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Racionalismo: conceitos, filósofos e principais ideais
Paula Delgado
Racionalismo: conceitos, filósofos e principais ideais
Racionalismo é a corrente filosófica que valoriza a razão como fonte do conhecimento. Conheça as ideias de Descartes, Spinoza e Leibniz.

Você já parou para pensar de onde vem o nosso conhecimento? Para o racionalismo, a resposta está dentro de nós: a razão.

O racionalismo é um marco na história do pensamento, porque introduziu na filosofia a razão como principal fonte do conhecimento, buscando encontrar um método confiável que leve ao conhecimento verdadeiro.

Pensadores como Descartes, Spinoza e Leibniz são pilares desse pensamento. Neste texto, além de conhecer as ideias desses filósofos racionalistas, você vai entender o que é essa corrente filosófica.

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Principais ideias racionalistas

O Racionalismo representa uma virada na história da filosofia moderna, pois defende que certas verdades são inerentes à existência humana ou podem ser alcançadas a partir do uso da razão, sem depender dos sentidos.

Portanto, não dependemos exclusivamente da experiência sensível para conhecer o mundo. A razão, parte central da compreensão da realidade, é capaz de revelar princípios universais.

Também se destaca o esforço do pensamento racionalista para se alcançar uma verdade lógica, aquela que é clara e universal.

O conceito de verdade lógica, apesar de ter algumas incertezas quanto à origem do termo, é algo relevante para esta corrente, porque uma verdade lógica é aquela que é verdadeira independente dos fatores externos (empíricos ou observacionais), porque ela segue uma estrutura lógica.

O Racionalismo se sustenta a partir de argumentos que seguem regras e não dependem da variação da interpretação do mundo sensível.

Outro ponto fundamental para essa escola é a busca por certeza. Para que o conhecimento verdadeiro seja claro, os racionalistas desenvolveram métodos rigorosos de pensamento, como a dúvida metódica – você vai entender este conceito adiante.

Resumindo: o Racionalismo é uma corrente filosófica que coloca a razão como a principal fonte do conhecimento verdadeiro. Entretanto, para alcançá-lo, é necessário encarar a dúvida tendo como ferramenta de compreensão o pensamento racional e lógico.


Filósofos do racionalismo: Descartes, Spinoza e Leibniz

Como foi dito anteriormente, alguns dos principais filósofos racionalistas são René Descartes, Baruch Spinoza e Gottfried Wilhelm Leibniz. Conheça os pontos essenciais de cada pensador:

René Descartes



René Descartes (1596-1650) é considerado o pai do Racionalismo moderno. O ponto-chave de seu pensamento foi elaborar um fundamento seguro para o conhecimento verdadeiro, isto é, algo que não pudesse ser colocado em dúvida.

Para isso, desenvolveu a dúvida metódica: um modelo no qual se deve duvidar de tudo o que não seja absolutamente correto.

Segundo Descartes, a dúvida é necessária porque é a partir dela que todo o conhecimento inato pode ser testado. E com base nessa reflexão sobre a dúvida é que é possível descobrir as verdades ou argumentos falsos.

Então pode-se dizer que o indivíduo, ao duvidar, está pensando, o que torna possível a comprovação de sua existência. Daí vem a famosa frase da conclusão do argumento do cogito (do latim, penso):

“Penso, logo existo.”

Descartes acreditava que a razão humana é capaz de alcançar verdades universais, desde que siga um método rigoroso.

Por exemplo, a matemática é uma ciência exata porque, com base em regras bem definidas, obtém-se um conhecimento sólido e estruturado. E é essa certeza que os racionalistas buscam.

De acordo com René Descartes, a falta de método ao pensar é que leva aos erros. Ele propunha usar a razão ordenada, separando os problemas dos pontos mais simples para os mais complexos.

A questão central em sua filosofia é que existem ideias inatas, ou seja, verdades que já nascem com a mente humana, independentemente da experiência sensível, como a noção de Deus e da perfeição.

Para ele, Deus era uma ideia inerente ao homem e somente um ser perfeito, como Deus, poderia tê-la colocado lá, portanto, provando a existência de Deus.

Em suma, o Racionalismo cartesiano valorizava a autonomia da razão, o pensamento racional e acreditava que, ao usarmos bem a razão, podemos construir um conhecimento seguro.

Baruch Spinoza



Baruch Spinoza (1632-1677) pode ser considerado o filósofo mais radical do começo do período moderno.

Inovador em suas ideias, ele combinou razão, natureza e espiritualidade com ideias originais que fundamentaram uma filosofia moral focada na compreensão racional das paixões, que levaria o homem à virtude e à felicidade.

Spinoza entendia Deus como uma substância infinita, ou seja, uma substância formada por uma infinidade de atributos que expressam uma essência infinita e eterna.

Ele propôs que tudo o que existe é expressão de uma única realidade infinita: Deus ou a natureza (Deus sive Natura). Com isso, ele quis dizer que o mundo não está separado de Deus, porque tudo segue uma ordem racional e necessária.

Spinoza acreditava que a liberdade verdadeira não está em agir de forma impulsiva, mas, sim, na compreensão das causas que nos movem.

Dessa forma, a razão nos liberta ao mostrar que somos parte de um todo regido por leis eternas. Quando entendemos isso, deixamos de sofrer por coisas que não podemos controlar e passamos a viver com mais equilíbrio.

“A emoção que nasce da razão é mais forte do que aquela que nasce do acaso.”


Ele também defendia que o conhecimento pode ser dividido em três níveis:

  • experiência vaga (baseada nos sentidos);
  • razão (que vê relações necessárias);
  • intuição (que capta a essência das coisas).


Segundo Spinoza, quanto mais longe chegamos nesses níveis, mais próximos estamos da felicidade e da liberdade. Para Spinoza, pensar racionalmente era o caminho para viver em harmonia com o mundo.


Gottfried Leibniz



Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) é um dos nomes mais peculiares do racionalismo. Um crítico de Descartes e Spinoza, ficou conhecido por sua contribuição nos campos da lógica e da linguagem.

Leibniz acreditava que todo o conhecimento verdadeiro vem da razão, que atua sobre as ideias inatas presentes na mente humana.

Contudo, para ele, perceber (percepção sensível) e pensar fazem parte do mesmo processo racional, só que em níveis diferentes de clareza. Pois perceber é uma noção mais vaga do que o pensamento.

Leibniz dizia que as verdades a priori podem ser descobertas através da lógica, como é feito na matemática. Porém, a mente humana é limitada e, por isso, nem sempre consegue perceber que todas as verdades são analíticas. Mas Deus, encarado como unidade infinita, conseguiria.

Ele afirmava que uma linguagem simbólica, que seguisse uma lógica como a da matemática, poderia verificar se uma ideia é verdadeira.

Apesar da ideia de que a mente humana é limitada, ele defendia que a mente humana possui estruturas próprias que permitem o indivíduo compreender verdades universais.

Para ele, a realidade é composta por mônadas, unidades dinâmicas e autocontidas, que refletem o universo de forma única. Cada mônada funciona como um espelho do todo e tudo está interligado por uma ordem racional.

Leibniz acreditava que nada é por acaso. Toda existência tem uma razão suficiente, uma explicação racional de por que é como é. É isso que sustenta a ideia de que Deus, sendo uma unidade perfeita, escolheu o melhor mundo entre os possíveis para existir e para existirmos.

“Nada acontece sem razão suficiente.”

Sua filosofia buscava integrar razão e metafísica, ciência e lógica, mostrando que a realidade pode ser explicada por leis lógicas e claras.


Racionalismo x Empirismo: qual a diferença?

O racionalismo e o empirismo nasceram no mesmo período filosófico e dialogam quanto ao fato de que ambos buscam compreender a origem do conhecimento e como alcançá-lo.

Entretanto, eles se diferem quanto à fonte dos conceitos e do conhecimento. Enquanto o racionalismo se baseia na razão, o empirismo se volta para a experiência sensorial.

Contudo, os racionalistas reconhecem que os sentidos podem interferir no processo de construção do conhecimento, mas consideram a razão a fonte principal.

Desta forma, organizam um raciocínio lógico, no qual (1) prioriza-se o conhecimento em relação à experiência sensorial e (2) a razão é vista como a fonte de verdades universais. Porém, o indivíduo não está isento da interferência dos sentidos.

Já o empirismo apresenta uma abordagem diferente para a construção do conhecimento, fundamentando-se exclusivamente na experiência sensorial.

Os empiristas explicam que a experiência sensorial fornece as informações que os racionalistas atribuem à razão. Embora critiquem a visão racionalista de que a razão é a principal fonte de conhecimento, mostram que a reflexão pode preencher algumas lacunas.

Ou seja, para os empiristas, somos como uma folha em branco (tabula rasa) aprende a partir daquilo que vivemos e experimentamos do mundo (experiências sensoriais).

Característica Racionalismo Empirismo
Fonte do conhecimento Razão Experiência
Ideias inatas Confirma Nega
Modelo do conhecimento Matemático Aprendizagem
Existência do conhecimento A priori A posteriori
Frase “Penso, logo existo” - Descartes “Nada existe na mente sem antes passar pelos sentidos” - Locke


As duas correntes filosóficas - racionalismo e empirismo - ajudaram a construir a filosofia moderna. Entender o que as diferencia é fundamental e para entender melhor sobre o que é e como compreendemos a realidade.

Críticas ao racionalismo e limites da razão

Apesar de sua grande influência nas ciências e no empirismo, o racionalismo enfrentou críticas dos filósofos empiristas, como John Locke e Thomas Hobbes.

Eles questionavam a premissa de que o conhecimento nasce apenas da razão que, para eles, vem da experiência sensível. Esse embate de ideias entre racionalismo e empirismo marcou profundamente a filosofia moderna.

Contudo, Immanuel Kant foi fundamental para equilibrar essa tensão. Uma vez que reconheceu que ambas as correntes contribuíram para o desenvolvimento do pensamento filosófico, ele conseguiu integrar os dois ramos do conhecimento.

Segundo Kant, o conhecimento começa com a experiência, mas não se restringe a ela, porque as estruturas mentais inatas são o que organizam o que percebemos do mundo externo,

Ainda de acordo com a filosofia kantiana, a razão é limitada e não consegue acessar a “coisa em si” (realidade absoluta), apenas como ela se apresenta para o ser humano.

Assim, esse embate de ideias entre racionalismo e empirismo fez com que os racionalistas reconhecessem que a razão sozinha não é suficiente para compreender a verdade, o que permitiu o surgimento de abordagens mais equilibradas.


Críticas ao racionalismo e limites da razão

O racionalismo foi um dos pilares do pensamento moderno e teve grande influência no movimento iluminista, que se caracteriza pela valorização da razão, da ciência e rompeu com o absolutismo e com o pensamento religioso da época.

Quando o racionalismo colocou a razão como principal fonte de conhecimento, deu lugar a uma forma de pensar baseada na lógica, na razão e na busca por verdades universais.

O racionalismo não tinha intenção de eliminar a fé ou os sentimentos, mas propôs que o mundo poderia ser compreendido por meio da razão.

O surgimento do método racional possibilitou buscar explicações naturais para os fenômenos, em vez de aceitar explicações baseadas na tradição ou na religião.

O método da dúvida proposto por Descartes diz que o filósofo deve duvidar de tudo aquilo que se diz verdadeiro. Assim, nenhuma autoridade, senão a razão, pode ser confiável, a não ser que se submeta ao questionamento cético.

A partir disso, fortaleceu-se a confiança na razão, que inspirou a sociedade da época e contribuiu com o desenvolvimento da ciência moderna.

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A importância do racionalismo na modernidade e no iluminismo

Racionalismo e razão são palavras que estão intrinsecamente ligadas e entender isso ajuda a compreender o que é essa corrente filosófica e as bases da filosofia moderna.

A valorização da razão propiciou o surgimento de ideias fundamentais como lógica, método científico e dúvida metódica, conceitos fundamentais para a ciência da atualidade.

Apesar de suas limitações, o racionalismo nos ajuda a pensar com clareza, tomar decisões conscientes e equilibrar razão e emoção no cotidiano.

Em um mundo tão cheio de “verdades”, ser capaz de refletir racionalmente sobre tudo aquilo que nos cerca é um caminho para conhecer melhor a realidade, a nós mesmos e toda a história e o legado que moldaram o mundo em que vivemos.

Esperamos que este texto tenha te ajudado a compreender o que é racionalismo e as principais ideias dos filósofos desse pensamento. Se você quiser ir mais fundo no universo da filosofia, tenha acesso aos nossos cursos clicando aqui.

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Referência

STANFORD ENCYCLOPEDIA OF PHILOSOPHY. Leibniz.

STANFORD ENCYCLOPEDIA OF PHILOSOPHY. Rationalism vs. Empiricism.

STANFORD ENCYCLOPEDIA OF PHILOSOPHY. Enlightenment.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein.

Transtorno Bipolar: o que é, sintomas, tipos e tratamentos
Camila Fortes
Transtorno Bipolar: o que é, sintomas, tipos e tratamentos
Entenda o que é o transtorno bipolar, quais os sintomas de mania e depressão, os diferentes tipos (tipo 1, tipo 2, ciclotimia), as causas e os tratame

O transtorno bipolar, também denominado Transtorno Afetivo Bipolar, é uma condição de saúde mental que afeta o humor, a energia, o sono e a capacidade de uma pessoa manter atividades cotidianas.

Quem convive com essa condição pode experimentar oscilações intensas entre períodos de euforia (também chamadas de mania ou hipomania) e episódios de tristeza profunda.

Embora essas mudanças de humor façam parte da vida de todos, no transtorno bipolar, elas são mais intensas e duradouras, impactando significativamente o bem-estar.

Falar sobre transtorno bipolar é um passo essencial para reduzir estigmas e ampliar a compreensão sobre os transtornos mentais. Por isso, neste texto, iremos explicar o que é o transtorno de bipolaridade, seus sintomas, tipos, causas, tratamento e diferenças em relação a outras condições psiquiátricas.

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O que é transtorno bipolar?

O transtorno bipolar é uma transtorno crônico caracterizado por alterações marcantes no humor. Essas alterações se constituem através de episódios de mania e depressão, e variam em intensidade e duração.

Segundo a Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB), estima-se que aproximadamente 8 milhões de pessoas vivem com bipolaridade no Brasil. Esse número corresponderia entre 1% a 2,5% da população brasileira.

Há diferentes tipos de transtorno bipolar, com manifestações clínicas e intensidades diferentes. Para auxiliar na compreensão das suas particularidades, partiremos dos sintomas centrais de:

  • Mania – estado de humor anormalmente elevado, expansivo ou irritável, com aumento intenso de energia, impulsividade e, em alguns casos, sintomas psicóticos.
  • Hipomania – forma mais leve da mania, com aumento de energia, autoestima e produtividade, sem desconexão da realidade nem prejuízo social grave.
  • Depressão – quadro de humor persistentemente rebaixado, marcado por tristeza profunda, falta de interesse, cansaço extremo e pensamentos negativos ou suicidas.


Então, quais os tipos de transtorno bipolar?

Transtorno Bipolar Tipo 1:

A bipolaridade tipo 1 é a forma mais conhecida e intensa do transtorno. A principal característica é a presença significativa de episódios maníacos completos, ou seja, a pessoa apresenta um humor anormalmente elevado, expansivo ou irritável, com aumento acentuado de energia.

Esses comportamentos podem parecer “produtivos” ou até positivos no começo, mas geralmente saem do controle e trazem prejuízos graves. Esse tipo de bipolaridade pode levar a tomada de decisões impulsivas ou comportamentos de risco.

Importante:

A pessoa com bipolaridade tipo 1 pode ou não apresentar episódios depressivos. Ou seja, o diagnóstico não depende da presença de fases de depressão.

Algumas pessoas vivenciam apenas episódios maníacos com períodos de estabilidade entre eles, sem necessariamente ter uma fase de depressão. Outras alternam entre mania e depressão ao longo do tempo. O reconhecimento precoce dos sintomas, tanto da euforia quanto da queda de humor, é essencial para buscar tratamento adequado e garantir qualidade de vida.




Transtorno Bipolar Tipo 2:

A bipolaridade tipo 2 costuma ser mais difícil de identificar na medida em que os episódios de euforia são mais leves.

A principal característica aqui é a presença de episódios depressivos alternados com episódios de hipomania, ou seja, uma versão mais branda da mania em que a pessoa fica mais animada e falante, mas sem perder o contato com a realidade.

A hipomania pode passar despercebida tanto pela pessoa quanto por quem convive com ela, pois os comportamentos extrovertidos tendem a parecer apenas traços da personalidade.

No entanto, o que caracteriza o transtorno bipolar tipo 2 é justamente essa alternância entre períodos de depressão profunda e momentos de energia elevada, ainda que menos intensos que na mania.

Transtorno Ciclotímico (ou ciclotimia)

É uma forma mais leve e crônica do transtorno bipolar. A pessoa apresenta oscilações frequentes de humor que não chegam a ser episódios completos de mania ou depressão, mas que duram, em adultos, dois anos ou mais.

Em outras palavras, os altos e baixos não são tão intensos, mas se repetem com uma certa frequência ao longo do tempo.

Transtorno Bipolar induzido por substância ou medicamento

O transtorno bipolar induzido por substância ou medicamento é um subtipo reconhecido pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). Essa forma acontece após intoxicação ou abstinência de alguma substância ou exposição a algum medicamento que produz os mesmos sintomas.

Isso significa que, nesses casos, o episódio de mania, hipomania ou depressão não é causado por condições psiquiátricas, mas sim por uma resposta direta do cérebro à substância envolvida.

Drogas recreativas, medicamentos e álcool podem desencadear sintomas graves de humor.

É importante destacar que, embora os sintomas possam ser muito semelhantes aos do transtorno bipolar tradicional, o diagnóstico exige que fique claro o vínculo temporal e causal entre o uso da substância e o início dos sintomas.

Em muitos casos, ao cessar o uso da substância e com acompanhamento adequado, os sintomas desaparecem. No entanto, em outros, o episódio pode desencadear um quadro bipolar persistente, especialmente em pessoas com predisposição genética ou histórico familiar.

Quais os sintomas do transtorno bipolar?

Os sintomas do transtorno bipolar variam de acordo com a fase em que a pessoa se encontra.

Na fase de mania, os sintomas se caracterizam por:

  • Sensação de euforia, otimismo excessivo ou irritabilidade intensa;
  • Aumento de energia e diminuição da necessidade de sono;
  • Fala e pensamentos acelerados e por vezes, desorganizados;
  • Apresenta pressão no discurso, sendo difícil interromper;
  • Comportamentos impulsivos (gastos excessivos ou envolvimento em situações de risco);
  • Dificuldade de concentração.


Na fase de hipomania, os sintomas são semelhantes à mania, mas em menor intensidade. Há um aumento da produtividade e da energia, mas sem prejuízos tão evidentes. Pode ser percebido como um “bom humor fora do comum”, dificultando o diagnóstico.

Já na fase depressiva, os sintomas são:

  • Tristeza profunda;
  • Desesperança;
  • Isolamento social;
  • Fadiga e perda de interesse em atividades antes prazerosas;
  • Excesso de sono;
  • Falta de apetite;
  • Pensamentos de inutilidade, culpa excessiva ou ideação suicida.


É importante destacar que o tempo de duração dos episódios pode ser de semanas, meses ou anos.

Além disso, nem todas as pessoas com transtorno bipolar apresentam episódios maníacos e depressivos de forma equilibrada. Alguns podem ter mais episódios depressivos, o que leva à confusão entre transtorno bipolar e depressão.



Quais as causas e fatores de risco para o transtorno bipolar?

Não há uma causa única para o transtorno bipolar. O que se sabe é que ele resulta de uma combinação de fatores biológicos, genéticos e ambientais.

Pessoas com histórico familiar de transtorno bipolar têm maior risco de desenvolver a condição. Por isso, é fundamental investigar não apenas diagnósticos, mas também sintomas e características somáticas do núcleo familiar.

Alterações neuroquímicas também podem exercer influência para o desenvolvimento de um transtorno bipolar. Desequilíbrios em neurotransmissores como dopamina e serotonina podem estar envolvidos.

Além disso, eventos estressantes como traumas, perdas ou situações de perigo intenso podem funcionar como gatilhos para o surgimento de sintomas do transtorno bipolar, assim como mudanças bruscas no ritmo de vida.

A identificação precoce dos sinais e dos fatores de risco pode evitar o agravamento do quadro e reduzir os impactos negativos.

Retrato com múltipla exposição de mulher sugerindo transtorno de identidade ou instabilidade emocional

Fonte: May/ Unsplash

Diagnóstico de transtorno bipolar e confusões comuns

O diagnóstico de transtorno bipolar exige cuidado, pois pode ser um desafio, tanto para quem convive com os sintomas quanto para os profissionais da saúde. Isso acontece porque os sinais podem se sobrepor a outros transtornos psíquicos, como a depressão, ansiedade, TDAH ou até mesmo o transtorno de personalidade borderline.

Um dos equívocos mais frequentes é confundir o transtorno bipolar com mudanças normais de humor. É importante lembrar que todos temos dias bons e ruins, mas no transtorno bipolar essas oscilações são mais intensas, duradouras e impactam diretamente na vida da pessoa.

Outro erro comum é associar a bipolaridade apenas à instabilidade emocional. Muitas vezes, o termo é usado de forma banal e preconceituosa, como quando se diz que alguém é “bipolar” porque muda de ideia ou humor rapidamente. Essa perspectiva reforça estigmas e minimiza o sofrimento de quem convive com a condição.

O diagnóstico é clínico, feito por um(a) psiquiatra, com base em entrevistas, histórico médico e observação dos sintomas ao longo do tempo. Em alguns casos, o diagnóstico pode levar anos para ser fechado, especialmente quando os episódios de hipomania passam despercebidos ou são vistos como “momentos de alegria”.

É fundamental buscar ajuda especializada, pois um diagnóstico correto é o primeiro passo para um tratamento eficaz e para a melhoria da qualidade de vida.


Quais os tratamentos para o transtorno bipolar?

O tratamento para transtorno bipolar envolve uma combinação de medicamentos, psicoterapia e cuidados com o estilo de vida. O objetivo é prevenir recaídas e melhorar a qualidade de vida da pessoa em suas atividades no dia a dia. Por isso, normalmente, o tratamento é composto por:

  • Estabilizadores de humor: são medicamentos que auxiliam a controlar as fases de mania e depressão. O lítio é um dos mais utilizados, mas existem outras opções, como anticonvulsivantes com efeito estabilizador.
  • Antidepressivos e antipsicóticos: os antidepressivos devem ser prescritos juntamente aos estabilizadores de humor para evitar que a pessoa “vire” para a fase da mania. Os antipsicóticos ajudam no controle de sintomas graves, como delírios ou agitação.
  • Psicoterapia: a psicoterapia no transtorno bipolar é uma aliada fundamental. Abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) podem ajudar a identificar os gatilhos emocionais e criar estratégias para lidar com recaídas e instabilidades.
  • Estilo de vida e autocuidado: dormir bem, manter uma rotina equilibrada, evitar uso de substâncias psicoativas como álcool e drogas, praticar atividades físicas e cultivar relações saudáveis são pilares do tratamento. Essas mudanças contribuem para reduzir os ciclos de humor e dar mais estabilidade emocional.


Assim, o tratamento para a bipolaridade não se resume ao controle medicamentoso, mas envolve uma abordagem integrada e contínua que considera o bem-estar físico, emocional e social da pessoa.


Como conviver com transtorno bipolar?

Conviver com o transtorno de bipolaridade pode ser desafiador, mas é possível levar uma vida saudável com suporte e apoio.

O primeiro passo é reconhecer o diagnóstico como parte da jornada de cuidado com a saúde mental, e não como uma sentença.

Para quem vive com o transtorno, é fundamental conhecer os modos como as fases da bipolaridade acontecem consigo. Entender os sinais iniciais de mania, hipomania ou depressão ajuda a agir com antecedência.

Ter uma rede de apoio é fundamental, por isso, converse com amigos, familiares e grupos de suporte. Além disso, evite estigmas internos. Não se culpe por algo que está além da sua vontade. Você não é o transtorno, você convive com ele.

Já para quem convive com alguém que tem o transtorno, a orientação é a informação. Compreender o que é o transtorno bipolar, oferecer apoio sem julgamentos ou controle, estar presente e respeitar os limites da outra pessoa, é um movimento indispensável.

Esteja atento às mudanças na rotina da pessoa, pois há sinais que podem indicar uma nova fase do transtorno. Familiares e amigos também precisam de apoio emocional, por isso, invista no seu processo terapêutico.

Perguntas frequentes

  • Quais os primeiros sinais de bipolaridade?

    Incluem mudanças bruscas no humor, com momentos de energia intensa e euforia que se alternam com períodos de tristeza profunda, irritabilidade, insônia e comportamento impulsivo.

  • Qual o comportamento de uma pessoa bipolar?

    Pode variar conforme o quadro: ela pode apresentar episódios de mania, caracterizados por agitação, fala acelerada e impulsividade, e fases depressivas, marcadas por desânimo, falta de energia e isolamento social.

  • Quais são as fases do transtorno bipolar?

    São três fases principais: a fase maníaca ou hipomaníaca, com humor elevado e hiperatividade; a fase depressiva, com sintomas de tristeza e apatia; e episódios mistos, quando sinais de mania e depressão ocorrem ao mesmo tempo. Entre esses momentos, a pessoa pode viver períodos de estabilidade emocional.



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Referências

https://portal.al.go.leg.br/noticias/131102/transtorno-bipolar#:~:text=No%20Brasil%2C%20a%20Associa%C3%A7%C3%A3o%20Brasileira,de%20incapacita%C3%A7%C3%A3o%20quando%20n%C3%A3o%20tratada.

Os Amigos IA vão acabar com a solidão?
Ingrid Gerolimich
Os Amigos IA vão acabar com a solidão?
Veja os riscos escondidos na promessa dos Amigos IA segundo a psicanálise, no texto da psicanalista e socióloga Ingrid Gerolimich.

A solidão tem sido uma das questões contemporâneas mais exploradas pelas narrativas tecnológicas da atualidade. Recentemente, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, anunciou que os "amigos IA" — versões personalizadas de inteligências artificiais com características humanizadas — serão a solução definitiva para a solidão humana: “As pessoas vão conversar com assistentes que as conhecem profundamente, que são seus amigos”, afirmou Zuckerberg.

Em tom messiânico, ele descreve um futuro em que ninguém mais precisará sentir-se só, porque terá à disposição uma versão amigável e personalizada de inteligência artificial para lhe fazer companhia.

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O amigo IA será, em essência, um algoritmo de confirmação: alimentado pelos dados do usuário, retroalimentado pelos seus gostos, valores, crenças e padrões de linguagem, e projetado para agradar — sem qualquer discordância, ruptura ou tensão — mas, justamente por isso, sem oferecer presença. Para a psicanálise, a formação do sujeito exige a experiência do conflito. O outro é estruturante não porque confirma, mas porque interrompe. É na diferença que o desejo se constitui.

A amizade IA proposta por Zuckerberg dissolve o conflito na lógica da customização algorítmica. Ela opera pela via do “perfilamento afetivo”: o sistema aprende o que o usuário gosta, pensa, sente, e passa a espelhar isso de volta. Como um feed emocional, ele reforça aquilo que já está lá. O sujeito, em vez de se transformar pelo encontro com o Outro, se fixa em si mesmo — preso num circuito narcísico de retroalimentação de si.

Acontece que a amizade é um campo de conflito simbólico, de elaboração da diferença, de desconstrução narcísica pela via da alteridade. Como afirma Hannah Arendt, o amigo é aquele diante do qual o mundo se revela, não porque ele o reproduz, mas porque ele o contradiz — e, ao fazê-lo, nos obriga a repensar a nós mesmos.

Ilustração digital em estilo cartoon mostra um homem de meia-idade, sorridente e de olhos fechados, abraçando com carinho um notebook moderno. Na tela do laptop, há um rosto sorridente simples, simbolizando uma inteligência artificial amigável. A cena transmite de forma irônica e acolhedora a ideia de uma amizade fictícia com a tecnologia.


O problema contemporâneo não é mais a escassez de vínculos, mas a superabundância de conexões desinvestidas. Como diria Zygmunt Bauman, “as redes sociais são o lugar onde você se cerca de pessoas que pensam como você. Quanto mais você restringe seu mundo, mais solitário você se torna”. Os Amigos IA são a radicalização dessa bolha afetiva algorítmica que age produzindo mais distanciamento social e, portanto, mais solidão.

Trata-se de uma das promessas mais perigosas e ideologicamente sintomáticas da era digital: a substituição da alteridade real — complexa, conflitiva, viva — por simulacros afetivos programados para agradar. Se o que define a amizade é o encontro com o outro, com sua diferença irredutível e sua capacidade de nos transformar, então os amigos IA não acabarão com a solidão — ao contrário, a solidão se tornará estrutural, como também terá outro efeito colateral — e profundamente político — a formação de uma subjetividade extremista. Sem o outro, o sujeito não apenas se isola — ele se radicaliza.



Ao conviver apenas com entidades que confirmam suas crenças e reafirmam seus valores, o indivíduo perde a capacidade de elaborar o dissenso e o sujeito que só escuta o que quer se torna, inevitavelmente, intolerante. Pois, o extremismo não nasce do conflito, mas da ausência de alteridade real que garanta o exercício democrático de vivermos entre diferentes.

Não se trata, portanto, de uma iniciativa ingênua, mas de um projeto: tornar o outro desnecessário, dissolver a alteridade e higienizar a diferença. Nesse cenário, a amizade deixa de ser escola de democracia (como a entendia Arendt) e se torna instrumento ideológico do individualismo, uma operação precisa de desumanização do laço social. E a quem interessa laços sociais cada vez mais enfraquecidos?

Essa amizade algorítmica é a expressão mais acabada de uma colonização neoliberal do psiquismo: “quero um outro que me atenda, que me compreenda sem esforço, que não me confronte, que não me faça esperar”. O amigo IA é a mercantilização da presença, a conversão do laço em serviço, da alteridade em produto. O que está em jogo aqui não é só a transformação das relações — é a própria reconfiguração da ideia de sujeito.


O sujeito desejante, que se constitui no encontro com o outro, na fricção do limite, no risco do laço, cede lugar ao sujeito consumidor — aquele que, ao adquirir uma companhia feita sob medida, não apenas perde a capacidade de se relacionar, mas também se anestesia, desaprende o outro, e, sem o outro, não há desejo. E, sem desejo, resta apenas o vazio.

Como dizia Foucault, “a amizade é subversiva”. E talvez seja exatamente por isso que o capitalismo digital tenta domesticá-la, transformá-la em algoritmo, dado, previsibilidade.

Por isso, deve ser recuperada enquanto prática de resistência, profundamente humana e radicalmente política, como espaço de alteridade viva, de travessia e de transformação. Como o lugar onde dois ou mais mundos se encontram, não para se fundir, nem para se anular, uma abertura, fresta por onde entra o outro, e com ele, o desconhecido, o imprevisto que nos obriga a nos reinventarmos sempre.

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Psicanálise
Os Amigos IA vão acabar com a solidão?
Ingrid Gerolimich
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Veja os riscos escondidos na promessa dos Amigos IA segundo a psicanálise, no texto da psicanalista e socióloga Ingrid Gerolimich.

A solidão tem sido uma das questões contemporâneas mais exploradas pelas narrativas tecnológicas da atualidade. Recentemente, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, anunciou que os "amigos IA" — versões personalizadas de inteligências artificiais com características humanizadas — serão a solução definitiva para a solidão humana: “As pessoas vão conversar com assistentes que as conhecem profundamente, que são seus amigos”, afirmou Zuckerberg.

Em tom messiânico, ele descreve um futuro em que ninguém mais precisará sentir-se só, porque terá à disposição uma versão amigável e personalizada de inteligência artificial para lhe fazer companhia.

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O amigo IA será, em essência, um algoritmo de confirmação: alimentado pelos dados do usuário, retroalimentado pelos seus gostos, valores, crenças e padrões de linguagem, e projetado para agradar — sem qualquer discordância, ruptura ou tensão — mas, justamente por isso, sem oferecer presença. Para a psicanálise, a formação do sujeito exige a experiência do conflito. O outro é estruturante não porque confirma, mas porque interrompe. É na diferença que o desejo se constitui.

A amizade IA proposta por Zuckerberg dissolve o conflito na lógica da customização algorítmica. Ela opera pela via do “perfilamento afetivo”: o sistema aprende o que o usuário gosta, pensa, sente, e passa a espelhar isso de volta. Como um feed emocional, ele reforça aquilo que já está lá. O sujeito, em vez de se transformar pelo encontro com o Outro, se fixa em si mesmo — preso num circuito narcísico de retroalimentação de si.

Acontece que a amizade é um campo de conflito simbólico, de elaboração da diferença, de desconstrução narcísica pela via da alteridade. Como afirma Hannah Arendt, o amigo é aquele diante do qual o mundo se revela, não porque ele o reproduz, mas porque ele o contradiz — e, ao fazê-lo, nos obriga a repensar a nós mesmos.

Ilustração digital em estilo cartoon mostra um homem de meia-idade, sorridente e de olhos fechados, abraçando com carinho um notebook moderno. Na tela do laptop, há um rosto sorridente simples, simbolizando uma inteligência artificial amigável. A cena transmite de forma irônica e acolhedora a ideia de uma amizade fictícia com a tecnologia.


O problema contemporâneo não é mais a escassez de vínculos, mas a superabundância de conexões desinvestidas. Como diria Zygmunt Bauman, “as redes sociais são o lugar onde você se cerca de pessoas que pensam como você. Quanto mais você restringe seu mundo, mais solitário você se torna”. Os Amigos IA são a radicalização dessa bolha afetiva algorítmica que age produzindo mais distanciamento social e, portanto, mais solidão.

Trata-se de uma das promessas mais perigosas e ideologicamente sintomáticas da era digital: a substituição da alteridade real — complexa, conflitiva, viva — por simulacros afetivos programados para agradar. Se o que define a amizade é o encontro com o outro, com sua diferença irredutível e sua capacidade de nos transformar, então os amigos IA não acabarão com a solidão — ao contrário, a solidão se tornará estrutural, como também terá outro efeito colateral — e profundamente político — a formação de uma subjetividade extremista. Sem o outro, o sujeito não apenas se isola — ele se radicaliza.



Ao conviver apenas com entidades que confirmam suas crenças e reafirmam seus valores, o indivíduo perde a capacidade de elaborar o dissenso e o sujeito que só escuta o que quer se torna, inevitavelmente, intolerante. Pois, o extremismo não nasce do conflito, mas da ausência de alteridade real que garanta o exercício democrático de vivermos entre diferentes.

Não se trata, portanto, de uma iniciativa ingênua, mas de um projeto: tornar o outro desnecessário, dissolver a alteridade e higienizar a diferença. Nesse cenário, a amizade deixa de ser escola de democracia (como a entendia Arendt) e se torna instrumento ideológico do individualismo, uma operação precisa de desumanização do laço social. E a quem interessa laços sociais cada vez mais enfraquecidos?

Essa amizade algorítmica é a expressão mais acabada de uma colonização neoliberal do psiquismo: “quero um outro que me atenda, que me compreenda sem esforço, que não me confronte, que não me faça esperar”. O amigo IA é a mercantilização da presença, a conversão do laço em serviço, da alteridade em produto. O que está em jogo aqui não é só a transformação das relações — é a própria reconfiguração da ideia de sujeito.


O sujeito desejante, que se constitui no encontro com o outro, na fricção do limite, no risco do laço, cede lugar ao sujeito consumidor — aquele que, ao adquirir uma companhia feita sob medida, não apenas perde a capacidade de se relacionar, mas também se anestesia, desaprende o outro, e, sem o outro, não há desejo. E, sem desejo, resta apenas o vazio.

Como dizia Foucault, “a amizade é subversiva”. E talvez seja exatamente por isso que o capitalismo digital tenta domesticá-la, transformá-la em algoritmo, dado, previsibilidade.

Por isso, deve ser recuperada enquanto prática de resistência, profundamente humana e radicalmente política, como espaço de alteridade viva, de travessia e de transformação. Como o lugar onde dois ou mais mundos se encontram, não para se fundir, nem para se anular, uma abertura, fresta por onde entra o outro, e com ele, o desconhecido, o imprevisto que nos obriga a nos reinventarmos sempre.

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Mecanismos de Defesa do Ego: O que são, Tipos e Exemplos
Camila Fortes
Mecanismos de Defesa do Ego: O que são, Tipos e Exemplos
Conheça os 11 principais mecanismos de defesa descritos por Freud e Anna Freud e saiba como eles influenciam seus comportamentos.

Você já percebeu como, diante de situações difíceis, tendemos a reagir de forma inesperada? Para a psicanálise, comportamentos como negação, culpabilização ou projeção podem ser expressões da atuação dos mecanismos de defesa do ego.

Os mecanismos de defesa do ego são processos inconscientes utilizados pelo ego para lidar com conflitos internos, angústias e desejos incompatíveis com a realidade ou com os princípios morais. Esses mecanismos têm a função de proteger o indivíduo contra sentimentos potencialmente dolorosos, ao evitar o acesso direto à conteúdos psíquicos percebidos como ameaçadores.

A denominação foi inicialmente formulada por Sigmund Freud, o pai da psicanálise, e posteriormente sistematizado e ampliado por sua filha, Anna Freud, especialmente na obra “O Ego e os Mecanismos de Defesa” (1936).

Esses mecanismos são parte essencial da estrutura psíquica, composta por id, ego e superego, e ajudam a manter o equilíbrio psíquico frente às demandas do inconsciente e da realidade externa.

Neste texto, iremos explorar os principais mecanismos de defesa do ego, explicando como eles operam no inconsciente e apresentando os seus exemplos práticos.

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Repressão ou recalque

A repressão ou recalque é considerada um dos mecanismos de defesa mais fundamentais. Trata-se do processo de empurrar para o inconsciente desejos, pensamentos, lembranças ou impulsos considerados inaceitáveis ou ameaçadores para o ego.

Mas como eles funcionam no inconsciente? Bem, os conteúdos reprimidos não desaparecem, mas permanecem ativos no inconsciente, podendo retornar de maneira distorcida, como em sonhos, atos falhos ou fantasias. A repressão exige um gasto constante de energia psíquica para manter os conteúdos afastados da consciência.

Exemplo: uma pessoa que sofreu um abuso na infância pode não se lembrar do fato conscientemente, mas pode desenvolver sintomas de ansiedade, fobias ou dificuldades de relacionamento que indiquem a persistência de um trauma reprimido ou recalcado.


Negação

A negação é o mecanismo pelo qual o sujeito se recusa a reconhecer aspectos dolorosos da realidade ou de si mesmo. Em outras palavras, para evitar entrar em choque ou sofrer diante uma situação dolorosa, o indivíduo entra em negação diante o acontecimento. Esse comportamento é comum em momentos de perda, trauma ou choque emocional.

No inconsciente, o ego tenta evitar o sofrimento imediato que o reconhecimento dessa realidade traria. Nesse sentido, trata-se de uma defesa primitiva, na qual muitas vezes só é identificada quando se sofre as consequências de permanecer em negação por muito tempo.

Em vez de perceber a impressão dolorosa e, subsequentemente, cancelá-la mediante a retirada do respectivo investimento, está ao alcance do ego recusar o encontro, pura e simplesmente, com a situação perigosa externa. Pode fugir-lhe e, assim, no mais verdadeiro sentido da palavra, “evitar” as ocasiões de dor” (Freud, 1936/2006, p. 71).

Exemplo: uma pessoa que perde um ente querido pode continuar agindo como se ele ainda estivesse vivo, mantendo hábitos rotineiros, como conversar com a pessoa ausente. O mesmo pode ocorrer diante um relacionamento abusivo. Para não lidar com o sofrimento causado por um cônjuge violento, a pessoa pode negar as agressões, traições e omissões.



Projeção

Você já ouviu a frase: “A culpa é minha e eu coloco em quem eu quiser”? Pois bem, esse é o princípio da projeção. A projeção ocorre quando o sujeito atribui a outra pessoa sentimentos, desejos ou pensamentos que não reconhece como seus, por considerá-los inaceitáveis.

No inconsciente, esse mecanismo age da seguinte forma: o ego evita o conflito interno causado pelos impulsos proibidos, projetando-os no outro. Assim, o sujeito se isenta da responsabilidade pelo conteúdo rejeitado.

Exemplo: Uma pessoa com desejos de infidelidade que não consegue aceitá-los em si, pode desconfiar constantemente da fidelidade do parceiro. Ou, considerar colegas de trabalho como inimigos, mesmo quando a própria pessoa é competitiva.

Formação reativa

A formação reativa, por sua vez, é um mecanismo pelo qual o sujeito adota comportamentos, sentimentos ou atitudes opostas aos desejos inconscientes que deseja reprimir.

No inconsciente, a formação reativa funciona como uma máscara. O ego se protege expressando o oposto do que realmente sente, numa tentativa de esconder, inclusive de si mesmo, o conteúdo real. A função defensiva da formação reativa é, portanto, dupla: ao mesmo tempo que protege o ego da angústia provocada pelo desejo recalcado, também atua para preservar uma imagem de si compatível com as normas e ideais internalizados.

Exemplo: Uma pessoa que sente atração por pessoas do mesmo sexo pode se tornar homofóbica para proteger o ego do conflito entre o desejo e as normas morais. Ou, uma mãe pode se tornar excessivamente protetora para esconder a ausência de amor por um filho.


Isolamento

O isolamento é a separação de um pensamento ou acontecimento do seu contexto, impedindo que a pessoa se sinta abalada pelo fato. Em outras palavras, o isolamento afeta o componente afetivo de uma ideia ou lembrança, separando o conteúdo emocional e mantendo apenas o relato.

No inconsciente, esse mecanismo permite lidar com experiências dolorosas sem sentir o sofrimento associado.

O isolamento pode ser explicado e argumentado da seguinte maneira: na histeria um evento traumático pode cair na amnésia, na neurose obsessiva a experiência não é esquecida, mas destituída de afeto, e suas conexões associativas são suprimidas ou interrompidas, de modo que permanece como isolada” (Freud, 1926, p. 121).

Exemplo: Uma mulher que sofreu uma violência sexual pode relatar o ocorrido de forma objetiva e desprovida de emoção, como se estivesse contando um fato rotineiro. Ou, uma pessoa que é diagnosticada com alguma doença grave, mas simplesmente o ignora e não se importa, pode estar usando o isolamento para se proteger.

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Anulação (ou desmentido)

Já a anulação envolve realizar ações ou pensamentos que têm a função simbólica de “desfazer” ou “anular” algo inaceitável. A pessoa age como se pudesse apagar o que foi feito, dito ou sentido.

No inconsciente, se materializa enquanto uma tentativa de controlar a culpa ou a ansiedade associada a certos impulsos. Frequentemente aparece em comportamentos compulsivos ou supersticiosos.

“A anulação, também consiste essencialmente no desejo de que, por uma anulação mágica do tempo, o que aconteceu e perturba torne-se não acontecido” (Freud, 1926, p. 120).

Exemplo: Após assistir um filme de terror, a pessoa pode querer consumir imediatamente algum conteúdo mais leve ou divertido. Ou, após ter um pensamento considerado inapropriado ou catastrófico, a pessoa pode fazer o “sinal da cruz”, como uma forma de “anular” o pensamento.

Racionalização

Outro mecanismo que merece destaque é a racionalização. Ela busca justificar com argumentos lógicos e socialmente aceitáveis um comportamento, sentimento ou decisão que, na verdade, tem origem em motivos inconscientes ou inaceitáveis.

Em outros termos, trata-se de uma forma de maquiar a verdadeira motivação psíquica por trás de uma ação, oferecendo ao sujeito e aos outros uma explicação mais palatável ou razoável, que evita o confronto com conteúdos internos desconfortáveis.

Esse mecanismo do inconsciente ajuda a proteger o ego da pessoa de sentimentos de culpa ou vergonha, criando uma explicação que pareça mais razoável diante do fato.

Exemplo: Se uma pessoa se sente triste, pode racionalizar dizendo que “não importa” ou que “não é tão grave”. Ou, um estudante que não passou em um concurso afirma que não queria o cargo de verdade, pois o salário era baixo.

Deslocamento

O deslocamento consiste em transferir a carga emocional de um objeto ou pessoa considerada perigosa ou proibida, para outro objeto ou pessoa mais segura ou acessível. Ou seja, transfere-se as emoções de um alvo original para um alvo substituto, que seja menos ameaçador.

No inconsciente, o deslocamento permite que o sujeito expresse suas emoções, sobretudo, agressivas, sem confrontar diretamente sua fonte ideal. Essa manobra psíquica reduz o risco de punição, rejeição ou culpa, pois a energia emocional é redirecionada.

Exemplo: Um funcionário pode descontar em seus filhos a frustração com o chefe no trabalho. Ou, um adolescente que sofre bullying na escola pode se tornar agressivo com seus colegas.


Sublimação

Considerado um mecanismo de defesa razoavelmente saudável, a sublimação consiste em transformar impulsos primitivos ou inaceitáveis em atividades criativas ou artísticas. Ela opera como um canalizador de cargas emocionais, direcionando a energia para atividades que exijam estímulo psíquico.

No inconsciente, ela opera ao redirecionar o desejo reprimido ou negado, para fins nobres. É uma via de expressão simbólica altamente valorizada na vida psíquica adulta, pois permite que os conflitos internos encontrem uma saída produtiva e socialmente aceita.

Ao invés de reprimir o impulso, como ocorre em outros mecanismos, a sublimação transforma sua força em motor criativo e/ou intelectual, por isso, é frequentemente associada à maturidade emocional e ao desenvolvimento de talentos e vocações.

Exemplo: Um sujeito que sofre por algo pode transferir a frustração para a arte, criando obras que expressam esses sentimentos de forma socialmente aceitável. Ou, uma pessoa que sente muita raiva ou estresse no cotidiano pode começar a praticar um esporte de contato, como o jiu jitsu, para canalizar emoções de forma saudável.


Identificação

A identificação, por sua vez, é o processo de incorporação de características, valores ou comportamentos de outra pessoa, muitas vezes significativa para o sujeito. Trata-se de uma forma de aprendizado psíquico profundo, que molda a forma como o indivíduo se percebe e se posiciona no mundo.

No inconsciente, pode ocorrer por admiração, desejo de pertencimento, amor ou medo. Tem papel central na formação da personalidade e na interiorização de normas sociais. Ao se identificar com figuras, personalidades e identidades, internalizam-se também expectativas e modos de se comportar socialmente.

Exemplo: Um adolescente que admira um cantor começa a se vestir e falar como ele, internalizando seu estilo como forma de construir sua própria identidade. Ou, uma criança pode internalizar características e comportamentos de afeto ou violência dos pais para se sentir mais valorizada.

Regressão

Por fim, a regressão é o retorno a modos de funcionamento psíquico e comportamentos de fases anteriores do desenvolvimento, especialmente em situações de estresse ou conflito. Nela, o objetivo é aliviar a tensão ou o medo ao recorrer a formas mais antigas – e geralmente mais seguras - de lidar com a realidade.

Para Freud (1916/1917), a regressão é relativa ao desenvolvimento sexual, uma vez que ela tem uma função libidinal – a obtenção do prazer e da satisfação:

“O que até agora tratamos como regressão [...] significou exclusivamente um retorno da libido a anteriores pontos de interrupção de seu desenvolvimento – isto é algo inteiramente diferente, em sua natureza, da repressão, e inteiramente independente desta (Freud, 1916-17/1996, p. 346)”.

No inconsciente, a regressão representa uma tentativa de fuga temporária para estágios onde as exigências externas eram menores e o cuidado era mais garantido, como na infância. Embora possa ser útil em momentos críticos, oferecendo alívio momentâneo, quando se torna recorrente pode indicar resistência a amadurecer frente a desafios.

Exemplo: Uma pessoa em situações de estresse, pode começar a chorar de forma infantil. Ou, um fumante que, diante de um conflito, passa a fumar mais para se sentir seguro.


Conclusão: defesas não são falhas, são estratégias psíquicas

Neste texto, tratamos sobre os mecanismos de defesa, que são recursos do ego para garantir a manutenção do equilíbrio emocional frente a ameaças internas ou externas.

Longe de serem “erros” ou “falhas”, essas defesas representam tentativas de autorregulação emocional frente às exigências conflitantes do inconsciente, da realidade e das normas sociais.

Embora possam gerar sintomas quando utilizados de forma excessiva ou inadequada, sua função primordial é de autoproteção. Elas atuam como estratégias psíquicas que ajudam o sujeito a sobreviver emocionalmente diante de sentimentos como angústia, culpa, medo, vergonha ou desejo.

Assim, ao invés de condenar sua existência, é preciso reconhecê-las como parte do funcionamento mental humano saudável, ainda que, por vezes, sejam expressões de sofrimento.

Para Anna Freud (1936/2006), “tudo o que provém do ego é também uma resistência, em todos os sentidos da palavra: uma força dirigida contra a emergência do inconsciente”. Nesse sentido, conhecer os mecanismos de defesa é um passo importante para entendermos não só o sofrimento psíquico, mas também os caminhos possíveis para sua transformação.

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Referências

FREUD, S. (1996). Conferência XXII: Algumas ideias sobre desenvolvimento e regressão – etiologia. In S. Freud, Edição Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 16). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1916-17).

FREUD, Sigmund. Inibições, Sintomas e Ansiedade. Em S. Freud, Obras Completas de Freud (pp. Vol. XX, p. 79-171). Rio de Janeiro: Imago, 1926.

FREUD, Anna. [1936] “O ego e os mecanismos de defesa”. Tradução, consultoria e supervisão: Francisco F. Settineri. Porto Alegre: Artmed editora, 2006.

Sublimação na psicanálise: o que é, como funciona e exemplos
Ricardo Salztrager
Sublimação na psicanálise: o que é, como funciona e exemplos
Entenda o que é sublimação segundo Freud, como redireciona desejos inconscientes para a arte, o trabalho e a cultura, e importância para a psicanálise.

Nem todo desejo precisa ser recalcado ou virar sintoma. Para a psicanálise, há outra possibilidade: a sublimação. Neste artigo, você vai entender o que é sublimação segundo Freud, como ela redireciona a energia da pulsão para atividades culturalmente valorizadas e por que esse conceito é tão importante para pensar a arte, a infância, o trabalho e até o mal-estar na civilização.

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O que é sublimação na psicanálise?

Para a psicanálise, a sublimação é definida como o trabalho de redirecionamento dos nossos impulsos sexuais para fins não sexuais. Segundo Freud (1915/1996), ela é um dos destinos possíveis para a pulsão, fazendo com que toda a sua intensidade seja desviada para propósitos altamente valorizados por nossa cultura. Dentre tais propósitos destacam-se as expressões artísticas e o trabalho intelectual.

O significado de sublimação em Freud

Ao longo destes anos de experiência como professor, pude constatar que a sublimação é um dos conceitos freudianos que mais gera discussão em sala de aula. E isto não apenas pela importância e beleza do conceito, mas também por algumas de suas várias imprecisões teóricas.

Sabe-se que entre os anos de 1914 e 1917, Freud escreveu uma série de artigos importantíssimos, um dos quais foi exclusivamente dedicado à sublimação. No entanto, não se sabe exatamente o porquê, mas ele o destruiu junto a alguns outros. Talvez o resultado não tenha ficado de seu agrado...

E, de fato, todos nós professores, psicanalistas e alunos consideramos uma pena o sumiço deste ensaio e temos a esperança de que um dia pelo menos um rascunho ou algo do tipo seja encontrado.

De todo modo, dentre todos os outros artigos de Freud nos quais a sublimação se faz presente, considero que o que traz a sua definição mais completa é “Moral sexual ‘civilizada’ e doença nervosa moderna”:


“A pulsão sexual coloca à disposição do trabalho cultural uma extraordinária quantidade de energia, em virtude de uma singular e marcante característica: sua capacidade de deslocar seus objetivos sem restringir consideravelmente a sua intensidade. A essa capacidade de trocar seu objetivo sexual original por outro, não mais sexual, mas psiquicamente relacionado com o primeiro, chama-se capacidade de sublimação” (Freud, 1909/1996, p. 174).

Acredito que esta seja uma boa definição para começarmos a tratar do tema.

Com efeito, Freud concebe a pulsão como a força que governa a nossa sexualidade. Trata-se, no domínio da pulsão, de excitações extremamente intensas que exigem que façamos algo para satisfazê-la.

No entanto, a psicanálise freudiana coloca que a pulsão é extremamente plástica e que, deste modo, possui a capacidade de satisfazer-se através de alguma ação não necessariamente sexual. E é aí que entra a sublimação.

Neste sentido, a sublimação pode ser definida como o processo que nos conduz a trocar uma satisfação propriamente sexual por outra não sexual. Conforme costumo dizer em sala de aula, é a sublimação que faz com que tenhamos um imenso prazer (muitas vezes equivalente ao prazer sexual em si) em, por exemplo, trabalhar, ler um livro, pintar, escrever, tocar um instrumento, estudar, praticar esportes ou usufruir de uma obra de arte.

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Exemplos de sublimação para a psicanálise

- Um exemplo do próprio Freud

De fato, Freud atribuía à sublimação um lugar central em sua vida. Ele era um amante inveterado da literatura, das manifestações artísticas em geral e da investigação científica como um todo. E jamais escondeu isso dos seus leitores, muito pelo contrário.

Nesta medida, sua paixão por seu trabalho era tanta que ele mesmo declarou que quando fez 40 anos, após o nascimento do seu quinto filho, decidiu suspender de sua vida qualquer relação ligada à sexualidade propriamente dita. Preferiu então colocar sua atividade pulsional a serviço de seu trabalho, mergulhando fundo na produção de livros e artigos e, portanto, inscrevendo-se no rol das grandes personalidades científicas que tanto admirava (Roudinesco & Plon, 1998).

Como vocês podem ver, a fonte da informação não podia ser outra: a psicanalista, escritora e fofoqueira Elisabeth Roudinesco. E como fofoca boa é algo que a gente não guarda, aqui está o babado!

- O exemplo das crianças

Sempre que menciono este exemplo em sala de aula, são muitas as dúvidas que conseguem ser esclarecidas.

Com efeito, foi no contexto da análise da vida sexual das crianças que, pela primeira vez, Freud se dedicou a uma exposição mais detalhada sobre a sublimação. O conjunto de suas elaborações sobre o tema encontra-se nos famosos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (Freud, 1905/1996).

Sabe-se que Freud foi um dos primeiros cientistas a declarar abertamente que as crianças possuem sexualidade. Segundo ele, a pulsão sexual está presente já na infância mais remota, conduzindo a criança a uma série de manifestações propriamente sexuais.

Assim, é colocado que a criança possui, por exemplo, desejos orais, anais, sádicos (prazer em provocar dor), masoquistas (prazer em sentir dor), voyeuristas (prazer em olhar), exibicionistas (prazer em ser olhado), dentre tantos outros. Os mais comuns destes desejos sexuais infantis são os edipianos, ou seja, desejos dirigidos às próprias figuras parentais.

E, de fato, qualquer observador percebe que as crianças possuem sexualidade e volta e meia entregam-se a estes mais variados prazeres. No entanto, chega uma idade (de difícil precisão) na qual estas manifestações sexuais são arrefecidas. Ou seja, por influência da educação, a criança finalmente passa a conhecer os padrões morais em voga na nossa cultura e, deste modo, é obrigada a recalcar seus desejos sexuais.

Para a psicanálise freudiana, recalcar um desejo significa negá-lo, torná-lo inconsciente. Assim, a criança passa a ignorar os desejos sexuais que anteriormente insistia em satisfazer e entra no chamado “período de latência” sexual. Em si, o período de latência é definido como um momento de suspensão da sexualidade, sendo nele que entra em cena o trabalho de sublimação.

Nesta medida, durante o período de latência, a criança desviará a força da pulsão sexual para outros fins não sexuais. E, portanto, é este o momento no qual, graças à atuação da sublimação, a criança se entrega com toda intensidade a atividades intelectuais. Ela aprenderá, por exemplo, história, ciências, língua portuguesa, além de se interessar por literatura, começar a praticar esportes, pintar, desenhar, dentre tantas outras coisas.

É esta, inclusive, a conhecida fase dos “porquês”, ou seja, aquele período no qual a criança dirige seus interesses para a atividade intelectual e, assim, passa a tudo querer saber. Desta maneira, ela não cessará de questionar os adultos sobre os grandes enigmas com os quais se defronta.



Cultura e psicanálise: a sublimação do desejo

Conforme mencionamos, “Moral sexual ‘civilizada’ e doença nervosa moderna” (Freud, 1909/1996) é um dos mais importantes textos sobre o conceito de sublimação. Em minha opinião, esta é uma obra imprescindível a qualquer estudo que se faça a respeito da psicanálise freudiana.

O texto versa sobre as consequências da repressão sexual em nossa cultura. Ou seja, Freud reconhece que vivemos em uma sociedade cujos preceitos morais atingem primordialmente os nossos desejos sexuais. Trata-se de uma moral que preconiza que o único e verdadeiro sexo aceitável é o que ocorre dentro do matrimônio. Todas as outras manifestações do desejo sexual seriam, portanto, alvos de uma severa repressão.

Deste modo, é em função desta repressão social que se dá o trabalho de recalque. Com ele, nós somos obrigados a nos defender de nossa sexualidade, tornando nossos desejos inconscientes. No entanto, a psicanálise freudiana é bem explícita ao mostrar que recalcar nossos desejos não significa exatamente matá-los. Pelo contrário, os desejos continuam vivos e atuantes no inconsciente, sempre à espera de alguma situação propícia para se manifestarem.

E dentre as tantas formas de manifestação do desejo sexual recalcado encontram-se, justamente, os sintomas neuróticos. Nesta perspectiva, Freud é incisivo ao dizer que o processo de recalque acaba por nos conduzir ao sofrimento e à enfermidade. Logo, em virtude de uma tamanha repressão social, estaríamos condenados a sofrer...

... A não ser que consigamos sublimar nossos desejos. Desta maneira, a sublimação do desejo é situada como uma alternativa ao processo de recalque. Alternativa esta, vale marcar, bastante feliz! Se conseguirmos criar ou produzir algo a partir da força da nossa sexualidade, não precisaríamos recalcá-la e consequentemente produzir tantos sintomas.

Por isto, o artista é por Freud apresentado como o oposto do neurótico, aquele que consegue aproveitar-se de toda a plasticidade da pulsão sexual e desviá-la para outros fins socialmente valorizados.

Vale frisar que, a partir desta visão, sempre se colocam em sala de aula algumas questões polêmicas e que geram muitas discussões: Será que o artista que sublima efetivamente sofre menos que o neurótico que recalca? E quanto àqueles que não possuem o dom para as artes, para a ciência ou para os esportes, estariam eles condenados ao eterno sofrimento? Será que o trabalho de sublimar nossos desejos sexuais efetivamente faz desaparecer quaisquer vontades sexuais propriamente ditas?

Qual é a relação entre o recalque e a sublimação?

Esta é uma questão de difícil resposta, pois a depender do texto freudiano, os dois conceitos se confundem bastante.

Nos “Três ensaios sobre a sexualidade” (Freud, 1905/1996) vimos que os dois conceitos encontram-se interligados. Ou seja, é porque há o recalque dos desejos sexuais que a criança consegue sublimá-los.

Já em “Moral sexual ‘civilizada’ e doença nervosa moderna” (Freud, 1909/1996), a sublimação é apresentada como uma alternativa ao processo de recalque e, portanto, independente dele. Um sujeito pode, assim, sublimar seu desejo sem tê-lo anteriormente recalcado.

Acredito que a resposta definitiva para a questão tenha sido dada por Freud (1915/1996) em “As pulsões e suas vicissitudes”. Nele, conforme veremos logo a seguir, o recalque e a sublimação são colocados como dois destinos efetivamente distintos para a força da pulsão sexual.



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A sublimação como destino da pulsão

Assim, é interessante marcar que a partir de “As pulsões e suas vicissitudes”, Freud passa a conceber a sublimação como um dos destinos possíveis da pulsão. Os outros destinos seriam o recalque, a reversão da pulsão ao seu oposto e o retorno da pulsão em relação ao eu.

No entanto, embora neste texto a sublimação seja alçada a esta categoria de destino pulsional, cabe lembrar que o tema não é propriamente desenvolvido. De fato, a análise sobre os outros três destinos da pulsão é bastante exaustiva, mas infelizmente o mesmo não ocorre com o conceito de sublimação.

Conversando com colegas psicanalistas, sempre chegamos à suposição de que, infelizmente, esta questão talvez tenha sido objeto do tal artigo desaparecido...

A sublimação é um mecanismo de defesa do ego?

Por fim, é interessante analisar esta polêmica. Com efeito, embora encontremos por aí inúmeras fontes que consideram a sublimação um mecanismo de defesa do ego, vale dizer que Freud jamais escreveu coisa assim. A autora desta ideia foi sua filha Anna Freud.

Trata-se, aqui, de uma concepção bastante controvertida e não unânime entre os psicanalistas. Segundo Laplanche e Pontalis (1998), por exemplo, é problemático considerar a sublimação como um mecanismo de defesa do ego porque assim reduziríamos todas as nossas criações artísticas e intelectuais a uma mera defesa contra nossos conflitos sexuais. Claro que a sublimação possui esta vertente defensiva, mas talvez seja questionável reduzi-la a isto.

Para estes dois autores, as nossas manifestações artísticas e intelectuais são muito mais do que simples defesas. E, assim, o ato de sublimar pode inclusive levar a uma grande elaboração dos nossos conflitos. Com certeza, muitos de nós já experimentamos a sensação de estar com algum problema ou conflito na esfera sexual e, através de uma atividade sublimatória, conseguir o alívio que tanto buscávamos.

Portanto, mais do que uma simples defesa, a sublimação talvez mereça ser encarada como um verdadeiro motor para a elaboração do mal-estar que tanto nos assola.


Este texto foi escrito pelo professor Ricardo Salztrager, psicanalista e professor associado da UNIRIO e da Casa do Saber. Possui Graduação em Psicologia, mestrado e doutorado em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

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Referências:

Freud, Sigmund. (1905). Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 7. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 117-231.

_____. (1909). Moral sexual “civilizada” e doença nervosa moderna. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 9. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 165-186.

_____. (1915). As pulsões e suas vicissitudes. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 14. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 115-144.

Laplanche, Jean. & Pontalis, Jean-Baptiste. (1998). Vocabulário de psicanálise. São Paulo: Martins Fontes.

Roudinesco, Elisabeth. & Plon, Michel. (1998). Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora.

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Como estudar Psicologia online?

Se você está procurando opções para cursar a faculdade de psicologia à distância, infelizmente temos uma má notícia para te dar. Até o momento, de acordo com a determinação do Ministério de Educação (MEC), a graduação de psicologia não pode ser oferecida na modalidade EAD. Por outro lado, há muitas possibilidades de se estudar psicologia online por meio de cursos livres, pós-graduação e especializações.

A opção pelo ensino à distância atende tanto a estudantes quanto profissionais da área, onde o aluno pode explorar diferentes abordagens da psicologia com liberdade, seja para aprender sobre conteúdo introdutório ou especializar-se em algum tema de sua preferência. É possível estudar a psicologia analítica, de Carl Jung, a psicanálise, de Freud, e, ao mesmo tempo assistir a cursos sobre a logoterapia para investigar as ideias de Viktor Frankl.

Existe faculdade de Psicologia EaD?

Como já mencionado acima, não existe a possibilidade de realizar a graduação em psicologia EaD . Em julho de 2022, o Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU) chegou a conseguir a autorização do MEC para oferecer o curso à distância, através da portaria MEC 749. Porém, no dia seguinte, o próprio Ministério da Educação a anulou, sob alegação de erro material.

À época, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) e mais de 20 entidades publicaram uma nota de repúdio à Portaria MEC 749, afirmando que a presencialidade é indispensável para a formação de qualidade em Psicologia.

Posteriormente, em setembro de 2023, pela Portaria Nº 1.838, o Ministério da Educação abriu consulta pública para elaboração de proposta de regulamentação de oferta do curso de Psicologia - entre outras graduações - na modalidade de educação à distância.

Desde então, a discussão vem sendo constantemente adiada, sem uma previsão de desfecho à vista. Desta forma, não é possível definir ainda se, no futuro, a modalidade de graduação à distância será ou não viabilizada para o curso de psicologia. Mas, se depender da opinião do conselho dos profissionais de psicologia, a decisão permanecerá em mantê-lo somente no modelo presencial.

Atenção para não confundir:

Embora a graduação em psicologia seja recomendada, algumas abordagens da psicoterapia, como a psicanálise, não exigem formação superior específica no curso de psicologia para o exercício da atividade profissional. Por isso, é possível encontrar algumas instituições oferecendo o curso de formação para psicanalista 100% ead - o que é permitido.

O que é Psicologia e qual o papel do profissional da área?

A psicologia é uma ciência que se dedica a tratar, estudar e analisar o comportamentos dos indivíduos e os processos mentais, como sentimentos, pensamentos e razão. Embora a área de estudo tenha sido elaborada há alguns séculos no campo da filosofia, a psicologia estruturou-se como uma ciência independente somente em meados do século 19. Desde então, surgiram diversas teorias sobre o comportamento humano e novas descobertas científicas - como a chegada das neurociências..

O cenário dinâmico exige estudo constante do profissional da área. O psicólogo deve atuar na promoção da saúde mental, tratamento, intervenção em crises e em desenvolvimento pessoal e profissional. Seu trabalho tem grande importância social e demanda certa sofisticação, pois deve desenvolver habilidades como empatia e comunicação, mas também conhecimento técnico para diagnosticar e tratar problemas de saúde mental de forma eficaz.

Como em diversas outras profissões, há muitas áreas de atuação. No caso da psicologia, além desta segmentação, também encontramos diferentes teorias, técnicas e abordagens para analisar o comportamento humano, como veremos mais adiante.

Sobre o curso de graduação em Psicologia

O curso de psicologia prepara o profissional para atuar em diferentes contextos sociais e profissionais de forma ética, desenvolver o conhecimento científico, analisar criticamente os fenômenos sociais e biológicos e atuar na promoção da saúde. Dados do Sisu 2024 mostram que psicologia foi o 4° curso com maior número de inscrições, no topo da lista das graduações mais procuradas pelos estudantes.

POSIÇÃO CURSO QTDE. INSCRITOS
MEDICINA 298.316
DIREITO 157.364
ADMINISTRAÇÃO 118.883
PSICOLOGIA 103.336
ENFERMAGEM 99.768
PEDAGOGIA 89.702
MEDICINA VETERINÁRIA 65.271
CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO 57.385
EDUCAÇÃO FÍSICA 55.437
10° CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 52.822


Dados extraídos do relatório do Sisu 2024

Qual a duração da faculdade de Psicologia?

A graduação em psicologia tem duração de 5 anos. Segundo as diretrizes curriculares para o curso de psicologia estipuladas pelo MEC, o estágio supervisionado é atividade obrigatória.

“Art. 11. A carga horária referencial dos cursos de Psicologia é de 4.000 (quatro mil) horas com, no mínimo, 20% (vinte por cento) da carga efetiva global para estágios supervisionados básicos e específicos, e duração mínima de 5 (cinco) anos.


Todas as instituições devem oferecer acesso ao núcleo comum do curso de Psicologia ao estudante. No entanto, as instituições podem possuir estruturas curriculares diferentes de acordo com as ênfases curriculares oferecidas. As ênfases curriculares são caminhos possíveis de estudo para aprofundamento de determinadas competências e habilidades necessárias para o exercício da profissão.

Em determinado momento da graduação, o aluno deverá optar pela ênfase que reflita o seu interesse para seguir as disciplinas e estágios correspondentes à sua escolha. Respeitando o projeto pedagógico, cada instituição deve disponibilizar ao menos duas opções de ênfases aos alunos, considerando as demandas sociais contemporâneas ou potenciais, assim como as características da instituição e da região em que se situa.

Isso significa que cada faculdade formulará os próprios eixos que são peculiares aos objetos de estudo e história do curso desenvolvido na instituição. Tenha isto em mente no momento de pesquisar as opções de faculdade de psicologia que deseja ingressar.

Para atuar profissionalmente como psicólogo, é necessário possuir o diploma de bacharelado em Psicologia por uma instituição reconhecida pelo MEC, além de estar inscrito no Conselho Regional de Psicologia (CRP) de sua região.

Quais as áreas da Psicologia?

Apesar de a imagem do psicólogo clínico atendendo o paciente frente a frente em seu consultório ser uma das primeiras a vir à mente, a psicologia tem diferentes áreas de atuação. Cabe ao estudante em formação ou ao profissional identificar qual delas se adequa mais ao seu perfil.

Uma vez com o diploma na mão, o psicólogo está apto a exercer a profissão em qualquer área de atuação da psicologia. A partir da resolução CFP 23/2022, foram reconhecidas 13 especialidades para o exercício da psicologia . Confira as áreas da psicologia na lista abaixo:

  • Psicologia Clínica
  • Psicólogo Organizacional e do Trabalho
  • Psicologia Jurídica
  • Psicologia do Esporte
  • Psicologia Social
  • Psicologia Escolar ou Educacional
  • Psicologia de Tráfego
  • Neuropsicologia
  • Psicomotricidade
  • Psicopedagogia
  • Psicologia Hospitalar
  • Psicologia em Saúde
  • Avaliação Psicológica


Conheça as principais abordagens da Psicologia

Há diversas abordagens da psicologia sendo praticadas na atualidade. Mas por que precisam existir tantas ramificações teóricas? É importante compreender que não há uma definição sobre qual abordagem é a melhor. O que vamos descobrir - e veremos detalhadamente neste tópico - é que elas apresentam diferenças importantes entre si, como objetos de estudo distintos.

A Psicanálise, fundada por Sigmund Freud, por exemplo, dedica-se ao estudo do inconsciente e os processos mentais internos para entender o comportamento humano. Já o Behavorismo, desenvolvido por Skinner, se concentra na observação do comportamento, pautado pela análise e estudo do comportamento a partir de estímulos externos.

“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana” - Carl Jung
foto de Carl Gustav Jung
Carl G. Jung, fundador da Psicologia Analítica


Veja algumas das abordagens teóricas:

  • Psicanálise
  • Psicologia Analítica
  • Behaviorismo ou Analítico Comportamental
  • Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC)
  • Gestalt


Psicanálise:

Fundada por Sigmund Freud, a psicanálise surgiu no final do séc. 19, quando o médico austríaco revelou ao mundo uma grande descoberta: o inconsciente. Segundo sua teoria, a origem dos sintomas, transtornos mentais e emocionais está guardada neste campo oculto, que só pode ser acessado através da fala. Desta forma, o processo terapêutico para tratamento e cura dos fenômenos de ordem mental se dariam a partir do método de livre associação, onde o paciente pode falar livremente sobre qualquer assunto que lhe vier à mente (por isso, comumente conhecida como “terapia da fala”).

Fundamentada na investigação do inconsciente, o analista pode conduzir o paciente através da interpretação dos sonhos, análise de padrões de comportamento e repetições originadas ainda na infância. A partir da teoria criada pelo “pai da psicanálise”, começaram a ser trabalhados conceitos que hoje são bastante conhecidos, como complexo de édipo , ato falho e recalque.

Além disso, é bem comum que a psicanálise seja associada ao uso do divã, aquele sofá sem encosto em que o paciente se deita, embora ele nem sempre seja utilizado. Inspirados pela obra do médico austríaco, outros pensadores fundaram novas linhas da psicanálise, como a linha lacaniana, do francês Jacques Lacan, a linha kleiniana, da austríaca Melanie Klein e a linha winnicottiana, criada pelo inglês Donald Winnicott.

foto do divã utilizado por Freud  coberto pelo tapete de lã Qashqa'i shekarlu exposto no museu de Freud em Londres
Divã original de Freud, utilizado nas sessões com os seus pacientes (Reprodução: Freud Museum London)


A origem do divã de Freud

O icônico divã utilizado por Freud foi, na verdade, um presente recebido de sua paciente Madame Benvenisti , em 1890. Estima-se que mais de 500 pacientes tenham se deitado neste divã, que está exposto no Museu de Freud em Londres.

Psicologia Analítica Junguiana:

Fundada pelo psiquiatra Carl G. Jung no início do séc. 20, a psicologia analítica foi criada após o médico suíço se deparar com divergências teóricas em relação às ideias de Freud, com quem colaborou por algum tempo. Jung elaborou uma teoria totalmente nova, fundamentada em conceitos importantes como o inconsciente coletivo, individuação e os arquétipos.

Jung coloca que o inconsciente coletivo compõe uma camada universal, herdada pelos indivíduos através de seus ancestrais. Segundo sua teoria, as pessoas nascem com predisposição na forma de pensar e agir, que refletem imagens presentes em todas as culturas, representados pela noção dos arquétipos.

A partir da análise de símbolos, da interpretação de sonhos e mitos, o tratamento proporcionado pela psicologia analítica consegue auxiliar o paciente a encontrar novos caminhos de simbolização, que o conduzem ao autoconhecimento e a uma vida mais equilibrada.

Behaviorismo ou Analítico Comportamental:

O termo behaviorismo foi cunhado pelo psicólogo estadunidense John B. Watson, em 1913. A origem do nome remete ao termo “behavior”, da língua inglesa, que traduzido para o português significa “comportamento”. Na década de 1940, o psicólogo B. F. Skinner deu continuidade às ideias propostas por Watson e formulou novas contribuições à teoria, no que ficou conhecido como “behaviorismo radical”.

O behaviorismo surge em oposição às abordagens focadas nos processos mentais internos e passa a se dedicar ao estudo do comportamento observável, trabalhando observação, influência do ambiente e coleta de dados mensuráveis.

Esta proposta terapêutica propõe-se a compreender padrões comportamentais para tratamento de diversos transtornos, como depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, entre outros. A concepção é de que a partir da análise do comportamento, é possível treinar habilidades e modificar padrões comportamentais através de técnicas específicas como reforço e punição, de forma a melhorar o bem-estar do paciente.

Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC):

A Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC) foi criada pelo psiquiatra norte-americano Aaron Beck na década de 1960. Com alguns elementos em comum ao behaviorismo radical, a TCC incorpora elementos cognitivos ao tratamento. Isto significa que este modelo de terapia além de incluir a análise do comportamento influenciado por estímulos do ambiente, leva também em consideração os pensamentos e emoções do paciente como forma de identificar, questionar, modificar e tratar os sintomas.

A partir do tratamento, o psicólogo auxilia o paciente na busca pela identificação de padrões de pensamento distorcidos., bem como a modificação de crenças e hábitos disfuncionais.. Amparada por pesquisas e publicações científicas, a TCC se propõe a utilizar técnicas de intervenção de eficácia comprovada, atendendo às especificidades de cada transtorno mental.

Gestalt-terapia:

A Gestalt-terapia, conhecida como “terapia da forma”, foi criada no início do séc. 20 pelo médico alemão Fritz Perls, inspirada pelas ideias da Psicologia da Gestalt, de Wertheimer, Köhler e Koffka. Este modelo de terapia valoriza a subjetividade e o momento presente ( “aqui e agora”) , onde o paciente é estimulado a se concentrar em seus sentimentos, pensamentos e ações a partir de técnicas específicas utilizadas pelo profissional.

São diversas abordagens utilizadas, como a da cadeira vazia, onde o paciente senta-se de frente para uma cadeira vazia e simula uma conversa consigo mesmo ou com uma pessoa que tenha tido papel relevante em algum evento que tenha impactado a sua vida.

Outra técnica é a dramatização, onde a pessoa pode ser encorajada a interpretar papéis, expressar algum sentimento verbalmente ou em forma de movimento. Estas técnicas tem o objetivo de promover o autoconhecimento. e, consequentemente, a identificação de padrões de pensamentos negativos que podem prejudicar a sua vida.

Psicoterapia Contemporânea: Por uma Integração Transteórica de Diversas Práticas e Teorias
por Luiz Hanns

Em sua história, a psicoterapia ficou marcada pela divisão entre abordagens, cada uma com suas próprias concepções, métodos e indicações clínicas, com diferenças, à primeira vista, irreconciliáveis e muitas vezes dogmáticas.

Neste curso, Luiz Hanns aborda o integracionismo metodológico, que difere do ecletismo selvagem, e que permite uma clínica transteórica em busca da integração das melhores práticas e teorias.

Confira o curso!

Conhecemos agora algumas das abordagens da psicologia. Embora todos os profissionais da área passem, de certa forma, por este processo de definição teórica, a linha seguida por cada um é notada de forma mais perceptível nos tratamentos de psicoterapia, onde o paciente costuma ser acompanhado por períodos mais longos.

Não existe regulação ou exigência formal que obrigue o psicólogo a escolher uma das abordagens disponíveis. Assim como nas áreas de atuação, o psicólogo graduado está apto a praticar qualquer abordagem teórica.

Esta escolha representa um direcionamento pessoal do psicólogo, que não exclui a possibilidade de estudo ou aplicação de técnicas de diferentes linhas teóricas. No fundo, o que todos querem - tanto o psicólogo quanto o paciente - é conseguir encontrar um caminho comum para a melhora da saúde mental. Por isso, a aliança terapêutica - relação entre terapeuta e paciente - tem uma importância muito grande e é fundamental para qualquer modelo psicoterapêutico.

O que é “Aliança Terapêutica”?

É um conceito universal que caracteriza a relação de trabalho e de confiança entre terapeuta e paciente, comum a todas as abordagens teóricas. Tem grande importância para o bom desenvolvimento do processo psicoterapêutico, pois influencia na formação e manutenção do vínculo, permanência, desfecho e encerramento da psicoterapia.

Agora que já conhecemos as áreas e abordagens da psicologia, é provável que você já tenha se interessado por algum tema que gostaria de estudar. A seguir, apresentaremos algumas opções de curso para você começar a sua trajetória na área!

Onde Encontrar Cursos de Psicologia Online? Veja as Melhores Opções

Uma boa alternativa tanto para estudantes como para profissionais já em atuação são os cursos livres de psicologia à distância. A grande vantagem deste modelo é que costumam ter um valor mais acessível, sendo possível encontrar conteúdo de muita qualidade e em constante atualização.

Confira 5 cursos para você dar os primeiros passos na área:

  • A Tal da Felicidade, por Luiz Hanns

    Entenda os argumentos da psicologia para definir felicidade como um sentimento de realização pessoal e individual, mais próximo do bem estar mental pleno do que da prosperidade material.

  • Freud Fundamental: As Ideias e as Obras, por Pedro de Santi

    O curso oferece uma introdução acessível aos principais conceitos de Sigmund Freud e suas obras, transformando a compreensão dos desejos e dilemas humanos. Ideal tanto para iniciantes quanto para aqueles que já possuem contato com a psicanálise, proporcionando novas reflexões.

  • Uma Introdução Guiada e Descomplicada ao Pensamento de Jung, por Lilian Wurzba:

    O curso oferece uma introdução acessível ao pensamento de Carl Gustav Jung, focando no autoconhecimento e na busca por uma vida mais íntegra. Ele esclarece equívocos comuns sobre suas ideias e acompanha o desenvolvimento de sua psicologia.

  • Quatro Livros para Entender Jung, por Tatiana Paranaguá

    O curso explora quatro obras fundamentais de Carl G. Jung, oferecendo uma introdução aos principais aspectos de seu pensamento e à Psicologia Analítica. As aulas funcionam como um guia para iniciar a jornada pelo vasto trabalho do autor

  • O Sentido da Vida, por Contardo Calligaris.

    Ser plenamente feliz é um objetivo muito buscado pela humanidade, e nos tempos atuais este estado parece ser ainda mais desejado. Neste encontro, o psicanalista Contardo Calligaris discute a obrigação da felicidade, o “morrer bem” e o sentido da vida.

Na plataforma de streaming Casa do Saber +, por uma única assinatura, você tem acesso a diversos cursos livres da área de psicologia , ministrados grandes referências da área, como Christian Dunker, Luiz Hanns, Lilian Wurzba, Ana Suy, Alexandre Patrício, Tatiana Paranaguá, entre tantos outros.

A boa notícia é que com apenas uma assinatura você consegue assistir a mais de 300 cursos de diversas áreas do saber e ainda garantir um certificado de conclusão após finalizá-los . Além de conteúdos sobre psicologia e psicanálise, a plataforma oferece cursos de Filosofia, Artes, Literatura, História, entre tantas outras áreas que ajudam a complementar o conhecimento necessário para a prática da psicologia.

Quanto custa:

R$478,80 (Plano anual) , podendo ser dividido em 12x de R$39,90 ou a R$430,92 à vista (desconto de 10%). Também existe a opção de pagamento à vista via pix ou boleto bancário.

Vantagens:

  • Novos cursos lançados periodicamente
  • Acesso a diversos cursos com professores de referêcia por uma única assinatura
  • Cursos de diferentes abordagens teóricas da psicologia, do introdutório ao especializado
  • Certificado de conclusão


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Perguntas Frequentes

  1. É possível estudar Psicologia online?

    Sim, existem diversas opções de cursos livres, pós-graduações e especializações disponíveis 100% online.
  2. A graduação em Psicologia tem duração de quantos anos?

    A duração é de 5 anos, com no mínimo, 20% (vinte por cento) da carga efetiva global para estágios supervisionados básicos e específicos.
  3. Existe graduação em Psicologia EaD?

    Atualmente, não há graduação em Psicologia totalmente online aprovada pelo MEC, mas há opções semipresenciais.


Agora você já entendeu sobre a impossibilidade de realizar a graduação em psicologia no modelo EAD, conheceu as áreas de atuação da psicologia e abordagens teóricas da área.

Na atualidade, informação é o que não falta… E para facilitar o percurso de aprendizagem , nada como uma boa curadoria de conteúdo.

Por isso, se sentir vontade de explorar mais sobre psicologia e tantas outras áreas do saber a partir de uma proposta criteriosa, cuidadosa e de qualidade, conte com a plataforma da Casa do Saber+!

Esperamos que este conteúdo tenha facilitado a sua caminhada em direção ao conhecimento.






Depressão tem cura? Conheça os sinais e tratamentos
Carolina Tosetti
Depressão tem cura? Conheça os sinais e tratamentos
Você sabe quais são os tipos de depressão? Entenda esse transtorno psíquico desde o diagnóstico psiquiátrico até as profundezas da psicanálise.

Quando fala-se sobre depressão hoje, a realidade aponta que este é um transtorno complexo e cada vez mais comum, que não faz distinção de idade ou status social.

Explore as estatísticas alarmantes no Brasil, entenda as classificações psiquiátricas, os manejos psicanalíticos e a importância do diagnóstico profissional na identificação e tratamento da depressão.

O contexto da depressão na atualidade

A depressão é um transtorno mental ou psíquico que pode atingir qualquer um, independentemente da idade, gênero, etnia ou classe social. Apesar da sua gravidade, muitas pessoas não dão a atenção necessária para a doença, o que pode dificultar o diagnóstico e, consequentemente, o seu tratamento.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil tem a maior taxa de prevalência de depressão da América Latina e a segunda maior nas Américas. A previsão é que, em 2030, a depressão seja a primeira causa específica de incapacidade funcional no mundo.

De maneira geral e simplificada, pela visão psiquiátrica, a depressão é um transtorno biológico que se manifesta em forma de tristeza e angústia. A pessoa deprimida perde o interesse ou prazer em realizar atividades que antes gostava, podendo levar a mudanças bruscas de humor e comportamento, afetando diversas áreas de sua vida.

As alterações repentinas do humor são, inclusive, um dos sintomas mais comuns da doença. Por isso, o acompanhamento profissional se faz essencial para diagnosticar a depressão ou episódios de tristeza prolongados.

imagem de divulgação de masteclass sobre psicopatologias na atualidade com alexandre patrício



A visão da psiquiatria sobre a depressão

Em 1952, a Associação Psiquiátrica Americana (American Psychiatric Association, APA) publicou pela primeira vez o Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, DSM-1), a primeira tentativa de abordar o diagnóstico das doenças mentais por meio de definições e critérios padronizados.

A DSM-5-TR, publicada em 2022, fornece um sistema de classificação que tenta separar as doenças mentais em categorias diagnósticas com base na descrição dos sintomas.

A Classificação Internacional de Doenças, décima-primeira revisão (CID-11), e a mais recente versão publicada pela Organização Mundial da Saúde, utiliza categorias diagnósticas semelhantes às encontradas no DSM-5-TR. Essa semelhança indica que o diagnóstico das doenças mentais específicas está sendo feito de forma mais padronizada em todo o mundo.

A coleta da história clínica, a anamnese e o exame devem observar os critérios da décima primeira versão da Classificação Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde (CID), da Organização Mundial da Saúde.

Nenhum sinal ou sintoma representa propriamente uma patologia. A confecção do diagnóstico da depressão deve levar em conta que os critérios da CID apresentam grau de subjetividade, devendo-se evitar a psicopatologização e a medicalização de sentimentos humanos normais.

Sintomas da depressão: a importância do diagnóstico profissional

O diagnóstico da depressão é feito a partir da avaliação clínica de um profissional com base na persistência, abrangência e interferência que os sintomas apresentam na vida do indivíduo. Segundo o DSM-5-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), os sintomas da depressão incluem:

  • Humor deprimido constante
  • Diminuição do interesse ou prazer em quase todas as atividades
  • Perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta
  • Diminuição ou aumento significativo do apetite
  • Insônia ou sonolência
  • Agitação ou retardo psicomotor
  • Falta de energia, preguiça ou cansaço excessivo
  • Sentimentos de inutilidade, culpa excessiva ou inadequada
  • Diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou indecisão
  • Pensamentos de morte ou suicídio


Para que os sintomas tenham uma relevância clínica, é preciso que se note uma mudança nos pensamentos, sentimentos, comportamento ou na fisiologia, devendo esta ser vivenciada por um período significativo de tempo.

Há regras específicas que indicam quantos sintomas de cada categoria devem estar presentes para se fazer o diagnóstico. Essa complexidade é apenas uma das razões pelas quais um profissional deve ser consultado para diagnosticar a depressão.

Quais são os tipos de depressão?

Um indivíduo que sofre de depressão também pode apresentar sintomas de ansiedade, distúrbios do sono e de apetite e podem demonstrar sentimentos de culpa ou baixa auto-estima, falta de concentração.

Um episódio depressivo pode ser leve, moderado ou grave, a depender da intensidade dos sintomas. Durante um episódio depressivo grave, é pouco provável que a pessoa afetada possa continuar com atividades sociais, de trabalho ou cotidianas. Também pode-se fazer uma diferenciação da depressão em pessoas que têm ou não histórico de episódios de mania.

Episódios de mania envolvem humor exaltado ou irritado, excesso de atividades, pressão de fala, auto-estima inflada e uma menor necessidade de sono, além da aceleração do pensamento. Os tipos de depressão podem ser crônicos (isto é, acontecem durante um período prolongado de tempo), com recaídas, especialmente se não forem identificados e tratados, ou pontuais.

Conheça alguns dos principais tipos de depressão e a sua classificação na CID-11:

  • Transtorno depressivo recorrente | CID-11 6A71: esse distúrbio envolve repetidos episódios depressivos. Durante esses episódios, a pessoa experimenta um humor deprimido, perda de interesse e prazer e energia reduzida, levando a uma diminuição das atividades em geral. Este tipo de sofrimento pode ser longo, duradouro e mais difícil de ser diagnosticado.
  • Transtorno bipolar | CID-11 6A6Z: esse tipo de depressão consiste tipicamente na alternância entre episódios de mania e depressivos, separados por períodos de humor regular.
  • Transtorno depressivo de episódio único | CID-11 6A70: é caracterizado pela presença de um episódio depressivo quando não há histórico de episódios depressivos anteriores.
  • Transtorno distímico | CID-11 6A72: o transtorno distímico é caracterizado por um estado depressivo persistente (isto é, com duração de 2 anos ou mais), durante a maior parte do dia, na maior parte dos dias. Durante os primeiros 2 anos do distúrbio, nunca houve um período de 2 semanas durante o qual o número e a duração dos sintomas foram suficientes para satisfazer os requisitos de diagnóstico para um Episódio Depressivo.
  • Transtorno misto de ansiedade e depressão| CID-11 6A73: o transtorno misto de ansiedade e depressão é caracterizado por sintomas de ansiedade e depressão na maior parte dos dias por um período de duas semanas ou mais. Nenhum conjunto de sintomas, considerado separadamente, é suficientemente grave, numeroso ou persistente para justificar o diagnóstico de um episódio depressivo, distimia ou um distúrbio relacionado à ansiedade e ao medo.
  • Transtorno disfórico pré-menstrual |CID-11 GA34.4: um padrão de sintomas de humor (humor deprimido, irritabilidade), sintomas somáticos (letargia, dor nas articulações, excessos alimentares) ou sintomas cognitivos (dificuldades de concentração, esquecimento) que comece vários dias antes do início da menstruação, e comece a melhorar dentro de alguns dias após o início da menstruação e, em seguida, torne-se mínima ou ausente dentro de aproximadamente 1 semana após o início da menstruação, estando presente na maioria dos ciclos menstruais no último ano.
  • Depressão psicótica: o indivíduo em sofrimento geralmente convive com episódios de delírio e alucinação, em que se somam os sintomas de depressão a alguma forma de psicose. Pode ser considerado um tipo de depressão grave.


O que é depressão para a psicanálise?

No contexto da psicanálise, a partir da obra Luto e Melancolia, Freud (1917) inicialmente considerava a depressão como um fenômeno que envolvia a "diminuição do sentimento de auto-estima" e "expectativas ilusórias de punição". Sua visão inicial era de que as crianças, devido à falta de capacidade de auto-estima e de prever o futuro, não poderiam experimentar a depressão.

Acreditava-se que na adolescência o desenvolvimento da personalidade permitia a vivência da depressão, embora até a década de 1970 alguns estudiosos considerassem os sintomas depressivos como parte normal do desenvolvimento adolescente.

Ao longo do século 20, a compreensão da relação entre eventos na infância e o funcionamento da personalidade no futuro começou a ganhar destaque. Freud propôs que a personalidade de uma criança era amplamente desenvolvida até os cinco anos de idade, sendo influenciada pela maneira como ela se ajustava a experiências precoces. A depressão, para Freud, surgia da resolução inadequada dos conflitos entre impulsos primitivos (id) e a aceitação de tabus sociais pelo superego.

mão encostando na própria sombra sob fraca luz

Numa leitura mais recente, o mal-estar contemporâneo, para o psiquiatra Joel Birman, manifesta-se no corpo, na ação e na intensidade como uma dor difícil de ser simbolizada.

Nesse cenário, a depressão destaca-se como uma forma de subjetivação, refletindo um aumento significativo nos diagnósticos e previsões de uma sociedade predominantemente depressiva.

A contemporaneidade revela a psicanálise como um discurso relevante para entender questões sociais e culturais. As mudanças na estrutura familiar, a crise da paternidade e a ascensão do individualismo na vida pós-moderna contribuem para a proliferação da cultura do narcisismo.

A falta de consenso sobre o termo "depressão" na sociedade atual reflete a dificuldade em lidar com as transformações sociais, econômicas e culturais que afetam a evolução da subjetividade.

Por uma perspectiva psicanalítica, a depressão pode ser considerada uma posição subjetiva diante das demandas sociais que enfatizam o individualismo e a cultura do espetáculo.

O sujeito contemporâneo, sob pressão para buscar a satisfação constante, muitas vezes se vê paralisado, afastado de seu desejo, resistindo às exigências sociais. Assim, a depressão pode ser uma resposta à sociedade que não tolera a falta, a dor e o sofrimento.

Neste contexto, enquanto dispositivo de "cura pela palavra" a psicanálise concebe a escuta do "singular" como importante possibilidade de abertura para as manifestações subjetivas, que podem estar relacionadas às múltiplas expressões sintomáticas, inclusive as depressivas.

Em todos os casos, torna-se essencial o diagnóstico precoce para que o tratamento seja bem sucedido, evitando novos episódios. É fato que a depressão pode aparecer em diversas fases da vida, a começar pela infância.

Depressão na Era Digital
por Ana Suy e Alexandre Patrício

No curso Depressão na Era Digital, os psicanalistas e escritores Ana Suy e Alexandre Patricio de Almeida apresentam uma discussão sobre saúde mental, cultura e sociedade a partir da psicanálise, oferecendo uma imersão nas complexidades do adoecimento psíquico na era atual, em especial sobre o fenômeno da depressão.

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Sintomas e diagnóstico da depressão infantil

Em crianças pré-escolares - de idade até sete anos - a manifestação clínica mais comum é representada pelos sintomas físicos, tais como dores, fadiga e tontura. Ainda segundo o autor, seguem-se além das queixas dos sintomas físicos a presença de ansiedade, fobias, agitação psicomotora ou hiperatividade, irritabilidade, diminuição do apetite com falha em alcançar o peso adequado, e alterações do sono.

Alguns estudiosos citam surgimento de choro excessivo e frequente, comunicação falha, tristeza na fisionomia e um comportamento que apresenta agressividade.

Em crianças escolares - entre seis a doze anos -, o humor depressivo já pode ser verbalizado e é frequentemente relatado como tristeza, irritabilidade ou tédio. As crianças podem apresentar apatia, tristeza, fadiga, isolamento, aparência triste, queda do desempenho escolar, ansiedade diante de uma separação, dentre outros.

Os estudos dedicados à depressão infantil, semelhantes aos adultos, revelam a importância do diagnóstico precoce. A peculiaridade do diagnóstico infantil reside na possibilidade de identificação tardia, agravando a situação.

A depressão infantil pode passar despercebida ou ser confundida com características temperamentais, tornando-se desafiador reconhecê-la. Desde a década de 1970, há consenso de que as crianças apresentam sintomas depressivos semelhantes aos dos adultos, com a irritabilidade assumindo o papel do abatimento no diagnóstico infantil.

15 sinais da depressão infantil

  • Angústia.
  • Pessimismo
  • Agressividade
  • Falta de apetite
  • Falta de prazer em executar atividades
  • Isolamento
  • Apatia
  • Insônia ou sono excessivo que não satisfaz
  • Queixas de dores
  • Sentimentos de desesperança
  • Dificuldade de concentração, atenção memória ou raciocínio
  • Baixa auto-estima e sentimento de inferioridade
  • Sensação frequente de cansaço ou perda de energia
  • Sentimentos de culpa
  • Dificuldade de se afastar da mãe


A depressão em crianças: uma visão da psicanálise

A teoria de Sigmund Freud trouxe uma nova perspectiva sobre as angústias infantis, que se assemelham às vivenciadas na idade adulta. Estudos recentes corroboram a ideia de que, contrariamente a concepções antigas, as crianças experimentam emoções, enfrentam perdas, mudanças e traumas, que podem ter repercussões na vida adulta, tornando-se terrenos férteis para o desenvolvimento da depressão.

Para a psicanálise freudiana, a depressão infantil está relacionada a situações de perdas e luto, impactando diretamente na fase narcísica da criança. A infância, caracterizada pela ainda incompleta constituição psíquica, evidencia a singularidade de como cada criança vivencia e elabora suas perdas, considerando que as histórias de vida são distintas.

banner do curso Melanie Klein e a refundação do eu desenvolvimento psiquico e a teoria das posicoes, do professor Alexandre Patricio, para a Casa do Saber



Psicanálise, psicoterapia e psiquiatria no tratamento da depressão

Pesquisas sobre a depressão de difícil tratamento enfatizam a importância da associação do acompanhamento psiquiátrico ao acompanhamento psicanalítico. Nestes casos graves, nota-se a predominância de derivados de impulsos agressivos nos humores depressivos.

Na clínica psicanalítica destacam-se dois tipos de desprazer: a ansiedade e o afeto depressivo, decorrentes de situações como luto, perdas amorosas ou punições.

Uma leitura psiquiátrica associada ao manejo psicanalítico ressalta que o afeto depressivo desempenha papel equivalente à ansiedade na psicopatologia, sendo uma parte inevitável da vida mental, acionando defesas e conflitos, podendo ser ou não consciente em um dado compromisso.

Aqui os transtornos depressivos são definidos como a "sensação de impotência e desesperança diante da realização de um desejo intenso", colorindo toda a auto-representação com sentimentos de inferioridade, incapacidade e ameaça.

Grandes autores da psicanálise, como Melanie Klein, criaram conceitos e formas de compreensão das manifestações do transtorno depressivo. Aprofunde-se no tema da depressão com a Masterclass do professor e psicanalista Alexandre Patricio de Almeida dedicada às psicopatologias atuais.



Como vencer a depressão?

O acolhimento das pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo depressão e as necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, e seus familiares é fundamental para a identificação das necessidades assistenciais, alívio do sofrimento e planejamento de intervenções medicamentosas e terapêuticas, se e quando necessárias.

No Brasil, além de contar com a disponibilidade de consultórios e clínicas particulares, os indivíduos em situações de crise podem ser atendidos em qualquer serviço da rede pública de saúde.

Os casos de pacientes em situação de emergência devem ser atendidos nos serviços de urgência e emergência e nos serviços da RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) é composta por equipamentos variados, em sua maioria guiados por princípios de cuidado comunitário e em liberdade, tais como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), os Centros de Convivência e Cultura e as Unidade de Acolhimento (UAs). As diretrizes da política envolvem o governo federal e os estados e municípios.






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Ansiedade: Sintomas, Causas, Crise de Ansiedade e Transtornos
Xavana Celesnah
Ansiedade: Sintomas, Causas, Crise de Ansiedade e Transtornos
Saiba o que é ansiedade, crise de pânico e transtornos relacionados. O tratamento da ansiedade com psicólogo e psiquiatra e a melhora da saúde mental

A ansiedade é uma emoção humana universal caracterizada por sentimentos de preocupação, medo e apreensão, geralmente despertados em situações de incerteza ou pressão. Todos nós a experimentamos em algum momento. Em si, ela não é uma doença.

Apesar de ser uma reação natural e muitas vezes útil, que nos prepara para enfrentar desafios, a ansiedade pode se tornar um problema quando ganha proporções excessivas e se transforma em um transtorno, passando a interferir no cotidiano, afetando o sono, o humor e as relações interpessoais.

Os casos de sofrimento psíquico, exigem cuidado especializado. Assim como todos os problemas de saúde mental, os transtornos de ansiedade precisam ser tratados com mais naturalidade, retirando-se o preconceito e o estigma tão culturalmente arraigados em relação a tudo o que diz respeito às questões de ordem emocional.

O Que é Ansiedade?

A ansiedade é uma reação emocional do corpo diante de situações que envolvem incerteza ou perigo. De acordo com o psiquiatra Rodrigo Bressan, “nosso corpo, através dos sistemas nervosos autônomo e simpático, está preparado para situações de luta ou fuga”, por possuir um mecanismo biológico capaz de lidar com situações de perigo. Mas, existem contextos de estresse que ultrapassam a capacidade de regulação emocional do corpo, fazendo com que as pessoas saiam do eixo e causando diversos problemas de saúde mental, como os transtornos de ansiedade.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os transtornos de ansiedade são os transtornos mentais mais comuns do mundo e afetaram aproximadamente 301 milhões de pessoas em 2019, o que corresponde a cerca de 4% da população mundial. Ainda segundo a OMS, as mulheres são mais afetadas por este tipo de transtorno do que os homens e os sintomas começam a surgir na infância e na adolescência.

Os transtornos de ansiedade, além de provocarem sofrimento, interferem de forma significativa nas atividades cotidianas, causando grande impacto no nível de incapacitação da nossa sociedade. Quando não tratados, esses sintomas podem persistir por anos, impactando ainda mais na saúde mental e emocional do indivíduo.

A boa notícia é que grande parte dos transtornos mentais, como os de ansiedade, são tratáveis e existem terapias e intervenções altamente eficazes, como a psicoterapia e o uso de medicamentos, que podem ajudar a controlar os sintomas e permitir que a pessoa recupere o bem estar e a qualidade de vida.

Apesar da alta prevalência e do impacto significativo desses transtornos, estima-se que apenas 1 em cada 4 pessoas com os sintomas busque tratamento. A falta de conscientização sobre a natureza tratável da condição, o baixo investimento público em serviços de saúde mental, a falta de profissionais de saúde qualificados para este tipo de atendimento e o estigma social em torno do tema são algumas das barreiras que dificultam o acesso a um tratamento adequado, segundo a OMS.

A conectividade moderna tem um impacto direto na nossa saúde mental. Acordar, checar notificações, rolar feeds infinitos, adiar o sono... Isso soa familiar? Se sim, é hora de refletir sobre como as redes sociais podem estar afetando o seu equilíbrio emocional.

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Sintomas de Ansiedade

Os sintomas de ansiedade podem variar de pessoa para pessoa, mas geralmente incluem manifestações físicas e emocionais. É importante entender que a ansiedade não é um fenômeno exclusivamente psicológico. Ela também afeta o corpo e muitas pessoas com transtornos de ansiedade experimentam uma série de sintomas físicos que podem ser tão intensos ao ponto de se confundirem com outros problemas de saúde. Assim, os transtornos de ansiedade podem provocar sintomas físicos, emocionais e comportamentais.

Sintomas Físicos da Ansiedade

Os sintomas físicos mais recorrentes dos transtornos de ansiedade incluem:

  • Tensão muscular: A musculatura do corpo, especialmente nas regiões do pescoço, ombros e mandíbula, tende a se contrair, causando desconforto.
  • Taquicardia: O aumento da frequência cardíaca é o sintoma clássico da ansiedade. As palpitações e a sensação de coração acelerado são muito frequentes.
  • Falta de ar: A dificuldade para respirar ou "respiração curta" é recorrente em episódios de ansiedade, especialmente durante ataques de pânico.
  • Suor excessivo: Suor demasiado, especialmente nas palmas das mãos, axilas ou testa, mesmo em situações sem estresse imediato.
  • Tremores nas mãos: O nervosismo pode causar tremores involuntários nas mãos ou até mesmo em outras partes do corpo
  • Boca seca: A ansiedade pode diminuir a produção de saliva, resultando em boca seca e desconforto.
  • Dores no peito: O estresse físico pode provocar dores no peito ou uma sensação de pressão, frequentemente confundida com problemas cardíacos.
  • Náuseas e desconforto abdominal: O estômago e o sistema digestivo podem reagir de maneira exacerbada ao estresse, causando náuseas, cólicas ou diarreia.


Sintomas Emocionais e Psicológicos da Ansiedade

Os transtornos de ansiedade, além de causarem sintomas físicos, manifestam-se no emocional do indivíduo, afetando o seu bem-estar e a qualidade dos seus relacionamentos. Dentre os sintomas psicológicos da ansiedade, as pessoas experimentam:

  • Preocupação excessiva: A mente fica sem paz, devido à preocupação permanente com todas as atividades cotidianas. Tarefas do trabalho, problemas familiares, atividades pessoais, tudo está sendo processado com muita velocidade e os pensamentos estão sempre direcionados à próxima atividade que deve ser realizada, retirando o indivíduo do presente. Nesses casos, a meditação mindfulness pode auxiliar como uma terapia complementar e trazer a mente de volta ao presente.
  • Medo iminente: A sensação angustiante de que algo terrível pode acontecer a qualquer momento é outro sintoma comum. Esse medo pode não ter um motivo claro, mas também pode estar associado a algum evento na vida do indivíduo, como uma viagem, uma apresentação importante, algum evento social.
  • Irritabilidade: Pessoas ansiosas tendem a se tornar mais irritadas e impacientes, agindo de maneira ríspida no cotidiano.
  • Dificuldade de concentração: Como a mente está repleta de pensamentos voltados para o futuro, é comum que haja uma dificuldade de concentração em tarefas do dia a dia. Esse fator é particularmente prejudicial à produtividade, afetando o indivíduo no trabalho.
  • Nervosismo ou inquietação: As pessoas tendem a se sentir em alerta constante, sem relaxar. Daí a sensação de inquietude, pois vivem como se estivessem prestes a ter uma crise a qualquer momento.




Sintomas Comportamentais da Ansiedade

Todos os sintomas da ansiedade estão interligados, mas de maneira didática eles são divididos nesses três tipos: físicos, emocionais e comportamentais. Em relação ao comportamento, os indivíduos acometidos com o transtorno podem começar a adotar certos padrões com o desejo de evitar o desconforto da ansiedade. Veja exemplos de como a ansiedade afeta o comportamento:

  • Dificuldade para dormir (insônia): As pessoas com transtornos de ansiedade geralmente têm dificuldades para relaxar e adormecer. A mente hiperativa, cheia de preocupações, impede o descanso adequado.
  • Isolamento: Uma das respostas mais comuns à ansiedade é evitar situações que possam desencadear medo ou desconforto. Assim, alguém com transtorno de ansiedade pode evitar encontros sociais ou eventos públicos.
  • Procrastinação: A ansiedade provoca dificuldade de tomada de decisões e acaba deixando as pessoas sem realizar suas atividades. O medo do fracasso é outro motivo que gera a procrastinação.
  • Comportamentos de fuga: Em alguns casos, a pessoa pode buscar formas de "escapar" da ansiedade, como o abuso de substâncias.


O que é uma Crise de Ansiedade?

Uma crise de ansiedade é um episódio intenso e súbito em que os sintomas de ansiedade atingem um pico, causando grande desconforto e aflição. Geralmente, essas crises estão relacionadas a eventos estressantes. Elas costumam ter uma duração limitada, por volta de 30 minutos, mas podem deixar a pessoa com uma sensação de cansaço extremo ou vulnerabilidade quando passam.

Durante uma crise de ansiedade, a pessoa normalmente vivencia sintomas emocionais e físicos. Entre os sintomas psicológicos estão: sensação de medo, angústia, nervosismo, apreensão, sensação de estar fora de si mesma e de que o mundo ao redor não é real. A mente tende a se concentrar nas piores possibilidades, com o medo iminente de perder o controle ou até mesmo de morrer.

Já os sintomas físicos são consequência da liberação de hormônios como o cortisol e a adrenalina, que são ativados pelo sistema nervoso simpático em situações de estresse. Eles podem incluir:

  • Aceleração do batimento cardíaco e palpitações
  • Sensação de sufocamento ou falta de ar
  • Tontura e sensação de desmaio
  • Formigamento nas extremidades
  • Aumento da pressão arterial
  • Suor excessivo, boca seca, mãos geladas e pele fria
  • Náuseas, podendo até levar ao vômito
  • Vontade frequente de urinar


Durante uma crise, as pessoas sentem dificuldade em realizar tarefas cotidianas, e ficam incapazes de retomar a normalidade até que o episódio termine. Existem tratamentos eficazes para as crises de ansiedade, que podem ser feitos através de atendimentos psicológicos. Além disso, as técnicas de relaxamento e atenção plena podem reduzir os sintomas do transtorno.

Diferença entre Crise de Ansiedade e Crise de Pânico

A crise de pânico é um tipo específico de ataque de ansiedade e ambos possuem sintomas semelhantes. O que costuma diferenciá-los é a causa. A crise de pânico normalmente ocorre sem um motivo identificável, sem uma causa óbvia e costuma ser acompanhada de um medo súbito de morrer.

Uma crise de pânico, pode ocorrer de forma inesperada, sem qualquer aviso, e se caracteriza por ser extremamente aterrorizante.

Já a crise de ansiedade é desencadeada por algum estímulo estressante específico. A síndrome do pânico, por sua vez, é a recorrência de ataques de pânico, que acontecem com frequência e de forma imprevisível.

Os sintomas da crise de pânico incluem:

  • Aumento súbito do batimento cardíaco
  • Dificuldade para respirar ou sensação de sufocamento
  • Suor excessivo, calafrios ou tremores
  • Sensação de morte iminente ou perda de controle


Embora assustadoras, as crises de pânico geralmente não apresentam risco físico imediato. No entanto, quando são recorrentes, elas podem levar ao desenvolvimento de um transtorno de pânico, que prejudica significativamente a qualidade de vida da pessoa.

Tipos de Transtornos de Ansiedade

Pela visão da psiquiatria, os transtornos de ansiedade podem se manifestar de várias formas e cada tipo tem características específicas que afetam a vida cotidiana de maneira distinta. Os transtornos mais comuns incluem o transtorno de ansiedade generalizada (TAG), o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), a fobia social e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Veja a seguir os principais tipos de transtornos de ansiedade, com suas particularidades e sintomas típicos.

TIPOS DE TRANSTORNO DE ANSIEDADE SINTOMAS
Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) É caracterizado por preocupações persistentes e exageradas com as situações do cotidiano. As pessoas com esse tipo de transtorno se sentem ansiosas em relação ao trabalho, à saúde, aos relacionamentos, às finanças. Ou seja, o medo abrange basicamente todos os aspectos da vida e causa um forte desgaste emocional e físico no indivíduo.
Transtorno de Pânico É identificado quando a pessoa tem o histórico de vários episódios de ataque de pânico. A sensação de perda de controle, falta de ar, desespero, medo da morte são constantes.
Transtorno de Ansiedade Social (Fobia Social) Diz respeito a um medo de ser julgado, rejeitado ou humilhado em situações sociais. Ademais, a pessoa com fobia social tem pavor de apresentações em público ou reuniões. É um transtorno que prejudica as relações interpessoais e o desenvolvimento profissional.
Agorafobia É um transtorno relacionado ao medo de estar em lugares desconhecidos ou onde o indivíduo sente que não tem o controle sobre a situação. O medo de não conseguir escapar ou de não conseguir obter ajuda limitam o deslocamento de quem tem esse tipo de transtorno. Viajar de ônibus ou avião, estar em espaços fechados, como cinemas, lojas, ou mesmo no transporte público podem ser extremamente difíceis para quem tem agorafobia.
Fobias Específicas São medos irracionais e intensos de objetos ou situações específicas, como medo de voar, de aranhas, de cobras, de locais fechados ou de altura. Esses medos podem ser tão paralisantes que a pessoa afetada fará o possível para evitar enfrentar a situação ou objeto temido. Apesar de serem inconscientes, essas fobias podem gerar grande sofrimento emocional e interferir nas atividades diárias.
Mutismo Seletivo É um transtorno que afeta principalmente crianças e é mais comum em meninas. Caracteriza-se pela incapacidade de falar em determinadas situações sociais. As crianças com mutismo seletivo têm dificuldade em interagir fora do seu círculo familiar próximo, atrapalhando sua adaptação escolar e social.
Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) Ocorre após a pessoa viver uma situação traumatizante, como um acidente grave, um abuso ou violência. Ela se manifesta através de flashbacks, pesadelos e uma sensação de alerta. A pessoa fica revivendo o trauma e tende a evitar lugares e atividades que lembrem o evento traumático.
Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) Envolve a presença de pensamentos repetitivos: ideias, imagens ou impulsos que surgem de forma repetitiva e incontrolável. Para aliviar a ansiedade causada por esses pensamentos, a pessoa pode desenvolver comportamentos compulsivos, como lavar as mãos repetidamente, verificar várias vezes se a porta está trancada ou realizar constantes rituais de organização.



Vivemos em uma cultura que proporciona o desenvolvimento da ansiedade. Estamos sempre consumidos com as próximas tarefas que precisam ser realizadas e existe uma competitividade extrema por desempenho. Nesse sentido, mesmo que não ocorram fatores estressantes diretos, é possível que as pessoas desenvolvam algum transtorno de ansiedade devido ao estilo de vida que levam.

Além disso, a ansiedade pode ser causada por relacionamentos abusivos, ambientes familiares e profissionais tóxicos, traumas e estresse crônico. O histórico familiar também pode aumentar as chances de desenvolver o problema.

Relação entre Ansiedade e Depressão

É comum a coexistência da ansiedade com a depressão em uma mesma pessoa. Os sintomas de um transtorno acabam agravando os do outro, gerando um ciclo vicioso. Transtornos de ansiedade podem causar uma preocupação intensa em relação ao futuro que acabam gerando uma descrença no próprio potencial.

Além disso, pessoas deprimidas podem tentar usar substâncias como uma forma de anestesiar suas dores e acabam desenvolvendo crises de ansiedade devido ao consumo de drogas.

Psicólogo ou Psiquiatra: Quando Consultar Cada Um?

A escolha entre consultar um psicólogo ou um psiquiatra depende das necessidades e características de cada caso. Ambos os profissionais têm papeis complementares, mas com enfoques diferentes no tratamento da ansiedade.

  • Psicólogo: O psicólogo trabalha com o paciente para explorar e compreender as causas emocionais e comportamentais da ansiedade. Ele pode utilizar diversas abordagens terapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que foca em identificar e modificar padrões de pensamento disfuncionais que alimentam a ansiedade.
  • Psiquiatra: O psiquiatra, por sua vez, tem a capacitação necessária para diagnosticar transtornos mentais e, quando necessário, prescrever medicamentos, como antidepressivos ou ansiolíticos, para controlar os sintomas da ansiedade. Embora os psiquiatras também realizem sessões de psicoterapia, sua especialização é focada no tratamento medicamentoso e no diagnóstico de condições relacionadas a outros transtornos de saúde mental, como depressão, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ou transtornos de pânico.


A Psicanálise e o Tratamento da Ansiedade

A análise pessoal, por meio da psicanálise, também é eficaz no tratamento dos transtornos de ansiedade, pois trata a questão a partir do inconsciente. De acordo com a psicanálise, existe uma parte da mente humana que armazena conteúdos que o sujeito não consegue perceber conscientemente. Isso ocorre, dentre outros aspectos, porque esses elementos podem entrar em conflito com a imagem que a pessoa construiu a respeito de si mesma.

Para a psicanálise, a ansiedade excessiva ou patológica está frequentemente associada a esses conteúdos inconscientes. Em vez de ver os eventos estressores como a causa direta da ansiedade, a psicanálise considera que eles funcionam como gatilhos, que desencadeiam reações emocionais intensas. Esses gatilhos, na verdade, estão relacionados a experiências ou conflitos reprimidos no inconsciente, que ainda não foram processados.

Nesse sentido, a psicanálise entende que grande parte de nossas questões e conflitos mais profundos estão guardados no inconsciente, e, por isso, somos incapazes de reconhecê-los por conta própria. Isso é mais evidente ainda em relação aos traumas e emoções reprimidos durante a infância ou adolescência, que, mais tarde, podem se manifestar como sintomas de ansiedade na vida adulta.

O trabalho do psicanalista é ajudar o paciente a perceber que a situação imediata, que ele acredita ser a causa da ansiedade, é apenas um gatilho que ativa questões mais profundas e inconscientes. Durante a análise, por meio do discurso, o paciente passa a trazer suas questões e o psicanalista o ajuda a elaborar essas conexões.

Esse processo gradual permite que o paciente entre em contato com os conteúdos reprimidos do inconsciente, os reconheça e, ao fazer isso, reduza a sua ansiedade e insegurança. Portanto, pessoas que sofrem de ansiedade podem se beneficiar significativamente de um tratamento baseado nos princípios da psicanálise.

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Como tratar a ansiedade?

O tratamento para os transtornos de ansiedade é eficaz e pode ser realizado por meio de diferentes abordagens, incluindo terapias, o processo de análise, intervenções medicamentosas orientadas por um psiquiatra e mudanças no estilo de vida. O sucesso do tratamento depende não apenas das intervenções, mas também da qualidade da relação entre o paciente e o profissional de saúde.

A confiança e o vínculo terapêutico são fundamentais, pois ajudam no processo de autoconhecimento, essencial para o enfrentamento da ansiedade. Como explica o Dr. Rodrigo Bressan, “se a gente entende como a gente funciona, é mais fácil se autorregular emocionalmente e estabelecer estratégias de superação”. Isso significa que, quanto mais uma pessoa compreende seus próprios mecanismos emocionais, mais preparada ela estará para lidar com situações estressantes.

Perguntas Frequentes sobre Ansiedade

Pergunta 1: Ansiedade tem cura?

Sim, já existem vários tratamentos eficazes para os transtornos de ansiedade, que incluem intervenções e tratamentos psicológicos, psicanálise, medicamentos e técnicas de mindfulness. Pessoas com sintomas de ansiedade devem procurar atendimento, além de aliar a prática de exercícios físicos regulares e uma alimentação saudável.

Pergunta 2: Quais são os tratamentos disponíveis para a ansiedade?

Os tratamentos mais comuns incluem psicoterapia, medicamentos (como ansiolíticos e antidepressivos) e técnicas específicas, como a prática de mindfulness e a gestão do estresse.

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Filosofia
Racionalismo: conceitos, filósofos e principais ideais
Paula Delgado
Racionalismo: conceitos, filósofos e principais ideais
Racionalismo é a corrente filosófica que valoriza a razão como fonte do conhecimento. Conheça as ideias de Descartes, Spinoza e Leibniz.

Você já parou para pensar de onde vem o nosso conhecimento? Para o racionalismo, a resposta está dentro de nós: a razão.

O racionalismo é um marco na história do pensamento, porque introduziu na filosofia a razão como principal fonte do conhecimento, buscando encontrar um método confiável que leve ao conhecimento verdadeiro.

Pensadores como Descartes, Spinoza e Leibniz são pilares desse pensamento. Neste texto, além de conhecer as ideias desses filósofos racionalistas, você vai entender o que é essa corrente filosófica.

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Principais ideias racionalistas

O Racionalismo representa uma virada na história da filosofia moderna, pois defende que certas verdades são inerentes à existência humana ou podem ser alcançadas a partir do uso da razão, sem depender dos sentidos.

Portanto, não dependemos exclusivamente da experiência sensível para conhecer o mundo. A razão, parte central da compreensão da realidade, é capaz de revelar princípios universais.

Também se destaca o esforço do pensamento racionalista para se alcançar uma verdade lógica, aquela que é clara e universal.

O conceito de verdade lógica, apesar de ter algumas incertezas quanto à origem do termo, é algo relevante para esta corrente, porque uma verdade lógica é aquela que é verdadeira independente dos fatores externos (empíricos ou observacionais), porque ela segue uma estrutura lógica.

O Racionalismo se sustenta a partir de argumentos que seguem regras e não dependem da variação da interpretação do mundo sensível.

Outro ponto fundamental para essa escola é a busca por certeza. Para que o conhecimento verdadeiro seja claro, os racionalistas desenvolveram métodos rigorosos de pensamento, como a dúvida metódica – você vai entender este conceito adiante.

Resumindo: o Racionalismo é uma corrente filosófica que coloca a razão como a principal fonte do conhecimento verdadeiro. Entretanto, para alcançá-lo, é necessário encarar a dúvida tendo como ferramenta de compreensão o pensamento racional e lógico.


Filósofos do racionalismo: Descartes, Spinoza e Leibniz

Como foi dito anteriormente, alguns dos principais filósofos racionalistas são René Descartes, Baruch Spinoza e Gottfried Wilhelm Leibniz. Conheça os pontos essenciais de cada pensador:

René Descartes



René Descartes (1596-1650) é considerado o pai do Racionalismo moderno. O ponto-chave de seu pensamento foi elaborar um fundamento seguro para o conhecimento verdadeiro, isto é, algo que não pudesse ser colocado em dúvida.

Para isso, desenvolveu a dúvida metódica: um modelo no qual se deve duvidar de tudo o que não seja absolutamente correto.

Segundo Descartes, a dúvida é necessária porque é a partir dela que todo o conhecimento inato pode ser testado. E com base nessa reflexão sobre a dúvida é que é possível descobrir as verdades ou argumentos falsos.

Então pode-se dizer que o indivíduo, ao duvidar, está pensando, o que torna possível a comprovação de sua existência. Daí vem a famosa frase da conclusão do argumento do cogito (do latim, penso):

“Penso, logo existo.”

Descartes acreditava que a razão humana é capaz de alcançar verdades universais, desde que siga um método rigoroso.

Por exemplo, a matemática é uma ciência exata porque, com base em regras bem definidas, obtém-se um conhecimento sólido e estruturado. E é essa certeza que os racionalistas buscam.

De acordo com René Descartes, a falta de método ao pensar é que leva aos erros. Ele propunha usar a razão ordenada, separando os problemas dos pontos mais simples para os mais complexos.

A questão central em sua filosofia é que existem ideias inatas, ou seja, verdades que já nascem com a mente humana, independentemente da experiência sensível, como a noção de Deus e da perfeição.

Para ele, Deus era uma ideia inerente ao homem e somente um ser perfeito, como Deus, poderia tê-la colocado lá, portanto, provando a existência de Deus.

Em suma, o Racionalismo cartesiano valorizava a autonomia da razão, o pensamento racional e acreditava que, ao usarmos bem a razão, podemos construir um conhecimento seguro.

Baruch Spinoza



Baruch Spinoza (1632-1677) pode ser considerado o filósofo mais radical do começo do período moderno.

Inovador em suas ideias, ele combinou razão, natureza e espiritualidade com ideias originais que fundamentaram uma filosofia moral focada na compreensão racional das paixões, que levaria o homem à virtude e à felicidade.

Spinoza entendia Deus como uma substância infinita, ou seja, uma substância formada por uma infinidade de atributos que expressam uma essência infinita e eterna.

Ele propôs que tudo o que existe é expressão de uma única realidade infinita: Deus ou a natureza (Deus sive Natura). Com isso, ele quis dizer que o mundo não está separado de Deus, porque tudo segue uma ordem racional e necessária.

Spinoza acreditava que a liberdade verdadeira não está em agir de forma impulsiva, mas, sim, na compreensão das causas que nos movem.

Dessa forma, a razão nos liberta ao mostrar que somos parte de um todo regido por leis eternas. Quando entendemos isso, deixamos de sofrer por coisas que não podemos controlar e passamos a viver com mais equilíbrio.

“A emoção que nasce da razão é mais forte do que aquela que nasce do acaso.”


Ele também defendia que o conhecimento pode ser dividido em três níveis:

  • experiência vaga (baseada nos sentidos);
  • razão (que vê relações necessárias);
  • intuição (que capta a essência das coisas).


Segundo Spinoza, quanto mais longe chegamos nesses níveis, mais próximos estamos da felicidade e da liberdade. Para Spinoza, pensar racionalmente era o caminho para viver em harmonia com o mundo.


Gottfried Leibniz



Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) é um dos nomes mais peculiares do racionalismo. Um crítico de Descartes e Spinoza, ficou conhecido por sua contribuição nos campos da lógica e da linguagem.

Leibniz acreditava que todo o conhecimento verdadeiro vem da razão, que atua sobre as ideias inatas presentes na mente humana.

Contudo, para ele, perceber (percepção sensível) e pensar fazem parte do mesmo processo racional, só que em níveis diferentes de clareza. Pois perceber é uma noção mais vaga do que o pensamento.

Leibniz dizia que as verdades a priori podem ser descobertas através da lógica, como é feito na matemática. Porém, a mente humana é limitada e, por isso, nem sempre consegue perceber que todas as verdades são analíticas. Mas Deus, encarado como unidade infinita, conseguiria.

Ele afirmava que uma linguagem simbólica, que seguisse uma lógica como a da matemática, poderia verificar se uma ideia é verdadeira.

Apesar da ideia de que a mente humana é limitada, ele defendia que a mente humana possui estruturas próprias que permitem o indivíduo compreender verdades universais.

Para ele, a realidade é composta por mônadas, unidades dinâmicas e autocontidas, que refletem o universo de forma única. Cada mônada funciona como um espelho do todo e tudo está interligado por uma ordem racional.

Leibniz acreditava que nada é por acaso. Toda existência tem uma razão suficiente, uma explicação racional de por que é como é. É isso que sustenta a ideia de que Deus, sendo uma unidade perfeita, escolheu o melhor mundo entre os possíveis para existir e para existirmos.

“Nada acontece sem razão suficiente.”

Sua filosofia buscava integrar razão e metafísica, ciência e lógica, mostrando que a realidade pode ser explicada por leis lógicas e claras.


Racionalismo x Empirismo: qual a diferença?

O racionalismo e o empirismo nasceram no mesmo período filosófico e dialogam quanto ao fato de que ambos buscam compreender a origem do conhecimento e como alcançá-lo.

Entretanto, eles se diferem quanto à fonte dos conceitos e do conhecimento. Enquanto o racionalismo se baseia na razão, o empirismo se volta para a experiência sensorial.

Contudo, os racionalistas reconhecem que os sentidos podem interferir no processo de construção do conhecimento, mas consideram a razão a fonte principal.

Desta forma, organizam um raciocínio lógico, no qual (1) prioriza-se o conhecimento em relação à experiência sensorial e (2) a razão é vista como a fonte de verdades universais. Porém, o indivíduo não está isento da interferência dos sentidos.

Já o empirismo apresenta uma abordagem diferente para a construção do conhecimento, fundamentando-se exclusivamente na experiência sensorial.

Os empiristas explicam que a experiência sensorial fornece as informações que os racionalistas atribuem à razão. Embora critiquem a visão racionalista de que a razão é a principal fonte de conhecimento, mostram que a reflexão pode preencher algumas lacunas.

Ou seja, para os empiristas, somos como uma folha em branco (tabula rasa) aprende a partir daquilo que vivemos e experimentamos do mundo (experiências sensoriais).

Característica Racionalismo Empirismo
Fonte do conhecimento Razão Experiência
Ideias inatas Confirma Nega
Modelo do conhecimento Matemático Aprendizagem
Existência do conhecimento A priori A posteriori
Frase “Penso, logo existo” - Descartes “Nada existe na mente sem antes passar pelos sentidos” - Locke


As duas correntes filosóficas - racionalismo e empirismo - ajudaram a construir a filosofia moderna. Entender o que as diferencia é fundamental e para entender melhor sobre o que é e como compreendemos a realidade.

Críticas ao racionalismo e limites da razão

Apesar de sua grande influência nas ciências e no empirismo, o racionalismo enfrentou críticas dos filósofos empiristas, como John Locke e Thomas Hobbes.

Eles questionavam a premissa de que o conhecimento nasce apenas da razão que, para eles, vem da experiência sensível. Esse embate de ideias entre racionalismo e empirismo marcou profundamente a filosofia moderna.

Contudo, Immanuel Kant foi fundamental para equilibrar essa tensão. Uma vez que reconheceu que ambas as correntes contribuíram para o desenvolvimento do pensamento filosófico, ele conseguiu integrar os dois ramos do conhecimento.

Segundo Kant, o conhecimento começa com a experiência, mas não se restringe a ela, porque as estruturas mentais inatas são o que organizam o que percebemos do mundo externo,

Ainda de acordo com a filosofia kantiana, a razão é limitada e não consegue acessar a “coisa em si” (realidade absoluta), apenas como ela se apresenta para o ser humano.

Assim, esse embate de ideias entre racionalismo e empirismo fez com que os racionalistas reconhecessem que a razão sozinha não é suficiente para compreender a verdade, o que permitiu o surgimento de abordagens mais equilibradas.


Críticas ao racionalismo e limites da razão

O racionalismo foi um dos pilares do pensamento moderno e teve grande influência no movimento iluminista, que se caracteriza pela valorização da razão, da ciência e rompeu com o absolutismo e com o pensamento religioso da época.

Quando o racionalismo colocou a razão como principal fonte de conhecimento, deu lugar a uma forma de pensar baseada na lógica, na razão e na busca por verdades universais.

O racionalismo não tinha intenção de eliminar a fé ou os sentimentos, mas propôs que o mundo poderia ser compreendido por meio da razão.

O surgimento do método racional possibilitou buscar explicações naturais para os fenômenos, em vez de aceitar explicações baseadas na tradição ou na religião.

O método da dúvida proposto por Descartes diz que o filósofo deve duvidar de tudo aquilo que se diz verdadeiro. Assim, nenhuma autoridade, senão a razão, pode ser confiável, a não ser que se submeta ao questionamento cético.

A partir disso, fortaleceu-se a confiança na razão, que inspirou a sociedade da época e contribuiu com o desenvolvimento da ciência moderna.

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A importância do racionalismo na modernidade e no iluminismo

Racionalismo e razão são palavras que estão intrinsecamente ligadas e entender isso ajuda a compreender o que é essa corrente filosófica e as bases da filosofia moderna.

A valorização da razão propiciou o surgimento de ideias fundamentais como lógica, método científico e dúvida metódica, conceitos fundamentais para a ciência da atualidade.

Apesar de suas limitações, o racionalismo nos ajuda a pensar com clareza, tomar decisões conscientes e equilibrar razão e emoção no cotidiano.

Em um mundo tão cheio de “verdades”, ser capaz de refletir racionalmente sobre tudo aquilo que nos cerca é um caminho para conhecer melhor a realidade, a nós mesmos e toda a história e o legado que moldaram o mundo em que vivemos.

Esperamos que este texto tenha te ajudado a compreender o que é racionalismo e as principais ideias dos filósofos desse pensamento. Se você quiser ir mais fundo no universo da filosofia, tenha acesso aos nossos cursos clicando aqui.

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Referência

STANFORD ENCYCLOPEDIA OF PHILOSOPHY. Leibniz.

STANFORD ENCYCLOPEDIA OF PHILOSOPHY. Rationalism vs. Empiricism.

STANFORD ENCYCLOPEDIA OF PHILOSOPHY. Enlightenment.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein.

Budismo: Buda, religião do nirvana, Karma significado espiritual
Xavana Celesnah
Budismo: Buda, religião do nirvana, Karma significado espiritual
Budismo: o que é, origem, símbolo do budismo, suástica budista, frases de buda, significado de Karma e dharma, Siddhartha Gautama na Índia

O budismo é a quarta maior religião do mundo, com cerca de 525 milhões de adeptos, número que representa 7,1% da população mundial, de acordo com dados da PEW Research Center de 2021. O surgimento do budismo se deu na Índia, no século VI a.C., através do príncipe Siddhartha Gautama, o Buda. É uma das religiões mais antigas do mundo e uma de suas principais características é o fato de ser uma religião não teísta, ou seja, não acredita na existência de um Deus ou um Criador supremo.

Neste artigo, vamos explicar o que é o budismo, quais são os principais ensinamentos e práticas budistas e destacar conceitos centrais da religião, como o nirvana e o Karma.

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O que é Budismo?

O budismo é uma religião que surgiu no século VI a.C., na Índia, a partir dos ensinamentos do príncipe Siddhartha Gautama, que ficou conhecido como Buda, ou o iluminado. Ao longo dos séculos, o budismo se espalhou por diversos países da Ásia, como Japão, China, Tibete e o Sudeste Asiático, onde foi adaptado às diferentes culturas e contextos locais. Hoje, o budismo continua sendo uma das principais religiões do mundo, com uma rica tradição de ensinamentos espirituais, práticas meditativas e uma filosofia da religião que abrange todos os aspectos da vida humana.

O budismo não se concentra na adoração de um deus criador, como em muitas religiões monoteístas, mas se fundamenta nos ensinamentos de Buda sobre a natureza do sofrimento e como superá-lo. Buda, um príncipe que renunciou a uma vida de luxo e conforto para buscar respostas para as questões existenciais e o sofrimento humano, alcançou a iluminação após uma jornada de práticas ascéticas e profunda meditação.

Seus ensinamentos oferecem um caminho para a liberação do sofrimento, conhecido como nirvana, e orientam seus seguidores a cultivarem compaixão, sabedoria e renúncia aos desejos. O budismo é, assim, uma religião que busca transformar a mente e a vida do indivíduo, guiando-o em direção à paz interior e à liberdade do ciclo de renascimento e morte, conhecido como samsara.

As Quatro Nobres Verdades Budistas

O budismo é estruturado em torno das Quatro Nobres Verdades, que fornecem a base para entender a natureza do sofrimento e o caminho para superá-lo. Essas verdades foram ensinadas por Buda como uma maneira de ajudar os seres humanos a transcender as dificuldades da vida. Elas formam a essência do Caminho Óctuplo, um guia prático para alcançar a iluminação e a libertação do sofrimento. A seguir, estão as Quatro Nobres Verdades:

  1. A Verdade do Sofrimento (Dukkha) – O sofrimento é uma parte inevitável da vida humana. Ele se manifesta de várias formas, como dor física, emoções negativas, frustração e insatisfação, decorrentes da impermanência da vida e do ciclo de nascimento, morte e renascimento (samsara).
  2. A Verdade da Causa do Sofrimento (Samudaya) – A causa do sofrimento é o desejo, que se refere ao apego aos prazeres mundanos, às expectativas e às ilusões. Esse desejo gera avidez, aversão e ignorância, perpetuando o ciclo de sofrimento.
  3. A Verdade da Cessação do Sofrimento (Nirodha) – O sofrimento pode ser superado. Isso ocorre quando se extinguem os desejos e os apegos, alcançando-se um estado de nirvana, que é a libertação do sofrimento e do ciclo de renascimento.
  4. A Verdade do Caminho para a Cessação do Sofrimento (Magga) – O caminho para superar o sofrimento é o Caminho Óctuplo, um conjunto de práticas que envolvem ética (ações e palavras corretas), meditação (desenvolvimento da atenção plena e da concentração) e sabedoria (compreensão correta da realidade). Esse caminho leva à iluminação e à liberação do sofrimento.


Além disso, o budismo enfatiza a importância do karma, a lei de causa e efeito, e da meditação, que é fundamental para o desenvolvimento da mente e a realização da sabedoria. Cada escola de budismo, como o Zen, o Tibetano ou o Theravada, pode ter variações em suas práticas, mas todas compartilham a busca pela liberação do sofrimento e pela compreensão da verdadeira natureza da realidade.

O que o Budismo Prega?

De acordo com o budismo, Buda atingiu a plena iluminação e encontrou a resposta para o sofrimento humano, mostrando que é possível transcender as limitações da existência comum.

Nesse sentido, o budismo, através dos ensinamentos do Buda, prega que o sofrimento é uma parte inevitável da experiência humana. Mas, que é possível superá-lo. Para isso, o Buda propôs um caminho transformador: o Caminho Óctuplo, que inclui práticas de meditação, ética e sabedoria. Esse caminho orienta os praticantes a desenvolverem uma vida equilibrada, com ações conscientes, pensamentos puros e uma mente tranquila, visando alcançar a cessação do sofrimento.

O objetivo final do budismo é atingir o nirvana, que representa a libertação do ciclo de samsara, que seria o eterno ciclo de nascimento, morte e renascimento. Em essência, o que o budismo prega é que, por meio da transformação interior – através da mudança da mente, da prática do desapego e da compaixão – é possível alcançar a paz duradoura e a sabedoria, vivendo em harmonia com a realidade e com os outros.

Se você deseja realizar uma jornada de autoconhecimento para chegar a uma compreensão maior da espiritualidade, é importante estudar os principais pensadores que trouxeram reflexões sobre ética e vida plena.

Nesse sentido, apresentamos a seguir um trecho do curso Sócrates, Buda, Lao-Tzé: Filosofias na Prática, ministrado pelo doutor em filosofia e professor da UFRJ, Lucas Nascimento Machado. Clique no botão abaixo e confira o trailer do curso:

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O que é o Caminho Óctuplo Budista?

O Caminho Óctuplo budista, também conhecido como “o caminho do meio”, é um dos principais ensinamentos do budismo, apresentado por Siddhartha Gautama. Sua prática leva à superação do sofrimento e à realização do nirvana. Ele consiste em oito componentes interligados, que são divididos em três categorias essenciais: sabedoria, ética e meditação.

Cada um desses componentes é uma prática específica que, quando seguida corretamente, ajuda os praticantes a alcançar uma vida equilibrada e a iluminação. Os oito componentes do Caminho Óctuplo são:

  1. Visão Correta: Compreender a verdade sobre a vida e o sofrimento, reconhecendo as Quatro Nobres Verdades e a natureza impermanente de todas as coisas.
  2. Intenção Correta: Ter intenções e motivações puras, livre de desejo, aversão e ilusão. Cultivar pensamentos de compaixão e bondade.
  3. Fala Correta: Falar de maneira honesta, gentil e construtiva, evitando mentiras, fofocas, palavras duras ou prejudiciais.
  4. Ação Correta: Agir de forma ética, evitando ações prejudiciais, como matar, roubar e comportamentos destrutivos, e promovendo o bem-estar dos outros.
  5. Meio de Vida Correto: Escolher uma profissão ou forma de sustento que seja ética e não cause dano a outros seres vivos.
  6. Esforço Correto: Fazer esforço para cultivar qualidades mentais positivas e eliminar as negativas, mantendo uma mente clara e tranquila.
  7. Atenção Correta: Praticar a atenção plena, ou mindfulness, focando no momento presente, observando os pensamentos, sentimentos e ações de maneira consciente e imparcial.
  8. Concentração Correta: Desenvolver a meditação profunda, a prática de samadhi, para alcançar a paz interior e a clareza mental, que leva à sabedoria e à compreensão da verdadeira natureza da realidade.


Budismo é religião?

Sim, o budismo é considerado uma religião. Embora muitas vezes seja descrito também como uma filosofia de vida, ele possui todos os elementos característicos de uma religião, como práticas espirituais, crenças fundamentais, rituais e um sistema ético. Fundado pelos ensinamentos de Buda, o budismo propõe um caminho para a superação do sofrimento humano e a realização pelo nirvana, que é a libertação do ciclo de renascimento e morte, conhecido como samsara.

O budismo tem uma profunda influência na vida cotidiana de seus praticantes, abrangendo áreas como a ética no comportamento social, a arte, a economia e religião.

Em várias culturas asiáticas, o budismo influenciou o pensamento, as artes e as práticas sociais, criando uma forte conexão entre a espiritualidade e a vida diária. O comportamento ético e a busca pela harmonia, que são centrais no budismo, frequentemente se refletem em atitudes de compaixão, respeito e equilíbrio, impactando positivamente a sociedade e as relações econômicas. Portanto, o budismo é uma religião que vai além das crenças espirituais, exercendo também um papel transformador nas esferas sociais e culturais.

Símbolo do Budismo e Outros Elementos Importantes

símbolo budista da Roda do Dharma

O símbolo do budismo mais reconhecível é a roda do dharma, que representa os ensinamentos de Buda. A roda, também conhecida como Dharmachakra, é composta por oito raios que simbolizam o Caminho Óctuplo, o caminho para a iluminação e a superação do sofrimento. Cada raio da roda é um princípio fundamental dos ensinamentos budistas, refletindo as práticas de ética, meditação e sabedoria.

suástica budista no peito de uma imagem do Buda

Outro símbolo significativo no budismo é a suástica budista. Embora a suástica tenha sido associada ao nazismo, no budismo, ela tem um significado profundamente positivo, simbolizando bem-estar, boa sorte, prosperidade e o movimento eterno do ciclo de vida e renovação, ou samsara. A suástica no budismo representa também a harmonia universal e a conexão com o divino, associando-se à ideia de movimento contínuo e equilíbrio.

Além desses, outros símbolos importantes no budismo incluem:

SÍMBOLOS BUDISTAS SIGNIFICADO

Flor de Lótus

simbolo budista lotus
O lótus é um símbolo central no budismo, representando a pureza espiritual e o despertar. Como a flor de lótus cresce na lama e se eleva para a luz, ela simboliza o processo de purificação e iluminação do praticante, que emerge do sofrimento para alcançar a sabedoria.

Peixes dourados

simbolo budista peixes
Os peixes dourados simbolizam a sabedoria, a vida longa e a felicidade. Representam a harmonia e a paz.

Nó Infinito

simbolo budista nó infinito
O nó infinito, também conhecido como símbolo do karma, representa a interconexão de todos os fenômenos e a lei de causa e efeito no budismo. Suas linhas entrelaçadas, sem começo nem fim, simbolizam como todas as ações, pensamentos e palavras estão interligados, criando um ciclo contínuo de karma. Esse símbolo nos lembra que nossas escolhas geram consequências que se estendem ao longo do tempo, afetando tanto nossas vidas quanto as de outros, até que se alcance a liberação do sofrimento e a iluminação.


Budismo Acredita em Deus?

Uma das perguntas frequentemente levantadas é se Deus existe para o budismo. A resposta é um tanto complexa. Mas, ao contrário das religiões teístas, como o cristianismo, o budismo não se concentra em um deus criador. Em vez disso, ele enfoca o autoconhecimento e a experiência direta da realidade. Buda não foi visto como um deus, mas como um mestre que ensinou o caminho para a iluminação. Para os budistas, a prática espiritual e a sabedoria interior são o caminho para superar o sofrimento, e não a crença em uma entidade divina.

Karma: Significado Espiritual no Budismo

No budismo, o conceito de karma é uma das doutrinas mais fundamentais e pode ser entendido como a lei universal da causa e efeito. O karma refere-se à ideia de que todas as nossas ações, palavras e pensamentos geram consequências, que podem se manifestar no presente ou no futuro, tanto nesta vida quanto em futuras reencarnações.

Essas consequências não são vistas como punições ou recompensas, mas como reflexos naturais do que plantamos, sendo o resultado direto de nossas intenções e comportamentos. Assim, o karma ensina que somos responsáveis pelas escolhas que fazemos, e que, ao cultivar ações positivas, compassivas e altruístas, podemos criar um destino mais favorável, não apenas para nós mesmos, mas para os outros ao nosso redor. Em última análise, o karma no budismo é um convite à reflexão sobre nossas atitudes e como elas estão relacionadas a nossa experiência de vida, influenciando nosso caminho em direção ao nirvana e à superação do sofrimento.

O que é Nirvana budista?

O nirvana no budismo é o estado de liberação e iluminação final, onde o praticante supera completamente o sofrimento, o desejo e o apego, alcançando a paz e a tranquilidade absolutas. O termo nirvana significa "extinção", referindo-se ao fim do ciclo de samsara, que é o ciclo contínuo de nascimento, morte e renascimento. Nesse estado, a mente se liberta de todos os condicionamentos e ilusões, alcançando uma compreensão profunda da verdadeira natureza da realidade.

Alcançar o nirvana significa transcender as limitações do ego e do sofrimento, atingindo a sabedoria, compaixão e serenidade. Embora o nirvana seja muitas vezes descrito como a libertação do sofrimento, ele também é visto como um estado de realização espiritual, onde a pessoa vive em harmonia com o universo e experimenta uma paz que não é afetada pelas dificuldades e impermanências da vida. Para o budismo, existe um caminho para alcançar o nirvana, que seria guiado pelos ensinamentos de Buda. O caminho inclui as Quatro Nobres Verdades e o Caminho Óctuplo, que proporcionam as ferramentas necessárias para alcançar essa transformação interior.

Frases de Buda: Sabedoria para a Vida

Abaixo, apresentamos algumas das frases de Buda que transmitem a sabedoria profunda do mestre iluminado. Entre as mais célebres, destacam-se:

  • “Jamais, em todo o mundo, o ódio acabou com o ódio. O que acaba com o ódio é o amor”
  • “Ao cuidar de si mesmo, você cuida dos outros. Ao cuidar dos outros, você cuida de si mesmo”
  • “Não pela eloquência ou pela bela aparência uma pessoa é bela, se ela for invejosa, egoísta, enganadora”
  • "Somos o que pensamos. Tudo o que somos surge com nossos pensamentos. Com nossos pensamentos, fazemos o mundo."


Conclusão

O budismo é uma prática religiosa profunda que oferece um caminho de transformação pessoal e coletiva. Desde sua origem na Índia até sua disseminação pelo mundo, continua a ser uma fonte de inspiração, sabedoria e paz para milhões de pessoas. As questões centrais do budismo, como karma, nirvana e os ensinamentos de Buda, nos ajudam a entender melhor nossa própria vida e o universo em que vivemos. Afinal, o budismo nos ensina que, para alcançar a verdadeira felicidade, devemos primeiro olhar para dentro de nós mesmos e cultivar a sabedoria, a compaixão e a paz.

Perguntas Frequentes sobre o Budismo

O que os budistas acreditam?

Os budistas acreditam que a vida é permeada pelo sofrimento, conhecido como "dukkha", e que esse sofrimento pode ser superado através da compreensão profunda da natureza da realidade. Eles seguem os ensinamentos de Buda, que revelou o caminho para alcançar a iluminação e o nirvana, um estado de liberação do ciclo de sofrimento e renascimento. A prática do budismo envolve a observância do Caminho Óctuplo, que inclui ética, meditação e sabedoria, como formas de transformar a mente e alcançar a paz interior.

O que é budismo: resumo

Budismo é uma religião fundada por Buda no século VI a.C., que ensina como superar o sofrimento e alcançar a paz interior. Através de práticas como meditação, autocompreensão e ética, os budistas buscam a iluminação, ou nirvana, um estado de liberdade do sofrimento e do ciclo de renascimento. O budismo não foca na adoração a um deus, mas no desenvolvimento da sabedoria e compaixão para transformar a própria vida.

Quer se aprofundar nos estudos de filosofia e religião? A Casa do Saber tem uma categoria inteiramente dedicada a esses temas.

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Referências

https://pt.wikipedia.org/wiki/Budismo

https://bodisatva.com.br/os-oito-simbolos-auspiciosos-do-budismo-tibetano/

https://cebb.org.br/o-que-e-o-budismo/#:~:text=O%20budismo%20%C3%A9%20um a%20religi%C3%A3o,s%C3%A1bio%20do%20cl%C3%A3%20dos%20Sakya.

 Curso de Filosofia EaD: Guia Completo para Estudar Online
Rodrigo Gomes
Curso de Filosofia EaD: Guia Completo para Estudar Online
Saiba o que é Filosofia, o que estuda e principais pensadores. Veja a lista de melhores cursos para estudar à distância, do introdutório ao avançado.

Entenda o que é Filosofia, como ela surgiu e sua importância para o mundo. Vamos conhecer os períodos e principais pensadores que marcaram a história da Filosofia, as áreas de estudo, além dos melhores cursos à distância para aprender sobre esta área do conhecimento.

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Quais os passos para estudar Filosofia?

É comum as pessoas entenderem que estão filosofando (e de fato o estão) ao se verem introspectivas refletindo sobre qual o sentido da vida, observando as árvores, animais, as estrelas e ao se espantarem diante da grandeza do universo em contraste com a pequenez do homem.

Estruturar o pensamento filosófico, no entanto, está longe de ser uma tarefa simples. É possível acessar um material rico já construído por mentes brilhantes com reflexões e métodos que servem como guia para se construir o saber filosófico.

Por isso, além de explorar uma inquietação filosófica espontânea, aprender filosofia significa essencialmente se debruçar sobre a própria história da filosofia, seus conceitos e métodos.

O que a Filosofia estuda?

Este campo do saber procura investigar as nossas origens, a existência, as transformações observadas na natureza, e as relações e experiências do homem no mundo.

A partir da curiosidade, questionamentos e observações sobre o que está à nossa volta, é possível filosofar sobre tudo o que possa provocar espanto, despertar dúvidas ou admiração. Dentro de seu estudo sistematizado, encontramos diversas áreas de investigação.

Um exemplo é o estudo da Ética, onde a filosofia se propõe a refletir sobre valores morais e as ações humanas, levanta questões sobre a definição do que é o bem e o mal, o certo e o errado ou o conceito de justiça.

Outro ramo é a Estética, em que o interesse está focado na experiência artística, sendo possíveis questionamentos sobre a concepção do que é considerado belo ou a reflexão sobre o papel da arte na sociedade. Estes são apenas alguns exemplos das muitas ramificações possíveis para desenvolver o pensamento filosófico.

pintura escola de atenas, de rafael sanzio
Afresco "A Escola de Atenas", de Rafael Sanzio, que apresenta Platão e Aristóteles ao centro.(Wikimedia Commons)

Quem pode estudar Filosofia?

Pelo seu aspecto livre e universal, a filosofia é acessível a todas as pessoas que desejam se lançar ao estudo da área, abarcando desde a trajetória acadêmica formal ao puro desejo pessoal de estudar a existência e as questões que nos concernem.

Dentro deste espaço de aprendizado, encontramos diferentes ramos de estudo - como moral, ética, política, religião, epistemologia - diversos pensadores e períodos históricos, além de tratar de dilemas ancestrais até questões contemporâneas. Em cada campo mencionado, há um universo inesgotável de possibilidades de investigação e estudo.

A Filosofia não implica em uma posição de posse do saber, mas uma prática do pensar a realidade pela razão. Por isso, seu estudo não se limita apenas ao caminho acadêmico. A Filosofia é para todos aqueles que têm curiosidade de saber, que desejam questionar, se debruçar nas questões levantadas por grandes pensadores e analisar criticamente a realidade, trilhando um caminho próprio em busca da verdade.

Por onde começar a estudar Filosofia?

A construção de aprendizado nesta área do saber é subjetiva e marcada por um exercício constante de elaboração em relação aos mistérios da vida. Para começar os estudos em Filosofia , sabemos que é necessário traçar minimamente um caminho para início da jornada.

Os estudos iniciais geralmente tomam por partida o pensamentos de filósofos ocidentais, como Sócrates, Platão e Aristóteles, através de textos considerados fundamentais, como a obra “O Banquete”, de Platão. Porém, indicar a leitura dos textos pode não ser o suficiente para a devida compreensão do tema.

Por isso, passaremos ponto a ponto pela história da filosofia, grandes pensadores e áreas de estudo para que você consiga entender um pouco mais sobre o percurso e encontrar as melhores opções de cursos de filosofia.

O que é Filosofia e como surgiu?

Traçar uma definição clara e simples da filosofia é uma tarefa desafiadora, pois sua estrutura conceitual é baseada em uma linguagem complexa e necessita de um certo conhecimento prévio na área para compreendê-la em essência. É da natureza da filosofia não contar com respostas imediatas.

A filosofia é um livre saber que se baseia na razão para explicar a realidade a partir do uso de conceitos. A palavra "filosofia" (do grego φιλοσοφία) resulta da união de outras duas palavras:

- "philos” - significa "amizade", "amor fraterno" (não no sentido erótico), desejo intenso por algo e respeito entre os iguais.

- "sophia” - significa "sabedoria", "conhecimento".

Filosofia significa, portanto, amizade ou amor pela sabedoria, amor e respeito pelo saber ou pelo conhecimento. A partir da Filosofia, o homem pode caminhar em direção à autonomia para pensar sobre si mesmo e o mundo e, por isso, carrega um sentido de liberdade. É um exercício do pensar e constante busca pelo saber, uma atitude que não se submete a nenhuma forma de controle ou qualquer outro conhecimento.

A origem da filosofia remonta à Grécia Antiga, no século VI a.C, e marca a transição do pensamento mítico para o da razão. Surge não por uma pergunta teórica ou alguma questão efetiva, mas a partir da admiração diante de fenômenos que ultrapassam o poder do conhecimento e provocam curiosidade, temor e espanto.

À época, fenômenos naturais que não podiam ser explicados, como a noção de finitude marcada pela vida e morte, a mudança das estações ou a transição entre dia e a noite, eram ilustrados por meio de mitos.

Os mitos eram narrativas que pretendiam explicar a origem dos deuses e do universo de forma fantasiosa e sobrenatural, onde eram representados os fenômenos da natureza, os sentimentos humanos e as contradições presentes na sociedade.

Mito de Perséfone: a mudança das estações pela mitologia grega

imagem antiga retratando mito de perséfone e hades exposta no British Museum,em Londres
Representação de Perséfone e Hades - Vulci, c. 440-430 BCE. (British Museum, London)

Segundo conta a mitologia grega, Perséfone era filha de Zeus com Deméter, deusa da colheita e da agricultura. Um dia, ao ver a jovem colhendo flores em uma pradaria, Hades, o deus do submundo, se apaixona por Perséfone e a sequestra.

Enfurecida e entristecida pelo sumiço da filha, Deméter deixa o Olimpo e passa a não cumprir suas funções de colheita, tornando o solo da Terra estéril. Ao notar a devastação causada pela ausência de Deméter, Zeus envia o mensageiro Hermes ao submundo para negociar a libertação de Perséfone. No entanto, sem saber das consequências, a jovem havia ingerido sementes de romã oferecidas por Hades, fato que criou uma ligação eterna com o submundo e que a impediu de deixá-lo permanentemente.

Assim, foi feito um acordo: Perséfone viveria dois terços do ano com Deméter, representado o período de boa colheita, quando Deméter estava contente pela chegada da filha (primavera e verão) e um terço do ano com Hades, representando o período de dificuldade na colheita, pois Deméter estava infeliz por conta do regresso da filha para o submundo (outono e, principalmente, inverno)

.


Por que a Filosofia surgiu na Grécia?

Há diferentes teses sobre esta questão. Uma delas é conhecida como “Milagre Grego”, em que se acreditava que a Filosofia surgiu de maneira única, inesperada e espontânea na Grécia , como defendia o historiador Diógenes Laércio (180-240 d.C).

Outra vertente considera que as transformações vivenciadas pelos gregos se deram por conhecimentos advindos dos povos “orientais”, através de uma herança dos egípcios, caldeus, babilônios e persas, contribuindo para que florescessem conhecimentos como geometria, astrologia e meteorologia.

Por uma visão histórica, é possível constatar que a topografia da região facilitou a construção de portos, viagens marítimas e intercâmbio econômico. Isso levou os gregos ao contato com outras civilizações e seus diferentes mitos, trazendo descrença e busca por explicações mais racionais sobre o mundo.

mapa do mundo grego referente ao período histórico de início da filosofia
Mapa do mundo grego - Reprodução: Livro “Iniciação à História da Filosofia - dos pré-socráticos a Wittgenstein, de Danilo Marcondes


Quais foram os primeiros filósofos?

A estrutura e modelo político desenvolvidos nas polis gregas, propiciaram o surgimento dos primeiros filósofos, conhecidos como pré-socráticos. Eles se concentravam na pergunta e busca pelo arché, que seria o elemento primordial a que todas as outras coisas se derivam, a substância primeira capaz de constituir todo o universo e tudo o quanto existe na realidade.

Tales de Mileto (sec. VII e VI a.C) é considerado o primeiro filósofo da História. Marcou o rompimento em relação ao mito ao questionar racionalmente a natureza, buscando compreender o mundo a partir da investigação e não se satisfazendo com as respostas fantásticas e sobrenaturais colocadas pela mitologia. Ele propôs que a água era a substância fundamental e que compunha todas as coisas que existiam no mundo.

Não à toa os filósofos pioneiros são chamados de pré-socráticos. Esta definição já indica a importância do legado deixado por Sócrates, que contribuiu de forma consistente para o início e desenvolvimento do período conhecido como filosofia clássica, seguido por Platão e Aristóteles. A partir de então, a disciplina se desenvolve com métodos mais sistemáticos e analíticos de investigação, e se expande para áreas como´ética, política, lógica e epistemologia.

Para entendermos melhor essa caminhada, vamos conferir os períodos que marcam a filosofia e um pouquinho da característica de cada um deles.

Imagem de Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo
Imagem de Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo da História. (Wikimedia Commons)


Conheça os períodos e grandes pensadores da Filosofia

Os períodos da Filosofia são marcados por diversas condicionantes, que refletem mudanças estruturais e impactam no modo de vida da sociedade. Acontecimentos históricos, descobertas científicas e tecnológicas, mudanças políticas, entre outros fatores são determinantes para uma mudança de comportamento em relação ao modo de se pensar e se viver no mundo.

As ideias propostas por grandes pensadores, advindas de suas reflexões e expostas em suas obras, contribuem de forma substancial para esta demarcação entre os períodos. Confira a lista dos períodos abaixo:

  • Filosofia Antiga (séc.VI a.C. até sec. V d.C):

    Este período marca o início da Filosofia , que começou na Grécia Antiga e se estendeu até ao mundo romano. Foi iniciada pelos Pré-Socráticos, com as investigações sobre a natureza, ordem e origem do mundo (cosmologia) e seguiu com Sócrates, Platão e Aristóteles, que trouxeram as atenções para o homem (“conhece-te a ti mesmo”) e estabeleceram as bases da ética, epistemologia e metafísica ocidentais. No período helenístico, escolas como o Estoicismo e o Epicurismo focaram na ética prática e na busca pela felicidade.

    ⭐ Pensadores do período da Filosofia Antiga:

    Sócrates, Platão, Aristóteles, Epicuro, Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímees, Heráclito, Pitágoras, Parmênides e Zenão.

  • Filosofia Medieval (séc. V d.C até séc XV d.C):

    Este longo período histórico vai do final do helenismo até o Renascimento e o início do pensamento moderno e marca a fusão da filosofia grega com as tradições religiosas, como o cristianismo. Os principais temas incluíam a relação entre fé e razão, a natureza de Deus, a existência da alma e a moralidade.

    A maior parte da produção conhecida como “filosofia medieval”, porém, está concentrada entre os séculos XII e XIV, período do surgimento e desenvolvimento da escolástica. Filósofos como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, buscaram integrar o pensamento racional à fé religiosa. Esse período foi essencial para o desenvolvimento da filosofia e ciência modernas.

    ⭐ Pensadores do período da Filosofia Medieval:

    Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Anselmo de Cantuária, Boécio, Duns Scotus, Guilherme de Ockham e Avicena (Ibn Sina).

  • Filosofia Moderna (séc. XVII d.C até XIX d.C):

    A filosofia moderna representa um movimento centrado na ideia de progresso e valorização da subjetividade. Impulsionado pela queda do regime feudal, ascensão burguesa, descobertas científicas e declínio da influência da Igreja Católica, a filosofia passa a operar pela razão e empirismo científico.

    Pensadores como Descartes, Locke, Kant, Spinoza e Hume exploraram o conhecimento, a mente humana e a realidade. Esse período destacou a importância da liberdade, do governo e dos direitos humanos, influenciando a ciência, a política e a ética. O Iluminismo enfatizou a razão e a ciência como caminhos para o progresso, enquanto Hegel e Marx moldaram debates filosóficos e sociais que são relevantes até os dias de hoje.

    ⭐ Pensadores do período da Filosofia Moderna:

    René Descartes, Immanuel Kant, John Locke, David Hume, Baruch Spinoza, Thomas Hobbes, Jean-Jacques Rousseau, Francis Bacon, G.W.F. Hegel, Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche e Karl Marx.

  • Filosofia Contemporânea (séc. XX - atualmente):

    Abarcando o início do século XX até os dias atuais, o período abrange uma ampla gama de temas que refletem as profundas mudanças sociais, políticas e tecnológicas. Pensadores como Sartre, Foucault, Derrida e Deleuze exploraram questões fundamentais como a natureza da existência, o exercício do poder, a linguagem e a construção da identidade.

    Já o movimento analítico, representado por Wittgenstein e Russell, concentrou-se na lógica e na análise da linguagem como instrumentos centrais de investigação filosófica. Temas como ética, direitos humanos, feminismo e desafios contemporâneos relacionados à questões ambientais e tecnológicas são evidenciados neste período. Este cenário apenas comprova a importância do estudo contínuo e relevância da filosofia para pensarmos os dilemas e as complexidades do mundo atual.

    ⭐ Pensadores do período da Filosofia Contemporânea:

    Jean-Paul Sartre, Michel Foucault, Jacques Derrida, Gilles Deleuze, Martin Heidegger, Ludwig Wittgenstein, Simone de Beauvoir, Hannah Arendt e Jürgen Habermas

Foto da “O pensador”,de Auguste Rodin, escultura de homem com a mão no queixo pensando filosoficamente, exposta no Musée Rodin, em Paris, na França.
Escultura “O Pensador”, obra-prima de Auguste Rodin. Representa a introspecção, contemplação e a intelectualidade. Reprodução: Site Musée Rodin

“O que faz meu Pensador pensar é que ele pensa não só com o cérebro, mas também com suas sobrancelhas tensas, suas narinas distendidas e seus lábios comprimidos. Ele pensa com cada músculo de seus braços e pernas, com seus punhos fechados e com seus artelhos curvados”

- citação de Auguste Rodin sobre a própria obra.



Conheça as áreas de estudo da Filosofia

Entender as ramificações da filosofia é um passo interessante para vislumbrar os passos de investigação na área.

Confira de forma um pouco mais detalhada algumas das principais ramificações da Filosofia abaixo:

  • Metafísica:

    Você já parou para refletir sobre o que é a alma ou mesmo a existência?

    Essas são algumas das perguntas abordadas pelos filósofos nesta área de estudo. A palavra metafísica vem de um vocábulo grego que significa “depois da física” ou “além do físico”, por isso investiga a realidade como um todo e o que está além do mundo físico e da experiência de nossos sentidos.

  • Epistemologia:

    O que é a verdade? Ela é subjetiva ou objetiva? Como definir quais fontes de conhecimento são válidas e por que algumas ideias têm mais espaço do que outras?

    Conhecida como “teoria do conhecimento”, este é um dos campos principais da filosofia, onde se estuda a relação do sujeito com o conhecimento, os tipos de conhecimento e em que investiga-se sua origem, limites e validade.

  • Ética:

    Esta área se debruça sobre questões morais e as ações humanas como uma ciência do bom comportamento para construir uma vida boa para o todo em sociedade.

    Busca refletir sobre bem e mal, bom e ruim e levantar debates sobre condutas de comportamento humano como a definição do que é certo e errado e a noção de justiça.

  • Estética:

    Ao visitar um museu, é possível que você escute alguém questionando a beleza das obras expostas. Afinal como - ou quem - define o que é o belo?

    Conhecida também como “Filosofia da Arte” , a estética se dedica a estudar o conceito do que é belo e do fenômeno artístico, refletindo sobre percepções e sensações para além do gosto pessoal de cada um, mas levando em conta também a natureza da criatividade na arte e aspectos culturais.

  • Filosofia Política:

    Ao longo da história, presenciamos diversos tipos de ideologias e formas de governar. Este ramo da filosofia busca refletir sobre a natureza do poder, da justiça, igualdade, direitos e liberdade.

    Por que um governo precisa existir, o que o torna legítimo e de que forma ele se estabelece? O que é cidadania e qual a sua importância da participação política? A política está presente na vida social de todos e as perguntas feitas pela filosofia são de grande importância para a sociedade.

  • Lógica:

    A lógica é utilizada para construir e validar raciocínios, distinguindo o que é correto e o que é incorreto no intuito de encontrar um resultado verdadeiro.

    A partir de diferentes métodos, como dedução e indução, direciona a linha de pensamento para uma conclusão que seja coerente. Confira abaixo um exemplo de silogismo, modelo dedutivo introduzido por Aristóteles:

    1ª premissa: Todos os homens são mortais

    2ª premissa: Sócrates é homem

    Conclusão: Sócrates é mortal.

Agora que já entendemos um pouco mais sobre a história da filosofia e suas áreas de estudo, vamos conferir uma lista com os melhores cursos de filosofia para você estudar à distância?

Melhores cursos online de Filosofia com certificado

Até aqui aprendemos algumas informações importantes sobre a Filosofia, mas como começar a de fato a estudar os métodos, conceitos e enriquecer a caminhada em busca de respostas às questões filosóficas de forma mais satisfatória e menos “aventureira”? Separamos cursos por alguns recortes que podem auxiliá-lo nesta empreitada em busca de conhecimento.

Indicaremos cursos de filosofia relacionados especificamente a períodos históricos, cursos focados na vida e obra de pensadores, grandes questões da humanidade ou em áreas de estudo da Filosofia. Todos os cursos listados geram certificado de conclusão.

Cursos introdutórios sobre Filosofia

Para todo início, precisamos “começar do começo”. Considere partir por aqui se você está tendo o primeiro contato com Filosofia e gostaria de ser apresentado a ela antes de seguir para caminhos mais profundos na área.

  • Introdução à Filosofia, por Franklin Leopoldo e Silva
    07 aulas | Duração (50 min)

    Este curso é bem interessante para quem está buscando algo bem introdutório. Nele, o professor Franklin Leopoldo e Silva explica sobre o surgimento da Filosofia de maneira leve, clara, sem abordar conceitos complexos e difíceis de assimilar para um iniciante.

    O curso ajuda a entender como o início da Filosofia contribuiu para criar as bases teóricas do conhecimento e que definiram o ponto de partida para a ciência.

    Assistir ao curso


  • Introdução à Mitologia Grega, por Julia Myara
    02 aulas | (50 min)

    Se a Filosofia surgiu na Grécia Antiga e marcou uma transição do mito para a razão, é interessante conhecer um pouco sobre a mitologia grega.

    Conheça a origem do mito, as primeiras gerações de Deuses e entenda como essa concepção de mundo sustentava a compreensão dos gregos em relação à existência.

    Assistir ao curso


  • Para Começar a Estudar Filosofia, por Mauricio Pagotto Marsola
    08 aulas | (3h03)

    Este curso traça um bom caminho para efetivamente iniciar os estudos na área.

    Você será apresentado a obras fundamentais que servem como base para o aprendizado da Filosofia, como “O Banquete”, de Platão, e terá um panorama sobre pensadores e ideias que alicerçam o pensamento filosófico.

    Assistir ao curso


Cursos sobre as áreas de estudo da Filosofia

Vimos anteriormente neste texto, que a Filosofia tem algumas áreas de estudo. Seguem abaixo algumas opções de cursos relacionados às áreas de investigação da disciplina para que você possa se debruçar:

  • Jornada da Filosofia: Ética, por Douglas Rodrigues Barros
    06 aulas | (2h57)

    Como a ética pode contribuir para uma vida boa para o todo na sociedade?

    Reflita sobre público e privado, certo e errado, justo e injusto e desenvolva recursos de pensamento a partir da introdução às ideias de diferentes pensadores a respeito do tema.

  • Assistir ao curso



  • Jornada da Filosofia: O que é Beleza?, por Eduardo Wolf
    06 Aulas | (3h03)

    Como entender a Beleza para além do gosto pessoal? Seja introduzido à história do conceito de beleza ocidental.

    Entenda como os gregos a enxergavam, tenha um panorama sobre o ponto de vista da Filosofia e compreenda a importante relação da beleza com a maneira como lidamos com o mundo e a vida em sociedade.

  • Assistir ao curso



  • Jornada da Filosofia: Saber, por Suze Piza
    07 aulas | (3h56)

    Por que as afirmações e hipóteses de alguns têm mais espaço e aceitação do que outras?

    Debruce-se pela epistemologia, área de estudo da Filosofia que investiga o conhecimento, suas origens e conceitos sobre a verdade e tenha uma perspectiva da filosofia refletida sobre ela mesma e outros saberes.

  • Assistir ao curso


Cursos sobre períodos históricos da Filosofia

Nesta série, o professor Paulo Niccoli Ramizes apresenta o "Guia Essencial da Filosofia", traçando um panorama com os pontos mais importantes, mudanças, grandes pensadores e as questões trabalhadas no período destacado no curso.

Cursos sobre grandes pensadores da Filosofia

Uma boa maneira de estudar Filosofia é compreender a vida, obra e visão de mundo do filósofo em específico. Confira algumas indicações de cursos neste sentido:

  • Os pensadores: Aristóteles, por Franklin Leopoldo e Silva
    04 aulas | (1h51)

    Entenda a importância e legado de Aristóteles para a Filosofia.

    O curso aborda o pensamento aristotélico e mostra que ele entendia a virtude como a melhor maneira de agir nas ocasiões que se apresentam durante a vida, pois depende, em grande parte, do uso da razão.

  • Assistir ao curso



  • Um dia com Spinoza, por Clóvis de Barros Filho
    07 aulas | (2h54)

    Nascido em Amsterdã em uma família de origem portuguesa, Espinosa (1632-1677) é um dos nomes mais importantes da filosofia moderna.

    Neste curso, os conceitos do pensador sobre ética, Deus e paixões são abordados pelo professor Clóvis de Barros Filho.

  • Assistir ao curso



  • Nietzsche: Vida, Obra e Legado, por Scarlett Marton
    08 aulas | (1h35)

    Seja introduzido ao pensamento de um dos filósofos mais conhecidos (e mais controversos) da história: Friedrich Nietzsche.

    Criador do termo "Übermensch" e da concepção filosófica do "Eterno Retorno" , acreditava que o homem precisava superar seus próprios valores para alcançar a evolução.

  • Assistir ao curso


Cursos de Filosofia sobre temas atuais

A Filosofia permanece viva e atual, trazendo uma visão crítica sobre o modo que vivemos, levantando questões importantes sobre a dinâmica neoliberal, feminismo, questões ecológicas, entre outros assuntos. Conheça alguns cursos de filosofias interessantes para se debater os dilemas contemporâneos abaixo:

Esperamos que este texto tenha te ajudado a compreender melhor sobre o que é Filosofia, suas áreas de estudo, períodos e grandes pensadores.

Se você tem sede por conhecimento e deseja aprender mais sobre Filosofia com professores de referência, conte com os cursos da plataforma Casa do Saber +!




Artes, Literatura e História
História da Arte: definição, períodos, tipos de arte e grandes obras
Xavana Celesnah
História da Arte: definição, períodos, tipos de arte e grandes obras
Explore a História da Arte, dos desenhos rupestres à contemporânea. Conheça os períodos artísticos, grandes obras ,artistas e para que serve a arte.

A História da Arte é um campo do conhecimento que investiga a evolução das manifestações artísticas ao longo do tempo, desde as pinturas rupestres da Arte Pré-Histórica até as expressões contemporâneas que estão presentes no nosso cotidiano. Neste texto, vamos focar principalmente na História da Arte ligada à pintura, passando pelos principais períodos da História da Arte Mundial, pelos grandes artistas e suas obras, e vamos destacar também a História da Arte no Brasil.



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O que é Arte?

Antes de mergulharmos nas divisões históricas e nas correntes artísticas, é essencial entender o conceito de arte. Arte pode ser entendida como a expressão da criatividade e sensibilidade humana, através das mais diferentes linguagens, como pintura, música, literatura, cinema, escultura, desenho, dança, entre outras. As obras de arte, em sua maioria, são realizadas com algum propósito comunicativo, seja através do visual, do sonoro ou do narrativo. Portanto, a arte transmite emoções, ideias, valores e questionamentos sobre a sociedade e a existência humana.

Cada tipo de arte tem características próprias e formas de expressar uma mensagem. Por exemplo, a pintura pode ser figurativa ou abstrata, a escultura pode ser uma representação tridimensional de figuras ou formas, e a música pode explorar diferentes ritmos e harmonias. A dança, por sua vez, se expressa por meio do movimento corporal, enquanto a literatura utiliza as palavras para criar histórias, reflexões e críticas sociais.

A arte reflete o modo de vida, as crenças e as inovações de cada época. Mas para que serve a arte? Ela vai além da apreciação estética e é fundamental na formação de nossa identidade cultural e na reflexão sobre questões sociais e políticas.

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Períodos da História da Arte

A História da Arte é geralmente dividida em períodos e movimentos que ajudam didaticamente na compreensão das manifestações de cada época. Claro que essas divisões periódicas não são rígidas e algumas formas de se fazer arte coexistiram, mas a divisão em fases facilita a identificação dos estilos e também das ideias que estavam aflorando em cada momento histórico.

Cada período tem suas características próprias, refletindo mudanças de pensamento, inovações técnicas e influências sociais. A seguir, fizemos um resumo com os principais períodos da História da Arte.

Arte Pré-Histórica

A arte pré-histórica remonta aos primórdios da humanidade e é marcada por ser uma arte desenvolvida antes da invenção da escrita. As pinturas rupestres são os principais exemplos desta fase e as famosas pinturas das cavernas de Altamira, na Espanha, e de Lascaux, na França, seguem como os grandes marcos da arte rupestre no mundo.

As pinturas nas cavernas retratam animais e algumas cenas da vida cotidiana da época, como a caça. Essas obras têm um caráter simbólico e ritualístico, também chamado de “magia simpática ou propiciatória”. São pinturas muitas vezes associadas a crenças espirituais e ao entendimento do mundo natural.

Bisonte na Caverna de Altamira, Espanha.  As pinturas rupestres da Caverna de Altamira foram realizadas entre 36.000 e 13.000 anos atrás.

Bisonte na Caverna de Altamira, Espanha. As pinturas rupestres da Caverna de Altamira foram realizadas entre 36.000 e 13.000 anos atrás.


Arte Antiga

Com o surgimento das primeiras civilizações, como as dos povos que habitaram a Mesopotâmia, o Egito, a Grécia e Roma, a arte passou a ter um caráter mais formal e funcional. A arte produzida durante a Antiguidade foi muito diversa, principalmente quando comparamos a arte do Egito Antigo com a da Grécia Antiga, por exemplo, pois os artistas egípcios produziam imagens a partir de esquemas pré-definidos, enquanto os gregos buscavam o realismo na representação dos corpos humanos.

Isso acontecia porque a arte para a sociedade egípcia possuía um significado político e espiritual que precisava ser preservado. Portanto, as pinturas tinham que seguir certos padrões, como a lei da frontalidade que era usada na representação de corpos humanos, como é possível ver na imagem abaixo:

Pintura egípcia mostrando processo de mumificação, hábito comum na sociedade do Egito Antigo.

Pintura egípcia mostrando processo de mumificação, hábito comum na sociedade do Egito Antigo.


As civilizações antigas criaram obras de arte famosas, como as esculturas de Fídias na Grécia e as pirâmides do Egito, que não só adornavam os templos e palácios, mas também tinham significados religiosos e políticos profundos. A arte antiga foi marcada pela busca da perfeição e harmonia nas formas e pela representação idealizada do corpo humano.

Arte Medieval

A Arte Medieval foi realizada no longo período que vai do século V ao século XV, e se caracteriza pela religiosidade. Durante este período, a arte cristã predominou, com grande foco em temas bíblicos e na construção de igrejas, mosteiros e catedrais, além de manuscritos iluminados, que ficaram conhecidos como iluminuras.

A arte medieval utilizou pintura em murais, vitrais e a escultura religiosa. A arte gótica e bizantina, com suas imponentes catedrais e ícones religiosos, também são destaques deste período. Este período é essencialmente marcado pela busca de transmitir mensagens espirituais e teológicas.

Cenas da Vida de Cristo - Lamentação. Giotto, obra realizada entre 1304 e 1306. 200 cm X 185 cm. Capela Scrovegni, em Pádua, Itália.

Cenas da Vida de Cristo - Lamentação. Giotto, obra realizada entre 1304 e 1306. 200 cm X 185 cm. Capela Scrovegni, em Pádua, Itália.


Arte Renascentista

A Arte Renascentista, compreendida entre os séculos XIV e XVI, marca um retorno aos ideais da Antiguidade Clássica e uma revolução na maneira de pensar a arte e a humanidade. Artistas como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael buscaram a representação naturalista do corpo humano, explorando a perspectiva, a proporção e a luz.

A Renascença é, sem dúvida, um dos períodos mais ricos da história da arte, com grandes obras de arte famosas, como "A Última Ceia" de Da Vinci e "O David" de Michelangelo.

A Última Ceia. Leonardo da Vinci, obra realizada entre 1495 e 1498. Dimensões: 460 cm X 880 cm. Refeitório da igreja de Santa Maria delle Grazie, em Milão, Itália.

A Última Ceia. Leonardo da Vinci, obra realizada entre 1495 e 1498. Dimensões: 460 cm X 880 cm. Refeitório da igreja de Santa Maria delle Grazie, em Milão, Itália.


Arte Pré-Colombiana

A arte pré-colombiana refere-se à produção artística das civilizações indígenas das Américas antes das Grandes Navegações, que culminaram com a chegada de Cristóvão Colombo, no final do século XV, ao continente americano. Esse período é imensamente diversificado, refletindo a rica variedade de culturas que habitaram as Américas, como os maias, astecas, incas e diversos povos indígenas da América do Norte, Sul e América Central.

A arte pré-colombiana é caracterizada por uma profunda relação com a natureza, a religião e o poder. Entre os principais tipos de arte desse período estão as esculturas, pinturas, cerâmicas e tecelagens, todas com grande simbolismo. Os maias e astecas criaram magníficas esculturas de pedra, como os templos e figuras divinas que decoravam suas cidades. Os incas, por sua vez, desenvolveram técnicas de tecelagem complexas e a arte da metalurgia, criando peças de ouro e prata com significados religiosos e cerimoniais.

Templo de Kukulkán, pirâmide maia que começou a ser construída no século VI. Iucatã, México.

Templo de Kukulkán, pirâmide maia que começou a ser construída no século VI. Iucatã, México.


A arte pré-colombiana também apresenta uma rica simbologia, com forte presença de elementos geométricos e figuras mitológicas, como os deuses e heróis das lendas dessas civilizações.

Arte Moderna

A Arte Moderna (séculos XIX e XX) começou a apresentar suas primeiras obras a partir da Revolução Industrial e de toda a transformação social e política decorrente dela. Movimentos como o Impressionismo, Cubismo, Surrealismo e Expressionismo, que ficaram conhecidos como as vanguardas europeias, trouxeram novas formas de ver e entender a arte, distantes da representação figurativa clássica. Artistas como Pablo Picasso, Vincent van Gogh, Claude Monet e Salvador Dalí são alguns dos grandes nomes desse período.

A arte passou a explorar a abstração e a subjetividade, questionando as convenções tradicionais das academias e a própria realidade. O fazer artístico se diversificou, incluindo novos experimentos com o uso da cor, da forma e da luz, além de novas linguagens da arte, como a fotografia e a arte digital.

Guernica, quadro de Pablo Picasso. 1937, pintura a óleo. 349,3 cm X 776,5 cm. Museu Reina Sofia, Madrid.

Guernica, quadro de Pablo Picasso. 1937, pintura a óleo. 349,3 cm X 776,5 cm. Museu Reina Sofia, Madrid.


A Arte Moderna ou Modernismo foi um período riquíssimo da produção artística mundial e também no Brasil. Você pode compreender melhor esse estilo de arte através do curso A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock, ministrado pelo doutor em História da Arte, Felipe Martinez. No curso, ele faz uma análise da vida e da obra de grandes artistas modernistas, mostrando os impactos causados pelas novas ideias e como a arte dialoga com as grandes questões sociais.

banner curso A arte moderna pelas obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock, por Felipe Martinez



Arte Contemporânea

A Arte Contemporânea (século XX até o presente) é um campo diversificado e amplo, de difícil definição. Diversos movimentos artísticos coexistem, como o minimalismo, o arte pop, a arte conceitual e as manifestações da arte digital. A arte contemporânea rompe com as fronteiras dos tipos de arte tradicionais, explorando novas linguagens da arte como o vídeo, a performance e as instalações interativas. Banksy, Yayoi Kusama e Damien Hirst são alguns dos artistas contemporâneos mais influentes no mundo. A arte contemporânea está muito relacionada às ideias e geralmente aborda temas sociais, culturais e políticos, desafiando as normas da arte tradicional e incentivando uma reflexão crítica sobre o mundo atual.

Grandes Artistas da História e Suas Obras

A história da arte é marcada por inúmeros grandes artistas, cujas obras ajudaram a definir os rumos da arte. Cada um desses artistas famosos trouxe uma contribuição única, seja através da técnica, do estilo ou das ideias que procuraram expressar. Listamos a seguir algumas obras de arte famosas na história e seus respectivos autores:

Século XIV (1300)

  • Giotto di Bondone:

O Beijo de Judas (1305)
Afrescos da Capela Scrovegni (1304–1306)

Século XV–XVI (Renascimento)

A Última Ceia (1495–1498)
Mona Lisa (c. 1503–1506)

  • Michelangelo Buonarroti

O Davi (1501–1504)
Afrescos da Capela Sistina (1508–1512)

Século XIX (Impressionismo e Pós-Impressionismo)

  • Édouard Manet

Almoço na Relva (1863)
Olympia (1863)

  • Claude Monet

Impressão, nascer do sol (1872)
Nenúfares (série, 1897–1926)

  • Edgar Degas

A Aula de Balé (c. 1874)
O Balé Azul (c. 1890)

  • Vincent van Gogh

Girassóis (1888)
A Noite Estrelada (1889)

Século XIX–XX (Simbolismo, Art Nouveau e Modernismo)

  • Gustav Klimt

Retrato de Adele Bloch-Bauer I (1907)
O Beijo (1907–1908)

  • Antoni Gaudí

Parque Güell (projeto iniciado em 1900)
Sagrada Família (iniciada em 1882, ainda em construção)

Século XX (Modernismo, Abstracionismo, Surrealismo e Pop Art)

  • Pablo Picasso

Les Demoiselles d'Avignon (1907)
Guernica (1937)

  • Wassily Kandinsky

Composição VIII (1923)
Amarelo-Vermelho-Azul (1925)

  • Frida Kahlo

Auto-retrato com Espinho e Colibri (1940)
As Duas Fridas (1939)

  • Andy Warhol

Campbell's Soup Cans (1962)
Marilyn Diptych (1962)

História da Arte no Brasil

A história da arte no Brasil é marcada por uma rica e diversa trajetória, que reflete a complexidade cultural do país. Desde os tempos anteriores à colonização, as expressões artísticas indígenas já revelavam uma profunda conexão com a natureza, os mitos e os rituais das diferentes etnias. Arte plumária, cerâmica, pinturas corporais e grafismos em objetos e superfícies naturais eram — e ainda são — manifestações de um conhecimento ancestral transmitido de geração em geração.

Com a chegada dos colonizadores portugueses no século XVI, iniciou-se o período da arte colonial, fortemente influenciado pela estética europeia, especialmente o barroco. Igrejas ricamente ornamentadas, como as de Ouro Preto e Salvador, são testemunhos do talento de artistas como Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa) e Manuel da Costa Ataíde, que reinterpretaram as referências europeias sob uma ótica brasileira, mesclando elementos locais, africanos e indígenas em suas obras sacras.

No século XIX, com a vinda da Missão Artística Francesa (1816), liderada por Jean-Baptiste Debret, o Brasil passou por um processo de academização da arte. A fundação da Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro, contribuiu para a formação de artistas dentro de um modelo europeu clássico. Nomes como Pedro Américo e Victor Meirelles se destacaram com grandes telas históricas, representando cenas como o Grito do Ipiranga e episódios da história nacional com uma estética grandiosa e idealizada.

O Grito do Ipiranga, quadro de Pedro Américo, 1888. Óleo sobre tela, 415cm X 760 cm. Museu Paulista da USP, São Paulo.

O Grito do Ipiranga, quadro de Pedro Américo, 1888. Óleo sobre tela, 415cm X 760 cm. Museu Paulista da USP, São Paulo.


A virada do século XX trouxe profundas transformações. O movimento modernista brasileiro, com a Semana de Arte Moderna de 1922, rompeu com os padrões acadêmicos e buscou uma nova linguagem artística, autenticamente nacional.

Artistas como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Di Cavalcanti e Oswald de Andrade propuseram uma arte que refletisse a realidade brasileira, suas cores, suas contradições sociais e culturais, ao mesmo tempo em que dialogava com as vanguardas europeias.

Obras como Abaporu (Tarsila), que se tornou símbolo do movimento antropofágico, tinham como proposta a “digestão” crítica das influências estrangeiras para criar algo novo e original, em sintonia com a história do Brasil.

Candido Portinari, por sua vez, levou o realismo social às telas, retratando com sensibilidade temas como o trabalho, a infância pobre e as injustiças sociais, em obras como Retirantes e os painéis de Guerra e Paz, encomendados pela ONU.

Na segunda metade do século XX, a arte brasileira expandiu-se ainda mais, incorporando novas linguagens como a arte concreta, o neoconcretismo, a arte conceitual, o cinema experimental e a performance. Figuras como Lygia Clark, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Tomie Ohtake, entre outros, romperam com os limites tradicionais da pintura e escultura, criando experiências sensoriais e interativas que colocavam o espectador como parte da obra.

Hoje, a arte contemporânea brasileira é plural, crítica e inovadora. Artistas como Adriana Varejão, Ernesto Neto, Vik Muniz, Rosana Paulino e Jaider Esbell (este último representando a retomada da arte indígena no circuito contemporâneo) continuam a explorar temas como identidade, corpo, ancestralidade, meio ambiente, desigualdade e memória, levando a produção artística nacional a dialogar com os grandes debates do mundo atual — sem perder o enraizamento nas realidades locais.

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Para que serve a Arte?

A arte tem várias funções e serve para inúmeros propósitos. Ela pode ser uma ferramenta de expressão pessoal, um meio de questionamento social e político, uma forma de comunicação universal e até um instrumento terapêutico. A arte também tem uma função educativa, ajudando a transmitir a história, as emoções e as ideias de diferentes culturas e épocas.

Conclusão

A História da Arte é uma jornada fascinante que nos permite entender a evolução das expressões humanas através de diferentes épocas e estilos. Desde a Arte Pré-Histórica até a arte contemporânea, cada período e movimento artístico oferece insights valiosos sobre a cultura, os valores e as ideias de seu tempo. Além disso, grandes artistas e obras de arte influenciam nossa percepção de mundo, e desenvolvem legados que permanecem como um registro da história da humanidade.

Seja para entender as complexidades de nossa sociedade, para se envolver emocionalmente com uma obra ou simplesmente para apreciar a beleza estética, estudar História da Arte é fundamental para qualquer um que deseje expandir sua visão do mundo e compreender a profundidade da experiência humana.

Se você tem interesse em História da Arte e deseja aprender mais sobre o tema, confira o curso Introdução à História da Arte, da Casa do Saber, ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp, Felipe Martinez.

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Referências

https://www.cultura.gob.es/mnaltamira/cueva-altamira/arte.html

https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-11160/chichen-itza/

Elena Ferrante: por onde começar a ler, livros de romance, Netflix
Xavana Celesnah
Elena Ferrante: por onde começar a ler, livros de romance, Netflix
Quem é Elena Ferrante? Conheça a autora italiana da tetralogia Napolitana, obra 'A Amiga Genial' no New York Times e qual livro ler primeiro!

Elena Ferrante é uma das escritoras mais enigmáticas da literatura contemporânea. A autora conquistou uma legião de leitores ao mergulhar em temas profundos sobre a amizade, a identidade e a experiência feminina. Conhecida mundialmente por sua tetralogia Napolitana, que começa com A Amiga Genial, Ferrante oferece uma reflexão intensa sobre as complexas relações humanas e os labirintos psicológicos que nos permeiam. A Amiga Genial foi considerada pelo The New York Times como o livro do século, eleito após uma pesquisa com 503 especialistas literários, o que demonstra a relevância e o impacto profundo de sua obra no cenário literário mundial.

Sua escrita, marcada pela sinceridade crua e pela profundidade emocional, tem o poder de transformar a maneira como entendemos os vínculos afetivos e a complexidade da vida interna de suas personagens. Além disso, o mistério em torno de sua verdadeira identidade, já que Elena Ferrante é um pseudônimo, aumenta a curiosidade em relação à autora, criando uma aura de fascínio que apenas intensifica o interesse por suas obras. Neste artigo, vamos explorar a trajetória de Elena Ferrante, suas obras mais impactantes e como ela se tornou uma das vozes mais relevantes da literatura atual.



Por que ler Elena Ferrante?

Elena Ferrante oferece uma literatura que toca as profundezas da alma humana. Suas histórias, repletas de uma sinceridade crua, revelam os complexos laços de amizade, as contradições da identidade e os desafios da experiência feminina de forma magistral. Suas personagens são imersivas, e a forma como ela aborda as nuances dos sentimentos e das relações é capaz de alterar profundamente a maneira como entendemos nossas próprias vidas emocionais.

Sem dúvida, ela é uma das mulheres da literatura contemporânea que mais causa fascínio e curiosidade. Afinal, até hoje se mantém no anonimato. O mistério em torno de quem é Elena Ferrante gera um fascínio adicional que contribui para o charme de suas obras. Ao não se expor publicamente, ela desvia o foco da autora e coloca toda a atenção em suas histórias, permitindo que o leitor se conecte diretamente com os temas e as emoções descritas em seus livros.

O anonimato, aliado à escrita profundamente envolvente, criou uma aura de curiosidade que tem feito de Elena Ferrante uma das autoras mais discutidas e admiradas da literatura contemporânea. Suas obras não são apenas para ser lidas, mas para serem sentidas, tornando-se uma experiência emocional que vai além das páginas.

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Quem é Elena Ferrante?

Elena Ferrante é o pseudônimo de uma autora italiana cuja verdadeira identidade permanece desconhecida. A escolha de se manter anônima, ao longo dos anos, despertou uma onda de especulação e curiosidade, mas a escritora sempre declarou que a obra é mais importante do que a figura de quem a escreveu. Sua literatura, então, se destaca por sua sinceridade e profundidade emocional, proporcionando uma visão íntima da vida feminina, das relações humanas e da complexidade das identidades.

Apesar do anonimato, Elena Ferrante construiu uma carreira literária sólida e admirada, sendo reconhecida globalmente. O que importa, para a autora, são as palavras e as histórias que ela compartilha, e não a imagem que o público tem dela.

Para Elena Ferrante, manter sua identidade em sigilo é uma escolha. Mas, nem sempre foi assim para as mulheres. Ao longo da história, as vozes femininas foram caladas e sufocadas. O sistema patriarcal reprimiu a expressão das ideias femininas, através de relações de poder que mantinham as mulheres tolhidas em sua liberdade criativa e existencial. A escritora Mary Shelley, por exemplo, autora de Frankenstein, demorou alguns anos para ter sua identidade associada à obra prima que escreveu. E até mesmo J.K.Rowling, criadora da saga Harry Potter, foi aconselhada por seu editor a não revelar sua identidade feminina nas primeiras publicações, porque ele acreditava que os meninos não iriam se interessar em ler seus livros, caso soubessem que eram escritos por uma mulher. Portanto, a misoginia não ficou no passado, quando deusas, bruxas e feiticeiras foram incineradas pela fogueira da inquisição.

Livros de Elena Ferrante: quais são os mais conhecidos?

Os livros de Elena Ferrante têm conquistado leitores ao redor do mundo devido à sua profundidade emocional e à forma como abordam as relações humanas. Entre seus trabalhos mais famosos está a Tetralogia Napolitana, que começa com A Amiga Genial. Veja a seguir quais são as principais obras de Elena Ferrante:

LIVROS DE ELENA FERRANTE RESUMO
A Amiga Genial (2011) A história de uma amizade intensa e complexa entre Lila e Lenù, duas meninas que crescem em Nápoles, e como essa relação se desenvolve ao longo dos anos. A obra explora temas como identidade, classe social e o impacto do ambiente no desenvolvimento humano.
A História do Novo Sobrenome (2012) Continuação de A Amiga Genial, este livro segue a vida de Lila e Linù na juventude, aprofundando-se nas suas escolhas de vida, em especial a busca de Lila por um caminho diferente de Elena.
História de Quem Foge e de Quem Fica (2013) A amizade entre Lila e Linù continua a se transformar enquanto elas lidam com o amadurecimento, o amor e os conflitos internos.
História da Menina Perdida (2014) O último livro da Tetralogia Napolitana foca na busca de Linù por uma identidade própria, enquanto ela lida com os desafios da maternidade e a conclusão da sua amizade com Lila. A obra trata da experiência feminina e dos dilemas existenciais, culminando em um retrato de amadurecimento pessoal.
Um Amor Incômodo (1991) Delia retorna a Nápoles após a morte misteriosa de sua mãe, e, ao investigar o passado de sua mãe, ela se vê confrontada com descobertas desconcertantes. A obra explora os segredos familiares e a complexidade das relações maternas e filiais.
Dias de Abandono (2002) Olga enfrenta uma profunda crise emocional após seu marido pedir o divórcio, entrando em um período de instabilidade psicológica enquanto lida com a maternidade e sua identidade.
Frantumaglia (2003) Uma coleção de cartas, entrevistas e reflexões de Elena Ferrante, revelando suas ideias sobre o processo de escrita, o anonimato e a identidade literária. Este livro oferece uma visão sobre a autora e sua abordagem da criação literária e dos temas de suas obras.
A Filha Perdida (2006) Leda, uma mulher de meia-idade, passa suas férias em uma praia italiana, onde reflete sobre sua maternidade e suas escolhas, ao se envolver com a família de uma jovem mulher.
Uma Noite na Praia (2007) A história segue duas mulheres que, em uma noite à beira-mar, refletem sobre suas vidas e os dilemas emocionais e existenciais que as atormentam.
A Vida Mentirosa dos Adultos (2019) Giovanna, uma adolescente, começa a descobrir segredos sobre sua família e a sociedade em que vive, desafiando as suas próprias percepções de amor e lealdade. O livro explora a transição da adolescência para a vida adulta, revelando as mentiras e contradições da vida dos adultos ao seu redor.
A Invenção Ocasional (2019) Uma narrativa de ficção que examina como a identidade e a criação literária podem ser um jogo de invenção e imaginação, com a autora abordando a relação entre ficção e realidade.
As Margens e o Ditado (2021) O livro é baseado em seminários que Elena Ferrante escreveu para uma atriz realizar a leitura durante a Aula Magna da Universidade de Bolonha, na Itália.


Por onde começar a ler Elena Ferrante?

Se você está se perguntando por onde começar a ler Elena Ferrante, a resposta mais comum seria começar com A Amiga Genial. Esse livro é o mais famoso da autora e apresenta os principais temas trabalhados por Ferrante em sua obra – amizade feminina, identidade e os desafios da vida. A Amiga Genial é o primeiro livro da tetralogia napolitana, série que oferece uma imersão ainda maior nas vidas e nas relações das personagens.

Mas, se você deseja ter um conhecimento ainda maior sobre a escritora, conheça o curso As Mulheres na Obra de Elena Ferrante, ministrado pela doutora em História da Filosofia Antiga pela Puc-Rio, Julia Myara. O curso analisa a obra da autora, a partir das personagens femininas que marcam suas narrativas. São abordadas questões relacionadas à maternidade, liberdade, abandono e competição no universo feminino.





Além do curso, você também pode participar do Clube do Livro Histórias que nos Ensinam a Amar,conduzido pela psicanalista Carol Tilkian. O clube vai te motivar na leitura de livros escritos por mulheres, além de ser um espaço aberto para reflexão e debate das obras, a partir dos encontros online. A maioria dos encontros contará, ainda, com a presença das autoras das obras que serão comentadas.

O livro Dias de Abandono, de Elena Ferrante, é uma das publicações que serão debatidas pelo Clube, em um encontro que vai tratar da Literatura como Reflexão sobre Relacionamentos. Saiba mais sobre este Clube do Livro inédito clicando no botão a seguir.

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Elena Ferrante: A Amiga Genial e a adaptação para a Netflix

O sucesso de A Amiga Genial foi tão grande que a obra foi adaptada para a TV pela HBO, e mais tarde, foi lançada uma adaptação da minissérie na Netflix. A série segue a trajetória de Lila e Linù, explorando as complexidades da amizade e dos dilemas existenciais dessas personagens de maneira visualmente arrebatadora.

Para quem já leu o livro, a adaptação traz uma nova camada de emoção à história, tornando a experiência ainda mais imersiva. A produção foi tão bem recebida que se tornou uma das mais comentadas e aclamadas da plataforma.

Veja a seguir as obras de Elena Ferrante que ganharam adaptações cinematográficas e de TV :

  • A Amiga Genial (HBO) – A famosa Tetralogia Napolitana foi adaptada para a TV pela HBO. A série, que acompanha a amizade de Lila e Elena, está disponível na plataforma Max, com a quarta e última temporada chegando em breve. A adaptação captura com precisão a essência dos livros, retratando a complexa relação entre as protagonistas e o cenário social e político de Nápoles ao longo das décadas.
  • A Filha Perdida (Netflix) – Adaptado do livro de 2006, A Filha Perdida segue a personagem Leda, interpretada por Olivia Colman, enquanto ela reflete sobre a maternidade e os dilemas familiares durante suas férias em uma cidade costeira na Itália. O filme é uma exploração emocionalmente complexa dos relacionamentos e das escolhas que moldam a vida de Leda.
  • A Vida Mentirosa dos Adultos (Netflix) – A minissérie baseada no romance de Elena Ferrante de 2019 segue Giovanna, uma adolescente que começa a descobrir um lado diferente de Nápoles, longe da proteção de sua família. A série explora o despertar da juventude, os conflitos familiares e a busca por identidade.
  • Um Amor Incômodo (2002) – O primeiro livro de Elena Ferrante a ser adaptado para o cinema foi Um Amor Incômodo, publicado originalmente em 1992. A história acompanha Delia, uma mulher de 45 anos que retorna a Nápoles, sua cidade natal, após a morte misteriosa de sua mãe. O retorno de Delia à cidade traz à tona lembranças de sua infância e uma série de descobertas perturbadoras sobre a vida e os segredos de sua mãe. A adaptação cinematográfica de 2002 capturou a tensão emocional da obra e a complexidade das relações familiares.
  • Dias de Abandono (2005) – Publicado em 2002, Dias de Abandono narra a história de Olga, uma mulher que enfrenta uma crise emocional após seu marido pedir o divórcio. A narrativa segue a jornada intensa de Olga, que se vê imersa em um turbilhão de inseguranças e emoções enquanto tenta se reconstruir. O filme, lançado em 2005, foi dirigido por Roberto Faenza e retratou brilhantemente o processo de autodescoberta e sofrimento da protagonista.


A Polêmica do jornalista que tentou desvendar a identidade de Elena Ferrante

A revelação da identidade de Elena Ferrante, uma das autoras mais enigmáticas da literatura contemporânea, gerou grande polêmica e acusações de invasão de privacidade. Ferrante sempre manteve o anonimato, recusando-se a fornecer qualquer foto ou informação sobre sua identidade. A dúvida pairava sobre sua identidade: seria Ferrante um homem ou uma mulher? Nenhuma resposta oficial havia sido dada.

print da matéria 'Elena Ferrante: An Answer?', de Claudio Gatti
Reportagem de Claudio Gatti veiculada na New York Review of Books


Em 2016, o jornalista italiano Claudio Gatti publicou uma reportagem na New York Review of Books, intitulada "Elena Ferrante: Uma Resposta?" , que causou grande repercussão. Gatti alegava, com base em uma análise forense de textos e informações públicas, que por trás do pseudônimo de Elena Ferrante estava Anita Raja, uma tradutora italiana. A matéria foi amplamente divulgada no mundo e indicava Raja como a autora da aclamada Série Napolitana.

No entanto, essa alegação foi imediatamente negada pelos envolvidos. Tanto Anita Raja quanto seu marido, o escritor italiano Domenico Sartore, repudiaram as informações de Gatti. Além disso, Elena Ferrante também se manifestou, por escrito, negando as alegações. Em sua declaração, Ferrante reafirmou seu compromisso com o anonimato e ressaltou que a identidade do autor não deveria ser o foco, mas sim a obra.

A publicação causou reações intensas, muitos leitores e críticos consideraram a abordagem de Gatti uma invasão de privacidade. Para esses, a identidade de Ferrante deveria ser irrelevante diante da profundidade de suas obras. O anonimato da autora, assim, faria parte de sua identidade literária. A polêmica em torno da sua identidade continua a provocar debates sobre os limites da privacidade na literatura e sobre como o anonimato pode, na verdade, enriquecer a experiência de leitura. Para muitos, o mistério de Elena Ferrante se tornou uma parte essencial do fascínio que ela exerce sobre seus leitores.

Conclusão

Elena Ferrante é, sem dúvida, uma das escritoras mais relevantes da literatura contemporânea. Seus livros, especialmente a Tetralogia Elena Ferrante, se destacam pela maneira como abordam temas universais de amizade, amor e identidade.

Perguntas Frequentes sobre Elena Ferrante

  1. Quem é Elena Ferrante?

    Elena Ferrante é o pseudônimo de uma autora italiana cuja verdadeira identidade permanece desconhecida. Sua obra é marcada por um olhar sensível e profundo sobre a amizade, a identidade e as relações humanas, especialmente as experiências femininas.
  2. Por onde começar a ler Elena Ferrante?

    Se você quer começar a explorar a obra de Elena Ferrante, A Amiga Genial é a melhor introdução. A partir dela, você pode seguir com os outros volumes da Tetralogia Napolitana, que examinam a complexidade da amizade e das relações em Nápoles.


Referências:

https://revistacult.uol.com.br/home/por-que-gostamos-de-elena-ferrante/

https://www.estadao.com.br/cultura/literatura/elena-ferrante-entenda-misterio-da-autora-de-a-amiga-genial-eleito-o-melhor-livro-do-seculo-21-nprec/?srsltid=AfmBOoqvb7i3OwQ2DilsrsHOzUs8E4icWpOfu5Q5uemoZAvRizJ6azJm

https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/03/cultura/1475489430_113758.html

https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/quem-e-elena-ferrante-autora-misteriosa-tem-livro-eleito-melhor-do-seculo/

https://www.youtube.com/watch?v=4uTWHThuJoY





Expressionismo: Características, obras, O Grito, Van Gogh, artistas
Xavana Celesnah
Expressionismo: Características, obras, O Grito, Van Gogh, artistas
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O expressionismo foi um movimento artístico que surgiu na Alemanha, no ano de 1905, como uma reação à proposta estética do impressionismo, que buscava realizar uma arte baseada em estudos de óptica, retratando a luminosidade e as imagens da maneira como as vemos. Ao contrário do impressionismo, o expressionismo procurava realizar uma arte onde a emoção do artista tivesse mais espaço do que a técnica.

Expressionismo: Obras, Características e 3 Cursos Para Você Entender Tudo sobre a Vanguarda Modernista

A expressão dos pintores, seus sentimentos e sua visão de mundo importavam mais do que o realismo para essa vanguarda modernista. A obra O Grito (1893), do norueguês Edvard Munch, é precursora do expressionismo e traz muitas de suas características, como a deformação das figuras e a temática pessimista. O movimento não ficou restrito à pintura, mas também se manifestou na literatura, no cinema, na arquitetura e na fotografia.

Neste artigo, vamos mostrar como surgiu a arte expressionista, seus principais artistas e cursos para você aprofundar seus conhecimentos na Arte Moderna. O artigo passará pelos seguintes conteúdos:



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O que é Expressionismo?

O expressionismo foi um movimento artístico que emergiu no início do século XX, com origem na Alemanha, que valorizava a visão particular de mundo de cada artista, bem como suas emoções íntimas. O movimento refletia um mundo em crise, marcado pela Revolução Industrial, pela urbanização crescente e por tensões sociais e políticas intensas.

Os artistas distorciam formas, cores e perspectivas para expressar sentimentos profundos de angústia, sofrimento e desespero, em vez de retratar a realidade de maneira fiel. Em contraste com estilos artísticos anteriores, como o impressionismo, que se concentrava na representação objetiva e realista do mundo, os expressionistas buscaram transmitir a subjetividade e as turbulências internas do indivíduo.

Grandes nomes do expressionismo, como Edvard Munch e Egon Schiele, usaram essas distorções para capturar as intensas emoções humanas e o impacto psicológico das mudanças da sociedade moderna. O expressionismo é considerado uma das primeiras vanguardas históricas, ao lado do fauvismo francês. As vanguardas europeias da arte modernista foram um conjunto de movimentos artísticos que surgiram entre o início do século XX, antes da Primeira Guerra Mundial até o final da Segunda Guerra Mundial

Esses movimentos desafiavam as convenções estéticas tradicionais e traziam novas formas de expressão, abordando questões psicológicas, existenciais e sociais de maneira inovadora e muitas vezes perturbadora. Surgia uma nova era na arte ocidental com a mudança da mentalidade acerca do que faz um trabalho artístico uma obra de arte.

Como surgiu o Expressionismo?

O expressionismo surgiu em uma Alemanha imersa em uma profunda crise, cujas tensões sociais e políticas acabariam por culminar na eclosão da Primeira Guerra Mundial. As consequências da Revolução Industrial, o crescimento das áreas urbanas e os conflitos políticos criaram um cenário de angústia que se refletiu na arte expressionista.

Os artistas expressionistas reagiram a esse ambiente com uma paleta cromática agressiva, utilizando cores intensas e contrastantes para transmitir suas emoções internas. As temáticas centrais do movimento incluem a solidão, o sofrimento e a miséria, refletindo a crise existencial vivida pela sociedade.

O pintor norueguês Edvard Munch, com obras como O Grito (1893), tornou-se um ícone do expressionismo, retratando o desespero e a incomunicação humanas em um cenário de opressão psicológica. Seu trabalho, marcado por uma forte carga emocional e uma paleta de cores intensas, foi uma das principais inspirações para o movimento.

Além de Munch, outros artistas, como o francês Paul Cézanne, cujas experimentações com a desfragmentação da realidade e os pós-impressionistas Vincent van Gogh e Paul Gauguin, também foram precursores do expressionismo, trazendo à tona uma ênfase na subjetividade, na distorção das formas e na expressão de emoções profundas.

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O Expressionismo Alemão na Pintura

O movimento expressionista teve início em 1905, com a formação do grupo Die Brücke (A Ponte), fundado em Dresden por artistas como Ernst Ludwig Kirchner, Karl Schmidt-Rottluff e Erich Heckel. Este grupo se propôs a romper com as tradições artísticas acadêmicas e buscar uma expressão mais direta e emocional da realidade. Influenciados por movimentos como o pós-impressionismo e o primitivismo, os membros do Die Brücke usaram cores intensas e distorções nas formas para retratar temas como a angústia e o sofrimento causados pelas transformações sociais e culturais da época. A arte expressionista visava, assim, representar a subjetividade humana e os sentimentos conflitantes do indivíduo. O fazer artístico estava se transformando, bem como o perfil do consumo da arte.

Em 1911, o termo "expressionismo" foi formalmente associado ao movimento pela primeira vez ao ser escrito na revista Der Sturm (A Tempestade), uma das mais importantes publicações da vanguarda alemã. Ao mesmo tempo, o movimento se expandiu com a formação do grupo Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), em Munique, composto por artistas como Wassily Kandinsky e Franz Marc. Embora ambos os grupos compartilhassem a ideia de distorcer a realidade e explorar a subjetividade, o Der Blaue Reiter adotou uma abordagem mais espiritual, buscando expressar realidades metafísicas por meio da arte.

O Nazismo contra o Expressionismo

O regime nazista teve um impacto devastador sobre a arte expressionista, considerando-a "degenerada" e incompatível com seus valores nacionalistas e tradicionais. O movimento de censura do nazismo visava eliminar formas de arte modernas, como o expressionismo, o cubismo e o futurismo, que eram vistas como antinacionais e subversivas. Em 1937, os nazistas organizaram a Exposição de Arte Degenerada em Munique, onde obras de artistas como Ernst Ludwig Kirchner, foram expostas de forma grotesca, sendo ridicularizadas como expressão da loucura e usadas como exemplo do que o regime considerava corrompido. Muitas dessas obras foram retiradas de museus, destruídas ou vendidas a colecionadores estrangeiros, enquanto outras foram armazenadas fora do alcance do público.

O regime nazista tentou eliminar o expressionismo da cena artística alemã e ainda associou esse movimento ao comunismo e o rotulou de imoral e subversivo. Em 1937, cerca de 16.500 obras de arte foram confiscadas, incluindo trabalhos de artistas renomados como Van Gogh, Pablo Picasso e Matisse, muitas das quais foram vendidas em leilões ou destruídas, resultando em um prejuízo irreparável para a arte alemã e mundial.

3 Cursos Para Você Entender tudo sobre Arte Moderna

Para você que deseja entender profundamente o que é a arte, o que é Arte Moderna e, consequentemente, o movimento Expressionista, listamos três cursos essenciais da Casa do Saber que vão te fornecer uma visão mais abrangente sobre esses temas. São eles:

  1. A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock
  2. Introdução à História da Arte
  3. O que é Arte?



A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock

O curso "A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock" oferece uma análise profunda das transformações que ocorreram na arte moderna entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX.

Através das obras e vidas de artistas icônicos como Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock, o curso revela como a arte moderna rompeu com as convenções estéticas anteriores e aborda o impacto desse movimento nas instituições, na crítica de arte e no mercado.

O curso é ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp e pesquisador de pós-doutorado no Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP), Felipe Martinez. Com vasta experiência acadêmica e profissional, Felipe Martinez é especialista na obra de Van Gogh e tem atuação em instituições renomadas, como o MASP e o MAM de São Paulo. Confira a seguir uma prévia do curso:

Thumb curso 'A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock' com Felipe Martinez


Introdução à História da Arte

O curso "Introdução à História da Arte" oferece uma visão abrangente dos principais marcos e transformações na arte ocidental, desde o Renascimento até a arte moderna e contemporânea. Ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp e pesquisador da USP (MAC-USP), Felipe Martinez, o curso mostra como nossos conceitos de beleza e arte são construídos a partir do contexto histórico.

As aulas cobrem uma vasta gama de movimentos e artistas, como Michelangelo, Caravaggio, Monet, Degas, Van Gogh e Matisse, além de discutir as influências estéticas, técnicas e sociais que formaram cada período. A arte moderna e as vanguardas europeias fazem parte do conteúdo do curso e você pode conferir um pouco das aulas dando play no vídeo abaixo:

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O que é Arte?

O curso "O Que é Arte?" busca responder a essa pergunta, que permanece relevante e aberta a diversas interpretações. Através de uma abordagem crítica, o pesquisador Felipe Martinez investiga a arte a partir de seus diferentes sentidos, funções e efeitos, analisando como ela se conecta com a sociedade e provoca reflexões. As aulas envolvem obras e autores de períodos clássicos, modernos e contemporâneos, oferecendo novas formas de compreender e questionar o papel da arte em nosso mundo. Assista abaixo um trecho de uma das aulas para se familiarizar com o conhecimento compartilhado:

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Quais são as Características do Expressionismo?

Influenciado pelo gótico alemão, o movimento expressionista é caracterizado pela distorção das formas, uso de cores intensas para refletir emoções, e ênfase no impacto psicológico sobre a realidade objetiva. O expressionismo também se concentra no isolamento urbano, alienação e solidão do indivíduo, além de usar linhas dramáticas e angulares para aumentar a tensão emocional. Embora tenha sido um movimento heterogêneo, com grupos e artistas apresentando grandes diferenças estilísticas e temáticas, sua influência se estendeu por várias décadas, até a Segunda Guerra Mundial, e alcançou outros países além da Alemanha.

Principais características do expressionismo:

  • Distorção das formas para expressar emoções, não a realidade
  • Uso de cores vibrantes e intensificadas
  • Foco nas emoções e tensões interiores, não na objetividade
  • Representação de cenas urbanas e do isolamento
  • Linhas dramáticas e angulares para aumentar a intensidade emocional
  • Impacto psicológico mais importante que a beleza visual
  • Diversidade estilística e temática entre os grupos e artistas



Principais Artistas do Expressionismo

Abaixo, apresentamos uma tabela com alguns dos principais artistas do movimento expressionista, suas características e obras mais representativas. Além disso, incluímos artistas do pós-impressionismo, cujas obras influenciaram diretamente o surgimento e o desenvolvimento do expressionismo. Confira:

PINTORES EXPRESSIONISTAS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS OBRAS
Edvard Munch Conhecido por expressar emoções de angústia e ansiedade, especialmente a solidão humana O Grito (1893)
Egon Schiele Famoso por suas representações distorcidas do corpo humano, explorando temas de desejo e morte Retrato de Wally (1912)
Ernst Ludwig Kirchner Membro do grupo Die Brücke, seus trabalhos eram caracterizados por distorções de figuras e cores vibrantes Autorretrato com Modelos (1910)
Wassily Kandinsky Pioneiro da arte abstrata, ele acreditava que a arte deveria expressar a espiritualidade e a emoção Composição VII (1913)


Pintura Expressionista

Aqui estão algumas das principais obras expressionistas, que exemplificam a distorção da realidade e a ênfase nas emoções, tão características do expressionismo:

O Grito (1893) | Edvard Munch

Quadro 'O Grito' de Edvard Munch, pintado em 1893. Retrata, de forma distorcida, uma pessoa gritando em cima de uma ponte, com expressão de aflição.
O Grito, Edvard Munch. 1893. Têmpera e pastel oleoso sobre cartão, 91 x 73,5 cm. Galeria Nacional de Oslo, Noruega.


O Grito é uma das obras mais icônicas do expressionismo, capturando a angústia e o desespero humano. A distorção da figura e a explosão de cores vibrantes transmitem a sensação de uma crise emocional profunda.

Mulher Sentada com Joelhos Dobrados (1917) | Egon Schiele

Quadro 'Mulher Sentada com Joelhos Dobrados' de Egon Schiele, pintado em 1917. Retrata uma mulher sentada, com as pernas abertas, encostando a cabeça em um dos joelhos dobrados.
Mulher Sentada com Joelhos Dobrados, Egon Schiele, 1917. Guache, aquarela e giz de cera preto sobre papel. Galeria Nacional de Praga, Praga.


Mulher Sentada com Joelhos Dobrados é uma das imagens mais conhecidas de Schiele e revela uma mulher representada de uma maneira que destoava completamente dos padrões convencionais da arte da época. Ele mistura um ângulo nada convencional com uma estética erótica.

Composição VII(1913) | Wassily Kandinsky

Quadro 'Composição VII' de Wassily Kandinsky, pintado em 1913. É uma pintura abstrata, de traços fortes e marcantes, com uso de cores intensas e contrastantes.
Composição VII, Wassily Kandinsky, 1913. Óleo sobre tela, 200,6 cm x 302,2 cm. Galeria Tretyakov , Moscou.


Kandinsky foi um dos primeiros artistas a criar a arte abstrata. "Composição VII" é uma obra caótica, com cores vibrantes. O quadro não faz uma representação figurativa da realidade e traz uma composição complexa que cria novos caminhos e possibilidades para a arte modernista.

O Expressionismo no Brasil

O Expressionismo no Brasil, embora não tenha se consolidado como um movimento dominante, surgiu no início do século XX influenciado pelas inovações da vanguarda europeia e deixou uma marca significativa nas artes, especialmente na pintura. Artistas como Cândido Portinari , Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti e Anita Malfatti buscaram transmitir emoções intensas e subjetivas por meio da distorção das formas, cores fortes e contrastantes, além de uma representação mais psicológica e emocional do ser humano. Obras como Retirantes e Guerra, de Portinari, exemplificam a busca por representar o sofrimento e as tensões sociais, refletindo as angústias de sua época.

Quadro 'Retirantes' de Cândido Portinari, pintado em 1944. Mostra uma família de camponeses em fuga, com rostos expressando sofrimento e fadiga, em uma composição de cores fortes que transmite a dor e a luta das dificuldades sociais.
Retirantes, Cândido Portinari, 1944. Óleo sobre tela, 190 cm x 180 cm. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (SP)


Impacto e Legado do Expressionismo

O expressionismo, embora inicialmente rejeitado, desempenhou um papel fundamental na reconfiguração da arte moderna, abrindo caminho para movimentos como o surrealismo e a arte abstrata. Sua ênfase na distorção das formas e na representação do mundo interior desafiou as convenções estéticas da época e transformou a concepção da arte de uma mera representação da realidade externa para uma expressão profunda das experiências humanas. O legado do expressionismo, com suas inovações e reflexões sobre a condição humana, continua a influenciar as artes visuais e outras formas criativas até os dias de hoje. Além disso, o movimento também deixou uma marca significativa no cinema, especialmente nos gêneros de horror e suspense.

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Perguntas Frequentes sobre Expressionismo

O que é o expressionismo?

O expressionismo é um movimento artístico que começou no início do século XX, focado na expressão das emoções do artista através da distorção de formas e do uso intensivo de cores vibrantes.

Quais são as principais características do expressionismo?

As características do expressionismo incluem distorção das formas para expressar emoções, uso de cores intensas e vibrantes, e a exploração de temas como alienação, angústia e a tensão interior do ser humano.

Referências:

https://enciclopedia.itaucultural.org.br/termos/80046-expressionismo

Autores

Provavelmente você já ouviu ou leu a frase “Penso, logo existo”. Uma das mais célebres frases da filosofia moderna pertence a René Descartes, um homem que foi filósofo, matemático e físico e teve contribuições fundamentais para a ciência moderna.

Neste texto você vai conhecer mais sobre a vida deste filósofo racionalista, seus principais princípios filosóficos e contribuições que estão presentes na nossa vida até os dias de hoje.

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Quem foi René Descartes?

René Descartes foi um filósofo, matemático e físico francês. Nasceu em 31 de março de 1596, na antiga La Haye, na França, agora La Haye-Descartes em sua homenagem.

Conhecido como o "pai da filosofia moderna", ele propôs uma nova perspectiva sobre o pensamento, baseado na razão e na dúvida metódica.

Desde a infância, Descartes teve contato com uma educação rica e de qualidade. Estudou no colégio jesuíta de La Flèche, onde aprendeu filosofia escolástica.

Posteriormente, formou-se em Direito na Universidade de Poitiers, apesar de não ter exercido a profissão.

Contudo, Descartes entendia que a escolástica não o levaria para um conhecimento indubitável. Então seu interesse se voltou para a matemática, a filosofia e as ciências naturais.

Ele foi de encontro com o pensamento aristotélico ao propor uma ciência unitária e universal, que seria pilar para o método científico moderno.

Descartes viveu em um período de grandes transformações. Ele vivenciou o fim da Idade Média e o início da modernidade, período no qual o pensamento era baseado na autoridade da Igreja e das tradições.

Por ter sido uma época marcada pelas descobertas científicas, mudanças religiosas e conflitos políticos, começou a ocorrer uma mudança quanto ao pensamento tradicional vigente.

Nesse contexto, Descartes propôs um novo método de investigação que valorizava a razão e a lógica acima de tudo.

Ao longo de sua vida, Descartes escreveu obras que influenciaram não só a filosofia, mas também a ciência e a matemática.

Entre as principais obras de Descartes estão:

  • Discurso do Método (1637)

  • Meditações Metafísicas (1641)

  • Princípios da Filosofia (1644)



Descartes recebeu um convite, em 1649, para ser conselheiro e professor da rainha Cristina, em Estocolmo, Suécia. Ele faleceu em 1650, de pneumonia.

O racionalismo cartesiano e a dúvida metódica

René Descartes recebeu o status de fundador do racionalismo moderno. Ele tinha como proposta filosófica estabelecer um conhecimento seguro e verdadeiro, baseado na razão.

Para isso, desenvolveu um procedimento rigoroso conhecido como dúvida metódica.

Também conhecido como método da dúvida, este é um modelo de investigação rigorosa que consiste em colocar sob suspeita todas as crenças, mesmo aquelas que já são tidas como certezas, que possam ser passíveis de dúvida.

Descartes propõe que antes de aceitar qualquer ideia como verdadeira é necessário examiná-la criteriosamente, questionando sua origem e seus fundamentos.

E esses questionamentos também se referem às informações obtidas pelos sentidos – que podem ser enganosas –, as crenças aprendidas na infância e até mesmo as verdades matemáticas.

O ponto-chave da sua proposta filosófica são as ideias inatas, as quais são verdades que estão na mente humana desde o nascimento e que são independentes da experiência sensível. Para exemplificar, a noção de Deus e da perfeição. Este método também ficou conhecido como método cartesiano.

Pode-se chamar essa dúvida de método porque, para Descartes, a dúvida é uma ferramenta para a construção do conhecimento. E a razão deve ser aplicada de forma ordenada e lógica, organizando os problemas dos mais simples para os mais complexos.

Então, para ele, a dúvida de forma radical deveria ser aplicada, pois, assim, atingiria-se um ponto seguro do conhecimento que temos.

Tamanha era a preocupação do filósofo que ele questionou a própria existência, chegando à famosa frase “Penso, logo existo” (Cogito, ergo sum), a qual é a conclusão do argumento do cogito, a primeira certeza inabalável.

Portanto, o racionalismo cartesiano afirma que a razão é o único caminho confiável para atingir o conhecimento verdadeiro.

O método cartesiano influenciou profundamente a ciência moderna, a filosofia e a forma como pensamos sobre o mundo até hoje.


“Penso, logo existo”: significado e impacto

A frase “Penso, logo existo” (Cogito, ergo sum) é uma das mais conhecidas de Descartes e da história da filosofia.

Foi através dela que René Descartes traçou o caminho para a busca por um conhecimento que não pudesse ser colocado em dúvida.

Na verdade, essa frase é a conclusão do argumento do cogito.

O argumento do cogito

Ao adotar a dúvida metódica como método, Descartes questiona tudo: os sentidos, as crenças, as ideias inatas, aquelas colocadas por Deus na mente humana, e até mesmo os princípios da matemática.

No entanto, o próprio fato de pensar, mesmo que duvide, já prova a existência do sujeito enquanto pensamento.

Assim, o cogito se tornou a primeira certeza indiscutível: se penso, logo existo.

René Descartes trouxe para a discussão uma nova perspectiva do ponto de partida do conhecimento: a razão. Isso rompia com a tradição filosófica que antes se apoiava em autoridades externas, tradições ou experiências sensoriais.

A dúvida radical é fundamental para esse pensamento porque, mesmo que a convicção do indivíduo seja falsa, ele a está questionando e isso, por si só, prova a sua existência na condição de sujeito pensante.

Portanto, sendo provado que o sujeito é pensante, isso se torna uma verdade que fundamenta seu pensamento filosófico para a construção do edifício do conhecimento.

A partir da certeza do cogito, Descartes busca demonstrar e fundamentar a existência de Deus para validar a confiabilidade do mundo exterior – sempre partindo da razão.

O cogito inaugura uma nova forma de pensar, focada no sujeito e em sua capacidade de reflexão. Desta forma, Descartes estabelece a consciência do indivíduo como base da construção do saber.

Essa ideia impacta a filosofia e outras áreas, como a ciência, a psicologia e a própria noção de sujeito moderno.

A confiança na razão e na autonomia do indivíduo, discutidas no cogito, moldaram a percepção do ser humano na modernidade, instigando o caráter investigativo.

Em resumo, a conclusão “penso, logo existo” extrapola a frase filosófica. Ela é o começo para compreender o mundo e a si mesmo sob um novo olhar.



Dualismo mente e corpo: a separação entre “res cogitans” e “res extensa”

A teoria do dualismo proposta por Descartes diz que existem duas substâncias distintas na realidade: a mente (res cogitans) e o corpo (res extensa).

A res cogitans é a substância pensante, imaterial, consciente e racional, ou seja, a mente. Portanto, é a parte responsável pelo pensamento, pela dúvida, pela compreensão, pelo desejo e pelo sentimento.

Entretanto, a res extensa é a substância material, que tem forma e que se submete às leis da física, isto é, o corpo.

Descartes dizia que a mente é invisível e indivisível, enquanto o corpo é visível e divisível.

Embora mente e corpo sejam substâncias de naturezas diferentes, elas interagem nas sensações e emoções. Apesar de serem partes distintas (res cogitans e res extensa), estão interligadas.

Segundo Descartes, a comunicação entre essas substâncias acontece por meio da glândula pineal, localizada no cérebro, onde os pensamentos influenciam as ações do corpo e a recíproca é verdadeira.

O princípio do dualismo mente e corpo contribuiu para uma mudança importante no modo como essas substâncias passaram a ser abordadas na ciência: a mente passou a ser estudada pela filosofia, enquanto o corpo e os fenômenos físicos se tornaram objeto da ciência moderna.

Essa distinção não só permitiu o avanço de áreas como a medicina e a matemática, como também contribuiu para o desenvolvimento da psicologia e da nossa compreensão sobre a subjetividade humana.

Descartes na matemática, física e pensamento científico

As ideias de Descartes tiveram grande influência no desenvolvimento da matemática, da física e da ciência moderna como um todo.

Quando Descartes propôs uma busca pelo conhecimento verdadeiro por meio da razão, ele contribuiu com a fundamentação racionalista do método científico e modificou a compreensão que temos da natureza.

Na matemática, sua principal contribuição foi a criação da geometria analítica, que uniu a álgebra e a geometria em um único sistema.

Isso permitiu representar elementos geométricos, como retas, pontos, circunferências, por meio de equações, o que possibilitou descrever fenômenos naturais com precisão matemática.

Os conhecidos eixos cartesianos são fundamentais para diversas áreas da ciência e da engenharia.

Já na física, Descartes propôs uma visão mecanicista do mundo, rompendo com a visão aristotélica. Ele acreditava que a natureza funciona como uma máquina, obedecendo a leis mecânicas (matemáticas e racionais), descartando o sobrenatural.

Com isso, trouxe a ideia de que os fenômenos físicos podem ser explicados através das causas eficientes (colisões e movimento de partículas materiais), o que teve impacto direto para a física moderna.

Por último, mas não menos relevante, sua colaboração com o pensamento científico está diretamente ligada à valorização do método.

Segundo Descartes, o conhecimento deve seguir um raciocínio lógico e ordenado, com base em evidências claras e objetivas, guiando o ideal de objetividade que orienta as ciências até os dias atuais.

Quando René Descartes elaborou um pensamento que unia razão, clareza conceitual e método, ele estabeleceu fundamentos capazes de orientar a investigação científica, que ainda são utilizados no mundo moderno.

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Críticas e limitações do pensamento cartesiano

O pensamento cartesiano não só exerceu influência na filosofia e nas ciências modernas, como também recebeu críticas importantes, sobretudo de visões contemporâneas.

Um dos pontos de crítica é o seu dualismo mente e corpo, res cogitans e res extensa, como substâncias distintas e independentes.

Para alguns críticos, essa divisão gera dificuldades em explicar como duas naturezas tão diferentes poderiam interagir.

A tentativa de Descartes de resolver isso por meio da glândula pineal não foi muito aceita. Filósofos como Espinosa e Leibniz buscaram alternativas para superar essa divisão e defender uma visão mais integrada da realidade.

Outro questionamento sobre as ideias de Descartes volta-se para o racionalismo cartesiano excessivo.

Quando René Descartes prioriza a razão como fonte do conhecimento, ele desconsidera a relevância das outras experiências: dos sentidos, da vivência e do contexto histórico como parte fundamental da construção do conhecimento.

Alguns filósofos conhecidos que contrapuseram essa ideia são dois empiristas, John Locke e David Hume. Eles argumentaram que todo conhecimento tem origem na experiência sensível.

Agora, na contemporaneidade, a crítica ao racionalismo cartesiano expressa a necessidade de repensar o sujeito de forma mais complexa, pois não é possível ignorar os contextos culturais, sociais e históricos aos quais ele pertence.

Apesar dessas limitações e questionamentos, o pensamento cartesiano continua relevante. Sua influência foi tão forte que correntes filosóficas se formaram a partir das críticas e das dúvidas que vieram de suas ideias, como o empirismo.

E não seria essa a proposta inicial do pensamento cartesiano? Questionar tudo, até mesmo as crenças que são tidas como verdades? Provavelmente, ele estaria feliz com o resultado de suas ideias e de suas questões em aberto.

Por que ainda estudamos Descartes hoje?

René Descartes continua até hoje sendo referência e provocando reflexões fundamentais sobre a razão, a dúvida e o conhecimento.

O método cartesiano teve forte influência na investigação filosófica, científica e epistemológica, trazendo o sujeito pensante para o centro da busca pela verdade.

Sua proposta de começar o saber pela suspensão de todas as certezas abriu caminho para uma filosofia mais crítica e autônoma, inclusive favoreceu o surgimento de ramos da filosofia que tentavam se inspirar, como o Iluminismo, ou ressignificá-lo.

Ainda que tenham sido refutadas e recebido críticas, as ideias de Descartes não só influenciaram como ainda influenciam a construção do conhecimento, a ciência e a sociedade.

Estudar Descartes é voltar às raízes do pensamento moderno como um guia para compreendermos o que é o conhecimento e a nossa existência. Além de ser um convite para a autocrítica para refletirmos sobre como pensamos e como lidamos com a dúvida.

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A psicanálise de Wilfred Ruprecht Bion analisa a mente em grupo e a formação das emoções através do autoconhecimento. Além de ter produzido uma teoria sobre o funcionamento da personalidade, W. Bion criou a perspectiva que defende uma psicanálise aplicada para além do inconsciente, na medida em que os aspectos conscientes também revelariam o mundo dos sujeitos.

Para compreender os seus principais conceitos e percorrer sobre as particularidades da sua história, confira:



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Quem foi Wilfred Bion?

Nascido em 1897 em Penjab, na Índia, Bion foi criado até os sete anos por uma ama indiana, Ayah, que exerceu grande influência sobre seus estudos e interesses educacionais. Com uma família pouco estruturada, Bion foi enviado a um colégio interno na Inglaterra aos oito anos, no entanto, teve dificuldades de adaptação por conta da rigidez institucional e da solidão, uma vez que seus pais e irmã raramente o visitavam.

Para auxiliar no seu processo de sociabilidade, Wilfred passou a praticar esportes como natação e rugby, se tornando capitão de equipes. Além disso, ingressou nas Forças Armadas e atingiu patente de capitão, chegando a ser condecorado em função do seu desempenho. Com o final da I Guerra Mundial, Bion passa a desenvolver seus estudos em História na Universidade de Oxford, onde se aprofunda nos estudos filosóficos, com especial atenção ao empirismo inglês de Immanuel Kant.

O interesse na História Moderna e na Teologia, impulsionaram W. Bion a cursar Medicina na University College London e se tornar psicanalista. Trabalhos como o de Sigmund Freud despertaram o interesse para a prática clínica, assim como William Shakespeare, que o inspirou através dos estudos artísticos e estéticos.

Pioneiro na criação da terapia em grupo para militares, Bion buscava auxiliar no processo de reabilitação psíquica dos sujeitos após o elemento traumático.

Após formado, se qualifica em psicoterapia psicanalítica na Clínica Tavistock em Londres, onde entra em contato com o trabalho de Donald Winnicott e Herbert Rosenfeld. Foi somente em meados de 1946 que W. Bion entra em análise de treinamento com Melanie Klein, se tornando, em 1950, membro pleno da Sociedade Psicanalítica Britânica.

Nesse contexto, Bion produz estudos sobre as dinâmicas de grupo e o trabalho psicanalítico em pacientes com transtornos psicóticos, pois defendia que a sociedade tem uma tendência inata ao desejo de conhecimento e do saber.


Bion: a relação com outros psicanalistas e influências

Com o trabalho de Melanie Klein – referência nos estudos sobre escuta e desenvolvimento humano –, Bion se aprofunda na psicanálise, sobretudo em relação à vida psíquica primitiva, à identificação projetiva e ao desenvolvimento do pensamento.

Para o psicanalista, interessava compreender como a mente humana aprende a pensar.

Com Freud e a teoria do princípio do prazer e da realidade, W. Bion avança ao sugerir que o pensamento se dá justamente para que o indivíduo saiba lidar com a frustração da ausência do objeto desejado.

Esse processo é o que Bion denomina por aprendizado pela experiência: a psique se desenvolve no exercício de suportar as frustrações da vida e criar formas de compreendê-las.

Caso contrário, ao invés de pensar e processar a informação, o sujeito continuaria despejando impulsivamente seus estados emocionais, o que permitiria, segundo o psicanalista, uma abertura à patologias psíquicas.


O que diz a teoria de Wilfred Bion?

Ao trafegar por suas ideias, Bion deixa claro que não se preocupa em criar teorias, pois o seu objetivo maior estaria centrado em orientar o processo de análise do paciente a partir da experiência emocional.

No entanto, quando compara-se a sua perspectiva com a psicanálise clássica, é notório que a sua visão avança no que se refere a um processo de análise que não se dá somente a partir do analista, mas, sobretudo, a partir do sujeito analisado.

Para ele, não se trata da busca pela origem do trauma ou das fantasias do indivíduo, mas de uma expansão da capacidade de reflexão do sujeito em um universo que está em constante movimento. Nesse sentido, o que o psicanalista sugere, é que o processo analítico seja realizado principalmente pelo analisado, a partir das suas descobertas, verdades e contradições. Assim, o psicanalista auxilia o paciente no processo, não como um agente central, mas como um guia.

Para o autor, o pensamento humano se transforma em uma máquina de pensar por conta do acúmulo de experiências, sensações e percepções.

Desse modo, seria através dos processos de internalização dos pensamentos, que a compreensão de mundo do sujeito ganharia forma, no qual o indivíduo construirá suas próprias impressões, dotando-as de significado e experiência.

Quais os principais conceitos de Wilfred Bion?

Mesmo que o autor sugira que não há uma teoria em específico a seguir, alguns conceitos são centrais para o processo de compreensão de sua obra. Nesse aspecto, foram diversas as contribuições de W. Bion, algumas, em particular, merecem destaque pelo aprofundamento nos estudos psicanalíticos.

Teoria do Pensamento

Ainda na década de 1940, Bion desenvolve a Teoria do Pensamento a partir dos estudos de Freud e Klein. Em sua perspectiva, o pensar surge como uma saída, uma solução, para se lidar com a frustração no indivíduo.

Nesse sentido, a frustração, a não realização, é o primeiro passo para a origem do pensamento que, por sua vez, irá construir o aparelho psíquico. Em outras palavras, para Bion, o pensamento é precursor. Assim, o aparelho psíquico existe para dar resposta à necessidade do pensar.

“O pensamento está em busca de um pensador” (W. Bion)


Bion defende que a primeira frustração ocorre a partir da “experiência do não seio”, caracterizada pela percepção do bebê em não encontrar, instintivamente, o seio materno. A partir dessa não realização, o bebê desenvolverá o que ele denomina por Protopensamento, ou seja, uma primeira manifestação da capacidade do pensar, dando, então, condições para a elaboração dos pensamentos, para a produção dos sonhos e das funções do intelecto.

Função Alfa e Função Beta

Nesse caminho, se o bebê lidar de forma positiva com a frustração, ocorrerá o pensamento em si, gerando, assim, a capacidade de tolerância do indivíduo. Esse processo é denominado por W. Bion por Função Alfa, ou seja, trata-se da constituição de uma compreensão das necessidades humanas a partir da primeira frustração.

Há, ainda, experiências que não puderam ser pensadas ou vividas pelo indivíduo, provocadas pela incapacidade de tolerar a frustração. A esses elementos, Bion denomina por Função Beta, compreendida como as experiências sensoriais primitivas que não foram elaboradas como positivas pelo bebê, e que geram uma espécie de agitação motora, ou seja, o excesso de sensações.

Em outras palavras, para ele, os elementos beta são armazenados não como forma de memória, mas como fatos e situações não digeridas, enquanto os elementos alfa foram digeridos e processados pelo indivíduo.

Teoria do Continente e Conteúdo

Outra perspectiva de W. Bion que merece destaque, é a Teoria do Continente e Conteúdo – um dos conceitos centrais da psicanálise contemporânea, que se refere à relação entre mãe e bebê.

Para o autor, o bebê nasce repleto de experiências sensoriais intensas, com baixa capacidade de organizá-las cognitivamente. Nesse sentido, um dos principais papéis da figura da cuidadora primária, é o de “conter” as necessidades orgânicas e emocionais, os medos e angústias do bebê.

A mãe, então, age como continente das emoções do bebê, sendo os conteúdos, a própria experiência da criança. Se a mãe transforma as angústias e as sensações do bebê em pensamentos e experiências, ela auxiliará no processo de aprendizagem e produção de autoconhecimento do sujeito.

Vínculos L/K/H

Outra percepção de W. Bion trata-se do conceito de vínculo, elaborado a partir de três obras do autor: Aprendendo com a experiência (1962), Elementos de Psicanálise (1963) e Transformações (1965). Nos livros, ele descreve os três tipos de elos: vínculo de amor (L – love), vínculo de ódio (H – hate) e vínculos de conhecimento (K – knowledge).

Os sentimentos que conhecemos pelos nomes 'amor' e 'ódio' parecem ser escolhas óbvias se o critério for a emoção básica. Inveja e Gratidão, Depressão, Culpa, Ansiedade, todos ocupam um lugar dominante na teoria psicanalítica” (Bion, 1962, p. 42-43).


Com isso, o que W. Bion nos diz, é que os elos são formados de modo dinâmico através de uma inter relação primitiva que afeta o desenvolvimento individual e que é investida por esses vínculos. Para ele, não há conhecimento sobre os objetos que não estejam profundamente enraizados em laços afetivos, ou seja, toda experiência emocional pode ser percebida como um elo, pois coloca um Eu e um objeto na presença um do outro.

Cabe ainda mencionar que, para o autor, os três tipos de vínculos podem ser sinalizados de forma positiva (+) ou negativa (-). Por exemplo: menos amor (-L) não é o mesmo que sentir ódio, assim como menos ódio (-H) não significa amor.

Para ler mais sobre amor e psicanálise, confira o curso Freud e o Amor - Casa do Saber.



Três obras de Wilfred Bion que você precisa conhecer

Com mais de 50 títulos publicados, a obra de Bion reflete a complexidade dos estudos contemporâneos da psicanálise a partir da psicologia social, baseada nas experiências emocionais que ocorreram na prática psicanalítica do autor.

No entanto, em particular, algumas obras merecem destaque:

(1961) BION, Wilfred R. Experiências em grupos. Buenos Aires: Paidos Iberica Ediciones S. A., 1980.

capa do livro Experiências em Grupos, de Wilfred Bion

No livro “Experiências em Grupos”, Bion reúne artigos próprios construídos entre 1948 e 1960, e constrói uma análise psicanalítica sobre a concepção e a mentalidade dos grupos. Apresentando conceitos Kleinianos, o psicanalista chama atenção para como o processo de análise deve se dar sob o olhar do que se diz e do que não se diz em terapia, avaliando não apenas as palavras do paciente, mas também, os seus silêncios.

(1962) BION, Wilfred R. Aprender da experiência. São Paulo: Editora Blucher, 2021.

capa do livro aprendar da experiência, de Wilfred Bion

Já em “Aprender da experiência”, W. Bion mostra a sua principal teoria sobre a formação do pensamento, chamando a atenção para a experiência emocional dos indivíduos enquanto propulsor para a reestruturação de ideias. Além disso, explora o aprendizado através do conhecimento aos problemas, pois sugere que o conhecimento sobre si, pode gerar um grau de sofrimento no sujeito.

(1963) BION, Wilfred R. Elementos da Psicanálise. Ribeirão Preto: Espaço Psi, 2023.

capa do livro elementos da psicanalise, de Wilfred Bion

Considerado uma das obras mais importantes e fundamentais da obra de Bion, “Elementos da Psicanálise” trata sobre a origem e a natureza dos pensamentos e da capacidade de pensar. O autor define os elementos da psicanálise a partir de um uso sadio ou patológico do pensamento, abrindo caminhos para se pensar a formação dos sentimentos de angústia, confiança e vitalidade a partir da frustração.




Resumo sobre Wilfred Bion

Com sua pioneira capacidade intelectual de investigar sobre a experiência dinâmica de grupos, e aprofundar nos estudos sobre desenvolvimento individual, Wilfred Bion se tornou uma referência para a psicanálise moderna.

A Casa do Saber oferece um curso que apresenta um panorama das questões centrais do pensamento do autor. Saiba mais: Bion e os Dilemas da Vida Comum: O Pensar na Contemporaneidade - Casa do Saber.

O seu trabalho ativo abriu caminhos para que as experiências emocionais dos sujeitos se apresentassem como um espaço de autodescoberta psicanalítica, na qual o autor destaca ser sempre de natureza vincular.

Nesse sentido, os estudos de W. Bion apresentam instigantes possibilidades de reflexão e análise dos sujeitos a partir de uma leitura expansionista e dialética.

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Referências:

https://psychoanalysis.org.uk/our-authors-and-theorists/wilfred-bion

https://www.bion.org.br/

https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372013000200015

https://www.encyclopedia.com/psychology/dictionaries-thesauruses-pictures-and-press-releases/love-hate-knowledge-lhk-links

https://sbpmg.org.br/wp-content/uploads/2022/11/6-Bion-1.pdf

ZIMERMAN-D.-E.-A-obra-Uma-Resenha-dos-Trab.-de-Bion.-In-Bion-Da-teoria-a-pratica.-pag.-31-47.-Cap.2.pdf

Sándor Ferenczi fez parte da primeira geração da psicanálise e é considerado um dos psicanalistas mais originais e inovadores. Ele recebeu a alcunha de enfant terrible (pessoa que se destaca pela irreverência e pelo espírito transgressor) da psicanálise, tamanha era sua ousadia para mergulhar e trazer novas perspectivas para o corpo teórico e clínico do campo.

Ferenczi foi um dos seguidores mais estimados por Freud e era chamado pelo mesmo de “meu amado filho”, apesar das discordâncias entre os dois, uma vez que Ferenczi aprofundou-se em temas que foram deixados em segundo plano por Freud, como o trauma na psicanálise, durante o desenvolvimento de sua obra.



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Sándor Ferenczi antes da psicanálise

Antes de tudo, conhecer as origens de Ferenczi ajuda a compreender a trajetória deste psicanalista tão relevante para a história, apesar de ter sido negligenciado pela academia. Sándor Ferenczi nasceu na Hungria, em 1893, na cidade de Miskolc. Era filho de dois editores, o que fez com que nascesse inserido no universo da cultura Húngara.

Além de seu idioma nativo, o húngaro, ele também falava alemão, francês, latim, grego e inglês. Em 1890, ingressou na Faculdade de Medicina de Viena, a mesma que Freud, e especializou-se em neurologia e neuropatologia.

Entretanto o seu primeiro contato com o pensamento freudiano foi por meio do livro “Sobre mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos - comunicação preliminar”. Neste período a psicanálise estava nascendo e Ferenczi bebeu da fonte do primeiro Freud da nova ciência, a psicanálise.

Logo após terminar sua formação em medicina, Ferenczi retornou à Hungria para a cidade de Budapeste, onde viveu quase toda sua vida, e exerceu a profissão desde médico assistente até o exercício da clínica psicanalítica.

Ferenczi também dava significativo valor às causas sociais, uma vez que, para ele, elas auxiliavam na compreensão do sofrimento humano. Com isso, ele se engajou em causas sociais através do atendimento e tratamento médico para pacientes à margem da sociedade na época, como os mais pobres, homossexuais, meretrizes.

Curiosidade: Sándor Ferenczi recebeu este nome em homenagem ao revolucionário húngaro Sándor Petofi, poeta e revolucionário nas jornadas da Primavera dos Povos de 1848.




Freud e Ferenczi: entre acordos e divergências

Posteriormente, em 1908, Freud e Ferenczi têm seu primeiro encontro, o qual foi muito rico profissionalmente e deu origem também a uma amizade pessoal.

Além disso, é importante lembrar que o grupo de analistas que Freud se relacionava, além de ser restrito, era composto por nomes muito conhecidos da época, como Otto Rank, Ernest Jones, que trouxeram grandes contribuições para o campo teórico e prático da psicanálise.

Logo após o seu encontro com Freud, Ferenczi fez uma viagem aos Estados Unidos, em 1909, e apresentou o 1° Ensaio Psicanalítico, no qual ele formulou o conceito de Introjeção, no texto “Transferência e Introjeção”, considerada uma das principais contribuições do autor para a psicanálise.

Ainda que Sándor Ferenczi tenha sido um dos colaboradores mais estimados de Freud, o médico húngaro rompeu com alguns paradigmas já estabelecidos por Freud. Uma destas rupturas foi a irreverência na psicanálise com a ideia da “ética do cuidado” e uma nova perspectiva sobre o papel do analista.

Antes a psicanálise era respaldada na dinâmica da interpretação, onde o paciente entrava em associação livre e o analista, de forma distante, interpretava-o. Entretanto Ferenczi tece uma crítica pontual à ausência de empatia dos psicanalistas, ao passo que defendia que o paciente precisava ser ouvido com mais sensibilidade, com mais empatia e a análise poderia ter mais intervenções do analista, o que chamou de técnica ativa.

Apesar das discordâncias de pensamento entre Freud e Ferenczi, um respeito mútuo entre os dois se manteve ao ponto que Freud convidou-o para proferir o discurso que propôs a criação da Associação Psicanalítica Internacional, no 2° Congresso de Psicanálise de Nuremberg, em 1910.

comite secreto de Sigmund Freud, com a presença de Ferenczi

O “comitê secreto” ou “círculo íntimo” de Sigmund Freud. Freud é o primeiro à esquerda, sentado, e Ferenczi está em pé, à direita. Fonte: Instituto de Psicologia - USP


Pouco depois, em 1912, foi criado um “comitê secreto” formado pelos mais próximos de Freud a fim de transmitir a teoria pura da psicanálise. Alguns dos integrantes que compunham este grupo além de Ferenczi eram Otto Rank, Karl Abraham e Ernest Jones.



Trajetória de produções de Sándor Ferenczi

Em 1919, Ferenczi publicou o texto “A técnica psicanalítica” que aborda a contratransferência, conceito que desenvolve questões sobre a técnica psicanalítica clássica e as necessárias adaptações para que ela se aprimorasse. Com isso, futuramente, ele influenciou o pensamento de outros analistas relevantes, como Melanie Klein.

A relação com estes e outros psicanalistas, assim como entre Freud e Ferenczi, foi muito rica, e proporcionou produções importantes para o campo da psicanálise, como o livro “Inovações na técnica psicanalítica” (1922), de Sándor Ferenczi e Otto Rank.

Tempos depois, em 1928, Ferenczi publica o texto “Elasticidade da técnica psicanalítica “ que trouxe a proposta de uma mudança de postura dos analistas para que eles descessem do degrau do saber e se colocassem mais próximos do paciente e sentindo junto com ele.

“a modéstia do analista não é uma atitude aprendida, mas a expressão da aceitação dos limites do nosso saber” (Ferenczi, 1928/1992, p.31)


Pouco antes do seu falecimento, em 1933, Ferenczi apresentou na Sociedade Psicanalítica de Viena, 1931, a conferência “Análise de crianças com adultos”, um dos principais elementos da sua obra sobre trauma. Neste texto, ele resgatou uma ideia que Freud acabou tirando do fator central de sua obra, a experiência traumática como origem dos sintomas.

Nos anos seguintes Ferenczi desenvolveu outros textos e conferências que complementaram a teoria do trauma, como “A confusão de língua entre os adultos e crianças - a linguagem da ternura e da paixão” (1932), reafirmando a originalidade de suas contribuições para a problemática do trauma na psicanálise.


Teoria de Sándor Ferenczi e principais conceitos

Ferenczi foi um dos discípulos mais criativos e singulares de Freud. Ele elaborou conceitos irreverentes para a época e começou um processo de mudanças na prática tradicional da psicanálise. Algumas de suas principais colaborações para o campo foram:

Teoria ativa:

Uma proposta de modelo clínico no qual o analista assumisse uma postura mais ativa, ou seja, fizesse mais intervenções no processo da análise. A partir disso, para Sándor Ferenczi, seria necessário colocar mais empatia nas interações clínicas rompendo com a proposta freudiana da postura mais passiva e silenciosa.

Elasticidade da técnica:

Conceito que sugere uma abordagem psicanalítica que se adapte às necessidades do paciente e não o contrário. A flexibilidade nas técnicas de análise permite ajustes na postura do analista para favorecer maior acolhimento do paciente.

Transferência e Introjeção:

Apesar do conceito de transferência já ter sido desenvolvido por Freud, Ferenczi trouxe novas perspectivas. Para ele, a transferência não é somente um mecanismo de repetição do passado, mas uma possibilidade para uma reparação emocional. Desta forma a relação entre paciente e analista deveria ser um espaço seguro e de empatia.

Já a introjeção era um mecanismo central do trauma. Ou seja, o processo em que o paciente introjeta os abusos que sofreu e, assim, assume a culpa. Desta forma acredita que merece a violência que passou. Para ele, esse era um processo psíquico de sobrevivência à dor emocional que foi causada.

A relação entre esses dois conceitos, de transferência e introjeção, dá-se a partir do momento em que o paciente pode repetir o padrão de transferência e introjeção na relação com o analista. A partir disso, o foco na dimensão afetiva da psicanálise, a empatia e o acolhimento, seriam fundamentais para ajudar o paciente ressignificar as experiências.

Contratransferência:

Diretamente ligado aos conceitos anteriores, Ferenczi se reavaliou, mostrando seu caráter inquieto que buscava sempre o bem-estar dos pacientes. Em 1925, aprofundou o conceito de contratransferência, reação emocional do analista ao paciente. Portanto, o profissional deveria reconhecer suas próprias respostas emocionais para lidar com as questões do paciente e fortalecer o vínculo terapêutico.

Teoria do Trauma:

Em síntese, a teoria do trauma considera o trauma como um evento real que era mais do que um evento externo, mas também uma questão que afetava emocionalmente o indivíduo. Para Sándor Ferenczi, a confiança era um elemento fundamental para ressignificar a dor e uma análise com empatia e acolhedora seria ideal para restabelecer a saúde do paciente.



Principais obras de Sándor Ferenczi

Ferenczi escreveu diversos artigos, textos que contribuíram de forma expressiva para psicanálise mais humana e empática. Apesar de muitos de seus livros e compilados não terem tradução para o português, conheça as obras que destacam as principais contribuições de Ferenczi para a psicanálise:

  • O diário clínico (1932): Este livro reúne as anotações de Ferenczi sobre experiências terapêuticas, reflexões sobre o trauma e críticas à psicanálise tradicional. Ele aprofunda a relação entre abuso infantil e transtornos psíquicos e discute sua técnica ativa e a importância do afeto na análise. A obra revela seu distanciamento de Freud e sua busca por uma abordagem mais humanizada na psicanálise. Atualmente o livro encontra-se esgotado e sem previsão de disponibilidade.

    capa livro o diario clinico de Sandor Ferenczi

  • Thalassa: um ensaio sobre a Teoria da Genitalidade (1924): Explora a relação entre sexualidade e evolução psíquica. A teoria sugere que o orgasmo simboliza esse retorno temporário. Ferenczi também relaciona traumas infantis à repressão da sexualidade e à formação de neuroses.

    capa do livro Thalassa de Sandor Ferenczi

  • Obras Completas – Psicanálise I, II, III, IV: Este box contempla em 4 volumes traduções de textos ilustres de Ferenczi. Confira o conteúdo de cada volume:
    • Volume I: Textos completos escritos por Ferenczi entre 1908 e 1912, abrangendo alguns clássicos da literatura analítica como "Transferência e introjeção", "Palavras obscenas", "O papel da homossexualidade na patogenia da paranoia", "Sintomas transitórios".
    • Volume II: Obras completas de Ferenczi de 1913 a 1919, abrangendo o período da 1ª Guerra Mundial e da análise de Ferenczi com Freud. Algumas de suas mais importantes contribuições à psicanálise estão presentes, como "O desenvolvimento do sentido da realidade e seus estágios", "Um pequeno homem-galo", "Sintomas transitórios no decorrer de uma psicanálise" e "A técnica psicanalítica".
    • Volume III: Compilado de artigos escritos entre 1919 e 1926, período das experiências técnicas mais famosas de Ferenczi, a chamada "técnica ativa". O volume inclui também o famoso "Thalassa: ensaio sobre a teoria da genitalidade".
    • Volume IV: Conjunto de artigos escritos de 1927 a 1933, ano da morte de Ferenczi. Não foi um período de muitas produções, mas são fundamentais no desenvolvimento das ideias do autor e registram as experiências técnicas de Ferenczi. Essa compilação não inclui o Diário Clínico do autor.


Contribuições de Ferenczi para a psicanálise

Apesar de ter sido “o filho amado” de Freud e todo seu trabalho ter sido muito debatido e transformador no campo da psicanálise, a originalidade e criatividade de Sándor Ferenczi tiveram um preço.

Sua produção fugia do comum e abriu espaço para debates sobre questões da relação psicanalítica e da abordagem mais empática e flexível na análise, na qual não era o paciente que deveria se adequar ao método, mas, sim, o método ser adequado ao paciente, o conceito de elasticidade da técnica.

Com isso, o autor foi marginalizado na comunidade acadêmica em decorrência das suas críticas à psicanálise tradicional que até então era vigente na Associação Internacional de Psicanálise. Isso fez com que Ferenczi fosse colocado nas sombras desde o final de 1920 até a década de 1980. Quando, então, foi resgatado na tradução para o francês de “O Diário clínico” (1932), por Judith Dupont, psicanalista francesa, e fez com que o autor retornasse ao cenário da psicanálise internacional.


A revolução proposta por Sándor Ferenczi demorou um certo tempo para que fosse difundida entre os psicanalistas, porém, na contemporaneidade, Ferenczi vem se mostrando o precursor de muitas das ideias e pensamentos de autores relevantes como, Winnicott, Balint, Searles e outros.

Desse modo, ele solidificou a sua expressividade a partir da proposta de uma psicanálise com mais empatia, humanizada e a importância do vínculo entre analista e paciente.

Atualmente, as contribuições de Ferenczi são amplamente reconhecidas, e muitos de seus conceitos foram incorporados à prática clínica contemporânea e seguem sendo estudados tanto por pessoas interessadas no tema e desejam começar a estudar psicanálisequanto por psicanalistas que lidam com trauma e abuso. Mesmo um século depois, Ferenczi continua atual.

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Referências:

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/496/sandor-ferenczi-contribuices-a-psicanalise-contemporanea

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/501/trauma-em-psicanalise-aspectos-teoricos-e-clinicos-em-freud-e-ferenczi

https://youtu.be/OZlJ5LzUsjc?si=LNX4qP4QWChXhtG7

https://www.ip.usp.br/site/noticia/para-conhecer-ferenczi-co-criador-da-psicanalise/

https://www.alsf-chile.org/Indepsi/Publicaciones/Dicionario-do-Pensamento-de-Sandor-Ferenczi.pdf

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