalmente, significa “piada”. No entanto, a ideia presente no texto freudiano não é exatamente esta.

Nesta perspectiva, destaca-se a opção de Lacan (1998) que, em seu “Seminário 5”, defendeu a tradução de “Witz” por “tirada espirituosa”. Para mim, esta é uma opção mais compatível com as análises de Freud e com os exemplos por ele mencionados. Por este viés, não seria através de qualquer piada que o inconsciente se manifestaria, mas apenas através de um tipo particular delas: as tiradas.

Uma “tirada” pode ser definida como qualquer fala, observação ou comentário mais ou menos espontâneo que através de jogos de palavras, trocadilhos ou neologismos consegue provocar riso nos outros. Em todas as tiradas, é comum haver certa dose de cinismo, ironia ou mesmo sarcasmo. E, de fato, qualquer um de nós reconhece que através de uma tirada, conseguimos dizer uma série de coisas que jamais poderiam ser ditas de outra maneira.

Qual a diferença entre chiste e piada?

Ao contrário do que muitos pensam, quando Freud escreveu sobre os chistes, ele não estava se referindo às piadas de maneira geral. Porém, a apenas um tipo delas: as “tiradas”.

As “tiradas” são espécies de trocadilhos, neologismos ou jogos de palavras que fazemos durante uma conversa e através dos quais conseguimos manifestar algumas das nossas tendências inconscientes.


Freud e o humor

São muitos os exemplos de chistes ou tiradas fornecidos por Freud. A maioria sem graça alguma... Há uns dois ou três mais engraçadinhos, mas mesmo assim, nem tanto.

Lembro de já ter compartilhado com alguns amigos psicanalistas a estranha sensação de não ter rido de quase nenhuma das tiradas apresentadas por Freud (muitas delas, inclusive, sequer entendi...). Como eles também confessaram não ter rido, concluímos que das duas uma: ou Freud era um péssimo piadista ou então há coisas que realmente só tem graça em alemão<. Ou as duas coisas...

Trata-se de algo semelhante ao que acontece quando, por exemplo, assistimos à transmissão do Oscar e também não rimos de exatamente nenhuma piada. E isso enquanto o apresentador conta mil delas no palco e a plateia inteira se esgoela de tanto rir. Deve haver coisas que só tem graça pra eles mesmo...


O chiste segundo Freud

Enfim, seguem os dois exemplos de tiradas mais ou menos engraçadinhas apresentadas por Freud:

Exemplo 1: A vaidade e os quatro calcanhares de Aquiles

O primeiro é o de dois amigos que conversavam sobre alguém que eles odiavam. Tratava-se de uma figura em evidência e bastante eminente na época. Durante a conversa, um comenta com o outro: “Bem, a vaidade é um de seus quatro calcanhares de Aquiles”.

Obviamente, o amigo riu de tamanha espirituosidade e sarcasmo. Uma tirada bem engraçadinha! Ora, percebe-se que ao referir-se à pessoa nestes termos, o piadista quis igualá-la a um animal, já que somente estes possuem quatro calcanhares.

Segundo Freud (1905/1996), o que ocorreu nesta ocasião foi o seguinte: o piadista possuía um impulso hostil em relação a alguém eminente, mas, por motivos óbvios, tal hostilidade não podia de forma alguma transparecer. Ante esta impossibilidade, ele acaba construindo um dito irônico capaz de expressar seus duros sentimentos.

Exemplo 2: Phocion e o elogio irônico

O outro exemplo é o de Phocion, estadista ateniense. Quando, em certa ocasião, ele termina um discurso e se vê aplaudido pelo povo, vira para os amigos e pergunta: “Qual foi a besteira que eu falei agora”?

Ora, para quem não entendeu a tirada, é necessário explicar que Phocion encarava o povo como propriamente estúpido. Portanto, se o estavam aplaudindo, certamente era porque ele havia dito alguma asneira durante seu pronunciamento. De fato, esta foi uma fala irônica e sarcástica que manifestava todo o seu desdém pela população.


O chiste e sua relação com o inconsciente

Com a publicação do livro “Os chistes e suas relações com o inconsciente”, em 1905, Freud encerrava a sua trilogia sobre o conceito de inconsciente.

A trilogia se inicia com “A interpretação de sonhos” de 1900 e prossegue com a “Psicopatologia da vida cotidiana” de 1901. Através destas três obras, Freud realizou suas intenções de analisar como o inconsciente se estrutura e funciona, além de também examinar como ele se manifesta.

Nestes três livros, Freud nos mostra as cinco formas de manifestação do inconsciente: os sonhos, os atos falhos, os lapsos, os sintomas e os chistes.

Mas, então, como os chistes se relacionam com o inconsciente?

Para a psicanálise, tudo se passa como se tivéssemos um domínio inconsciente no qual encontram-se algumas das nossas tendências recalcadas. Ou seja, vivemos em uma sociedade que não nos permite dar livre curso a tudo o que desejamos e, neste sentido, não podemos deixar que tais tendências proibidas se manifestem. Trata-se de desejos sexuais e obscenos, ou então, de tendências por demais agressivas que, por motivos meramente morais, não podemos realizar.

Porém, através de um chiste, de um trocadilho ou de um jogo de palavras conseguimos dar livre curso a estas tendências imorais. Com efeito, através de uma tirada espirituosa podemos dizer alguma coisa querendo, no fundo, dizer outra. Assim, algo proibido e inconveniente pode finalmente ser mostrado, conforme atestam os exemplos a seguir.

Uma tirada é uma maneira não tão direta de falarmos sobre coisas imorais, sejam elas sexuais ou agressivas: algo que jamais poderia ser dito de forma nua e crua o pode através de um jogo de palavras engraçado e inteligente.


Alguns exemplos de chistes

Segundo Freud (1905/1996), os chistes ou tiradas mais comuns são os obscenos, os agressivos e os cínicos. Vejamos exemplos dos três:

  • Chiste ou tirada obscena

    No escurinho do cinema
    Chupando drops de anis

    Longe de qualquer problema
    Perto de um final feliz

    Se a Deborah Kerr que o Gregory Peck
    Não vou bancar o santinho
    Minha garota é Mae West
    Eu sou o Sheik Valentino

    Mas de repente o filme pifou
    E a turma toda logo vaiou
    Acenderam as luzes, cruzes!
    Que flagra, que flagra, que flagra!

    (Rita Lee & Roberto de Carvalho – Flagra)

    Imaginem uma roqueira brasileira e seu marido, os dois ardendo de paixão, querendo fazer uma música repleta de obscenidades em plena ditadura militar? Não ia dar!

    Então, a solução foi apelar para a espirituosidade. E o verso “Se a Deborah Kerr que o Gregory Peck” é uma tirada que entrega tudo! Ora, Deborah Kerr e Gregory Peck são dois atores antigos de Hollywood. E Rita e Roberto fizeram um trocadilho interessantíssimo com o nome dos dois: algo que soa como “Se a Deborah quer que o Gregory peque”.

    Assim, através do humor e da espirituosidade, os dois conseguiram manifestar suas tendências obscenas, compondo uma música sobre como deve ser praticar o sexo oral no escurinho do cinema. Neste sentido, os versos “chupando drops de anis”, “perto de um final feliz” e “acenderam as luzes, cruzes, que flagra!” adquirem novos sentidos para além do literal. Sentidos, aliás, engraçadíssimos!

  • Chiste ou tirada agressiva

    Diz pra eu ficar muda, faz cara de mistério
    Tira essa bermuda que eu quero você sério
    Tramas do sucesso, mundo particular
    Solos de guitarra não vão me conquistar

    Uh, eu quero você como eu quero
    Uh, eu quero você como eu quero

    (...)

    Longe do meu domínio, cê vai de mal a pior
    Vem que eu te ensino como ser bem melhor

    (Leoni & Paula Toller – Como eu quero)

    Ao contrário do que muitos pensam, esta não é uma música de amor, mas sim, de ódio. E o alvo de tanto ódio é uma ex-empresária do Kid Abelha que, na época, namorava o antigo baterista da banda. Um relacionamento bastante conturbado por ela ficar exigindo que o músico abandonasse seu trabalho para dedicar-se a algo mais sério. Daí os versos “tira essa bermuda que eu quero você sério” e “solos de guitarra não vão me conquistar”.

    A tirada está no refrão: notem que não há vírgula em “eu quero você como eu quero”. Ou seja, não se trata de uma exclamação (eu quero você, como eu quero!), mas sim, de uma imposição: eu quero você como eu quero (que você seja...). Uma sacada inteligente e engraçada.

    Com efeito, através do humor e aproveitando dos duplos sentidos de algumas expressões, a gente consegue dizer um bando de coisas e ainda passarmos desapercebidos.

  • Chiste ou tirada cínica

    Oh, musa do meu fado
    Oh, minha mãe gentil
    Te deixo consternado
    No primeiro abril

    Mas não sê tão ingrata
    Não esquece quem te amou
    E em tua densa mata
    Se perdeu e se encontrou
    Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
    Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

    (...)

    Guitarras e sanfonas
    Jasmins, coqueiros, fontes
    Sardinhas, mandioca
    Num suave azulejo
    E o rio Amazonas
    Que corre trás-os-montes
    E numa pororoca
    Deságua no Tejo

    Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
    Ainda vai tornar-se um império colonial

    (Ruy Guerra & Chico Buarque – Fado tropical)

    “Fado tropical” é super irônica. Trata-se de uma composição do ano de 1973, época na qual a censura perseguia por demais o Chico Buarque e não o deixava gravar quase nada... Então, ele era obrigado a compor músicas repletas de trocadilhos e jogos de palavras com o intuito de burlar os censores.

    Esta música, então, conseguiu passar pela censura que, aliás, amou a letra. E isto porque eles pensaram que o Chico estava fazendo um elogio saudosista aos tempos nos quais o Brasil era uma colônia portuguesa. Tal interpretação se fez graças aos versos “Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar-se um imenso Portugal”, “E o rio Amazonas que corre trás-os-montes e numa pororoca deságua no Tejo” e, sobretudo, “Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar-se um império colonial”.

    No entanto, não era nada disso. Os elogios do Chico aos portugueses, bem como os anseios para que o Brasil se tornasse um imenso Portugal, se deram porque exatamente naquele ano, a Revolução dos Cravos destruía uma ditadura que já durava décadas... Daí o Chico querer que o mesmo acontecesse ao Brasil! Outra tirada, portanto, super espirituosa, sarcástica e irônica!

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Chistes, prazer e laço social

Por fim, é necessário frisar a interessante ideia de Freud (1905/1996) de que os chistes ou tiradas se constituem como verdadeiros promotores de laços sociais.

De fato, há no mínimo três sujeitos envolvidos no contexto de uma tirada: o sujeito que joga com as palavras, aquele que o ouve, além do objeto da ironia ou sarcasmo. E quando esta tirada é replicada por aquele que a ouve ainda podem inserir-se nesta cadeia outros tantos sujeitos.

Portanto, uma rede de laços sociais mais ou menos extensa e feita a partir de um prazer compartilhado. Prazer este promovido por uma espécie de “suspensão” (ainda que momentânea) do recalque que alguns ditos espirituosos conseguem tão bem promover.


Este texto foi escrito pelo professor Ricardo Salztrager, psicanalista e professor associado da UNIRIO e da Casa do Saber. Possui Graduação em Psicologia, mestrado e doutorado em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

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Referências:

Freud, S. (1905). Os chistes e sua relação com o inconsciente. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 8. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 9-231.

LACAN, J. (1999). O Seminário livro 5: As formações do inconsciente. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed.



Mecanismos de Defesa do Ego: O que são, Tipos e Exemplos
Camila Fortes
Mecanismos de Defesa do Ego: O que são, Tipos e Exemplos
Conheça os 11 principais mecanismos de defesa descritos por Freud e Anna Freud e saiba como eles influenciam seus comportamentos.

Você já percebeu como, diante de situações difíceis, tendemos a reagir de forma inesperada? Para a psicanálise, comportamentos como negação, culpabilização ou projeção podem ser expressões da atuação dos mecanismos de defesa do ego.

Os mecanismos de defesa do ego são processos inconscientes utilizados pelo ego para lidar com conflitos internos, angústias e desejos incompatíveis com a realidade ou com os princípios morais. Esses mecanismos têm a função de proteger o indivíduo contra sentimentos potencialmente dolorosos, ao evitar o acesso direto à conteúdos psíquicos percebidos como ameaçadores.

A denominação foi inicialmente formulada por Sigmund Freud, o pai da psicanálise, e posteriormente sistematizado e ampliado por sua filha, Anna Freud, especialmente na obra “O Ego e os Mecanismos de Defesa” (1936).

Esses mecanismos são parte essencial da estrutura psíquica, composta por id, ego e superego, e ajudam a manter o equilíbrio psíquico frente às demandas do inconsciente e da realidade externa.

Neste texto, iremos explorar os principais mecanismos de defesa do ego, explicando como eles operam no inconsciente e apresentando os seus exemplos práticos.

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Repressão ou recalque

A repressão ou recalque é considerada um dos mecanismos de defesa mais fundamentais. Trata-se do processo de empurrar para o inconsciente desejos, pensamentos, lembranças ou impulsos considerados inaceitáveis ou ameaçadores para o ego.

Mas como eles funcionam no inconsciente? Bem, os conteúdos reprimidos não desaparecem, mas permanecem ativos no inconsciente, podendo retornar de maneira distorcida, como em sonhos, atos falhos ou fantasias. A repressão exige um gasto constante de energia psíquica para manter os conteúdos afastados da consciência.

Exemplo: uma pessoa que sofreu um abuso na infância pode não se lembrar do fato conscientemente, mas pode desenvolver sintomas de ansiedade, fobias ou dificuldades de relacionamento que indiquem a persistência de um trauma reprimido ou recalcado.


Negação

A negação é o mecanismo pelo qual o sujeito se recusa a reconhecer aspectos dolorosos da realidade ou de si mesmo. Em outras palavras, para evitar entrar em choque ou sofrer diante uma situação dolorosa, o indivíduo entra em negação diante o acontecimento. Esse comportamento é comum em momentos de perda, trauma ou choque emocional.

No inconsciente, o ego tenta evitar o sofrimento imediato que o reconhecimento dessa realidade traria. Nesse sentido, trata-se de uma defesa primitiva, na qual muitas vezes só é identificada quando se sofre as consequências de permanecer em negação por muito tempo.

Em vez de perceber a impressão dolorosa e, subsequentemente, cancelá-la mediante a retirada do respectivo investimento, está ao alcance do ego recusar o encontro, pura e simplesmente, com a situação perigosa externa. Pode fugir-lhe e, assim, no mais verdadeiro sentido da palavra, “evitar” as ocasiões de dor” (Freud, 1936/2006, p. 71).

Exemplo: uma pessoa que perde um ente querido pode continuar agindo como se ele ainda estivesse vivo, mantendo hábitos rotineiros, como conversar com a pessoa ausente. O mesmo pode ocorrer diante um relacionamento abusivo. Para não lidar com o sofrimento causado por um cônjuge violento, a pessoa pode negar as agressões, traições e omissões.



Projeção

Você já ouviu a frase: “A culpa é minha e eu coloco em quem eu quiser”? Pois bem, esse é o princípio da projeção. A projeção ocorre quando o sujeito atribui a outra pessoa sentimentos, desejos ou pensamentos que não reconhece como seus, por considerá-los inaceitáveis.

No inconsciente, esse mecanismo age da seguinte forma: o ego evita o conflito interno causado pelos impulsos proibidos, projetando-os no outro. Assim, o sujeito se isenta da responsabilidade pelo conteúdo rejeitado.

Exemplo: Uma pessoa com desejos de infidelidade que não consegue aceitá-los em si, pode desconfiar constantemente da fidelidade do parceiro. Ou, considerar colegas de trabalho como inimigos, mesmo quando a própria pessoa é competitiva.

Formação reativa

A formação reativa, por sua vez, é um mecanismo pelo qual o sujeito adota comportamentos, sentimentos ou atitudes opostas aos desejos inconscientes que deseja reprimir.

No inconsciente, a formação reativa funciona como uma máscara. O ego se protege expressando o oposto do que realmente sente, numa tentativa de esconder, inclusive de si mesmo, o conteúdo real. A função defensiva da formação reativa é, portanto, dupla: ao mesmo tempo que protege o ego da angústia provocada pelo desejo recalcado, também atua para preservar uma imagem de si compatível com as normas e ideais internalizados.

Exemplo: Uma pessoa que sente atração por pessoas do mesmo sexo pode se tornar homofóbica para proteger o ego do conflito entre o desejo e as normas morais. Ou, uma mãe pode se tornar excessivamente protetora para esconder a ausência de amor por um filho.


Isolamento

O isolamento é a separação de um pensamento ou acontecimento do seu contexto, impedindo que a pessoa se sinta abalada pelo fato. Em outras palavras, o isolamento afeta o componente afetivo de uma ideia ou lembrança, separando o conteúdo emocional e mantendo apenas o relato.

No inconsciente, esse mecanismo permite lidar com experiências dolorosas sem sentir o sofrimento associado.

O isolamento pode ser explicado e argumentado da seguinte maneira: na histeria um evento traumático pode cair na amnésia, na neurose obsessiva a experiência não é esquecida, mas destituída de afeto, e suas conexões associativas são suprimidas ou interrompidas, de modo que permanece como isolada” (Freud, 1926, p. 121).

Exemplo: Uma mulher que sofreu uma violência sexual pode relatar o ocorrido de forma objetiva e desprovida de emoção, como se estivesse contando um fato rotineiro. Ou, uma pessoa que é diagnosticada com alguma doença grave, mas simplesmente o ignora e não se importa, pode estar usando o isolamento para se proteger.

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Anulação (ou desmentido)

Já a anulação envolve realizar ações ou pensamentos que têm a função simbólica de “desfazer” ou “anular” algo inaceitável. A pessoa age como se pudesse apagar o que foi feito, dito ou sentido.

No inconsciente, se materializa enquanto uma tentativa de controlar a culpa ou a ansiedade associada a certos impulsos. Frequentemente aparece em comportamentos compulsivos ou supersticiosos.

“A anulação, também consiste essencialmente no desejo de que, por uma anulação mágica do tempo, o que aconteceu e perturba torne-se não acontecido” (Freud, 1926, p. 120).

Exemplo: Após assistir um filme de terror, a pessoa pode querer consumir imediatamente algum conteúdo mais leve ou divertido. Ou, após ter um pensamento considerado inapropriado ou catastrófico, a pessoa pode fazer o “sinal da cruz”, como uma forma de “anular” o pensamento.

Racionalização

Outro mecanismo que merece destaque é a racionalização. Ela busca justificar com argumentos lógicos e socialmente aceitáveis um comportamento, sentimento ou decisão que, na verdade, tem origem em motivos inconscientes ou inaceitáveis.

Em outros termos, trata-se de uma forma de maquiar a verdadeira motivação psíquica por trás de uma ação, oferecendo ao sujeito e aos outros uma explicação mais palatável ou razoável, que evita o confronto com conteúdos internos desconfortáveis.

Esse mecanismo do inconsciente ajuda a proteger o ego da pessoa de sentimentos de culpa ou vergonha, criando uma explicação que pareça mais razoável diante do fato.

Exemplo: Se uma pessoa se sente triste, pode racionalizar dizendo que “não importa” ou que “não é tão grave”. Ou, um estudante que não passou em um concurso afirma que não queria o cargo de verdade, pois o salário era baixo.

Deslocamento

O deslocamento consiste em transferir a carga emocional de um objeto ou pessoa considerada perigosa ou proibida, para outro objeto ou pessoa mais segura ou acessível. Ou seja, transfere-se as emoções de um alvo original para um alvo substituto, que seja menos ameaçador.

No inconsciente, o deslocamento permite que o sujeito expresse suas emoções, sobretudo, agressivas, sem confrontar diretamente sua fonte ideal. Essa manobra psíquica reduz o risco de punição, rejeição ou culpa, pois a energia emocional é redirecionada.

Exemplo: Um funcionário pode descontar em seus filhos a frustração com o chefe no trabalho. Ou, um adolescente que sofre bullying na escola pode se tornar agressivo com seus colegas.


Sublimação

Considerado um mecanismo de defesa razoavelmente saudável, a sublimação consiste em transformar impulsos primitivos ou inaceitáveis em atividades criativas ou artísticas. Ela opera como um canalizador de cargas emocionais, direcionando a energia para atividades que exijam estímulo psíquico.

No inconsciente, ela opera ao redirecionar o desejo reprimido ou negado, para fins nobres. É uma via de expressão simbólica altamente valorizada na vida psíquica adulta, pois permite que os conflitos internos encontrem uma saída produtiva e socialmente aceita.

Ao invés de reprimir o impulso, como ocorre em outros mecanismos, a sublimação transforma sua força em motor criativo e/ou intelectual, por isso, é frequentemente associada à maturidade emocional e ao desenvolvimento de talentos e vocações.

Exemplo: Um sujeito que sofre por algo pode transferir a frustração para a arte, criando obras que expressam esses sentimentos de forma socialmente aceitável. Ou, uma pessoa que sente muita raiva ou estresse no cotidiano pode começar a praticar um esporte de contato, como o jiu jitsu, para canalizar emoções de forma saudável.


Identificação

A identificação, por sua vez, é o processo de incorporação de características, valores ou comportamentos de outra pessoa, muitas vezes significativa para o sujeito. Trata-se de uma forma de aprendizado psíquico profundo, que molda a forma como o indivíduo se percebe e se posiciona no mundo.

No inconsciente, pode ocorrer por admiração, desejo de pertencimento, amor ou medo. Tem papel central na formação da personalidade e na interiorização de normas sociais. Ao se identificar com figuras, personalidades e identidades, internalizam-se também expectativas e modos de se comportar socialmente.

Exemplo: Um adolescente que admira um cantor começa a se vestir e falar como ele, internalizando seu estilo como forma de construir sua própria identidade. Ou, uma criança pode internalizar características e comportamentos de afeto ou violência dos pais para se sentir mais valorizada.

Regressão

Por fim, a regressão é o retorno a modos de funcionamento psíquico e comportamentos de fases anteriores do desenvolvimento, especialmente em situações de estresse ou conflito. Nela, o objetivo é aliviar a tensão ou o medo ao recorrer a formas mais antigas – e geralmente mais seguras - de lidar com a realidade.

Para Freud (1916/1917), a regressão é relativa ao desenvolvimento sexual, uma vez que ela tem uma função libidinal – a obtenção do prazer e da satisfação:

“O que até agora tratamos como regressão [...] significou exclusivamente um retorno da libido a anteriores pontos de interrupção de seu desenvolvimento – isto é algo inteiramente diferente, em sua natureza, da repressão, e inteiramente independente desta (Freud, 1916-17/1996, p. 346)”.

No inconsciente, a regressão representa uma tentativa de fuga temporária para estágios onde as exigências externas eram menores e o cuidado era mais garantido, como na infância. Embora possa ser útil em momentos críticos, oferecendo alívio momentâneo, quando se torna recorrente pode indicar resistência a amadurecer frente a desafios.

Exemplo: Uma pessoa em situações de estresse, pode começar a chorar de forma infantil. Ou, um fumante que, diante de um conflito, passa a fumar mais para se sentir seguro.


Conclusão: defesas não são falhas, são estratégias psíquicas

Neste texto, tratamos sobre os mecanismos de defesa, que são recursos do ego para garantir a manutenção do equilíbrio emocional frente a ameaças internas ou externas.

Longe de serem “erros” ou “falhas”, essas defesas representam tentativas de autorregulação emocional frente às exigências conflitantes do inconsciente, da realidade e das normas sociais.

Embora possam gerar sintomas quando utilizados de forma excessiva ou inadequada, sua função primordial é de autoproteção. Elas atuam como estratégias psíquicas que ajudam o sujeito a sobreviver emocionalmente diante de sentimentos como angústia, culpa, medo, vergonha ou desejo.

Assim, ao invés de condenar sua existência, é preciso reconhecê-las como parte do funcionamento mental humano saudável, ainda que, por vezes, sejam expressões de sofrimento.

Para Anna Freud (1936/2006), “tudo o que provém do ego é também uma resistência, em todos os sentidos da palavra: uma força dirigida contra a emergência do inconsciente”. Nesse sentido, conhecer os mecanismos de defesa é um passo importante para entendermos não só o sofrimento psíquico, mas também os caminhos possíveis para sua transformação.

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Referências

FREUD, S. (1996). Conferência XXII: Algumas ideias sobre desenvolvimento e regressão – etiologia. In S. Freud, Edição Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 16). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1916-17).

FREUD, Sigmund. Inibições, Sintomas e Ansiedade. Em S. Freud, Obras Completas de Freud (pp. Vol. XX, p. 79-171). Rio de Janeiro: Imago, 1926.

FREUD, Anna. [1936] “O ego e os mecanismos de defesa”. Tradução, consultoria e supervisão: Francisco F. Settineri. Porto Alegre: Artmed editora, 2006.

Ato falho na psicanálise: o que é, por que acontece e exemplos
Ricardo Salztrager
Ato falho na psicanálise: o que é, por que acontece e exemplos
Entenda o que são atos falhos nas ideias de Freud, por que causam vergonha, como revelam desejos inconscientes e importância para a psicanálise.

Trocar palavras, esquecer nomes, se confundir em momentos decisivos — são situações que parecem simples deslizes, mas que podem esconder algo muito mais profundo. Para a psicanálise, esses chamados “atos falhos” são pistas reveladoras sobre desejos inconscientes que tentamos reprimir.

Neste artigo, você vai entender como Freud interpretou esses enganos do cotidiano, por que eles nos causam tanto constrangimento e como, sem perceber, acabamos revelando verdades que gostaríamos de manter escondidas até de nós mesmos.

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O que é ato falho?

Freud (1901/1996) define os atos falhos como erros que frequentemente cometemos em nossas falas. Eles ocorrem quando queremos dizer alguma coisa, mas inesperadamente nos enganamos e falamos outra. Só que, a partir deste engano, acabamos falando a verdade.

Os atos falhos ocorrem não apenas no nível daquilo que falamos, também englobando os aparentes enganos em todas as nossas ações.

Vale lembrar que, em algumas edições, os atos falhos podem ser chamados pelo termo mais global “parapraxias”. Segundo Laplanche e Pontalis (1998) isto se deu pela opção dos tradutores da Standard Edition por criar o termo parapraxis para nele agrupar os mais variados lapsos de linguagem.


Atos falhos curiosos

Quem nunca chamou a namorada pelo nome da ex? Quem nunca cometeu um engano grotesco bem na hora de uma entrevista de emprego? Quem nunca soltou aquela besteira completamente risível na hora de paquerar alguém? Quem nunca falou algo “sem querer” justamente no momento mais inoportuno e, por isso, morreu de vergonha?

Eu mesmo já fiz tudo isso... Lembro-me, por exemplo, dos atos falhos que cometi em plena prova de aula do concurso para ser professor da Unirio. Diante de um juri de cinco psicanalistas, pelas quatro vezes em que tinha que falar o termo “relações sociais”, acabei falando “relações sexuais. Morri de vergonha, mas passei no concurso...

Outros tantos atos falhos aconteceram em congressos, palestras e inclusive em duas das aulas que dei para a Casa do Saber. E, para além da minha vida profissional, meu cotidiano também é repleto de atos falhos.



O significado de ato falho para a psicanálise

Para a psicanálise, estes tantos atos falhos não seriam simples erros ou enganos aleatórios. Pelo contrário, trata-se da manifestação de uma verdade até então impedida de se mostrar. E é justamente por isso que morremos de vergonha quando cometemos um ato falho. Se eles fossem meros enganos não haveria porque sentirmo-nos tão constrangidos.

Os atos falhos são um dos principais temas do livro “Psicopatologia da vida cotidiana”. Nele, a ideia de Freud (1901/1996) é a de que há algumas verdades que todos nós insistimos em negar e a esconder de nós mesmos. No entanto, quando menos esperamos, estas verdades encontram uma brecha e finalmente conseguem se manifestar em nossas falas.

Conforme veremos adiante, estas tantas verdades que insistimos em negar estão ligadas aos nossos desejos inconscientes.

Portanto, um ato falho é:

“um ato pelo qual um sujeito substitui, sem querer, um projeto ou uma intenção a que visa deliberadamente por uma ação ou conduta totalmente imprevistas” (Chemama, 1995, p. 18).




Freud e seu ato falho

São muitos os exemplos que posso mencionar aqui, pois me considero um verdadeiro colecionador de atos falhos.

Como disse, eu mesmo já cometi muitos e, sinceramente, adoro quando alguém os comete na minha frente. Em todos os atos falhos que já fiz, fiquei extremamente vermelho, ruborizado e quase enterrei minha cabeça no chão de tanta vergonha. Contra a minha vontade, a verdade nua e crua acabou aparecendo e eu me senti quase que desnudo na frente de todos que me escutavam.

Tem um exemplo de Freud engraçadíssimo. Conta ele que, em certa reunião social, um amigo estava de olho em uma convidada de seios belos e super fartos. Lá pelas tantas, o sujeito finalmente tomou coragem e foi chegar na dama. O pretexto que ele utilizou para iniciar uma conversa foi dizer o quanto o centro de Viena estava bonito e enfeitado para a Páscoa. E então ele pergunta à dama: “A senhora já foi ver como o centro de Viena está bonito? Vale a pena! A cidade está toda decotada”.

Assim, dá para imaginarmos a vergonha deste amigo de Freud. A verdade apareceu de forma incisiva: ele não estava nem um pouco preocupado com os enfeites de Páscoa, mas sim, com o decote da jovem dama.

E, aliás, temos mesmo que desconfiar que o protagonista desta situação foi um “amigo” de Freud, já que sempre quando contamos alguns dos nossos atos falhos, jamais confessamos que fomos nós os seus autores...

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Outros exemplos de atos falhos

Há outros exemplos que gosto muito.

  • O primeiro é outro dado pelo próprio Freud (1901/1996). Trata-se do ato falho de uma senhora autoritária que costumava dar todas as ordens em casa. Ela mandava e desmandava, o marido obedecia e os dois iam mantendo o casamento aos trancos e barrancos.

    Certa vez, esta senhora conta a Freud que o marido caíra doente e que se consultara com um médico para saber quais alimentos podia comer. Daí ela relata que o médico disse para o marido não se importar com dietas e que ele “poderia comer e beber o que eu quiser”.

  • Há também alguns exemplos engraçados e cometidos ao vivo diante das câmeras de televisão. Um destes foi o de um político que, lá pelos anos 2000, estava todo encalacrado com escândalos de corrupção. Eram muitas as acusações, uma atrás da outra, e o Senado chegou a montar uma CPI para investigar tantos escândalos.

    Até que, certo dia, este político estava ao microfone se defendendo diante de todo o Senado, quando disse: “Eu me declaro inocêncio.

    O escárnio foi generalizado e todos os jornais, revistas e telejornais deram grande destaque a tal constrangimento. Isto porque houve outro político preso semanas antes por corrupção cujo nome era Inocêncio de Oliveira. Claro que tamanho ato falho não pôde ser utilizado como prova ou confissão dos diversos crimes que tal político cometera, porém rendeu grandes risadas a toda a população.

  • Um terceiro exemplo é o de um ex-presidente nosso. Certo dia, ao elogiar o Exército e criticar as outras instituições brasileiras, falou com todas as letras:

    “Para as Forças Armadas, se o militar mente, acabou a carreira dele... O cara não sai sargento! O subtenente não sai tenente! O coronel não sai general! Não tem prescrição pra isso... E nós temos um Chefe do Executivo que mente!”.

    Ele queria dizer “Chefe do Judiciário”, mas se enganou... “Chefe do Executivo” era ele próprio!

  • Este mesmo ex-presidente, certo dia, cometeu outro ato falho, bem na época em que tentava a reeleição. Reeleger-se, para ele, além de uma questão de honra, era também algo fundamental. Isto porque, com um cargo político, ele finalmente se livraria de ser preso pelos tantos crimes que cometera durante seu governo.

    Só que a reeleição estava difícil. Seu arqui-inimigo político estava com boa vantagem em todas as pesquisas e era bem provável (tal como efetivamente aconteceu) que ele ganharia esta batalha.

    Daí, ao final de um debate entre os dois, e diante das câmeras de televisão da maior emissora do país, o candidato à reeleição diz: “Muito obrigado, meu Deus! E se essa for a sua vontade, estarei pronto para cumprir com mais um mandato de deputado federal”.

    A risada foi geral! Seu desespero era tanto que ele estava até topando o cargo de deputado só para não ser preso...

  • Por fim, também ficou famoso o ato falho de uma pastora durante um culto:

    “Na casa do meu marido, eu tinha tudo o que eu queria. Ele me dava tudo. Ele me dava joias, ele me dava presentes, ele me vestia, ele me comia, oh, ele me dava de comer...” — e por aí a pastora seguiu elogiando o marido... Abafa o caso!

Atos falhos nas ações

Há também os atos falhos que ocorrem no domínio das nossas ações. Quem nunca se confundiu e ao invés de mandar uma mensagem super sexy para o amante acabou mandando para o pai ou para a mãe? Quem nunca se enganou sobre o dia da semana e acabou não realizando os compromissos daquele dia? Quem nunca falou mal do patrão ou do professor sem perceber que ele estava bem atrás e ouvindo tudo?

Fora as tantas crises de riso que somos capazes de ter nos momentos mais inapropriados como enterros, velórios, execuções de hino e nos “um minuto de silêncio”.

Para estas tantas ações, vale o mesmo que foi colocado a respeito dos atos falhos das nossas falas. Aqui também não se trata de meros equívocos ou erros bobos, mas sim, de verdades aparecendo, verdades que insistimos em ocultar de todos e, sobretudo, de nós mesmos.

Um exemplo que se sucedeu com Freud (1901/1996): conta ele que, por seis anos, frequentava diariamente um apartamento que ficava no segundo andar de uma construção. Certa vez, enquanto dirigia-se distraído para lá, ele se pega subindo um lance a mais de escadas. Quando finalmente se dá conta do ato falho, ele percebe que naquele momento estava bastante irritado com uma crítica de um colega seu de que sempre “ia longe demais” nos textos que escrevia.

E, a partir deste ato falho, podemos ter certeza que era verdade o que seu amigo dissera...

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Atos falhos e inconsciente

Conforme destacamos acima, Freud (1901/1996) considera os atos falhos como manifestações do inconsciente.

Assim, devemos considerar que, para a psicanálise, todos nós temos um inconsciente, ou seja, um domínio em nosso psiquismo que desconhecemos. Em outros termos, trata-se de ressaltar que todos nós possuímos desejos desconhecidos, fantasias desconhecidas e mesmo características das quais não temos o menor conhecimento.

Mas por que estes tantos desejos, fantasias e características se tornam inconscientes? Segundo Freud (1909/1996) estas tantas tendências acabam se tornando inconscientes por serem incompatíveis com a moral em voga na sociedade. Neste sentido, quando possuímos um desejo tido como imoral, nos defendemos dele recalcando-o, ou seja, tornando-o inconsciente.

Deste modo, o recalque é tido como o mecanismo responsável por tornar inconsciente um desejo imoral. No entanto, há que se alertar para o fato de que tornar um desejo inconsciente não significa matá-lo. Pelo contrário, o desejo continua vivo e à espreita de alguma situação propícia para se manifestar.

E é exatamente isto o que ocorre quando cometemos um ato falho. A tendência inconsciente que insistíamos em negar consegue finalmente uma brecha para aparecer. Quando isso acontece, toda a nossa verdade é escancarada... e na frente de todos! Por isto tanto ruborizamos e nos envergonhamos diante dos nossos tantos “aparentes” enganos:

“O ato falho surge como uma formação de compromisso entre a intenção consciente do sujeito e seu desejo inconsciente, compromisso esse que se exprime por perturbações que assumem a forma de ‘acidentes’ ou de ‘falhas’ da vida cotidiana” (Chemama, 1995, p. 18).


Portanto, cabe destacar que, para a psicanálise, um ato falho nada tem de falho. Pelo contrário, ele é extremamente bem-sucedido em apresentar o desejo inconsciente de forma bastante direta.




Ato falho e escuta clínica

Por apresentarem o desejo inconsciente de forma tão manifesta, os atos falhos consistem em tendências muito privilegiadas pela clínica psicanalítica.

Desta maneira, quando em meio às suas associações livres, um paciente comete um ato falho, o analista jamais deve ignorá-lo. Ou seja, por mais que o paciente argumente que “foi um engano”, que “não quis dizer isso” ou que “eu errei”, o psicanalista não deve se deixar levar por tais desculpas. Pelo contrário, é recomendável que ele peça ao paciente para associar livremente a respeito do ato falho cometido. Com isto, um material muito maior pode acabar sendo trazido para a análise.

Trata-se, portanto, de valorizar os atos falhos na clínica psicanalítica enquanto portadores de um sentido e jamais como erros, enganos ou frutos de desatenções e descuidos. Um ato falho, muitas vezes, acaba revelando uma verdade que analista e paciente há muito vinham procurando. Por isso, a clínica psicanalítica deve em muito valorizá-lo.

Este texto foi escrito pelo professor Ricardo Salztrager, psicanalista e professor associado da UNIRIO e da Casa do Saber. Possui Graduação em Psicologia, mestrado e doutorado em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

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Referências:

Chemama, R. (1995). Dicionário de psicanálise. Porto Alegre: Artes Médicas.

Freud, S. (1901). A psicopatologia da vida cotidiana. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 6. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 11-290.

______. (1909). Moral sexual “civilizada” e doença nervosa moderna. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 9. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 165-186.

Laplanche, J. & Pontalis, J. B. (1998). Vocabulário de psicanálise. São Paulo: Martins Fontes.

Psicologia
Psicologia: O que é, Áreas, Abordagens e Como Estudar Online
Rodrigo Gomes
Psicologia: O que é, Áreas, Abordagens e Como Estudar Online
Psicologia: O que é, graduação, áreas de atuação e abordagens teóricas. Veja cursos para estudar online com certificado e aprofundar-se na profissão.

Entenda as possibilidades de se estudar psicologia através de cursos online, os famosos EAD (educação à distância). A seguir, exploraremos as áreas de atuação e abordagens da psicologia, além de apresentar opções e custos para quem deseja aprofundar os conhecimentos na área de forma remota.



Como estudar Psicologia online?

Se você está procurando opções para cursar a faculdade de psicologia à distância, infelizmente temos uma má notícia para te dar. Até o momento, de acordo com a determinação do Ministério de Educação (MEC), a graduação de psicologia não pode ser oferecida na modalidade EAD. Por outro lado, há muitas possibilidades de se estudar psicologia online por meio de cursos livres, pós-graduação e especializações.

A opção pelo ensino à distância atende tanto a estudantes quanto profissionais da área, onde o aluno pode explorar diferentes abordagens da psicologia com liberdade, seja para aprender sobre conteúdo introdutório ou especializar-se em algum tema de sua preferência. É possível estudar a psicologia analítica, de Carl Jung, a psicanálise, de Freud, e, ao mesmo tempo assistir a cursos sobre a logoterapia para investigar as ideias de Viktor Frankl.

Existe faculdade de Psicologia EaD?

Como já mencionado acima, não existe a possibilidade de realizar a graduação em psicologia EaD . Em julho de 2022, o Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU) chegou a conseguir a autorização do MEC para oferecer o curso à distância, através da portaria MEC 749. Porém, no dia seguinte, o próprio Ministério da Educação a anulou, sob alegação de erro material.

À época, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) e mais de 20 entidades publicaram uma nota de repúdio à Portaria MEC 749, afirmando que a presencialidade é indispensável para a formação de qualidade em Psicologia.

Posteriormente, em setembro de 2023, pela Portaria Nº 1.838, o Ministério da Educação abriu consulta pública para elaboração de proposta de regulamentação de oferta do curso de Psicologia - entre outras graduações - na modalidade de educação à distância.

Desde então, a discussão vem sendo constantemente adiada, sem uma previsão de desfecho à vista. Desta forma, não é possível definir ainda se, no futuro, a modalidade de graduação à distância será ou não viabilizada para o curso de psicologia. Mas, se depender da opinião do conselho dos profissionais de psicologia, a decisão permanecerá em mantê-lo somente no modelo presencial.

Atenção para não confundir:

Embora a graduação em psicologia seja recomendada, algumas abordagens da psicoterapia, como a psicanálise, não exigem formação superior específica no curso de psicologia para o exercício da atividade profissional. Por isso, é possível encontrar algumas instituições oferecendo o curso de formação para psicanalista 100% ead - o que é permitido.

O que é Psicologia e qual o papel do profissional da área?

A psicologia é uma ciência que se dedica a tratar, estudar e analisar o comportamentos dos indivíduos e os processos mentais, como sentimentos, pensamentos e razão. Embora a área de estudo tenha sido elaborada há alguns séculos no campo da filosofia, a psicologia estruturou-se como uma ciência independente somente em meados do século 19. Desde então, surgiram diversas teorias sobre o comportamento humano e novas descobertas científicas - como a chegada das neurociências..

O cenário dinâmico exige estudo constante do profissional da área. O psicólogo deve atuar na promoção da saúde mental, tratamento, intervenção em crises e em desenvolvimento pessoal e profissional. Seu trabalho tem grande importância social e demanda certa sofisticação, pois deve desenvolver habilidades como empatia e comunicação, mas também conhecimento técnico para diagnosticar e tratar problemas de saúde mental de forma eficaz.

Como em diversas outras profissões, há muitas áreas de atuação. No caso da psicologia, além desta segmentação, também encontramos diferentes teorias, técnicas e abordagens para analisar o comportamento humano, como veremos mais adiante.

Sobre o curso de graduação em Psicologia

O curso de psicologia prepara o profissional para atuar em diferentes contextos sociais e profissionais de forma ética, desenvolver o conhecimento científico, analisar criticamente os fenômenos sociais e biológicos e atuar na promoção da saúde. Dados do Sisu 2024 mostram que psicologia foi o 4° curso com maior número de inscrições, no topo da lista das graduações mais procuradas pelos estudantes.

POSIÇÃO CURSO QTDE. INSCRITOS
MEDICINA 298.316
DIREITO 157.364
ADMINISTRAÇÃO 118.883
PSICOLOGIA 103.336
ENFERMAGEM 99.768
PEDAGOGIA 89.702
MEDICINA VETERINÁRIA 65.271
CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO 57.385
EDUCAÇÃO FÍSICA 55.437
10° CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 52.822


Dados extraídos do relatório do Sisu 2024

Qual a duração da faculdade de Psicologia?

A graduação em psicologia tem duração de 5 anos. Segundo as diretrizes curriculares para o curso de psicologia estipuladas pelo MEC, o estágio supervisionado é atividade obrigatória.

“Art. 11. A carga horária referencial dos cursos de Psicologia é de 4.000 (quatro mil) horas com, no mínimo, 20% (vinte por cento) da carga efetiva global para estágios supervisionados básicos e específicos, e duração mínima de 5 (cinco) anos.


Todas as instituições devem oferecer acesso ao núcleo comum do curso de Psicologia ao estudante. No entanto, as instituições podem possuir estruturas curriculares diferentes de acordo com as ênfases curriculares oferecidas. As ênfases curriculares são caminhos possíveis de estudo para aprofundamento de determinadas competências e habilidades necessárias para o exercício da profissão.

Em determinado momento da graduação, o aluno deverá optar pela ênfase que reflita o seu interesse para seguir as disciplinas e estágios correspondentes à sua escolha. Respeitando o projeto pedagógico, cada instituição deve disponibilizar ao menos duas opções de ênfases aos alunos, considerando as demandas sociais contemporâneas ou potenciais, assim como as características da instituição e da região em que se situa.

Isso significa que cada faculdade formulará os próprios eixos que são peculiares aos objetos de estudo e história do curso desenvolvido na instituição. Tenha isto em mente no momento de pesquisar as opções de faculdade de psicologia que deseja ingressar.

Para atuar profissionalmente como psicólogo, é necessário possuir o diploma de bacharelado em Psicologia por uma instituição reconhecida pelo MEC, além de estar inscrito no Conselho Regional de Psicologia (CRP) de sua região.

Quais as áreas da Psicologia?

Apesar de a imagem do psicólogo clínico atendendo o paciente frente a frente em seu consultório ser uma das primeiras a vir à mente, a psicologia tem diferentes áreas de atuação. Cabe ao estudante em formação ou ao profissional identificar qual delas se adequa mais ao seu perfil.

Uma vez com o diploma na mão, o psicólogo está apto a exercer a profissão em qualquer área de atuação da psicologia. A partir da resolução CFP 23/2022, foram reconhecidas 13 especialidades para o exercício da psicologia . Confira as áreas da psicologia na lista abaixo:

  • Psicologia Clínica
  • Psicólogo Organizacional e do Trabalho
  • Psicologia Jurídica
  • Psicologia do Esporte
  • Psicologia Social
  • Psicologia Escolar ou Educacional
  • Psicologia de Tráfego
  • Neuropsicologia
  • Psicomotricidade
  • Psicopedagogia
  • Psicologia Hospitalar
  • Psicologia em Saúde
  • Avaliação Psicológica


Conheça as principais abordagens da Psicologia

Há diversas abordagens da psicologia sendo praticadas na atualidade. Mas por que precisam existir tantas ramificações teóricas? É importante compreender que não há uma definição sobre qual abordagem é a melhor. O que vamos descobrir - e veremos detalhadamente neste tópico - é que elas apresentam diferenças importantes entre si, como objetos de estudo distintos.

A Psicanálise, fundada por Sigmund Freud, por exemplo, dedica-se ao estudo do inconsciente e os processos mentais internos para entender o comportamento humano. Já o Behavorismo, desenvolvido por Skinner, se concentra na observação do comportamento, pautado pela análise e estudo do comportamento a partir de estímulos externos.

“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana” - Carl Jung
foto de Carl Gustav Jung
Carl G. Jung, fundador da Psicologia Analítica


Veja algumas das abordagens teóricas:

  • Psicanálise
  • Psicologia Analítica
  • Behaviorismo ou Analítico Comportamental
  • Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC)
  • Gestalt


Psicanálise:

Fundada por Sigmund Freud, a psicanálise surgiu no final do séc. 19, quando o médico austríaco revelou ao mundo uma grande descoberta: o inconsciente. Segundo sua teoria, a origem dos sintomas, transtornos mentais e emocionais está guardada neste campo oculto, que só pode ser acessado através da fala. Desta forma, o processo terapêutico para tratamento e cura dos fenômenos de ordem mental se dariam a partir do método de livre associação, onde o paciente pode falar livremente sobre qualquer assunto que lhe vier à mente (por isso, comumente conhecida como “terapia da fala”).

Fundamentada na investigação do inconsciente, o analista pode conduzir o paciente através da interpretação dos sonhos, análise de padrões de comportamento e repetições originadas ainda na infância. A partir da teoria criada pelo “pai da psicanálise”, começaram a ser trabalhados conceitos que hoje são bastante conhecidos, como complexo de édipo , ato falho e recalque.

Além disso, é bem comum que a psicanálise seja associada ao uso do divã, aquele sofá sem encosto em que o paciente se deita, embora ele nem sempre seja utilizado. Inspirados pela obra do médico austríaco, outros pensadores fundaram novas linhas da psicanálise, como a linha lacaniana, do francês Jacques Lacan, a linha kleiniana, da austríaca Melanie Klein e a linha winnicottiana, criada pelo inglês Donald Winnicott.

foto do divã utilizado por Freud  coberto pelo tapete de lã Qashqa'i shekarlu exposto no museu de Freud em Londres
Divã original de Freud, utilizado nas sessões com os seus pacientes (Reprodução: Freud Museum London)


A origem do divã de Freud

O icônico divã utilizado por Freud foi, na verdade, um presente recebido de sua paciente Madame Benvenisti , em 1890. Estima-se que mais de 500 pacientes tenham se deitado neste divã, que está exposto no Museu de Freud em Londres.

Psicologia Analítica Junguiana:

Fundada pelo psiquiatra Carl G. Jung no início do séc. 20, a psicologia analítica foi criada após o médico suíço se deparar com divergências teóricas em relação às ideias de Freud, com quem colaborou por algum tempo. Jung elaborou uma teoria totalmente nova, fundamentada em conceitos importantes como o inconsciente coletivo, individuação e os arquétipos.

Jung coloca que o inconsciente coletivo compõe uma camada universal, herdada pelos indivíduos através de seus ancestrais. Segundo sua teoria, as pessoas nascem com predisposição na forma de pensar e agir, que refletem imagens presentes em todas as culturas, representados pela noção dos arquétipos.

A partir da análise de símbolos, da interpretação de sonhos e mitos, o tratamento proporcionado pela psicologia analítica consegue auxiliar o paciente a encontrar novos caminhos de simbolização, que o conduzem ao autoconhecimento e a uma vida mais equilibrada.

Behaviorismo ou Analítico Comportamental:

O termo behaviorismo foi cunhado pelo psicólogo estadunidense John B. Watson, em 1913. A origem do nome remete ao termo “behavior”, da língua inglesa, que traduzido para o português significa “comportamento”. Na década de 1940, o psicólogo B. F. Skinner deu continuidade às ideias propostas por Watson e formulou novas contribuições à teoria, no que ficou conhecido como “behaviorismo radical”.

O behaviorismo surge em oposição às abordagens focadas nos processos mentais internos e passa a se dedicar ao estudo do comportamento observável, trabalhando observação, influência do ambiente e coleta de dados mensuráveis.

Esta proposta terapêutica propõe-se a compreender padrões comportamentais para tratamento de diversos transtornos, como depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, entre outros. A concepção é de que a partir da análise do comportamento, é possível treinar habilidades e modificar padrões comportamentais através de técnicas específicas como reforço e punição, de forma a melhorar o bem-estar do paciente.

Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC):

A Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC) foi criada pelo psiquiatra norte-americano Aaron Beck na década de 1960. Com alguns elementos em comum ao behaviorismo radical, a TCC incorpora elementos cognitivos ao tratamento. Isto significa que este modelo de terapia além de incluir a análise do comportamento influenciado por estímulos do ambiente, leva também em consideração os pensamentos e emoções do paciente como forma de identificar, questionar, modificar e tratar os sintomas.

A partir do tratamento, o psicólogo auxilia o paciente na busca pela identificação de padrões de pensamento distorcidos., bem como a modificação de crenças e hábitos disfuncionais.. Amparada por pesquisas e publicações científicas, a TCC se propõe a utilizar técnicas de intervenção de eficácia comprovada, atendendo às especificidades de cada transtorno mental.

Gestalt-terapia:

A Gestalt-terapia, conhecida como “terapia da forma”, foi criada no início do séc. 20 pelo médico alemão Fritz Perls, inspirada pelas ideias da Psicologia da Gestalt, de Wertheimer, Köhler e Koffka. Este modelo de terapia valoriza a subjetividade e o momento presente ( “aqui e agora”) , onde o paciente é estimulado a se concentrar em seus sentimentos, pensamentos e ações a partir de técnicas específicas utilizadas pelo profissional.

São diversas abordagens utilizadas, como a da cadeira vazia, onde o paciente senta-se de frente para uma cadeira vazia e simula uma conversa consigo mesmo ou com uma pessoa que tenha tido papel relevante em algum evento que tenha impactado a sua vida.

Outra técnica é a dramatização, onde a pessoa pode ser encorajada a interpretar papéis, expressar algum sentimento verbalmente ou em forma de movimento. Estas técnicas tem o objetivo de promover o autoconhecimento. e, consequentemente, a identificação de padrões de pensamentos negativos que podem prejudicar a sua vida.

Psicoterapia Contemporânea: Por uma Integração Transteórica de Diversas Práticas e Teorias
por Luiz Hanns

Em sua história, a psicoterapia ficou marcada pela divisão entre abordagens, cada uma com suas próprias concepções, métodos e indicações clínicas, com diferenças, à primeira vista, irreconciliáveis e muitas vezes dogmáticas.

Neste curso, Luiz Hanns aborda o integracionismo metodológico, que difere do ecletismo selvagem, e que permite uma clínica transteórica em busca da integração das melhores práticas e teorias.

Confira o curso!

Conhecemos agora algumas das abordagens da psicologia. Embora todos os profissionais da área passem, de certa forma, por este processo de definição teórica, a linha seguida por cada um é notada de forma mais perceptível nos tratamentos de psicoterapia, onde o paciente costuma ser acompanhado por períodos mais longos.

Não existe regulação ou exigência formal que obrigue o psicólogo a escolher uma das abordagens disponíveis. Assim como nas áreas de atuação, o psicólogo graduado está apto a praticar qualquer abordagem teórica.

Esta escolha representa um direcionamento pessoal do psicólogo, que não exclui a possibilidade de estudo ou aplicação de técnicas de diferentes linhas teóricas. No fundo, o que todos querem - tanto o psicólogo quanto o paciente - é conseguir encontrar um caminho comum para a melhora da saúde mental. Por isso, a aliança terapêutica - relação entre terapeuta e paciente - tem uma importância muito grande e é fundamental para qualquer modelo psicoterapêutico.

O que é “Aliança Terapêutica”?

É um conceito universal que caracteriza a relação de trabalho e de confiança entre terapeuta e paciente, comum a todas as abordagens teóricas. Tem grande importância para o bom desenvolvimento do processo psicoterapêutico, pois influencia na formação e manutenção do vínculo, permanência, desfecho e encerramento da psicoterapia.

Agora que já conhecemos as áreas e abordagens da psicologia, é provável que você já tenha se interessado por algum tema que gostaria de estudar. A seguir, apresentaremos algumas opções de curso para você começar a sua trajetória na área!

Onde Encontrar Cursos de Psicologia Online? Veja as Melhores Opções

Uma boa alternativa tanto para estudantes como para profissionais já em atuação são os cursos livres de psicologia à distância. A grande vantagem deste modelo é que costumam ter um valor mais acessível, sendo possível encontrar conteúdo de muita qualidade e em constante atualização.

Confira 5 cursos para você dar os primeiros passos na área:

  • A Tal da Felicidade, por Luiz Hanns

    Entenda os argumentos da psicologia para definir felicidade como um sentimento de realização pessoal e individual, mais próximo do bem estar mental pleno do que da prosperidade material.

  • Freud Fundamental: As Ideias e as Obras, por Pedro de Santi

    O curso oferece uma introdução acessível aos principais conceitos de Sigmund Freud e suas obras, transformando a compreensão dos desejos e dilemas humanos. Ideal tanto para iniciantes quanto para aqueles que já possuem contato com a psicanálise, proporcionando novas reflexões.

  • Uma Introdução Guiada e Descomplicada ao Pensamento de Jung, por Lilian Wurzba:

    O curso oferece uma introdução acessível ao pensamento de Carl Gustav Jung, focando no autoconhecimento e na busca por uma vida mais íntegra. Ele esclarece equívocos comuns sobre suas ideias e acompanha o desenvolvimento de sua psicologia.

  • Quatro Livros para Entender Jung, por Tatiana Paranaguá

    O curso explora quatro obras fundamentais de Carl G. Jung, oferecendo uma introdução aos principais aspectos de seu pensamento e à Psicologia Analítica. As aulas funcionam como um guia para iniciar a jornada pelo vasto trabalho do autor

  • O Sentido da Vida, por Contardo Calligaris.

    Ser plenamente feliz é um objetivo muito buscado pela humanidade, e nos tempos atuais este estado parece ser ainda mais desejado. Neste encontro, o psicanalista Contardo Calligaris discute a obrigação da felicidade, o “morrer bem” e o sentido da vida.

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Depressão tem cura? Conheça os sinais e tratamentos
Carolina Tosetti
Depressão tem cura? Conheça os sinais e tratamentos
Você sabe quais são os tipos de depressão? Entenda esse transtorno psíquico desde o diagnóstico psiquiátrico até as profundezas da psicanálise.

Quando fala-se sobre depressão hoje, a realidade aponta que este é um transtorno complexo e cada vez mais comum, que não faz distinção de idade ou status social.

Explore as estatísticas alarmantes no Brasil, entenda as classificações psiquiátricas, os manejos psicanalíticos e a importância do diagnóstico profissional na identificação e tratamento da depressão.

O contexto da depressão na atualidade

A depressão é um transtorno mental ou psíquico que pode atingir qualquer um, independentemente da idade, gênero, etnia ou classe social. Apesar da sua gravidade, muitas pessoas não dão a atenção necessária para a doença, o que pode dificultar o diagnóstico e, consequentemente, o seu tratamento.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil tem a maior taxa de prevalência de depressão da América Latina e a segunda maior nas Américas. A previsão é que, em 2030, a depressão seja a primeira causa específica de incapacidade funcional no mundo.

De maneira geral e simplificada, pela visão psiquiátrica, a depressão é um transtorno biológico que se manifesta em forma de tristeza e angústia. A pessoa deprimida perde o interesse ou prazer em realizar atividades que antes gostava, podendo levar a mudanças bruscas de humor e comportamento, afetando diversas áreas de sua vida.

As alterações repentinas do humor são, inclusive, um dos sintomas mais comuns da doença. Por isso, o acompanhamento profissional se faz essencial para diagnosticar a depressão ou episódios de tristeza prolongados.

imagem de divulgação de masteclass sobre psicopatologias na atualidade com alexandre patrício



A visão da psiquiatria sobre a depressão

Em 1952, a Associação Psiquiátrica Americana (American Psychiatric Association, APA) publicou pela primeira vez o Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, DSM-1), a primeira tentativa de abordar o diagnóstico das doenças mentais por meio de definições e critérios padronizados.

A DSM-5-TR, publicada em 2022, fornece um sistema de classificação que tenta separar as doenças mentais em categorias diagnósticas com base na descrição dos sintomas.

A Classificação Internacional de Doenças, décima-primeira revisão (CID-11), e a mais recente versão publicada pela Organização Mundial da Saúde, utiliza categorias diagnósticas semelhantes às encontradas no DSM-5-TR. Essa semelhança indica que o diagnóstico das doenças mentais específicas está sendo feito de forma mais padronizada em todo o mundo.

A coleta da história clínica, a anamnese e o exame devem observar os critérios da décima primeira versão da Classificação Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde (CID), da Organização Mundial da Saúde.

Nenhum sinal ou sintoma representa propriamente uma patologia. A confecção do diagnóstico da depressão deve levar em conta que os critérios da CID apresentam grau de subjetividade, devendo-se evitar a psicopatologização e a medicalização de sentimentos humanos normais.

Sintomas da depressão: a importância do diagnóstico profissional

O diagnóstico da depressão é feito a partir da avaliação clínica de um profissional com base na persistência, abrangência e interferência que os sintomas apresentam na vida do indivíduo. Segundo o DSM-5-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), os sintomas da depressão incluem:

  • Humor deprimido constante
  • Diminuição do interesse ou prazer em quase todas as atividades
  • Perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta
  • Diminuição ou aumento significativo do apetite
  • Insônia ou sonolência
  • Agitação ou retardo psicomotor
  • Falta de energia, preguiça ou cansaço excessivo
  • Sentimentos de inutilidade, culpa excessiva ou inadequada
  • Diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou indecisão
  • Pensamentos de morte ou suicídio


Para que os sintomas tenham uma relevância clínica, é preciso que se note uma mudança nos pensamentos, sentimentos, comportamento ou na fisiologia, devendo esta ser vivenciada por um período significativo de tempo.

Há regras específicas que indicam quantos sintomas de cada categoria devem estar presentes para se fazer o diagnóstico. Essa complexidade é apenas uma das razões pelas quais um profissional deve ser consultado para diagnosticar a depressão.

Quais são os tipos de depressão?

Um indivíduo que sofre de depressão também pode apresentar sintomas de ansiedade, distúrbios do sono e de apetite e podem demonstrar sentimentos de culpa ou baixa auto-estima, falta de concentração.

Um episódio depressivo pode ser leve, moderado ou grave, a depender da intensidade dos sintomas. Durante um episódio depressivo grave, é pouco provável que a pessoa afetada possa continuar com atividades sociais, de trabalho ou cotidianas. Também pode-se fazer uma diferenciação da depressão em pessoas que têm ou não histórico de episódios de mania.

Episódios de mania envolvem humor exaltado ou irritado, excesso de atividades, pressão de fala, auto-estima inflada e uma menor necessidade de sono, além da aceleração do pensamento. Os tipos de depressão podem ser crônicos (isto é, acontecem durante um período prolongado de tempo), com recaídas, especialmente se não forem identificados e tratados, ou pontuais.

Conheça alguns dos principais tipos de depressão e a sua classificação na CID-11:

  • Transtorno depressivo recorrente | CID-11 6A71: esse distúrbio envolve repetidos episódios depressivos. Durante esses episódios, a pessoa experimenta um humor deprimido, perda de interesse e prazer e energia reduzida, levando a uma diminuição das atividades em geral. Este tipo de sofrimento pode ser longo, duradouro e mais difícil de ser diagnosticado.
  • Transtorno bipolar | CID-11 6A6Z: esse tipo de depressão consiste tipicamente na alternância entre episódios de mania e depressivos, separados por períodos de humor regular.
  • Transtorno depressivo de episódio único | CID-11 6A70: é caracterizado pela presença de um episódio depressivo quando não há histórico de episódios depressivos anteriores.
  • Transtorno distímico | CID-11 6A72: o transtorno distímico é caracterizado por um estado depressivo persistente (isto é, com duração de 2 anos ou mais), durante a maior parte do dia, na maior parte dos dias. Durante os primeiros 2 anos do distúrbio, nunca houve um período de 2 semanas durante o qual o número e a duração dos sintomas foram suficientes para satisfazer os requisitos de diagnóstico para um Episódio Depressivo.
  • Transtorno misto de ansiedade e depressão| CID-11 6A73: o transtorno misto de ansiedade e depressão é caracterizado por sintomas de ansiedade e depressão na maior parte dos dias por um período de duas semanas ou mais. Nenhum conjunto de sintomas, considerado separadamente, é suficientemente grave, numeroso ou persistente para justificar o diagnóstico de um episódio depressivo, distimia ou um distúrbio relacionado à ansiedade e ao medo.
  • Transtorno disfórico pré-menstrual |CID-11 GA34.4: um padrão de sintomas de humor (humor deprimido, irritabilidade), sintomas somáticos (letargia, dor nas articulações, excessos alimentares) ou sintomas cognitivos (dificuldades de concentração, esquecimento) que comece vários dias antes do início da menstruação, e comece a melhorar dentro de alguns dias após o início da menstruação e, em seguida, torne-se mínima ou ausente dentro de aproximadamente 1 semana após o início da menstruação, estando presente na maioria dos ciclos menstruais no último ano.
  • Depressão psicótica: o indivíduo em sofrimento geralmente convive com episódios de delírio e alucinação, em que se somam os sintomas de depressão a alguma forma de psicose. Pode ser considerado um tipo de depressão grave.


O que é depressão para a psicanálise?

No contexto da psicanálise, a partir da obra Luto e Melancolia, Freud (1917) inicialmente considerava a depressão como um fenômeno que envolvia a "diminuição do sentimento de auto-estima" e "expectativas ilusórias de punição". Sua visão inicial era de que as crianças, devido à falta de capacidade de auto-estima e de prever o futuro, não poderiam experimentar a depressão.

Acreditava-se que na adolescência o desenvolvimento da personalidade permitia a vivência da depressão, embora até a década de 1970 alguns estudiosos considerassem os sintomas depressivos como parte normal do desenvolvimento adolescente.

Ao longo do século 20, a compreensão da relação entre eventos na infância e o funcionamento da personalidade no futuro começou a ganhar destaque. Freud propôs que a personalidade de uma criança era amplamente desenvolvida até os cinco anos de idade, sendo influenciada pela maneira como ela se ajustava a experiências precoces. A depressão, para Freud, surgia da resolução inadequada dos conflitos entre impulsos primitivos (id) e a aceitação de tabus sociais pelo superego.

mão encostando na própria sombra sob fraca luz

Numa leitura mais recente, o mal-estar contemporâneo, para o psiquiatra Joel Birman, manifesta-se no corpo, na ação e na intensidade como uma dor difícil de ser simbolizada.

Nesse cenário, a depressão destaca-se como uma forma de subjetivação, refletindo um aumento significativo nos diagnósticos e previsões de uma sociedade predominantemente depressiva.

A contemporaneidade revela a psicanálise como um discurso relevante para entender questões sociais e culturais. As mudanças na estrutura familiar, a crise da paternidade e a ascensão do individualismo na vida pós-moderna contribuem para a proliferação da cultura do narcisismo.

A falta de consenso sobre o termo "depressão" na sociedade atual reflete a dificuldade em lidar com as transformações sociais, econômicas e culturais que afetam a evolução da subjetividade.

Por uma perspectiva psicanalítica, a depressão pode ser considerada uma posição subjetiva diante das demandas sociais que enfatizam o individualismo e a cultura do espetáculo.

O sujeito contemporâneo, sob pressão para buscar a satisfação constante, muitas vezes se vê paralisado, afastado de seu desejo, resistindo às exigências sociais. Assim, a depressão pode ser uma resposta à sociedade que não tolera a falta, a dor e o sofrimento.

Neste contexto, enquanto dispositivo de "cura pela palavra" a psicanálise concebe a escuta do "singular" como importante possibilidade de abertura para as manifestações subjetivas, que podem estar relacionadas às múltiplas expressões sintomáticas, inclusive as depressivas.

Em todos os casos, torna-se essencial o diagnóstico precoce para que o tratamento seja bem sucedido, evitando novos episódios. É fato que a depressão pode aparecer em diversas fases da vida, a começar pela infância.

Depressão na Era Digital
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No curso Depressão na Era Digital, os psicanalistas e escritores Ana Suy e Alexandre Patricio de Almeida apresentam uma discussão sobre saúde mental, cultura e sociedade a partir da psicanálise, oferecendo uma imersão nas complexidades do adoecimento psíquico na era atual, em especial sobre o fenômeno da depressão.

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Sintomas e diagnóstico da depressão infantil

Em crianças pré-escolares - de idade até sete anos - a manifestação clínica mais comum é representada pelos sintomas físicos, tais como dores, fadiga e tontura. Ainda segundo o autor, seguem-se além das queixas dos sintomas físicos a presença de ansiedade, fobias, agitação psicomotora ou hiperatividade, irritabilidade, diminuição do apetite com falha em alcançar o peso adequado, e alterações do sono.

Alguns estudiosos citam surgimento de choro excessivo e frequente, comunicação falha, tristeza na fisionomia e um comportamento que apresenta agressividade.

Em crianças escolares - entre seis a doze anos -, o humor depressivo já pode ser verbalizado e é frequentemente relatado como tristeza, irritabilidade ou tédio. As crianças podem apresentar apatia, tristeza, fadiga, isolamento, aparência triste, queda do desempenho escolar, ansiedade diante de uma separação, dentre outros.

Os estudos dedicados à depressão infantil, semelhantes aos adultos, revelam a importância do diagnóstico precoce. A peculiaridade do diagnóstico infantil reside na possibilidade de identificação tardia, agravando a situação.

A depressão infantil pode passar despercebida ou ser confundida com características temperamentais, tornando-se desafiador reconhecê-la. Desde a década de 1970, há consenso de que as crianças apresentam sintomas depressivos semelhantes aos dos adultos, com a irritabilidade assumindo o papel do abatimento no diagnóstico infantil.

15 sinais da depressão infantil

  • Angústia.
  • Pessimismo
  • Agressividade
  • Falta de apetite
  • Falta de prazer em executar atividades
  • Isolamento
  • Apatia
  • Insônia ou sono excessivo que não satisfaz
  • Queixas de dores
  • Sentimentos de desesperança
  • Dificuldade de concentração, atenção memória ou raciocínio
  • Baixa auto-estima e sentimento de inferioridade
  • Sensação frequente de cansaço ou perda de energia
  • Sentimentos de culpa
  • Dificuldade de se afastar da mãe


A depressão em crianças: uma visão da psicanálise

A teoria de Sigmund Freud trouxe uma nova perspectiva sobre as angústias infantis, que se assemelham às vivenciadas na idade adulta. Estudos recentes corroboram a ideia de que, contrariamente a concepções antigas, as crianças experimentam emoções, enfrentam perdas, mudanças e traumas, que podem ter repercussões na vida adulta, tornando-se terrenos férteis para o desenvolvimento da depressão.

Para a psicanálise freudiana, a depressão infantil está relacionada a situações de perdas e luto, impactando diretamente na fase narcísica da criança. A infância, caracterizada pela ainda incompleta constituição psíquica, evidencia a singularidade de como cada criança vivencia e elabora suas perdas, considerando que as histórias de vida são distintas.

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Psicanálise, psicoterapia e psiquiatria no tratamento da depressão

Pesquisas sobre a depressão de difícil tratamento enfatizam a importância da associação do acompanhamento psiquiátrico ao acompanhamento psicanalítico. Nestes casos graves, nota-se a predominância de derivados de impulsos agressivos nos humores depressivos.

Na clínica psicanalítica destacam-se dois tipos de desprazer: a ansiedade e o afeto depressivo, decorrentes de situações como luto, perdas amorosas ou punições.

Uma leitura psiquiátrica associada ao manejo psicanalítico ressalta que o afeto depressivo desempenha papel equivalente à ansiedade na psicopatologia, sendo uma parte inevitável da vida mental, acionando defesas e conflitos, podendo ser ou não consciente em um dado compromisso.

Aqui os transtornos depressivos são definidos como a "sensação de impotência e desesperança diante da realização de um desejo intenso", colorindo toda a auto-representação com sentimentos de inferioridade, incapacidade e ameaça.

Grandes autores da psicanálise, como Melanie Klein, criaram conceitos e formas de compreensão das manifestações do transtorno depressivo. Aprofunde-se no tema da depressão com a Masterclass do professor e psicanalista Alexandre Patricio de Almeida dedicada às psicopatologias atuais.



Como vencer a depressão?

O acolhimento das pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo depressão e as necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, e seus familiares é fundamental para a identificação das necessidades assistenciais, alívio do sofrimento e planejamento de intervenções medicamentosas e terapêuticas, se e quando necessárias.

No Brasil, além de contar com a disponibilidade de consultórios e clínicas particulares, os indivíduos em situações de crise podem ser atendidos em qualquer serviço da rede pública de saúde.

Os casos de pacientes em situação de emergência devem ser atendidos nos serviços de urgência e emergência e nos serviços da RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) é composta por equipamentos variados, em sua maioria guiados por princípios de cuidado comunitário e em liberdade, tais como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), os Centros de Convivência e Cultura e as Unidade de Acolhimento (UAs). As diretrizes da política envolvem o governo federal e os estados e municípios.






Referências:

Birman, J. (2012). O sujeito na contemporaneidade: espaço, dor e desalento na atualidade. Brasil: Civilização Brasileira.

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Ansiedade: Sintomas, Causas, Crise de Ansiedade e Transtornos
Xavana Celesnah
Ansiedade: Sintomas, Causas, Crise de Ansiedade e Transtornos
Saiba o que é ansiedade, crise de pânico e transtornos relacionados. O tratamento da ansiedade com psicólogo e psiquiatra e a melhora da saúde mental

A ansiedade é uma emoção humana universal caracterizada por sentimentos de preocupação, medo e apreensão, geralmente despertados em situações de incerteza ou pressão. Todos nós a experimentamos em algum momento. Em si, ela não é uma doença.

Apesar de ser uma reação natural e muitas vezes útil, que nos prepara para enfrentar desafios, a ansiedade pode se tornar um problema quando ganha proporções excessivas e se transforma em um transtorno, passando a interferir no cotidiano, afetando o sono, o humor e as relações interpessoais.

Os casos de sofrimento psíquico, exigem cuidado especializado. Assim como todos os problemas de saúde mental, os transtornos de ansiedade precisam ser tratados com mais naturalidade, retirando-se o preconceito e o estigma tão culturalmente arraigados em relação a tudo o que diz respeito às questões de ordem emocional.

O Que é Ansiedade?

A ansiedade é uma reação emocional do corpo diante de situações que envolvem incerteza ou perigo. De acordo com o psiquiatra Rodrigo Bressan, “nosso corpo, através dos sistemas nervosos autônomo e simpático, está preparado para situações de luta ou fuga”, por possuir um mecanismo biológico capaz de lidar com situações de perigo. Mas, existem contextos de estresse que ultrapassam a capacidade de regulação emocional do corpo, fazendo com que as pessoas saiam do eixo e causando diversos problemas de saúde mental, como os transtornos de ansiedade.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os transtornos de ansiedade são os transtornos mentais mais comuns do mundo e afetaram aproximadamente 301 milhões de pessoas em 2019, o que corresponde a cerca de 4% da população mundial. Ainda segundo a OMS, as mulheres são mais afetadas por este tipo de transtorno do que os homens e os sintomas começam a surgir na infância e na adolescência.

Os transtornos de ansiedade, além de provocarem sofrimento, interferem de forma significativa nas atividades cotidianas, causando grande impacto no nível de incapacitação da nossa sociedade. Quando não tratados, esses sintomas podem persistir por anos, impactando ainda mais na saúde mental e emocional do indivíduo.

A boa notícia é que grande parte dos transtornos mentais, como os de ansiedade, são tratáveis e existem terapias e intervenções altamente eficazes, como a psicoterapia e o uso de medicamentos, que podem ajudar a controlar os sintomas e permitir que a pessoa recupere o bem estar e a qualidade de vida.

Apesar da alta prevalência e do impacto significativo desses transtornos, estima-se que apenas 1 em cada 4 pessoas com os sintomas busque tratamento. A falta de conscientização sobre a natureza tratável da condição, o baixo investimento público em serviços de saúde mental, a falta de profissionais de saúde qualificados para este tipo de atendimento e o estigma social em torno do tema são algumas das barreiras que dificultam o acesso a um tratamento adequado, segundo a OMS.

A conectividade moderna tem um impacto direto na nossa saúde mental. Acordar, checar notificações, rolar feeds infinitos, adiar o sono... Isso soa familiar? Se sim, é hora de refletir sobre como as redes sociais podem estar afetando o seu equilíbrio emocional.

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Sintomas de Ansiedade

Os sintomas de ansiedade podem variar de pessoa para pessoa, mas geralmente incluem manifestações físicas e emocionais. É importante entender que a ansiedade não é um fenômeno exclusivamente psicológico. Ela também afeta o corpo e muitas pessoas com transtornos de ansiedade experimentam uma série de sintomas físicos que podem ser tão intensos ao ponto de se confundirem com outros problemas de saúde. Assim, os transtornos de ansiedade podem provocar sintomas físicos, emocionais e comportamentais.

Sintomas Físicos da Ansiedade

Os sintomas físicos mais recorrentes dos transtornos de ansiedade incluem:

  • Tensão muscular: A musculatura do corpo, especialmente nas regiões do pescoço, ombros e mandíbula, tende a se contrair, causando desconforto.
  • Taquicardia: O aumento da frequência cardíaca é o sintoma clássico da ansiedade. As palpitações e a sensação de coração acelerado são muito frequentes.
  • Falta de ar: A dificuldade para respirar ou "respiração curta" é recorrente em episódios de ansiedade, especialmente durante ataques de pânico.
  • Suor excessivo: Suor demasiado, especialmente nas palmas das mãos, axilas ou testa, mesmo em situações sem estresse imediato.
  • Tremores nas mãos: O nervosismo pode causar tremores involuntários nas mãos ou até mesmo em outras partes do corpo
  • Boca seca: A ansiedade pode diminuir a produção de saliva, resultando em boca seca e desconforto.
  • Dores no peito: O estresse físico pode provocar dores no peito ou uma sensação de pressão, frequentemente confundida com problemas cardíacos.
  • Náuseas e desconforto abdominal: O estômago e o sistema digestivo podem reagir de maneira exacerbada ao estresse, causando náuseas, cólicas ou diarreia.


Sintomas Emocionais e Psicológicos da Ansiedade

Os transtornos de ansiedade, além de causarem sintomas físicos, manifestam-se no emocional do indivíduo, afetando o seu bem-estar e a qualidade dos seus relacionamentos. Dentre os sintomas psicológicos da ansiedade, as pessoas experimentam:

  • Preocupação excessiva: A mente fica sem paz, devido à preocupação permanente com todas as atividades cotidianas. Tarefas do trabalho, problemas familiares, atividades pessoais, tudo está sendo processado com muita velocidade e os pensamentos estão sempre direcionados à próxima atividade que deve ser realizada, retirando o indivíduo do presente. Nesses casos, a meditação mindfulness pode auxiliar como uma terapia complementar e trazer a mente de volta ao presente.
  • Medo iminente: A sensação angustiante de que algo terrível pode acontecer a qualquer momento é outro sintoma comum. Esse medo pode não ter um motivo claro, mas também pode estar associado a algum evento na vida do indivíduo, como uma viagem, uma apresentação importante, algum evento social.
  • Irritabilidade: Pessoas ansiosas tendem a se tornar mais irritadas e impacientes, agindo de maneira ríspida no cotidiano.
  • Dificuldade de concentração: Como a mente está repleta de pensamentos voltados para o futuro, é comum que haja uma dificuldade de concentração em tarefas do dia a dia. Esse fator é particularmente prejudicial à produtividade, afetando o indivíduo no trabalho.
  • Nervosismo ou inquietação: As pessoas tendem a se sentir em alerta constante, sem relaxar. Daí a sensação de inquietude, pois vivem como se estivessem prestes a ter uma crise a qualquer momento.




Sintomas Comportamentais da Ansiedade

Todos os sintomas da ansiedade estão interligados, mas de maneira didática eles são divididos nesses três tipos: físicos, emocionais e comportamentais. Em relação ao comportamento, os indivíduos acometidos com o transtorno podem começar a adotar certos padrões com o desejo de evitar o desconforto da ansiedade. Veja exemplos de como a ansiedade afeta o comportamento:

  • Dificuldade para dormir (insônia): As pessoas com transtornos de ansiedade geralmente têm dificuldades para relaxar e adormecer. A mente hiperativa, cheia de preocupações, impede o descanso adequado.
  • Isolamento: Uma das respostas mais comuns à ansiedade é evitar situações que possam desencadear medo ou desconforto. Assim, alguém com transtorno de ansiedade pode evitar encontros sociais ou eventos públicos.
  • Procrastinação: A ansiedade provoca dificuldade de tomada de decisões e acaba deixando as pessoas sem realizar suas atividades. O medo do fracasso é outro motivo que gera a procrastinação.
  • Comportamentos de fuga: Em alguns casos, a pessoa pode buscar formas de "escapar" da ansiedade, como o abuso de substâncias.


O que é uma Crise de Ansiedade?

Uma crise de ansiedade é um episódio intenso e súbito em que os sintomas de ansiedade atingem um pico, causando grande desconforto e aflição. Geralmente, essas crises estão relacionadas a eventos estressantes. Elas costumam ter uma duração limitada, por volta de 30 minutos, mas podem deixar a pessoa com uma sensação de cansaço extremo ou vulnerabilidade quando passam.

Durante uma crise de ansiedade, a pessoa normalmente vivencia sintomas emocionais e físicos. Entre os sintomas psicológicos estão: sensação de medo, angústia, nervosismo, apreensão, sensação de estar fora de si mesma e de que o mundo ao redor não é real. A mente tende a se concentrar nas piores possibilidades, com o medo iminente de perder o controle ou até mesmo de morrer.

Já os sintomas físicos são consequência da liberação de hormônios como o cortisol e a adrenalina, que são ativados pelo sistema nervoso simpático em situações de estresse. Eles podem incluir:

  • Aceleração do batimento cardíaco e palpitações
  • Sensação de sufocamento ou falta de ar
  • Tontura e sensação de desmaio
  • Formigamento nas extremidades
  • Aumento da pressão arterial
  • Suor excessivo, boca seca, mãos geladas e pele fria
  • Náuseas, podendo até levar ao vômito
  • Vontade frequente de urinar


Durante uma crise, as pessoas sentem dificuldade em realizar tarefas cotidianas, e ficam incapazes de retomar a normalidade até que o episódio termine. Existem tratamentos eficazes para as crises de ansiedade, que podem ser feitos através de atendimentos psicológicos. Além disso, as técnicas de relaxamento e atenção plena podem reduzir os sintomas do transtorno.

Diferença entre Crise de Ansiedade e Crise de Pânico

A crise de pânico é um tipo específico de ataque de ansiedade e ambos possuem sintomas semelhantes. O que costuma diferenciá-los é a causa. A crise de pânico normalmente ocorre sem um motivo identificável, sem uma causa óbvia e costuma ser acompanhada de um medo súbito de morrer.

Uma crise de pânico, pode ocorrer de forma inesperada, sem qualquer aviso, e se caracteriza por ser extremamente aterrorizante.

Já a crise de ansiedade é desencadeada por algum estímulo estressante específico. A síndrome do pânico, por sua vez, é a recorrência de ataques de pânico, que acontecem com frequência e de forma imprevisível.

Os sintomas da crise de pânico incluem:

  • Aumento súbito do batimento cardíaco
  • Dificuldade para respirar ou sensação de sufocamento
  • Suor excessivo, calafrios ou tremores
  • Sensação de morte iminente ou perda de controle


Embora assustadoras, as crises de pânico geralmente não apresentam risco físico imediato. No entanto, quando são recorrentes, elas podem levar ao desenvolvimento de um transtorno de pânico, que prejudica significativamente a qualidade de vida da pessoa.

Tipos de Transtornos de Ansiedade

Pela visão da psiquiatria, os transtornos de ansiedade podem se manifestar de várias formas e cada tipo tem características específicas que afetam a vida cotidiana de maneira distinta. Os transtornos mais comuns incluem o transtorno de ansiedade generalizada (TAG), o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), a fobia social e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Veja a seguir os principais tipos de transtornos de ansiedade, com suas particularidades e sintomas típicos.

TIPOS DE TRANSTORNO DE ANSIEDADE SINTOMAS
Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) É caracterizado por preocupações persistentes e exageradas com as situações do cotidiano. As pessoas com esse tipo de transtorno se sentem ansiosas em relação ao trabalho, à saúde, aos relacionamentos, às finanças. Ou seja, o medo abrange basicamente todos os aspectos da vida e causa um forte desgaste emocional e físico no indivíduo.
Transtorno de Pânico É identificado quando a pessoa tem o histórico de vários episódios de ataque de pânico. A sensação de perda de controle, falta de ar, desespero, medo da morte são constantes.
Transtorno de Ansiedade Social (Fobia Social) Diz respeito a um medo de ser julgado, rejeitado ou humilhado em situações sociais. Ademais, a pessoa com fobia social tem pavor de apresentações em público ou reuniões. É um transtorno que prejudica as relações interpessoais e o desenvolvimento profissional.
Agorafobia É um transtorno relacionado ao medo de estar em lugares desconhecidos ou onde o indivíduo sente que não tem o controle sobre a situação. O medo de não conseguir escapar ou de não conseguir obter ajuda limitam o deslocamento de quem tem esse tipo de transtorno. Viajar de ônibus ou avião, estar em espaços fechados, como cinemas, lojas, ou mesmo no transporte público podem ser extremamente difíceis para quem tem agorafobia.
Fobias Específicas São medos irracionais e intensos de objetos ou situações específicas, como medo de voar, de aranhas, de cobras, de locais fechados ou de altura. Esses medos podem ser tão paralisantes que a pessoa afetada fará o possível para evitar enfrentar a situação ou objeto temido. Apesar de serem inconscientes, essas fobias podem gerar grande sofrimento emocional e interferir nas atividades diárias.
Mutismo Seletivo É um transtorno que afeta principalmente crianças e é mais comum em meninas. Caracteriza-se pela incapacidade de falar em determinadas situações sociais. As crianças com mutismo seletivo têm dificuldade em interagir fora do seu círculo familiar próximo, atrapalhando sua adaptação escolar e social.
Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) Ocorre após a pessoa viver uma situação traumatizante, como um acidente grave, um abuso ou violência. Ela se manifesta através de flashbacks, pesadelos e uma sensação de alerta. A pessoa fica revivendo o trauma e tende a evitar lugares e atividades que lembrem o evento traumático.
Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) Envolve a presença de pensamentos repetitivos: ideias, imagens ou impulsos que surgem de forma repetitiva e incontrolável. Para aliviar a ansiedade causada por esses pensamentos, a pessoa pode desenvolver comportamentos compulsivos, como lavar as mãos repetidamente, verificar várias vezes se a porta está trancada ou realizar constantes rituais de organização.



Vivemos em uma cultura que proporciona o desenvolvimento da ansiedade. Estamos sempre consumidos com as próximas tarefas que precisam ser realizadas e existe uma competitividade extrema por desempenho. Nesse sentido, mesmo que não ocorram fatores estressantes diretos, é possível que as pessoas desenvolvam algum transtorno de ansiedade devido ao estilo de vida que levam.

Além disso, a ansiedade pode ser causada por relacionamentos abusivos, ambientes familiares e profissionais tóxicos, traumas e estresse crônico. O histórico familiar também pode aumentar as chances de desenvolver o problema.

Relação entre Ansiedade e Depressão

É comum a coexistência da ansiedade com a depressão em uma mesma pessoa. Os sintomas de um transtorno acabam agravando os do outro, gerando um ciclo vicioso. Transtornos de ansiedade podem causar uma preocupação intensa em relação ao futuro que acabam gerando uma descrença no próprio potencial.

Além disso, pessoas deprimidas podem tentar usar substâncias como uma forma de anestesiar suas dores e acabam desenvolvendo crises de ansiedade devido ao consumo de drogas.

Psicólogo ou Psiquiatra: Quando Consultar Cada Um?

A escolha entre consultar um psicólogo ou um psiquiatra depende das necessidades e características de cada caso. Ambos os profissionais têm papeis complementares, mas com enfoques diferentes no tratamento da ansiedade.

  • Psicólogo: O psicólogo trabalha com o paciente para explorar e compreender as causas emocionais e comportamentais da ansiedade. Ele pode utilizar diversas abordagens terapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que foca em identificar e modificar padrões de pensamento disfuncionais que alimentam a ansiedade.
  • Psiquiatra: O psiquiatra, por sua vez, tem a capacitação necessária para diagnosticar transtornos mentais e, quando necessário, prescrever medicamentos, como antidepressivos ou ansiolíticos, para controlar os sintomas da ansiedade. Embora os psiquiatras também realizem sessões de psicoterapia, sua especialização é focada no tratamento medicamentoso e no diagnóstico de condições relacionadas a outros transtornos de saúde mental, como depressão, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ou transtornos de pânico.


A Psicanálise e o Tratamento da Ansiedade

A análise pessoal, por meio da psicanálise, também é eficaz no tratamento dos transtornos de ansiedade, pois trata a questão a partir do inconsciente. De acordo com a psicanálise, existe uma parte da mente humana que armazena conteúdos que o sujeito não consegue perceber conscientemente. Isso ocorre, dentre outros aspectos, porque esses elementos podem entrar em conflito com a imagem que a pessoa construiu a respeito de si mesma.

Para a psicanálise, a ansiedade excessiva ou patológica está frequentemente associada a esses conteúdos inconscientes. Em vez de ver os eventos estressores como a causa direta da ansiedade, a psicanálise considera que eles funcionam como gatilhos, que desencadeiam reações emocionais intensas. Esses gatilhos, na verdade, estão relacionados a experiências ou conflitos reprimidos no inconsciente, que ainda não foram processados.

Nesse sentido, a psicanálise entende que grande parte de nossas questões e conflitos mais profundos estão guardados no inconsciente, e, por isso, somos incapazes de reconhecê-los por conta própria. Isso é mais evidente ainda em relação aos traumas e emoções reprimidos durante a infância ou adolescência, que, mais tarde, podem se manifestar como sintomas de ansiedade na vida adulta.

O trabalho do psicanalista é ajudar o paciente a perceber que a situação imediata, que ele acredita ser a causa da ansiedade, é apenas um gatilho que ativa questões mais profundas e inconscientes. Durante a análise, por meio do discurso, o paciente passa a trazer suas questões e o psicanalista o ajuda a elaborar essas conexões.

Esse processo gradual permite que o paciente entre em contato com os conteúdos reprimidos do inconsciente, os reconheça e, ao fazer isso, reduza a sua ansiedade e insegurança. Portanto, pessoas que sofrem de ansiedade podem se beneficiar significativamente de um tratamento baseado nos princípios da psicanálise.

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Como tratar a ansiedade?

O tratamento para os transtornos de ansiedade é eficaz e pode ser realizado por meio de diferentes abordagens, incluindo terapias, o processo de análise, intervenções medicamentosas orientadas por um psiquiatra e mudanças no estilo de vida. O sucesso do tratamento depende não apenas das intervenções, mas também da qualidade da relação entre o paciente e o profissional de saúde.

A confiança e o vínculo terapêutico são fundamentais, pois ajudam no processo de autoconhecimento, essencial para o enfrentamento da ansiedade. Como explica o Dr. Rodrigo Bressan, “se a gente entende como a gente funciona, é mais fácil se autorregular emocionalmente e estabelecer estratégias de superação”. Isso significa que, quanto mais uma pessoa compreende seus próprios mecanismos emocionais, mais preparada ela estará para lidar com situações estressantes.

Perguntas Frequentes sobre Ansiedade

Pergunta 1: Ansiedade tem cura?

Sim, já existem vários tratamentos eficazes para os transtornos de ansiedade, que incluem intervenções e tratamentos psicológicos, psicanálise, medicamentos e técnicas de mindfulness. Pessoas com sintomas de ansiedade devem procurar atendimento, além de aliar a prática de exercícios físicos regulares e uma alimentação saudável.

Pergunta 2: Quais são os tratamentos disponíveis para a ansiedade?

Os tratamentos mais comuns incluem psicoterapia, medicamentos (como ansiolíticos e antidepressivos) e técnicas específicas, como a prática de mindfulness e a gestão do estresse.

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Referências:

https://www.who.int/

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/174/a-ciencia-dos-sentimentos-alcancando-bem-estar-psicologico

https://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/224_ansiedade.html

https://www.paho.org/pt/noticias/17-6-2022-oms-destaca-necessidade-urgente-transformar-saude-mental-e-atencao

Filosofia
Áreas da filosofia: quais são, o que estudam e por que importam
Paula Delgado
Áreas da filosofia: quais são, o que estudam e por que importam
Conheça as áreas da filosofia, como ética, lógica e metafísica, e entenda como elas nos ajudam a pensar sobre o mundo, o conhecimento e a existência.

A filosofia é o campo do conhecimento que busca compreender a realidade, o ser humano e o mundo e, para ser capaz de compreender este todo, dividiu os saberes em diferentes áreas da filosofia.

Diferente de outras formas de saber, como a religião, a filosofia trabalha, a partir de um pensamento lógico e racional, buscar nas perguntas, que não têm respostas prontas, explicações para as nossas inquietações.

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Quais são as principais áreas da filosofia?

Desde a Grécia Antiga, os filósofos se dedicam a investigar temas como a existência, o conhecimento, a moral, a justiça, a linguagem, a beleza e o pensamento lógico.

Para organizar este diverso campo de interesses, a filosofia foi se dividindo em áreas, cada uma com foco específico e questionamentos próprios.

Nessa divisão, muitas vezes os ramos da filosofia se cruzam e se complementam, inclusive compartilhando a atenção dos mesmos filósofos.

Neste texto, apresentamos as principais áreas da filosofia e seus autores.

As 8 áreas da filosofia que você vai conhecer:

  • metafísica
  • epistemologia
  • ética
  • filosofia política
  • estética
  • lógica
  • filosofia da linguagem
  • filosofia da mente
  • autores da filosofia
  • história da filosofia


Metafísica: O que é a realidade?

Metafísica vem das palavras meta, que significa depois, além, e physis, que significa natureza ou física. Ou seja, a metafísica é aquilo que está além da natureza ou da física.

Mas o que seria essa natureza?

Para os filósofos, a natureza é tudo aquilo que compõe tudo o que existe, desde elementos do mundo físico até os fenômenos naturais e os seres vivos.

Aristóteles foi o primeiro filósofo a colocar o foco de questionamentos no ser enquanto ser. Ele defendia que existe uma substância individual - o indivíduo material concreto (synolon) - a qual, o seu conjunto, concebe a realidade.

Contudo, ele dizia que esses indivíduos são compostos de matéria (hyle) - substância básica de tudo - e forma (eidos) - o que define e dá identidade à matéria.

E o que isso significa?

De acordo com Aristóteles, a substância (matéria + forma) é o que existe por si mesmo, sendo a essência de tudo que é real.

Um exemplo que o filósofo apresenta é o da estátua de uma deusa. Uma estátua é feita de bronze (matéria - causa material) e essa quantidade de matéria recebe uma forma (causa formal) que é a de estátua de uma deusa.

Caso modifique o material que a estátua foi feita, a forma se mantém, porém a matéria se altera.

Sendo assim, a matéria só existe porque possui uma forma. Entretanto, a forma sempre será a forma de um objeto material concreto - neste caso, a estátua de uma deusa.

Resumindo, a metafísica é o ramo da filosofia que investiga a natureza da realidade. Ela busca compreender o que existe, o que significa ser e quais são os princípios que regem o universo.


"O ser se diz de muitas maneiras. - Aristóteles"

Vale acrescentar que Martin Heidegger trouxe uma perspectiva diferente. Ele questionou o esquecimento do ser na tradição filosófica e propôs uma recuperação da ontologia na filosofia ocidental, que coloca o ser novamente no centro da reflexão.

Epistemologia: O que podemos conhecer?

A epistemologia é a área da filosofia que estuda o conhecimento, ou seja, investiga a natureza, a origem e os limites da razão.

Em outras palavras, busca entender como é possível afirmar que algo é verdadeiro e quais são os limites do conhecimento.

Já que estamos falando sobre razão, precisamos falar sobre René Descartes.

Ele acreditava que a razão era a única fonte confiável para o conhecimento e que a experiência sensorial poderia distorcer a compreensão do mundo verdadeiro.

Descartes, através do cogito ("Penso, logo existo"), propôs um fundamento irrefutável do conhecimento. Para ele, se um indivíduo é capaz de duvidar, ele está pensando.

Então, necessariamente, existe um sujeito pensante. Esta é a conclusão do argumento do cogito, no qual ele constrói a busca do fundamento seguro do conhecimento.

Resumindo, Descartes buscou, a partir da dúvida metódica, um caminho para o conhecimento verdadeiro.

Posteriormente, Immanuel Kant revolucionou a epistemologia ao sintetizar e superar as tensões de duas correntes filosóficas: o racionalismo e o empirismo.

Em sua obra “Crítica da razão pura“, argumenta que o conhecimento se dá a partir da interação entre as ideias inatas da mente e a experiência sensível.

Com isso, demonstrou que as “coisas em si” (a realidade em si) não são conhecidas, mas sim os seus fenômenos (a realidade como se apresenta). Esses fenômenos são percebidos a partir da intuição sensível (sensibilidade) e dos conceitos e categorias (entendimento).

Para Kant, o sujeito está no centro do processo de construção do conhecimento.

Como a Metafísica e a Epistemologia questionam Deus?

  • Metafísica: Deus existe?
  • Epistemologia: É possível Deus existir?

A metafísica questiona a existência ou não de Deus, já a epistemologia investiga a possibilidade de se ter conhecimento sobre essa existência.

Ética: O que é certo e errado?

A ética é a área da filosofia que estuda os princípios que orientam o comportamento humano, questionando, por exemplo, o que é uma boa vida, o que é certo e errado.

Para este ramo da filosofia, além das regras sociais, a virtude, o dever e as consequências de nossos atos também são pontos de interesse.

Alguns filósofos se debruçaram sobre este conceito e trouxeram visões diferentes:

Filósofo Visão de Ética Ideia Principal Ações
Aristóteles Ética da virtude Buscar a felicidade por meio da virtude e do equilíbrio Valoriza a intenção e o caráter
Immanuel Kant Ética do dever Agir conforme o dever e a razão Valoriza a intenção moral
Jeremy Bentham Ética utilitarista A melhor ação é a que gera felicidade para o coletivo Foco nas consequências das ações



Filosofia Política: Como devemos viver em sociedade?

A filosofia política é o estudo do corpo social que busca entender suas causas e consequências.

Desde os primórdios da filosofia se reflete sobre as estruturas e princípios que regem a sociedade.

Platão em sua obra “A República“ idealizou uma sociedade que era governada por aqueles que estão mais próximos da verdade e da justiça, os filósofos.

Thomas Hobbes propôs que os indivíduos cedam parte de seus direitos a um soberano para que se tenha uma sociedade organizada. Uma vez que, para ele, os homens são essencialmente iguais e, por isso, são capazes de se exterminar.

Posteriormente, Jacques Rousseau trouxe a ideia do contrato social, que diz que a política pertence à sociedade. Para se ter liberdade civil e proteção, o indivíduo deve renunciar seus direitos individuais e entregá-los à uma autoridade escolhida pela comunidade.

Por outro lado, Karl Marx sugere que a luta de classes é que possibilitaria a revolução, propondo uma sociedade sem classes baseada na propriedade comum dos meios de produção.

Em suma, a filosofia política questiona o convívio do indivíduo na sociedade e busca encontrar um modelo ideal.


Estética: O que é o belo? O que é arte?

A estética é a área da filosofia que investiga a natureza do belo, da arte e da experiência estética.

Diversos autores da filosofia se dedicaram ao debate sobre o que era belo, o que fazia algo ser belo e compreender a subjetividade da estética.

Para Aristóteles, o belo estava ligado a grandes proporções, a imponência. Aquilo que era equilibrado, tinha ordem e simetria, porém em pequenas proporções, para Aristóteles era gracioso.

Contudo, Kant argumentou em "Crítica do Juízo" que o juízo estético é subjetivo, mas possui uma pretensão de universalidade. Ou seja, a experiência do indivíduo na contemplação da coisa fazia parte de suas características.


"O belo é o símbolo do bem moral." - Immanuel Kant

Nietzsche, por sua vez, compreendia que a arte era a expressão da vontade de poder e uma forma de afirmar a vida frente ao caos e ao sofrimento.

Resumidamente, a estética questiona o que torna algo belo, como percebemos a arte e qual o papel do gosto na apreciação estética.


Lógica: Como pensamos corretamente?

A lógica é o ramo da filosofia que estuda as regras do pensamento válido e da argumentação correta. Ela se torna fundamental para o pensamento porque permite uma avaliação racional e crítica dos argumentos, evitando a afirmação de falsas verdades.

Apesar da lógica inicialmente não fazer parte do Sistema Aristotélico, para ele, ela é muito mais do que um saber instrumental metodológico, pois todos os saberes pressupõem algum tipo de lógica.

Entretanto, Aristóteles é considerado pioneiro ao sistematizar a lógica formal, introduzindo a teoria do silogismo. Para ele, a teoria científica é formada de um conjunto de deduções a partir de indícios claros que são alcançados por meio da definição e apreensão.


“A lógica não é ciência e sim um instrumento (órganon) para o correto pensar." - Aristóteles

Dando um salto na história da filosofia, no século XX, Bertrand Russell contribuiu para a lógica matemática, buscando fundamentos sólidos para a matemática e a linguagem.

Segundo Russell, muitos dos problemas filosóficos surgem das confusões na linguagem, por isso considerava a lógica uma ferramenta fundamental para filosofia.

Filosofia da linguagem: O que é o significado?

A filosofia da linguagem busca investigar como a linguagem representa o mundo e como damos significado às palavras.

Ludwig Wittgenstein aponta que o significado das palavras está em seu uso no contexto dos jogos de linguagem.

De acordo com ele, as coisas não têm sentido por si mesmas, porque elas só recebem um significado a partir da relação com as outras.

A mesma lógica pode ser aplicada às palavras, porque elas só fazem sentido quando aplicadas a uma frase e um contexto correspondente à estrutura do mundo.

Entretanto, para Saussure, a língua é um sistema social e abstrato, enquanto a fala é a utilização individual e concreta da língua.


"Na linguagem, não há união natural entre o significante e o significado." - Ferdinand de Saussure

Ele entende a língua como um sistema de signos composto pela união de um significante (forma da palavra - sonora ou visual) e de um significado (a ideia que a palavra representa).

Essa distinção entre a a língua e a fala é um questionamento sobre a natureza arbitrária dos signos linguísticos.

Filosofia da mente: O que é consciência?

A filosofia da mente é o ramo da filosofia que estuda a natureza da mente, da consciência e sua relação com o corpo.

Descartes propôs o dualismo ao separar a mente (res cogitans) do corpo (res extensa), os quais teriam propriedades diferentes. Além de questionar como essas substâncias interagem - a mente controla o corpo, mas não é parte dele.

Por outro lado, Daniel Dennett defende uma abordagem materialista e funcionalista da mente, na qual a consciência é resultado de processos cerebrais complexos e comportamentos observáveis.

Portanto, ele busca explicar a mente como um fenômeno natural, uma postura intencional, sem recorrer a explicações sobrenaturais.


“Acho que a melhor ideia da religião é encorajar uma certa modéstia, um respeito e uma reverência pela natureza neste incrível Universo que nós habitamos” - Daniel Dennett


A filosofia como campo plural de investigação

Neste texto você conheceu as principais áreas da filosofia. Este é um campo diverso, formado por perguntas e que instiga o que temos de mais humano. Essas divisões da filosofia são caminhos para investigar grandes questões da nossa existência, do conhecimento, da vida em sociedade e da nossa relação com o mundo interno e externo.

Mas o mais interessante é perceber que esses ramos da filosofia se encontram. Eles dialogam, complementam-se e coexistem. A reflexão que o conhecimento sobre o que a filosofia estuda nos faz pensar sobre o que é certo, o que é belo, o que é justo, o que é ético e que nós somos e podemos ser.

Cada uma dessas áreas é uma porta esperando para ser aberta e você tem a chave para cada uma delas, basta você ter coragem e curiosidade para desbravar o mundo e a si mesmo.

Esperamos que este texto tenha te inspirado a descobrir mais sobre filosofia. Aqui na casa do saber temos diversos cursos para te ajudar a ir mais fundo neste conhecimento, você pode conhecer mais clicando aqui.

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Referências

DERRIDA, Jacques. A Filosofia da Linguagem.

MARCONDES, Danilo. Introdução à História da Filosofia.

UOL. Filosofia da Linguagem: (3), (4) e (5).

SCHOLZ, Barbara C.; PELLETIER, Francis Jeffry; PULLUM, Geoffrey K. Philosophy of linguistics. In: ZALTA, Edward N. (Ed.). Stanford encyclopedia of philosophy.

Como Estudar Filosofia: um passo a passo para iniciantes
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Confira um guia sobre como estudar filosofia com dicas de práticas para começar. Veja as principais dicas de leituras, filósofos e cursos para iniciar

A busca pelo conhecimento de si e do mundo é uma preocupação que há milênios acompanha o homem. E entender como estudar filosofia é um passo essencial para compreender estas questões.

Neste texto, você vai ver um caminho seguro e sério para você começar a sua jornada no mundo filosófico, com um passo a passo, dicas de leituras e trajeto de estudo.

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Por que começar a estudar filosofia?

Já dizia Aristóteles, a filosofia começa a partir do espanto com o mistério da vida.

O espanto, no sentido grego da palavra, é admiração. Quando a vida nos mostra algo que nos é estranho, diferente, nós admiramos e sentimos a necessidade de compreender aquilo que está à nossa frente.

Então, assim, surge o pensamento filosófico: da necessidade de compreender a realidade.

A filosofia é a ciência que te ensina a desenvolver o pensamento crítico sobre as questões que te afligem.

O desejo de entender o como, o porquê, o que é nos leva ao exercício do pensar, que pode nos trazer algumas respostas, mas também muitas perguntas.

Como começar a estudar filosofia?

Para tudo na vida há um começo, inclusive para a filosofia, quando Tales de Mileto, no século VI começou a questionar a crença mítico-religiosa que governava naquele período.

Um dos principais objetivos da filosofia é a busca pela verdade e a evitação do erro.

Desde a Grécia Antiga, filósofos vêm questionando as aparências, os costumes e até mesmo as próprias certezas, tentando compreender o que realmente é verdadeiro.

Por exemplo, Sócrates alertava sobre os perigos de viver sem examinar a própria vida. Já Platão, afirmava que o mundo sensível pode ser enganoso, enquanto a realidade verdadeira está no mundo das ideias.

Ao longo da história, a filosofia desenvolveu métodos e conceitos para evitar respostas equivocadas ou que ainda não podiam ser tidas como verdadeiras.

Portanto, estudar filosofia também é aprender a pensar de forma mais clara, questionar e buscar a verdade com sinceridade para, assim, atingir o conhecimento verdadeiro.

Entretanto, um dos erros mais comuns para quem começa a se aventurar no mundo da filosofia é querer pular uma parte importante desta ciência: a busca pelo método e a companhia de um mestre.


Como estudar filosofia pode ajudar na sua vida

Primeiramente, estudar filosofia é mais do que saber os conceitos, as escolas ou os principais filósofos. Isso é conhecer a teoria da ciência filosófica.

Ao mergulhar nesse universo, você aprende a argumentar com mais clareza, lógica e profundidade. Isso significa ser capaz de defender suas opiniões com coerência, perceber incongruências nos argumentos que lhe são apresentados e questionar os próprios pensamentos.

Além disso, a filosofia amplia sua visão de mundo. Ela te apresenta formas diferentes de pensar, de viver e de enxergar a realidade.

Você passa a perceber que muitas das suas certezas são adquiridas, e começa a analisá-las de maneira mais crítica e consciente.

Esse é o processo do pensamento filosófico: abrir horizontes, desafiar a nossa zona de conforto e libertar a nossa mente das amarras impostas pela sociedade.

Por exemplo, o estoicismo propõe a busca da liberdade interna diante das situações da vida, valorizando a razão, o dever e a tranquilidade ao enfrentar o inevitável.

Sendo assim, não é sobre reprimir sentimentos, mas sobre respeitar e entendê-los com sabedoria.

Mas, talvez, o maior desafio da filosofia seja o autoconhecimento.

Quando questões como “quem sou eu?”, “o que é uma vida boa?” ou “o que é verdade?” começam a aparecer na nossa mente, significa que estamos começando a entender mais sobre nós mesmos e sobre o que realmente importa na vida.

Estudar filosofia é um processo constante, que provavelmente nunca vai acabar. E como disse Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo.”



Mas, afinal, como começar a estudar filosofia do zero?

É importante você entender que o fim primordial de estudar filosofia é, a partir destes saberes, conseguir transformar a sua vida.

Para isso, você precisa de um caminho estruturado para que não caia em erros basilares desta ciência milenar.

Este é um campo complexo que, quando não entendido de forma profunda e crítica, pode te levar ao que a filosofia busca refutar: falsas verdades.

Vamos às dicas para estudar filosofia:

  1. Comece com livros de filosofia para iniciantes

    Inicie o estudo da filosofia com um número reduzido de obras e com uma linguagem mais acessível. Isso vai permitir que você entenda os conceitos básicos da filosofia e consiga caminhar para discussões mais profundas.

    Alguns livros introdutórios:

    • O mundo de Sofia, de Jostein Gaarder
    • Iniciação à história da filosofia, de Danilo Marcondes
    • Convite à Filosofia, de Marilena Chaui


  2. Não tenha medo dos textos clássicos

    É através das obras clássicas que você consegue ter acesso à construção do pensamento filosófico que aborda questões fundamentais para este campo, como ética, política, metafísica e epistemologia.

    Os pensamentos de Sócrates, Platão e Aristóteles são parte de um bom trajeto de estudo da filosofia depois que você começa a se inteirar sobre o assunto.

    Platão:

    • O mito da caverna
    • Fedro
    • Críton


    Aristóteles:

    • Ética
    • Política
    • Retórica


    Vale lembrar que Sócrates não tem nenhuma obra escrita, foram Platão e Xenofonte que transcreveram suas ideias.

    Ademais, siga a nossa sugestão de ordem de leitura colocada anteriormente. Isso vai ajudar a otimizar a sua compreensão.

  3. Evite escolhas aleatórias ou baseadas no gosto pessoal

    A seleção de textos, cursos de filosofia e o direcionamento da aprendizagem devem levar em conta o encadeamento de ideias, a relevância filosófica e a qualidade do que é apresentado — e não apenas afinidade temática ou fama.

    Você pode ter como meta final saber mais sobre estoicismo, por exemplo, mas entender o caminho até ele vai te ajudar a ter mais entendimento sobre essa corrente.

  4. Sem pressa e com atenção

    A leitura filosófica deve ser crítica. E isso exige tempo, paciência e reflexão sobre cada ideia apresentada. Não queira aprender rápido, queira aprender verdadeiramente.

  5. Anote tudo

    Esteja sempre com alguma ferramenta que te permita anotar suas dúvidas e reflexões para não deixar escapar nenhum insight ou questionamento.

    Isso parece óbvio, mas, com a rotina complexa da sociedade contemporânea, podemos nos esquecer de que o registro é sempre uma oportunidade de revisitar e ter um novo olhar sobre aquilo que já vimos.

  6. Busque cursos de filosofia consolidados no mercado

    Você até pode começar a estudar por conta própria para ter uma ideia geral, mas a compreensão fica muito mais fácil e profunda quando você tem profissionais capacitados e uma estrutura sólida para te guiar nessa trajetória de conhecimento.

    Aqui na Casa do Saber temos mais de 90 cursos de filosofia para iniciantes até para quem já está em uma etapa mais avançada do estudo. Conheça alguns:



  7. Aplique a filosofia na sua vida

    No início deste texto nós falamos que estudar filosofia é conseguir transformar a sua vida.

    Então, a cada estudo, busque exemplos concretos de situações que você esteja vivendo ou observando. Isso ajuda a visualizar e aplicar os conceitos filosóficos que aprendeu na vida prática.

    Mais do que saber conteúdos, o objetivo é formar um pensamento crítico, reflexivo e fundamentado.




Melhores livros de filosofia: de iniciante até mais avançados

Uma boa leitura pode ser a chave para abrir sua mente para as grandes questões da humanidade.

Portanto, separamos uma lista das obras com os principais conceitos e ideias dos mais relevantes autores da filosofia, organizadas do mais acessível ao mais desafiador.

Apologia de Sócrates (Platão)

Capa do livro Apologia de Sócrates de Platão com imagem de Sócrates em tribunal

Diálogo de Platão fundamental para entender o nascimento da filosofia ocidental. É um texto mais simples, direto e apresenta Sócrates defendendo, não a sua vida carnal, mas sim a sua vida filosófica no julgamento que o levou à morte.

Ética a Nicômaco (Aristóteles)

Um dos textos mais essenciais sobre ética. Nele você vai compreender o conceito de virtude, vida virtuosa, além de como alcançar a felicidade - eudaimonia.

Meditações (Marco Aurélio)

O estoicismo está em alta e este texto traz reflexões filosóficas de Marco Aurélio.

Com uma leitura acessível e inspiradora, ele é excelente para começar entender sobre a corrente filosófica estoica e para quem quer encontrar um propósito de vida.

Confissões (Santo Agostinho)

Nesta autobiografia filosófica, Santo Agostinho une a razão, a fé e as inquietações sobre a existência humana. Ele relata a sua trajetória de vida até a conversão ao cristianismo.

Meditações Metafísicas (René Descartes)

Livro Meditações Metafísicas de René Descartes com retrato do autor na capa

Esta é uma obra mais clássica do racionalismo moderno, a partir dela você terá acesso a conceitos essenciais para entender a dúvida filosófica, o cogito e a relação entre mente e corpo.

Este texto apresenta uma leitura mais complexa. Porém, se você seguir a ordem de leitura desta lista, apesar de ser um desafio, você conseguirá entender os conceitos do racionalismo propostos por Descartes.

Ensaio sobre o Entendimento Humano (John Locke)

Um livro basilar sobre epistemologia. Nele, Locke explora as origens do conhecimento humano e a ideia de experiência como pilar do saber - experiência sensível. Esta obra é um ponto de referência para o empirismo.

Crítica da Razão Pura (Immanuel Kant)

Aqui o estudo começa a ficar mais sério. Com uma leitura mais densa e complexa, nesta obra, Kant busca redefinir os limites da razão pura (razão sem a experiência) e como ela impacta na construção do conhecimento.

Um desafio, porém agrega muito e é fundamental para quem quer se aprofundar na filosofia.

Assim Falou Zaratustra (Friedrich Nietzsche)

Capa do livro Assim Falou Zaratustra de Friedrich Nietzsche com ilustração do filósofo

Nietzsche escrevia suas ideias de forma diferente dos demais filósofos, gostava de discorrer poeticamente.

Neste romance, ele apresenta o conceito de “super-homem” ou “além-do-homem”. Na história, Zaratustra é um filósofo que sai das montanhas para questionar e fazer críticas à moral tradicional, propondo uma nova forma social.


O Existencialismo é um Humanismo (Jean-Paul Sartre)

Neste ensaio introdutório (indicado também para iniciantes) sobre o existencialismo, Sartre desenvolve a sua teoria de que essa corrente filosófica torna a vida humana possível porque ele é um ser livre capaz de formar a sua própria essência a partir de suas escolhas.

Vigiar e Punir (Michel Foucault)

Esta obra é uma crítica social e política sobre a relação de poder, disciplina e a sociedade moderna. Foucault faz uma análise da transição da punição pública para a vigilância constante.

Vigiar e Punir é um texto mais denso, com ideias complexas. Entretanto, se o aprendizado for bem estruturado e houver a orientação de bons profissionais, a leitura pode ser compreendida e muito aproveitável.

Conclusão

Estudar filosofia não é encontrar respostas prontas para as incertezas da vida, mas sim aprender a fazer as perguntas certas para conseguir compreender o mundo e a si mesmo.

Este é um caminho para se fazer a vida toda. Esgotar os conhecimentos de filosofia é impossível, porque quando questionamos, refletimos e pensamos criticamente estamos filosofando.

Cada leitura, cada ideia debatida, é uma oportunidade de enxergar o mundo e a si mesmo sob uma nova perspectiva e, com isso, perceber que tudo e todos são uma metamorfose ambulante. Permita-se duvidar, repensar e mudar de ideia.

Por isso, cultive a curiosidade. A filosofia nos ensina que compreender a vida é um processo e não um destino final. Quanto mais você abrir a sua mente, mais libertador será o percurso do conhecimento.

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Conheça os Principais Filósofos da História
Paula Delgado
Conheça os Principais Filósofos da História
Conheça os principais filósofos da história, seus conceitos e como suas ideias transformaram a sociedade e a forma como pensamos.

A filosofia é um um campo do conhecimento que se desenvolve a cada dia a partir de reflexões dos principais filósofos sobre questões da vida, nossa interação com o mundo e com o outro.

Por isso, para você compreender melhor os conceitos e ideias, separamos para você neste texto os grandes nomes da filosofia.

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Sócrates – O filósofo do autoconhecimento

imagem de filósofo sócrates

Sócrates (470 - 399 a.C.) é um dos maiores filósofos da história. Foi ele quem deu início ao Período Antropológico da filosofia, quando levou os estudos desta ciência das questões naturais para o homem.

A partir de seu método, a maiêutica - que tem como princípio questionar o outro para que reconhecesse sua ignorância e encontrasse o conhecimento - desenvolveu suas principais contribuições sobre justiça, ética e virtude.

“Conhece-te a ti mesmo”

Com esta emblemática frase, ele enfatizava que o reconhecimento da ignorância era o primeiro passo para o conhecimento.

Sócrates foi acusado de desrespeitar as tradições religiosas e corromper a juventude, o que o levou a ser condenado à morte. Embora pudesse ter fugido ou ter se declarado culpado, ele aceitou a pena sendo fiel aos seus princípios: a verdade e a razão.

Apesar de não ter deixado obras escritas, seus pensamentos foram registrados por seus discípulos, principalmente, Platão.

Platão – O mundo das ideias

escultura de platão

Platão (427 - 348 a.C.) foi discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles e é um dos grandes nomes da filosofia.

Ele desenvolveu a Teoria das Ideias, que propõe a existência de um mundo de formas perfeitas e imutáveis (o mundo das ideias), e a realidade (o mundo sensível) é apenas uma cópia imperfeita. Também fundou a Academia de Atenas, considerada a primeira universidade do mundo ocidental.

Além disso, em "A República", sua principal obra, Platão discute sobre o que seria um governo ideal. Para ele, o governo deveria estar nas mãos dos filósofos, já que representam aqueles que estão mais próximos da verdade e da justiça.

Assim como seu mestre, Platão abordou temas como ética, política e a natureza da alma, influenciando profundamente o pensamento ocidental. Suas ideias continuam a ser estudadas e debatidas nos dias de hoje, reforçando sua relevância na filosofia.

Aristóteles – O pai da lógica e da ética prática

escultura do filósofo Aristóteles

Aristóteles (384–322 a.C.), discípulo de Platão e tutor de Alexandre, o Grande, é um dos grandes nomes da filosofia grega.

Diferentemente de seu mestre, ele valorizava a experiência empírica como fonte do conhecimento, sistematizando uma nova forma de pensar e influenciando diversas áreas do saber que dialogam com a filosofia, como:

  • Lógica
  • Ética
  • Política
  • Biologia
  • Retórica


Ele fundou Liceu (335 a.C.), sua escola em Atenas, onde desenvolveu suas ideias e uma nova forma inovadora de ensinar filosofia: caminhava pelos jardins da escola aristotélica enquanto seus discípulos o acompanhavam anotando suas falas.

Com sua abordagem analítica, desenvolveu o que ficou conhecido como Período Sistemático, que é marcado pela categorização e sistematização do conhecimento existente.

Ademais, Aristóteles trouxe o conceito de virtude e razão como o caminho para a felicidade - objetivo final da vida ética. Suas ideias e conceitos seguem sendo visitados e influenciando a nossa vida atualmente.

Santo Agostinho – Fé e razão na filosofia cristã

pintura retratando santo agostinho de hipona

Santo Agostinho de Hipona (354 - 430 d.C.) foi um dos principais filósofos da corrente filosófica patrística, responsável por criar uma base teológica para integrar o pensamento filosófico e o cristão na transição da Antiguidade e para a Idade Média.

Ele defendia que a filosofia grega, especialmente o platonismo, era capaz de fornecer meios que contribuíssem para a estrutura da doutrina cristã.

Além da construção da base para a formulação do cristianismo, Santo Agostinho filosofou sobre o tempo, que ele dizia saber o que é, mas que não podia explicá-lo, caso perguntado.

Também falou sobre livre-arbítrio, o bem e o mal. Defendia que a proximidade de Deus é o único caminho para o bem, enquanto o afastamento d'Ele representa o mal. Contudo, o livre-arbítrio foi concedido ao homem, permitindo escolher até mesmo o caminho do mal.

Em sua autobiografia "Confissões", relata sua trajetória até a conversão, abordando temas como pecado, maniqueísmo e hedonismo, tornando-se referência na literatura cristã até os dias atuais.


René Descartes – A razão como ponto de partida

pintura retratando rene descartes

René Descartes (1596–1650) é considerado o fundador do racionalismo moderno, movimento que influenciou fortemente o pensamento moderno e teve nomes de famosos filósofos como expoentes, como Francis Bacon e Thomas Hobbes.

Ele sistematizou um método que buscava uma certeza básica, livre dos questionamentos céticos, que fosse base para a fundamentação de uma nova teoria científica.

Sendo assim, este método precisava de diretrizes para que o procedimento fosse cumprido. Descartes formulou 4 regras para o pensamento lógico:

Regra Descrição
Regra da evidência Nunca aceitar algo como verdadeiro se não tiver certeza clara que realmente é verdadeiro.
Regra da análise Separar um problema em quantas partes forem necessárias para compreendê-lo melhor
Regra da síntese Organizar os pensamentos dos mais fáceis para os mais complexos de entender
Regra da enumeração Fazer uma lista e revisá-la com atenção para garantir que nada foi omitido


Segundo Descartes, conhecer a natureza e compreender o mundo só é possível quando acompanhado do autoconhecimento, da reflexão sobre quem somos enquanto sujeitos pensantes.

“Cogito ergo sum”

Cogito é a certeza do sujeito pensante como tal.


Immanuel Kant – A ética da razão pura

pintura retratando immanuel kant

Immanuel Kant (1724 - 1804) revolucionou a filosofia ao fundamentar a ética na razão pura, objetivando estabelecer os princípios universais e imutáveis da moral.

Para ele, as questões éticas pertencem à razão prática e não à razão teórica. Pois é na razão prática que agimos livremente segundo princípios morais; já na razão teórica, do conhecimento, estamos condicionados a nossa própria estrutura cognitiva.

Em sua obra Crítica da Razão Pura, Kant investigou os limites e as condições do conhecimento humano, propondo uma combinação da intuição sensível (sensibilidade) e dos conceitos e categorias (entendimento) para a compreensão da realidade.

De acordo com Kant, os princípios da razão prática são universais e defendem os nossos deveres, já que se aplicam a todos os indivíduos - ética do dever.

Para compreender melhor as ideias desenvolvidas por Kant sobre ética e filosofia moral, acesse o curso Os pensadores: Immanuel Kant em nossa plataforma.



Friedrich Nietzsche – A crítica à moral tradicional

fotografia de Friedrich Nietzsche

Friedrich Nietzsche (1844 - 1900) foi um filósofo que foi de encontro aos fundamentos da moral tradicional ocidental, especialmente a judaico-cristã, propondo uma reavaliação dos valores pré-estabelecidos.

Ele é considerado o fundador do niilismo, movimento que questiona os valores tradicionais da sociedade e a existência de um propósito de vida.

Segundo Nietzsche, a criação de novos valores baseados na afirmação da vida e na individualidade seriam o caminho para superar a crise social no ocidente.

Em seu livro Assim Falou Zaratustra, Nietzsche propõe o conceito de além-do-homem, que seria um ser capaz de criar seus próprios valores e viver de forma autêntica.

Ademais, também desenvolveu o conceito de eterno retorno, que diz respeito à ideia de que a vida se repete incessantemente, desafiando o indivíduo a viver da maneira que desejasse sem se prender à moralidade da sociedade - um modelo ideal para a humanidade.

Karl Marx – Filosofia e transformação social

fotografia de karl Marx

Karl Marx (1818 - 1883) desenvolveu uma forte crítica ao sistema capitalista, especialmente referente à alienação e à exploração do trabalhador, influenciando diretamente os sistemas políticos e econômicos da época.

Uma de suas obras mais significativas é O Capital, na qual ele faz uma análise do funcionamento da economia capitalista apresentando a lógica do lucro como causadora da desigualdade e intensificadora da opressão.

O ponto central do trabalho de Marx é o trabalho. De acordo com sua filosofia, o capitalismo transforma o trabalhador em instrumento de produção, desconsiderando sua humanidade. Com isso, tem-se a alienação social que ocorre em várias dimensões: do produto, do processo de trabalho, da essência humana e do outro.

Então, seria a luta de classes, segundo ele, o motor da história e também o elemento capaz de superar o capitalismo e alcançar uma sociedade mais igual por meio da revolução proletária.

Jean-Paul Sartre – O existencialismo e a liberdade radical

fotografia de Jean Paul Sartre

Jean-Paul Sartre (1905 - 1980) é considerado um dos principais filósofos do existencialismo, juntamente com Albert Camus. A ideia central de sua filosofia é a liberdade do homem.

Ele propõe que a “existência precede a essência”, ou seja, o ser humano não possui uma essência pré-determinada, ele é livre para construir sua própria identidade por meio de escolhas e ações - o reconhecimento da liberdade.

Em 1943, Sartre explora o reconhecimento da liberdade do indivíduo e a responsabilidade que vem junto com ela, gerando a sensação de angústia existencial como consequência dessa liberdade.

Embora tenha se aproximado do marxismo, ao inserir o homem na realidade social e na alienação da consciência, ele manteve uma postura crítica conciliando a liberdade individual com as estruturas sociais.

Simone de Beauvoir – Filosofia da liberdade e do feminino

fotografia de Simone de Beauvoir

Simone de Beauvoir (1908 - 1986) foi uma filósofa influente no século XX e fundamental no desenvolvimento do pensamento feminista e na filosofia existencialista.

Sua obra mais importante foi O Segundo Sexo, onde examina a construção social da mulher, desafiando as concepções tradicionais que limitavam o comportamento feminino à biologia.

Uma de suas frases mais marcantes é "ninguém nasce mulher, torna-se mulher" que resume sua tese de que a identidade feminina é moldada por fatores históricos e culturais, e não por uma essência natural.


Simone de Beauvoir não só influenciou como também foi influenciada pelos princípios do existencialismo, especialmente pela ideia de que "a existência precede a essência".

A partir disso ela argumenta que as mulheres devem assumir a responsabilidade por sua liberdade e se libertar das imposições patriarcais.

Filósofos contemporâneos

A filosofia contemporânea surge a partir da crise do pensamento moderno no século XIX e ainda permanece até os dias atuais, o que pode tornar mais difícil o processo de enxergar suas características.

Contudo, esta filosofia busca fundamentar o conhecimento e as teorias científicas através da análise da subjetividade e da estrutura cognitiva do indivíduo, recebendo influência do racionalismo e empirismo.

Conheça alguns dos principais filósofos contemporâneos:

Michel Foucault

Ele fazia uma forte crítica ao poder e formulou a ideia de microfísica do poder, onde falava sobre como as relações de poder tentam docilizar as pessoas através da disciplina.

Para Foucault, as instituições moldam comportamentos e regras da sociedade, além do conhecimento estar sempre ligado ao controle e à hierarquia social.

Judith Butler

Judith Butler revolucionou o estudo de gênero ao apontar que a identidade de gênero é socialmente construída, não uma essência fixa. Ela propôs que a repetição de atos de gênero cria e fortalece as identidades, desafiando normas tradicionais.

Byung-Chul Han

Byung-Chul Han pesquisa a “Sociedade do cansaço” , a busca incessante pela produtividade e desempenho da sociedade contemporânea, a partir de uma crítica ao neoliberalismo, leva ao esgotamento e a doenças neuronais, como depressão e burnout.

Filósofos brasileiros

Apesar de o Brasil não ter uma longa tradição dentro da filosofia, alguns filósofos brasileiros estão se fazendo pertinentes e populares quanto aos estudos deste campo de saber.

Um dos principais nomes nacionais é Marilena Chaui que, influenciada e especialista na obra de Spinoza, explora temas como a filosofia política e a democracia como garantia de direitos.

Também temos Clóvis de Barros Filho, reconhecido por tornar a filosofia acessível e democratizar o pensamento filosófico na sociedade. Além de Renato Noguera que aborda a filosofia africana e a decolonialidade.


Por que estudar os principais filósofos?

A busca pelo conhecimento é de grande valia em qualquer campo. Porém, na filosofia, esse aprendizado te ajuda a compreender melhor o mundo, a sociedade e a si mesmo.

A principal proposta deste texto foi convidar você para refletir sobre as ideias dos principais filósofos e começar a busca pelo conhecimento e se preparar para enfrentar as complexidades da vida e agir com maior responsabilidade e racionalidade.

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Referências:

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 12. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.

RODRIGUES, Carla. Judith Butler. Blogs de Ciência da Universidade Estadual de Campinas: Mulheres na Filosofia, v. 6, n. 3, p. 99–113, 2020.

Artes, Literatura e História
História da Arte: definição, períodos, tipos de arte e grandes obras
Xavana Celesnah
História da Arte: definição, períodos, tipos de arte e grandes obras
Explore a História da Arte, dos desenhos rupestres à contemporânea. Conheça os períodos artísticos, grandes obras ,artistas e para que serve a arte.

A História da Arte é um campo do conhecimento que investiga a evolução das manifestações artísticas ao longo do tempo, desde as pinturas rupestres da Arte Pré-Histórica até as expressões contemporâneas que estão presentes no nosso cotidiano. Neste texto, vamos focar principalmente na História da Arte ligada à pintura, passando pelos principais períodos da História da Arte Mundial, pelos grandes artistas e suas obras, e vamos destacar também a História da Arte no Brasil.



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O que é Arte?

Antes de mergulharmos nas divisões históricas e nas correntes artísticas, é essencial entender o conceito de arte. Arte pode ser entendida como a expressão da criatividade e sensibilidade humana, através das mais diferentes linguagens, como pintura, música, literatura, cinema, escultura, desenho, dança, entre outras. As obras de arte, em sua maioria, são realizadas com algum propósito comunicativo, seja através do visual, do sonoro ou do narrativo. Portanto, a arte transmite emoções, ideias, valores e questionamentos sobre a sociedade e a existência humana.

Cada tipo de arte tem características próprias e formas de expressar uma mensagem. Por exemplo, a pintura pode ser figurativa ou abstrata, a escultura pode ser uma representação tridimensional de figuras ou formas, e a música pode explorar diferentes ritmos e harmonias. A dança, por sua vez, se expressa por meio do movimento corporal, enquanto a literatura utiliza as palavras para criar histórias, reflexões e críticas sociais.

A arte reflete o modo de vida, as crenças e as inovações de cada época. Mas para que serve a arte? Ela vai além da apreciação estética e é fundamental na formação de nossa identidade cultural e na reflexão sobre questões sociais e políticas.

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Períodos da História da Arte

A História da Arte é geralmente dividida em períodos e movimentos que ajudam didaticamente na compreensão das manifestações de cada época. Claro que essas divisões periódicas não são rígidas e algumas formas de se fazer arte coexistiram, mas a divisão em fases facilita a identificação dos estilos e também das ideias que estavam aflorando em cada momento histórico.

Cada período tem suas características próprias, refletindo mudanças de pensamento, inovações técnicas e influências sociais. A seguir, fizemos um resumo com os principais períodos da História da Arte.

Arte Pré-Histórica

A arte pré-histórica remonta aos primórdios da humanidade e é marcada por ser uma arte desenvolvida antes da invenção da escrita. As pinturas rupestres são os principais exemplos desta fase e as famosas pinturas das cavernas de Altamira, na Espanha, e de Lascaux, na França, seguem como os grandes marcos da arte rupestre no mundo.

As pinturas nas cavernas retratam animais e algumas cenas da vida cotidiana da época, como a caça. Essas obras têm um caráter simbólico e ritualístico, também chamado de “magia simpática ou propiciatória”. São pinturas muitas vezes associadas a crenças espirituais e ao entendimento do mundo natural.

Bisonte na Caverna de Altamira, Espanha.  As pinturas rupestres da Caverna de Altamira foram realizadas entre 36.000 e 13.000 anos atrás.

Bisonte na Caverna de Altamira, Espanha. As pinturas rupestres da Caverna de Altamira foram realizadas entre 36.000 e 13.000 anos atrás.


Arte Antiga

Com o surgimento das primeiras civilizações, como as dos povos que habitaram a Mesopotâmia, o Egito, a Grécia e Roma, a arte passou a ter um caráter mais formal e funcional. A arte produzida durante a Antiguidade foi muito diversa, principalmente quando comparamos a arte do Egito Antigo com a da Grécia Antiga, por exemplo, pois os artistas egípcios produziam imagens a partir de esquemas pré-definidos, enquanto os gregos buscavam o realismo na representação dos corpos humanos.

Isso acontecia porque a arte para a sociedade egípcia possuía um significado político e espiritual que precisava ser preservado. Portanto, as pinturas tinham que seguir certos padrões, como a lei da frontalidade que era usada na representação de corpos humanos, como é possível ver na imagem abaixo:

Pintura egípcia mostrando processo de mumificação, hábito comum na sociedade do Egito Antigo.

Pintura egípcia mostrando processo de mumificação, hábito comum na sociedade do Egito Antigo.


As civilizações antigas criaram obras de arte famosas, como as esculturas de Fídias na Grécia e as pirâmides do Egito, que não só adornavam os templos e palácios, mas também tinham significados religiosos e políticos profundos. A arte antiga foi marcada pela busca da perfeição e harmonia nas formas e pela representação idealizada do corpo humano.

Arte Medieval

A Arte Medieval foi realizada no longo período que vai do século V ao século XV, e se caracteriza pela religiosidade. Durante este período, a arte cristã predominou, com grande foco em temas bíblicos e na construção de igrejas, mosteiros e catedrais, além de manuscritos iluminados, que ficaram conhecidos como iluminuras.

A arte medieval utilizou pintura em murais, vitrais e a escultura religiosa. A arte gótica e bizantina, com suas imponentes catedrais e ícones religiosos, também são destaques deste período. Este período é essencialmente marcado pela busca de transmitir mensagens espirituais e teológicas.

Cenas da Vida de Cristo - Lamentação. Giotto, obra realizada entre 1304 e 1306. 200 cm X 185 cm. Capela Scrovegni, em Pádua, Itália.

Cenas da Vida de Cristo - Lamentação. Giotto, obra realizada entre 1304 e 1306. 200 cm X 185 cm. Capela Scrovegni, em Pádua, Itália.


Arte Renascentista

A Arte Renascentista, compreendida entre os séculos XIV e XVI, marca um retorno aos ideais da Antiguidade Clássica e uma revolução na maneira de pensar a arte e a humanidade. Artistas como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael buscaram a representação naturalista do corpo humano, explorando a perspectiva, a proporção e a luz.

A Renascença é, sem dúvida, um dos períodos mais ricos da história da arte, com grandes obras de arte famosas, como "A Última Ceia" de Da Vinci e "O David" de Michelangelo.

A Última Ceia. Leonardo da Vinci, obra realizada entre 1495 e 1498. Dimensões: 460 cm X 880 cm. Refeitório da igreja de Santa Maria delle Grazie, em Milão, Itália.

A Última Ceia. Leonardo da Vinci, obra realizada entre 1495 e 1498. Dimensões: 460 cm X 880 cm. Refeitório da igreja de Santa Maria delle Grazie, em Milão, Itália.


Arte Pré-Colombiana

A arte pré-colombiana refere-se à produção artística das civilizações indígenas das Américas antes das Grandes Navegações, que culminaram com a chegada de Cristóvão Colombo, no final do século XV, ao continente americano. Esse período é imensamente diversificado, refletindo a rica variedade de culturas que habitaram as Américas, como os maias, astecas, incas e diversos povos indígenas da América do Norte, Sul e América Central.

A arte pré-colombiana é caracterizada por uma profunda relação com a natureza, a religião e o poder. Entre os principais tipos de arte desse período estão as esculturas, pinturas, cerâmicas e tecelagens, todas com grande simbolismo. Os maias e astecas criaram magníficas esculturas de pedra, como os templos e figuras divinas que decoravam suas cidades. Os incas, por sua vez, desenvolveram técnicas de tecelagem complexas e a arte da metalurgia, criando peças de ouro e prata com significados religiosos e cerimoniais.

Templo de Kukulkán, pirâmide maia que começou a ser construída no século VI. Iucatã, México.

Templo de Kukulkán, pirâmide maia que começou a ser construída no século VI. Iucatã, México.


A arte pré-colombiana também apresenta uma rica simbologia, com forte presença de elementos geométricos e figuras mitológicas, como os deuses e heróis das lendas dessas civilizações.

Arte Moderna

A Arte Moderna (séculos XIX e XX) começou a apresentar suas primeiras obras a partir da Revolução Industrial e de toda a transformação social e política decorrente dela. Movimentos como o Impressionismo, Cubismo, Surrealismo e Expressionismo, que ficaram conhecidos como as vanguardas europeias, trouxeram novas formas de ver e entender a arte, distantes da representação figurativa clássica. Artistas como Pablo Picasso, Vincent van Gogh, Claude Monet e Salvador Dalí são alguns dos grandes nomes desse período.

A arte passou a explorar a abstração e a subjetividade, questionando as convenções tradicionais das academias e a própria realidade. O fazer artístico se diversificou, incluindo novos experimentos com o uso da cor, da forma e da luz, além de novas linguagens da arte, como a fotografia e a arte digital.

Guernica, quadro de Pablo Picasso. 1937, pintura a óleo. 349,3 cm X 776,5 cm. Museu Reina Sofia, Madrid.

Guernica, quadro de Pablo Picasso. 1937, pintura a óleo. 349,3 cm X 776,5 cm. Museu Reina Sofia, Madrid.


A Arte Moderna ou Modernismo foi um período riquíssimo da produção artística mundial e também no Brasil. Você pode compreender melhor esse estilo de arte através do curso A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock, ministrado pelo doutor em História da Arte, Felipe Martinez. No curso, ele faz uma análise da vida e da obra de grandes artistas modernistas, mostrando os impactos causados pelas novas ideias e como a arte dialoga com as grandes questões sociais.

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Arte Contemporânea

A Arte Contemporânea (século XX até o presente) é um campo diversificado e amplo, de difícil definição. Diversos movimentos artísticos coexistem, como o minimalismo, o arte pop, a arte conceitual e as manifestações da arte digital. A arte contemporânea rompe com as fronteiras dos tipos de arte tradicionais, explorando novas linguagens da arte como o vídeo, a performance e as instalações interativas. Banksy, Yayoi Kusama e Damien Hirst são alguns dos artistas contemporâneos mais influentes no mundo. A arte contemporânea está muito relacionada às ideias e geralmente aborda temas sociais, culturais e políticos, desafiando as normas da arte tradicional e incentivando uma reflexão crítica sobre o mundo atual.

Grandes Artistas da História e Suas Obras

A história da arte é marcada por inúmeros grandes artistas, cujas obras ajudaram a definir os rumos da arte. Cada um desses artistas famosos trouxe uma contribuição única, seja através da técnica, do estilo ou das ideias que procuraram expressar. Listamos a seguir algumas obras de arte famosas na história e seus respectivos autores:

Século XIV (1300)

  • Giotto di Bondone:

O Beijo de Judas (1305)
Afrescos da Capela Scrovegni (1304–1306)

Século XV–XVI (Renascimento)

A Última Ceia (1495–1498)
Mona Lisa (c. 1503–1506)

  • Michelangelo Buonarroti

O Davi (1501–1504)
Afrescos da Capela Sistina (1508–1512)

Século XIX (Impressionismo e Pós-Impressionismo)

  • Édouard Manet

Almoço na Relva (1863)
Olympia (1863)

  • Claude Monet

Impressão, nascer do sol (1872)
Nenúfares (série, 1897–1926)

  • Edgar Degas

A Aula de Balé (c. 1874)
O Balé Azul (c. 1890)

  • Vincent van Gogh

Girassóis (1888)
A Noite Estrelada (1889)

Século XIX–XX (Simbolismo, Art Nouveau e Modernismo)

  • Gustav Klimt

Retrato de Adele Bloch-Bauer I (1907)
O Beijo (1907–1908)

  • Antoni Gaudí

Parque Güell (projeto iniciado em 1900)
Sagrada Família (iniciada em 1882, ainda em construção)

Século XX (Modernismo, Abstracionismo, Surrealismo e Pop Art)

  • Pablo Picasso

Les Demoiselles d'Avignon (1907)
Guernica (1937)

  • Wassily Kandinsky

Composição VIII (1923)
Amarelo-Vermelho-Azul (1925)

  • Frida Kahlo

Auto-retrato com Espinho e Colibri (1940)
As Duas Fridas (1939)

  • Andy Warhol

Campbell's Soup Cans (1962)
Marilyn Diptych (1962)

História da Arte no Brasil

A história da arte no Brasil é marcada por uma rica e diversa trajetória, que reflete a complexidade cultural do país. Desde os tempos anteriores à colonização, as expressões artísticas indígenas já revelavam uma profunda conexão com a natureza, os mitos e os rituais das diferentes etnias. Arte plumária, cerâmica, pinturas corporais e grafismos em objetos e superfícies naturais eram — e ainda são — manifestações de um conhecimento ancestral transmitido de geração em geração.

Com a chegada dos colonizadores portugueses no século XVI, iniciou-se o período da arte colonial, fortemente influenciado pela estética europeia, especialmente o barroco. Igrejas ricamente ornamentadas, como as de Ouro Preto e Salvador, são testemunhos do talento de artistas como Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa) e Manuel da Costa Ataíde, que reinterpretaram as referências europeias sob uma ótica brasileira, mesclando elementos locais, africanos e indígenas em suas obras sacras.

No século XIX, com a vinda da Missão Artística Francesa (1816), liderada por Jean-Baptiste Debret, o Brasil passou por um processo de academização da arte. A fundação da Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro, contribuiu para a formação de artistas dentro de um modelo europeu clássico. Nomes como Pedro Américo e Victor Meirelles se destacaram com grandes telas históricas, representando cenas como o Grito do Ipiranga e episódios da história nacional com uma estética grandiosa e idealizada.

O Grito do Ipiranga, quadro de Pedro Américo, 1888. Óleo sobre tela, 415cm X 760 cm. Museu Paulista da USP, São Paulo.

O Grito do Ipiranga, quadro de Pedro Américo, 1888. Óleo sobre tela, 415cm X 760 cm. Museu Paulista da USP, São Paulo.


A virada do século XX trouxe profundas transformações. O movimento modernista brasileiro, com a Semana de Arte Moderna de 1922, rompeu com os padrões acadêmicos e buscou uma nova linguagem artística, autenticamente nacional.

Artistas como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Di Cavalcanti e Oswald de Andrade propuseram uma arte que refletisse a realidade brasileira, suas cores, suas contradições sociais e culturais, ao mesmo tempo em que dialogava com as vanguardas europeias.

Obras como Abaporu (Tarsila), que se tornou símbolo do movimento antropofágico, tinham como proposta a “digestão” crítica das influências estrangeiras para criar algo novo e original, em sintonia com a história do Brasil.

Candido Portinari, por sua vez, levou o realismo social às telas, retratando com sensibilidade temas como o trabalho, a infância pobre e as injustiças sociais, em obras como Retirantes e os painéis de Guerra e Paz, encomendados pela ONU.

Na segunda metade do século XX, a arte brasileira expandiu-se ainda mais, incorporando novas linguagens como a arte concreta, o neoconcretismo, a arte conceitual, o cinema experimental e a performance. Figuras como Lygia Clark, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Tomie Ohtake, entre outros, romperam com os limites tradicionais da pintura e escultura, criando experiências sensoriais e interativas que colocavam o espectador como parte da obra.

Hoje, a arte contemporânea brasileira é plural, crítica e inovadora. Artistas como Adriana Varejão, Ernesto Neto, Vik Muniz, Rosana Paulino e Jaider Esbell (este último representando a retomada da arte indígena no circuito contemporâneo) continuam a explorar temas como identidade, corpo, ancestralidade, meio ambiente, desigualdade e memória, levando a produção artística nacional a dialogar com os grandes debates do mundo atual — sem perder o enraizamento nas realidades locais.

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Para que serve a Arte?

A arte tem várias funções e serve para inúmeros propósitos. Ela pode ser uma ferramenta de expressão pessoal, um meio de questionamento social e político, uma forma de comunicação universal e até um instrumento terapêutico. A arte também tem uma função educativa, ajudando a transmitir a história, as emoções e as ideias de diferentes culturas e épocas.

Conclusão

A História da Arte é uma jornada fascinante que nos permite entender a evolução das expressões humanas através de diferentes épocas e estilos. Desde a Arte Pré-Histórica até a arte contemporânea, cada período e movimento artístico oferece insights valiosos sobre a cultura, os valores e as ideias de seu tempo. Além disso, grandes artistas e obras de arte influenciam nossa percepção de mundo, e desenvolvem legados que permanecem como um registro da história da humanidade.

Seja para entender as complexidades de nossa sociedade, para se envolver emocionalmente com uma obra ou simplesmente para apreciar a beleza estética, estudar História da Arte é fundamental para qualquer um que deseje expandir sua visão do mundo e compreender a profundidade da experiência humana.

Se você tem interesse em História da Arte e deseja aprender mais sobre o tema, confira o curso Introdução à História da Arte, da Casa do Saber, ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp, Felipe Martinez.

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Referências

https://www.cultura.gob.es/mnaltamira/cueva-altamira/arte.html

https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-11160/chichen-itza/

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Elena Ferrante: por onde começar a ler, livros de romance, Netflix
Quem é Elena Ferrante? Conheça a autora italiana da tetralogia Napolitana, obra 'A Amiga Genial' no New York Times e qual livro ler primeiro!

Elena Ferrante é uma das escritoras mais enigmáticas da literatura contemporânea. A autora conquistou uma legião de leitores ao mergulhar em temas profundos sobre a amizade, a identidade e a experiência feminina. Conhecida mundialmente por sua tetralogia Napolitana, que começa com A Amiga Genial, Ferrante oferece uma reflexão intensa sobre as complexas relações humanas e os labirintos psicológicos que nos permeiam. A Amiga Genial foi considerada pelo The New York Times como o livro do século, eleito após uma pesquisa com 503 especialistas literários, o que demonstra a relevância e o impacto profundo de sua obra no cenário literário mundial.

Sua escrita, marcada pela sinceridade crua e pela profundidade emocional, tem o poder de transformar a maneira como entendemos os vínculos afetivos e a complexidade da vida interna de suas personagens. Além disso, o mistério em torno de sua verdadeira identidade, já que Elena Ferrante é um pseudônimo, aumenta a curiosidade em relação à autora, criando uma aura de fascínio que apenas intensifica o interesse por suas obras. Neste artigo, vamos explorar a trajetória de Elena Ferrante, suas obras mais impactantes e como ela se tornou uma das vozes mais relevantes da literatura atual.



Por que ler Elena Ferrante?

Elena Ferrante oferece uma literatura que toca as profundezas da alma humana. Suas histórias, repletas de uma sinceridade crua, revelam os complexos laços de amizade, as contradições da identidade e os desafios da experiência feminina de forma magistral. Suas personagens são imersivas, e a forma como ela aborda as nuances dos sentimentos e das relações é capaz de alterar profundamente a maneira como entendemos nossas próprias vidas emocionais.

Sem dúvida, ela é uma das mulheres da literatura contemporânea que mais causa fascínio e curiosidade. Afinal, até hoje se mantém no anonimato. O mistério em torno de quem é Elena Ferrante gera um fascínio adicional que contribui para o charme de suas obras. Ao não se expor publicamente, ela desvia o foco da autora e coloca toda a atenção em suas histórias, permitindo que o leitor se conecte diretamente com os temas e as emoções descritas em seus livros.

O anonimato, aliado à escrita profundamente envolvente, criou uma aura de curiosidade que tem feito de Elena Ferrante uma das autoras mais discutidas e admiradas da literatura contemporânea. Suas obras não são apenas para ser lidas, mas para serem sentidas, tornando-se uma experiência emocional que vai além das páginas.

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Quem é Elena Ferrante?

Elena Ferrante é o pseudônimo de uma autora italiana cuja verdadeira identidade permanece desconhecida. A escolha de se manter anônima, ao longo dos anos, despertou uma onda de especulação e curiosidade, mas a escritora sempre declarou que a obra é mais importante do que a figura de quem a escreveu. Sua literatura, então, se destaca por sua sinceridade e profundidade emocional, proporcionando uma visão íntima da vida feminina, das relações humanas e da complexidade das identidades.

Apesar do anonimato, Elena Ferrante construiu uma carreira literária sólida e admirada, sendo reconhecida globalmente. O que importa, para a autora, são as palavras e as histórias que ela compartilha, e não a imagem que o público tem dela.

Para Elena Ferrante, manter sua identidade em sigilo é uma escolha. Mas, nem sempre foi assim para as mulheres. Ao longo da história, as vozes femininas foram caladas e sufocadas. O sistema patriarcal reprimiu a expressão das ideias femininas, através de relações de poder que mantinham as mulheres tolhidas em sua liberdade criativa e existencial. A escritora Mary Shelley, por exemplo, autora de Frankenstein, demorou alguns anos para ter sua identidade associada à obra prima que escreveu. E até mesmo J.K.Rowling, criadora da saga Harry Potter, foi aconselhada por seu editor a não revelar sua identidade feminina nas primeiras publicações, porque ele acreditava que os meninos não iriam se interessar em ler seus livros, caso soubessem que eram escritos por uma mulher. Portanto, a misoginia não ficou no passado, quando deusas, bruxas e feiticeiras foram incineradas pela fogueira da inquisição.

Livros de Elena Ferrante: quais são os mais conhecidos?

Os livros de Elena Ferrante têm conquistado leitores ao redor do mundo devido à sua profundidade emocional e à forma como abordam as relações humanas. Entre seus trabalhos mais famosos está a Tetralogia Napolitana, que começa com A Amiga Genial. Veja a seguir quais são as principais obras de Elena Ferrante:

LIVROS DE ELENA FERRANTE RESUMO
A Amiga Genial (2011) A história de uma amizade intensa e complexa entre Lila e Lenù, duas meninas que crescem em Nápoles, e como essa relação se desenvolve ao longo dos anos. A obra explora temas como identidade, classe social e o impacto do ambiente no desenvolvimento humano.
A História do Novo Sobrenome (2012) Continuação de A Amiga Genial, este livro segue a vida de Lila e Linù na juventude, aprofundando-se nas suas escolhas de vida, em especial a busca de Lila por um caminho diferente de Elena.
História de Quem Foge e de Quem Fica (2013) A amizade entre Lila e Linù continua a se transformar enquanto elas lidam com o amadurecimento, o amor e os conflitos internos.
História da Menina Perdida (2014) O último livro da Tetralogia Napolitana foca na busca de Linù por uma identidade própria, enquanto ela lida com os desafios da maternidade e a conclusão da sua amizade com Lila. A obra trata da experiência feminina e dos dilemas existenciais, culminando em um retrato de amadurecimento pessoal.
Um Amor Incômodo (1991) Delia retorna a Nápoles após a morte misteriosa de sua mãe, e, ao investigar o passado de sua mãe, ela se vê confrontada com descobertas desconcertantes. A obra explora os segredos familiares e a complexidade das relações maternas e filiais.
Dias de Abandono (2002) Olga enfrenta uma profunda crise emocional após seu marido pedir o divórcio, entrando em um período de instabilidade psicológica enquanto lida com a maternidade e sua identidade.
Frantumaglia (2003) Uma coleção de cartas, entrevistas e reflexões de Elena Ferrante, revelando suas ideias sobre o processo de escrita, o anonimato e a identidade literária. Este livro oferece uma visão sobre a autora e sua abordagem da criação literária e dos temas de suas obras.
A Filha Perdida (2006) Leda, uma mulher de meia-idade, passa suas férias em uma praia italiana, onde reflete sobre sua maternidade e suas escolhas, ao se envolver com a família de uma jovem mulher.
Uma Noite na Praia (2007) A história segue duas mulheres que, em uma noite à beira-mar, refletem sobre suas vidas e os dilemas emocionais e existenciais que as atormentam.
A Vida Mentirosa dos Adultos (2019) Giovanna, uma adolescente, começa a descobrir segredos sobre sua família e a sociedade em que vive, desafiando as suas próprias percepções de amor e lealdade. O livro explora a transição da adolescência para a vida adulta, revelando as mentiras e contradições da vida dos adultos ao seu redor.
A Invenção Ocasional (2019) Uma narrativa de ficção que examina como a identidade e a criação literária podem ser um jogo de invenção e imaginação, com a autora abordando a relação entre ficção e realidade.
As Margens e o Ditado (2021) O livro é baseado em seminários que Elena Ferrante escreveu para uma atriz realizar a leitura durante a Aula Magna da Universidade de Bolonha, na Itália.


Por onde começar a ler Elena Ferrante?

Se você está se perguntando por onde começar a ler Elena Ferrante, a resposta mais comum seria começar com A Amiga Genial. Esse livro é o mais famoso da autora e apresenta os principais temas trabalhados por Ferrante em sua obra – amizade feminina, identidade e os desafios da vida. A Amiga Genial é o primeiro livro da tetralogia napolitana, série que oferece uma imersão ainda maior nas vidas e nas relações das personagens.

Mas, se você deseja ter um conhecimento ainda maior sobre a escritora, conheça o curso As Mulheres na Obra de Elena Ferrante, ministrado pela doutora em História da Filosofia Antiga pela Puc-Rio, Julia Myara. O curso analisa a obra da autora, a partir das personagens femininas que marcam suas narrativas. São abordadas questões relacionadas à maternidade, liberdade, abandono e competição no universo feminino.





Além do curso, você também pode participar do Clube do Livro Histórias que nos Ensinam a Amar,conduzido pela psicanalista Carol Tilkian. O clube vai te motivar na leitura de livros escritos por mulheres, além de ser um espaço aberto para reflexão e debate das obras, a partir dos encontros online. A maioria dos encontros contará, ainda, com a presença das autoras das obras que serão comentadas.

O livro Dias de Abandono, de Elena Ferrante, é uma das publicações que serão debatidas pelo Clube, em um encontro que vai tratar da Literatura como Reflexão sobre Relacionamentos. Saiba mais sobre este Clube do Livro inédito clicando no botão a seguir.

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Elena Ferrante: A Amiga Genial e a adaptação para a Netflix

O sucesso de A Amiga Genial foi tão grande que a obra foi adaptada para a TV pela HBO, e mais tarde, foi lançada uma adaptação da minissérie na Netflix. A série segue a trajetória de Lila e Linù, explorando as complexidades da amizade e dos dilemas existenciais dessas personagens de maneira visualmente arrebatadora.

Para quem já leu o livro, a adaptação traz uma nova camada de emoção à história, tornando a experiência ainda mais imersiva. A produção foi tão bem recebida que se tornou uma das mais comentadas e aclamadas da plataforma.

Veja a seguir as obras de Elena Ferrante que ganharam adaptações cinematográficas e de TV :

  • A Amiga Genial (HBO) – A famosa Tetralogia Napolitana foi adaptada para a TV pela HBO. A série, que acompanha a amizade de Lila e Elena, está disponível na plataforma Max, com a quarta e última temporada chegando em breve. A adaptação captura com precisão a essência dos livros, retratando a complexa relação entre as protagonistas e o cenário social e político de Nápoles ao longo das décadas.
  • A Filha Perdida (Netflix) – Adaptado do livro de 2006, A Filha Perdida segue a personagem Leda, interpretada por Olivia Colman, enquanto ela reflete sobre a maternidade e os dilemas familiares durante suas férias em uma cidade costeira na Itália. O filme é uma exploração emocionalmente complexa dos relacionamentos e das escolhas que moldam a vida de Leda.
  • A Vida Mentirosa dos Adultos (Netflix) – A minissérie baseada no romance de Elena Ferrante de 2019 segue Giovanna, uma adolescente que começa a descobrir um lado diferente de Nápoles, longe da proteção de sua família. A série explora o despertar da juventude, os conflitos familiares e a busca por identidade.
  • Um Amor Incômodo (2002) – O primeiro livro de Elena Ferrante a ser adaptado para o cinema foi Um Amor Incômodo, publicado originalmente em 1992. A história acompanha Delia, uma mulher de 45 anos que retorna a Nápoles, sua cidade natal, após a morte misteriosa de sua mãe. O retorno de Delia à cidade traz à tona lembranças de sua infância e uma série de descobertas perturbadoras sobre a vida e os segredos de sua mãe. A adaptação cinematográfica de 2002 capturou a tensão emocional da obra e a complexidade das relações familiares.
  • Dias de Abandono (2005) – Publicado em 2002, Dias de Abandono narra a história de Olga, uma mulher que enfrenta uma crise emocional após seu marido pedir o divórcio. A narrativa segue a jornada intensa de Olga, que se vê imersa em um turbilhão de inseguranças e emoções enquanto tenta se reconstruir. O filme, lançado em 2005, foi dirigido por Roberto Faenza e retratou brilhantemente o processo de autodescoberta e sofrimento da protagonista.


A Polêmica do jornalista que tentou desvendar a identidade de Elena Ferrante

A revelação da identidade de Elena Ferrante, uma das autoras mais enigmáticas da literatura contemporânea, gerou grande polêmica e acusações de invasão de privacidade. Ferrante sempre manteve o anonimato, recusando-se a fornecer qualquer foto ou informação sobre sua identidade. A dúvida pairava sobre sua identidade: seria Ferrante um homem ou uma mulher? Nenhuma resposta oficial havia sido dada.

print da matéria 'Elena Ferrante: An Answer?', de Claudio Gatti
Reportagem de Claudio Gatti veiculada na New York Review of Books


Em 2016, o jornalista italiano Claudio Gatti publicou uma reportagem na New York Review of Books, intitulada "Elena Ferrante: Uma Resposta?" , que causou grande repercussão. Gatti alegava, com base em uma análise forense de textos e informações públicas, que por trás do pseudônimo de Elena Ferrante estava Anita Raja, uma tradutora italiana. A matéria foi amplamente divulgada no mundo e indicava Raja como a autora da aclamada Série Napolitana.

No entanto, essa alegação foi imediatamente negada pelos envolvidos. Tanto Anita Raja quanto seu marido, o escritor italiano Domenico Sartore, repudiaram as informações de Gatti. Além disso, Elena Ferrante também se manifestou, por escrito, negando as alegações. Em sua declaração, Ferrante reafirmou seu compromisso com o anonimato e ressaltou que a identidade do autor não deveria ser o foco, mas sim a obra.

A publicação causou reações intensas, muitos leitores e críticos consideraram a abordagem de Gatti uma invasão de privacidade. Para esses, a identidade de Ferrante deveria ser irrelevante diante da profundidade de suas obras. O anonimato da autora, assim, faria parte de sua identidade literária. A polêmica em torno da sua identidade continua a provocar debates sobre os limites da privacidade na literatura e sobre como o anonimato pode, na verdade, enriquecer a experiência de leitura. Para muitos, o mistério de Elena Ferrante se tornou uma parte essencial do fascínio que ela exerce sobre seus leitores.

Conclusão

Elena Ferrante é, sem dúvida, uma das escritoras mais relevantes da literatura contemporânea. Seus livros, especialmente a Tetralogia Elena Ferrante, se destacam pela maneira como abordam temas universais de amizade, amor e identidade.

Perguntas Frequentes sobre Elena Ferrante

  1. Quem é Elena Ferrante?

    Elena Ferrante é o pseudônimo de uma autora italiana cuja verdadeira identidade permanece desconhecida. Sua obra é marcada por um olhar sensível e profundo sobre a amizade, a identidade e as relações humanas, especialmente as experiências femininas.
  2. Por onde começar a ler Elena Ferrante?

    Se você quer começar a explorar a obra de Elena Ferrante, A Amiga Genial é a melhor introdução. A partir dela, você pode seguir com os outros volumes da Tetralogia Napolitana, que examinam a complexidade da amizade e das relações em Nápoles.


Referências:

https://revistacult.uol.com.br/home/por-que-gostamos-de-elena-ferrante/

https://www.estadao.com.br/cultura/literatura/elena-ferrante-entenda-misterio-da-autora-de-a-amiga-genial-eleito-o-melhor-livro-do-seculo-21-nprec/?srsltid=AfmBOoqvb7i3OwQ2DilsrsHOzUs8E4icWpOfu5Q5uemoZAvRizJ6azJm

https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/03/cultura/1475489430_113758.html

https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/quem-e-elena-ferrante-autora-misteriosa-tem-livro-eleito-melhor-do-seculo/

https://www.youtube.com/watch?v=4uTWHThuJoY





Expressionismo: Características, obras, O Grito, Van Gogh, artistas
Xavana Celesnah
Expressionismo: Características, obras, O Grito, Van Gogh, artistas
Expressionismo alemão:arte anterior à I Guerra Mundial, principais obras, cinema, expressionismo abstrato, o que é a arte expressionista, artistas.

O expressionismo foi um movimento artístico que surgiu na Alemanha, no ano de 1905, como uma reação à proposta estética do impressionismo, que buscava realizar uma arte baseada em estudos de óptica, retratando a luminosidade e as imagens da maneira como as vemos. Ao contrário do impressionismo, o expressionismo procurava realizar uma arte onde a emoção do artista tivesse mais espaço do que a técnica.

Expressionismo: Obras, Características e 3 Cursos Para Você Entender Tudo sobre a Vanguarda Modernista

A expressão dos pintores, seus sentimentos e sua visão de mundo importavam mais do que o realismo para essa vanguarda modernista. A obra O Grito (1893), do norueguês Edvard Munch, é precursora do expressionismo e traz muitas de suas características, como a deformação das figuras e a temática pessimista. O movimento não ficou restrito à pintura, mas também se manifestou na literatura, no cinema, na arquitetura e na fotografia.

Neste artigo, vamos mostrar como surgiu a arte expressionista, seus principais artistas e cursos para você aprofundar seus conhecimentos na Arte Moderna. O artigo passará pelos seguintes conteúdos:



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O que é Expressionismo?

O expressionismo foi um movimento artístico que emergiu no início do século XX, com origem na Alemanha, que valorizava a visão particular de mundo de cada artista, bem como suas emoções íntimas. O movimento refletia um mundo em crise, marcado pela Revolução Industrial, pela urbanização crescente e por tensões sociais e políticas intensas.

Os artistas distorciam formas, cores e perspectivas para expressar sentimentos profundos de angústia, sofrimento e desespero, em vez de retratar a realidade de maneira fiel. Em contraste com estilos artísticos anteriores, como o impressionismo, que se concentrava na representação objetiva e realista do mundo, os expressionistas buscaram transmitir a subjetividade e as turbulências internas do indivíduo.

Grandes nomes do expressionismo, como Edvard Munch e Egon Schiele, usaram essas distorções para capturar as intensas emoções humanas e o impacto psicológico das mudanças da sociedade moderna. O expressionismo é considerado uma das primeiras vanguardas históricas, ao lado do fauvismo francês. As vanguardas europeias da arte modernista foram um conjunto de movimentos artísticos que surgiram entre o início do século XX, antes da Primeira Guerra Mundial até o final da Segunda Guerra Mundial

Esses movimentos desafiavam as convenções estéticas tradicionais e traziam novas formas de expressão, abordando questões psicológicas, existenciais e sociais de maneira inovadora e muitas vezes perturbadora. Surgia uma nova era na arte ocidental com a mudança da mentalidade acerca do que faz um trabalho artístico uma obra de arte.

Como surgiu o Expressionismo?

O expressionismo surgiu em uma Alemanha imersa em uma profunda crise, cujas tensões sociais e políticas acabariam por culminar na eclosão da Primeira Guerra Mundial. As consequências da Revolução Industrial, o crescimento das áreas urbanas e os conflitos políticos criaram um cenário de angústia que se refletiu na arte expressionista.

Os artistas expressionistas reagiram a esse ambiente com uma paleta cromática agressiva, utilizando cores intensas e contrastantes para transmitir suas emoções internas. As temáticas centrais do movimento incluem a solidão, o sofrimento e a miséria, refletindo a crise existencial vivida pela sociedade.

O pintor norueguês Edvard Munch, com obras como O Grito (1893), tornou-se um ícone do expressionismo, retratando o desespero e a incomunicação humanas em um cenário de opressão psicológica. Seu trabalho, marcado por uma forte carga emocional e uma paleta de cores intensas, foi uma das principais inspirações para o movimento.

Além de Munch, outros artistas, como o francês Paul Cézanne, cujas experimentações com a desfragmentação da realidade e os pós-impressionistas Vincent van Gogh e Paul Gauguin, também foram precursores do expressionismo, trazendo à tona uma ênfase na subjetividade, na distorção das formas e na expressão de emoções profundas.

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O Expressionismo Alemão na Pintura

O movimento expressionista teve início em 1905, com a formação do grupo Die Brücke (A Ponte), fundado em Dresden por artistas como Ernst Ludwig Kirchner, Karl Schmidt-Rottluff e Erich Heckel. Este grupo se propôs a romper com as tradições artísticas acadêmicas e buscar uma expressão mais direta e emocional da realidade. Influenciados por movimentos como o pós-impressionismo e o primitivismo, os membros do Die Brücke usaram cores intensas e distorções nas formas para retratar temas como a angústia e o sofrimento causados pelas transformações sociais e culturais da época. A arte expressionista visava, assim, representar a subjetividade humana e os sentimentos conflitantes do indivíduo. O fazer artístico estava se transformando, bem como o perfil do consumo da arte.

Em 1911, o termo "expressionismo" foi formalmente associado ao movimento pela primeira vez ao ser escrito na revista Der Sturm (A Tempestade), uma das mais importantes publicações da vanguarda alemã. Ao mesmo tempo, o movimento se expandiu com a formação do grupo Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), em Munique, composto por artistas como Wassily Kandinsky e Franz Marc. Embora ambos os grupos compartilhassem a ideia de distorcer a realidade e explorar a subjetividade, o Der Blaue Reiter adotou uma abordagem mais espiritual, buscando expressar realidades metafísicas por meio da arte.

O Nazismo contra o Expressionismo

O regime nazista teve um impacto devastador sobre a arte expressionista, considerando-a "degenerada" e incompatível com seus valores nacionalistas e tradicionais. O movimento de censura do nazismo visava eliminar formas de arte modernas, como o expressionismo, o cubismo e o futurismo, que eram vistas como antinacionais e subversivas. Em 1937, os nazistas organizaram a Exposição de Arte Degenerada em Munique, onde obras de artistas como Ernst Ludwig Kirchner, foram expostas de forma grotesca, sendo ridicularizadas como expressão da loucura e usadas como exemplo do que o regime considerava corrompido. Muitas dessas obras foram retiradas de museus, destruídas ou vendidas a colecionadores estrangeiros, enquanto outras foram armazenadas fora do alcance do público.

O regime nazista tentou eliminar o expressionismo da cena artística alemã e ainda associou esse movimento ao comunismo e o rotulou de imoral e subversivo. Em 1937, cerca de 16.500 obras de arte foram confiscadas, incluindo trabalhos de artistas renomados como Van Gogh, Pablo Picasso e Matisse, muitas das quais foram vendidas em leilões ou destruídas, resultando em um prejuízo irreparável para a arte alemã e mundial.

3 Cursos Para Você Entender tudo sobre Arte Moderna

Para você que deseja entender profundamente o que é a arte, o que é Arte Moderna e, consequentemente, o movimento Expressionista, listamos três cursos essenciais da Casa do Saber que vão te fornecer uma visão mais abrangente sobre esses temas. São eles:

  1. A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock
  2. Introdução à História da Arte
  3. O que é Arte?



A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock

O curso "A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock" oferece uma análise profunda das transformações que ocorreram na arte moderna entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX.

Através das obras e vidas de artistas icônicos como Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock, o curso revela como a arte moderna rompeu com as convenções estéticas anteriores e aborda o impacto desse movimento nas instituições, na crítica de arte e no mercado.

O curso é ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp e pesquisador de pós-doutorado no Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP), Felipe Martinez. Com vasta experiência acadêmica e profissional, Felipe Martinez é especialista na obra de Van Gogh e tem atuação em instituições renomadas, como o MASP e o MAM de São Paulo. Confira a seguir uma prévia do curso:

Thumb curso 'A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock' com Felipe Martinez


Introdução à História da Arte

O curso "Introdução à História da Arte" oferece uma visão abrangente dos principais marcos e transformações na arte ocidental, desde o Renascimento até a arte moderna e contemporânea. Ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp e pesquisador da USP (MAC-USP), Felipe Martinez, o curso mostra como nossos conceitos de beleza e arte são construídos a partir do contexto histórico.

As aulas cobrem uma vasta gama de movimentos e artistas, como Michelangelo, Caravaggio, Monet, Degas, Van Gogh e Matisse, além de discutir as influências estéticas, técnicas e sociais que formaram cada período. A arte moderna e as vanguardas europeias fazem parte do conteúdo do curso e você pode conferir um pouco das aulas dando play no vídeo abaixo:

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O que é Arte?

O curso "O Que é Arte?" busca responder a essa pergunta, que permanece relevante e aberta a diversas interpretações. Através de uma abordagem crítica, o pesquisador Felipe Martinez investiga a arte a partir de seus diferentes sentidos, funções e efeitos, analisando como ela se conecta com a sociedade e provoca reflexões. As aulas envolvem obras e autores de períodos clássicos, modernos e contemporâneos, oferecendo novas formas de compreender e questionar o papel da arte em nosso mundo. Assista abaixo um trecho de uma das aulas para se familiarizar com o conhecimento compartilhado:

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Quais são as Características do Expressionismo?

Influenciado pelo gótico alemão, o movimento expressionista é caracterizado pela distorção das formas, uso de cores intensas para refletir emoções, e ênfase no impacto psicológico sobre a realidade objetiva. O expressionismo também se concentra no isolamento urbano, alienação e solidão do indivíduo, além de usar linhas dramáticas e angulares para aumentar a tensão emocional. Embora tenha sido um movimento heterogêneo, com grupos e artistas apresentando grandes diferenças estilísticas e temáticas, sua influência se estendeu por várias décadas, até a Segunda Guerra Mundial, e alcançou outros países além da Alemanha.

Principais características do expressionismo:

  • Distorção das formas para expressar emoções, não a realidade
  • Uso de cores vibrantes e intensificadas
  • Foco nas emoções e tensões interiores, não na objetividade
  • Representação de cenas urbanas e do isolamento
  • Linhas dramáticas e angulares para aumentar a intensidade emocional
  • Impacto psicológico mais importante que a beleza visual
  • Diversidade estilística e temática entre os grupos e artistas



Principais Artistas do Expressionismo

Abaixo, apresentamos uma tabela com alguns dos principais artistas do movimento expressionista, suas características e obras mais representativas. Além disso, incluímos artistas do pós-impressionismo, cujas obras influenciaram diretamente o surgimento e o desenvolvimento do expressionismo. Confira:

PINTORES EXPRESSIONISTAS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS OBRAS
Edvard Munch Conhecido por expressar emoções de angústia e ansiedade, especialmente a solidão humana O Grito (1893)
Egon Schiele Famoso por suas representações distorcidas do corpo humano, explorando temas de desejo e morte Retrato de Wally (1912)
Ernst Ludwig Kirchner Membro do grupo Die Brücke, seus trabalhos eram caracterizados por distorções de figuras e cores vibrantes Autorretrato com Modelos (1910)
Wassily Kandinsky Pioneiro da arte abstrata, ele acreditava que a arte deveria expressar a espiritualidade e a emoção Composição VII (1913)


Pintura Expressionista

Aqui estão algumas das principais obras expressionistas, que exemplificam a distorção da realidade e a ênfase nas emoções, tão características do expressionismo:

O Grito (1893) | Edvard Munch

Quadro 'O Grito' de Edvard Munch, pintado em 1893. Retrata, de forma distorcida, uma pessoa gritando em cima de uma ponte, com expressão de aflição.
O Grito, Edvard Munch. 1893. Têmpera e pastel oleoso sobre cartão, 91 x 73,5 cm. Galeria Nacional de Oslo, Noruega.


O Grito é uma das obras mais icônicas do expressionismo, capturando a angústia e o desespero humano. A distorção da figura e a explosão de cores vibrantes transmitem a sensação de uma crise emocional profunda.

Mulher Sentada com Joelhos Dobrados (1917) | Egon Schiele

Quadro 'Mulher Sentada com Joelhos Dobrados' de Egon Schiele, pintado em 1917. Retrata uma mulher sentada, com as pernas abertas, encostando a cabeça em um dos joelhos dobrados.
Mulher Sentada com Joelhos Dobrados, Egon Schiele, 1917. Guache, aquarela e giz de cera preto sobre papel. Galeria Nacional de Praga, Praga.


Mulher Sentada com Joelhos Dobrados é uma das imagens mais conhecidas de Schiele e revela uma mulher representada de uma maneira que destoava completamente dos padrões convencionais da arte da época. Ele mistura um ângulo nada convencional com uma estética erótica.

Composição VII(1913) | Wassily Kandinsky

Quadro 'Composição VII' de Wassily Kandinsky, pintado em 1913. É uma pintura abstrata, de traços fortes e marcantes, com uso de cores intensas e contrastantes.
Composição VII, Wassily Kandinsky, 1913. Óleo sobre tela, 200,6 cm x 302,2 cm. Galeria Tretyakov , Moscou.


Kandinsky foi um dos primeiros artistas a criar a arte abstrata. "Composição VII" é uma obra caótica, com cores vibrantes. O quadro não faz uma representação figurativa da realidade e traz uma composição complexa que cria novos caminhos e possibilidades para a arte modernista.

O Expressionismo no Brasil

O Expressionismo no Brasil, embora não tenha se consolidado como um movimento dominante, surgiu no início do século XX influenciado pelas inovações da vanguarda europeia e deixou uma marca significativa nas artes, especialmente na pintura. Artistas como Cândido Portinari , Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti e Anita Malfatti buscaram transmitir emoções intensas e subjetivas por meio da distorção das formas, cores fortes e contrastantes, além de uma representação mais psicológica e emocional do ser humano. Obras como Retirantes e Guerra, de Portinari, exemplificam a busca por representar o sofrimento e as tensões sociais, refletindo as angústias de sua época.

Quadro 'Retirantes' de Cândido Portinari, pintado em 1944. Mostra uma família de camponeses em fuga, com rostos expressando sofrimento e fadiga, em uma composição de cores fortes que transmite a dor e a luta das dificuldades sociais.
Retirantes, Cândido Portinari, 1944. Óleo sobre tela, 190 cm x 180 cm. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (SP)


Impacto e Legado do Expressionismo

O expressionismo, embora inicialmente rejeitado, desempenhou um papel fundamental na reconfiguração da arte moderna, abrindo caminho para movimentos como o surrealismo e a arte abstrata. Sua ênfase na distorção das formas e na representação do mundo interior desafiou as convenções estéticas da época e transformou a concepção da arte de uma mera representação da realidade externa para uma expressão profunda das experiências humanas. O legado do expressionismo, com suas inovações e reflexões sobre a condição humana, continua a influenciar as artes visuais e outras formas criativas até os dias de hoje. Além disso, o movimento também deixou uma marca significativa no cinema, especialmente nos gêneros de horror e suspense.

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Perguntas Frequentes sobre Expressionismo

O que é o expressionismo?

O expressionismo é um movimento artístico que começou no início do século XX, focado na expressão das emoções do artista através da distorção de formas e do uso intensivo de cores vibrantes.

Quais são as principais características do expressionismo?

As características do expressionismo incluem distorção das formas para expressar emoções, uso de cores intensas e vibrantes, e a exploração de temas como alienação, angústia e a tensão interior do ser humano.

Referências:

https://enciclopedia.itaucultural.org.br/termos/80046-expressionismo

Autores

A psicanálise de Wilfred Ruprecht Bion analisa a mente em grupo e a formação das emoções através do autoconhecimento. Além de ter produzido uma teoria sobre o funcionamento da personalidade, W. Bion criou a perspectiva que defende uma psicanálise aplicada para além do inconsciente, na medida em que os aspectos conscientes também revelariam o mundo dos sujeitos.

Para compreender os seus principais conceitos e percorrer sobre as particularidades da sua história, confira:



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Quem foi Wilfred Bion?

Nascido em 1897 em Penjab, na Índia, Bion foi criado até os sete anos por uma ama indiana, Ayah, que exerceu grande influência sobre seus estudos e interesses educacionais. Com uma família pouco estruturada, Bion foi enviado a um colégio interno na Inglaterra aos oito anos, no entanto, teve dificuldades de adaptação por conta da rigidez institucional e da solidão, uma vez que seus pais e irmã raramente o visitavam.

Para auxiliar no seu processo de sociabilidade, Wilfred passou a praticar esportes como natação e rugby, se tornando capitão de equipes. Além disso, ingressou nas Forças Armadas e atingiu patente de capitão, chegando a ser condecorado em função do seu desempenho. Com o final da I Guerra Mundial, Bion passa a desenvolver seus estudos em História na Universidade de Oxford, onde se aprofunda nos estudos filosóficos, com especial atenção ao empirismo inglês de Immanuel Kant.

O interesse na História Moderna e na Teologia, impulsionaram W. Bion a cursar Medicina na University College London e se tornar psicanalista. Trabalhos como o de Sigmund Freud despertaram o interesse para a prática clínica, assim como William Shakespeare, que o inspirou através dos estudos artísticos e estéticos.

Pioneiro na criação da terapia em grupo para militares, Bion buscava auxiliar no processo de reabilitação psíquica dos sujeitos após o elemento traumático.

Após formado, se qualifica em psicoterapia psicanalítica na Clínica Tavistock em Londres, onde entra em contato com o trabalho de Donald Winnicott e Herbert Rosenfeld. Foi somente em meados de 1946 que W. Bion entra em análise de treinamento com Melanie Klein, se tornando, em 1950, membro pleno da Sociedade Psicanalítica Britânica.

Nesse contexto, Bion produz estudos sobre as dinâmicas de grupo e o trabalho psicanalítico em pacientes com transtornos psicóticos, pois defendia que a sociedade tem uma tendência inata ao desejo de conhecimento e do saber.


Bion: a relação com outros psicanalistas e influências

Com o trabalho de Melanie Klein – referência nos estudos sobre escuta e desenvolvimento humano –, Bion se aprofunda na psicanálise, sobretudo em relação à vida psíquica primitiva, à identificação projetiva e ao desenvolvimento do pensamento.

Para o psicanalista, interessava compreender como a mente humana aprende a pensar.

Com Freud e a teoria do princípio do prazer e da realidade, W. Bion avança ao sugerir que o pensamento se dá justamente para que o indivíduo saiba lidar com a frustração da ausência do objeto desejado.

Esse processo é o que Bion denomina por aprendizado pela experiência: a psique se desenvolve no exercício de suportar as frustrações da vida e criar formas de compreendê-las.

Caso contrário, ao invés de pensar e processar a informação, o sujeito continuaria despejando impulsivamente seus estados emocionais, o que permitiria, segundo o psicanalista, uma abertura à patologias psíquicas.


O que diz a teoria de Wilfred Bion?

Ao trafegar por suas ideias, Bion deixa claro que não se preocupa em criar teorias, pois o seu objetivo maior estaria centrado em orientar o processo de análise do paciente a partir da experiência emocional.

No entanto, quando compara-se a sua perspectiva com a psicanálise clássica, é notório que a sua visão avança no que se refere a um processo de análise que não se dá somente a partir do analista, mas, sobretudo, a partir do sujeito analisado.

Para ele, não se trata da busca pela origem do trauma ou das fantasias do indivíduo, mas de uma expansão da capacidade de reflexão do sujeito em um universo que está em constante movimento. Nesse sentido, o que o psicanalista sugere, é que o processo analítico seja realizado principalmente pelo analisado, a partir das suas descobertas, verdades e contradições. Assim, o psicanalista auxilia o paciente no processo, não como um agente central, mas como um guia.

Para o autor, o pensamento humano se transforma em uma máquina de pensar por conta do acúmulo de experiências, sensações e percepções.

Desse modo, seria através dos processos de internalização dos pensamentos, que a compreensão de mundo do sujeito ganharia forma, no qual o indivíduo construirá suas próprias impressões, dotando-as de significado e experiência.

Quais os principais conceitos de Wilfred Bion?

Mesmo que o autor sugira que não há uma teoria em específico a seguir, alguns conceitos são centrais para o processo de compreensão de sua obra. Nesse aspecto, foram diversas as contribuições de W. Bion, algumas, em particular, merecem destaque pelo aprofundamento nos estudos psicanalíticos.

Teoria do Pensamento

Ainda na década de 1940, Bion desenvolve a Teoria do Pensamento a partir dos estudos de Freud e Klein. Em sua perspectiva, o pensar surge como uma saída, uma solução, para se lidar com a frustração no indivíduo.

Nesse sentido, a frustração, a não realização, é o primeiro passo para a origem do pensamento que, por sua vez, irá construir o aparelho psíquico. Em outras palavras, para Bion, o pensamento é precursor. Assim, o aparelho psíquico existe para dar resposta à necessidade do pensar.

“O pensamento está em busca de um pensador” (W. Bion)


Bion defende que a primeira frustração ocorre a partir da “experiência do não seio”, caracterizada pela percepção do bebê em não encontrar, instintivamente, o seio materno. A partir dessa não realização, o bebê desenvolverá o que ele denomina por Protopensamento, ou seja, uma primeira manifestação da capacidade do pensar, dando, então, condições para a elaboração dos pensamentos, para a produção dos sonhos e das funções do intelecto.

Função Alfa e Função Beta

Nesse caminho, se o bebê lidar de forma positiva com a frustração, ocorrerá o pensamento em si, gerando, assim, a capacidade de tolerância do indivíduo. Esse processo é denominado por W. Bion por Função Alfa, ou seja, trata-se da constituição de uma compreensão das necessidades humanas a partir da primeira frustração.

Há, ainda, experiências que não puderam ser pensadas ou vividas pelo indivíduo, provocadas pela incapacidade de tolerar a frustração. A esses elementos, Bion denomina por Função Beta, compreendida como as experiências sensoriais primitivas que não foram elaboradas como positivas pelo bebê, e que geram uma espécie de agitação motora, ou seja, o excesso de sensações.

Em outras palavras, para ele, os elementos beta são armazenados não como forma de memória, mas como fatos e situações não digeridas, enquanto os elementos alfa foram digeridos e processados pelo indivíduo.

Teoria do Continente e Conteúdo

Outra perspectiva de W. Bion que merece destaque, é a Teoria do Continente e Conteúdo – um dos conceitos centrais da psicanálise contemporânea, que se refere à relação entre mãe e bebê.

Para o autor, o bebê nasce repleto de experiências sensoriais intensas, com baixa capacidade de organizá-las cognitivamente. Nesse sentido, um dos principais papéis da figura da cuidadora primária, é o de “conter” as necessidades orgânicas e emocionais, os medos e angústias do bebê.

A mãe, então, age como continente das emoções do bebê, sendo os conteúdos, a própria experiência da criança. Se a mãe transforma as angústias e as sensações do bebê em pensamentos e experiências, ela auxiliará no processo de aprendizagem e produção de autoconhecimento do sujeito.

Vínculos L/K/H

Outra percepção de W. Bion trata-se do conceito de vínculo, elaborado a partir de três obras do autor: Aprendendo com a experiência (1962), Elementos de Psicanálise (1963) e Transformações (1965). Nos livros, ele descreve os três tipos de elos: vínculo de amor (L – love), vínculo de ódio (H – hate) e vínculos de conhecimento (K – knowledge).

Os sentimentos que conhecemos pelos nomes 'amor' e 'ódio' parecem ser escolhas óbvias se o critério for a emoção básica. Inveja e Gratidão, Depressão, Culpa, Ansiedade, todos ocupam um lugar dominante na teoria psicanalítica” (Bion, 1962, p. 42-43).


Com isso, o que W. Bion nos diz, é que os elos são formados de modo dinâmico através de uma inter relação primitiva que afeta o desenvolvimento individual e que é investida por esses vínculos. Para ele, não há conhecimento sobre os objetos que não estejam profundamente enraizados em laços afetivos, ou seja, toda experiência emocional pode ser percebida como um elo, pois coloca um Eu e um objeto na presença um do outro.

Cabe ainda mencionar que, para o autor, os três tipos de vínculos podem ser sinalizados de forma positiva (+) ou negativa (-). Por exemplo: menos amor (-L) não é o mesmo que sentir ódio, assim como menos ódio (-H) não significa amor.

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Três obras de Wilfred Bion que você precisa conhecer

Com mais de 50 títulos publicados, a obra de Bion reflete a complexidade dos estudos contemporâneos da psicanálise a partir da psicologia social, baseada nas experiências emocionais que ocorreram na prática psicanalítica do autor.

No entanto, em particular, algumas obras merecem destaque:

(1961) BION, Wilfred R. Experiências em grupos. Buenos Aires: Paidos Iberica Ediciones S. A., 1980.

capa do livro Experiências em Grupos, de Wilfred Bion

No livro “Experiências em Grupos”, Bion reúne artigos próprios construídos entre 1948 e 1960, e constrói uma análise psicanalítica sobre a concepção e a mentalidade dos grupos. Apresentando conceitos Kleinianos, o psicanalista chama atenção para como o processo de análise deve se dar sob o olhar do que se diz e do que não se diz em terapia, avaliando não apenas as palavras do paciente, mas também, os seus silêncios.

(1962) BION, Wilfred R. Aprender da experiência. São Paulo: Editora Blucher, 2021.

capa do livro aprendar da experiência, de Wilfred Bion

Já em “Aprender da experiência”, W. Bion mostra a sua principal teoria sobre a formação do pensamento, chamando a atenção para a experiência emocional dos indivíduos enquanto propulsor para a reestruturação de ideias. Além disso, explora o aprendizado através do conhecimento aos problemas, pois sugere que o conhecimento sobre si, pode gerar um grau de sofrimento no sujeito.

(1963) BION, Wilfred R. Elementos da Psicanálise. Ribeirão Preto: Espaço Psi, 2023.

capa do livro elementos da psicanalise, de Wilfred Bion

Considerado uma das obras mais importantes e fundamentais da obra de Bion, “Elementos da Psicanálise” trata sobre a origem e a natureza dos pensamentos e da capacidade de pensar. O autor define os elementos da psicanálise a partir de um uso sadio ou patológico do pensamento, abrindo caminhos para se pensar a formação dos sentimentos de angústia, confiança e vitalidade a partir da frustração.




Resumo sobre Wilfred Bion

Com sua pioneira capacidade intelectual de investigar sobre a experiência dinâmica de grupos, e aprofundar nos estudos sobre desenvolvimento individual, Wilfred Bion se tornou uma referência para a psicanálise moderna.

A Casa do Saber oferece um curso que apresenta um panorama das questões centrais do pensamento do autor. Saiba mais: Bion e os Dilemas da Vida Comum: O Pensar na Contemporaneidade - Casa do Saber.

O seu trabalho ativo abriu caminhos para que as experiências emocionais dos sujeitos se apresentassem como um espaço de autodescoberta psicanalítica, na qual o autor destaca ser sempre de natureza vincular.

Nesse sentido, os estudos de W. Bion apresentam instigantes possibilidades de reflexão e análise dos sujeitos a partir de uma leitura expansionista e dialética.

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Referências:

https://psychoanalysis.org.uk/our-authors-and-theorists/wilfred-bion

https://www.bion.org.br/

https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372013000200015

https://www.encyclopedia.com/psychology/dictionaries-thesauruses-pictures-and-press-releases/love-hate-knowledge-lhk-links

https://sbpmg.org.br/wp-content/uploads/2022/11/6-Bion-1.pdf

ZIMERMAN-D.-E.-A-obra-Uma-Resenha-dos-Trab.-de-Bion.-In-Bion-Da-teoria-a-pratica.-pag.-31-47.-Cap.2.pdf

Sándor Ferenczi fez parte da primeira geração da psicanálise e é considerado um dos psicanalistas mais originais e inovadores. Ele recebeu a alcunha de enfant terrible (pessoa que se destaca pela irreverência e pelo espírito transgressor) da psicanálise, tamanha era sua ousadia para mergulhar e trazer novas perspectivas para o corpo teórico e clínico do campo.

Ferenczi foi um dos seguidores mais estimados por Freud e era chamado pelo mesmo de “meu amado filho”, apesar das discordâncias entre os dois, uma vez que Ferenczi aprofundou-se em temas que foram deixados em segundo plano por Freud, como o trauma na psicanálise, durante o desenvolvimento de sua obra.



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Sándor Ferenczi antes da psicanálise

Antes de tudo, conhecer as origens de Ferenczi ajuda a compreender a trajetória deste psicanalista tão relevante para a história, apesar de ter sido negligenciado pela academia. Sándor Ferenczi nasceu na Hungria, em 1893, na cidade de Miskolc. Era filho de dois editores, o que fez com que nascesse inserido no universo da cultura Húngara.

Além de seu idioma nativo, o húngaro, ele também falava alemão, francês, latim, grego e inglês. Em 1890, ingressou na Faculdade de Medicina de Viena, a mesma que Freud, e especializou-se em neurologia e neuropatologia.

Entretanto o seu primeiro contato com o pensamento freudiano foi por meio do livro “Sobre mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos - comunicação preliminar”. Neste período a psicanálise estava nascendo e Ferenczi bebeu da fonte do primeiro Freud da nova ciência, a psicanálise.

Logo após terminar sua formação em medicina, Ferenczi retornou à Hungria para a cidade de Budapeste, onde viveu quase toda sua vida, e exerceu a profissão desde médico assistente até o exercício da clínica psicanalítica.

Ferenczi também dava significativo valor às causas sociais, uma vez que, para ele, elas auxiliavam na compreensão do sofrimento humano. Com isso, ele se engajou em causas sociais através do atendimento e tratamento médico para pacientes à margem da sociedade na época, como os mais pobres, homossexuais, meretrizes.

Curiosidade: Sándor Ferenczi recebeu este nome em homenagem ao revolucionário húngaro Sándor Petofi, poeta e revolucionário nas jornadas da Primavera dos Povos de 1848.




Freud e Ferenczi: entre acordos e divergências

Posteriormente, em 1908, Freud e Ferenczi têm seu primeiro encontro, o qual foi muito rico profissionalmente e deu origem também a uma amizade pessoal.

Além disso, é importante lembrar que o grupo de analistas que Freud se relacionava, além de ser restrito, era composto por nomes muito conhecidos da época, como Otto Rank, Ernest Jones, que trouxeram grandes contribuições para o campo teórico e prático da psicanálise.

Logo após o seu encontro com Freud, Ferenczi fez uma viagem aos Estados Unidos, em 1909, e apresentou o 1° Ensaio Psicanalítico, no qual ele formulou o conceito de Introjeção, no texto “Transferência e Introjeção”, considerada uma das principais contribuições do autor para a psicanálise.

Ainda que Sándor Ferenczi tenha sido um dos colaboradores mais estimados de Freud, o médico húngaro rompeu com alguns paradigmas já estabelecidos por Freud. Uma destas rupturas foi a irreverência na psicanálise com a ideia da “ética do cuidado” e uma nova perspectiva sobre o papel do analista.

Antes a psicanálise era respaldada na dinâmica da interpretação, onde o paciente entrava em associação livre e o analista, de forma distante, interpretava-o. Entretanto Ferenczi tece uma crítica pontual à ausência de empatia dos psicanalistas, ao passo que defendia que o paciente precisava ser ouvido com mais sensibilidade, com mais empatia e a análise poderia ter mais intervenções do analista, o que chamou de técnica ativa.

Apesar das discordâncias de pensamento entre Freud e Ferenczi, um respeito mútuo entre os dois se manteve ao ponto que Freud convidou-o para proferir o discurso que propôs a criação da Associação Psicanalítica Internacional, no 2° Congresso de Psicanálise de Nuremberg, em 1910.

comite secreto de Sigmund Freud, com a presença de Ferenczi

O “comitê secreto” ou “círculo íntimo” de Sigmund Freud. Freud é o primeiro à esquerda, sentado, e Ferenczi está em pé, à direita. Fonte: Instituto de Psicologia - USP


Pouco depois, em 1912, foi criado um “comitê secreto” formado pelos mais próximos de Freud a fim de transmitir a teoria pura da psicanálise. Alguns dos integrantes que compunham este grupo além de Ferenczi eram Otto Rank, Karl Abraham e Ernest Jones.



Trajetória de produções de Sándor Ferenczi

Em 1919, Ferenczi publicou o texto “A técnica psicanalítica” que aborda a contratransferência, conceito que desenvolve questões sobre a técnica psicanalítica clássica e as necessárias adaptações para que ela se aprimorasse. Com isso, futuramente, ele influenciou o pensamento de outros analistas relevantes, como Melanie Klein.

A relação com estes e outros psicanalistas, assim como entre Freud e Ferenczi, foi muito rica, e proporcionou produções importantes para o campo da psicanálise, como o livro “Inovações na técnica psicanalítica” (1922), de Sándor Ferenczi e Otto Rank.

Tempos depois, em 1928, Ferenczi publica o texto “Elasticidade da técnica psicanalítica “ que trouxe a proposta de uma mudança de postura dos analistas para que eles descessem do degrau do saber e se colocassem mais próximos do paciente e sentindo junto com ele.

“a modéstia do analista não é uma atitude aprendida, mas a expressão da aceitação dos limites do nosso saber” (Ferenczi, 1928/1992, p.31)


Pouco antes do seu falecimento, em 1933, Ferenczi apresentou na Sociedade Psicanalítica de Viena, 1931, a conferência “Análise de crianças com adultos”, um dos principais elementos da sua obra sobre trauma. Neste texto, ele resgatou uma ideia que Freud acabou tirando do fator central de sua obra, a experiência traumática como origem dos sintomas.

Nos anos seguintes Ferenczi desenvolveu outros textos e conferências que complementaram a teoria do trauma, como “A confusão de língua entre os adultos e crianças - a linguagem da ternura e da paixão” (1932), reafirmando a originalidade de suas contribuições para a problemática do trauma na psicanálise.


Teoria de Sándor Ferenczi e principais conceitos

Ferenczi foi um dos discípulos mais criativos e singulares de Freud. Ele elaborou conceitos irreverentes para a época e começou um processo de mudanças na prática tradicional da psicanálise. Algumas de suas principais colaborações para o campo foram:

Teoria ativa:

Uma proposta de modelo clínico no qual o analista assumisse uma postura mais ativa, ou seja, fizesse mais intervenções no processo da análise. A partir disso, para Sándor Ferenczi, seria necessário colocar mais empatia nas interações clínicas rompendo com a proposta freudiana da postura mais passiva e silenciosa.

Elasticidade da técnica:

Conceito que sugere uma abordagem psicanalítica que se adapte às necessidades do paciente e não o contrário. A flexibilidade nas técnicas de análise permite ajustes na postura do analista para favorecer maior acolhimento do paciente.

Transferência e Introjeção:

Apesar do conceito de transferência já ter sido desenvolvido por Freud, Ferenczi trouxe novas perspectivas. Para ele, a transferência não é somente um mecanismo de repetição do passado, mas uma possibilidade para uma reparação emocional. Desta forma a relação entre paciente e analista deveria ser um espaço seguro e de empatia.

Já a introjeção era um mecanismo central do trauma. Ou seja, o processo em que o paciente introjeta os abusos que sofreu e, assim, assume a culpa. Desta forma acredita que merece a violência que passou. Para ele, esse era um processo psíquico de sobrevivência à dor emocional que foi causada.

A relação entre esses dois conceitos, de transferência e introjeção, dá-se a partir do momento em que o paciente pode repetir o padrão de transferência e introjeção na relação com o analista. A partir disso, o foco na dimensão afetiva da psicanálise, a empatia e o acolhimento, seriam fundamentais para ajudar o paciente ressignificar as experiências.

Contratransferência:

Diretamente ligado aos conceitos anteriores, Ferenczi se reavaliou, mostrando seu caráter inquieto que buscava sempre o bem-estar dos pacientes. Em 1925, aprofundou o conceito de contratransferência, reação emocional do analista ao paciente. Portanto, o profissional deveria reconhecer suas próprias respostas emocionais para lidar com as questões do paciente e fortalecer o vínculo terapêutico.

Teoria do Trauma:

Em síntese, a teoria do trauma considera o trauma como um evento real que era mais do que um evento externo, mas também uma questão que afetava emocionalmente o indivíduo. Para Sándor Ferenczi, a confiança era um elemento fundamental para ressignificar a dor e uma análise com empatia e acolhedora seria ideal para restabelecer a saúde do paciente.



Principais obras de Sándor Ferenczi

Ferenczi escreveu diversos artigos, textos que contribuíram de forma expressiva para psicanálise mais humana e empática. Apesar de muitos de seus livros e compilados não terem tradução para o português, conheça as obras que destacam as principais contribuições de Ferenczi para a psicanálise:

  • O diário clínico (1932): Este livro reúne as anotações de Ferenczi sobre experiências terapêuticas, reflexões sobre o trauma e críticas à psicanálise tradicional. Ele aprofunda a relação entre abuso infantil e transtornos psíquicos e discute sua técnica ativa e a importância do afeto na análise. A obra revela seu distanciamento de Freud e sua busca por uma abordagem mais humanizada na psicanálise. Atualmente o livro encontra-se esgotado e sem previsão de disponibilidade.

    capa livro o diario clinico de Sandor Ferenczi

  • Thalassa: um ensaio sobre a Teoria da Genitalidade (1924): Explora a relação entre sexualidade e evolução psíquica. A teoria sugere que o orgasmo simboliza esse retorno temporário. Ferenczi também relaciona traumas infantis à repressão da sexualidade e à formação de neuroses.

    capa do livro Thalassa de Sandor Ferenczi

  • Obras Completas – Psicanálise I, II, III, IV: Este box contempla em 4 volumes traduções de textos ilustres de Ferenczi. Confira o conteúdo de cada volume:
    • Volume I: Textos completos escritos por Ferenczi entre 1908 e 1912, abrangendo alguns clássicos da literatura analítica como "Transferência e introjeção", "Palavras obscenas", "O papel da homossexualidade na patogenia da paranoia", "Sintomas transitórios".
    • Volume II: Obras completas de Ferenczi de 1913 a 1919, abrangendo o período da 1ª Guerra Mundial e da análise de Ferenczi com Freud. Algumas de suas mais importantes contribuições à psicanálise estão presentes, como "O desenvolvimento do sentido da realidade e seus estágios", "Um pequeno homem-galo", "Sintomas transitórios no decorrer de uma psicanálise" e "A técnica psicanalítica".
    • Volume III: Compilado de artigos escritos entre 1919 e 1926, período das experiências técnicas mais famosas de Ferenczi, a chamada "técnica ativa". O volume inclui também o famoso "Thalassa: ensaio sobre a teoria da genitalidade".
    • Volume IV: Conjunto de artigos escritos de 1927 a 1933, ano da morte de Ferenczi. Não foi um período de muitas produções, mas são fundamentais no desenvolvimento das ideias do autor e registram as experiências técnicas de Ferenczi. Essa compilação não inclui o Diário Clínico do autor.


Contribuições de Ferenczi para a psicanálise

Apesar de ter sido “o filho amado” de Freud e todo seu trabalho ter sido muito debatido e transformador no campo da psicanálise, a originalidade e criatividade de Sándor Ferenczi tiveram um preço.

Sua produção fugia do comum e abriu espaço para debates sobre questões da relação psicanalítica e da abordagem mais empática e flexível na análise, na qual não era o paciente que deveria se adequar ao método, mas, sim, o método ser adequado ao paciente, o conceito de elasticidade da técnica.

Com isso, o autor foi marginalizado na comunidade acadêmica em decorrência das suas críticas à psicanálise tradicional que até então era vigente na Associação Internacional de Psicanálise. Isso fez com que Ferenczi fosse colocado nas sombras desde o final de 1920 até a década de 1980. Quando, então, foi resgatado na tradução para o francês de “O Diário clínico” (1932), por Judith Dupont, psicanalista francesa, e fez com que o autor retornasse ao cenário da psicanálise internacional.


A revolução proposta por Sándor Ferenczi demorou um certo tempo para que fosse difundida entre os psicanalistas, porém, na contemporaneidade, Ferenczi vem se mostrando o precursor de muitas das ideias e pensamentos de autores relevantes como, Winnicott, Balint, Searles e outros.

Desse modo, ele solidificou a sua expressividade a partir da proposta de uma psicanálise com mais empatia, humanizada e a importância do vínculo entre analista e paciente.

Atualmente, as contribuições de Ferenczi são amplamente reconhecidas, e muitos de seus conceitos foram incorporados à prática clínica contemporânea e seguem sendo estudados tanto por pessoas interessadas no tema e desejam começar a estudar psicanálisequanto por psicanalistas que lidam com trauma e abuso. Mesmo um século depois, Ferenczi continua atual.

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Referências:

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/496/sandor-ferenczi-contribuices-a-psicanalise-contemporanea

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/501/trauma-em-psicanalise-aspectos-teoricos-e-clinicos-em-freud-e-ferenczi

https://youtu.be/OZlJ5LzUsjc?si=LNX4qP4QWChXhtG7

https://www.ip.usp.br/site/noticia/para-conhecer-ferenczi-co-criador-da-psicanalise/

https://www.alsf-chile.org/Indepsi/Publicaciones/Dicionario-do-Pensamento-de-Sandor-Ferenczi.pdf

Jean-Paul Sartre foi um filósofo francês que viveu no século XX e se tornou um dos principais expoentes da corrente filosófica que ficou conhecida como existencialismo. Suas ideias influenciaram não apenas a filosofia contemporânea, mas repercutiram na literatura e na política, oferecendo uma reflexão radical sobre a liberdade humana, a angústia existencial e a responsabilidade individual em um mundo considerado sem um sentido pré-determinado.

Em sua célebre obra O Ser e o Nada (1943), Sartre propôs uma filosofia onde o ser humano é livre para construir seu próprio destino, sem depender de essências ou valores estabelecidos. Ao afirmar que "a existência precede a essência", ele apresentou uma ideia revolucionária para sua época. Além disso, seu engajamento com o marxismo e suas posições políticas geraram debates acirrados. Neste artigo, vamos discorrer sobre a vida e a obra de Jean-Paul Sartre, destacando os principais acontecimentos que marcaram sua trajetória.



Biografia de Jean-Paul Sartre

Jean-Paul Sartre nasceu em 21 de junho de 1905, em Paris, França, em uma família de classe média. Seu pai, Jean-Baptiste Sartre, faleceu quando ele tinha apenas 1 ano de idade, e ele foi criado pela mãe, Anne-Marie e pelos avós maternos, na cidade de Meudon, que ficava perto de Paris.

Desde cedo, Sartre se mostrou interessado em literatura e cinema, sendo admitido aos 19 anos no curso de Filosofia da Escola Normal Superior, em Paris. Lá, ele conheceu a filósofa Simone de Beauvoir, que viria a ser sua companheira intelectual e amorosa durante toda a vida.

Jean-paul Sartre e Simone de Beauvoir em visita à Faculdade Nacional de Filosofia no Brasil, hoje UFRJ

Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir em visita ao Brasil, em 1960. Foto na Faculdade Nacional de Filosofia(atualmente UFRJ). Repdução: Wikimedia Commons


Durante sua estadia em Paris, entrou em contato com as ideias de pensadores como Friedrich Nietzsche, Martin Heidegger e Søren Kierkegaard, que influenciariam sua visão filosófica mais tarde.

Jean-Paul Sartre graduou-se em 1928 e iniciou sua carreira como professor, uma experiência que o motivou a aprofundar seus estudos na filosofia existencialista. Esse interesse crescente o levou a buscar uma compreensão mais profunda dos conceitos filosóficos, com o objetivo de desenvolver sua própria teoria sobre a liberdade, a responsabilidade e a existência humana. Em busca de novos conhecimentos, Sartre conquistou uma bolsa de estudos e foi estudar no Instituto Francês em Berlim.

No entanto, durante a Segunda Guerra Mundial, foi convocado para servir como meteorologista no exército francês e acabou sendo preso pelos nazistas e indo parar no campo de concentração de Trier. Essa experiência foi fundamental para sua filosofia, já que lhe trouxe uma maior consciência sobre a liberdade humana e a condição existencial do ser humano no mundo.

Em seguida, fundou o movimento Socialismo e Liberdade, como parte da Resistência Francesa. Com o fim do conflito, em 1945, ele dissolveu o movimento e, junto com Simone de Beauvoir e Maurice Merleau-Ponty, criou a revista Les Temps Modernes, que se tornaria um importante veículo de reflexão filosófica e política. Posteriormente, Sartre se juntou ao Partido Comunista Francês, mas logo entrou em desacordo com suas diretrizes, rompendo com a organização e seguindo um caminho mais independente em suas convicções políticas.

A partir da década de 1940, Sartre começou a se tornar conhecido internacionalmente com o lançamento de sua obra O Ser e o Nada (1943), em que delineava as bases do existencialismo.

Sartre recusou o Prêmio Nobel de Literatura em 1964, afirmando que isso implicaria em um reconhecimento institucional que ele considerava incompatível com sua filosofia da liberdade individual. Ele continuou a escrever e a participar da vida política até sua morte, em 1980, em Paris, de edema pulmonar.



O Conceito de Existência e Liberdade em Sartre

A ideia central na filosofia de Sartre é a liberdade humana, que ele entendia como uma característica essencial do ser humano. Para ele, não há uma natureza humana predeterminada; os seres humanos são condenados a serem livres, ou seja, eles têm de criar seu próprio sentido de vida e suas próprias escolhas. O ser humano, para Sartre, está sempre "lançado" no mundo, sem uma explicação prévia de sua existência.

Esse conceito de liberdade está intimamente ligado à responsabilidade. Ao reconhecer que somos livres, também somos responsáveis por nossas escolhas e pelas consequências dessas escolhas, sem poder atribuir a culpa a fatores externos como a natureza ou o destino.

Isso gera a sensação de "angústia existencial", pois a liberdade não é algo fácil de carregar. Sartre acreditava que, ao tomarmos consciência de nossa liberdade, nos deparamos com a responsabilidade de dar sentido às nossas vidas, sem esperar que esse sentido venha de fora.

A Obra-Prima “O Ser e o Nada”

Publicado em 1943, O Ser e o Nada é a obra mais conhecida de Sartre e um marco fundamental do existencialismo. Nesse livro, Sartre aborda uma das questões centrais para a filosofia: o que significa ser? Ele analisa a experiência humana, distinguindo entre o "ser-em-si", o ser das coisas objetivas e concretas, e o "ser-para-si", o ser consciente que tem a capacidade de refletir sobre sua própria existência.

Uma das ideias mais revolucionárias do livro é a noção de que a existência precede a essência. Para Sartre, os seres humanos não possuem uma essência pré-determinada, como os objetos. Eles existem primeiro e, só depois, se definem por suas ações. Essa visão contrasta com a visão tradicional da filosofia, que acreditava que os seres humanos tinham uma essência fixa que determinava suas ações e características.

Além disso, Sartre introduz o conceito de "má-fé" (mauvaise foi), que se refere à tendência humana de negar a própria liberdade e responsabilidade, enganando a si mesmo para escapar da angústia existencial. A má-fé seria um mecanismo de defesa psicológica, mas que, para Sartre, impede a verdadeira liberdade.

Sartre e o Existencialismo

Embora o existencialismo de Sartre seja conhecido por sua ênfase na liberdade individual e na busca pelo sentido da vida, Sartre rejeitou a ideia de um Deus ou de uma força sobrenatural que guiasse ou determinasse a vida humana. Para ele, a ausência de Deus ou de qualquer essência pré-determinada coloca ainda mais peso sobre a liberdade humana, já que, em um mundo sem divindade, somos nós que temos a responsabilidade de criar significado para nossas vidas.

A famosa frase de Sartre "O homem está condenado a ser livre" reflete essa perspectiva. O ser humano não tem escolha a não ser ser livre, mas essa liberdade é angustiante porque ela implica uma constante necessidade de fazer escolhas que definem nossa própria existência.

Sartre e o Marxismo

Sartre se envolveu com o marxismo a partir da década de 1950, quando começou a estudar as obras de Karl Marx e a refletir sobre as condições sociais e econômicas que constroem a existência humana. No entanto, Sartre manteve uma relação complexa com o marxismo, especialmente devido às suas divergências sobre a natureza da liberdade e da política.

Embora ele compartilhasse a crítica ao capitalismo e ao opressor sistema social, Sartre acreditava que a liberdade individual era o ponto central, o que o levou a distanciar-se de certas interpretações marxistas que enfatizavam o determinismo social.

Ele procurou conciliar o existencialismo com o marxismo, criando uma abordagem filosófica que, ao mesmo tempo, reconhecia a importância das condições sociais e políticas para a liberdade humana, mas também afirmava a primazia da ação individual na luta pela liberdade.

Jean-paul Sartre e Simone de Beauvoir em reunião com Ernesto Che Guevara, em visita à Cuba, em 1960

Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir se encontram com Ernesto Che Guevara, em visita à Cuba, em 1960. Repdução: Wikimedia Commons


Obras de Jean-Paul Sartre: Principais Livros

Confira a tabela abaixo com uma relação das principais obras de Sartre e o que o filósofo abordou em cada uma delas:
PRINCIPAIS LIVROS DE SARTRE RESUMO
O Ser e o Nada (1943) Considerada a obra-prima de Sartre, em que ele explora a liberdade, a responsabilidade e o conceito de existência humana, distinguindo entre o ser-em-si e o ser-para-si.
A Náusea (1938) Romance existencialista que descreve o desconforto e a angústia de um homem que começa a perceber a realidade como absurda e sem sentido.
Crítica da Razão Dialética (1960) Trabalho filosófico em que Sartre tenta integrar o existencialismo com o marxismo, discutindo a relação entre a liberdade individual e as condições materiais da sociedade.
Entre Quatro Paredes (1944) Peça de teatro existencialista que aborda a questão da liberdade, da culpa e da interação humana em um espaço fechado.
A Idade da Razão (1945) Romance que faz parte da "trilogia dos caminhos da liberdade", onde Sartre discute a liberdade, a escolha e as relações humanas em uma Paris pré-Segunda Guerra Mundial.
As Palavras (1964) É a reflexão autobiográfica de Sartre sobre sua infância, o despertar para a escrita e a maneira como as palavras o ajudaram a construir sua identidade e visão de mundo



Frases de Jean-Paul Sartre:

"O homem está condenado a ser livre."

Essa citação é retirada da obra "O Existencialismo é um Humanismo" (1946), onde Sartre discute o conceito de liberdade radical e sua implicação na vida humana. A frase reflete a ideia de que, ao não haver uma essência pré determinada, o ser humano é livre para fazer suas próprias escolhas, mas, ao mesmo tempo, está "condenado" a essa liberdade, sem possibilidade de escapar da responsabilidade que ela carrega.

"A liberdade é o que você faz com o que foi feito de você."

Essa frase aparece na obra "As Palavras" (1964), uma reflexão autobiográfica de Sartre, em que ele explora sua infância e as influências que moldaram sua identidade. Ele se apropria dessa ideia para refletir sobre a liberdade como um processo contínuo de transformação pessoal, mesmo diante das limitações da nossa origem e circunstâncias.

"O inferno são os outros."

Essa citação vem da peça de teatro "Entre Quatro Paredes" (1944), onde Sartre explora os conflitos existenciais através de uma situação em que três personagens estão condenados a conviver eternamente em um mesmo quarto. A frase reflete a ideia de Sartre sobre a "visão do outro", ou seja, como a presença dos outros seres humanos pode limitar nossa liberdade, pois nos definem e nos julgam de maneira constante.

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Conclusão

A filosofia de Jean-Paul Sartre revolucionou o pensamento do século XX, fornecendo uma abordagem radical sobre a liberdade, a responsabilidade e a busca de sentido em um mundo sem predefinições. Sua ideia de que a existência precede a essência e sua ênfase na liberdade humana fizeram dele uma das figuras centrais do existencialismo.

Embora suas posições políticas e sua relação com o marxismo tenham sido controversas, Sartre continua sendo uma referência fundamental para aqueles que buscam compreender a condição humana e a busca pela autenticidade. Seu legado permanece presente na filosofia contemporânea, desafiando-nos a refletir sobre a liberdade, as escolhas e a responsabilidade em nossas vidas.

Perguntas Frequentes sobre Sartre

Quem foi Jean-Paul Sartre e o que ele defendia?

Jean-Paul Sartre foi um filósofo francês e principal nome do existencialismo. Ele defendia que o ser humano não tem uma essência predeterminada e é livre para criar seu próprio significado na vida, assumindo total responsabilidade por suas escolhas.

Qual a principal teoria de Jean-Paul Sartre?

A principal teoria de Sartre é o existencialismo, que afirma que "a existência precede a essência". Ou seja, os humanos não nascem com uma natureza fixa, mas constroem sua identidade através das escolhas que fazem, sendo responsáveis por suas ações.

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Referências

https://revistacult.uol.com.br/home/o-mal-estar-no-mundo/

https://piaui.folha.uol.com.br/materia/vidas-literarias-jean-paul-sartre/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Paul_Sartre

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