Psicologia Analítica

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A esquizofrenia é um dos transtornos mentais mais estigmatizados e incompreendidos da saúde mental. Não são raros os casos em que as pessoas chamam de “esquizofrênico” qualquer indivíduo que assume um comportamento considerado impróprio socialmente.

No entanto, esse é um estigma que precisa ser rompido, pois a esquizofrenia trata-se de uma condição psíquica grave, que faz com que a pessoa apresente perdas de contato com a realidade, afetando diretamente suas relações.

Marcada por sintomas como delírios, alucinações e alterações no pensamento, ela afeta cerca de 1% da população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, estima-se que entre 0,3% a 2,4% possuem o transtorno.

Neste artigo, vamos abordar de forma clara o que é a esquizofrenia, seus sintomas, causas, diagnóstico, tipos, formas de tratamento e, principalmente, como oferecer acolhimento.

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O que é esquizofrenia e qual a sua origem?

A esquizofrenia é um transtorno psicótico que afeta a forma como a pessoa vê a si e ao mundo. Caracterizado por distorções do pensamento e da percepção, a pessoa esquizofrênica tem a sensação constante de que seus sentimentos, pensamentos e atos são partilhados por outros, como se estivesse sendo analisada e vigiada frequentemente.

O termo “esquizofrenia” foi cunhado em 1911 pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler, a partir da junção dos termos schizo (dividir) e phren (mente), para descrever uma “divisão” entre pensamento, emoção e comportamento.

Não se trata de uma “dupla personalidade”, como muitos acreditam equivocadamente, mas sim de um transtorno mental crônico que afeta a forma como a pessoa percebe a realidade.

A esquizofrenia costuma surgir no final da adolescência ou início da vida adulta, entre os 15 e 35 anos, embora existam casos de esquizofrenia infantil ou início tardio (após os 40 anos). O transtorno pode se manifestar de forma leve ou grave, e nem todos os casos envolvem comportamentos agressivos ou perigosos.



Principais sintomas da esquizofrenia

Os sintomas da esquizofrenia costumam ser divididos em três grupos principais: positivos, negativos e cognitivos.

Vamos compreender melhor:

Sintomas positivos

São assim chamados porque “acrescentam” algo à experiência psíquica do indivíduo. Incluem:

  • Delírios: Crenças falsas e fixas, que não se abalam mesmo diante de evidências contrárias.
    Exemplo: Acreditar que está sendo perseguido ou que possui poderes especiais.
  • Alucinações: Percepções sensoriais sem estímulo real.
    Exemplo: Ouvir vozes (o sintoma mais comum).
  • Pensamento desorganizado: Dificuldade para organizar ideias e falas.
    Exemplo: Falas incoerentes, saltos de pensamento e raciocínio confuso.
  • Comportamento motor acelerado: Pode variar da agitação à catatonia, gerando ansiedade.
    Exemplo: Ficar imóvel e distante no pensamento por um longo tempo ou desenvolver movimentos repetitivos.

Sintomas negativos

São déficits emocionais e sociais que comprometem a qualidade de vida da pessoa esquizofrênica. Os sintomas negativos incluem:

  • Apatia ou falta de expressão emocional, sem muita capacidade de resposta;
  • Isolamento e reclusão social;
  • Diminuição da fala e das interações;
  • Falta de motivação, prazer ou interesse em atividades antes agradáveis.

Sintomas cognitivos

Têm relação com a dificuldade de pensamento, com um comprometimento da memória e dos processos de tomada de decisão.

  • Memória de curto prazo prejudicada;
  • Mau funcionamento de processos cognitivos complexos, como a resolução de problemas, tomada de decisões e planejamento;
  • Déficits de atenção.

A pessoa com esquizofrenia pode desenvolver delírios de que forças externas influenciam nos seus pensamentos e ações, além de exibir um raciocínio vago e obscuro, acreditando que situações cotidianas possuem um significado complexo, relacionado exclusivamente com ela.

O humor geralmente é superficial ou incongruente, acompanhado de momentos de inércia, negativismo ou estupor.

É importante destacar que a esquizofrenia não tende a começar com delírios e alucinações, mas sim com um isolamento social e outras mudanças de comportamento que fazem com que a pessoa seja vista como “diferente” por aqueles do seu convívio.



Causas e fatores de risco para a esquizofrenia

Ainda não existe uma causa única para a esquizofrenia. O transtorno é multifatorial e precisa ser investigado com bastante atenção, para identificar os fatores de risco.

No entanto, uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde aponta que o modelo de maior aceitação para compreender suas causas e fatores de risco é o da “vulnerabilidade versus estresse”. Em outras palavras, uma predisposição genética interage com estressores ambientais e psicológicos, aumentando a possibilidade do desenvolvimento do transtorno.

Assim, vemos a interferência de:

Fatores genéticos:

Casos de esquizofrenia na família aumentam a probabilidade do desenvolvimento do transtorno. No entanto, é importante ressaltar: ter histórico familiar aumenta o risco, mas não garante o desenvolvimento do quadro.

Fatores neurobiológicos:

Alterações na química cerebral, especialmente nos neurotransmissores dopamina e glutamato (responsáveis pelo prazer, motivação e excitação, respectivamente), estão associados ao transtorno.

Disfunções nesse sistema podem explicar os sintomas negativos e o pensamento desorganizadocaracterísticos da esquizofrenia.

Fatores ambientais:

Situações de estresse intenso, como perdas significativas, violência ou mudanças abruptas na vida, podem desencadear ou agravar sintomas em pessoas predispostas. Traumas na infância, como abuso físico, sexual ou negligência emocional, também estão associados a um maior risco.

Outro fator importante é o uso abusivo de substâncias psicoativas, especialmente em fases críticas do desenvolvimento, como a adolescência. Drogas como cocaína, LSD e metanfetaminas podem precipitar surtos psicóticos ou antecipar o início dos sintomas de esquizofrenia em indivíduos vulneráveis.

Além disso, complicações na gestação e no parto, como infecções virais intrauterinas, sofrimento fetal, desnutrição materna ou exposição a toxinas, podem afetar o desenvolvimento neurológico e contribuir para alterações cerebrais relacionadas ao transtorno.

Diagnóstico de esquizofrenia e seus tipos

O diagnóstico de esquizofrenia é feito por médicos psiquiatras com base na avaliação clínica, levando em conta a história de vida, os sintomas e a duração deles.

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e a Classificação Internacional de Doenças (CID-11) orientam os critérios diagnósticos.

Segundo o CID, o transtorno esquizofrênico inclui diferentes apresentações clínicas. Os tipos mais conhecidos são:

Esquizofrenia paranoide

É o tipo mais comum e costuma se manifestar com delírios de perseguição e alucinações auditivas, mas com preservação do pensamento e da afetividade.

Na esquizofrenia paranoide, os delírios são geralmente organizados e sistemáticos, fazendo com que a pessoa acredite, por exemplo, estar sendo espionada, vigiada ou alvo de uma conspiração. As alucinações auditivas são frequentes, com vozes críticas ou ameaçadoras.

Apesar disso, a capacidade de se comunicar e a expressão emocional podem estar relativamente preservadas, o que pode dificultar o reconhecimento do transtorno por quem convive com a pessoa.

Esquizofrenia hebefrênica (ou desorganizada)

Caracteriza-se por desorganização do pensamento, fala incoerente e comportamento inadequado. Frequentemente inicia-se de modo precoce.

O comportamento tende a ser imprevisível ou infantilizado, com risos inapropriados ou ações sem propósito claro. O discurso pode ser difícil de seguir, com trocas rápidas de assunto, frases desconexas ou uso de palavras inventadas.

Esquizofrenia catatônica

Envolve distúrbios motores extremos, desde imobilidade total (catatonia) até movimentos repetitivos.

A pessoa pode permanecer longos períodos em posturas rígidas, sem falar ou reagir ao ambiente ao redor, ou, ao contrário, apresentar agitação motora intensa e movimentos repetitivos, como bater as mãos ou andar em círculos.

Esquizofrenia simples

É mais difícil de ser identificada, pois é marcada principalmente pelos sintomas negativos. Pode ser confundida com depressão ou transtornos de personalidade.

Os sintomas se desenvolvem de forma lenta e progressiva, sem episódios psicóticos evidentes. A pessoa pode começar a se isolar socialmente, perder o interesse por atividades antes prazerosas e mostrar desmotivação.


Tratamento para esquizofrenia

Embora seja um transtorno crônico, a esquizofrenia pode ser tratada para alcançar estabilidade, autonomia e bem-estar.

Antipsicóticos

A base do tratamento envolve o uso de antipsicóticos, que regulam a atividade dos neurotransmissores. Os efeitos variam entre os pacientes, e o acompanhamento médico regular é essencial para ajustar doses e manejar os efeitos colaterais.

Psicoterapia

Abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), a psicanálise e o fortalecimento da escuta clínica ajudam na elaboração dos sintomas, na reconstrução do laço social e na melhoria da autoestima.

Reabilitação psicossocial

A inserção na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) com foco nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), além de oficinas terapêuticas e grupos de convivência, compõem estratégias de reabilitação psicossocial, sendo fundamentais para a autonomia e o pertencimento.

Para saber mais sobre a RAPS e os centros de atendimento psicoterapêutico, se informe nos sites oficiais do Ministério da Saúde ou procure o CAPS mais próximo de você na rede pública da sua cidade.



A importância da rede

O tratamento para esquizofrenia exige uma rede de cuidados integrada entre usuários do sistema de saúde mental, familiares, profissionais da saúde e serviços públicos. A construção dessa rede passa por políticas públicas de saúde mental assistenciais, somada ao combate à exclusão social.

Dois homens se abraçam em auditório durante evento ou palestra, demonstrando empatia e apoio emocional
Uma rede de apoio bem estruturada é fundamental para quem vive e convive com a esquizofrenia - Fonte: Adrianna Geo/ Unsplash


Como acolher uma pessoa com esquizofrenia?

Viver com esquizofrenia ou conviver com alguém com esse diagnóstico exige empatia, paciência e informação.

Confira algumas práticas essenciais:

  • Evite julgamentos: não invalide ou ridicularize os relatos da pessoa. Lembre-se que, para ela, o que ela está contando é real.
  • Ofereça escuta: ouvir vozes, por exemplo, não é sinônimo de “loucura”, mas um sinal que merece atenção.
  • Se informe: compreender o transtorno ajuda a lidar com ele sem medo.
  • Promova vínculos: o isolamento agrava os sintomas. Laços afetivos são essenciais.
  • Esteja atento a recaídas: mudanças no comportamento, no sono ou no humor podem sinalizar necessidade de reforço no tratamento.




Mitos sobre a esquizofrenia

Muitos são os estereótipos sobre a pessoa com esquizofrenia. A imagem de que são sujeitos perigosos, potencialmente violentos e agressivos, está na percepção social há séculos.

No entanto, para tratar o transtorno, amenizar os sintomas e reduzir os estigmas, é necessário informação para romper com esses preconceitos.

A seguir, alguns dos mitos mais comuns, e o que a ciência e a experiência clínica dizem de fato:

“Pessoas com esquizofrenia são perigosas”

Esse é um dos estigmas mais danosos. A maioria das pessoas com esquizofrenia não é violenta. Na realidade, elas estão mais vulneráveis a sofrerem violência do que a cometê-la.

O comportamento agressivo, quando existe, geralmente está associado à ausência de tratamento, ao uso de substâncias ou a contextos de profunda exclusão social.

“Esquizofrenia é sinônimo de múltiplas personalidades”

Esse também é um equívoco comum, mas, não. A esquizofrenia não é um transtorno dissociativo de identidade. Quem convive com esquizofrenia pode ter delírios e alucinações, mas não vive como se houvesse em si “duas ou mais pessoas”.

A confusão entre esses quadros dificulta a compreensão adequada da condição.

“Esquizofrenia é causada por ‘fraqueza emocional’”

A esquizofrenia tem base neurobiológica e multifatorial, envolvendo alterações químicas no cérebro, predisposição genética e fatores psicossociais e ambientais. Não é um sinal de fragilidade, falta de força de vontade e nem é uma escolha individual.

“Pessoas com esquizofrenia morrem cedo”

Embora existam riscos aumentados de doenças associadas (como as cardiovasculares) e vulnerabilidade social, pessoas com esquizofrenia não necessariamente terão uma expectativa de vida reduzida.

“Quem tem esquizofrenia sempre precisa ser internado”

Falso. A internação é uma medida excepcional, usada em casos graves e pontuais, geralmente quando há risco à vida ou necessidade de estabilização rápida.

É fundamental lembrar que a proposta do cuidado em saúde mental, sobretudo no Brasil através da RAPS, é valorizar o cuidado em liberdade, com suporte no território, tratamento ambulatorial e vínculo com os CAPS.

Indicação da Casa

Alguns livros clássicos tratam sobre o processo de construção de estigmas sobre a pessoa com transtornos mentais. Entre eles, podemos mencionar A História da Loucura na Idade Clássica (1961) de Michel Foucault e Loucura na Civilização: Uma história cultural da insanidade (2023) de Andrew T. Scull.

Além disso, obras como Entre a Razão e a Ilusão: Desmistificando a Esquizofrenia (2023) de Jorge Cândido de Assis, Cecília Villares e Rodrigo Bressan tratam especificamente sobre a esquizofrenia e a convivência com o transtorno.

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Referências:

https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/protocolos/pcdt-esquizofrenia-livro-2013-1.pdf

https://www.gov.br/casacivil/pt-br/assuntos/noticias/2022/outubro/sus-oferece-atendimento-as-pessoas-que-vivem-com-algum-tipo-de-transtorno-mental

Provavelmente a palavra “ceticismo” não é estranha para você. Sabe o ditado “ver para crer”? Ele exemplifica o pensamento comum do que é o cético: aquele que não acredita em nada. Mas não é bem assim. Talvez você não conheça o verdadeiro significado, nem onde, nem quando o ceticismo começou.

Um spoiler que podemos te dar é que foi ainda na Grécia Antiga e a teoria cética foi se ressignificando com o passar dos anos e com as novas ideias dos filósofos da história. Vem entender o que é ceticismo, sua transformação ao longo do tempo e como você pode aplicar – e talvez já até aplique – no seu dia a dia.

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O que é ceticismo na filosofia?

A palavra “ceticismo” vem do grego “sképsis”, que significa “exame, investigação”. E é exatamente isso que essa corrente filosófica propõe.

O ceticismo na filosofia é uma corrente que tem como base a dúvida sistemática e a suspensão do juízo.

Em outras palavras, essa vertente sustenta que é preciso questionar crenças, descrenças, opiniões e verdades já estabelecidas para alcançar a tranquilidade da alma.

Para resumir: as 3 ideias fundamentais do ceticismo

  • Questionamento de tudo: a dúvida como ferramenta crítica diante do saber e das crenças.
  • Suspensão do juízo (epoché): suspender o julgamento de algo, sem negar nem afirmar nada categoricamente (dúvida saudável).
  • Busca pela ataraxia (imperturbabilidade): é o alcance da tranquilidade ao aceitar as incertezas. A felicidade está no não julgamento das coisas.


Apesar de questionar a possibilidade de alcançar o conhecimento de forma absoluta, o ceticismo não nega o conhecimento em si, mas propõe uma atitude de suspensão de juízo diante das certezas ou incertezas.



O origem do “ceticismo”

O ceticismo surge na filosofia antiga com Pirro de Élis (c. 360–270 a.C.), que é considerado o pai desta corrente filosófica.

Entretanto, é possível encontrar precursores do ceticismo em alguns dos principais filósofos da história, como Demócrito de Abdera e Aristóteles. Ainda que esta doutrina não estivesse fundamentada, já trazia pensamentos que continham elementos filosóficos céticos.

Marcondes (2007) exemplifica esses sinais pré-existentes do ceticismo com o princípio da não-contradição, de Aristóteles, o qual diz que uma proposição não pode ser verdadeira e falsa simultaneamente, exigindo prova de ambas as possibilidades.

Contudo, Pirro de Élis é conhecido como o pai do ceticismo. Para ele, a suspensão do juízo (epoché) conduzia à ataraxia, isto é, à tranquilidade da alma, uma vez que evita o sofrimento causado pela frustração com verdades inquestionáveis.

Diferentemente do dogmatismo (verdades definitivas), o ceticismo filosófico assume uma postura crítica diante das certezas incontestáveis.

Por meio da reflexão crítica e do reconhecimento dos limites do conhecimento humano, o ceticismo propõe uma postura investigativa diante da realidade e da experiência.

Ter uma atitude cética é não aceitar afirmações sem um exame rigoroso. É duvidar tanto dos sentidos quanto da razão, não aceitando nenhum como fundamento inquestionável do conhecimento verdadeiro.

Esse questionamento radical contribuiu para o desenvolvimento do pensamento filosófico moderno, influenciando pensadores como Descartes, que utilizou a dúvida como método para alcançar certezas indubitáveis.


Ceticismo Antigo

O ceticismo antigo é uma corrente filosófica que tem como característica a dúvida filosófica e a suspensão do juízo quanto à possibilidade de alcançar verdades absolutas.

O ponto central do ceticismo de Pirro está na suspensão do juízo (epoché), ou seja, não aceitar nem negar uma proposição.

Segundo essa vertente, como não é possível ter certeza sobre as coisas, questiona-se a capacidade humana de alcançar conhecimento definitivo.

O ceticismo compartilha com as principais correntes da filosofia helenística – o estoicismo e o epicurismo – uma preocupação essencialmente ética, ou prática.

Pirro de Élis

O ceticismo antigo foi uma escola filosófica do período helenístico, tendo Pirro de Élis (360–270 a.C.) como seu principal fundador.

Busto de Pirro de Élis, filósofo grego considerado o fundador do ceticismo pirrônico
Busto de Pirro de Élis, precursor do ceticismo na Grécia Antiga

Pirro desenvolveu um ceticismo radical, o qual negava a possibilidade de alcançar qualquer forma de conhecimento seguro ou estável.

Assim como Sócrates, Pirro entendia a filosofia não como uma doutrina, mas como uma prática e um modo de viver. Portanto, foi seu discípulo Timon o responsável por transmitir as ideias de forma oral ou poética as ideias do filósofo.

Entretanto, foi com Sexto Empírico, séculos depois, que tivemos os primeiros registros escritos do ceticismo pirrônico.

Assim, conhecemos as 3 questões fundamentais de Pirro:

  1. Qual a natureza das coisas?
  2. Como devemos agir em relação à realidade que nos cerca?
  3. Quais as consequências dessa nossa atitude?


Para alcançar as respostas para essas perguntas, Pirro seguiu uma linha de pensamento.

Basicamente, o ceticismo fala sobre a postura de constante questionamento diante das muitas ideias ou teorias sobre a verdade (dogmatismo). Essas ideias não estão em acordo (diaphonia), já que são excludentes (para uma estar correta, a outra está errada).

Com isso, como não existe uma maneira totalmente confiável de saber qual ideia está certa ou é superior, todas acabam tendo a mesma relevância (isosthenia).

Ao entender isso, deixa-se de lado a ansiedade da busca pela verdade e pela certeza.

Desta forma, é possível encontrar-se livre das inquietações da busca pelo conhecimento inquestionável, alcançando a tranquilidade da alma (ataraxia), já que houve a libertação da necessidade de provar se algo é verdadeiro.


É dessa forma que devemos entender o objetivo primordial da filosofia de Pirro: atingir a ataraxia (imperturbabilidade), alcançando assim a felicidade (eudaimonia).

Sexto Empírico

O filósofo Sexto Empírico viveu entre os séculos II e III d.C. e foi quem primeiro sistematizou o ceticismo antigo. Recebeu o nome “Empírico” porque pertencia à Escola Empírica de Medicina.

Gravura de Sexto Empírico, filósofo grego do período helenístico associado ao ceticismo pirrônico
Gravura de Sexto Empírico, uma das principais fontes sobre o ceticismo pirrônico

Em suas obras, especialmente nos Esboços Pirrônicos, ele reuniu e organizou os argumentos céticos desenvolvidos durante séculos.

Sexto mantém a interpretação de epoché como a suspensão do juízo e reforça a busca pela tranquilidade da alma (ataraxia).

Como Sexto Empírico responderia à questão: “o que é ceticismo?”

Ele diria que é uma habilidade, não um conjunto de crenças, retomando a ideia de Pirro de que o ceticismo é uma postura, uma atitude diante das certezas já apresentadas.

Embora Pirro seja considerado o pai do ceticismo, outros pensadores já propunham ideias que poderiam ser consideradas céticas no pensamento antigo.

Para Sexto Empírico, Pirro “parece ter se dedicado ao ceticismo de forma mais completa e explícita que seus predecessores” e, por isso, os céticos se autodenominavam pirrônicos.

Então, Sexto, em Hipotiposes pirrônicas, diz que “há três tipos de filosofia: a dogmática, a acadêmica e a cética”.

  • Dogmática:
    Afirma conhecer a verdade com certeza, acreditando que suas doutrinas correspondem à realidade objetiva.
  • Acadêmica:
    Nega ser possível alcançar o conhecimento verdadeiro, afirmando que a verdade é inacessível ao ser humano.
  • Cética:
    Nem afirma, nem nega a verdade; suspende o juízo para alcançar a tranquilidade (ataraxia).


Para você compreender melhor na linha do tempo a trajetória de desenvolvimento dos diversos caminhos do pensamento pensamento filosófico considerados céticos na antiguidade, preparamos a tabela abaixo:

Fases do ceticismo Período Principais filósofos Principais características
Protoceticismo Século VI a.C. Pré-socráticos (referidos por Aristóteles) Questionamentos iniciais sobre o conhecimento e a realidade.
Ceticismo de Pirro de Élis 360–270 a.C. Pirro de Élis; Tímon de Flios (discípulo) Suspensão do juízo (epoché) e busca pela imperturbabilidade (ataraxia).
Ceticismo Acadêmico 270–110 a.C. Arcesilau, Carnéades, Clitômaco Crítica ao dogmatismo; uso de argumentos probabilísticos.
Declínio do Ceticismo Acadêmico A partir de c.110 a.C. Fílon de Larissa Transição para uma filosofia mais dogmática dentro da Academia.
Ceticismo Pirrônico Século I a.C. ao II d.C. Sexto Empírico, Enesidemo de Cnossos Retomada do pirronismo original (epoché e ataraxia); sistematização dos argumentos céticos.


Como você pode perceber, o ceticismo antigo passou por diversas fases, cada uma com sua especificidade, mas todas apresentaram algo em comum: a dúvida como ponto de partida e a crítica à possibilidade de se alcançar um conhecimento absoluto.



Ceticismo moderno: Descartes e Hume

No ceticismo moderno, temos René Descartes e David Hume como duas abordagens diferentes quanto à questão do conhecimento.

O ceticismo moderno, de maneira geral, é uma vertente filosófica que tem como características a dúvida e o questionamento das verdades já estabelecidas.

Descartes propôs um modelo cético quando introduz a dúvida metódica como caminho para a certeza.

Ele desconfiava de todas as crenças que possam ser colocadas em dúvida, inclusive as sensoriais e matemáticas.

Porém, assim como propõe o conceito de ceticismo, Descartes não negava o conhecimento. Ele pretendia encontrar um fundamento sólido e seguro para ele.

Na construção do indivíduo enquanto ser pensante, na conclusão do argumento do cogito (Penso, logo existo), Descartes traz uma nova perspectiva sobre a natureza do conhecimento, a razão.

Por outro lado, David Hume adota um ceticismo empírico, com uma crítica mais forte quanto à razão como única fonte confiável de conhecimento.

Ele coloca a razão como limitada e a experiência assume o lugar de elemento validador do saber.

Um dos questionamentos centrais de Hume é quanto aos princípios racionais, como a causalidade, e as certezas metafísicas, a certeza absoluta sobre verdades fundamentais da realidade.

Para ele, a ideia de causa não é derivada da razão, mas de um hábito mental adquirido pela repetição de eventos.

Apesar de Descartes tentar superar o ceticismo através da razão e Hume apontar seus limites, expondo as vulnerabilidades das crenças humanas, ambos contribuíram para a filosofia moderna ao explorar a relação entre razão e experiência como caminhos que o indivíduo percorre para a compreensão da realidade.

Ceticismo radical, moderado e metodológico

Como dito no início do texto, ceticismo é uma palavra popular que muitos conhecem como a atitude de quem duvida de tudo.

Entretanto, o ceticismo, como atitude filosófica, pode se apresentar de diferentes maneiras, desde as mais radicais até as mais pragmáticas.

Os 3 principais tipos de ceticismo são: o ceticismo radical, o moderado e o metodológico.

Ceticismo radical

O ceticismo radical nega a possibilidade de conhecimento. O cético radical leva a dúvida à última instância, suspeitando tanto da razão quanto da experiência, portanto, assumindo a suspensão completa do juízo.

Ceticismo moderado

O ceticismo moderado já assume uma atitude mais moderada quanto à possibilidade de saber. Ele reconhece os limites do conhecimento, porém aceita algumas verdades, não de forma absoluta, mas sem negar totalmente o saber.

Apesar de David Hume, muitas vezes, ser rotulado como cético radical, por duvidar da própria razão, ele valoriza tanto o conhecimento empírico como o prático.

Ceticismo metodológico

Por fim, o ceticismo metodológico adota a dúvida como meio pelo qual se pode atingir a certeza.

Descartes é o exemplo claro desse tipo de ceticismo, uma vez que ele desenvolveu um método de investigação baseado na razão que, através da dúvida de tudo, busca encontrar uma verdade inquestionável.

Resumindo: o cético radical nega o saber; o moderado assume a possibilidade do saber, não de forma absoluta; o metodológico utiliza a dúvida como ferramenta para a investigação e reflexão filosófica.

Perguntas frequentes

O que é uma pessoa ceticista?

Uma pessoa ceticista ou cética é aquela que duvida da veracidade das informações, do conhecimento posto ou das crenças.

Ela não aceita ideias apresentadas a ela. Na verdade, ela busca evidências e argumentos claros para fundamentar a opinião. Para isso, ela adota essa postura tanto na vida quanto na filosofia.

Qual é o conceito de ceticismo?

O ceticismo é uma corrente filosófica que propõe uma postura questionadora quanto à possibilidade do conhecimento absoluto.

Para esse pensamento, a dúvida é uma ferramenta de investigação da verdade, tendo em vista os limites da razão, das experiências e das crenças.

O que é ter postura cética?

Ter uma postura cética é adotar uma atitude de questionamento frente às informações ou crenças que lhe são expostas.

Ser cético é não aceitar as certezas apresentadas sem refletir e analisar as evidências ou argumentos que as compõem.

Quando se assume essa postura, você constrói um pensamento crítico que te ajuda a ter compreensão racional da realidade, evitando conclusões erradas ou sem embasamento que podem distorcer a sua visão do mundo.

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Referências


CASE, T. A.; KLEIN, P. D. Skepticism. Stanford Encyclopedia of Philosophy, 2022.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

HUTCHINS, Robert M. (Ed.). História das grandes ideias do mundo ocidental. Coleção Os Pensadores, v. 1. 1. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

Antes da psicanálise existir como método clínico, Freud já buscava formas de aliviar o sofrimento psíquico de suas pacientes. O primeiro caminho encontrado foi o método catártico, desenvolvido ao lado de Breuer.

Neste artigo, você vai entender o que foi essa técnica baseada no uso da hipnose, como ela ajudou a identificar traumas inconscientes e por que, mesmo abandonada, deixou marcas importantes na história da psicanálise.

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O que é o método catártico?

O método catártico foi a primeira técnica terapêutica utilizada por Freud. Elaborado em parceria com seu colega Joseph Breuer, tal método consistia em hipnotizar os pacientes para que se descobrisse os traumas que originaram seus sintomas. Era também necessário que, ainda sob hipnose, os pacientes efetuassem certa descarga emocional para finalmente se livrarem de seus traumas.

O método catártico e a história da psicanálise

Freud iniciou seus trabalhos na década de 1880. Na época, ele era um jovem estudante intrigado com os fenômenos histéricos e já havia participado das aulas ministradas por Charcot – grande autoridade no assunto – no Hospital de Salpêtrière em Paris.

Pintura histórica retratando uma aula clínica em Salpêtrière, com médicos observando uma paciente em crise histérica
Une leçon clinique à la Salpêtrière – André Brouillet, 1887

Retornando à Viena, conheceu outro eminente médico, o Dr. Joseph Breuer que, inclusive, já dispunha das principais bases do método catártico. Os dois se tornaram amigos, passaram a trabalhar juntos e, inclusive, publicaram em parceria os famosos “Estudos sobre a histeria” (Breuer & Freud, 1895).



Trauma psíquico e sintomas histéricos

Proponho que antes de discutir o que exatamente era o método catártico, falemos um pouco sobre as famosas histéricas de Freud. Pela experiência que tenho em sala de aula, isto em muito facilitará a compreensão do que será dito em seguida.

Pois bem, em linhas gerais, a histeria era definida por esta época, como uma enfermidade predominantemente do sexo feminino. Ninguém sabia exatamente o porquê, mas é fato que eram poucos os homens com tal diagnóstico.

A principal característica da histeria era algo que gerava um profundo estranhamento não apenas entre os médicos, mas à sociedade como um todo: os chamados “sintomas de conversão”. Estes diziam respeito a sofrimentos corporais que, embora extremamente intensos, não eram explicados por nenhum exame anatômico ou fisiológico.

Por exemplo, uma histérica podia apresentar um sintoma de cegueira. No entanto, os médicos faziam mil exames nela e concluíam que tudo em seu organismo funcionava exatamente bem: tanto os seus olhos, quanto o cérebro e as inervações. Ou seja, absolutamente nada explicava tal cegueira.

A histérica também podia manifestar uma paralisia em um braço ou perna. Da mesma maneira, ela era submetida a uma bateria imensa de exames e nada era acusado: nada de mais era detectado em seus ossos, músculos, ou mesmo, nos neurônios.

E se até os dias de hoje este quadro gera tanto estranhamento, imaginem naquela época! Imaginem só uma mulher jovem e bonita chegando no consultório de um médico de fins do século XIX completamente cega e este não conseguindo encontrar nada...

Ora, muitos destes médicos resolviam a situação acusando as histéricas de simularem estas tantas dores e paralisias. E, em meio a esse caos, Breuer e Freud talvez tenham sido os primeiros dispostos a escutá-las.



Assim, conforme escutavam suas pacientes, Breuer e Freud foram concluindo que a causa destes estranhos sintomas histéricos era sempre um trauma psíquico. Tudo se passava como se elas tivessem vivenciado um trauma no passado, porém na ocasião, não conseguiram reagir emocionalmente a ele de maneira adequada.

Vejamos através de um exemplo clínico como todo este processo ocorria.

Um exemplo clínico: o caso Emma

Pela minha experiência, de todos os casos por Freud analisados neste início de carreira, acredito que o que melhor ilustra as suas primeiras concepções sobre a histeria é o caso de Emma (Freud, 1895).

Trata-se da história de uma jovem histérica que apresentava como sintoma uma fobia de entrar em lojas sozinha. Emma associa este medo a uma cena ocorrida pouco tempo antes na qual entrara numa loja sozinha e vira dois vendedores rindo.

Automaticamente, ela pensou que os dois riam dela... mais especificamente das roupas ainda muito infantis que trajava na ocasião. Porém, tal lembrança em nada explicava sua estranha fobia.

Assim, no decorrer do tratamento, Freud foi descobrindo que seu sintoma histérico foi causado por um trauma: quando ainda criança, Emma estava sozinha em uma confeitaria e o confeiteiro a bulinou por cima de suas roupas. Durante o ato, o homem olhava para a criança e dava uma risadinha sarcástica...

E, deste modo, tudo estava explicado: a cena de infância efetivamente justificava o sintoma histérico da jovem. Na ocasião, ela obviamente ficara sem qualquer reação. A lembrança deste trauma ficara guardada em sua memória inconsciente e acabou gerando sua fobia.

Vale sublinhar que caso Emma tivesse gritado, chorado ou procurado ajuda na ocasião – ou então reagido de outra forma razoavelmente adequada – a cena não teria adquirido um efeito tão traumatizante.



O método catártico de Breuer e Freud

Montagem com fotos de Josef Breuer, Bertha Pappenheim (Anna O.) e Sigmund Freud, nomes centrais nos estudos sobre a histeria
Breuer, Anna O. e Freud

Pois bem, agora que entendemos o que é a histeria, bem como as concepções iniciais de Breuer e Freud a seu respeito, podemos finalmente discutir o método catártico.

Em linhas gerais, o método catártico é um modo de tratamento que consistia no uso da hipnose para que se descobrisse o trauma que veio a causar os sintomas histéricos.

Hipnotizava-se a paciente e, logo após, era-lhe solicitado que associasse algumas ideias relacionadas a seus sintomas, deixando que ela desse livre curso a seus pensamentos. Após algumas repetições deste procedimento, chegava-se ao trauma psíquico que teria desencadeado todo o seu sofrimento.

No entanto, para que as histéricas pudessem livrar-se de seus sintomas, era também necessário que, ainda sob hipnose, elas conseguissem exteriorizar todo o afeto retido e que não pudera ser descarregado na ocasião do trauma. Tratava-se, portanto, de uma espécie de catarse emocional e daí o nome “método catártico”.



Anna O.: o caso paradigmático

Fotografia de Bertha Pappenheim, conhecida como Anna O., com traje da época e chapéu, figura importante na história da psicanálise
Anna O. era o pseudônimo de Bertha Pappenheim

Sempre que o assunto é o método catártico, o leitor espera encontrar algumas linhas a respeito do caso da Anna O. Então vamos lá!

Este é o caso mais conhecido de aplicação do método. Tratava-se de uma jovem de vinte e um anos atendida por Breuer em 1881. O relato de sua história encontra-se na íntegra no já mencionado “Estudos sobre a histeria” (Breuer & Freud, 1895).

Anna O. possuía uma série de sintomas histéricos, todos surgidos nos dois anos anteriores, enquanto cuidava do pai gravemente enfermo. Dentre tais sintomas, havia uma paralisia espástica, perturbações da visão, tosse nervosa intensa, repugnância a certos alimentos, dificuldade de beber água, além de um curioso esquecimento da língua materna, no caso, o alemão.

E efetivamente Breuer descobriu que todos estes sintomas histéricos foram gerados por alguns traumatismos. Tomemos dois deles como ilustração: o sintoma da hidrofobia e o de perturbação da visão.

Em relação ao sintoma de hidrofobia, marca-se que, durante seis semanas, Anna O. se pôs a repudiar qualquer copo d´água que lhe era oferecido. Nestas ocasiões, tão logo o levava aos lábios, repelia-o automaticamente sem saber a causa deste estranho comportamento.

Certa vez, durante a hipnose, a histérica relatou que há algum tempo tivera uma dama de companhia e, uma noite, vira-lhe dar de beber a seu cãozinho em um copo. Ao presenciar a cena, Anna O. sentiu um enorme nojo, mas nada exteriorizara por simples polidez.

Quando, em hipnose, conseguiu exteriorizar seu nojo, ela livrou-se de toda a cólera retida. Ao acordar do transe, finalmente pediu de beber, coisa que fez sem o menor embaraço.

Quanto às suas perturbações de visão, Breuer descobriu que estas se associavam à época na qual, com os olhos marejados, ela estava junto ao leito do pai doente. Certo dia, de repente, este acordou perguntando-lhe as horas. E Anna O. teve que reprimir as lágrimas para que o pai não percebesse o quanto ela sofria.

O sintoma em questão também cedeu quando, sob hipnose, a paciente conseguiu exteriorizar sua tristeza.



banner curso 'Freud e os Fundamentos da Psicanálise: Teoria e Clínica', por Ricardo Salztrager

Os “Estudos sobre a histeria”

Capa do livro Estudos sobre a histeria (1893-1895), de Sigmund Freud e Josef Breuer
Capa dos “Estudos sobre a histeria” da Editora Autêntica

É hora de falar um pouco desta obra. Trata-se do primeiro livro de Freud, publicado em conjunto com Breuer no ano de 1895.

A grande maioria dos meus alunos costumam julgar sua leitura como bastante fácil e, por isto, muitos a consideram como a melhor maneira de introduzir-se nos textos de psicanálise. Recomendo bastante a sua leitura!

O livro é dividido em quatro partes:

A primeira é a famosíssima “Comunicação preliminar” na qual constam as principais teorizações de Freud e Breuer sobre os sintomas histéricos.

A segunda contém cinco casos clínicos bastante conhecidos: além do relato de Anna O., ainda há os casos de Emmy von N., Miss Lucy, Katharina e Elisabeth von R.

Em seguida, há a terceira parte também de “Considerações teóricas”.

E a quarta “A psicoterapia da histeria” escrita apenas por Freud. Nesta última, o método catártico é explicado em seus mínimos detalhes.

O método catártico e a associação livre

Por que Freud abandonou a hipnose?

Com efeito, Freud julgava a hipnose um procedimento bastante incerto. Ora, ele sempre se denominou um “homem da ciência” e como a hipnose gozava de pouca credibilidade neste meio, Freud abdicou de seu uso.

Além do mais, muitas histéricas eram imunes à hipnose e, portanto, por mais que se tentasse aplicar o método catártico, elas jamais entravam em transe. Por fim, houve a constatação de que a hipnose acabava por silenciar as resistências das pacientes e, bem ou mal, estas funcionavam como importantes pistas para saber se o tratamento estava chegando ao seu devido lugar.

Assim, com o rompimento com Breuer, Freud construiu seu próprio método de tratamento: a psicanálise e, com ela, a regra fundamental da associação livre. De fato, Freud descobriu que o tratamento poderia chegar à causa dos sintomas com o paciente acordado, bastando que se solicitasse que ele dissesse tudo o que lhe vinha ao pensamento sem maiores censuras ou preconceitos.

No entanto, acho interessante frisar que, por outras vias e de outros modos, certa “catarse” ainda permaneceu associada à clínica psicanalítica. Isto porque não se pode negar que associar livremente diante de um psicanalista causa um efeito aliviante no paciente.

Com frequência, saímos das nossas sessões de análise, de certa maneira, renovados, leves e mesmo confortados.

Falar possui, portanto, um efeito catártico. E talvez tenha sido esse o principal ensinamento de Freud com estes atendimentos iniciais. Neste sentido, cada vez mais, a clínica psicanalítica irá valorizar a palavra, aquilo que o paciente consegue nos dizer e, com isto, ir elaborando seu sofrimento.

Este texto foi escrito pelo professor Ricardo Salztrager, psicanalista e professor associado da UNIRIO e da Casa do Saber. Possui Graduação em Psicologia, mestrado e doutorado em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

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Referências:

Breuer, Joseph. & Freud, Sigmund. (1895). Estudos sobre histeria. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 2. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 11-316.

Freud, Sigmund. (1895). Projeto para uma psicologia científica. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 1. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 333-454.

Roudinesco, Elisabeth. & Plon, Michel. (1998). Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora.

Você já ouviu alguém dizer “tenho TOC com organização”? Essa frase, apesar de comum, muitas vezes banaliza um transtorno sério que afeta milhões de pessoas no mundo.

O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é um transtorno de ansiedade caracterizado por obsessões e/ou compulsões que causam sofrimento, desconforto ou prejuízo funcional significativo.

Neste conteúdo, vamos explicar de modo aprofundado o que é o TOC, quais seus sintomas, causas, tipos, como é feito o diagnóstico, as formas de tratamento e como diferenciar o transtorno de comportamentos obsessivos comuns.

Nosso objetivo é desmistificar o TOC, combater o estigma e oferecer orientações acessíveis e científicas para quem convive com esse quadro ou deseja compreender melhor o tema.

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O que é o TOC? Entenda o transtorno

O Transtorno Obsessivo-Compulsivo é uma condição de saúde mental marcada pela presença de pensamentos obsessivos e/ou comportamentos compulsivos que se repetem de forma intensa, persistente e angustiante.

Descrito no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e na Classificação Internacional de Doenças (CID-11, código 6B20), o TOC é muito mais do que gostar de tudo no lugar ou querer que as coisas estejam limpas, por exemplo. Ele se trata de um sofrimento psíquico intenso, que compromete a vida pessoal, social e profissional de quem o vivencia.

Obsessões são pensamentos, imagens ou impulsos intrusivos, indesejados e repetitivos que geram angústia. Exemplo: medo intenso de estar contaminado, mesmo sem evidência disso.

Compulsões são comportamentos repetitivos (como lavar as mãos, checar as portas) ou atos mentais (contar, rezar, repetir palavras) realizados para neutralizar ou aliviar a ansiedade provocada pelas obsessões.

Em outras palavras, enquanto a obsessão é o pensamento invasivo e angustiante, a compulsão é a ação que tenta aliviar essa angústia.

Quem sofre de TOC geralmente percebe que seus pensamentos e comportamentos são excessivos ou irracionais, mas mesmo assim se sente incapaz de controlá-los sem ajuda especializada.

Principais sintomas do Transtorno Obsessivo-Compulsivo

Os sintomas podem variar bastante entre os indivíduos, tanto na forma quanto na intensidade. Em geral, as obsessões provocam angústia, e as compulsões surgem como uma tentativa de neutralizar esse desconforto, criando um ciclo difícil de romper.

Abaixo, listamos alguns dos sinais de obsessões e compulsões mais comuns:

Exemplos de obsessões:

  • Medo excessivo de contaminação: preocupação constante com germes, sujeira, sangue ou doenças.
  • Dúvidas persistentes que não amenizam: insegurança quanto a ações do cotidiano (“Será que tranquei a porta? E se eu causar um acidente?”)
  • Pensamentos indesejados de conteúdo agressivo ou sexualizado: ideias invasivas sobre machucar alguém ou fazer algo moralmente inaceitável.
  • Necessidade de simetria ou exatidão: incômodo intenso diante de objetos desalinhados ou desorganizados.
  • Medo de causar dano a si ou aos outros: preocupação irracional de que, se não conseguir determinado ritual, algo ruim acontecerá.


Exemplos de compulsões:

  • Lavar as mãos ou tomar banhos excessivos, mesmo sem necessidade física;
  • Verificar repetidamente se portas estão trancadas, luzes apagadas, aparelhos desligados etc;
  • Contar objetos ou repetir palavras mentalmente, como forma de neutralizar obsessões;
  • Organizar itens de forma rígida ou ritualística, seguindo padrões exatos de simetria, cor, tamanho etc;
  • Reafirmação constante: necessidade de ouvir dos outros que algo está seguro, certo ou aprovado.


Esses comportamentos podem parecer irracionais até para quem os realiza e, ainda assim, a pessoa sentir que não consegue evitá-los.

Importante: manias e rituais isolados não são TOC. O transtorno só é diagnosticado quando essas obsessões e compulsões ocupam tempo significativo (geralmente mais de uma hora por dia) e causam sofrimento real ou prejuízo à rotina.



Homem usando máscara borrifando spray desinfetante nas mãos, destacando práticas de higiene e prevenção
Limpeza é essencial, mas é preciso observar se as manias estão causando sofrimento ou comprometimento na vida da pessoa - Fonte: Tonkla Pairoh/Unsplash

Causas e fatores de risco para o Transtorno Obsessivo-Compulsivo

Ainda não existe uma causa única para o Transtorno Obsessivo-Compulsivo, mas uma pesquisa realizada na Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales (UCES) e no Centro Universitário de Mineiros (UNIFIMES) apontam para uma combinação de fatores:

Genéticos: pessoas com histórico familiar de TOC ou outros transtornos de ansiedade têm maior predisposição;

Neurobiológicos: alterações em áreas do cérebro responsáveis por tomada de decisão, controle de impulsos e avaliação de risco (como o córtex orbitofrontal e os gânglios da base), estão relacionadas ao TOC.

Psicológicos: experiências traumáticas na infância, vivências de controle extremo, culpa internalizada ou repressão emocional, podem influenciar o desenvolvimento do transtorno.

Ambientais: eventos estressantes, infecções, alterações hormonais ou disfunções imunológicas podem atuar como gatilhos.

Muitos comportamentos visam controlar o incontrolável, como a possibilidade de contaminação, erro ou tragédia. Por isso, o TOC está diretamente relacionado à ansiedade e ao controle, uma vez que são dois fatores centrais no sofrimento dessas pessoas.



Diferença entre TOC e manias

Uma confusão frequente é sobre a diferença entre TOC e as chamadas “manias”. Apesar da popularização de expressões como “Tenho TOC com isso”, é importante entender que manias e TOC são coisas muito diferentes.

No que exatamente elas se diferem?

As manias, no senso comum, são hábitos ou preferências pessoais, como gostar de manter o armário organizado ou sempre alinhar os talheres e copos. A pessoa mantém o comportamento por gosto ou satisfação, e não por medo ou angústia.

Esses comportamentos geralmente não causam sofrimento ou prejuízo significativo.

Já o TOC envolve uma luta interna desgastante, marcada por pensamentos indesejados e rituais que a pessoa muitas vezes reconhece como excessivos, mas sente-se incapaz de controlar.

No TOC, os pensamentos obsessivos invadem a mente, seguidos de rituais compulsivos. Esses comportamentos são feitos justamente para aliviar a angústia, e não por prazer, e tendem a ser repetidos exaustivamente.

Confira um exemplo da diferença entre Mania x TOC na tabela abaixo:

Mania TOC
Gosto de ver e acho mais bonito esteticamente os livros alinhados por cor. Preciso alinhar os livros por cor e simetria pois, se não fizer isso, sinto uma angústia, como se algo ruim fosse acontecer.



Diagnóstico de TOC e tipos de manifestação

O diagnóstico de TOC deve ser feito por um profissional de saúde mental, como psiquiatra ou psicólogo, com base em critérios estabelecidos pelo DSM-5. A avaliação é feita por meio de entrevistas clínicas, análise de frequência e impacto dos sintomas e exclusão de outras condições médicas ou psiquiátricas.

Tipos de TOC:

  • TOC de verificação: marcado por obsessões relacionadas à dúvida e à responsabilidade, levando a checagens repetitivas.
    Exemplo: Ler e reler um e-mail dezenas de vezes antes de enviar, com medo de que uma palavra mal escrita possa causar demissão ou ofensa. Ou, verificar repetidamente se fechou a porta de casa, mesmo sabendo que trancou. Às vezes, volta da rua só para checar novamente.
  • TOC de limpeza/contaminação: obsessões relacionadas ao medo de contaminação por germes, substâncias tóxicas, sujeira ou até energia negativa, que levam a rituais de limpeza excessivos.
    Exemplo: Evitar cumprimentar pessoas com aperto de mão ou tocar em qualquer objeto público por medo de doenças. Ou, sentir necessidade de limpar o banheiro todos os dias, mesmo sem uso recente.
  • TOC de simetria/ordem: obsessões com a necessidade de exatidão, equilíbrio ou simetria. As compulsões geralmente envolvem reorganizar objetos ou realizar tarefas de forma igualitária.
    Exemplo: Não conseguir sair de casa se os quadros na parede não estiverem perfeitamente alinhados. Ou, a necessidade de pisar com os dois pés o mesmo número de vezes ao subir escadas.
  • TOC de pensamentos intrusivos: caracterizado por pensamentos indesejados, agressivos, sexuais ou moralmente inaceitáveis, que causam intensa culpa.
    Exemplo: Ter pensamentos involuntários sobre machucar alguém querido. Ou, imaginar cenas inapropriadas e tentar mentalmente “cancelar” os pensamentos.
  • TOC de acumulação: dificuldade intensa em se desfazer de objetos, mesmo sem utilidade aparente.
    Exemplo: Guardar objetos quebrados, contas antigas ou roupas velhas por acreditar que algo ruim pode acontecer se forem descartadas.



Atenção: o TOC na infância pode se manifestar de formas semelhantes aos adultos, mas muitas vezes com menos clareza verbal. É importante observar a rituais excessivos, o sofrimento ao interromper rotinas e a ansiedade intensa.



Sugestão da Casa:

O filme “Toc Toc” (2017) dirigido pelo espanhol Vicente Villanueva, é uma comédia ficcional que reúne diferentes pessoas com transtornos obsessivos-compulsivos em uma sala de espera para consulta com um terapeuta.

No filme, cada personagem apresenta um tipo de TOC diferente, como verificação, simetria, repetição, contaminação e até síndrome de Tourette. Embora seja uma obra de humor, o filme pode ajudar a introduzir o tema de forma leve e gerar empatia com quem vive com o transtorno.

“Toc Toc” é uma representação caricata, ficcional. Para compreender o Transtorno Obsessivo-Compulsivo com profundidade, é essencial buscar fontes sérias e escuta especializada.



Tratamento para Transtorno Obsessivo-Compulsivo

O TOC tem tratamento e, embora seja uma condição crônica em muitos os casos, é possível alcançar grande melhora na qualidade de vida.

Os principais tratamentos são:

Psicoterapia

  • Terapia Cognitivo Comportamental (TCC): A TCC é a abordagem mais indicada para tratar o transtorno. Ela irá auxiliar a desenvolver ferramentas e estratégias práticas para romper com os padrões de repetição. Técnicas como Exposição e Prevenção de Resposta (EPR), na qual o paciente é gradualmente exposto às obsessões sem executar os rituais compulsivos, costumam ser eficazes para ajudar o paciente a tolerar a ansiedade sem reforçar o ciclo.
  • Psicanálise: Buscar compreender os conteúdos inconscientes por trás dos sintomas, como controle, culpa, repressão e fantasias, pode auxiliar no tratamento. Embora menos focada na extinção imediata dos sintomas, a psicanálise pode ser valiosa no entendimento emocional profundo do transtorno.
  • Outras abordagens: Terapias integrativas, como Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), também apresentam bons resultados no tratamento. Elas incentivam o paciente a aceitar os pensamentos sem se prender a eles, favorecendo ações alinhadas com seus valores.


Medicamentos

Os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS), como fluoxetina, sertralina e fluvoxamina, são os mais usados no tratamento farmacológico do Transtorno Obsessivo-Compulsivo.

Eles auxiliam no equilíbrio dos neurotransmissores, reduzindo a intensidade dos pensamentos obsessivos e o impulso por rituais compulsivos. O efeito costuma levar algumas semanas para ser percebido, e a dosagem deve ser sempre ajustada por um médico psiquiatra.

Em casos resistentes, podem ser associados a outros tipos de medicação, como antipsicóticos atípicos, sob supervisão médica.

Acompanhamento interdisciplinar

Nutricionistas, terapeutas ocupacionais, psiquiatras, educadores e familiares também podem fazer parte do cuidado.

O apoio contínuo é essencial para promover autonomia e reduzir recaídas.

Como apoiar alguém com TOC?

Conviver com alguém que sofre com o TOC pode ser desafiador. Na Casa do Saber, há uma variedade de cursos que exploram o principal sintoma do Transtorno Obsessivo-Compulsivo: a ansiedade.

Nesse sentido, compreender como superar a ansiedade e como controlar seus sinais, pode ser uma ferramenta de apoio importante.


Confira algumas dicas de suporte:

  • Evite julgar os comportamentos como exagero ou frescura;
  • Não reforce compulsões (“confirma só dessa vez”, “lava pra se acalmar”, por exemplo”. São reforços que, infelizmente, podem manter o ciclo do TOC;
  • Ofereça escuta e empatia, e incentive o acompanhamento profissional;
  • Informe-se, para compreender melhor os mecanismos do transtorno;
  • Em crianças, a escola e a família devem trabalhar em conjunto para oferecer segurança e rotina.


As pessoas também querem saber:

Como é uma crise de TOC?

Uma crise de TOC acontece quando os pensamentos obsessivos ficam muito intensos e causam forte ansiedade. A pessoa sente que precisa fazer uma compulsão (como checar ou lavar algo) para aliviar o mal-estar.

Pode haver taquicardia, angústia, bloqueio mental e perda de foco. Mesmo rituais internos, como contar ou rezar, podem consumir muito tempo e energia.

Como é uma pessoa com TOC?

Uma pessoa com TOC é alguém que vive com pensamentos repetitivos e comportamentos compulsivos, muitas vezes em segredo. Pode parecer perfeccionista ou controladora, mas está lidando com um sofrimento real.

Em geral, são pessoas sensíveis e ansiosas, que se preocupam excessivamente com erros ou consequências. O TOC pode afetar o cotidiano, mas com tratamento e apoio, é possível viver com menos sofrimento.

Quer compreender melhor os transtornos mentais e desenvolver recursos para lidar com a ansiedade e o sofrimento psíquico?
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Referências

https://interacoesucdb.emnuvens.com.br/multitemas/article/view/3559

Quem nunca levou uma preocupação do trabalho para casa? Ou, quem nunca se sentiu cobrado de modo desproporcional no ambiente profissional?

No mundo contemporâneo, a relação com o trabalho tem gerado cada vez mais adoecimento psíquico, chamando atenção de empresas e especialistas de saúde mental.

Neste texto, trataremos dos principais fatores que afetam o bem-estar psicológico no ambiente profissional, os sinais de alerta e boas práticas para empresas e trabalhadores. Além disso, abordaremos sobre a importância de uma cultura organizacional que promova o cuidado com a mente.

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O que é ter saúde mental no ambiente profissional?

A saúde mental no ambiente corporativo diz respeito à capacidade de lidar com os desafios cotidianos, manter relações interpessoais saudáveis, equilibrar vida pessoal e profissional, e encontrar sentido e satisfação no que se faz.

Não significa estar sempre feliz e realizado profissionalmente, mas sim ter suporte para atravessar momentos difíceis no trabalho sem adoecer.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os transtornos mentais estão entre as principais causas de afastamento do trabalho no mundo, impactando diretamente a produtividade e a sustentabilidade das organizações.

De acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan/Ministério da Saúde), somente em 2024, no Brasil, quase 5 mil pessoas foram afastadas do trabalho por questões de saúde mental. Em 2025, já foram mapeados mais de 850 registros.

Mas porque isso acontece?

A realidade cotidiana ainda é muitas vezes marcada por jornadas exaustivas, cobranças silenciosas e falta de espaço para o diálogo. Em ambientes assim, não há criatividade, eficiência ou engajamento, há apenas o medo, a pressão e a invisibilidade profissional.

Nesse sentido, saber identificar processos de adoecimento psíquico no ambiente profissional é fundamental para desenvolver uma melhor relação com o trabalho.

O que afeta a saúde mental no trabalho?

A saúde emocional no ambiente corporativo é afetada por um conjunto de fatores estruturais, relacionais e organizacionais.

Embora cada pessoa tenha uma trajetória única e reaja de forma distinta aos desafios profissionais, alguns elementos vêm se tornado cada vez mais frequentes nos relatos de adoecimento no trabalho.

  • Excesso de cobranças e metas inalcançáveis: Quando o desempenho é priorizado em detrimento do bem-estar, instala-se um ciclo de autocobrança e medo de errar. O resultado? Profissionais sempre alerta, porém emocionalmente esgotados.
  • Cultura organizacional tóxica, com comunicação agressiva e competitividade excessiva: Erros no trabalho acontecem, eles fazem parte da jornada profissional. No entanto, nessas estruturas, o erro passa a ser punido em vez de ser acolhido e aperfeiçoado.
  • Falta de reconhecimento e de feedbacks construtivos: A desvalorização do esforço individual provoca desmotivação, queda da autoestima e perda do sentido no trabalho. A longo prazo, essa sensação favorece quadros de exaustão mental e emocional.
  • Ambientes com sobrecarga e jornadas extensas: A naturalização da sobrecarga de tarefas é muitas vezes compreendida como parte da “entrega” ou da “alta performance”, gerando efeitos nocivos nos profissionais.
  • Isolamento e solidão no trabalho remoto: O home office tem permitido uma maior qualidade de rendimento e otimização de tempo, no entanto, pode gerar uma dificuldade de desconexão entre trabalho e vida pessoal.
  • Insegurança em relação à estabilidade no emprego: O cenário de incerteza profissional pode fazer com que as pessoas trabalhem mais do que o acordado, para tentar garantir a sua manutenção na empresa. Medidas como essa aceleram um estado de alerta crônico, podendo evoluir para transtornos mentais graves.
  • Falta de espaço para escuta e acolhimento emocional: A ausência de uma rede de suporte psíquico no ambiente profissional distancia a pessoa da possibilidade de autocuidado e auto identificação de sintomas.



Sinais de que algo não vai bem no trabalho: quando o corpo e a mente avisam

Quando o bem-estar psíquico está comprometido, o impacto aparece não só nos resultados, mas, principalmente, na qualidade de vida.

A mente tem formas (sutis e não sutis) de pedir socorro. Muitas vezes, é o corpo quem fala primeiro. Por isso, estar atento aos sinais de alerta pode evitar que o sofrimento se aprofunde ou se transforme em um quadro clínico grave.

Alguns dos sintomas mais comuns incluem:

  • Cansaço físico e mental persistente, mesmo após períodos de descanso;
  • Distúrbios do sono, como insônia ou sono excessivo sem sensação de repouso;
  • Irritabilidade, impaciência e alterações de humor repentinas;
  • Dificuldade de concentração, lapsos de memória e queda de rendimento;
  • Desmotivação profissional, sensação de vazio ou perda do prazer nas tarefas cotidianas;
  • Sintomas físicos recorrentes, como dores de cabeça, gastrite, tensões musculares ou queda da imunidade;
  • Isolamento social e afastamento das relações afetivas e/ou profissionais.


Esses sinais são mecanismos de defesa do corpo e da mente, que indicam que algo precisa ser olhado com atenção. Quando persistem por semanas, meses ou se intensificam, é essencial buscar apoio especializado.

Atenção: A manifestação desses sintomas pode estar associada a outros transtornos psicológicos como ansiedade e depressão, por isso, é fundamental compreender de onde parte o sofrimento, e qual o peso do trabalho na produção desse sofrimento.



Pessoa adormecida sobre a mesa com abajur aceso, representando exaustão mental após o trabalho
A sobrecarga mental no trabalho é um fator de adoecimento não apenas mental, mas também, psicossomático — Fonte: Mykyta Kravcenko/Unsplash



Burnout e ansiedade: os transtornos mais comuns no trabalho

Dentre os transtornos mais frequentes relacionados ao ambiente profissional, dois se destacam: Síndrome de Burnout e os Transtornos de Ansiedade.

Ambos têm crescido de forma expressiva nos últimos anos, impulsionados por modelos de trabalho excessivamente exigentes e abusivos, além de culturas organizacionais pouco empáticas e uma valorização contínua da hiperprodutividade.

Reconhecida pela OMS desde 2022 como uma doença ocupacional, a Síndrome de Burnout é resultado do estresse crônico relacionado ao trabalho.

Seus sintomas incluem:

  • Exaustão emocional profunda, que não melhora após horas, dias ou semanas de descanso;
  • Distanciamento afetivo ou desinteresse pelo trabalho e pelas relações profissionais;
  • Sensação de baixa realização, como se nenhum esforço fosse suficiente ou reconhecido.


O curso Burnout, Um Problema Atual - Casa do Saber explora alguns casos clínicos para ilustrar os sintomas, desdobramentos e estratégias de tratamento. Saiba mais.

Por sua vez, os Transtornos de Ansiedade no trabalho podem surgir tanto de pressões cotidianas quanto de ambientes saudáveis, tóxicos ou imprevisíveis.

Ele se manifesta de diferentes formas, como:

  • Preocupações constantes e pensamentos acelerados sobre desempenho, cobranças ou possíveis erros;
  • Sensação de que “nada do que se faz é suficiente”;
  • Dificuldade para relaxar, mesmo fora do horário de expediente;
  • Crises de pânico, com sintomas físicos como taquicardia, sudorese, falta de ar ou tremores;
  • Medo paralisante de reuniões, apresentações ou interações com lideranças.


Embora a ansiedade seja uma emoção humana natural, quando se torna crônica e desproporcional ao contexto, passa a comprometer o bem-estar e a performance profissional.

A boa notícia é que tanto a ansiedade quanto o Burnout podem ser prevenidos e tratados. Para isso, é fundamental que empresas adotem práticas estruturadas de cuidado e que os profissionais tenham acesso a apoio psicológico e ferramentas de autoconhecimento.

Como as empresas podem promover a saúde mental?

Cuidar da saúde mental no trabalho se tornou uma necessidade estratégica para empresas e profissionais.

Promover saúde mental no trabalho exige um compromisso institucional que pede mais do que um happy hour empresarial às sextas-feiras. Requer compromisso real com o bem-estar, políticas institucionais claras e uma liderança empática, preparada para lidar com a complexidade humana e com os desafios que essas relações exigem.

Algumas práticas efetivas incluem:

  • Políticas de escuta ativa: Criação de canais seguros para que os colaboradores possam expressar dificuldades e propor melhorias. Rodas de conversas e grupos de apoio também são bem vindos, a fim de proporcionar um ambiente seguro.
  • Pausas reais e respeito aos limites: O incentivo às pequenas pausas durante o expediente e o respeito aos horários de descanso e férias, são fundamentais.
  • Programas de apoio psicológico: Parcerias com clínicas ou plataformas de psicoterapia para profissionais é um passo importante para promover a saúde mental no trabalho. Além disso, treinamentos sobre saúde emocional, empatia e regulação emocional também podem colaborar de modo significativo.
  • Liderança empática e preparada: Gestores treinados em inteligência emocional e comunicação não violenta são formas importantes de construir uma rede profissional mais saudável.
  • Ambientes mais inclusivos: O combate ao assédio e à discriminação é fundamental. Além disso, é relevante pensar em espaços seguros para pessoas com transtornos mentais.
  • Certificação de empresas monitoras de saúde mental: A nova legislação brasileira através da Lei 14.831/2024 prevê um certificado para empresas que adotam boas práticas em saúde mental, reconhecendo e estimulando iniciativas que criem ambientes de trabalho mais saudáveis, além do combate à discriminação e ao assédio em todas as suas formas.


Mas, como diferenciar um ambiente saudável e um ambiente tóxico no trabalho?

Ambiente saudável Ambiente tóxico
Comunicação clara, respeitosa e aberta
Ex: Reuniões onde as opiniões são reconhecidas e ouvidas sem julgamentos.
Comunicação passivo-agressiva ou silenciamento
Ex: Colegas que falam mal pelas costas ou líderes que gritam com a equipe.
Feedbacks construtivos e reconhecimento frequente
Ex: Elogios por metas alcançadas e orientações para melhorias.
Críticas destrutivas e ausência de reconhecimento
Ex: Só receber cobranças ou ser ignorado após esforço extra.
Incentivo ao equilíbrio entre vida pessoal e trabalho
Ex: Flexibilidade para atender compromissos pessoais sem medo.
Exigência de disponibilidade constante e horas extras frequentes
Ex: Receber mensagens fora do expediente e ser cobrado por respostas imediatas.
Oportunidades de crescimento e desenvolvimento
Ex: Treinamentos, mentorias e possibilidades de promoção.
Estagnação e desmotivação crônica
Ex: Ausência de plano de carreira, com pessoas sem perspectivas de crescimento profissional.




O que o trabalhador pode fazer por si mesmo?

Cuidar da saúde mental no trabalho é uma responsabilidade compartilhada entre empresas e profissionais. No entanto, há ações individuais que podem funcionar como âncoras de bem-estar em meio à correria do cotidiano corporativo.

Assumir pequenas atitudes no dia a dia pode fazer diferença real. Não se trata de “dar conta de tudo sozinho”, mas de criar espaços de respiro, refletir sobre os próprios limites e buscar apoio quando necessário.

Veja algumas práticas:

  • Estabelecer limites: Separar tempo de trabalho e tempo pessoal é um passo importante de autocuidado e proteção emocional. Ter horários definidos e respeitá-los ajuda a preservar energia mental e prevenir sobrecargas.
  • Criar pausas e rituais de transição: Caminhadas, alongamentos, respiração consciente entre tarefas, podem ser excelentes aliados. Técnicas como o mindfulness são grandes aliadas na reconexão com o presente.
  • Buscar apoio profissional: A psicoterapia e a participação em grupos de suporte são elementos fundamentais para o cuidado psíquico diante cenários de sobrecarga no trabalho. Com apoio especializado, a pessoa pode encontrar os mecanismos psíquicos para evitar sofrimento e desgaste.
  • Investir em autoconhecimento: Cursos, leitura, práticas de autocuidado e desenvolvimento emocional ampliam a consciência sobre si mesmo e ajudam na construção de relações mais saudáveis no trabalho e na vida.


Cuidar da mente, portanto, não deve ser um luxo, mas sim uma escolha consciente de sustentar e buscar o bem-estar e a qualidade de vida ao longo da trajetória profissional.

Situação comum, mas pouco falada: E quando a pessoa tóxica é o meu chefe?

Infelizmente, lideranças tóxicas existem, e seus impactos na saúde mental podem ser profundos. Supervisores que desqualificam, sobrecarregam, controlam excessivamente ou desrespeitam limites colaboram diretamente para o adoecimento mental.

Se você está vivendo uma situação assim, é importante documentar os comportamentos abusivos ou recorrentes que possam comprovar comportamentos inadequados. Estabeleça limites com assertividade, quando possível, e busque apoio em outros setores da empresa, como RH ou ouvidoria.

É importante também fortalecer a sua rede de suporte fora do trabalho. Além disso, se a situação for insustentável e não houver espaços para mudanças, refletir sobre novas possibilidades profissionais também é um ato de cuidado.

Dicas rápidas para começar agora

A relação entre saúde mental e produtividade é direta: pessoas com bem-estar emocional têm maior capacidade de foco, criatividade, tomada de decisão e relações saudáveis no ambiente corporativo.

Cuidar da mente no dia a dia pode ser mais simples do que parece. Pequenas ações geram grandes impactos ao longo do tempo.

Veja algumas práticas simples para iniciar agora mesmo:

  • Reserve 10 minutos por dia para uma pausa sem telas. Tome um café, faça um alongamento ou simplesmente se desconecte dos estímulos digitais.
  • Desative notificações profissionais fora do expediente.
  • Converse com colegas sobre formas de apoio mútuo.
  • Se você é líder ou gerente, pergunte com genuína escuta “como você está hoje?”
  • Se você é colaborador, permita-se pedir ajuda. Nenhum profissional deve enfrentar o esgotamento sozinho.


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Referências:

http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinannet/cnv/transmentalbr.def

http://www.portalsinan.saude.gov.br/o-sinan

https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2024/04/01/lei-cria-certificacao-para-empresa-que-promove-saude-mental



Você já parou para pensar o quanto os seus sentidos podem influenciar na sua visão de mundo e no seu dia a dia? Neste texto, você vai saber mais sobre o que é empirismo, suas principais ideias, pensadores e como essa corrente filosófica pode ajudar na reflexão e explicação de várias questões do cotidiano.

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O que é empirismo e por que ele moldou a ciência moderna?

Empirismo é uma corrente filosófica moderna, que ganhou força no final do século XVII e defendeu que todo conhecimento tem origem na experiência sensível.

Essa corrente discorda da teoria das ideias inatas, segundo o empirismo nós as construímos observando e interagindo com o mundo.

Os principais filósofos empiristas, Locke, Berkeley e Hume, defendiam que nossa mente é moldada pelas percepções e que o saber é resultado da organização dessas experiências.

O empirismo foi fundamental para a ciência moderna ao romper com o racionalismo quanto à fonte do conhecimento. Em vez da razão pura, colocou-se o olhar sobre a observação e a experiência, o que influenciou diretamente o surgimento de um método científico baseado na observação e na experimentação.

Além de estabelecer que o conhecimento deve ser sustentado por evidências, o empirismo foi fundamental para as ciências naturais, embora também tenha influenciado as ciências humanas. Também estimulou a dúvida e a revisão sistemática das crenças e ideias.



Empirismo na filosofia: definição e fundamentos

Empirismo vem do grego empeiria, que significa uma forma de saber derivada da experiência sensível e do acúmulo de informações advindo dessa experiência.

Basicamente, empirismo é uma corrente filosófica que diz que todo conhecimento deriva da experiência sensível.

Autores como Locke, Berkeley e Hume afirmam que a mente humana nasce como uma "tábula rasa", sendo preenchida ao longo da vida por percepções vindas dos sentidos.

“Nada está no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos.”

Lema do empirismo (Frase aristotélica)

O ponto inicial da filosofia empírica está na distinção entre dois tipos de conteúdo mental: impressões e ideias.

Segundo a teoria desenvolvida por David Hume, as impressões são as informações captadas e repassadas pelos sentidos, por exemplo, ver uma situação e sentir tristeza ou felicidade. Já as ideias são cópias dessas impressões, alteradas pela memória ou pela imaginação.

E essa ideia pode se associar por semelhança, proximidade no tempo ou espaço, ou relação de causa e efeito.

Sendo assim, esse pensamento ficou conhecido como empirismo psicológico, porque entende o conhecimento como resultado da atividade subjetiva da mente.

A partir disso, Hume desenvolveu uma postura cética, como na ideia de que seria, por exemplo, a ideia de que a causalidade não vem da razão, mas do costume ou hábito de fazer associações de eventos semelhantes e constantes.

Posteriormente, surge o chamado empirismo lógico, no qual as palavras só têm significado se estiverem ligadas a fatos concretos. Com isso, os conceitos metafísicos especulativos são desconsiderados por não se referirem a qualquer experiência sensível.

Portanto, o empirismo coloca a experiência sensível como origem do saber e transforma a experiência em critério de validade, influenciando a filosofia e a ciência moderna.

Crítica ao inatismo e à razão pura: a mente como “tábula rasa”

O empirismo e o racionalismo surgiram na mesma época, no século XVII. Entretanto, o pensamento empírico surgiu como uma crítica ao racionalismo, especialmente quanto às ideias inatas e à crença de que a razão, sozinha, é capaz de gerar conhecimento verdadeiro e seguro.

Diferentemente dos racionalistas, os filósofos empiristas defendiam que o conhecimento humano tem origem na experiência sensível. E é exatamente nessa discordância que Locke critica a ideia dos princípios inatos universais.

Um dos principais pontos da crítica ao inatismo está na questão de que a mente não nasce com princípios ou ideias prontas.

Na verdade, ela se apresenta desde a infância, como uma “tábula rasa”, ou seja, uma folha em branco pronta para ser preenchida pelas experiências.

Portanto, sendo a mente infantil livre de ideias anteriores, molda-se à medida que interage com o mundo.

Então a concepção de “ideias inatas” é refutada, segundo os empiristas, quando aplicada à análise empírica, pois, se essas ideias fossem realmente inatas, estariam presentes na mente de todos os indivíduos, o que não se observa.

Ademais, os filósofos empiristas também colocam em dúvida a razão, isto é, o uso da razão sem a experiência. Eles diziam que a razão depende das informações adquiridas pela percepção, assim, todo o saber é condicionado pelo contato com o mundo sensível.

A crítica ao inatismo foi importante na filosofia moderna, porque deslocou o foco da investigação do pensamento para a observação, a percepção e a experiência na construção do conhecimento.



Principais representantes do empirismo

O empirismo moderno teve três representantes que se destacaram: John Locke, George Berkeley e David Hume. Cada um desenvolveu, a partir da experiência sensível, uma teoria sobre o conhecimento e a realidade.

Retratos de John Locke, George Berkeley e David Hume, principais representantes do empirismo britânico
Da esquerda para a direita: John Locke, George Berkeley e David Hume

Embora os três tivessem a mesma ideia sobre a negação das ideias inatas e o compromisso com a experiência como fundamento do saber, as abordagens filosóficas se diferenciavam.

Enquanto Locke se destacou pela teoria do conhecimento e pela filosofia política; Berkeley se debruçou sobre a defesa do imaterialismo; e Hume, pelo marcante ceticismo frente à razão e à causalidade.

John Locke: teoria do conhecimento e política

John Locke (1632–1704) é considerado o fundador do empirismo moderno. Uma de suas obras mais clássicas, Ensaio Sobre o Entendimento Humano, desenvolve-se a teoria “tábula rasa”.

Nela, ele afirma que a mente humana nasce como uma “tábula rasa”, ou seja, sem conteúdo inato. Portanto, todo conhecimento do indivíduo vem da experiência, que pode ser externa (sensações) ou interna (reflexão).

Para explicar como um pensamento individual pode ser reconhecido como comum a todos, Locke discorre que o entendimento se forma a partir de ideias simples, captadas pela experiência, que são correspondentes às qualidades, e que depois são combinadas para formar ideias complexas.

Ele também diferencia as qualidades primárias e secundárias dos objetos:

  • Qualidades primárias: propriedades do próprio objeto (forma, extensão, volume)
  • Qualidades secundárias: propriedades que dependem da percepção do sujeito (cor, sabor, textura).


Exemplificando: o açúcar tem solidez, forma cristalina e divisibilidade (qualidades primárias). Também é branco e doce (qualidades secundárias).


Em suma, as qualidades primárias são inerentes ao objeto e tornam a substância o que ela é. Enquanto as qualidades secundárias não são propriedades objetivas do objeto, mas são derivadas do poder de produzir ideias, como o açúcar tem o poder de produzir o gosto doce.

Essa distinção permitiu reflexões sobre a confiabilidade do conhecimento sensível e os limites da percepção humana.

Além da teoria do conhecimento, John Locke também atuou na filosofia política.

Na obra Segundo Tratado Sobre o Governo, defende a ideia de que os indivíduos possuem direitos naturais (vida, liberdade e propriedade) e que o governo deve garantir tais direitos com base no consentimento dos governados. Essa concepção foi fundamental para o pensamento liberal e para a teoria do contrato social.



George Berkeley: imaterialismo e percepção

George Berkeley (1685–1753) negava a existência da matéria como substância independente da mente. Para ele, todos os objetos que experimentamos existem apenas enquanto são percebidos por uma mente.

Apesar de Berkeley admitir que a teoria do conhecimento empirista proposta por Locke foi fundamental para que ele alcançasse os seus objetivos quanto ao questionamento da materialidade do universo, ele chegou a resultados muito diferentes.

O ponto de discordância entre os dois filósofos está na passagem do conhecimento adquirido por meio dos dados fornecidos pelos sentidos para o conceito abstrato da substância material.

Para ele, essa substância material não pode ser conhecida em sua plenitude, porque o que sabemos dela advém do processo de percepção.

“Ser é ser percebido”

(esse est percipi)

Portanto, a percepção é o fundamento da realidade. Uma vez que Berkeley acredita que todas as qualidades dependem da mente para existir, negando a distinção entre qualidades primárias e secundárias feita por Locke.

Assim, o mundo material só existe enquanto é percebido, porque as coisas são percebidas continuamente, seja pelo indivíduo ou por Deus, o que garante a permanência dos objetos mesmo quando não os estamos percebendo.

Berkeley via sua filosofia como uma forma de proteger a fé religiosa do ceticismo e do materialismo. Ele acreditava que sua doutrina fortalecia a relação entre o espírito humano e Deus, o qual atua como a mente suprema que ordena e sustenta o mundo.

David Hume: ceticismo e causalidade

David Hume (1711–1776) desenvolveu um forte ceticismo sobre a razão e a possibilidade do conhecimento certo.

Em sua obra Investigação Sobre o Entendimento Humano (1748), ele propõe uma divisão entre dois tipos de conteúdos mentais:

  • Impressões: dados imediatos da experiência;
  • Ideias: cópias enfraquecidas das impressões.

Com isso, Hume estabelece que não podemos conhecer nada que não derive de forma direta ou indireta da experiência.

Uma de suas contribuições mais importantes é a crítica à ideia de causalidade. Nela, Hume diz que na experiência não há nenhum indicativo da conexão necessária entre causa e efeito.

O que se chama de causa é apenas o hábito ou costume de associar eventos que ocorrem repetidamente.

Para exemplificar: a crença no nascer do sol todos os dias não é racionalmente justificável, mas sim baseada em uma expectativa construída pela repetição.

“O homem é um ser dotado de razão e, como tal, recebe da ciência o seu alimento e nutrição própria. Mas tão estreitos são os limites do entendimento humano que pouca satisfação se pode esperar neste particular, quer da certeza, quer da extensão das aquisições.”


Ademais, Hume aplicou esse ceticismo à identidade pessoal: não há uma impressão contínua do “eu”, apenas uma sucessão de percepções.

Ele concluiu que a razão é limitada e que muitas crenças não têm fundamento racional, mas são resultado de sentimentos, hábitos e costumes.

A filosofia de Hume influenciou, posteriormente, Kant e a tradição filosófica, trazendo uma nova perspectiva sobre o conhecimento, a ciência e os limites da razão humana.

Empirismo x Racionalismo

Empirismo e racionalismo são correntes filosóficas com ideias opostas sobre a origem do conhecimento.

Enquanto o empirismo inglês afirma que todo saber vem da experiência sensível, o racionalismo, representado diz que a razão é a principal fonte do conhecimento, e que certas ideias são inatas, anteriores à experiência.

Confira na tabela abaixo um comparativo entre as duas vertentes filosóficas:

Empirismo Racionalismo
Ideia central Conhecimento vem da experiência Conhecimento vem da razão
Fonte do saber Sentidos e percepções Intelecto e dedução lógica
Conceitos principais Impressões, ideias, hábito, tábula rasa Ideias inatas, dedução, clareza e distinção
Características Indutivo, observacional, concreto Dedutivo, abstrato, matemático
Discordância de ideias Origem e validade do conhecimento
Concordância de ideias Compreensão do como conhecemos
Principais autores Locke, Berkeley, Hume Descartes, Spinoza, Leibniz


Impactos do empirismo na ciência e na modernidade

O empirismo foi fundamental na formação do pensamento moderno, influenciando a metodologia científica e as ciências humanas.

Ao defender que todo conhecimento vem da experiência sensível, os empiristas colocaram a observação, a experimentação e a verificação dos fatos no centro das questões filosóficas.

Isso influenciou o desenvolvimento de um método científico baseado nessas características, que proporcionou a formulação de hipóteses testáveis, além de favorecer análises empíricas dos fenômenos sociais e humanos.

O legado do empirismo fortaleceu a valorização do conhecimento científico, da experiência e da observação da realidade. Também questionou a ideia de conhecimento inato e colocou em debate os limites da razão.

Sendo assim, o empirismo trouxe uma visão moderna do saber, mais crítica e empírica.

O legado do empirismo hoje

Quando o empirismo afirma que o conhecimento nasce da experiência, ele nos alerta que para compreender o mundo é preciso vivência, observação e abertura ao novo.

Refletir sobre como pensamos, sentimos e julgamos é uma das principais propostas do pensamento filosófico. É a partir desses tensionamentos e questionamentos que vamos sendo capazes de compreender melhor o mundo, nós mesmos e como podemos lidar de forma racional com as questões que nos afligem.

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Referências:

Vários autores. História das grandes ideias do mundo ocidental. Volume 2.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia.

SCRUTON, Roger. Introdução à filosofia moderna

O surrealismo foi uma das mais ousadas vanguardas europeias do século XX. Inspirado na psicanálise de Freud e influenciado pelos traumas da Primeira Guerra Mundial, o movimento propôs uma revolução na arte: liberar o inconsciente e transformar os sonhos, desejos e pensamentos automáticos em criações artísticas.

Mais do que um estilo visual, o surrealismo foi uma filosofia, um modo de ver e questionar o mundo. Com artistas como Salvador Dalí, André Breton, René Magritte e Max Ernst, a arte surrealista transformou a pintura, e também deixou um legado na literatura, no cinema, na fotografia e no design.

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Surrealismo: Origem, Características e Principais Artistas

Para o surrealismo, mais do que representar a realidade de forma lógica, o essencial era dar forma às imagens vindas do inconsciente, dos sonhos e da imaginação. Essa vanguarda modernista buscava romper com a razão e explorar os territórios do irracional e do fantástico.

Um dos maiores ícones do movimento é a obra A Persistência da Memória (1931), do pintor espanhol Salvador Dalí, que sintetiza características marcantes do surrealismo, como a justaposição de elementos ilógicos, a distorção da noção de tempo e a atmosfera onírica.

O surrealismo não se restringiu às artes visuais: expandiu-se para a literatura, o cinema, a fotografia e até o design, influenciando profundamente a cultura do século XX. Neste artigo, você vai descobrir como surgiu a arte surrealista, conhecer seus principais artistas e conferir indicações de cursos para se aprofundar nesse universo instigante da Arte Moderna.


O que é Surrealismo?

O surrealismo foi um movimento artístico que surgiu no início do século XX, com raízes na Europa, especialmente na França, e foi profundamente influenciado pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud e pela atmosfera social pós Primeira Guerra Mundial.

Em um momento em que o mundo buscava novos sentidos e formas de compreender a realidade, os surrealistas propunham uma arte que ultrapassasse os limites da razão e da lógica, mergulhando no universo do inconsciente, dos sonhos e das emoções reprimidas.

O termo surrealismo deriva do francês “surréalisme”, que significa “acima do real” , uma definição que expressa bem o desejo de revelar uma realidade mais profunda, oculta sob a superfície do cotidiano. Para os artistas surrealistas, a imaginação era uma ferramenta libertadora, capaz de romper com as normas sociais, morais e estéticas, revelando verdades interiores que a racionalidade não conseguia alcançar.

Em contraste com movimentos anteriores, como o realismo e o impressionismo, que buscavam representar o mundo visível, os surrealistas adotavam técnicas como o automatismo psíquico, a justaposição de imagens improváveis e o ilógico deliberado, criando composições que desafiavam a percepção comum. Obras como Os Elefantes (1948), de Salvador Dalí, e os poemas de André Breton, o principal teórico do movimento, são exemplos marcantes dessa estética onírica e provocadora.

Mais do que um estilo, o surrealismo representou uma verdadeira revolução no modo de pensar e fazer arte — uma ruptura com a lógica convencional, uma celebração do instinto, do acaso e da liberdade criativa.



Como Surgiu o Surrealismo?

O surrealismo emergiu na França em 1924, em um cenário marcado pelo colapso de antigas certezas. O trauma deixado pela Primeira Guerra Mundial expôs os limites da razão humana, da ciência e dos valores burgueses que até então sustentavam a cultura ocidental.

Em meio à desilusão com o racionalismo, artistas e intelectuais buscavam novas formas de entender a realidade, não mais pelas lentes da lógica, mas por meio dos impulsos instintivos, dos sonhos e do inconsciente.

Esse novo olhar encontrou terreno fértil nas experiências do dadaísmo, movimento radical e anárquico que surgiu como reação direta à guerra e às estruturas culturais que a permitiram. O dadaísmo rejeitava toda forma de arte institucionalizada e questionava os fundamentos da linguagem, da estética e até da razão.

O surrealismo, embora menos destrutivo em sua essência, herdou desse espírito revolucionário a vontade de romper com a lógica dominante, canalizando essa energia para uma criação mais simbólica, subjetiva e imaginativa.

O ponto de partida oficial do surrealismo foi o Manifesto Surrealista, publicado por André Breton em 1924. Breton, fortemente influenciado pelas ideias de Freud e pelos métodos psicanalíticos, propôs o automatismo psíquico como forma de criação artística, um processo em que a mente é liberada do controle consciente, permitindo que pensamentos, imagens e emoções fluam livremente, como num sonho.

A partir desse manifesto, formou-se um grupo de poetas, pintores, cineastas e pensadores que viam no surrealismo não apenas uma estética, mas uma filosofia de vida: um caminho para libertar a imaginação humana das amarras da razão, da moral tradicional e da lógica linear.

O surrealismo não nasceu como um movimento isolado, mas como parte de um processo mais amplo de transformação do pensamento artístico no século XX. Ao lado de outras vanguardas europeias, ele ajudou a redefinir o papel da arte, propondo uma aproximação entre criação artística e pulsões interiores, uma arte que se volta não ao mundo externo, mas às profundezas da psique.

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O Manifesto Surrealista e André Breton

Capa do Manifesto Surrealista de André Breton, obra fundadora do movimento surrealista
Livro Manifesto Surrealista, de André Breton, marco teórico do surrealismo

Poeta, teórico e figura central do movimento, André Breton é amplamente reconhecido como o "pai do surrealismo". Foi ele quem, em 1924, deu forma e direção à nova vanguarda artística com a publicação do Primeiro Manifesto Surrealista, obra que nomeou o movimento e delineou seus princípios fundamentais.

No manifesto, Breton define o surrealismo como “automatismo psíquico puro, pelo qual se pretende exprimir, seja verbalmente, seja por escrito, seja de qualquer outra maneira, o funcionamento real do pensamento.”

Essa definição reflete a essência do projeto surrealista: libertar o pensamento de qualquer censura, seja ela moral, lógica ou estética, para que as imagens e ideias emergissem diretamente do inconsciente, sem filtros da razão ou da convenção social.

Inspirado pelas descobertas da psicanálise, Breton via na arte uma ferramenta para acessar zonas ocultas da mente humana e dar voz ao desejo, ao instinto e ao irracional.

Mais do que uma proposta artística, o surrealismo era, para Breton, uma atitude diante da vida, uma forma de romper com os mecanismos opressores da sociedade e de reconectar o ser humano com sua natureza mais profunda e instintiva.

Características do Surrealismo

A arte surrealista é marcada por uma estética provocadora, carregada de simbolismo, imagens inusitadas e atmosferas que remetem ao universo dos sonhos.

Mais do que produzir obras belas ou coerentes, os surrealistas buscavam desestabilizar a percepção tradicional, confrontando o espectador com aquilo que é reprimido, oculto ou irracional. A intenção era libertar a mente dos limites da lógica, revelando uma realidade mais profunda, a do inconsciente.

Influenciado diretamente pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud, o surrealismo acreditava que os sonhos, os desejos e os impulsos reprimidos tinham um papel central na criação artística.

Principais características do surrealismo:

  • Exploração do inconsciente e dos sonhos: as obras surgem como janelas para a psique humana, revelando conteúdos ocultos, muitas vezes perturbadores.

  • Automatismo psíquico: uso de técnicas como a escrita ou o desenho automáticos, permitindo que ideias fluam livremente, sem intervenção da razão.

  • Imagens oníricas, simbólicas e ilógicas: as composições desafiam a lógica, criando cenários fantásticos que parecem saídos de um sonho — ou de um delírio.

  • Justaposição de elementos incongruentes: objetos e figuras que, em tese, não pertencem ao mesmo universo, são combinados de forma inesperada, criando estranhamento e tensão visual.

  • Temáticas existenciais e universais: recorrência de temas como sexualidade, morte, desejo, infância, medo, memória e identidade.

  • Crítica à racionalidade e à moralidade burguesa: rejeição dos valores sociais tradicionais e da lógica cartesiana que havia guiado o pensamento ocidental.

  • Influência da psicanálise: a arte como meio de acessar traumas, desejos reprimidos e mecanismos profundos da mente humana.



Principais Artistas do Surrealismo

O surrealismo teve nomes marcantes nas artes plásticas, literatura e cinema. Abaixo, criamos uma tabela com os principais artistas do surrealismo e suas obras representativas:

ARTISTAS SURREALISTAS CARACTERÍSTICAS OBRA ICÔNICA
Salvador Dalí Imagens hiper-realistas, obsessão pelo tempo, sexualidade e sonhos lúcidos A Persistência da Memória (1931)
René Magritte Paradoxos visuais, crítica à percepção e ao real A Traição das Imagens (1929)
Max Ernst Técnicas experimentais (frottage, decalcomania), imaginação onírica O Casamento do Céu e do Inferno (1946)
Leonora Carrington Universo simbólico e mitológico, abordagem feminina do inconsciente A Debutante (1939)
Yves Tanguy Paisagens oníricas e formas biomórficas flutuantes Indução Hipnótica (1939)


Obras do Surrealismo

Aqui estão algumas das principais obras surrealistas, que ilustram a exploração do inconsciente, dos sonhos e do irracional, elementos essenciais que definem o movimento:

A Persistência da Memória (1931) | Salvador Dalí

A Persistência da Memória de Salvador Dalí, com relógios derretidos representando o tempo fluido
A Persistência da Memória, 1931. Óleo sobre tela, 24 X 33 cm. Museu de Arte Moderna, Nova Iorque. Relógios derretidos representam a relatividade do tempo e o estado onírico.

A Traição das Imagens (1929) | René Magritte

Imagem de cachimbo com a frase Ceci n’est pas une pipe, obra A Traição das Imagens de René Magritte
A Traição das Imagens, 1929. Óleo sobre tela, 63,5 X 93,98 cm. Museu de Arte do Condado de Los Angeles. O famoso cachimbo com a frase "Isto não é um cachimbo" questiona a realidade da imagem.

Europa Depois da Chuva II (1942) | Max Ernst

Obra Europa Após a Chuva II de Max Ernst, representando paisagem surreal em ruínas orgânicas
Europa Depois da Chuva II, 1929. Óleo sobre tela, 54 X 146 cm. Museu de Arte Wadsworth Atheneum em Hartford, Connecticut. Cenário apocalíptico, mostrando o caos pós-guerra.

O Surrealismo no Brasil

Embora o surrealismo no Brasil não tenha se consolidado como uma escola formal, seus conceitos e estéticas influenciaram profundamente diversos artistas e escritores ao longo do século XX.

Por aqui, o movimento dialogou com o modernismo, o simbolismo e as tradições culturais locais, dando origem a uma produção marcada pela subjetividade, pela experimentação e por um imaginário tropical e singular.

Entre os nomes de maior destaque ligados à sensibilidade surrealista no Brasil, estão:

  • Cícero Dias: pintor pernambucano que se aproximou do surrealismo europeu em sua fase parisiense. Suas obras exploram símbolos poéticos e paisagens oníricas, muitas vezes evocando a infância e memórias pessoais em uma linguagem lírica.

  • Ismael Nery: pintor e poeta que mesclou questões filosóficas, espirituais e existenciais em suas obras, usando o surrealismo para explorar a relação entre corpo, espírito e identidade.

  • Murilo Mendes: poeta que, em sua fase inicial, adotou um lirismo onírico e fragmentado, influenciado pelo surrealismo, e que explorou as fronteiras entre a razão e o inconsciente em sua produção literária.

  • Maria Martins: escultora de projeção internacional, cujas obras, com formas orgânicas e fantásticas, abordam temas como o erotismo, o misticismo e a mitologia, aproximando-se das influências surrealistas.

  • Tarsila do Amaral: influenciada pelo modernismo, criou uma obra que explora o universo simbólico e sensorial da cultura brasileira, misturando elementos do surrealismo com o folk e o imaginário popular.


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Perguntas Frequentes sobre Surrealismo

O que é surrealismo?

É um movimento artístico e literário que valoriza o inconsciente, os sonhos e o automatismo como formas de criar arte.

Quais são as principais características do surrealismo?

Distorção da realidade, imagens oníricas, ilógica, temas como desejo, medo, morte, erotismo e crítica à racionalidade.

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Referências:

https://enciclopedia.itaucultural.org.br/termos/80020-surrealismo

O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é um transtorno psicológico de ansiedade caracterizado por uma preocupação excessiva e persistente com várias áreas da vida, como trabalho, saúde, família ou finanças.

Diferente da ansiedade comum que surge diante de situações específicas e que nos prepara para enfrentar desafios do dia a dia, o TAG provoca uma tensão constante, muitas vezes sem motivo claro ou justificável.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país que possui a população com maior taxa de transtornos de ansiedade no mundo. São cerca de 18 milhões de brasileiros sofrendo com a ansiedade, o que equivale a aproximadamente 9,3% da população do país.

A ansiedade prolongada costuma durar seis meses ou mais, e pode interferir significativamente na vida social, profissional e pessoal do sujeito. Por isso, tem sido cada vez mais importante ampliar as discussões sobre o TAG como uma questão emergente de saúde mental.

Neste artigo, vamos explicar o que é o Transtorno de Ansiedade Generalizada, quais seus sintomas, causas, formas de diagnóstico e opções de tratamento. O objetivo é desmistificar o transtorno, orientar e oferecer informações para quem vive com TAG ou deseja compreender melhor esse quadro.

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O que é Transtorno de Ansiedade Generalizada?

Segundo o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), os sintomas de TAG variam de pessoa para pessoa, mas costumam envolver aspectos físicos, cognitivos e comportamentais.

Enquanto sintoma comum ao transtorno, a pessoa se sente constantemente preocupada e angustiada, tendo dificuldade de controlar os sentimentos. As preocupações podem ser sobre assuntos diversos, e a intensidade, a frequência e a duração costumam ser maiores do que o esperado para aquela situação.

Além disso, outros sintomas podem acompanhar o quadro:

  • Dificuldade para controlar pensamentos ansiosos
  • Sensibilidade acentuada a incertezas
  • Medo de que algo ruim ou grave aconteça o tempo todo
  • Irritabilidade
  • Tensão muscular
  • Fadiga
  • Dores de cabeça
  • Sudorese
  • Palpitações
  • Falta de ar
  • Dificuldade de concentração
  • Distúrbios do sono (insônia e ansiedade noturna)


Esses sintomas podem aparecer em adultos e crianças, embora em cada fase da vida o quadro possa se manifestar de modo diferente. Crianças, por exemplo, podem se mostrar excessivamente preocupadas com o desempenho escolar, a aprovação de adultos ou a saúde de familiares.

Quando procurar ajuda profissional?

É importante procurar ajuda profissional quando a ansiedade começar a interferir na rotina, causando sofrimento constante, insônia, dificuldades de concentração, irritabilidade ou sintomas físicos frequentes, como tensão muscular e fadiga.

Se você sente que está sempre preocupado, mesmo sem motivo claro, ou que não consegue controlar os pensamentos ansiosos, é hora de buscar apoio. Muitas vezes, as pessoas tentam lidar sozinhas por muito tempo, o que pode agravar o quadro.

Não é necessário “esperar piorar” para pedir ajuda. Reconhecer os sinais e agir com cuidado é um passo essencial para retomar o bem-estar.




Causas e fatores de risco do TAG

O TAG não tem uma origem única e bem definida. Em vez disso, costuma surgir a partir da interação complexa entre predisposições biológicas, experiências de vida e características individuais.

A seguir, aprofundamos nas causas e nos principais fatores de risco associados ao TAG:

  • Genética
  • Fatores neurobiológicos
  • Ambiente
  • Traumas
  • Personalidade


Genética:

Pessoas com histórico familiar de transtornos de ansiedade têm maior probabilidade de desenvolver TAG. Fatores genéticos podem influenciar a forma como o cérebro regula a resposta ao estresse, tornando alguns indivíduos mais suscetíveis.

No entanto, a genética por si só não determina o transtorno, ela contribui como uma peça dentro de um conjunto multifatorial.

Fatores neurobiológicos:

Alterações nos níveis de neurotransmissores como serotonina e noradrenalina estão associadas ao desenvolvimento do TAG. Essas substâncias químicas são fundamentais para a regulação do humor, do sono, da resposta ao estresse e da sensação de bem-estar.

Quando há um desequilíbrio nesses sistemas, a pessoa pode experimentar níveis elevados e constantes de ansiedade, mesmo na ausência de ameaças concretas. O uso de substâncias, alterações no sono e deficiências nutricionais, podem gerar esse desequilíbrio.

Ambiente:

Viver em ambientes marcados por estresse contínuo, como pressão excessiva no trabalho, conflitos familiares ou instabilidade financeira, pode favorecer o surgimento de TAG.

A exposição prolongada a situações difíceis sobrecarrega o sistema de regulação emocional, tornando mais difícil lidar com as preocupações do dia a dia.

Traumas:

Eventos traumáticos, sobretudo, na infância, estão fortemente associados a um risco maior de desenvolver transtornos de ansiedade ao longo da vida. Abuso físico ou emocional, separações abruptas ou perdas significativas podem deixar marcas emocionais profundas, alterando os modos como o cérebro percebe e reage ao mundo.

Personalidade:

Pessoas com tendência ao perfeccionismo, ao excesso de responsabilidade ou maior sensibilidade à crítica e ao erro costumam apresentar maior propensão ao TAG. Além disso, indivíduos que evitam situações incertas ou que têm dificuldade em lidar com a imprevisibilidade podem desenvolver padrões de preocupação persistentes.

Entender esses fatores não apenas amplia o conhecimento sobre o transtorno, mas ajuda a combater o estigma.

O TAG não é sinal de fraqueza, exagero ou falta de controle emocional, é uma condição real de saúde mental que requer acolhimento, diagnóstico adequado e tratamento individualizado.

Homem cobrindo o rosto com expressão de angústia, representando sintomas de ansiedade e preocupação excessiva
Preocupação excessiva pode ser um sinal de alerta sobre ansiedade - Fonte: Adrian Swancar/ Unsplash


Diagnóstico: como identificar o TAG

Saber como identificar o TAG é essencial para buscar o tratamento adequado. O diagnóstico deve ser feito por um profissional de saúde mental (psiquiatra ou psicólogo), a partir de uma avaliação clínica detalhada.

Alguns critérios precisam ser considerados no processo de avaliação. Entre eles, é necessário a presença de sinais de ansiedade e preocupação excessiva por mais de seis meses, a dificuldade de controlar as preocupações e o comprometimento funcional nas relações de trabalho, relacionamentos ou estudos. Além disso, também há a necessidade da presença de, no mínimo, três sintomas físicos ou cognitivos associados, como tensão muscular, fadiga, insônia etc.

É fundamental que haja uma investigação sobre os fatores de adoecimento psíquico da pessoa, para então saber como agir. Uma avaliação cuidadosa também considera possíveis comorbidades, como depressão ou outros transtornos de ansiedade - que são frequentemente confundidos.

Diferença entre TAG e outros transtornos de ansiedade

Embora todos os transtornos de ansiedade compartilhem o elemento central da ansiedade, cada um possui manifestações distintas e critérios próprios. Entender essas diferenças é essencial para um diagnóstico preciso e para o direcionamento do tratamento.

TAG e Transtorno de Pânico

O Transtorno de Pânico envolve crises agudas de medo intenso que surgem de forma súbita e sem aviso, com sintomas físicos como falta de ar, palpitações, suor excessivo e sensação de morte iminente. As crises costumam durar poucos minutos, mas geram tanto medo que a pessoa pode evitar sair de casa por receio de que aconteçam novamente.

Enquanto no TAG a ansiedade é contínua e difusa, no pânico ela aparece de forma abrupta e intensa, em episódios delimitados.

TAG e Fobia social (Ansiedade Social)

A fobia social, também chamada de transtorno de ansiedade social, é marcada por um medo intenso de ser julgado ou rejeitado em situações sociais.

No TAG, a preocupação não está centrada em interações sociais, mas se espalha por múltiplos temas do cotidiano. A pessoa com TAG pode até sentir ansiedade social, mas ela faz parte de um quadro mais amplo de preocupações generalizadas.

Assim, a fobia social costuma gerar evitação social significativa, enquanto o TAG impacta a vida como um todo, não apenas as relações interpessoais.

TAG e Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)

O TOC é caracterizado por obsessões (pensamentos ou impulsos repetitivos e indesejados) ou compulsões (rituais mentais ou comportamentais) que a pessoa sente que precisa realizar para neutralizar a ansiedade causada.

Enquanto o TOC tem um ciclo bem definido de obsessão-compulsão, o TAG se expressa por meio de uma ansiedade flutuante, persistente e muitas vezes sem foco específico.

De modo geral, o quadro de sofrimento dos transtornos de ansiedade muitas vezes se dá porque a mente ansiosa busca encontrar as soluções para os cenários prováveis e improváveis diante do acontecimento, como um esforço para se preparar para todas as possibilidades que venham a surgir.

Esse esforço é exaustivo até mesmo fisicamente para a pessoa, por isso, o TAG denuncia esses sinais de forma tão visível. Essa distinção é fundamental para evitar que sintomas graves sejam banalizados ou ignorados.



Tratamento: psicoterapia, medicação e estilo de vida

A ansiedade generalizada tem tratamento. Com acompanhamento adequado, é possível ter uma vida mais equilibrada e com menos sofrimento. Saiba como:

Psicoterapia

A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) é considerada uma das abordagens mais eficazes para tratar o TAG.

Ela ajuda a identificar pensamentos distorcidos e padrões de preocupação e a reduzir comportamentos de evitação. Além disso, auxilia no desenvolvimento de estratégias mais saudáveis e possíveis no enfrentamento da ansiedade.

Outras abordagens terapêuticas também podem ser benéficas, como a Terapia Centrada na Pessoa (TCP), que tem por objetivo o desenvolvimento pessoal do indivíduo a partir da sua capacidade de crescimento e realização.

Além disso, atividades como meditação, mindfulness, yoga e técnicas de interação entre mente e corpo, podem auxiliar na redução dos sintomas e na formação de técnicas de respiração que auxiliem a pessoa.


Medicamentos

Em alguns casos, o uso de medicamentos pode ser indicado por psiquiatra para tratar o transtorno de ansiedade generalizada.

Os mais comuns incluem os antidepressivos, que atuam regulando os neurotransmissores envolvidos na ansiedade. Também podem ser receitados os ansiolíticos, indicados apenas em curto prazo ou em momentos de crise, devido ao risco de dependência e efeitos colaterais.

O tratamento com medicamentos deve ser sempre supervisionado por um(a) psiquiatra, considerando a resposta individual, os efeitos colaterais e a necessidade de ajuste ao longo do tempo. A medicação costuma ser mais eficaz quando combinada com a psicoterapia.

Mudanças no estilo de vida

Apesar da rotina dificultar as possibilidades de alterações expressivas no dia a dia, alguns pequenos passos podem gerar um impacto significativo no estilo de vida de uma pessoa com ansiedade generalizada.

A redução do consumo de álcool e cafeína, o exercício de técnicas de respiração e relaxamento, mesmo que breves, já auxiliam a diminuir os sintomas de ansiedade.

Além disso, a prática de, pelo menos, 30 minutos de exercício físico de duas a três vezes na semana, uma noite de sono de, no mínimo, 6 horas, e uma alimentação mais equilibrada, também podem ajudar de modo expressivo na redução dos sintomas.

Mulher sentada em posição de meditação com mãos unidas, praticando técnicas de respiração para controlar a ansiedade
O exercício de técnicas de respiração é um excelente aliado para lidar com a ansiedade - Fonte: THLT LCX/Unsplash

Conviver com TAG: dicas para o dia a dia

Viver com TAG exige desenvolver autoconhecimento, paciência e ferramentas práticas de regulação emocional. Para isso, é necessário buscar algumas estratégias para cuidar da saúde mental, que podem ajudar a lidar com a ansiedade no cotidiano.

➡️ Crie uma rotina estruturada, com horários previsíveis

Este hábito ajuda o cérebro a reduzir a sensação de descontrole. Inclua pequenas pausas, momentos de lazer e descanso, sempre que possível.

➡️Pratique a auto observação com gentileza.

Perceba quais situações aumentam a sua ansiedade e quais ajudam a aliviá-la. Evite julgamentos duros sobre si mesmo, seja paciente consigo e com o seu processo.

➡️ Utilize listas, aplicativos ou planejadores

Para algumas pessoas com ansiedade, a utilização de recursos de organização externa podem ser verdadeiros aliados, ajudando a externalizar preocupações e a reduzir a sobrecarga mental.

➡️ Compartilhe emoções com pessoas de confiança ou em ambientes terapêuticos

Conversar sobre os seus sentimentos também é um recurso importante, pode aliviar o peso da preocupação constante.

➡️ Evite gatilhos quando possível

Filtre conteúdos em redes sociais, limite a exposição a notícias sensacionalistas ou reorganize o ambiente físico pode ajudar.

Essas práticas não eliminam completamente a ansiedade, mas ensinam a lidar com ela de forma mais equilibrada.

Perguntas frequentes

O que caracteriza o transtorno de ansiedade generalizada?

Preocupação excessiva e difícil de controlar sobre várias áreas da vida, presente na maior parte dos dias por pelo menos 6 meses, acompanhada por sintomas físicos como tensão muscular, irritabilidade, fadiga, dificuldade de concentração e problemas para dormir.

O que provoca o TAG?

Fatores genéticos, desequilíbrios químicos no cérebro, estresse prolongado, traumas e fatores ambientais.

Qual a diferença entre ansiedade e ansiedade generalizada?

Ansiedade é uma reação normal a situações estressantes ou ameaças reais e temporárias. Já o transtorno de ansiedade generalizada é uma condição crônica em que a ansiedade é excessiva, persistente, difícil de controlar e interfere significativamente na vida diária, mesmo sem um motivo claro ou específico.



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Referências

https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/transtornos-de-ansiedade-e-relacionados-a-fatores-estressantes/transtorno-de-ansiedade-generalizada#Tratamento_v747156_pt

Às vezes, o comportamento mais recatado pode esconder um desejo intenso. A gentileza exagerada, uma raiva contida. Para a psicanálise, essas inversões não são por acaso: fazem parte de um mecanismo chamado formação reativa.

Neste artigo, você vai entender o que é esse conceito desenvolvido por Freud, como ele atua como defesa contra desejos inconscientes e por que, muitas vezes, somos exatamente o oposto do que parecemos ser.



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O que é formação reativa?

Segundo a psicanálise, a formação reativa é um mecanismo de defesa que leva um sujeito a comportar-se da maneira oposta à que ele realmente é. Através da formação reativa alguém pode, por exemplo, defender-se de todo o ódio que sente pelos outros comportando-se socialmente de maneira exageradamente bondosa. Ou então, defender-se de seus intensos desejos sexuais comportando-se de forma extremamente pudica ou recatada.

Para Freud, este é um mecanismo de defesa que todos nós utilizamos para nos proteger de alguns desejos inconscientes e, portanto, inaceitáveis.



A formação reativa em Freud

De acordo com Freud (1909), todos nós possuímos desejos ou tendências inconscientes. Em geral, estes são desejos sexuais ou agressivos e, portanto, contrários à moral que governa a nossa sociedade. E é em obediência a tais padrões morais que somos obrigados a recalcá-los, ou seja, tornar esses desejos inconscientes.

No entanto, para a teoria freudiana, o recalque de um desejo não significa exatamente a sua extinção. Significa apenas fazer com que ele se torne inconsciente, ou seja, desconhecido para nós. Porém, mesmo inconsciente, o desejo continua vivo e sempre à espreita de alguma situação para realizar-se.

Deste modo, o desejo inconsciente impõe uma pressão constante em nosso psiquismo, algo que gera em nós um conflito imenso. Por isso temos que nos defender dele de alguma maneira, sendo a formação reativa um destes possíveis mecanismos de defesa. Através da formação reativa, substituímos este desejo sexual ou agressivo pelo seu exato oposto e, assim, nos tornamos o contrário daquilo que verdadeiramente somos (Freud, 1926).

A psicanálise e os mecanismos de defesa do ego

Segundo a teoria freudiana, a formação reativa é um dos possíveis mecanismos de defesa, mas não o único. As outras defesas que frequentemente utilizamos contra os nossos desejos sexuais ou agressivos são o recalque, a negação, o isolamento, a anulação retroativa e a projeção, apenas para citar os mais conhecidos.




Exemplos de formação reativa

São muitos os exemplos de formação reativa que guardo comigo. Em geral, eles costumam ajudar meus alunos na compreensão de todo este mecanismo. E o melhor de tudo: são exemplos retirados da minha própria vida cotidiana, da simples observação do comportamento de pessoas próximas.

Acredito que vocês, ao lerem estes exemplos, poderão também percebê-los em pessoas de seus convívios, de repente em seus núcleos familiares ou de amizade mais chegados. Pode ser até que consigam visualizá-los em vocês mesmos...

Exemplo 1: Quando o desejo sexual se transforma em pudor


Cenas do filme Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock

O primeiro exemplo é de uma senhora com quem convivi por alguns anos. Tratava-se de uma mulher respeitadíssima, ultra religiosa e sempre preocupada com a sexualidade dos outros. Vale frisar: ela era preocupada apenas com a sexualidade dos outros, já que insistia em dizer que nunca teve desejos sexuais... No máximo, assumia que esforçara-se para ter alguma vontade nas ocasiões em que engravidou.

Fato é que esta mesma senhora que insistia em negar seus desejos sexuais tinha um comportamento um tanto estranho: todo dia, ao sair do banho, enrolava-se na toalha e ia vestir-se em seu quarto... Porém, acidentalmente, sempre esquecia a cortina aberta. E o problema é que ela morava no andar térreo de um prédio e, colada a sua janela, ficava uma vila repleta de casas.

E ela era a alegria da vila! Os púberes que por lá moravam chegavam mesmo a compor uma imensa e feliz plateia para assistir ao espetáculo. E ela nem se tocava...

Quem se tocou fui eu! Certo dia, informei-lhe que a vila inteira já tinha visto ela peladona. Como era de se esperar, ela ficou estupefata, morreu de vergonha e prometeu a si própria que, a partir de então, passaria a cuidar para que a cortina ficasse bem fechada.

No entanto, como todos sabem, estas promessas não valem lá muita coisa... E, assim, após alguns dias de intenso zelo, a senhora voltou a acidentalmente esquecer a cortina aberta. Tornou-se novamente a despudorada do andar térreo, sempre a postos para satisfazer a alegria da meninada. E eu como não sou muito fã de confusão pra cima de mim, deixei quieto!

Ora, assim percebemos o quanto um sujeito detentor de desejos sexuais super intensos é capaz de, através de uma formação reativa, tornar-se extremamente pudico e recatado. De fato, graças a uma formação reativa, esta senhora se transformou no exato oposto do que ela verdadeiramente era... E quem a conheceu sabe que sua pudicícia era extremamente exagerada, fazendo dela uma pessoa até mesmo chata pelo tanto de pudor que preconizava por aí.

Só que é aí que mora o perigo: a formação reativa é um mecanismo de defesa sempre falho. Ora, Freud salienta que a verdade do desejo inconsciente não consegue ser escondida por tanto tempo. E, assim, cedo ou tarde, ela acaba sempre aparecendo, fazendo-nos defrontar com aquilo que consideramos mais inaceitável em nós.

Como no exemplo acima, por mais que esta senhora empregasse sucessivas formações reativas no intento de livrar-se da sexualidade que efetivamente possuía, todos os seus esforços eram em vão... Às vezes estas formações reativas até que funcionavam e, de fato, ela conseguia fazer com que todos acreditassem piamente em seu recato (inclusive ela própria...). No entanto, volta e meia estas formações reativas vinham a falhar fazendo com que ela se tornasse a peladona da rua.



Exemplo 2: Quando o amor se transforma em ódio


Há também o exemplo de um casal da minha própria família. Sem qualquer exagero da minha parte, posso afirmar que nunca os vi sem brigar um com outro... Nunca! Foi sempre muita briga, muita briga, muita briga... E como se não bastasse tanta briga, elas ainda brigavam em alemão!

Bastava ele falar uma coisa que ela retrucava. Bastava ela dar opinião em algo que ele implicava. Bastava ele querer ver o futebol que ela desandava a falar sem parar. Bastava ela dizer que queria jantar às 19hs que ele dizia preferir às 19:15hs...

E assim eles eram casados, muitas vezes começando a brigar quando acordavam e só deixando as brigas na hora de dormir! Todo santo dia prometiam o divórcio, todo santo dia juravam as maiores ameaças um pro outro e todo santo dia era a maior berraria. A princípio, se odiavam...

E, no entanto, se amavam! Efetivamente, quem os conhecia, sabe que um não conseguia viver sem o outro. Era muito amor que estava em jogo, tanto amor, mas tanto amor, que os dois nunca se largavam: acordavam juntos, tomavam café juntos, trabalhavam juntos, almoçavam juntos, voltavam pra casa juntos e realmente só se separavam na hora do Jornal Nacional que coincidia com a hora da novela do SBT.

Enfim, o que acontece é que, às vezes, a formação reativa faz com que um grande amor só consiga se manifestar na forma de um aparente ódio. Mas todo mundo sabia que, no fundo, eles se amavam! Menos eles que juravam que não...rs

Exemplo 3: Quando a agressividade se transforma em bondade


Certo dia, estava eu na fila de um buffet a quilo e, na minha frente, estava uma moça pronta para pegar a comida. Assim que entrei na fila, ela virou sorrindo pra trás e me indagou: “O senhor quer passar na minha frente”? Eu agradeci e respondi que não. Estranhei bastante aquela pergunta...

Passaram alguns segundos e ela virou novamente para trás com o mesmo sorriso doce: “Olha, se o senhor desejar pegar a comida na minha frente, pode tá? Eu tô sem pressa alguma...”. Estranhei de novo o comportamento dela, mas agradeci. Ela voltou-se para frente ainda com o sorriso doce.

Daí pegou a comida dela, eu peguei a minha, e na hora de pesar, ela começou a falar sorrindo para a funcionária que cuidava da balança: “Muito obrigado pelo serviço de vocês. É sempre um prazer almoçar aqui. Minhas lembranças ao seu marido e à sua família”. E virou-se de novo para mim com o mesmo sorriso: “Bom apetite!”

Agradeci e pensei comigo mesmo: “Caramba, essa mulher deve ser uma bruxa!” E fui comer bem longe dela...

Ora, quem conhece o conceito de formação reativa sabe que devemos desconfiar destas pessoas muito boazinhas, muito legais, muito prestativas e muito zelosas com os outros. De acordo com a lógica da formação reativa, tamanha bondade, por muitas vezes, só serve para esconder uma imensa agressividade! E, neste caso, talvez possamos afirmar que enquanto esta moça sorria para mim oferecendo-me a frente da fila, ela provavelmente estava se corroendo por dentro de tanto ódio...

Vale a pena determo-nos um pouco na explicação deste processo.

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Formação reativa, pulsão de morte e superego

De fato, a psicanálise considera a transformação da agressividade em uma imensa bondade o exemplo paradigmático de formação reativa.

Podemos dizer que, para a teoria freudiana, o exemplo paradigmático de formação reativa é o da transformação da agressividade em bondade.

Segundo Freud (1923), todos nós somos dotados de uma série de impulsos agressivos, impulsos estes representados pelo conceito de pulsão de morte. Trata-se, propriamente, do conceito que explica porque somos constantemente tomados por uma série de desejos violentos e cruéis com os outros. E, com efeito, por muitas vezes, é absolutamente comum que nos peguemos desejando o mal a uma série de pessoas do nosso convívio.

No entanto, por questões estritamente morais, nossos impulsos agressivos não podem ser satisfeitos. Caso contrário, estaríamos todos presos... (Imaginem vocês se pudéssemos matar todo mundo que a gente odeia?). Deste modo, para evitar tamanho caos, Freud (1923) coloca que cada sujeito deve erigir em si uma instância psíquica chamada “superego” (“supereu”). Este teria como função, dentre outras tantas coisas, impor os mais severos limites aos nossos impulsos agressivos.

E, assim, graças à atuação do superego, nos tornamos estas pessoas extremamente bondosas e moralizadas que somos! Alguns menos, outros mais e outros ao ponto de por duas vezes oferecer a um estranho seu lugar na fila de uma comida a quilo...

É, portanto, o superego que promove este tipo de formação reativa. Graças a esta transformação da nossa agressividade na mais pura bondade, tornamo-nos sujeitos aparentemente incapazes de desejar mal aos outros. Mas isso até a página dois!

Ou seja, como foi acima ressaltado, para a teoria freudiana, a formação reativa é um mecanismo de defesa fundamentalmente falho. O que quer dizer que jamais o superego consegue transformar em bondade a totalidade dos nossos impulsos agressivos.

Um tanto de agressividade sempre continua vivo em nós. Às vezes, ela consegue forçar a passagem e se dirigir aos outros. Porém, às vezes, ela permanece retraída e toma a nós mesmos como seu objeto... O que pode ser igualmente perigoso, visto as tantas situações de autoagressão e de autoculpabilização que costumamos vivenciar.

“As perigosas pulsões de morte são tratadas no indivíduo de diversas maneiras: (... ) em parte são desviadas para o mundo externo sob a forma de agressividade; enquanto que em grande parte continuam, sem dúvida, seu trabalho interno sem estorvo” - (Freud, 1923/1996 - “O ego e o id”, p. 66)


Este é, portanto, o conceito de formação reativa. Um mecanismo de defesa bastante comum e de suma importância na clínica. De fato, a cada paciente que atendemos e a cada história que ouvimos em nossos consultórios, é frequente que nos deparemos com uma série imensa de formações reativas. E se fizermos o exercício de olharmos para nossas próprias características e comportamentos, com certeza, vamos perceber uma série delas em nós mesmos!

Este texto foi escrito pelo professor Ricardo Salztrager, psicanalista e professor associado da UNIRIO e da Casa do Saber. Possui Graduação em Psicologia, mestrado e doutorado em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

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Referências:

Freud, Sigmund. (1909). Moral sexual “civilizada” e doença nervosa moderna. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 9. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 165-186.

_____. (1923). O eu e o isso. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 19. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 13-80.

_____. (1926). Inibições, sintomas e angústia. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 20. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 79-171.

Você já parou para pensar de onde vem o nosso conhecimento? Para o racionalismo, a resposta está dentro de nós: a razão.

O racionalismo é um marco na história do pensamento, porque introduziu na filosofia a razão como principal fonte do conhecimento, buscando encontrar um método confiável que leve ao conhecimento verdadeiro.

Pensadores como Descartes, Spinoza e Leibniz são pilares desse pensamento. Neste texto, além de conhecer as ideias desses filósofos racionalistas, você vai entender o que é essa corrente filosófica.

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Principais ideias racionalistas

O Racionalismo representa uma virada na história da filosofia moderna, pois defende que certas verdades são inerentes à existência humana ou podem ser alcançadas a partir do uso da razão, sem depender dos sentidos.

Portanto, não dependemos exclusivamente da experiência sensível para conhecer o mundo. A razão, parte central da compreensão da realidade, é capaz de revelar princípios universais.

Também se destaca o esforço do pensamento racionalista para se alcançar uma verdade lógica, aquela que é clara e universal.

O conceito de verdade lógica, apesar de ter algumas incertezas quanto à origem do termo, é algo relevante para esta corrente, porque uma verdade lógica é aquela que é verdadeira independente dos fatores externos (empíricos ou observacionais), porque ela segue uma estrutura lógica.

O Racionalismo se sustenta a partir de argumentos que seguem regras e não dependem da variação da interpretação do mundo sensível.

Outro ponto fundamental para essa escola é a busca por certeza. Para que o conhecimento verdadeiro seja claro, os racionalistas desenvolveram métodos rigorosos de pensamento, como a dúvida metódica – você vai entender este conceito adiante.

Resumindo: o Racionalismo é uma corrente filosófica que coloca a razão como a principal fonte do conhecimento verdadeiro. Entretanto, para alcançá-lo, é necessário encarar a dúvida tendo como ferramenta de compreensão o pensamento racional e lógico.


Filósofos do racionalismo: Descartes, Spinoza e Leibniz

Como foi dito anteriormente, alguns dos principais filósofos racionalistas são René Descartes, Baruch Spinoza e Gottfried Wilhelm Leibniz. Conheça os pontos essenciais de cada pensador:

René Descartes



René Descartes (1596-1650) é considerado o pai do Racionalismo moderno. O ponto-chave de seu pensamento foi elaborar um fundamento seguro para o conhecimento verdadeiro, isto é, algo que não pudesse ser colocado em dúvida.

Para isso, desenvolveu a dúvida metódica: um modelo no qual se deve duvidar de tudo o que não seja absolutamente correto.

Segundo Descartes, a dúvida é necessária porque é a partir dela que todo o conhecimento inato pode ser testado. E com base nessa reflexão sobre a dúvida é que é possível descobrir as verdades ou argumentos falsos.

Então pode-se dizer que o indivíduo, ao duvidar, está pensando, o que torna possível a comprovação de sua existência. Daí vem a famosa frase da conclusão do argumento do cogito (do latim, penso):

“Penso, logo existo.”

Descartes acreditava que a razão humana é capaz de alcançar verdades universais, desde que siga um método rigoroso.

Por exemplo, a matemática é uma ciência exata porque, com base em regras bem definidas, obtém-se um conhecimento sólido e estruturado. E é essa certeza que os racionalistas buscam.

De acordo com René Descartes, a falta de método ao pensar é que leva aos erros. Ele propunha usar a razão ordenada, separando os problemas dos pontos mais simples para os mais complexos.

A questão central em sua filosofia é que existem ideias inatas, ou seja, verdades que já nascem com a mente humana, independentemente da experiência sensível, como a noção de Deus e da perfeição.

Para ele, Deus era uma ideia inerente ao homem e somente um ser perfeito, como Deus, poderia tê-la colocado lá, portanto, provando a existência de Deus.

Em suma, o Racionalismo cartesiano valorizava a autonomia da razão, o pensamento racional e acreditava que, ao usarmos bem a razão, podemos construir um conhecimento seguro.

Baruch Spinoza



Baruch Spinoza (1632-1677) pode ser considerado o filósofo mais radical do começo do período moderno.

Inovador em suas ideias, ele combinou razão, natureza e espiritualidade com ideias originais que fundamentaram uma filosofia moral focada na compreensão racional das paixões, que levaria o homem à virtude e à felicidade.

Spinoza entendia Deus como uma substância infinita, ou seja, uma substância formada por uma infinidade de atributos que expressam uma essência infinita e eterna.

Ele propôs que tudo o que existe é expressão de uma única realidade infinita: Deus ou a natureza (Deus sive Natura). Com isso, ele quis dizer que o mundo não está separado de Deus, porque tudo segue uma ordem racional e necessária.

Spinoza acreditava que a liberdade verdadeira não está em agir de forma impulsiva, mas, sim, na compreensão das causas que nos movem.

Dessa forma, a razão nos liberta ao mostrar que somos parte de um todo regido por leis eternas. Quando entendemos isso, deixamos de sofrer por coisas que não podemos controlar e passamos a viver com mais equilíbrio.

“A emoção que nasce da razão é mais forte do que aquela que nasce do acaso.”


Ele também defendia que o conhecimento pode ser dividido em três níveis:

  • experiência vaga (baseada nos sentidos);
  • razão (que vê relações necessárias);
  • intuição (que capta a essência das coisas).


Segundo Spinoza, quanto mais longe chegamos nesses níveis, mais próximos estamos da felicidade e da liberdade. Para Spinoza, pensar racionalmente era o caminho para viver em harmonia com o mundo.


Gottfried Leibniz



Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) é um dos nomes mais peculiares do racionalismo. Um crítico de Descartes e Spinoza, ficou conhecido por sua contribuição nos campos da lógica e da linguagem.

Leibniz acreditava que todo o conhecimento verdadeiro vem da razão, que atua sobre as ideias inatas presentes na mente humana.

Contudo, para ele, perceber (percepção sensível) e pensar fazem parte do mesmo processo racional, só que em níveis diferentes de clareza. Pois perceber é uma noção mais vaga do que o pensamento.

Leibniz dizia que as verdades a priori podem ser descobertas através da lógica, como é feito na matemática. Porém, a mente humana é limitada e, por isso, nem sempre consegue perceber que todas as verdades são analíticas. Mas Deus, encarado como unidade infinita, conseguiria.

Ele afirmava que uma linguagem simbólica, que seguisse uma lógica como a da matemática, poderia verificar se uma ideia é verdadeira.

Apesar da ideia de que a mente humana é limitada, ele defendia que a mente humana possui estruturas próprias que permitem o indivíduo compreender verdades universais.

Para ele, a realidade é composta por mônadas, unidades dinâmicas e autocontidas, que refletem o universo de forma única. Cada mônada funciona como um espelho do todo e tudo está interligado por uma ordem racional.

Leibniz acreditava que nada é por acaso. Toda existência tem uma razão suficiente, uma explicação racional de por que é como é. É isso que sustenta a ideia de que Deus, sendo uma unidade perfeita, escolheu o melhor mundo entre os possíveis para existir e para existirmos.

“Nada acontece sem razão suficiente.”

Sua filosofia buscava integrar razão e metafísica, ciência e lógica, mostrando que a realidade pode ser explicada por leis lógicas e claras.


Racionalismo x Empirismo: qual a diferença?

O racionalismo e o empirismo nasceram no mesmo período filosófico e dialogam quanto ao fato de que ambos buscam compreender a origem do conhecimento e como alcançá-lo.

Entretanto, eles se diferem quanto à fonte dos conceitos e do conhecimento. Enquanto o racionalismo se baseia na razão, o empirismo se volta para a experiência sensorial.

Contudo, os racionalistas reconhecem que os sentidos podem interferir no processo de construção do conhecimento, mas consideram a razão a fonte principal.

Desta forma, organizam um raciocínio lógico, no qual (1) prioriza-se o conhecimento em relação à experiência sensorial e (2) a razão é vista como a fonte de verdades universais. Porém, o indivíduo não está isento da interferência dos sentidos.

Já o empirismo apresenta uma abordagem diferente para a construção do conhecimento, fundamentando-se exclusivamente na experiência sensorial.

Os empiristas explicam que a experiência sensorial fornece as informações que os racionalistas atribuem à razão. Embora critiquem a visão racionalista de que a razão é a principal fonte de conhecimento, mostram que a reflexão pode preencher algumas lacunas.

Ou seja, para os empiristas, somos como uma folha em branco (tabula rasa) aprende a partir daquilo que vivemos e experimentamos do mundo (experiências sensoriais).

Característica Racionalismo Empirismo
Fonte do conhecimento Razão Experiência
Ideias inatas Confirma Nega
Modelo do conhecimento Matemático Aprendizagem
Existência do conhecimento A priori A posteriori
Frase “Penso, logo existo” - Descartes “Nada existe na mente sem antes passar pelos sentidos” - Locke


As duas correntes filosóficas - racionalismo e empirismo - ajudaram a construir a filosofia moderna. Entender o que as diferencia é fundamental e para entender melhor sobre o que é e como compreendemos a realidade.

Críticas ao racionalismo e limites da razão

Apesar de sua grande influência nas ciências e no empirismo, o racionalismo enfrentou críticas dos filósofos empiristas, como John Locke e Thomas Hobbes.

Eles questionavam a premissa de que o conhecimento nasce apenas da razão que, para eles, vem da experiência sensível. Esse embate de ideias entre racionalismo e empirismo marcou profundamente a filosofia moderna.

Contudo, Immanuel Kant foi fundamental para equilibrar essa tensão. Uma vez que reconheceu que ambas as correntes contribuíram para o desenvolvimento do pensamento filosófico, ele conseguiu integrar os dois ramos do conhecimento.

Segundo Kant, o conhecimento começa com a experiência, mas não se restringe a ela, porque as estruturas mentais inatas são o que organizam o que percebemos do mundo externo,

Ainda de acordo com a filosofia kantiana, a razão é limitada e não consegue acessar a “coisa em si” (realidade absoluta), apenas como ela se apresenta para o ser humano.

Assim, esse embate de ideias entre racionalismo e empirismo fez com que os racionalistas reconhecessem que a razão sozinha não é suficiente para compreender a verdade, o que permitiu o surgimento de abordagens mais equilibradas.


A importância do racionalismo na modernidade e no iluminismo

O racionalismo foi um dos pilares do pensamento moderno e teve grande influência no movimento iluminista, que se caracteriza pela valorização da razão, da ciência e rompeu com o absolutismo e com o pensamento religioso da época.

Quando o racionalismo colocou a razão como principal fonte de conhecimento, deu lugar a uma forma de pensar baseada na lógica, na razão e na busca por verdades universais.

O racionalismo não tinha intenção de eliminar a fé ou os sentimentos, mas propôs que o mundo poderia ser compreendido por meio da razão.

O surgimento do método racional possibilitou buscar explicações naturais para os fenômenos, em vez de aceitar explicações baseadas na tradição ou na religião.

O método da dúvida proposto por Descartes diz que o filósofo deve duvidar de tudo aquilo que se diz verdadeiro. Assim, nenhuma autoridade, senão a razão, pode ser confiável, a não ser que se submeta ao questionamento cético.

A partir disso, fortaleceu-se a confiança na razão, que inspirou a sociedade da época e contribuiu com o desenvolvimento da ciência moderna.

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Por que ainda vale estudar o racionalismo?

Racionalismo e razão são palavras que estão intrinsecamente ligadas e entender isso ajuda a compreender o que é essa corrente filosófica e as bases da filosofia moderna.

A valorização da razão propiciou o surgimento de ideias fundamentais como lógica, método científico e dúvida metódica, conceitos fundamentais para a ciência da atualidade.

Apesar de suas limitações, o racionalismo nos ajuda a pensar com clareza, tomar decisões conscientes e equilibrar razão e emoção no cotidiano.

Em um mundo tão cheio de “verdades”, ser capaz de refletir racionalmente sobre tudo aquilo que nos cerca é um caminho para conhecer melhor a realidade, a nós mesmos e toda a história e o legado que moldaram o mundo em que vivemos.

Esperamos que este texto tenha te ajudado a compreender o que é racionalismo e as principais ideias dos filósofos desse pensamento. Se você quiser ir mais fundo no universo da filosofia, tenha acesso aos nossos cursos clicando aqui.

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Referência

STANFORD ENCYCLOPEDIA OF PHILOSOPHY. Leibniz.

STANFORD ENCYCLOPEDIA OF PHILOSOPHY. Rationalism vs. Empiricism.

STANFORD ENCYCLOPEDIA OF PHILOSOPHY. Enlightenment.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein.

O transtorno bipolar, também denominado Transtorno Afetivo Bipolar, é uma condição de saúde mental que afeta o humor, a energia, o sono e a capacidade de uma pessoa manter atividades cotidianas.

Quem convive com essa condição pode experimentar oscilações intensas entre períodos de euforia (também chamadas de mania ou hipomania) e episódios de tristeza profunda.

Embora essas mudanças de humor façam parte da vida de todos, no transtorno bipolar, elas são mais intensas e duradouras, impactando significativamente o bem-estar.

Falar sobre transtorno bipolar é um passo essencial para reduzir estigmas e ampliar a compreensão sobre os transtornos mentais. Por isso, neste texto, iremos explicar o que é o transtorno de bipolaridade, seus sintomas, tipos, causas, tratamento e diferenças em relação a outras condições psiquiátricas.

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O que é transtorno bipolar?

O transtorno bipolar é uma transtorno crônico caracterizado por alterações marcantes no humor. Essas alterações se constituem através de episódios de mania e depressão, e variam em intensidade e duração.

Segundo a Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB), estima-se que aproximadamente 8 milhões de pessoas vivem com bipolaridade no Brasil. Esse número corresponderia entre 1% a 2,5% da população brasileira.

Há diferentes tipos de transtorno bipolar, com manifestações clínicas e intensidades diferentes. Para auxiliar na compreensão das suas particularidades, partiremos dos sintomas centrais de:

  • Mania – estado de humor anormalmente elevado, expansivo ou irritável, com aumento intenso de energia, impulsividade e, em alguns casos, sintomas psicóticos.
  • Hipomania – forma mais leve da mania, com aumento de energia, autoestima e produtividade, sem desconexão da realidade nem prejuízo social grave.
  • Depressão – quadro de humor persistentemente rebaixado, marcado por tristeza profunda, falta de interesse, cansaço extremo e pensamentos negativos ou suicidas.


Então, quais os tipos de transtorno bipolar?

Transtorno Bipolar Tipo 1:

A bipolaridade tipo 1 é a forma mais conhecida e intensa do transtorno. A principal característica é a presença significativa de episódios maníacos completos, ou seja, a pessoa apresenta um humor anormalmente elevado, expansivo ou irritável, com aumento acentuado de energia.

Esses comportamentos podem parecer “produtivos” ou até positivos no começo, mas geralmente saem do controle e trazem prejuízos graves. Esse tipo de bipolaridade pode levar a tomada de decisões impulsivas ou comportamentos de risco.

Importante:

A pessoa com bipolaridade tipo 1 pode ou não apresentar episódios depressivos. Ou seja, o diagnóstico não depende da presença de fases de depressão.

Algumas pessoas vivenciam apenas episódios maníacos com períodos de estabilidade entre eles, sem necessariamente ter uma fase de depressão. Outras alternam entre mania e depressão ao longo do tempo. O reconhecimento precoce dos sintomas, tanto da euforia quanto da queda de humor, é essencial para buscar tratamento adequado e garantir qualidade de vida.




Transtorno Bipolar Tipo 2:

A bipolaridade tipo 2 costuma ser mais difícil de identificar na medida em que os episódios de euforia são mais leves.

A principal característica aqui é a presença de episódios depressivos alternados com episódios de hipomania, ou seja, uma versão mais branda da mania em que a pessoa fica mais animada e falante, mas sem perder o contato com a realidade.

A hipomania pode passar despercebida tanto pela pessoa quanto por quem convive com ela, pois os comportamentos extrovertidos tendem a parecer apenas traços da personalidade.

No entanto, o que caracteriza o transtorno bipolar tipo 2 é justamente essa alternância entre períodos de depressão profunda e momentos de energia elevada, ainda que menos intensos que na mania.

Transtorno Ciclotímico (ou ciclotimia)

É uma forma mais leve e crônica do transtorno bipolar. A pessoa apresenta oscilações frequentes de humor que não chegam a ser episódios completos de mania ou depressão, mas que duram, em adultos, dois anos ou mais.

Em outras palavras, os altos e baixos não são tão intensos, mas se repetem com uma certa frequência ao longo do tempo.

Transtorno Bipolar induzido por substância ou medicamento

O transtorno bipolar induzido por substância ou medicamento é um subtipo reconhecido pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). Essa forma acontece após intoxicação ou abstinência de alguma substância ou exposição a algum medicamento que produz os mesmos sintomas.

Isso significa que, nesses casos, o episódio de mania, hipomania ou depressão não é causado por condições psiquiátricas, mas sim por uma resposta direta do cérebro à substância envolvida.

Drogas recreativas, medicamentos e álcool podem desencadear sintomas graves de humor.

É importante destacar que, embora os sintomas possam ser muito semelhantes aos do transtorno bipolar tradicional, o diagnóstico exige que fique claro o vínculo temporal e causal entre o uso da substância e o início dos sintomas.

Em muitos casos, ao cessar o uso da substância e com acompanhamento adequado, os sintomas desaparecem. No entanto, em outros, o episódio pode desencadear um quadro bipolar persistente, especialmente em pessoas com predisposição genética ou histórico familiar.

Quais os sintomas do transtorno bipolar?

Os sintomas do transtorno bipolar variam de acordo com a fase em que a pessoa se encontra.

Na fase de mania, os sintomas se caracterizam por:

  • Sensação de euforia, otimismo excessivo ou irritabilidade intensa;
  • Aumento de energia e diminuição da necessidade de sono;
  • Fala e pensamentos acelerados e por vezes, desorganizados;
  • Apresenta pressão no discurso, sendo difícil interromper;
  • Comportamentos impulsivos (gastos excessivos ou envolvimento em situações de risco);
  • Dificuldade de concentração.


Na fase de hipomania, os sintomas são semelhantes à mania, mas em menor intensidade. Há um aumento da produtividade e da energia, mas sem prejuízos tão evidentes. Pode ser percebido como um “bom humor fora do comum”, dificultando o diagnóstico.

Já na fase depressiva, os sintomas são:

  • Tristeza profunda;
  • Desesperança;
  • Isolamento social;
  • Fadiga e perda de interesse em atividades antes prazerosas;
  • Excesso de sono;
  • Falta de apetite;
  • Pensamentos de inutilidade, culpa excessiva ou ideação suicida.


É importante destacar que o tempo de duração dos episódios pode ser de semanas, meses ou anos.

Além disso, nem todas as pessoas com transtorno bipolar apresentam episódios maníacos e depressivos de forma equilibrada. Alguns podem ter mais episódios depressivos, o que leva à confusão entre transtorno bipolar e depressão.



Quais as causas e fatores de risco para o transtorno bipolar?

Não há uma causa única para o transtorno bipolar. O que se sabe é que ele resulta de uma combinação de fatores biológicos, genéticos e ambientais.

Pessoas com histórico familiar de transtorno bipolar têm maior risco de desenvolver a condição. Por isso, é fundamental investigar não apenas diagnósticos, mas também sintomas e características somáticas do núcleo familiar.

Alterações neuroquímicas também podem exercer influência para o desenvolvimento de um transtorno bipolar. Desequilíbrios em neurotransmissores como dopamina e serotonina podem estar envolvidos.

Além disso, eventos estressantes como traumas, perdas ou situações de perigo intenso podem funcionar como gatilhos para o surgimento de sintomas do transtorno bipolar, assim como mudanças bruscas no ritmo de vida.

A identificação precoce dos sinais e dos fatores de risco pode evitar o agravamento do quadro e reduzir os impactos negativos.

Retrato com múltipla exposição de mulher sugerindo transtorno de identidade ou instabilidade emocional

Fonte: May/ Unsplash

Diagnóstico de transtorno bipolar e confusões comuns

O diagnóstico de transtorno bipolar exige cuidado, pois pode ser um desafio, tanto para quem convive com os sintomas quanto para os profissionais da saúde. Isso acontece porque os sinais podem se sobrepor a outros transtornos psíquicos, como a depressão, ansiedade, TDAH ou até mesmo o transtorno de personalidade borderline.

Um dos equívocos mais frequentes é confundir o transtorno bipolar com mudanças normais de humor. É importante lembrar que todos temos dias bons e ruins, mas no transtorno bipolar essas oscilações são mais intensas, duradouras e impactam diretamente na vida da pessoa.

Outro erro comum é associar a bipolaridade apenas à instabilidade emocional. Muitas vezes, o termo é usado de forma banal e preconceituosa, como quando se diz que alguém é “bipolar” porque muda de ideia ou humor rapidamente. Essa perspectiva reforça estigmas e minimiza o sofrimento de quem convive com a condição.

O diagnóstico é clínico, feito por um(a) psiquiatra, com base em entrevistas, histórico médico e observação dos sintomas ao longo do tempo. Em alguns casos, o diagnóstico pode levar anos para ser fechado, especialmente quando os episódios de hipomania passam despercebidos ou são vistos como “momentos de alegria”.

É fundamental buscar ajuda especializada, pois um diagnóstico correto é o primeiro passo para um tratamento eficaz e para a melhoria da qualidade de vida.


Quais os tratamentos para o transtorno bipolar?

O tratamento para transtorno bipolar envolve uma combinação de medicamentos, psicoterapia e cuidados com o estilo de vida. O objetivo é prevenir recaídas e melhorar a qualidade de vida da pessoa em suas atividades no dia a dia. Por isso, normalmente, o tratamento é composto por:

  • Estabilizadores de humor: são medicamentos que auxiliam a controlar as fases de mania e depressão. O lítio é um dos mais utilizados, mas existem outras opções, como anticonvulsivantes com efeito estabilizador.
  • Antidepressivos e antipsicóticos: os antidepressivos devem ser prescritos juntamente aos estabilizadores de humor para evitar que a pessoa “vire” para a fase da mania. Os antipsicóticos ajudam no controle de sintomas graves, como delírios ou agitação.
  • Psicoterapia: a psicoterapia no transtorno bipolar é uma aliada fundamental. Abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) podem ajudar a identificar os gatilhos emocionais e criar estratégias para lidar com recaídas e instabilidades.
  • Estilo de vida e autocuidado: dormir bem, manter uma rotina equilibrada, evitar uso de substâncias psicoativas como álcool e drogas, praticar atividades físicas e cultivar relações saudáveis são pilares do tratamento. Essas mudanças contribuem para reduzir os ciclos de humor e dar mais estabilidade emocional.


Assim, o tratamento para a bipolaridade não se resume ao controle medicamentoso, mas envolve uma abordagem integrada e contínua que considera o bem-estar físico, emocional e social da pessoa.


Como conviver com transtorno bipolar?

Conviver com o transtorno de bipolaridade pode ser desafiador, mas é possível levar uma vida saudável com suporte e apoio.

O primeiro passo é reconhecer o diagnóstico como parte da jornada de cuidado com a saúde mental, e não como uma sentença.

Para quem vive com o transtorno, é fundamental conhecer os modos como as fases da bipolaridade acontecem consigo. Entender os sinais iniciais de mania, hipomania ou depressão ajuda a agir com antecedência.

Ter uma rede de apoio é fundamental, por isso, converse com amigos, familiares e grupos de suporte. Além disso, evite estigmas internos. Não se culpe por algo que está além da sua vontade. Você não é o transtorno, você convive com ele.

Já para quem convive com alguém que tem o transtorno, a orientação é a informação. Compreender o que é o transtorno bipolar, oferecer apoio sem julgamentos ou controle, estar presente e respeitar os limites da outra pessoa, é um movimento indispensável.

Esteja atento às mudanças na rotina da pessoa, pois há sinais que podem indicar uma nova fase do transtorno. Familiares e amigos também precisam de apoio emocional, por isso, invista no seu processo terapêutico.

Perguntas frequentes

  • Quais os primeiros sinais de bipolaridade?

    Incluem mudanças bruscas no humor, com momentos de energia intensa e euforia que se alternam com períodos de tristeza profunda, irritabilidade, insônia e comportamento impulsivo.

  • Qual o comportamento de uma pessoa bipolar?

    Pode variar conforme o quadro: ela pode apresentar episódios de mania, caracterizados por agitação, fala acelerada e impulsividade, e fases depressivas, marcadas por desânimo, falta de energia e isolamento social.

  • Quais são as fases do transtorno bipolar?

    São três fases principais: a fase maníaca ou hipomaníaca, com humor elevado e hiperatividade; a fase depressiva, com sintomas de tristeza e apatia; e episódios mistos, quando sinais de mania e depressão ocorrem ao mesmo tempo. Entre esses momentos, a pessoa pode viver períodos de estabilidade emocional.



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Referências

https://portal.al.go.leg.br/noticias/131102/transtorno-bipolar#:~:text=No%20Brasil%2C%20a%20Associa%C3%A7%C3%A3o%20Brasileira,de%20incapacita%C3%A7%C3%A3o%20quando%20n%C3%A3o%20tratada.

A solidão tem sido uma das questões contemporâneas mais exploradas pelas narrativas tecnológicas da atualidade. Recentemente, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, anunciou que os "amigos IA" — versões personalizadas de inteligências artificiais com características humanizadas — serão a solução definitiva para a solidão humana: “As pessoas vão conversar com assistentes que as conhecem profundamente, que são seus amigos”, afirmou Zuckerberg.

Em tom messiânico, ele descreve um futuro em que ninguém mais precisará sentir-se só, porque terá à disposição uma versão amigável e personalizada de inteligência artificial para lhe fazer companhia.

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O amigo IA será, em essência, um algoritmo de confirmação: alimentado pelos dados do usuário, retroalimentado pelos seus gostos, valores, crenças e padrões de linguagem, e projetado para agradar — sem qualquer discordância, ruptura ou tensão — mas, justamente por isso, sem oferecer presença. Para a psicanálise, a formação do sujeito exige a experiência do conflito. O outro é estruturante não porque confirma, mas porque interrompe. É na diferença que o desejo se constitui.

A amizade IA proposta por Zuckerberg dissolve o conflito na lógica da customização algorítmica. Ela opera pela via do “perfilamento afetivo”: o sistema aprende o que o usuário gosta, pensa, sente, e passa a espelhar isso de volta. Como um feed emocional, ele reforça aquilo que já está lá. O sujeito, em vez de se transformar pelo encontro com o Outro, se fixa em si mesmo — preso num circuito narcísico de retroalimentação de si.

Acontece que a amizade é um campo de conflito simbólico, de elaboração da diferença, de desconstrução narcísica pela via da alteridade. Como afirma Hannah Arendt, o amigo é aquele diante do qual o mundo se revela, não porque ele o reproduz, mas porque ele o contradiz — e, ao fazê-lo, nos obriga a repensar a nós mesmos.

Ilustração digital em estilo cartoon mostra um homem de meia-idade, sorridente e de olhos fechados, abraçando com carinho um notebook moderno. Na tela do laptop, há um rosto sorridente simples, simbolizando uma inteligência artificial amigável. A cena transmite de forma irônica e acolhedora a ideia de uma amizade fictícia com a tecnologia.


O problema contemporâneo não é mais a escassez de vínculos, mas a superabundância de conexões desinvestidas. Como diria Zygmunt Bauman, “as redes sociais são o lugar onde você se cerca de pessoas que pensam como você. Quanto mais você restringe seu mundo, mais solitário você se torna”. Os Amigos IA são a radicalização dessa bolha afetiva algorítmica que age produzindo mais distanciamento social e, portanto, mais solidão.

Trata-se de uma das promessas mais perigosas e ideologicamente sintomáticas da era digital: a substituição da alteridade real — complexa, conflitiva, viva — por simulacros afetivos programados para agradar. Se o que define a amizade é o encontro com o outro, com sua diferença irredutível e sua capacidade de nos transformar, então os amigos IA não acabarão com a solidão — ao contrário, a solidão se tornará estrutural, como também terá outro efeito colateral — e profundamente político — a formação de uma subjetividade extremista. Sem o outro, o sujeito não apenas se isola — ele se radicaliza.



Ao conviver apenas com entidades que confirmam suas crenças e reafirmam seus valores, o indivíduo perde a capacidade de elaborar o dissenso e o sujeito que só escuta o que quer se torna, inevitavelmente, intolerante. Pois, o extremismo não nasce do conflito, mas da ausência de alteridade real que garanta o exercício democrático de vivermos entre diferentes.

Não se trata, portanto, de uma iniciativa ingênua, mas de um projeto: tornar o outro desnecessário, dissolver a alteridade e higienizar a diferença. Nesse cenário, a amizade deixa de ser escola de democracia (como a entendia Arendt) e se torna instrumento ideológico do individualismo, uma operação precisa de desumanização do laço social. E a quem interessa laços sociais cada vez mais enfraquecidos?

Essa amizade algorítmica é a expressão mais acabada de uma colonização neoliberal do psiquismo: “quero um outro que me atenda, que me compreenda sem esforço, que não me confronte, que não me faça esperar”. O amigo IA é a mercantilização da presença, a conversão do laço em serviço, da alteridade em produto. O que está em jogo aqui não é só a transformação das relações — é a própria reconfiguração da ideia de sujeito.


O sujeito desejante, que se constitui no encontro com o outro, na fricção do limite, no risco do laço, cede lugar ao sujeito consumidor — aquele que, ao adquirir uma companhia feita sob medida, não apenas perde a capacidade de se relacionar, mas também se anestesia, desaprende o outro, e, sem o outro, não há desejo. E, sem desejo, resta apenas o vazio.

Como dizia Foucault, “a amizade é subversiva”. E talvez seja exatamente por isso que o capitalismo digital tenta domesticá-la, transformá-la em algoritmo, dado, previsibilidade.

Por isso, deve ser recuperada enquanto prática de resistência, profundamente humana e radicalmente política, como espaço de alteridade viva, de travessia e de transformação. Como o lugar onde dois ou mais mundos se encontram, não para se fundir, nem para se anular, uma abertura, fresta por onde entra o outro, e com ele, o desconhecido, o imprevisto que nos obriga a nos reinventarmos sempre.

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Nem todo desejo precisa ser recalcado ou virar sintoma. Para a psicanálise, há outra possibilidade: a sublimação. Neste artigo, você vai entender o que é sublimação segundo Freud, como ela redireciona a energia da pulsão para atividades culturalmente valorizadas e por que esse conceito é tão importante para pensar a arte, a infância, o trabalho e até o mal-estar na civilização.

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O que é sublimação na psicanálise?

Para a psicanálise, a sublimação é definida como o trabalho de redirecionamento dos nossos impulsos sexuais para fins não sexuais. Segundo Freud (1915/1996), ela é um dos destinos possíveis para a pulsão, fazendo com que toda a sua intensidade seja desviada para propósitos altamente valorizados por nossa cultura. Dentre tais propósitos destacam-se as expressões artísticas e o trabalho intelectual.

O significado de sublimação em Freud

Ao longo destes anos de experiência como professor, pude constatar que a sublimação é um dos conceitos freudianos que mais gera discussão em sala de aula. E isto não apenas pela importância e beleza do conceito, mas também por algumas de suas várias imprecisões teóricas.

Sabe-se que entre os anos de 1914 e 1917, Freud escreveu uma série de artigos importantíssimos, um dos quais foi exclusivamente dedicado à sublimação. No entanto, não se sabe exatamente o porquê, mas ele o destruiu junto a alguns outros. Talvez o resultado não tenha ficado de seu agrado...

E, de fato, todos nós professores, psicanalistas e alunos consideramos uma pena o sumiço deste ensaio e temos a esperança de que um dia pelo menos um rascunho ou algo do tipo seja encontrado.

De todo modo, dentre todos os outros artigos de Freud nos quais a sublimação se faz presente, considero que o que traz a sua definição mais completa é “Moral sexual ‘civilizada’ e doença nervosa moderna”:


“A pulsão sexual coloca à disposição do trabalho cultural uma extraordinária quantidade de energia, em virtude de uma singular e marcante característica: sua capacidade de deslocar seus objetivos sem restringir consideravelmente a sua intensidade. A essa capacidade de trocar seu objetivo sexual original por outro, não mais sexual, mas psiquicamente relacionado com o primeiro, chama-se capacidade de sublimação” (Freud, 1909/1996, p. 174).

Acredito que esta seja uma boa definição para começarmos a tratar do tema.

Com efeito, Freud concebe a pulsão como a força que governa a nossa sexualidade. Trata-se, no domínio da pulsão, de excitações extremamente intensas que exigem que façamos algo para satisfazê-la.

No entanto, a psicanálise freudiana coloca que a pulsão é extremamente plástica e que, deste modo, possui a capacidade de satisfazer-se através de alguma ação não necessariamente sexual. E é aí que entra a sublimação.

Neste sentido, a sublimação pode ser definida como o processo que nos conduz a trocar uma satisfação propriamente sexual por outra não sexual. Conforme costumo dizer em sala de aula, é a sublimação que faz com que tenhamos um imenso prazer (muitas vezes equivalente ao prazer sexual em si) em, por exemplo, trabalhar, ler um livro, pintar, escrever, tocar um instrumento, estudar, praticar esportes ou usufruir de uma obra de arte.

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Exemplos de sublimação para a psicanálise

- Um exemplo do próprio Freud

De fato, Freud atribuía à sublimação um lugar central em sua vida. Ele era um amante inveterado da literatura, das manifestações artísticas em geral e da investigação científica como um todo. E jamais escondeu isso dos seus leitores, muito pelo contrário.

Nesta medida, sua paixão por seu trabalho era tanta que ele mesmo declarou que quando fez 40 anos, após o nascimento do seu quinto filho, decidiu suspender de sua vida qualquer relação ligada à sexualidade propriamente dita. Preferiu então colocar sua atividade pulsional a serviço de seu trabalho, mergulhando fundo na produção de livros e artigos e, portanto, inscrevendo-se no rol das grandes personalidades científicas que tanto admirava (Roudinesco & Plon, 1998).

Como vocês podem ver, a fonte da informação não podia ser outra: a psicanalista, escritora e fofoqueira Elisabeth Roudinesco. E como fofoca boa é algo que a gente não guarda, aqui está o babado!

- O exemplo das crianças

Sempre que menciono este exemplo em sala de aula, são muitas as dúvidas que conseguem ser esclarecidas.

Com efeito, foi no contexto da análise da vida sexual das crianças que, pela primeira vez, Freud se dedicou a uma exposição mais detalhada sobre a sublimação. O conjunto de suas elaborações sobre o tema encontra-se nos famosos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (Freud, 1905/1996).

Sabe-se que Freud foi um dos primeiros cientistas a declarar abertamente que as crianças possuem sexualidade. Segundo ele, a pulsão sexual está presente já na infância mais remota, conduzindo a criança a uma série de manifestações propriamente sexuais.

Assim, é colocado que a criança possui, por exemplo, desejos orais, anais, sádicos (prazer em provocar dor), masoquistas (prazer em sentir dor), voyeuristas (prazer em olhar), exibicionistas (prazer em ser olhado), dentre tantos outros. Os mais comuns destes desejos sexuais infantis são os edipianos, ou seja, desejos dirigidos às próprias figuras parentais.

E, de fato, qualquer observador percebe que as crianças possuem sexualidade e volta e meia entregam-se a estes mais variados prazeres. No entanto, chega uma idade (de difícil precisão) na qual estas manifestações sexuais são arrefecidas. Ou seja, por influência da educação, a criança finalmente passa a conhecer os padrões morais em voga na nossa cultura e, deste modo, é obrigada a recalcar seus desejos sexuais.

Para a psicanálise freudiana, recalcar um desejo significa negá-lo, torná-lo inconsciente. Assim, a criança passa a ignorar os desejos sexuais que anteriormente insistia em satisfazer e entra no chamado “período de latência” sexual. Em si, o período de latência é definido como um momento de suspensão da sexualidade, sendo nele que entra em cena o trabalho de sublimação.

Nesta medida, durante o período de latência, a criança desviará a força da pulsão sexual para outros fins não sexuais. E, portanto, é este o momento no qual, graças à atuação da sublimação, a criança se entrega com toda intensidade a atividades intelectuais. Ela aprenderá, por exemplo, história, ciências, língua portuguesa, além de se interessar por literatura, começar a praticar esportes, pintar, desenhar, dentre tantas outras coisas.

É esta, inclusive, a conhecida fase dos “porquês”, ou seja, aquele período no qual a criança dirige seus interesses para a atividade intelectual e, assim, passa a tudo querer saber. Desta maneira, ela não cessará de questionar os adultos sobre os grandes enigmas com os quais se defronta.



Cultura e psicanálise: a sublimação do desejo

Conforme mencionamos, “Moral sexual ‘civilizada’ e doença nervosa moderna” (Freud, 1909/1996) é um dos mais importantes textos sobre o conceito de sublimação. Em minha opinião, esta é uma obra imprescindível a qualquer estudo que se faça a respeito da psicanálise freudiana.

O texto versa sobre as consequências da repressão sexual em nossa cultura. Ou seja, Freud reconhece que vivemos em uma sociedade cujos preceitos morais atingem primordialmente os nossos desejos sexuais. Trata-se de uma moral que preconiza que o único e verdadeiro sexo aceitável é o que ocorre dentro do matrimônio. Todas as outras manifestações do desejo sexual seriam, portanto, alvos de uma severa repressão.

Deste modo, é em função desta repressão social que se dá o trabalho de recalque. Com ele, nós somos obrigados a nos defender de nossa sexualidade, tornando nossos desejos inconscientes. No entanto, a psicanálise freudiana é bem explícita ao mostrar que recalcar nossos desejos não significa exatamente matá-los. Pelo contrário, os desejos continuam vivos e atuantes no inconsciente, sempre à espera de alguma situação propícia para se manifestarem.

E dentre as tantas formas de manifestação do desejo sexual recalcado encontram-se, justamente, os sintomas neuróticos. Nesta perspectiva, Freud é incisivo ao dizer que o processo de recalque acaba por nos conduzir ao sofrimento e à enfermidade. Logo, em virtude de uma tamanha repressão social, estaríamos condenados a sofrer...

... A não ser que consigamos sublimar nossos desejos. Desta maneira, a sublimação do desejo é situada como uma alternativa ao processo de recalque. Alternativa esta, vale marcar, bastante feliz! Se conseguirmos criar ou produzir algo a partir da força da nossa sexualidade, não precisaríamos recalcá-la e consequentemente produzir tantos sintomas.

Por isto, o artista é por Freud apresentado como o oposto do neurótico, aquele que consegue aproveitar-se de toda a plasticidade da pulsão sexual e desviá-la para outros fins socialmente valorizados.

Vale frisar que, a partir desta visão, sempre se colocam em sala de aula algumas questões polêmicas e que geram muitas discussões: Será que o artista que sublima efetivamente sofre menos que o neurótico que recalca? E quanto àqueles que não possuem o dom para as artes, para a ciência ou para os esportes, estariam eles condenados ao eterno sofrimento? Será que o trabalho de sublimar nossos desejos sexuais efetivamente faz desaparecer quaisquer vontades sexuais propriamente ditas?

Qual é a relação entre o recalque e a sublimação?

Esta é uma questão de difícil resposta, pois a depender do texto freudiano, os dois conceitos se confundem bastante.

Nos “Três ensaios sobre a sexualidade” (Freud, 1905/1996) vimos que os dois conceitos encontram-se interligados. Ou seja, é porque há o recalque dos desejos sexuais que a criança consegue sublimá-los.

Já em “Moral sexual ‘civilizada’ e doença nervosa moderna” (Freud, 1909/1996), a sublimação é apresentada como uma alternativa ao processo de recalque e, portanto, independente dele. Um sujeito pode, assim, sublimar seu desejo sem tê-lo anteriormente recalcado.

Acredito que a resposta definitiva para a questão tenha sido dada por Freud (1915/1996) em “As pulsões e suas vicissitudes”. Nele, conforme veremos logo a seguir, o recalque e a sublimação são colocados como dois destinos efetivamente distintos para a força da pulsão sexual.



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A sublimação como destino da pulsão

Assim, é interessante marcar que a partir de “As pulsões e suas vicissitudes”, Freud passa a conceber a sublimação como um dos destinos possíveis da pulsão. Os outros destinos seriam o recalque, a reversão da pulsão ao seu oposto e o retorno da pulsão em relação ao eu.

No entanto, embora neste texto a sublimação seja alçada a esta categoria de destino pulsional, cabe lembrar que o tema não é propriamente desenvolvido. De fato, a análise sobre os outros três destinos da pulsão é bastante exaustiva, mas infelizmente o mesmo não ocorre com o conceito de sublimação.

Conversando com colegas psicanalistas, sempre chegamos à suposição de que, infelizmente, esta questão talvez tenha sido objeto do tal artigo desaparecido...

A sublimação é um mecanismo de defesa do ego?

Por fim, é interessante analisar esta polêmica. Com efeito, embora encontremos por aí inúmeras fontes que consideram a sublimação um mecanismo de defesa do ego, vale dizer que Freud jamais escreveu coisa assim. A autora desta ideia foi sua filha Anna Freud.

Trata-se, aqui, de uma concepção bastante controvertida e não unânime entre os psicanalistas. Segundo Laplanche e Pontalis (1998), por exemplo, é problemático considerar a sublimação como um mecanismo de defesa do ego porque assim reduziríamos todas as nossas criações artísticas e intelectuais a uma mera defesa contra nossos conflitos sexuais. Claro que a sublimação possui esta vertente defensiva, mas talvez seja questionável reduzi-la a isto.

Para estes dois autores, as nossas manifestações artísticas e intelectuais são muito mais do que simples defesas. E, assim, o ato de sublimar pode inclusive levar a uma grande elaboração dos nossos conflitos. Com certeza, muitos de nós já experimentamos a sensação de estar com algum problema ou conflito na esfera sexual e, através de uma atividade sublimatória, conseguir o alívio que tanto buscávamos.

Portanto, mais do que uma simples defesa, a sublimação talvez mereça ser encarada como um verdadeiro motor para a elaboração do mal-estar que tanto nos assola.


Este texto foi escrito pelo professor Ricardo Salztrager, psicanalista e professor associado da UNIRIO e da Casa do Saber. Possui Graduação em Psicologia, mestrado e doutorado em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

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Referências:

Freud, Sigmund. (1905). Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 7. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 117-231.

_____. (1909). Moral sexual “civilizada” e doença nervosa moderna. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 9. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 165-186.

_____. (1915). As pulsões e suas vicissitudes. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 14. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 115-144.

Laplanche, Jean. & Pontalis, Jean-Baptiste. (1998). Vocabulário de psicanálise. São Paulo: Martins Fontes.

Roudinesco, Elisabeth. & Plon, Michel. (1998). Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora.

Viver com o transtorno de borderline (ou transtorno de personalidade borderline - TPB) pode ser uma experiência intensa e muitas vezes solitária, tanto para quem recebe o diagnóstico quanto para familiares e pessoas próximas.

Embora não existam dados e estatísticas sobre a incidência de pessoas com transtorno de borderline no Brasil, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) estima que cerca de 2 milhões de brasileiros vivem com essa condição.

Apesar de afetar milhões de pessoas no mundo todo, o transtorno ainda é cercado de estigmas, julgamentos e desinformação, o que dificulta ainda mais a relação com a condição psíquica.

Ainda assim, o diagnóstico de borderline muitas vezes é tardio, equivocado ou envolto de preconceitos, o que pode dificultar o acesso ao tratamento adequado.

Compreender o que é ser borderline é um passo essencial para promover cuidado em saúde mental. Não se trata de rotular ou reduzir a pessoa ao diagnóstico, mas de reconhecer sinais, oferecer apoio e ampliar o acesso a tratamentos eficazes.

Por isso, neste texto, trataremos sobre o que é o transtorno de borderline, quais os sintomas e fatores de risco, além de o diferenciar de outros transtornos e explorar as possibilidades de tratamento.

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O que é o transtorno de borderline?

O transtorno borderline (CID F60.3) é um tipo de transtorno de personalidade marcado por instabilidade emocional intensa. É acompanhado de comportamentos impulsivos, medo persistente de abandono e dificuldade em manter relacionamentos estáveis.

Também conhecido como síndrome de borderline, o TPB interfere diretamente na forma como a pessoa se percebe, se relaciona e lida com o mundo ao redor.

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM V, o TPB afeta a percepção do indivíduo, criando um padrão de instabilidade que altera a forma como ele se relaciona com pessoas e situações no cotidiano.

Pessoas com transtorno de borderline costumam vivenciar emoções de modo extremo, com flutuações rápidas de humor e reações desproporcionais a eventos rotineiros. Essa dificuldade de regulação emocional pode causar sofrimento significativo e impactar a qualidade de vida da pessoa.

Em geral, o comportamento de uma pessoa com TPB se manifesta como se ela estivesse sempre prestes a explodir, em um limite emocional. Há uma intensa dificuldade em lidar com frustrações, por isso, a oscilação de humor e a impulsividade são características tão presentes.

Para a neuropsicologia, o transtorno de borderline apresenta um déficit nas funções executivas, como a ausência de um controle inibitório e a desregulação emocional. Além disso, há comprometimento nos estímulos psíquicos, na memória e na capacidade de percepção visual e espacial.

Quais os principais sintomas do transtorno de borderline?

Os sintomas do transtorno de borderline variam em intensidade e frequência, mas costumam seguir alguns padrões característicos.

Listamos abaixo os sintomas mais comuns, segundo o DSM-V:

  • Instabilidade emocional: mudanças rápidas de humor, com episódios de raiva, estresse, tristeza, melancolia ou ansiedade;
  • Impulsividade: comportamentos autodestrutivos, como gastos excessivos, abuso de substâncias, apostas em jogos de azar, direção imprudente ou relações sexuais de risco;
  • Medo intenso de abandono: esforço constante para evitar rejeições reais ou imaginadas, com reações exageradas a pequenas ausências ou mudanças;
  • Relacionamentos instáveis e intensos: alternância entre a idealização e a desvalorização das pessoas próximas;
  • Autoimagem instável: sentimento de vazio com o que vê no espelho, baixa autoestima;
  • Automutilação e comportamento suicida: cortes, queimaduras ou pensamentos frequentes sobre a morte podem surgir como formas de lidar com a dor emocional;
  • Desconfiança ou dissociação: episódios breves de paranoia ou sensação de desligamento com a realidade, especialmente em momentos de estresse emocional.

Pessoas com transtorno de borderline podem sabotar a si mesmos quando estão prestes a alcançar um objetivo. Abandonar a universidade ou pedir demissão de um emprego promissor, podem ser alguns exemplos.

No entanto, nem toda pessoa com o transtorno apresenta todos os sintomas. Há também tipos de borderline com diferentes perfis predominantes. São eles: borderline impulsivo, borderline afetivo e borderline autodestrutivo.

Os sintomas se apresentam na adolescência, mas podem ser visíveis no início da fase adulta.


Jovem com expressão de tristeza sentado em cadeira próxima à janela, sinal de sofrimento emocional

Fonte: Elisa Ventur/ Unsplash

Quais as causas e fatores de risco para o transtorno de borderline?

Não existe uma causa única para o transtorno de personalidade borderline. A maioria dos especialistas aponta para uma combinação entre fatores biológicos, psicológicos e ambientais.

Históricos de traumas na infância, como abuso físico, emocional ou sexual, podem desencadear a condição. Ambientes familiares negligentes ou instáveis, com vínculos inseguros, também podem ser responsáveis.

Além disso, há fatores genéticos, especialmente quando se apresenta um histórico familiar de transtornos de personalidade. De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria (AAP), parentes de primeiro grau de pacientes com transtorno de borderline são 5 vezes mais propensos a ter a condição do que a população em geral.

Também não podem ser desconsideradas as alterações neurobiológicas, que são relacionadas ao funcionamento do córtex pré-frontal e que é uma área ligada à regulação emocional.

É fundamental destacar que não há uma culpa pelo desenvolvimento do transtorno. Assim, a compreensão sobre suas causas é complexa e ainda está em evolução e investigação.


Como se dá o diagnóstico de borderline?

O diagnóstico de borderline deve ser feito por um profissional de saúde mental, com base em uma avaliação clínica aprofundada. É necessário considerar a história de vida da pessoa, seus sintomas e o impacto dessas características na rotina diária.

O diagnóstico é feito com base em entrevistas clínicas estruturadas, que podem incluir testes psicológicos e conversas com pessoas próximas, quando autorizado pelo paciente. Esse processo pode levar algum tempo, justamente porque o transtorno envolve uma série de sintomas que podem variar em intensidade e contexto.

Quando realizado com ética e sensibilidade, o diagnóstico de TPB torna-se o primeiro passo para um cuidado real, que considera não apenas os sintomas, mas também a complexidade de quem vive com o transtorno.

⚠️ Atenção: Evite autodiagnósticos
A sobreposição de sintomas com outros transtornos como ansiedade, depressão, bipolaridade ou outros transtornos de personalidade, exige o olhar qualificado de um psicólogo ou psiquiatra.


Confusões com outros transtornos

Não são incomuns os diagnósticos equivocados de transtorno de borderline. Isso se dá porque os sintomas se assemelham a outros transtornos, como os transtornos de ansiedade, por conta da intensidade emocional, e os transtornos depressivos, em decorrência dos sentimentos persistentes de vazio, tristeza e desesperança.

Por causa dos comportamentos que reforçam uma busca por atenção, o TPB também pode ser confundido com o transtorno de personalidade narcisista. Apesar dos sintomas se assemelharem a essas condições, o mais comum é a confusão com o transtorno de bipolaridade.

Mas, qual a diferença?

Tanto o transtorno bipolar quanto o borderline envolvem alterações de humor, mas há distinções importantes entre eles. No transtorno bipolar, os episódios de euforia (mania) ou depressão costumam durar dias ou semanas, com variações clínicas.

Já no borderline, as mudanças emocionais são mais reativas e rápidas, podendo durar horas ou dias. São muitas vezes desencadeadas por eventos interpessoais, como frustrações, desentendimentos e outros tipos de estresse cotidiano.

Vamos compreender melhor as suas diferenças:

Característica Transtorno de Borderline Transtorno Bipolar
Duração das oscilações de humor Rápidas e reativas. Podem durar de horas a dias. Episódicas, durando dias ou semanas.
Gatilho emocional Reações a eventos interpessoais mais delimitados em relacionamentos afetivos, sejam eles familiares, profissionais ou amorosos. Ex: Desentendimento com a mãe ou com colega de trabalho. Alterações cíclicas, sem gatilhos específicos ou muito claros. Não se concentram apenas nos relacionamentos afetivos. Ex: Uma fila no banco ou um atraso no voo.
Autoimagem Instável, com sentimentos crônicos de vazio Preservada fora dos episódios de crise
Comportamentos autodestrutivos Comuns, incluindo automutilação, tentativas de suicídio e impulsividade Podem ocorrer em fases de depressão, mas não são tão centrais ao quadro.
Mudanças emocionais São ligadas à forma como a pessoa se sente em relação a si mesma e aos outros. São alterações mais cíclicas e biológicas do humor.
Tratamento principal Psicoterapia Medicamentos estabilizadores de humor


As particularidades de cada diagnóstico reforçam a importância de uma avaliação cuidadosa, não apenas para nomear o sofrimento, mas para direcionar o cuidado de forma eficaz e assertiva.


É importante lembrar que os transtornos mentais não são “rótulos”, e sim construções clínicas que ajudam a entender padrões de funcionamento psíquico, para se oferecer suporte adequado.

Por isso, é fundamental investigar os sintomas junto de um profissional da psicologia e/ou da psiquiatria. Buscar informação confiável e reconhecer que o diagnóstico é apenas uma parte da vida, pode ajudar a reduzir o medo e o estigma que muitas vezes envolvem a saúde mental.

Quais os tratamentos para o transtorno de borderline?

O transtorno de borderline tem tratamento e, com acompanhamento adequado, é possível viver com mais estabilidade, autonomia e bem-estar.

  • Psicoterapia

    A psicoterapia é o principal recurso terapêutico. Entre as abordagens mais recomendadas pelos profissionais, destaca-se a Terapia Comportamental Dialética (TCD), criada por Marsha Linehan. A TCD combina técnicas da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) com práticas de mindfulness.

    O principal foco dessa abordagem é aprender a regular as emoções, reduzir os comportamentos autodestrutivos, melhorar a capacidade de lidar com conflitos e fortalecer a autoestima e o senso de identidade.

    Outras abordagens terapêuticas como a psicanálise também podem ser eficazes, especialmente quando adaptadas às necessidades da pessoa.

    O mais importante é que o tratamento seja construído de forma individualizada, respeitando o tempo e o limite de quem está em sofrimento.


  • Medicamentos

    Não existem medicamentos específicos para tratar o transtorno de borderline, no entanto, algumas classes podem ser prescritas para amenizar os sintomas associados.

    Antidepressivos, estabilizadores de humor e antipsicóticos (em casos de sintomas graves) podem auxiliar no tratamento e regulação emocional. Essas medicações não curam o transtorno de borderline, mas podem ser importantes aliadas na redução dos sintomas que comprometem o bem-estar.

    Por exemplo: pessoas com transtorno de borderline que convivem com crises de ansiedade severas, episódios depressivos profundos ou impulsividade autodestrutiva podem encontrar maior estabilidade emocional com o uso de remédios, sempre como parte de um plano terapêutico mais amplo.

    É importante ressaltar que a automedicação não é orientada em nenhuma hipótese. O uso de medicamentos precisa ser acompanhado por um médico psiquiatra.

  • Rede de apoio e suporte

    Participar de grupos terapêuticos, ter uma rede de apoio sólida e contar com profissionais de saúde mental faz toda a diferença. A construção de vínculos seguros, dentro e fora do espaço clínico, é parte fundamental do processo.

    Nesse sentido, o tratamento para o transtorno de borderline envolve não apenas o cuidado individual, mas também o fortalecimento de laços e a construção de um ambiente que favoreça o bem-estar emocional.

Mulher estressada diante de notebook, sinais de esgotamento e ansiedade no ambiente de trabalho

Fonte: Elisa Ventur/ Unsplash



Como lidar com uma pessoa borderline?

Conviver com uma pessoa com transtorno de borderline pode ser desafiador, mas também é uma oportunidade para aprofundar vínculos e promover cuidado mútuo.

A escuta empática, sem minimizar o sofrimento, é essencial. Evite julgamentos sobre comportamentos impulsivos ou emocionais, e estabeleça limites saudáveis, com clareza e gentileza.

Informe-se sobre o transtorno e seus sintomas, para compreender melhor suas complexidades. Incentive o tratamento e acompanhe a evolução com paciência.

O apoio de familiares e amigos pode ser decisivo no processo de recuperação e/ou tratamento, mas também é fundamental que essa rede de apoio cuide da própria saúde mental.

Conclusão: a informação é o principal acesso para o cuidado

Falar sobre o transtorno de personalidade borderline com clareza, empatia e responsabilidade é um passo fundamental para construir uma sociedade mais acolhedora e informada sobre saúde mental.

Por isso, é essencial que busquemos oferecer espaço para o conhecimento e a escuta qualificada. Muitas pessoas convivem com essa condição em silêncio por conta dos estigmas, o que pode agravar ainda mais o sofrimento emocional.

O transtorno de borderline não é uma sentença, é uma condição de saúde que exige atenção, compreensão, tratamento e apoio contínuo. Com cuidado adequado, é possível construir caminhos de autonomia, afeto e pertencimento, mesmo diante dos desafios.

Se você ou alguém próximo apresenta sinais semelhantes aos descritos, procure ajuda profissional para investigar com mais atenção. O diagnóstico e o tratamento precoces fazem toda a diferença.

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Referências

https://revistardp.org.br/abp/article/view/1103

Revista-esfera-saude-v06-n02-artigo02.pdf

American Psychiatric Association: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5th ed, Text Revision (DSM-5-TR). Washington, DC, American Psychiatric Association, 2022, pp 755.

A filosofia é o campo do conhecimento que busca compreender a realidade, o ser humano e o mundo e, para ser capaz de compreender este todo, dividiu os saberes em diferentes áreas da filosofia.

Diferente de outras formas de saber, como a religião, a filosofia trabalha, a partir de um pensamento lógico e racional, buscar nas perguntas, que não têm respostas prontas, explicações para as nossas inquietações.

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Quais são as principais áreas da filosofia?

Desde a Grécia Antiga, os filósofos se dedicam a investigar temas como a existência, o conhecimento, a moral, a justiça, a linguagem, a beleza e o pensamento lógico.

Para organizar este diverso campo de interesses, a filosofia foi se dividindo em áreas, cada uma com foco específico e questionamentos próprios.

Nessa divisão, muitas vezes os ramos da filosofia se cruzam e se complementam, inclusive compartilhando a atenção dos mesmos filósofos.

Neste texto, apresentamos as principais áreas da filosofia e seus autores.

As 8 áreas da filosofia que você vai conhecer:

  • metafísica
  • epistemologia
  • ética
  • filosofia política
  • estética
  • lógica
  • filosofia da linguagem
  • filosofia da mente
  • autores da filosofia
  • história da filosofia


Metafísica: O que é a realidade?

Metafísica vem das palavras meta, que significa depois, além, e physis, que significa natureza ou física. Ou seja, a metafísica é aquilo que está além da natureza ou da física.

Mas o que seria essa natureza?

Para os filósofos, a natureza é tudo aquilo que compõe tudo o que existe, desde elementos do mundo físico até os fenômenos naturais e os seres vivos.

Aristóteles foi o primeiro filósofo a colocar o foco de questionamentos no ser enquanto ser. Ele defendia que existe uma substância individual - o indivíduo material concreto (synolon) - a qual, o seu conjunto, concebe a realidade.

Contudo, ele dizia que esses indivíduos são compostos de matéria (hyle) - substância básica de tudo - e forma (eidos) - o que define e dá identidade à matéria.

E o que isso significa?

De acordo com Aristóteles, a substância (matéria + forma) é o que existe por si mesmo, sendo a essência de tudo que é real.

Um exemplo que o filósofo apresenta é o da estátua de uma deusa. Uma estátua é feita de bronze (matéria - causa material) e essa quantidade de matéria recebe uma forma (causa formal) que é a de estátua de uma deusa.

Caso modifique o material que a estátua foi feita, a forma se mantém, porém a matéria se altera.

Sendo assim, a matéria só existe porque possui uma forma. Entretanto, a forma sempre será a forma de um objeto material concreto - neste caso, a estátua de uma deusa.

Resumindo, a metafísica é o ramo da filosofia que investiga a natureza da realidade. Ela busca compreender o que existe, o que significa ser e quais são os princípios que regem o universo.


"O ser se diz de muitas maneiras. - Aristóteles"

Vale acrescentar que Martin Heidegger trouxe uma perspectiva diferente. Ele questionou o esquecimento do ser na tradição filosófica e propôs uma recuperação da ontologia na filosofia ocidental, que coloca o ser novamente no centro da reflexão.

Epistemologia: O que podemos conhecer?

A epistemologia é a área da filosofia que estuda o conhecimento, ou seja, investiga a natureza, a origem e os limites da razão.

Em outras palavras, busca entender como é possível afirmar que algo é verdadeiro e quais são os limites do conhecimento.

Já que estamos falando sobre razão, precisamos falar sobre René Descartes.

Ele acreditava que a razão era a única fonte confiável para o conhecimento e que a experiência sensorial poderia distorcer a compreensão do mundo verdadeiro.

Descartes, através do cogito ("Penso, logo existo"), propôs um fundamento irrefutável do conhecimento. Para ele, se um indivíduo é capaz de duvidar, ele está pensando.

Então, necessariamente, existe um sujeito pensante. Esta é a conclusão do argumento do cogito, no qual ele constrói a busca do fundamento seguro do conhecimento.

Resumindo, Descartes buscou, a partir da dúvida metódica, um caminho para o conhecimento verdadeiro.

Posteriormente, Immanuel Kant revolucionou a epistemologia ao sintetizar e superar as tensões de duas correntes filosóficas: o racionalismo e o empirismo.

Em sua obra “Crítica da razão pura“, argumenta que o conhecimento se dá a partir da interação entre as ideias inatas da mente e a experiência sensível.

Com isso, demonstrou que as “coisas em si” (a realidade em si) não são conhecidas, mas sim os seus fenômenos (a realidade como se apresenta). Esses fenômenos são percebidos a partir da intuição sensível (sensibilidade) e dos conceitos e categorias (entendimento).

Para Kant, o sujeito está no centro do processo de construção do conhecimento.

Como a Metafísica e a Epistemologia questionam Deus?

  • Metafísica: Deus existe?
  • Epistemologia: É possível Deus existir?

A metafísica questiona a existência ou não de Deus, já a epistemologia investiga a possibilidade de se ter conhecimento sobre essa existência.

Ética: O que é certo e errado?

A ética é a área da filosofia que estuda os princípios que orientam o comportamento humano, questionando, por exemplo, o que é uma boa vida, o que é certo e errado.

Para este ramo da filosofia, além das regras sociais, a virtude, o dever e as consequências de nossos atos também são pontos de interesse.

Alguns filósofos se debruçaram sobre este conceito e trouxeram visões diferentes:

Filósofo Visão de Ética Ideia Principal Ações
Aristóteles Ética da virtude Buscar a felicidade por meio da virtude e do equilíbrio Valoriza a intenção e o caráter
Immanuel Kant Ética do dever Agir conforme o dever e a razão Valoriza a intenção moral
Jeremy Bentham Ética utilitarista A melhor ação é a que gera felicidade para o coletivo Foco nas consequências das ações



Filosofia Política: Como devemos viver em sociedade?

A filosofia política é o estudo do corpo social que busca entender suas causas e consequências.

Desde os primórdios da filosofia se reflete sobre as estruturas e princípios que regem a sociedade.

Platão em sua obra “A República“ idealizou uma sociedade que era governada por aqueles que estão mais próximos da verdade e da justiça, os filósofos.

Thomas Hobbes propôs que os indivíduos cedam parte de seus direitos a um soberano para que se tenha uma sociedade organizada. Uma vez que, para ele, os homens são essencialmente iguais e, por isso, são capazes de se exterminar.

Posteriormente, Jacques Rousseau trouxe a ideia do contrato social, que diz que a política pertence à sociedade. Para se ter liberdade civil e proteção, o indivíduo deve renunciar seus direitos individuais e entregá-los à uma autoridade escolhida pela comunidade.

Por outro lado, Karl Marx sugere que a luta de classes é que possibilitaria a revolução, propondo uma sociedade sem classes baseada na propriedade comum dos meios de produção.

Em suma, a filosofia política questiona o convívio do indivíduo na sociedade e busca encontrar um modelo ideal.


Estética: O que é o belo? O que é arte?

A estética é a área da filosofia que investiga a natureza do belo, da arte e da experiência estética.

Diversos autores da filosofia se dedicaram ao debate sobre o que era belo, o que fazia algo ser belo e compreender a subjetividade da estética.

Para Aristóteles, o belo estava ligado a grandes proporções, a imponência. Aquilo que era equilibrado, tinha ordem e simetria, porém em pequenas proporções, para Aristóteles era gracioso.

Contudo, Kant argumentou em "Crítica do Juízo" que o juízo estético é subjetivo, mas possui uma pretensão de universalidade. Ou seja, a experiência do indivíduo na contemplação da coisa fazia parte de suas características.


"O belo é o símbolo do bem moral." - Immanuel Kant

Nietzsche, por sua vez, compreendia que a arte era a expressão da vontade de poder e uma forma de afirmar a vida frente ao caos e ao sofrimento.

Resumidamente, a estética questiona o que torna algo belo, como percebemos a arte e qual o papel do gosto na apreciação estética.


Lógica: Como pensamos corretamente?

A lógica é o ramo da filosofia que estuda as regras do pensamento válido e da argumentação correta. Ela se torna fundamental para o pensamento porque permite uma avaliação racional e crítica dos argumentos, evitando a afirmação de falsas verdades.

Apesar da lógica inicialmente não fazer parte do Sistema Aristotélico, para ele, ela é muito mais do que um saber instrumental metodológico, pois todos os saberes pressupõem algum tipo de lógica.

Entretanto, Aristóteles é considerado pioneiro ao sistematizar a lógica formal, introduzindo a teoria do silogismo. Para ele, a teoria científica é formada de um conjunto de deduções a partir de indícios claros que são alcançados por meio da definição e apreensão.


“A lógica não é ciência e sim um instrumento (órganon) para o correto pensar." - Aristóteles

Dando um salto na história da filosofia, no século XX, Bertrand Russell contribuiu para a lógica matemática, buscando fundamentos sólidos para a matemática e a linguagem.

Segundo Russell, muitos dos problemas filosóficos surgem das confusões na linguagem, por isso considerava a lógica uma ferramenta fundamental para filosofia.

Filosofia da linguagem: O que é o significado?

A filosofia da linguagem busca investigar como a linguagem representa o mundo e como damos significado às palavras.

Ludwig Wittgenstein aponta que o significado das palavras está em seu uso no contexto dos jogos de linguagem.

De acordo com ele, as coisas não têm sentido por si mesmas, porque elas só recebem um significado a partir da relação com as outras.

A mesma lógica pode ser aplicada às palavras, porque elas só fazem sentido quando aplicadas a uma frase e um contexto correspondente à estrutura do mundo.

Entretanto, para Saussure, a língua é um sistema social e abstrato, enquanto a fala é a utilização individual e concreta da língua.


"Na linguagem, não há união natural entre o significante e o significado." - Ferdinand de Saussure

Ele entende a língua como um sistema de signos composto pela união de um significante (forma da palavra - sonora ou visual) e de um significado (a ideia que a palavra representa).

Essa distinção entre a a língua e a fala é um questionamento sobre a natureza arbitrária dos signos linguísticos.

Filosofia da mente: O que é consciência?

A filosofia da mente é o ramo da filosofia que estuda a natureza da mente, da consciência e sua relação com o corpo.

Descartes propôs o dualismo ao separar a mente (res cogitans) do corpo (res extensa), os quais teriam propriedades diferentes. Além de questionar como essas substâncias interagem - a mente controla o corpo, mas não é parte dele.

Por outro lado, Daniel Dennett defende uma abordagem materialista e funcionalista da mente, na qual a consciência é resultado de processos cerebrais complexos e comportamentos observáveis.

Portanto, ele busca explicar a mente como um fenômeno natural, uma postura intencional, sem recorrer a explicações sobrenaturais.


“Acho que a melhor ideia da religião é encorajar uma certa modéstia, um respeito e uma reverência pela natureza neste incrível Universo que nós habitamos” - Daniel Dennett


A filosofia como campo plural de investigação

Neste texto você conheceu as principais áreas da filosofia. Este é um campo diverso, formado por perguntas e que instiga o que temos de mais humano. Essas divisões da filosofia são caminhos para investigar grandes questões da nossa existência, do conhecimento, da vida em sociedade e da nossa relação com o mundo interno e externo.

Mas o mais interessante é perceber que esses ramos da filosofia se encontram. Eles dialogam, complementam-se e coexistem. A reflexão que o conhecimento sobre o que a filosofia estuda nos faz pensar sobre o que é certo, o que é belo, o que é justo, o que é ético e que nós somos e podemos ser.

Cada uma dessas áreas é uma porta esperando para ser aberta e você tem a chave para cada uma delas, basta você ter coragem e curiosidade para desbravar o mundo e a si mesmo.

Esperamos que este texto tenha te inspirado a descobrir mais sobre filosofia. Aqui na casa do saber temos diversos cursos para te ajudar a ir mais fundo neste conhecimento, você pode conhecer mais clicando aqui.

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Referências

DERRIDA, Jacques. A Filosofia da Linguagem.

MARCONDES, Danilo. Introdução à História da Filosofia.

UOL. Filosofia da Linguagem: (3), (4) e (5).

SCHOLZ, Barbara C.; PELLETIER, Francis Jeffry; PULLUM, Geoffrey K. Philosophy of linguistics. In: ZALTA, Edward N. (Ed.). Stanford encyclopedia of philosophy.

Em um mundo cada vez mais acelerado e hiperconectado, cuidar da saúde mental deixou de ser uma recomendação pontual e tornou-se uma urgência da contemporaneidade.

As pressões no trabalho, as instabilidades nos relacionamentos, o excesso de estímulos e a crescente incidência de transtornos como ansiedade, depressão e Burnout, nos mostram que o autocuidado precisa ser mais profundo do que um momento de lazer ou descanso.

Neste texto, você encontrará dicas de cuidado com a saúde mental a partir de diferentes dimensões — emocional, relacional, corporal e simbólica — com base em princípios da psicologia, da psicanálise e da neurociência.

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Entenda o que é saúde mental — e o que não é

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde mental como um estado de bem-estar no qual o indivíduo percebe suas próprias habilidades, consegue lidar com as adversidades da vida, trabalhar de forma produtiva e contribuir com a comunidade.

A saúde mental está longe de ser apenas a ausência de transtornos mentais. Trata-se de uma construção dinâmica, que envolve a capacidade de lidar com os altos e baixos da vida, elaborar emoções, manter relações significativas e encontrar sentido na própria existência, mesmo diante das incertezas, frustrações e sofrimentos que fazem parte da experiência humana.

Esse entendimento rompe com a ideia de que “ser forte” é não sentir ou não demonstrar emoções. Pelo contrário: é justamente o contato consciente com nossas emoções que fortalece a nossa saúde psíquica.

Portanto, mais do que um ideal de equilíbrio constante, a saúde mental deve ser compreendida como uma travessia possível, feita de pequenas escolhas, apoios e significados que se renovam no tempo.

Vamos entender melhor como isso é possível.


Crie rotinas de autocuidado com intenção — e não com culpa

O autocuidado em saúde mental não precisa ser caro, instagramável ou complexo. Ele começa em pequenas escolhas do cotidiano que ajudam a regular o corpo e a mente. Mas para funcionar, precisa ser feito com intenção e sem culpa, a partir de um contexto real, ou seja, do que é possível.

Algumas soluções podem ser praticadas aos poucos:

  • Durma pelo menos 6 horas por noite: o sono regula hormônios do humor, da memória e da atenção.
  • Faça pequenas pausas com movimento: alongue os ombros, o pescoço e respire fundo entre as tarefas do dia a dia.
  • Caminhe, dance ou faça atividades de movimento corporal regularmente: atividades físicas leves ajudam a liberar serotonina e dopamina, ou seja, hormônios responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar.
  • Desligue notificações do celular por 1 hora ao dia: isso ajuda a reduzir estímulos e favorece o foco e o descanso cerebral.
  • Experimente práticas de mindfulness: comece com 3 minutos diários prestando atenção na respiração ou nas sensações do corpo.

Na neurociência, esses pequenos cuidados estão relacionados à ativação do sistema parassimpático, que ajuda a regular o estresse e promove sensações de segurança e calma. Assim, perceber o autocuidado como uma etapa da rotina é um passo importante para se construir um bem-estar psicológico.

Homem negro meditando com fones de ouvido em casa, prática de autocuidado e bem-estar emocional
A prática do mindfulness pode ajudar na saúde mental (Fonte: nubelson-fernandes/unsplash)



Pratique a escuta interna e nomeie as suas emoções

A psicanálise nos ensina que nomear o que sentimos é o primeiro passo para elaborar um pensamento. Muitas vezes sofremos mais pela tentativa de negar o que sentimos do que pela emoção em si.

Sentir irritação frequentemente pode estar relacionado a frustrações acumuladas. Ao nomear isso, você se aproxima da raiz do desconforto, construindo uma ponte entre o que sente e o acontecimento de fato. Assim, o ato de verbalizar sentimentos, sensações e percepções ajuda não apenas em um processo de autoconhecimento, mas também de estímulo à saúde mental.

A psicologia também trabalha essa compreensão: identificar e validar as emoções reduz a ativação da amígdala cerebral, diminuindo o impacto do estresse e aumentando a regulação emocional.

💡 Dica prática: mantenha um caderno de emoções, anotando o que você sentiu e o que desencadeou essa sensação. Esse hábito irá auxiliar a compreender a situação e a si mesmo com um olhar mais gentil.

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Cuide do corpo: movimento e regulação

Nosso corpo é também um instrumento de percepção emocional. Sensores no corpo nos avisam do estresse antes mesmo de termos consciência dele. Por isso tem se tornado cada vez mais comum a manifestação de doenças psicossomáticas na sociedade, pois o corpo denuncia e dá sinais de alerta.

Uma tensão no maxilar, uma respiração curta e o coração acelerado, são sinais importantes que exigem atenção. Dores nas costas, pés e articulações, além da sensação de falta de descanso mesmo quando o corpo relaxou por horas, também são indícios de que há algo que precisa ser investigado e tratado.

Mas, como romper com isso? Práticas regulares como caminhada, alongamento, yoga ou dança ativam circuitos cerebrais ligados aos prazer, à concentração e à disposição. Estudos mostram que o movimento corporal regular reduz os níveis de cortisol (hormônio do estresse) e melhora a capacidade de foco.

Além disso, o mindfulness também pode ser um excelente aliado: ao prestar atenção às sensações físicas sem julgá-las, criamos uma ponte entre mente e corpo. Isso contribui não apenas para a redução da ansiedade, mas também na prevenção e na diminuição de outros quadros e sintomas.


Desenvolva vínculos seguros e uma rede de apoio

Somos seres relacionais. Desde o nascimento, nossa saúde mental é moldada pelas relações que estabelecemos. Vínculos seguros oferecem apoio emocional, validam nossa existência e nos ajudam a elaborar conflitos.

Segundo a psicologia, relações saudáveis promovem um estado interno de segurança. Isso se reflete na vida adulta: quem tem apoio emocional tende a lidar melhor com situações de crise e sofrimento.

E como nutrir uma rede de apoio?

  • Invista em amizades com quem você pode confiar e ser autêntico. É preciso se desvincular das performances e apenas ser você.
  • Peça ajuda sem medo de parecer frágil ou de acreditar que está incomodando — amigos são para isso também, não apenas para os momentos de alegria.
  • Escute ativamente as pessoas ao seu redor, acolha o que elas compartilham com você com gentileza e empatia. Isso ajudará você a construir uma relação horizontal de confiança.

Ser sensível ao que o outro nos diz envolve saber ouvir e saber falar. Assim, estabelecer vínculos verdadeiros passa pela capacidade de sustentar conversas honestas, respeitando os próprios limites e os do outro.

Relações afetivas não precisam ser perfeitas, mas precisam ser cuidadas. A sua manutenção é fundamental, pois vínculos se fortalecem com presença, e não com formalidades.

Pessoas se abraçando em grupo durante atividade de acolhimento emocional e saúde mental
Uma rede de apoio é essencial para o bem-estar psíquico (Fonte: yuriy-vertikov/unsplash)


Abra espaço para o simbólico: arte, espiritualidade e sentido

O que dá sentido à sua vida? Essa pergunta, embora ampla e complexa, é fundamental para a construção de uma saúde mental. A dimensão simbólica do cuidado envolve criar espaços onde você possa se expressar para além das tarefas do dia a dia.

Isso pode se manifestar por meio da arte, da espiritualidade, da escrita ou de rituais pessoais. Buscar grupos, coletivos ou comunidades com interesses em comum, pode ser um caminho para construir relações de modo orgânico e com vínculos genuínos.

Por exemplo: escrever cartas, pintar, desenhar ou fotografar como forma de expressão, ler poesia ou filosofia para estimular o pensamento, ou criar um altar pessoal com objetos significativos são formas de abrir caminhos para uma saúde mental.

Cabe mencionar que esse espaço simbólico é também um antídoto contra o vazio existencial que pode surgir nas rotinas hiperprodutivas. Assim, se expressar é dar materialidade a coisas que podem não ter sido digeridas com facilidade em um contexto de intensa emoção e exaustão.



Psicoterapia: o encontro com o outro para encontrar a si

A psicoterapia é um processo estruturado de escuta, onde você pode olhar para si com profundidade. Mais do que conselhos, elas oferecem um espaço para construir caminhos para uma saúde mental.

Entre as principais abordagens, estão:

  • Psicanálise: investiga o inconsciente, os sonhos, os desejos e a história da pessoa, com o objetivo de ajudá-la a acessar e superar traumas e marcas psíquicas.
  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): identifica padrões de pensamento e comportamento disfuncionais e propõe formas mais saudáveis de agir.
  • Gestalt-terapia: trabalha com a perspectiva do aqui e agora, com foco na experiência e na consciência da pessoa.
  • Psicologia analítica: investiga os arquétipos, os sonhos e os símbolos, com foco no desenvolvimento da personalidade.

Fazer terapia é um investimento em si. Mesmo que você não esteja em crise, esse processo pode ajudar a prevenir transtornos e a lidar com sofrimentos e desafios da vida.


Cuide da sua saúde mental no trabalho

O trabalho pode ser fonte de realização ou de adoecimento. O que determina isso é, muitas vezes, o ambiente e a forma como você se relaciona com ele. Diagnósticos de burnout se tornaram cada vez mais frequentes, pois está cada vez mais difícil separar os problemas profissionais dos problemas pessoais.

A sensação de esgotamento constante, perda de interesse no trabalho, além da baixa autoestima e insegurança profissional, podem ser sinais de alerta que denunciaram a Síndrome do Esgotamento Profissional.

Confira dicas práticas para preservar a saúde mental no trabalho:

  • Defina limites claros de horário e dias semanais de contato para questões profissionais. Não é natural e nem saudável enviar ou receber mensagens profissionais em dias de descanso.
  • Negocie prazos quando possível. Sobrecargas e imprevistos acontecem frequentemente, por isso, busque não ultrapassar o seu horário de trabalho para entregar demandas recém solicitadas.
  • Evite checar e-mails e agendas fora do expediente. Busque aproveitar o tempo “off” com atividades que não tenham relação com temas profissionais.
  • Converse com colegas sobre formas coletivas de apoio. Todos podem se ajudar.

A saúde mental no trabalho também depende de mudanças estruturais. Por isso, é importante levar esse debate aos espaços institucionais.


Recomendações bônus: como aprofundar no cuidado em saúde mental

Para auxiliar no cuidado com a saúde mental de forma realista e gentil, vamos além das práticas para pensar a forma como nos relacionamos com nós mesmos nesse processo.

Na plataforma Casa do Saber +, com uma assinatura única, você assiste mais de 600 horas em aulas de diversos temas.

Por exemplo, o curso Ansiedade Sob Controle - Casa do Saber aborda em detalhes mais dicas práticas e bem fundamentadas de como cuidar da saúde mental. Mas, aqui entre nós, vamos te dar um spoiler:

  • Evite comparações: o que você sente é legítimo

    Em um mundo onde todos parecem bem o tempo todo nas redes sociais, é fácil cair na armadilha da comparação. Mas lembre-se: cada pessoa tem um histórico, um repertório emocional e uma rede de suporte diferente. Comparar seu sofrimento ou progresso com o dos outros pode gerar frustração e culpa.

    Dica: Quando perceber que está se comparando, pergunte-se: “O que faz sentido pra mim nesse momento?”. Traga o foco para si, pois a sua trajetória é única.

  • Fale e pense sobre si com mais gentileza

    A forma como nos tratamos internamente tem impacto direto sobre a autoestima e a saúde mental. Se o seu diálogo interno é dominado por autocrítica, exigência ou dureza, tente inverter o tom: acolha suas falhas como parte do processo de ser humano.

    Dica: Quando errar ou falhar, experimente dizer para si algo que diria para um amigo querido. Lembre-se que você fez o que conseguiu naquele momento.

  • Valorize os pequenos avanços

    Não espere grandes transformações imediatas. Na saúde mental, pequenos passos consistentes são mais sustentáveis que mudanças radicais. O simples fato de reconhecer uma emoção, fazer uma pausa ou dormir melhor, já é uma conquista.

    Dica: Ao final do dia ou da semana, anote 1 ou 2 coisas que conseguiu fazer por si. Pode ser “fui dormir mais cedo” ou “desliguei o celular por 30 minutos”. São passos importantes a se orgulhar.



Resumo: Cuidar da saúde mental é um compromisso com a vida

Cuidar da saúde mental passa por reconhecer as próprias emoções, estabelecer limites saudáveis, buscar ajuda especializada e manter uma escuta ativa de si e do mundo.

Cuidar da saúde psíquica é um exercício contínuo de auto compaixão, por isso, é fundamental reconhecer que estar bem não significa estar feliz o tempo todo, mas sim desenvolver recursos para atravessar os momentos difíceis com mais consciência e resiliência, e com menos solidão.

O autocuidado psíquico é um compromisso com a vida que queremos ter. Requer priorização, escuta e coragem. Mas lembre-se: não existe solução rápida. O que existe é um caminho possível, com recaídas, avanços e descobertas. A saúde mental não é um destino fixo, mas uma travessia — e cada passo conta.

Quer seguir aprofundando esse cuidado com a sua saúde mental?
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Algumas frases ditas de forma espontânea podem carregar muito mais do que apenas uma piada. Para Freud, os chamados chistes revelam desejos inconscientes e funcionam como uma via de escape para pensamentos que normalmente seriam reprimidos.

Neste artigo, você vai entender o que são os chistes na psicanálise, qual sua relação com o inconsciente e por que essas tiradas espirituosas dizem tanto sobre nós.

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O que é um chiste?

Em linhas gerais, os chistes respondem por tudo aquilo que se relaciona à ordem do cômico. Segundo a psicanálise, através do humor, o sujeito conseguiria manifestar algumas das suas tendências inconscientes, sejam elas agressivas ou mesmo obscenas.

O significado de chiste para a psicanálise

Para a psicanálise, ao contrário do que muitos pensam, os chistes não são exatamente piadas. Trata-se, aqui, de um antigo mal-entendido ocasionado pela problemática tradução do alemão “Witz” (termo empregado por Freud) por “chiste” que, literalmente, significa “piada”. No entanto, a ideia presente no texto freudiano não é exatamente esta.

Nesta perspectiva, destaca-se a opção de Lacan (1998) que, em seu “Seminário 5”, defendeu a tradução de “Witz” por “tirada espirituosa”. Para mim, esta é uma opção mais compatível com as análises de Freud e com os exemplos por ele mencionados. Por este viés, não seria através de qualquer piada que o inconsciente se manifestaria, mas apenas através de um tipo particular delas: as tiradas.

Uma “tirada” pode ser definida como qualquer fala, observação ou comentário mais ou menos espontâneo que através de jogos de palavras, trocadilhos ou neologismos consegue provocar riso nos outros. Em todas as tiradas, é comum haver certa dose de cinismo, ironia ou mesmo sarcasmo. E, de fato, qualquer um de nós reconhece que através de uma tirada, conseguimos dizer uma série de coisas que jamais poderiam ser ditas de outra maneira.

Qual a diferença entre chiste e piada?

Ao contrário do que muitos pensam, quando Freud escreveu sobre os chistes, ele não estava se referindo às piadas de maneira geral. Porém, a apenas um tipo delas: as “tiradas”.

As “tiradas” são espécies de trocadilhos, neologismos ou jogos de palavras que fazemos durante uma conversa e através dos quais conseguimos manifestar algumas das nossas tendências inconscientes.


Freud e o humor

São muitos os exemplos de chistes ou tiradas fornecidos por Freud. A maioria sem graça alguma... Há uns dois ou três mais engraçadinhos, mas mesmo assim, nem tanto.

Lembro de já ter compartilhado com alguns amigos psicanalistas a estranha sensação de não ter rido de quase nenhuma das tiradas apresentadas por Freud (muitas delas, inclusive, sequer entendi...). Como eles também confessaram não ter rido, concluímos que das duas uma: ou Freud era um péssimo piadista ou então há coisas que realmente só tem graça em alemão. Ou as duas coisas...

Trata-se de algo semelhante ao que acontece quando, por exemplo, assistimos à transmissão do Oscar e também não rimos de exatamente nenhuma piada. E isso enquanto o apresentador conta mil delas no palco e a plateia inteira se esgoela de tanto rir. Deve haver coisas que só tem graça pra eles mesmo...


O chiste segundo Freud

Enfim, seguem os dois exemplos de tiradas mais ou menos engraçadinhas apresentadas por Freud:

Exemplo 1: A vaidade e os quatro calcanhares de Aquiles

O primeiro é o de dois amigos que conversavam sobre alguém que eles odiavam. Tratava-se de uma figura em evidência e bastante eminente na época. Durante a conversa, um comenta com o outro: “Bem, a vaidade é um de seus quatro calcanhares de Aquiles”.

Obviamente, o amigo riu de tamanha espirituosidade e sarcasmo. Uma tirada bem engraçadinha! Ora, percebe-se que ao referir-se à pessoa nestes termos, o piadista quis igualá-la a um animal, já que somente estes possuem quatro calcanhares.

Segundo Freud (1905/1996), o que ocorreu nesta ocasião foi o seguinte: o piadista possuía um impulso hostil em relação a alguém eminente, mas, por motivos óbvios, tal hostilidade não podia de forma alguma transparecer. Ante esta impossibilidade, ele acaba construindo um dito irônico capaz de expressar seus duros sentimentos.

Exemplo 2: Phocion e o elogio irônico

O outro exemplo é o de Phocion, estadista ateniense. Quando, em certa ocasião, ele termina um discurso e se vê aplaudido pelo povo, vira para os amigos e pergunta: “Qual foi a besteira que eu falei agora”?

Ora, para quem não entendeu a tirada, é necessário explicar que Phocion encarava o povo como propriamente estúpido. Portanto, se o estavam aplaudindo, certamente era porque ele havia dito alguma asneira durante seu pronunciamento. De fato, esta foi uma fala irônica e sarcástica que manifestava todo o seu desdém pela população.


O chiste e sua relação com o inconsciente

Com a publicação do livro “Os chistes e suas relações com o inconsciente”, em 1905, Freud encerrava a sua trilogia sobre o conceito de inconsciente.

A trilogia se inicia com “A interpretação de sonhos” de 1900 e prossegue com a “Psicopatologia da vida cotidiana” de 1901. Através destas três obras, Freud realizou suas intenções de analisar como o inconsciente se estrutura e funciona, além de também examinar como ele se manifesta.

Nestes três livros, Freud nos mostra as cinco formas de manifestação do inconsciente: os sonhos, os atos falhos, os lapsos, os sintomas e os chistes.

Mas, então, como os chistes se relacionam com o inconsciente?

Para a psicanálise, tudo se passa como se tivéssemos um domínio inconsciente no qual encontram-se algumas das nossas tendências recalcadas. Ou seja, vivemos em uma sociedade que não nos permite dar livre curso a tudo o que desejamos e, neste sentido, não podemos deixar que tais tendências proibidas se manifestem. Trata-se de desejos sexuais e obscenos, ou então, de tendências por demais agressivas que, por motivos meramente morais, não podemos realizar.

Porém, através de um chiste, de um trocadilho ou de um jogo de palavras conseguimos dar livre curso a estas tendências imorais. Com efeito, através de uma tirada espirituosa podemos dizer alguma coisa querendo, no fundo, dizer outra. Assim, algo proibido e inconveniente pode finalmente ser mostrado, conforme atestam os exemplos a seguir.

Uma tirada é uma maneira não tão direta de falarmos sobre coisas imorais, sejam elas sexuais ou agressivas: algo que jamais poderia ser dito de forma nua e crua o pode através de um jogo de palavras engraçado e inteligente.


Alguns exemplos de chistes

Segundo Freud (1905/1996), os chistes ou tiradas mais comuns são os obscenos, os agressivos e os cínicos. Vejamos exemplos dos três:

  • Chiste ou tirada obscena

    No escurinho do cinema
    Chupando drops de anis

    Longe de qualquer problema
    Perto de um final feliz

    Se a Deborah Kerr que o Gregory Peck
    Não vou bancar o santinho
    Minha garota é Mae West
    Eu sou o Sheik Valentino

    Mas de repente o filme pifou
    E a turma toda logo vaiou
    Acenderam as luzes, cruzes!
    Que flagra, que flagra, que flagra!

    (Rita Lee & Roberto de Carvalho – Flagra)

    Imaginem uma roqueira brasileira e seu marido, os dois ardendo de paixão, querendo fazer uma música repleta de obscenidades em plena ditadura militar? Não ia dar!

    Então, a solução foi apelar para a espirituosidade. E o verso “Se a Deborah Kerr que o Gregory Peck” é uma tirada que entrega tudo! Ora, Deborah Kerr e Gregory Peck são dois atores antigos de Hollywood. E Rita e Roberto fizeram um trocadilho interessantíssimo com o nome dos dois: algo que soa como “Se a Deborah quer que o Gregory peque”.

    Assim, através do humor e da espirituosidade, os dois conseguiram manifestar suas tendências obscenas, compondo uma música sobre como deve ser praticar o sexo oral no escurinho do cinema. Neste sentido, os versos “chupando drops de anis”, “perto de um final feliz” e “acenderam as luzes, cruzes, que flagra!” adquirem novos sentidos para além do literal. Sentidos, aliás, engraçadíssimos!

  • Chiste ou tirada agressiva

    Diz pra eu ficar muda, faz cara de mistério
    Tira essa bermuda que eu quero você sério
    Tramas do sucesso, mundo particular
    Solos de guitarra não vão me conquistar

    Uh, eu quero você como eu quero
    Uh, eu quero você como eu quero

    (...)

    Longe do meu domínio, cê vai de mal a pior
    Vem que eu te ensino como ser bem melhor

    (Leoni & Paula Toller – Como eu quero)

    Ao contrário do que muitos pensam, esta não é uma música de amor, mas sim, de ódio. E o alvo de tanto ódio é uma ex-empresária do Kid Abelha que, na época, namorava o antigo baterista da banda. Um relacionamento bastante conturbado por ela ficar exigindo que o músico abandonasse seu trabalho para dedicar-se a algo mais sério. Daí os versos “tira essa bermuda que eu quero você sério” e “solos de guitarra não vão me conquistar”.

    A tirada está no refrão: notem que não há vírgula em “eu quero você como eu quero”. Ou seja, não se trata de uma exclamação (eu quero você, como eu quero!), mas sim, de uma imposição: eu quero você como eu quero (que você seja...). Uma sacada inteligente e engraçada.

    Com efeito, através do humor e aproveitando dos duplos sentidos de algumas expressões, a gente consegue dizer um bando de coisas e ainda passarmos desapercebidos.

  • Chiste ou tirada cínica

    Oh, musa do meu fado
    Oh, minha mãe gentil
    Te deixo consternado
    No primeiro abril

    Mas não sê tão ingrata
    Não esquece quem te amou
    E em tua densa mata
    Se perdeu e se encontrou
    Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
    Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

    (...)

    Guitarras e sanfonas
    Jasmins, coqueiros, fontes
    Sardinhas, mandioca
    Num suave azulejo
    E o rio Amazonas
    Que corre trás-os-montes
    E numa pororoca
    Deságua no Tejo

    Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
    Ainda vai tornar-se um império colonial

    (Ruy Guerra & Chico Buarque – Fado tropical)

    “Fado tropical” é super irônica. Trata-se de uma composição do ano de 1973, época na qual a censura perseguia por demais o Chico Buarque e não o deixava gravar quase nada... Então, ele era obrigado a compor músicas repletas de trocadilhos e jogos de palavras com o intuito de burlar os censores.

    Esta música, então, conseguiu passar pela censura que, aliás, amou a letra. E isto porque eles pensaram que o Chico estava fazendo um elogio saudosista aos tempos nos quais o Brasil era uma colônia portuguesa. Tal interpretação se fez graças aos versos “Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar-se um imenso Portugal”, “E o rio Amazonas que corre trás-os-montes e numa pororoca deságua no Tejo” e, sobretudo, “Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar-se um império colonial”.

    No entanto, não era nada disso. Os elogios do Chico aos portugueses, bem como os anseios para que o Brasil se tornasse um imenso Portugal, se deram porque exatamente naquele ano, a Revolução dos Cravos destruía uma ditadura que já durava décadas... Daí o Chico querer que o mesmo acontecesse ao Brasil! Outra tirada, portanto, super espirituosa, sarcástica e irônica!

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Chistes, prazer e laço social

Por fim, é necessário frisar a interessante ideia de Freud (1905/1996) de que os chistes ou tiradas se constituem como verdadeiros promotores de laços sociais.

De fato, há no mínimo três sujeitos envolvidos no contexto de uma tirada: o sujeito que joga com as palavras, aquele que o ouve, além do objeto da ironia ou sarcasmo. E quando esta tirada é replicada por aquele que a ouve ainda podem inserir-se nesta cadeia outros tantos sujeitos.

Portanto, uma rede de laços sociais mais ou menos extensa e feita a partir de um prazer compartilhado. Prazer este promovido por uma espécie de “suspensão” (ainda que momentânea) do recalque que alguns ditos espirituosos conseguem tão bem promover.


Este texto foi escrito pelo professor Ricardo Salztrager, psicanalista e professor associado da UNIRIO e da Casa do Saber. Possui Graduação em Psicologia, mestrado e doutorado em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

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Referências:

Freud, S. (1905). Os chistes e sua relação com o inconsciente. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 8. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 9-231.

LACAN, J. (1999). O Seminário livro 5: As formações do inconsciente. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed.



A busca pelo conhecimento de si e do mundo é uma preocupação que há milênios acompanha o homem. E entender como estudar filosofia é um passo essencial para compreender estas questões.

Neste texto, você vai ver um caminho seguro e sério para você começar a sua jornada no mundo filosófico, com um passo a passo, dicas de leituras e trajeto de estudo.

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Por que começar a estudar filosofia?

Já dizia Aristóteles, a filosofia começa a partir do espanto com o mistério da vida.

O espanto, no sentido grego da palavra, é admiração. Quando a vida nos mostra algo que nos é estranho, diferente, nós admiramos e sentimos a necessidade de compreender aquilo que está à nossa frente.

Então, assim, surge o pensamento filosófico: da necessidade de compreender a realidade.

A filosofia é a ciência que te ensina a desenvolver o pensamento crítico sobre as questões que te afligem.

O desejo de entender o como, o porquê, o que é nos leva ao exercício do pensar, que pode nos trazer algumas respostas, mas também muitas perguntas.

Como começar a estudar filosofia?

Para tudo na vida há um começo, inclusive para a filosofia, quando Tales de Mileto, no século VI começou a questionar a crença mítico-religiosa que governava naquele período.

Um dos principais objetivos da filosofia é a busca pela verdade e a evitação do erro.

Desde a Grécia Antiga, filósofos vêm questionando as aparências, os costumes e até mesmo as próprias certezas, tentando compreender o que realmente é verdadeiro.

Por exemplo, Sócrates alertava sobre os perigos de viver sem examinar a própria vida. Já Platão, afirmava que o mundo sensível pode ser enganoso, enquanto a realidade verdadeira está no mundo das ideias.

Ao longo da história, a filosofia desenvolveu métodos e conceitos para evitar respostas equivocadas ou que ainda não podiam ser tidas como verdadeiras.

Portanto, estudar filosofia também é aprender a pensar de forma mais clara, questionar e buscar a verdade com sinceridade para, assim, atingir o conhecimento verdadeiro.

Entretanto, um dos erros mais comuns para quem começa a se aventurar no mundo da filosofia é querer pular uma parte importante desta ciência: a busca pelo método e a companhia de um mestre.


Como estudar filosofia pode ajudar na sua vida

Primeiramente, estudar filosofia é mais do que saber os conceitos, as escolas ou os principais filósofos. Isso é conhecer a teoria da ciência filosófica.

Ao mergulhar nesse universo, você aprende a argumentar com mais clareza, lógica e profundidade. Isso significa ser capaz de defender suas opiniões com coerência, perceber incongruências nos argumentos que lhe são apresentados e questionar os próprios pensamentos.

Além disso, a filosofia amplia sua visão de mundo. Ela te apresenta formas diferentes de pensar, de viver e de enxergar a realidade.

Você passa a perceber que muitas das suas certezas são adquiridas, e começa a analisá-las de maneira mais crítica e consciente.

Esse é o processo do pensamento filosófico: abrir horizontes, desafiar a nossa zona de conforto e libertar a nossa mente das amarras impostas pela sociedade.

Por exemplo, o estoicismo propõe a busca da liberdade interna diante das situações da vida, valorizando a razão, o dever e a tranquilidade ao enfrentar o inevitável.

Sendo assim, não é sobre reprimir sentimentos, mas sobre respeitar e entendê-los com sabedoria.

Mas, talvez, o maior desafio da filosofia seja o autoconhecimento.

Quando questões como “quem sou eu?”, “o que é uma vida boa?” ou “o que é verdade?” começam a aparecer na nossa mente, significa que estamos começando a entender mais sobre nós mesmos e sobre o que realmente importa na vida.

Estudar filosofia é um processo constante, que provavelmente nunca vai acabar. E como disse Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo.”



Mas, afinal, como começar a estudar filosofia do zero?

É importante você entender que o fim primordial de estudar filosofia é, a partir destes saberes, conseguir transformar a sua vida.

Para isso, você precisa de um caminho estruturado para que não caia em erros basilares desta ciência milenar.

Este é um campo complexo que, quando não entendido de forma profunda e crítica, pode te levar ao que a filosofia busca refutar: falsas verdades.

Vamos às dicas para estudar filosofia:

  1. Comece com livros de filosofia para iniciantes

    Inicie o estudo da filosofia com um número reduzido de obras e com uma linguagem mais acessível. Isso vai permitir que você entenda os conceitos básicos da filosofia e consiga caminhar para discussões mais profundas.

    Alguns livros introdutórios:

    • O mundo de Sofia, de Jostein Gaarder
    • Iniciação à história da filosofia, de Danilo Marcondes
    • Convite à Filosofia, de Marilena Chaui


  2. Não tenha medo dos textos clássicos

    É através das obras clássicas que você consegue ter acesso à construção do pensamento filosófico que aborda questões fundamentais para este campo, como ética, política, metafísica e epistemologia.

    Os pensamentos de Sócrates, Platão e Aristóteles são parte de um bom trajeto de estudo da filosofia depois que você começa a se inteirar sobre o assunto.

    Platão:

    • O mito da caverna
    • Fedro
    • Críton


    Aristóteles:

    • Ética
    • Política
    • Retórica


    Vale lembrar que Sócrates não tem nenhuma obra escrita, foram Platão e Xenofonte que transcreveram suas ideias.

    Ademais, siga a nossa sugestão de ordem de leitura colocada anteriormente. Isso vai ajudar a otimizar a sua compreensão.

  3. Evite escolhas aleatórias ou baseadas no gosto pessoal

    A seleção de textos, cursos de filosofia e o direcionamento da aprendizagem devem levar em conta o encadeamento de ideias, a relevância filosófica e a qualidade do que é apresentado — e não apenas afinidade temática ou fama.

    Você pode ter como meta final saber mais sobre estoicismo, por exemplo, mas entender o caminho até ele vai te ajudar a ter mais entendimento sobre essa corrente.

  4. Sem pressa e com atenção

    A leitura filosófica deve ser crítica. E isso exige tempo, paciência e reflexão sobre cada ideia apresentada. Não queira aprender rápido, queira aprender verdadeiramente.

  5. Anote tudo

    Esteja sempre com alguma ferramenta que te permita anotar suas dúvidas e reflexões para não deixar escapar nenhum insight ou questionamento.

    Isso parece óbvio, mas, com a rotina complexa da sociedade contemporânea, podemos nos esquecer de que o registro é sempre uma oportunidade de revisitar e ter um novo olhar sobre aquilo que já vimos.

  6. Busque cursos de filosofia consolidados no mercado

    Você até pode começar a estudar por conta própria para ter uma ideia geral, mas a compreensão fica muito mais fácil e profunda quando você tem profissionais capacitados e uma estrutura sólida para te guiar nessa trajetória de conhecimento.

    Aqui na Casa do Saber temos mais de 90 cursos de filosofia para iniciantes até para quem já está em uma etapa mais avançada do estudo. Conheça alguns:



  7. Aplique a filosofia na sua vida

    No início deste texto nós falamos que estudar filosofia é conseguir transformar a sua vida.

    Então, a cada estudo, busque exemplos concretos de situações que você esteja vivendo ou observando. Isso ajuda a visualizar e aplicar os conceitos filosóficos que aprendeu na vida prática.

    Mais do que saber conteúdos, o objetivo é formar um pensamento crítico, reflexivo e fundamentado.




Melhores livros de filosofia: de iniciante até mais avançados

Uma boa leitura pode ser a chave para abrir sua mente para as grandes questões da humanidade.

Portanto, separamos uma lista das obras com os principais conceitos e ideias dos mais relevantes autores da filosofia, organizadas do mais acessível ao mais desafiador.

Apologia de Sócrates (Platão)

Capa do livro Apologia de Sócrates de Platão com imagem de Sócrates em tribunal

Diálogo de Platão fundamental para entender o nascimento da filosofia ocidental. É um texto mais simples, direto e apresenta Sócrates defendendo, não a sua vida carnal, mas sim a sua vida filosófica no julgamento que o levou à morte.

Ética a Nicômaco (Aristóteles)

Um dos textos mais essenciais sobre ética. Nele você vai compreender o conceito de virtude, vida virtuosa, além de como alcançar a felicidade - eudaimonia.

Meditações (Marco Aurélio)

O estoicismo está em alta e este texto traz reflexões filosóficas de Marco Aurélio.

Com uma leitura acessível e inspiradora, ele é excelente para começar entender sobre a corrente filosófica estoica e para quem quer encontrar um propósito de vida.

Confissões (Santo Agostinho)

Nesta autobiografia filosófica, Santo Agostinho une a razão, a fé e as inquietações sobre a existência humana. Ele relata a sua trajetória de vida até a conversão ao cristianismo.

Meditações Metafísicas (René Descartes)

Livro Meditações Metafísicas de René Descartes com retrato do autor na capa

Esta é uma obra mais clássica do racionalismo moderno, a partir dela você terá acesso a conceitos essenciais para entender a dúvida filosófica, o cogito e a relação entre mente e corpo.

Este texto apresenta uma leitura mais complexa. Porém, se você seguir a ordem de leitura desta lista, apesar de ser um desafio, você conseguirá entender os conceitos do racionalismo propostos por Descartes.

Ensaio sobre o Entendimento Humano (John Locke)

Um livro basilar sobre epistemologia. Nele, Locke explora as origens do conhecimento humano e a ideia de experiência como pilar do saber - experiência sensível. Esta obra é um ponto de referência para o empirismo.

Crítica da Razão Pura (Immanuel Kant)

Aqui o estudo começa a ficar mais sério. Com uma leitura mais densa e complexa, nesta obra, Kant busca redefinir os limites da razão pura (razão sem a experiência) e como ela impacta na construção do conhecimento.

Um desafio, porém agrega muito e é fundamental para quem quer se aprofundar na filosofia.

Assim Falou Zaratustra (Friedrich Nietzsche)

Capa do livro Assim Falou Zaratustra de Friedrich Nietzsche com ilustração do filósofo

Nietzsche escrevia suas ideias de forma diferente dos demais filósofos, gostava de discorrer poeticamente.

Neste romance, ele apresenta o conceito de “super-homem” ou “além-do-homem”. Na história, Zaratustra é um filósofo que sai das montanhas para questionar e fazer críticas à moral tradicional, propondo uma nova forma social.


O Existencialismo é um Humanismo (Jean-Paul Sartre)

Neste ensaio introdutório (indicado também para iniciantes) sobre o existencialismo, Sartre desenvolve a sua teoria de que essa corrente filosófica torna a vida humana possível porque ele é um ser livre capaz de formar a sua própria essência a partir de suas escolhas.

Vigiar e Punir (Michel Foucault)

Esta obra é uma crítica social e política sobre a relação de poder, disciplina e a sociedade moderna. Foucault faz uma análise da transição da punição pública para a vigilância constante.

Vigiar e Punir é um texto mais denso, com ideias complexas. Entretanto, se o aprendizado for bem estruturado e houver a orientação de bons profissionais, a leitura pode ser compreendida e muito aproveitável.

Conclusão

Estudar filosofia não é encontrar respostas prontas para as incertezas da vida, mas sim aprender a fazer as perguntas certas para conseguir compreender o mundo e a si mesmo.

Este é um caminho para se fazer a vida toda. Esgotar os conhecimentos de filosofia é impossível, porque quando questionamos, refletimos e pensamos criticamente estamos filosofando.

Cada leitura, cada ideia debatida, é uma oportunidade de enxergar o mundo e a si mesmo sob uma nova perspectiva e, com isso, perceber que tudo e todos são uma metamorfose ambulante. Permita-se duvidar, repensar e mudar de ideia.

Por isso, cultive a curiosidade. A filosofia nos ensina que compreender a vida é um processo e não um destino final. Quanto mais você abrir a sua mente, mais libertador será o percurso do conhecimento.

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Falar sobre saúde mental tem se tornado cada vez mais urgente na sociedade contemporânea. As relações familiares, amorosas e profissionais exigem de nós cada vez mais autoconhecimento e reflexão crítica sobre nossos limites, por isso, compreender o que é transtorno mental, saber como ele se manifesta e quais são os principais tipos, é fundamental para que possamos viver melhor, consigo mesmo e com o outro.

Neste artigo, você vai conhecer os principais grupos de transtornos mentais, classificados segundo os critérios diagnósticos do DSM-5-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e da CID-11 (Classificação Internacional de Doenças), com exemplos e sintomas comuns.

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O que é transtorno mental?

Um transtorno mental é uma condição psíquica que afeta de forma significativa o funcionamento emocional, comportamental e/ou cognitivo de uma pessoa, com impacto na sua vida social, familiar, profissional ou escolar.

Os fatores que levam a um transtorno mental são diversos, e podem incluir questões genéticas, sociais, ambientais, culturais, políticas e econômicas. Nesse sentido, as condições para um transtorno psíquico não estão ligadas a “fraquezas” ou escolhas pessoais, pois incluem fatores externos ao indivíduo como determinantes.

São diversos os grupos de transtornos mentais, e cada um apresenta características semelhantes em relação aos sintomas, duração, impacto funcional e causas. A seguir, iremos apresentar os principais grupos e suas características:


Transtornos de Ansiedade

Os transtornos de ansiedade tratam-se de um elevado nível de estresse psicológico que interfere de modo significativo na vida da pessoa. A ansiedade tem origem no medo e na sensação de estar vivendo uma situação perigosa, que necessita de uma resposta de luta ou fuga.

Os transtornos de ansiedade estão entre os transtornos mentais mais comuns no mundo. No Brasil, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 18 milhões de pessoas sofrem com ela. Embora a ansiedade seja uma emoção natural do ser humano, quando se torna excessiva e passa a gerar sofrimento, pode configurar um quadro clínico.

Entre os principais tipos de transtornos de ansiedade, estão:

  • Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)
  • Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
  • Transtorno de Pânico

Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)

O transtorno de ansiedade generalizada é caracterizado por preocupações excessivas e intensas em diversos aspectos da vida. A pessoa tende a se sentir preocupada e angustiada com uma certa facilidade, e tem dificuldade de controlar esses sentimentos. Há uma intensificação e catastrofização das sensações.

Os sintomas incluem tensão muscular, irritabilidade, taquicardia, fadiga e dificuldade para respirar. Além disso, há uma tendência para um esgotamento mental e necessidade de fuga.

A ansiedade tem sido frequentemente relacionada aos casos de Burnout - ou síndrome do esgotamento profissional - e usos excessivos de mídias sociais.

Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)

O TOC é caracterizado por pensamentos intrusivos (obsessões) e comportamentos repetitivos (compulsões) que a pessoa não consegue controlar.

Gestos como lavar as mãos inúmeras vezes, verificar dezenas de vezes se portas, janelas e fechaduras estão realmente trancadas, fazer contagens incessantes, repetir palavras, frases e números, e ter necessidade de reorganizar objetos constantemente, podem ser sintomas do TOC.

Transtorno de Pânico

O transtorno de pânico é caracterizado por crises repentinas e recorrentes de medo intenso, que surgem de forma inesperada, mesmo em contextos que não há uma ameaça real. Mais do que apenas “nervosismo”, o transtorno de pânico tem relação com o medo concreto de um ataque, que leva a pessoa a um estado constante de vigilância.

Os sintomas incluem taquicardia, sudorese, tremores, tontura e sensação iminente de morte.

Tratamento: Os tratamentos para os transtornos de ansiedade costumam envolver psicoterapia, especialmente abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que ajuda a identificar padrões de pensamento distorcidos e desenvolver estratégias de enfrentamento. Em alguns casos pode envolver indicação de medicamentos ansiolíticos ou antidepressivos, sempre sob prescrição médica.

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Transtornos de Humor

Também conhecidos como transtornos afetivos, esse grupo de transtornos inclui alterações persistentes no humor que envolvem períodos prolongados de tristeza excessiva (depressão), de euforia excessiva (mania) ou ambos.

Essa oscilação pode variar de acordo com o quadro, apresentando duração e intensidade diversas.

Entre os principais tipos, estão:

  • Depressão
  • Transtorno Bipolar

Depressão

A depressão é um transtorno de humor que provoca tristeza persistente, perda de interesse por atividades que antes gostava, cansaço excessivo, alterações de sono e apetite, sentimentos de culpa e inutilidade, além de possíveis pensamentos suicidas.

Essa condição afeta não apenas os pensamentos e sentimentos de uma pessoa, mas o humor e o comportamento, o que pode causar dificuldades significativas no cotidiano. A baixa auto-estima e o pessimismo também podem ser sintomas a se apresentarem de modo isolado ou somatizado.


Transtorno Bipolar

A bipolaridade, ou transtorno bipolar, é caracterizada por oscilações intensas de humor entre episódios de mania e depressão. Seus sintomas incluem a alteração entre uma euforia exagerada, o aumento de energia e autoestima, a falta de sono e o comportamento impulsivo (mania), e uma tristeza profunda, um cansaço extremo, somado a pensamentos negativos recorrentes (depressão).

De acordo com o DSM-5 e o CID-10, a bipolaridade pode ser classificada por:

Transtorno Bipolar I: episódios de mania intensos (com ou sem episódios depressivos);

Transtorno Bipolar II: episódios de depressão com episódios de hipomania (forma mais leve da mania);

Transtorno Ciclotímico: oscilações de humor menos intensas, mas persistentes, que duram dois anos ou mais;

Transtorno Bipolar misto: quando sintomas de mania e depressão ocorrem ao mesmo tempo ou se alternam rapidamente.

Tratamento: Os tratamentos para os transtornos de humor requerem uma abordagem terapêutica combinada, que inclui psicoterapia e, quando necessário, medicamentos como antidepressivos ou estabilizadores de humor.

Transtornos de Personalidade

Os transtornos de personalidade se referem a padrões rígidos e duradouros nos modos de pensar, sentir e se comportar, que se desviam das expectativas sociais e causam sofrimento.

Como o nome já aponta, a personalidade da pessoa tende a ser inflexível e rígida sobre situações, contextos e perspectivas, manifestando-se principalmente na vida adulta. Nesse sentido, pessoas com transtornos de personalidade podem ter dificuldades em manter relações, gerir e controlar suas emoções e impulsos, e lidar com situações difíceis.

Entre os principais tipos de transtornos de personalidade, está:

Borderline

O transtorno de personalidade Borderline - ou limítrofe - é marcado por instabilidade nas emoções, nos relacionamentos e na autoimagem. Pode gerar comportamentos impulsivos e medo intenso de abandono.

Neste transtorno, há uma hipersensibilidade nos sentimentos que faz com que a pessoa sinta tudo a sua volta de modo bastante intenso e, ao mesmo tempo, instável. Assim, tanto os sentimentos positivos quanto os negativos se manifestam de modo expressivo.

Entre os sintomas mais comuns, estão: oscilações extremas de humor que podem durar horas ou dias, impulsividade em áreas como alimentação, gastos, sexo ou álcool, sensação crônica de vazio, comportamentos autolesivos ou ideação suicida.

Tratamento: Os tratamentos para os transtornos de personalidade são centrados na psicoterapia de médio a longo prazo. Medicamentos podem ser utilizados para tratar sintomas específicos.



Transtornos de Neurodesenvolvimento

Os transtornos de neurodesenvolvimento são alterações dos processos iniciais de desenvolvimento neurológico que causam impacto na aquisição, relação ou produção de habilidades.

Essas alterações se dão na memória, na linguagem e na interação social, podendo interferir no cotidiano da pessoa.

Entre os principais transtornos de neurodesenvolvimento, destacam-se:

  • Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
  • Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

O TDAH é um transtorno caracterizado pelo comprometimento expressivo na atenção, concentração e no gerenciamento de atividades mentais. Os seus sintomas incluem o esquecimento de coisas importantes, a dificuldade de prestar atenção em detalhes, de seguir instruções e de concluir tarefas.

Pessoas com TDAH podem, com uma certa frequência, interromper a fala de outras pessoas, pois têm dificuldades de aguardar a sua vez. Além disso, podem falar excessivamente e apresentar uma certa inquietação no comportamento, tendo dificuldades com atividades que exigem esforço mental prolongado.

Os sinais de TDAH podem ser percebidos ainda na infância, mas atenção: um elevado nível de atividade pode ser completamente normal e ser apenas uma fase do temperamento infantil comum. Por isso, é fundamental avaliar em que fase da vida ocorre e se o nível de atividade está combinado com outros sinais, para que um diagnóstico não seja elaborado erroneamente.




Transtorno do Espectro Autista (TEA)

O TEA é um transtorno de neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na comunicação social e em padrões de comportamento repetitivos ou restritos. O espectro é amplo e varia de forma significativa entre os indivíduos, afetando o desenvolvimento motor, da linguagem e comportamental.

O TEA pode ser classificado em três tipos: autismo clássico, autismo de alto desempenho (também chamado de Síndrome de Asperger) ou distúrbio global do desenvolvimento sem outra especificação.

Entre os principais sintomas do TEA, destacam-se: atraso na fala, desinteresse em pessoas ou objetos ao redor, seletividade extrema em relação a cheiros, sabores e texturas, dificuldade para combinar palavras em frases ou repetir a mesma fala com frequência, além de uma expressiva sensibilidade visual e sonora.

Além disso, algumas pessoas com TEA podem manifestar sinais como impaciência, hiperatividade, déficit de atenção e aumento ou diminuição na resposta à dor.

Tratamento: Para os transtornos de neurodesenvolvimento, os tratamentos também são multifatoriais. Eles podem incluir medicação (como psicoestimulantes no caso do TDAH), apoio educacional e terapias ocupacionais (no caso do TEA), tendo o suporte psicossocial como indispensável.

Transtornos Psicóticos

Os Transtornos Psicóticos são transtornos que alteram as percepções e interpretações da realidade. Podem incluir delírios, alucinações e pensamentos desorganizados. Isso pode afetar a forma como a pessoa pensa, percebe o mundo, sente e se comporta.

As causas podem incluir fatores genéticos, alterações neuroquímicas, traumas, uso de substâncias ou complicações neurológicas. Em muitos casos, há uma interação entre predisposição biológica e fatores ambientais.

O tipo mais comum de transtorno psicótico, inclui:

Esquizofrenia

A esquizofrenia é um transtorno mental grave que envolve distorções no pensamento, nas percepções e na forma como a pessoa se relaciona com a realidade.

Os sintomas da esquizofrenia costumam ser divididos entre positivos e negativos. Os sintomas positivos referem-se a alucinações, delírios, pensamento desorganizado e comportamentos agitados, enquanto os sintomas negativos referem-se à apatia, isolamento social e falta de motivação e interesse.

Além disso, também ocorrem sintomas cognitivos, como a dificuldade de atenção, problemas de memória e comprometimento no julgamento e na tomada de decisões. A esquizofrenia geralmente se manifesta no final da adolescência ou início da idade adulta, podendo ter início gradual ou súbito.

Tratamento: Os tratamentos envolvem o uso de medicamentos antipsicóticos, que ajudam a reduzir os sintomas. A psicoterapia auxilia para o fortalecimento da autonomia e da capacidade de lidar com a realidade. Além disso, programas de reabilitação social são essenciais para a recuperação e para a elaboração de estratégias de reinserção comunitária.

Transtornos Alimentares

Os transtornos alimentares envolvem uma relação disfuncional com a alimentação e o corpo. Caracterizam-se por uma preocupação excessiva com o peso, a forma corporal e os hábitos alimentares, frequentemente associada a distorções de imagem - ou seja, a pessoa vê seu corpo de maneira distinta, sobretudo, negativamente.

Além dos sintomas físicos, esses transtornos denunciam questões emocionais profundas, como baixa autoestima, ansiedade, depressão e sensação de perda de controle.

Os principais tipos de transtornos alimentares são:

  • Anorexia
  • Bulimia

Anorexia

Na anorexia, a pessoa reduz drasticamente a ingestão de alimentos, de forma repentina ou progressiva. É comum haver medo intenso de engordar, mesmo quando o corpo já está abaixo do peso ideal.

Bulimia

A bulimia se caracteriza por episódios recorrentes de grande ingestão alimentar, seguidos de comportamentos compensatórios, como vômitos induzidos, uso de laxantes ou jejuns prolongados.

Tratamentos: Os tratamentos para os transtornos alimentares incluem uma abordagem multiprofissional. Psicoterapia individual e familiar e acompanhamento nutricional são fundamentais. Em alguns casos, pode ser necessário o uso de medicamentos para ansiedade, depressão ou compulsão alimentar.


Conclusão: Conhecimento e acolhimento sobre transtornos mentais são essenciais

Compreender os tipos de transtornos mentais é fundamental para promover cuidado, prevenção e acolhimento. Estar atento aos sinais, especialmente quando os sintomas persistem por mais de 6 meses, é um passo importante para buscar o suporte necessário.

Cabe mencionar que alguns sintomas podem fazer parte da experiência humana comum. No entanto, eles se tornam motivo de atenção quando passam a causar sofrimento ou prejudicar o cotidiano da pessoa.

Nesse caminho, a psicoterapia é uma ferramenta potente tanto para o diagnóstico quanto para o autoconhecimento. O suporte psiquiátrico também é importante, desde que a administração de medicamentos ocorra sempre com prescrição e acompanhamento médico.

É importante reforçar que nenhum diagnóstico define uma pessoa. Um transtorno é apenas uma parte da complexidade de um sujeito, que pode viver com mais qualidade e bem-estar quando conta com uma rede de apoio psicossocial.

Por fim, cuidar da saúde psíquica não deve ser uma responsabilidade apenas de quem tem algum transtorno mental, mas de todas as pessoas que buscam caminhos para uma vida mentalmente mais saudável.

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Referências

https://www.paho.org/pt/topicos/transtornos-mentais

A filosofia é um um campo do conhecimento que se desenvolve a cada dia a partir de reflexões dos principais filósofos sobre questões da vida, nossa interação com o mundo e com o outro.

Por isso, para você compreender melhor os conceitos e ideias, separamos para você neste texto os grandes nomes da filosofia.

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Sócrates – O filósofo do autoconhecimento

imagem de filósofo sócrates

Sócrates (470 - 399 a.C.) é um dos maiores filósofos da história. Foi ele quem deu início ao Período Antropológico da filosofia, quando levou os estudos desta ciência das questões naturais para o homem.

A partir de seu método, a maiêutica - que tem como princípio questionar o outro para que reconhecesse sua ignorância e encontrasse o conhecimento - desenvolveu suas principais contribuições sobre justiça, ética e virtude.

“Conhece-te a ti mesmo”

Com esta emblemática frase, ele enfatizava que o reconhecimento da ignorância era o primeiro passo para o conhecimento.

Sócrates foi acusado de desrespeitar as tradições religiosas e corromper a juventude, o que o levou a ser condenado à morte. Embora pudesse ter fugido ou ter se declarado culpado, ele aceitou a pena sendo fiel aos seus princípios: a verdade e a razão.

Apesar de não ter deixado obras escritas, seus pensamentos foram registrados por seus discípulos, principalmente, Platão.

Platão – O mundo das ideias

escultura de platão

Platão (427 - 348 a.C.) foi discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles e é um dos grandes nomes da filosofia.

Ele desenvolveu a Teoria das Ideias, que propõe a existência de um mundo de formas perfeitas e imutáveis (o mundo das ideias), e a realidade (o mundo sensível) é apenas uma cópia imperfeita. Também fundou a Academia de Atenas, considerada a primeira universidade do mundo ocidental.

Além disso, em "A República", sua principal obra, Platão discute sobre o que seria um governo ideal. Para ele, o governo deveria estar nas mãos dos filósofos, já que representam aqueles que estão mais próximos da verdade e da justiça.

Assim como seu mestre, Platão abordou temas como ética, política e a natureza da alma, influenciando profundamente o pensamento ocidental. Suas ideias continuam a ser estudadas e debatidas nos dias de hoje, reforçando sua relevância na filosofia.

Aristóteles – O pai da lógica e da ética prática

escultura do filósofo Aristóteles

Aristóteles (384–322 a.C.), discípulo de Platão e tutor de Alexandre, o Grande, é um dos grandes nomes da filosofia grega.

Diferentemente de seu mestre, ele valorizava a experiência empírica como fonte do conhecimento, sistematizando uma nova forma de pensar e influenciando diversas áreas do saber que dialogam com a filosofia, como:

  • Lógica
  • Ética
  • Política
  • Biologia
  • Retórica


Ele fundou Liceu (335 a.C.), sua escola em Atenas, onde desenvolveu suas ideias e uma nova forma inovadora de ensinar filosofia: caminhava pelos jardins da escola aristotélica enquanto seus discípulos o acompanhavam anotando suas falas.

Com sua abordagem analítica, desenvolveu o que ficou conhecido como Período Sistemático, que é marcado pela categorização e sistematização do conhecimento existente.

Ademais, Aristóteles trouxe o conceito de virtude e razão como o caminho para a felicidade - objetivo final da vida ética. Suas ideias e conceitos seguem sendo visitados e influenciando a nossa vida atualmente.

Santo Agostinho – Fé e razão na filosofia cristã

pintura retratando santo agostinho de hipona

Santo Agostinho de Hipona (354 - 430 d.C.) foi um dos principais filósofos da corrente filosófica patrística, responsável por criar uma base teológica para integrar o pensamento filosófico e o cristão na transição da Antiguidade e para a Idade Média.

Ele defendia que a filosofia grega, especialmente o platonismo, era capaz de fornecer meios que contribuíssem para a estrutura da doutrina cristã.

Além da construção da base para a formulação do cristianismo, Santo Agostinho filosofou sobre o tempo, que ele dizia saber o que é, mas que não podia explicá-lo, caso perguntado.

Também falou sobre livre-arbítrio, o bem e o mal. Defendia que a proximidade de Deus é o único caminho para o bem, enquanto o afastamento d'Ele representa o mal. Contudo, o livre-arbítrio foi concedido ao homem, permitindo escolher até mesmo o caminho do mal.

Em sua autobiografia "Confissões", relata sua trajetória até a conversão, abordando temas como pecado, maniqueísmo e hedonismo, tornando-se referência na literatura cristã até os dias atuais.


René Descartes – A razão como ponto de partida

pintura retratando rene descartes

René Descartes (1596–1650) é considerado o fundador do racionalismo moderno, movimento que influenciou fortemente o pensamento moderno e teve nomes de famosos filósofos como expoentes, como Francis Bacon e Thomas Hobbes.

Ele sistematizou um método que buscava uma certeza básica, livre dos questionamentos céticos, que fosse base para a fundamentação de uma nova teoria científica.

Sendo assim, este método precisava de diretrizes para que o procedimento fosse cumprido. Descartes formulou 4 regras para o pensamento lógico:

Regra Descrição
Regra da evidência Nunca aceitar algo como verdadeiro se não tiver certeza clara que realmente é verdadeiro.
Regra da análise Separar um problema em quantas partes forem necessárias para compreendê-lo melhor
Regra da síntese Organizar os pensamentos dos mais fáceis para os mais complexos de entender
Regra da enumeração Fazer uma lista e revisá-la com atenção para garantir que nada foi omitido


Segundo Descartes, conhecer a natureza e compreender o mundo só é possível quando acompanhado do autoconhecimento, da reflexão sobre quem somos enquanto sujeitos pensantes.

“Cogito ergo sum”

Cogito é a certeza do sujeito pensante como tal.


Immanuel Kant – A ética da razão pura

pintura retratando immanuel kant

Immanuel Kant (1724 - 1804) revolucionou a filosofia ao fundamentar a ética na razão pura, objetivando estabelecer os princípios universais e imutáveis da moral.

Para ele, as questões éticas pertencem à razão prática e não à razão teórica. Pois é na razão prática que agimos livremente segundo princípios morais; já na razão teórica, do conhecimento, estamos condicionados a nossa própria estrutura cognitiva.

Em sua obra Crítica da Razão Pura, Kant investigou os limites e as condições do conhecimento humano, propondo uma combinação da intuição sensível (sensibilidade) e dos conceitos e categorias (entendimento) para a compreensão da realidade.

De acordo com Kant, os princípios da razão prática são universais e defendem os nossos deveres, já que se aplicam a todos os indivíduos - ética do dever.

Para compreender melhor as ideias desenvolvidas por Kant sobre ética e filosofia moral, acesse o curso Os pensadores: Immanuel Kant em nossa plataforma.



Friedrich Nietzsche – A crítica à moral tradicional

fotografia de Friedrich Nietzsche

Friedrich Nietzsche (1844 - 1900) foi um filósofo que foi de encontro aos fundamentos da moral tradicional ocidental, especialmente a judaico-cristã, propondo uma reavaliação dos valores pré-estabelecidos.

Ele é considerado o fundador do niilismo, movimento que questiona os valores tradicionais da sociedade e a existência de um propósito de vida.

Segundo Nietzsche, a criação de novos valores baseados na afirmação da vida e na individualidade seriam o caminho para superar a crise social no ocidente.

Em seu livro Assim Falou Zaratustra, Nietzsche propõe o conceito de além-do-homem, que seria um ser capaz de criar seus próprios valores e viver de forma autêntica.

Ademais, também desenvolveu o conceito de eterno retorno, que diz respeito à ideia de que a vida se repete incessantemente, desafiando o indivíduo a viver da maneira que desejasse sem se prender à moralidade da sociedade - um modelo ideal para a humanidade.

Karl Marx – Filosofia e transformação social

fotografia de karl Marx

Karl Marx (1818 - 1883) desenvolveu uma forte crítica ao sistema capitalista, especialmente referente à alienação e à exploração do trabalhador, influenciando diretamente os sistemas políticos e econômicos da época.

Uma de suas obras mais significativas é O Capital, na qual ele faz uma análise do funcionamento da economia capitalista apresentando a lógica do lucro como causadora da desigualdade e intensificadora da opressão.

O ponto central do trabalho de Marx é o trabalho. De acordo com sua filosofia, o capitalismo transforma o trabalhador em instrumento de produção, desconsiderando sua humanidade. Com isso, tem-se a alienação social que ocorre em várias dimensões: do produto, do processo de trabalho, da essência humana e do outro.

Então, seria a luta de classes, segundo ele, o motor da história e também o elemento capaz de superar o capitalismo e alcançar uma sociedade mais igual por meio da revolução proletária.

Jean-Paul Sartre – O existencialismo e a liberdade radical

fotografia de Jean Paul Sartre

Jean-Paul Sartre (1905 - 1980) é considerado um dos principais filósofos do existencialismo, juntamente com Albert Camus. A ideia central de sua filosofia é a liberdade do homem.

Ele propõe que a “existência precede a essência”, ou seja, o ser humano não possui uma essência pré-determinada, ele é livre para construir sua própria identidade por meio de escolhas e ações - o reconhecimento da liberdade.

Em 1943, Sartre explora o reconhecimento da liberdade do indivíduo e a responsabilidade que vem junto com ela, gerando a sensação de angústia existencial como consequência dessa liberdade.

Embora tenha se aproximado do marxismo, ao inserir o homem na realidade social e na alienação da consciência, ele manteve uma postura crítica conciliando a liberdade individual com as estruturas sociais.

Simone de Beauvoir – Filosofia da liberdade e do feminino

fotografia de Simone de Beauvoir

Simone de Beauvoir (1908 - 1986) foi uma filósofa influente no século XX e fundamental no desenvolvimento do pensamento feminista e na filosofia existencialista.

Sua obra mais importante foi O Segundo Sexo, onde examina a construção social da mulher, desafiando as concepções tradicionais que limitavam o comportamento feminino à biologia.

Uma de suas frases mais marcantes é "ninguém nasce mulher, torna-se mulher" que resume sua tese de que a identidade feminina é moldada por fatores históricos e culturais, e não por uma essência natural.


Simone de Beauvoir não só influenciou como também foi influenciada pelos princípios do existencialismo, especialmente pela ideia de que "a existência precede a essência".

A partir disso ela argumenta que as mulheres devem assumir a responsabilidade por sua liberdade e se libertar das imposições patriarcais.

Filósofos contemporâneos

A filosofia contemporânea surge a partir da crise do pensamento moderno no século XIX e ainda permanece até os dias atuais, o que pode tornar mais difícil o processo de enxergar suas características.

Contudo, esta filosofia busca fundamentar o conhecimento e as teorias científicas através da análise da subjetividade e da estrutura cognitiva do indivíduo, recebendo influência do racionalismo e empirismo.

Conheça alguns dos principais filósofos contemporâneos:

Michel Foucault

Ele fazia uma forte crítica ao poder e formulou a ideia de microfísica do poder, onde falava sobre como as relações de poder tentam docilizar as pessoas através da disciplina.

Para Foucault, as instituições moldam comportamentos e regras da sociedade, além do conhecimento estar sempre ligado ao controle e à hierarquia social.

Judith Butler

Judith Butler revolucionou o estudo de gênero ao apontar que a identidade de gênero é socialmente construída, não uma essência fixa. Ela propôs que a repetição de atos de gênero cria e fortalece as identidades, desafiando normas tradicionais.

Byung-Chul Han

Byung-Chul Han pesquisa a “Sociedade do cansaço” , a busca incessante pela produtividade e desempenho da sociedade contemporânea, a partir de uma crítica ao neoliberalismo, leva ao esgotamento e a doenças neuronais, como depressão e burnout.

Filósofos brasileiros

Apesar de o Brasil não ter uma longa tradição dentro da filosofia, alguns filósofos brasileiros estão se fazendo pertinentes e populares quanto aos estudos deste campo de saber.

Um dos principais nomes nacionais é Marilena Chaui que, influenciada e especialista na obra de Spinoza, explora temas como a filosofia política e a democracia como garantia de direitos.

Também temos Clóvis de Barros Filho, reconhecido por tornar a filosofia acessível e democratizar o pensamento filosófico na sociedade. Além de Renato Noguera que aborda a filosofia africana e a decolonialidade.


Por que estudar os principais filósofos?

A busca pelo conhecimento é de grande valia em qualquer campo. Porém, na filosofia, esse aprendizado te ajuda a compreender melhor o mundo, a sociedade e a si mesmo.

A principal proposta deste texto foi convidar você para refletir sobre as ideias dos principais filósofos e começar a busca pelo conhecimento e se preparar para enfrentar as complexidades da vida e agir com maior responsabilidade e racionalidade.

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Referências:

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 12. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.

RODRIGUES, Carla. Judith Butler. Blogs de Ciência da Universidade Estadual de Campinas: Mulheres na Filosofia, v. 6, n. 3, p. 99–113, 2020.

As correntes filosóficas são escolas ou linhas de pensamento que apresentam perspectivas semelhantes sobre questões fundamentais da filosofia, como a natureza da realidade, do conhecimento, da ética.

Cada corrente filosófica busca entender e responder a essas questões a partir de características comuns, muitas vezes modificando ideias de outras correntes.

Neste texto, você vai conhecer as principais correntes filosóficas e ter acesso a diferentes interpretações sobre o mundo e o ser humano.



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Correntes filosóficas da antiguidade à modernidade

As correntes filosóficas da antiguidade, como estoicismo, epicurismo e ceticismo, desenvolveram-se durante o período helenístico.

O pensamento do helenismo é o pensamento de escola, ou seja, aquele que valoriza, mais do que a originalidade, a vinculação do indivíduo a uma corrente filosófica.

Uma característica comum das três principais escolas da antiguidade é a busca pela felicidade através da tranquilidade e da imperturbabilidade.

Estoicismo

Fundada por Zenão de Cítio, o estoicismo recebeu este nome em referência ao local que os membros da escola se reuniram, o stoa poikilé (“pórtico pintado”).

O estoicismo compreende a filosofia de forma sistemática e dividida em três partes fundamentais: física, lógica e ética — explicadas através da metáfora da árvore.


Metáfora da Árvore - Estoicismo / Imagem produzida pela autora


Na metáfora da árvore, a ética é a mais relevante porque representa os frutos da árvore do saber que podemos colher, mas não podemos tê-los sem o tronco (lógica) e sem a raiz (física).

Segundo os estoicos, a felicidade - que consiste na tranquilidade ou na ausência de perturbação - surge da harmonia com o cosmos. Como parte da natureza, o homem deve agir com ética para assegurar a felicidade.

Portanto, a boa ação (ação ética) é aquela pautada nos princípios da natureza. As quatro virtudes, que são consideradas o objetivo principal da vida, são:

  • Inteligência/Sabedoria: conhecimento do bem e do mal
  • Coragem: conhecimento do que temer ou não temer
  • Justiça: conhecimento de dar a cada um o que lhe é devido
  • Temperança: conhecimento do que moderar ou não moderar


Para a escola estoica, o homem deve agir de acordo com os princípios éticos, porém também deve aceitar as consequências de suas atitudes - determinismo ético.

Principais nomes do estoicismo:

  • Sêneca
  • Epicteto
  • Marco Aurélio
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Epicurismo

Fundado por Epicuro, em 306 a.C., a escola fundamenta sua filosofia na valorização da experiência imediata, introduzindo o conceito de prolepsis (pré-noção), que é a preservação dos elementos da experiência, que funcionam como fundamentos para a aquisição de conhecimentos futuros.

Assim como o estoicismo, o epicurismo também tinha como princípio básico a felicidade através da tranquilidade e da imperturbabilidade. Entretanto, o ponto de discordância das duas escolas estava na forma de se chegar à felicidade.

O homem, para os epicuristas, agia de forma ética ao dar vazão aos desejos e necessidades naturais de maneira equilibrada e moderada, valorizando a inteligência prática e dizendo não ter conflito entre razão e paixão.

A partir da ideia do prazer como algo natural e que a realização de nossos desejos naturais como algo positivo fez com que os epicuristas fossem rotulados como aqueles que se entregam a uma vida de prazer.

Esta corrente filosófica abriu espaço para o surgimento do humanismo, quando foi retomada na época do Renascimento.

Os principais autores da escola epicurista:

  • Filodemo de Gadara
  • Tito Lucrécio



Ceticismo

Apesar de ser um termo conhecido, o ceticismo não é uma única coisa, existem vários entendimentos do que é ceticismo.

A tradição cética foi se formando gradualmente a partir da reunião e reelaboração de práticas e ideias já pré-existentes.

Da mesma forma que o estoicismo e o epicurismo, o ceticismo também se preocupa com a ética. Para essa escola, é a partir dela que se consegue atingir a imperturbabilidade para, enfim, alcançar a felicidade.

Alguns dos caminhos do ceticismo são:

  • Protoceticismo:
  • Ceticismo
  • Ceticismo acadêmico
  • Pirronismo



Pirro é colocado como o iniciador do ceticismo e, assim como Sócrates, acreditava que a filosofia era uma atitude, uma prática.

Os céticos questionam a possibilidade de se colocar uma verdade que seja imune ao questionamento. Sendo assim, a noção de époche (suspensão do juízo) é colocada como ponto central da estratégia cética.

O ceticismo é um procedimento no qual os filósofos, ao não chegarem a um acordo de ideias, acabaram se deparando com várias teorias que não só eram conflituosas como excludentes.

Portanto, como não há uma determinação sobre qual teoria é a verdadeira, diz-se que o cético suspende o juízo diante de qualquer afirmação, livrando-se, portanto, das inquietações.

Principais filósofos do ceticismo:

  • Pirro
  • Carnéades
  • Sexto Empírico


🤔 Você sabia?

Apesar de alguns estudiosos argumentarem que “filosofia oriental” não existe, já que a filosofia, como método racional e sistemático, teria surgido na Grécia, no oriente haviam alguns pensamentos sobre a existência do homem e a vida.

Algumas tradições como o budismo e o hinduísmo propunham reflexões profundas sobre questões debatidas pela filosofia. Mesmo diferentes, ambas compartilham a busca por sentido e sabedoria. Para saber mais, clique aqui.



Escolas socráticas

É importante destacar que as escolas socráticas, como a Academia de Platão e Liceu de Aristóteles, buscaram inspiração em Sócrates, orientando seus pensamentos para o homem a partir do método de valorização da ética e a sabedoria como bem maior do homem.

Correntes filosóficas modernas e iluministas

A filosofia moderna está mais próxima dos nossos tempos, o que pode torná-la mais fácil de ser compreendida.

Entretanto, isso pode fazer com que seja mais difícil caracterizar seus elementos principais por estar mais próximo da nossa realidade.

Duas ideias fundamentais da modernidade são: a valorização do indivíduo e o progresso.

Racionalismo

Embora a razão já fosse debatida desde a Grécia Antiga, René Descartes é considerado o pai do racionalismo porque sistematizou o uso da razão como método do pensamento filosófico.

O racionalismo defende que a razão é a principal fonte do conhecimento verdadeiro, sendo mais confiável que os sentidos ou a experiência sensorial.

As principais características do racionalismo são:

  • Crença em ideias inatas (ideias presentes desde o nascimento)

  • Defesa da razão como principal fonte do conhecimento

  • Demonstração lógica como caminho de validação das ideias


Os racionalistas defendem que certas ideias (inatas) já nascem com o ser humano e que, por meio do raciocínio lógico é que se encontra as verdades universais, sem cair nos desvios da experiência sensorial.

Para os filósofos que seguem essa escola, o mundo verdadeiro não é aquele recebido pelos sentidos, mas, sim, aquele que pode ser descrito através de conclusões racionais.

Principais filósofos do racionalismo:



Empirismo

Empirismo vem do grego empeiria que significa “experiência”. Diferentemente dos racionalistas, os filósofos dessa escola acreditam que todo o conhecimento é resultado de experiências e impressões sensoriais.

Desenvolvido no mesmo período do racionalismo, seu desenvolvimento deu-se a partir da intensa atividade comercial da época.

A corrente filosófica do empirismo valorizava a experiência humana e a percepção de realidade que construímos a partir das percepções, sendo contrária a metafísica e especulativa.

Seu caráter empírico de pensamento influenciou a ciência experimental do período, que teve grandes marcos, como a descoberta da gravidade, com Isaac Newton; e a descoberta da lei de Boyle, por Robert Boyle, que estabeleceu a relação inversa entre pressão e volume de um gás.

Principais filósofos do empirismo:



Idealismo

O idealismo é uma escola filosófica que defende que não existe outro ser além do pensante.

Para esta escola, nós só temos acesso à realidade através das ideias, que são representações mentais das coisas. Desta forma, nós temos acesso não aos objetos materiais, mas às ideias que temos deles.

Immanuel Kant é considerado o pai desta corrente filosófica porque foi ele quem sistematizou o pensamento moderno de idealismo.

Segundo a teoria kantiana, o conhecimento é resultado da combinação racional da sensibilidade (intuições de espaço e tempo) e entendimento (que aplica categorias ao que é intuído). Essas duas faculdades juntas são capazes de constituir a experiência cognitiva.

Essa escola filosófica propôs um modelo que buscasse o conhecimento de forma legítima, superando as dificuldades e impasses que o empirismo (ceticismo sobre o conhecimento universal) e o racionalismo (confiança na razão pura) enfrentaram na época.


Correntes filosóficas contemporâneas

A filosofia contemporânea resulta da crise do pensamento moderno no século XIX. Ainda é difícil trazer conceitos chave ou caracterizá-la porque estamos temporalmente muito próximos a ela.

Contudo, o questionamento central ao modernismo na contemporaneidade é contra a noção de subjetividade nas fundamentações teóricas feitas pelo racionalismo e pelo empirismo.

Alguns pontos de transformação deste período são: a razão como explicação universal, a valorização da linguagem e uma nova perspectiva do “eu”.



Existencialismo

Fundado por Jean-Paul Sartre, foi uma das correntes filosóficas mais relevantes do pensamento francês pós Segunda Guerra Mundial, trazendo luz aos questionamentos sobre o sentido da vida.

O existencialismo influenciou a filosofia, a literatura, as artes em geral, conseguindo expandir sua influência para além do meio acadêmico, chegando a um público mais amplo.

De acordo com os existencialistas, a liberdade e a autenticidade são elementos fundamentais da existência humana, colocando o homem como um ser autoconsciente.

Entretanto, a angústia, muito presente e discutida por esta filosofia, não é vista de forma negativa, mas como uma reveladora da responsabilidade frente à liberdade.

Alguns dos principais filósofos existencialistas, além de Sartre:

  • Soren Kierkegaard
  • Karl Jaspers
  • Gabriel Marcel


Marxismo

A filosofia proposta por Karl Marx teve influência desde o final do século XIX até os dias de hoje nos planos teórico, econômico e político.

Antes de tudo, é importante apontar que existem diferenças entre a doutrina política desenvolvida a partir do pensamento de Marx e o desenvolvimento filosófico do marxismo.

A corrente filosófica chamada marxismo propõe uma análise crítica da sociedade capitalista, que entende que é a partir das condições materiais e históricas que se molda a sociedade.

Ela propõe a compreensão da estrutura econômica e social como base para uma transformação revolucionária, através da luta de classes, visando superar as desigualdades e construir uma sociedade sem classes sociais.

Existem diferentes linhas do pensamento filosófico marxista que tem como principais personalidades:

  • Lênin
  • Georg Lukács
  • Louis Althusser


Positivismo

Auguste Comte utilizou o termo positivismo para dar nome à sua corrente filosófica, fundamentada na ideia de que o conhecimento verdadeiro só pode ser alcançado a partir da experiência empírica sistemática e da observação dos fenômenos.

Para os positivistas, é a partir da observação, da experimentação e da verificação empírica que se alcança o progresso contínuo e confiável do conhecimento humano, que constitui o método objetivo, segundo Comte.

De forma geral, o positivismo é uma filosofia que valoriza a ciência, colocando-a como principal guia para a vida individual e para a organização da sociedade.

Principais pensadores do positivismo:

  • Auguste Comte
  • John Stuart Mill




Comparações entre algumas correntes

Para esclarecer ainda mais, veja comparações possíveis com semelhanças e diferenças entre as correntes filosóficas discutidas neste texto na tabela abaixo:

Corrente Filosófica Ideia Principal Fonte do Saber Elemento-Chave
Racionalismo Conhecimento vem da razão e da lógica Razão Ideias inatas
Empirismo Conhecimento vem da experiência sensorial Experiência Ideias adquiridas
Existencialismo A existência precede a essência Experiência pessoal Liberdade e autenticidade
Positivismo Ciência como única forma de conhecimento Ciência Crença no conhecimento científico
Epicurismo Felicidade como resultado do prazer Experiência pessoal Prazer moderado
Estoicismo Felicidade como fruto da virtude e da razão Razão e virtude Tranquilidade e felicidade



Por que conhecer diferentes correntes filosóficas?

Conhecer diferentes correntes filosóficas é fundamental para ampliar a compreensão sobre a nossa existência, a realidade e o saber.

Cada uma das linhas de pensamento filosófico oferece um caminho para interpretar o mundo e pensar de forma crítica para desenvolvermos nossas próprias opiniões.

Filosofia é mais que teoria, ela é uma ferramenta para entender a complexidade da vida e nos posicionar de forma mais consciente diante das escolhas, dúvidas e relações que atravessam nossa existência.

Neste texto,talvez, você tenha tido um primeiro contato com diversas escolas filosóficas e agora já pode começar a refletir sobre quais dialogam mais com sua experiência e maneira de ver o mundo.

Mergulhe no universo das diferentes correntes filosóficas e se permita construir mais conhecimento. Aqui na Casa do Saber, você encontra diversos cursos e conteúdos que podem te ajudar a conhecer mais profundamente a si mesmo, a vida e ampliar seus horizontes.

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Referências

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein.

RIBEIRO, João. O que é Positivismo.

UOL Educação. Positivismo: ordem, progresso e a ciência como religião da humanidade.

A origem da filosofia se deu pelo fato do ser humano se incomodar com a ideia da dúvida, com a ausência de resposta e com a “não-resposta“.

E essa inquietação sobre os aspectos fundamentais da nossa vida é que deu origem a uma das mais antigas e fundamentais ciências.

Este texto é para quem sente esse incômodo e quer conhecer a origem da filosofia, como se deu seu nascimento, os principais filósofos e conceitos, além de descobrir por que entender esse caminho pode mudar a sua forma de ver o mundo.

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A origem da Filosofia: quando e por que começamos a filosofar?

O que faz alguém deixar de contar histórias mitológicas e começar a questionar racionalmente a realidade?

Ao se perguntar “o que é…?” ou “por quê…” é que se dá o primeiro passo rumo a um caminho sem volta: o da busca pelo conhecimento. Mas, afinal, qual foi o impulso filosófico responsável pela origem da filosofia?

Spoiler: a indignação com as explicações que já não respondiam aos questionamentos da vida.

No século VI a.C., Tales de Mileto não aceitou as explicações sobrenaturais para a origem do mundo. Cem anos depois, Sócrates foi sentenciado à morte defendendo seus princípios e valores, quando foi acusado de desrespeito às tradições religiosas e por corrupção da juventude.

Então, por que começamos a filosofar? Para ir ao encontro do conhecimento e aprendermos a pensar racionalmente em busca de respostas que façam sentido para nós no momento que vivemos.

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O contexto da Grécia Antiga: berço da filosofia

A filosofia surgiu na Grécia por volta do século VI a.C. com Tales de Mileto. Ele foi o primeiro homem da história a filosofar, quando questionou as explicações mítico-religiosas para as coisas que aconteciam no mundo.

Acreditar no que estava posto já não era mais uma opção ao perceber que a vida era muito mais complexa. E foi a partir da racionalização dos acontecimentos e de uma nova perspectiva para a explicação da nossa existência que a filosofia começou a se formar.

A filosofia tem uma data de origem, um criador, um local de nascimento e uma proposta de existência. E muito do que somos e pensamos hoje advém da primeira inquietação de Tales de Mileto.

Ainda no mundo pré-filosófico, a mitologia coordenava as relações humanas e estabelecia princípios para essa engrenagem, além de explicar fenômenos naturais.

Tal era a força da crença daquela sociedade, que os grandes autores da época, como Homero (Ilíada) e Hesíodo (O trabalho e os dias), eram considerados pessoas que tinham um contato mais próximo com divindades.

Dessa forma, acreditava-se que os deuses ou as musas sussurravam nos ouvidos dos poetas influenciando-os a produzir as suas obras. Portanto, o que eles escreviam não era fruto da criatividade humana e, sim, um produto divino.

Os cultos e rituais religiosos eram tão fortes socialmente na Grécia antiga que influenciaram, por exemplo, a escola de Pitágoras e o pitagorismo, que vieram tempos depois da filosofia já fazer parte daquela sociedade.

Nas transações mercantis havia, além das trocas comerciais, trocas culturais. Com isso, o contato com outras sociedades, novos conhecimentos, tradições mitológicas, acabou enfraquecendo a crença absoluta e incontestável nos mitos.

Ainda que diversos fatores tenham propiciado o surgimento da filosofia na Grécia antiga, o principal fator foi o advento da polis.

Com a decadência de uma civilização baseada na monarquia divina, começaram a surgir as cidades-Estado, nas quais havia uma participação mais ativa dos cidadãos na política.

Todo esse cenário possibilitou que começasse a surgir uma insatisfação com as explicações dadas pelo pensamento mítico.

Apesar da filosofia representar uma ruptura radical com o pensamento mítico, este foi um processo gradual de transformação da sociedade grega que permitiu o surgimento do pensamento filosófico-científico.

Do mito ao logos: o nascimento de um novo modo de pensar

Como dito anteriormente, antes do surgimento da filosofia, o mundo era explicado por mitos e, quando essas explicações não eram mais suficientes para sanar a curiosidade do homem, a tentativa de entender a vida racionalmente passou a guiar a busca pelas respostas.

E foi a filosofia a responsável por essa transição do mito ao logos.

Diferença entre mitologia e filosofia

Primeiro vamos compreender o que é mitologia. O termo Mythos, do grego, é a origem etimológica de mito e significa narrativas com um discurso imaginário, tido muitas vezes como sinônimo de “mentira”.

Portanto, a mitologia é um conjunto desses mitos. São as narrativas fictícias com elementos místicos e sobrenaturais, utilizadas para explicar o mundo e a realidade de forma simbólica - pensamento mitológico.

Já a filosofia é baseada no pensamento racional, que por sua vez fundamenta-se no uso da razão, da lógica e da observação crítica para compreender a vida e seus fenômenos.

O pensamento racional surgiu a partir de pensadores que questionaram as explicações míticas e buscavam respostas mais racionais.


Os primeiros filósofos: os pré-socráticos e a busca pelo princípio (arché)

A principal contribuição dos primeiros filósofos gregos deu-se a partir de tentativas iniciais de explicar a realidade. Com isso, desenvolveu-se os conceitos básicos das teorias da natureza.

Os filósofos pré-socráticos são aqueles que vieram antes de Sócrates (470-399 a. C), portanto, os primeiros filósofos.

Apesar de muito ter sido perdido, através de alguns fragmentos e citações de filósofos posteriores, é possível conhecer o pensamento pré-socrático.

Aristóteles, em Metafísica (1-4), e Diógenes de Laércio (I, 14-5) apontaram uma divisão deste período em duas grandes correntes: escola jônica e escola italiana.

Escola jônica: interesse sobre as teorias sobre a natureza (physis).

Conheça alguns dos principais filósofos jônicos:

Tales de Mileto

Aristóteles, em Metafísica, aponta que Tales foi ponto de partida para a criação da filosofia no século VI a. C. Ele foi o primeiro a buscar uma visão de mundo que não fosse mítica, o que o fez ser considerado o primeiro filósofo.

Tales investigava qual era a origem da natureza e colocou como elemento primordial (arqué) a água. Além disso, estimulava seus discípulos a refletirem e encontrarem diferentes princípios explicativos para a origem das coisas.

🔎 Entenda o que é Arqué

Arqué ou (arché) é um termo da filosofia que significa princípio, origem ou elemento fundamental de todas as coisas. Os filósofos pré-socrático buscavam compreender a origem da natureza, e cada pensador tinha uma ideia diferente do que seria este princípio universal.

A definição de arqué foi fundamental porque foi uma tentativa de apresentar uma explicação da realidade a partir de um princípio básico.


Anaximandro

Ele foi o principal discípulo de Tales de Mileto e propôs o ápeiron (o indeterminado) como princípio primeiro, utilizando a noção de arqué.

Seu grande diferencial foi trazer uma nova noção de arqué que não se baseava nos elementos tradicionais, propondo uma explicação mais abstrata para a origem da natureza.

Escola italiana: explicação mais naturalista da realidade.

Veja quais foram alguns dos principais filósofos dessa escola:

Pitágoras

Pitágoras foi o fundador dessa escola que mesclava pensamentos filosóficos com a manutenção de alguns elementos mítico-religiosos.

Com uma postura semirreligiosa e iniciática, a doutrina central girava em torno do número como elemento básico explicativo da realidade, sendo ele a justificativa para a harmonia cósmica.

Heráclito de Éfeso, o Obscuro:

Recebeu esta alcunha devido à complexidade de seus pensamentos que diziam que a realidade natural se caracterizava pelo movimento, estando todas as coisas em fluxo.

“Não podemos entrar no mesmo rio, porque o rio não é mais o mesmo “

Esta famosa frase de Heráclito de Éfeso representa a ideia de fluxo da realidade, onde o rio seria o movimento de todas as coisas.

Parmênides

Parmênides defendia a doutrina da existência de uma realidade única. Foi ele quem introduziu a ideia de distinção entre realidade e aparência.

Diferentemente de Heráclito, ele dizia que o movimento é apenas aparente, um aspecto superficial das coisas. Para ele, era necessário buscar aquilo que permanecia o mesmo na mudança, isso permitiria identificar a coisa.

“É o mesmo: o ser é o pensar”

Nesta frase, Parmênides diz que a racionalidade real e a razão humana pertencem à mesma natureza, permitindo ao homem pensar o ser.


Sócrates e a virada antropológica

Sócrates é tomado como um marco na história da filosofia porque trouxe uma nova problemática para a discussão filosófica: questões ético-políticas. Ou seja, questões relacionadas ao homem.

É relevante trazer a informação que, por Sócrates ter todo o seu pensamento transmitido por meio do ensinamento oral, todos os registros de sua filosofia foram feitos por seus seguidores, sendo o principal, Platão.

Antes de tudo, para entender o que foi a virada antropológica proposta por Sócrates, vamos entender o que é cosmos e logos.

Cosmos

Cosmos vem do grego Kosmos que se refere diretamente às ideias de harmonia. Na filosofia, cosmos diz respeito à realidade ordenada.

A busca por entender o universo em sua totalidade a partir das leis naturais e estrutura do universo era uma forma de explicar teoricamente o real.

Sendo assim, surgiu o termo cosmologia para se referir à explicação dos processos e fenômenos naturais, como teoria geral sobre a natureza e o funcionamento do universo.

Logos

Logos significa, literalmente, discurso, porém vinculado a uma ideia racional, diferente da narrativa mitológica. Ele utiliza de explicações justificadas sujeitas à crítica e à discussão para que se tenha um discurso racional sobre o real.

A filosofia socrática parte do questionamento do comum, de certezas que temos, porém que são incompletas ou parciais.

Sócrates tinha um interesse profundo pela problemática ético-política. O homem, enquanto cidadão da polis, passou a se organizar politicamente no sistema conhecido hoje como democracia.

Foi a partir deste olhar para o homem que ele passou a investigar questões relacionadas à virtude, à justiça e ao papel do cidadão dentro da polis.

E é a reflexão filosófica sobre o homem e a sociedade que leva a compreensão de que não se sabe o que se acha que se sabe.

Sendo assim, o método socrático aponta as fragilidades e a possibilidade de aperfeiçoamento das coisas por meio da reflexão individual.

“Só sei que nada sei”

Essa frase de Sócrates aponta que o reconhecimento da ignorância é o princípio da sabedoria.

Desta forma, o ponto de virada antropológico de Sócrates está no fato de que ele não buscava explicações sobre a origem do universo (cosmos). O seu interesse estava em questionar o comum, as certezas que já estavam postas, mas que eram incompletas. E era através da filosofia que se achava a compreensão daquilo que não se sabia.


Conclusão: por que voltar à origem da filosofia importa?

Além da obviedade de entender como a filosofia ocidental influenciou a sociedade em que vivemos hoje, estudar filosofia é mais do que saber nomes, datas ou conceitos filosóficos importantes para a história.

A filosofia surgiu como um mapa que mostra os caminhos para nós aprendermos a questionar, analisar, observar e refletir sobre a realidade de forma racional.

No final, ela nos ensina a pensar criticamente. É um convite para que estejamos abertos e sejamos capazes de enxergar o mundo e nós mesmos com mais clareza, ampliando os horizontes e despertando cada vez mais o desejo por conhecimento e estimulando mais perguntas.

Caso você queira mergulhar ainda mais fundo na filosofia, conheça nosso guia completo para estudar online e descubra como estudar online e expandir seu pensamento.

Esperamos que este texto tenha contribuído para ampliar sua compreensão sobre a origem da filosofia, os grandes primeiros filósofos gregos e o pensamento filosófico que até hoje influencia a maneira como entendemos o mundo, questionamos a realidade e buscamos sentido para a existência.

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Referências

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 12. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.

Você já percebeu como, diante de situações difíceis, tendemos a reagir de forma inesperada? Para a psicanálise, comportamentos como negação, culpabilização ou projeção podem ser expressões da atuação dos mecanismos de defesa do ego.

Os mecanismos de defesa do ego são processos inconscientes utilizados pelo ego para lidar com conflitos internos, angústias e desejos incompatíveis com a realidade ou com os princípios morais. Esses mecanismos têm a função de proteger o indivíduo contra sentimentos potencialmente dolorosos, ao evitar o acesso direto à conteúdos psíquicos percebidos como ameaçadores.

A denominação foi inicialmente formulada por Sigmund Freud, o pai da psicanálise, e posteriormente sistematizado e ampliado por sua filha, Anna Freud, especialmente na obra “O Ego e os Mecanismos de Defesa” (1936).

Esses mecanismos são parte essencial da estrutura psíquica, composta por id, ego e superego, e ajudam a manter o equilíbrio psíquico frente às demandas do inconsciente e da realidade externa.

Neste texto, iremos explorar os principais mecanismos de defesa do ego, explicando como eles operam no inconsciente e apresentando os seus exemplos práticos.

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Repressão ou recalque

A repressão ou recalque é considerada um dos mecanismos de defesa mais fundamentais. Trata-se do processo de empurrar para o inconsciente desejos, pensamentos, lembranças ou impulsos considerados inaceitáveis ou ameaçadores para o ego.

Mas como eles funcionam no inconsciente? Bem, os conteúdos reprimidos não desaparecem, mas permanecem ativos no inconsciente, podendo retornar de maneira distorcida, como em sonhos, atos falhos ou fantasias. A repressão exige um gasto constante de energia psíquica para manter os conteúdos afastados da consciência.

Exemplo: uma pessoa que sofreu um abuso na infância pode não se lembrar do fato conscientemente, mas pode desenvolver sintomas de ansiedade, fobias ou dificuldades de relacionamento que indiquem a persistência de um trauma reprimido ou recalcado.


Negação

A negação é o mecanismo pelo qual o sujeito se recusa a reconhecer aspectos dolorosos da realidade ou de si mesmo. Em outras palavras, para evitar entrar em choque ou sofrer diante uma situação dolorosa, o indivíduo entra em negação diante o acontecimento. Esse comportamento é comum em momentos de perda, trauma ou choque emocional.

No inconsciente, o ego tenta evitar o sofrimento imediato que o reconhecimento dessa realidade traria. Nesse sentido, trata-se de uma defesa primitiva, na qual muitas vezes só é identificada quando se sofre as consequências de permanecer em negação por muito tempo.

Em vez de perceber a impressão dolorosa e, subsequentemente, cancelá-la mediante a retirada do respectivo investimento, está ao alcance do ego recusar o encontro, pura e simplesmente, com a situação perigosa externa. Pode fugir-lhe e, assim, no mais verdadeiro sentido da palavra, “evitar” as ocasiões de dor” (Freud, 1936/2006, p. 71).

Exemplo: uma pessoa que perde um ente querido pode continuar agindo como se ele ainda estivesse vivo, mantendo hábitos rotineiros, como conversar com a pessoa ausente. O mesmo pode ocorrer diante um relacionamento abusivo. Para não lidar com o sofrimento causado por um cônjuge violento, a pessoa pode negar as agressões, traições e omissões.



Projeção

Você já ouviu a frase: “A culpa é minha e eu coloco em quem eu quiser”? Pois bem, esse é o princípio da projeção. A projeção ocorre quando o sujeito atribui a outra pessoa sentimentos, desejos ou pensamentos que não reconhece como seus, por considerá-los inaceitáveis.

No inconsciente, esse mecanismo age da seguinte forma: o ego evita o conflito interno causado pelos impulsos proibidos, projetando-os no outro. Assim, o sujeito se isenta da responsabilidade pelo conteúdo rejeitado.

Exemplo: Uma pessoa com desejos de infidelidade que não consegue aceitá-los em si, pode desconfiar constantemente da fidelidade do parceiro. Ou, considerar colegas de trabalho como inimigos, mesmo quando a própria pessoa é competitiva.

Formação reativa

A formação reativa, por sua vez, é um mecanismo pelo qual o sujeito adota comportamentos, sentimentos ou atitudes opostas aos desejos inconscientes que deseja reprimir.

No inconsciente, a formação reativa funciona como uma máscara. O ego se protege expressando o oposto do que realmente sente, numa tentativa de esconder, inclusive de si mesmo, o conteúdo real. A função defensiva da formação reativa é, portanto, dupla: ao mesmo tempo que protege o ego da angústia provocada pelo desejo recalcado, também atua para preservar uma imagem de si compatível com as normas e ideais internalizados.

Exemplo: Uma pessoa que sente atração por pessoas do mesmo sexo pode se tornar homofóbica para proteger o ego do conflito entre o desejo e as normas morais. Ou, uma mãe pode se tornar excessivamente protetora para esconder a ausência de amor por um filho.


Isolamento

O isolamento é a separação de um pensamento ou acontecimento do seu contexto, impedindo que a pessoa se sinta abalada pelo fato. Em outras palavras, o isolamento afeta o componente afetivo de uma ideia ou lembrança, separando o conteúdo emocional e mantendo apenas o relato.

No inconsciente, esse mecanismo permite lidar com experiências dolorosas sem sentir o sofrimento associado.

O isolamento pode ser explicado e argumentado da seguinte maneira: na histeria um evento traumático pode cair na amnésia, na neurose obsessiva a experiência não é esquecida, mas destituída de afeto, e suas conexões associativas são suprimidas ou interrompidas, de modo que permanece como isolada” (Freud, 1926, p. 121).

Exemplo: Uma mulher que sofreu uma violência sexual pode relatar o ocorrido de forma objetiva e desprovida de emoção, como se estivesse contando um fato rotineiro. Ou, uma pessoa que é diagnosticada com alguma doença grave, mas simplesmente o ignora e não se importa, pode estar usando o isolamento para se proteger.

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Anulação (ou desmentido)

Já a anulação envolve realizar ações ou pensamentos que têm a função simbólica de “desfazer” ou “anular” algo inaceitável. A pessoa age como se pudesse apagar o que foi feito, dito ou sentido.

No inconsciente, se materializa enquanto uma tentativa de controlar a culpa ou a ansiedade associada a certos impulsos. Frequentemente aparece em comportamentos compulsivos ou supersticiosos.

“A anulação, também consiste essencialmente no desejo de que, por uma anulação mágica do tempo, o que aconteceu e perturba torne-se não acontecido” (Freud, 1926, p. 120).

Exemplo: Após assistir um filme de terror, a pessoa pode querer consumir imediatamente algum conteúdo mais leve ou divertido. Ou, após ter um pensamento considerado inapropriado ou catastrófico, a pessoa pode fazer o “sinal da cruz”, como uma forma de “anular” o pensamento.

Racionalização

Outro mecanismo que merece destaque é a racionalização. Ela busca justificar com argumentos lógicos e socialmente aceitáveis um comportamento, sentimento ou decisão que, na verdade, tem origem em motivos inconscientes ou inaceitáveis.

Em outros termos, trata-se de uma forma de maquiar a verdadeira motivação psíquica por trás de uma ação, oferecendo ao sujeito e aos outros uma explicação mais palatável ou razoável, que evita o confronto com conteúdos internos desconfortáveis.

Esse mecanismo do inconsciente ajuda a proteger o ego da pessoa de sentimentos de culpa ou vergonha, criando uma explicação que pareça mais razoável diante do fato.

Exemplo: Se uma pessoa se sente triste, pode racionalizar dizendo que “não importa” ou que “não é tão grave”. Ou, um estudante que não passou em um concurso afirma que não queria o cargo de verdade, pois o salário era baixo.

Deslocamento

O deslocamento consiste em transferir a carga emocional de um objeto ou pessoa considerada perigosa ou proibida, para outro objeto ou pessoa mais segura ou acessível. Ou seja, transfere-se as emoções de um alvo original para um alvo substituto, que seja menos ameaçador.

No inconsciente, o deslocamento permite que o sujeito expresse suas emoções, sobretudo, agressivas, sem confrontar diretamente sua fonte ideal. Essa manobra psíquica reduz o risco de punição, rejeição ou culpa, pois a energia emocional é redirecionada.

Exemplo: Um funcionário pode descontar em seus filhos a frustração com o chefe no trabalho. Ou, um adolescente que sofre bullying na escola pode se tornar agressivo com seus colegas.


Sublimação

Considerado um mecanismo de defesa razoavelmente saudável, a sublimação consiste em transformar impulsos primitivos ou inaceitáveis em atividades criativas ou artísticas. Ela opera como um canalizador de cargas emocionais, direcionando a energia para atividades que exijam estímulo psíquico.

No inconsciente, ela opera ao redirecionar o desejo reprimido ou negado, para fins nobres. É uma via de expressão simbólica altamente valorizada na vida psíquica adulta, pois permite que os conflitos internos encontrem uma saída produtiva e socialmente aceita.

Ao invés de reprimir o impulso, como ocorre em outros mecanismos, a sublimação transforma sua força em motor criativo e/ou intelectual, por isso, é frequentemente associada à maturidade emocional e ao desenvolvimento de talentos e vocações.

Exemplo: Um sujeito que sofre por algo pode transferir a frustração para a arte, criando obras que expressam esses sentimentos de forma socialmente aceitável. Ou, uma pessoa que sente muita raiva ou estresse no cotidiano pode começar a praticar um esporte de contato, como o jiu jitsu, para canalizar emoções de forma saudável.


Identificação

A identificação, por sua vez, é o processo de incorporação de características, valores ou comportamentos de outra pessoa, muitas vezes significativa para o sujeito. Trata-se de uma forma de aprendizado psíquico profundo, que molda a forma como o indivíduo se percebe e se posiciona no mundo.

No inconsciente, pode ocorrer por admiração, desejo de pertencimento, amor ou medo. Tem papel central na formação da personalidade e na interiorização de normas sociais. Ao se identificar com figuras, personalidades e identidades, internalizam-se também expectativas e modos de se comportar socialmente.

Exemplo: Um adolescente que admira um cantor começa a se vestir e falar como ele, internalizando seu estilo como forma de construir sua própria identidade. Ou, uma criança pode internalizar características e comportamentos de afeto ou violência dos pais para se sentir mais valorizada.

Regressão

Por fim, a regressão é o retorno a modos de funcionamento psíquico e comportamentos de fases anteriores do desenvolvimento, especialmente em situações de estresse ou conflito. Nela, o objetivo é aliviar a tensão ou o medo ao recorrer a formas mais antigas – e geralmente mais seguras - de lidar com a realidade.

Para Freud (1916/1917), a regressão é relativa ao desenvolvimento sexual, uma vez que ela tem uma função libidinal – a obtenção do prazer e da satisfação:

“O que até agora tratamos como regressão [...] significou exclusivamente um retorno da libido a anteriores pontos de interrupção de seu desenvolvimento – isto é algo inteiramente diferente, em sua natureza, da repressão, e inteiramente independente desta (Freud, 1916-17/1996, p. 346)”.

No inconsciente, a regressão representa uma tentativa de fuga temporária para estágios onde as exigências externas eram menores e o cuidado era mais garantido, como na infância. Embora possa ser útil em momentos críticos, oferecendo alívio momentâneo, quando se torna recorrente pode indicar resistência a amadurecer frente a desafios.

Exemplo: Uma pessoa em situações de estresse, pode começar a chorar de forma infantil. Ou, um fumante que, diante de um conflito, passa a fumar mais para se sentir seguro.


Conclusão: defesas não são falhas, são estratégias psíquicas

Neste texto, tratamos sobre os mecanismos de defesa, que são recursos do ego para garantir a manutenção do equilíbrio emocional frente a ameaças internas ou externas.

Longe de serem “erros” ou “falhas”, essas defesas representam tentativas de autorregulação emocional frente às exigências conflitantes do inconsciente, da realidade e das normas sociais.

Embora possam gerar sintomas quando utilizados de forma excessiva ou inadequada, sua função primordial é de autoproteção. Elas atuam como estratégias psíquicas que ajudam o sujeito a sobreviver emocionalmente diante de sentimentos como angústia, culpa, medo, vergonha ou desejo.

Assim, ao invés de condenar sua existência, é preciso reconhecê-las como parte do funcionamento mental humano saudável, ainda que, por vezes, sejam expressões de sofrimento.

Para Anna Freud (1936/2006), “tudo o que provém do ego é também uma resistência, em todos os sentidos da palavra: uma força dirigida contra a emergência do inconsciente”. Nesse sentido, conhecer os mecanismos de defesa é um passo importante para entendermos não só o sofrimento psíquico, mas também os caminhos possíveis para sua transformação.

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Referências

FREUD, S. (1996). Conferência XXII: Algumas ideias sobre desenvolvimento e regressão – etiologia. In S. Freud, Edição Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 16). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1916-17).

FREUD, Sigmund. Inibições, Sintomas e Ansiedade. Em S. Freud, Obras Completas de Freud (pp. Vol. XX, p. 79-171). Rio de Janeiro: Imago, 1926.

FREUD, Anna. [1936] “O ego e os mecanismos de defesa”. Tradução, consultoria e supervisão: Francisco F. Settineri. Porto Alegre: Artmed editora, 2006.

Trocar palavras, esquecer nomes, se confundir em momentos decisivos — são situações que parecem simples deslizes, mas que podem esconder algo muito mais profundo. Para a psicanálise, esses chamados “atos falhos” são pistas reveladoras sobre desejos inconscientes que tentamos reprimir.

Neste artigo, você vai entender como Freud interpretou esses enganos do cotidiano, por que eles nos causam tanto constrangimento e como, sem perceber, acabamos revelando verdades que gostaríamos de manter escondidas até de nós mesmos.

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O que é ato falho?

Freud (1901/1996) define os atos falhos como erros que frequentemente cometemos em nossas falas. Eles ocorrem quando queremos dizer alguma coisa, mas inesperadamente nos enganamos e falamos outra. Só que, a partir deste engano, acabamos falando a verdade.

Os atos falhos ocorrem não apenas no nível daquilo que falamos, também englobando os aparentes enganos em todas as nossas ações.

Vale lembrar que, em algumas edições, os atos falhos podem ser chamados pelo termo mais global “parapraxias”. Segundo Laplanche e Pontalis (1998) isto se deu pela opção dos tradutores da Standard Edition por criar o termo parapraxis para nele agrupar os mais variados lapsos de linguagem.


Atos falhos curiosos

Quem nunca chamou a namorada pelo nome da ex? Quem nunca cometeu um engano grotesco bem na hora de uma entrevista de emprego? Quem nunca soltou aquela besteira completamente risível na hora de paquerar alguém? Quem nunca falou algo “sem querer” justamente no momento mais inoportuno e, por isso, morreu de vergonha?

Eu mesmo já fiz tudo isso... Lembro-me, por exemplo, dos atos falhos que cometi em plena prova de aula do concurso para ser professor da Unirio. Diante de um juri de cinco psicanalistas, pelas quatro vezes em que tinha que falar o termo “relações sociais”, acabei falando “relações sexuais. Morri de vergonha, mas passei no concurso...

Outros tantos atos falhos aconteceram em congressos, palestras e inclusive em duas das aulas que dei para a Casa do Saber. E, para além da minha vida profissional, meu cotidiano também é repleto de atos falhos.



O significado de ato falho para a psicanálise

Para a psicanálise, estes tantos atos falhos não seriam simples erros ou enganos aleatórios. Pelo contrário, trata-se da manifestação de uma verdade até então impedida de se mostrar. E é justamente por isso que morremos de vergonha quando cometemos um ato falho. Se eles fossem meros enganos não haveria porque sentirmo-nos tão constrangidos.

Os atos falhos são um dos principais temas do livro “Psicopatologia da vida cotidiana”. Nele, a ideia de Freud (1901/1996) é a de que há algumas verdades que todos nós insistimos em negar e a esconder de nós mesmos. No entanto, quando menos esperamos, estas verdades encontram uma brecha e finalmente conseguem se manifestar em nossas falas.

Conforme veremos adiante, estas tantas verdades que insistimos em negar estão ligadas aos nossos desejos inconscientes.

Portanto, um ato falho é:

“um ato pelo qual um sujeito substitui, sem querer, um projeto ou uma intenção a que visa deliberadamente por uma ação ou conduta totalmente imprevistas” (Chemama, 1995, p. 18).




Freud e seu ato falho

São muitos os exemplos que posso mencionar aqui, pois me considero um verdadeiro colecionador de atos falhos.

Como disse, eu mesmo já cometi muitos e, sinceramente, adoro quando alguém os comete na minha frente. Em todos os atos falhos que já fiz, fiquei extremamente vermelho, ruborizado e quase enterrei minha cabeça no chão de tanta vergonha. Contra a minha vontade, a verdade nua e crua acabou aparecendo e eu me senti quase que desnudo na frente de todos que me escutavam.

Tem um exemplo de Freud engraçadíssimo. Conta ele que, em certa reunião social, um amigo estava de olho em uma convidada de seios belos e super fartos. Lá pelas tantas, o sujeito finalmente tomou coragem e foi chegar na dama. O pretexto que ele utilizou para iniciar uma conversa foi dizer o quanto o centro de Viena estava bonito e enfeitado para a Páscoa. E então ele pergunta à dama: “A senhora já foi ver como o centro de Viena está bonito? Vale a pena! A cidade está toda decotada”.

Assim, dá para imaginarmos a vergonha deste amigo de Freud. A verdade apareceu de forma incisiva: ele não estava nem um pouco preocupado com os enfeites de Páscoa, mas sim, com o decote da jovem dama.

E, aliás, temos mesmo que desconfiar que o protagonista desta situação foi um “amigo” de Freud, já que sempre quando contamos alguns dos nossos atos falhos, jamais confessamos que fomos nós os seus autores...

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Outros exemplos de atos falhos

Há outros exemplos que gosto muito.

  • O primeiro é outro dado pelo próprio Freud (1901/1996). Trata-se do ato falho de uma senhora autoritária que costumava dar todas as ordens em casa. Ela mandava e desmandava, o marido obedecia e os dois iam mantendo o casamento aos trancos e barrancos.

    Certa vez, esta senhora conta a Freud que o marido caíra doente e que se consultara com um médico para saber quais alimentos podia comer. Daí ela relata que o médico disse para o marido não se importar com dietas e que ele “poderia comer e beber o que eu quiser”.

  • Há também alguns exemplos engraçados e cometidos ao vivo diante das câmeras de televisão. Um destes foi o de um político que, lá pelos anos 2000, estava todo encalacrado com escândalos de corrupção. Eram muitas as acusações, uma atrás da outra, e o Senado chegou a montar uma CPI para investigar tantos escândalos.

    Até que, certo dia, este político estava ao microfone se defendendo diante de todo o Senado, quando disse: “Eu me declaro inocêncio.

    O escárnio foi generalizado e todos os jornais, revistas e telejornais deram grande destaque a tal constrangimento. Isto porque houve outro político preso semanas antes por corrupção cujo nome era Inocêncio de Oliveira. Claro que tamanho ato falho não pôde ser utilizado como prova ou confissão dos diversos crimes que tal político cometera, porém rendeu grandes risadas a toda a população.

  • Um terceiro exemplo é o de um ex-presidente nosso. Certo dia, ao elogiar o Exército e criticar as outras instituições brasileiras, falou com todas as letras:

    “Para as Forças Armadas, se o militar mente, acabou a carreira dele... O cara não sai sargento! O subtenente não sai tenente! O coronel não sai general! Não tem prescrição pra isso... E nós temos um Chefe do Executivo que mente!”.

    Ele queria dizer “Chefe do Judiciário”, mas se enganou... “Chefe do Executivo” era ele próprio!

  • Este mesmo ex-presidente, certo dia, cometeu outro ato falho, bem na época em que tentava a reeleição. Reeleger-se, para ele, além de uma questão de honra, era também algo fundamental. Isto porque, com um cargo político, ele finalmente se livraria de ser preso pelos tantos crimes que cometera durante seu governo.

    Só que a reeleição estava difícil. Seu arqui-inimigo político estava com boa vantagem em todas as pesquisas e era bem provável (tal como efetivamente aconteceu) que ele ganharia esta batalha.

    Daí, ao final de um debate entre os dois, e diante das câmeras de televisão da maior emissora do país, o candidato à reeleição diz: “Muito obrigado, meu Deus! E se essa for a sua vontade, estarei pronto para cumprir com mais um mandato de deputado federal”.

    A risada foi geral! Seu desespero era tanto que ele estava até topando o cargo de deputado só para não ser preso...

  • Por fim, também ficou famoso o ato falho de uma pastora durante um culto:

    “Na casa do meu marido, eu tinha tudo o que eu queria. Ele me dava tudo. Ele me dava joias, ele me dava presentes, ele me vestia, ele me comia, oh, ele me dava de comer...” — e por aí a pastora seguiu elogiando o marido... Abafa o caso!

Atos falhos nas ações

Há também os atos falhos que ocorrem no domínio das nossas ações. Quem nunca se confundiu e ao invés de mandar uma mensagem super sexy para o amante acabou mandando para o pai ou para a mãe? Quem nunca se enganou sobre o dia da semana e acabou não realizando os compromissos daquele dia? Quem nunca falou mal do patrão ou do professor sem perceber que ele estava bem atrás e ouvindo tudo?

Fora as tantas crises de riso que somos capazes de ter nos momentos mais inapropriados como enterros, velórios, execuções de hino e nos “um minuto de silêncio”.

Para estas tantas ações, vale o mesmo que foi colocado a respeito dos atos falhos das nossas falas. Aqui também não se trata de meros equívocos ou erros bobos, mas sim, de verdades aparecendo, verdades que insistimos em ocultar de todos e, sobretudo, de nós mesmos.

Um exemplo que se sucedeu com Freud (1901/1996): conta ele que, por seis anos, frequentava diariamente um apartamento que ficava no segundo andar de uma construção. Certa vez, enquanto dirigia-se distraído para lá, ele se pega subindo um lance a mais de escadas. Quando finalmente se dá conta do ato falho, ele percebe que naquele momento estava bastante irritado com uma crítica de um colega seu de que sempre “ia longe demais” nos textos que escrevia.

E, a partir deste ato falho, podemos ter certeza que era verdade o que seu amigo dissera...

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Atos falhos e inconsciente

Conforme destacamos acima, Freud (1901/1996) considera os atos falhos como manifestações do inconsciente.

Assim, devemos considerar que, para a psicanálise, todos nós temos um inconsciente, ou seja, um domínio em nosso psiquismo que desconhecemos. Em outros termos, trata-se de ressaltar que todos nós possuímos desejos desconhecidos, fantasias desconhecidas e mesmo características das quais não temos o menor conhecimento.

Mas por que estes tantos desejos, fantasias e características se tornam inconscientes? Segundo Freud (1909/1996) estas tantas tendências acabam se tornando inconscientes por serem incompatíveis com a moral em voga na sociedade. Neste sentido, quando possuímos um desejo tido como imoral, nos defendemos dele recalcando-o, ou seja, tornando-o inconsciente.

Deste modo, o recalque é tido como o mecanismo responsável por tornar inconsciente um desejo imoral. No entanto, há que se alertar para o fato de que tornar um desejo inconsciente não significa matá-lo. Pelo contrário, o desejo continua vivo e à espreita de alguma situação propícia para se manifestar.

E é exatamente isto o que ocorre quando cometemos um ato falho. A tendência inconsciente que insistíamos em negar consegue finalmente uma brecha para aparecer. Quando isso acontece, toda a nossa verdade é escancarada... e na frente de todos! Por isto tanto ruborizamos e nos envergonhamos diante dos nossos tantos “aparentes” enganos:

“O ato falho surge como uma formação de compromisso entre a intenção consciente do sujeito e seu desejo inconsciente, compromisso esse que se exprime por perturbações que assumem a forma de ‘acidentes’ ou de ‘falhas’ da vida cotidiana” (Chemama, 1995, p. 18).


Portanto, cabe destacar que, para a psicanálise, um ato falho nada tem de falho. Pelo contrário, ele é extremamente bem-sucedido em apresentar o desejo inconsciente de forma bastante direta.




Ato falho e escuta clínica

Por apresentarem o desejo inconsciente de forma tão manifesta, os atos falhos consistem em tendências muito privilegiadas pela clínica psicanalítica.

Desta maneira, quando em meio às suas associações livres, um paciente comete um ato falho, o analista jamais deve ignorá-lo. Ou seja, por mais que o paciente argumente que “foi um engano”, que “não quis dizer isso” ou que “eu errei”, o psicanalista não deve se deixar levar por tais desculpas. Pelo contrário, é recomendável que ele peça ao paciente para associar livremente a respeito do ato falho cometido. Com isto, um material muito maior pode acabar sendo trazido para a análise.

Trata-se, portanto, de valorizar os atos falhos na clínica psicanalítica enquanto portadores de um sentido e jamais como erros, enganos ou frutos de desatenções e descuidos. Um ato falho, muitas vezes, acaba revelando uma verdade que analista e paciente há muito vinham procurando. Por isso, a clínica psicanalítica deve em muito valorizá-lo.

Este texto foi escrito pelo professor Ricardo Salztrager, psicanalista e professor associado da UNIRIO e da Casa do Saber. Possui Graduação em Psicologia, mestrado e doutorado em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

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Referências:

Chemama, R. (1995). Dicionário de psicanálise. Porto Alegre: Artes Médicas.

Freud, S. (1901). A psicopatologia da vida cotidiana. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 6. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 11-290.

______. (1909). Moral sexual “civilizada” e doença nervosa moderna. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 9. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 165-186.

Laplanche, J. & Pontalis, J. B. (1998). Vocabulário de psicanálise. São Paulo: Martins Fontes.

A psicanálise, também conhecida como “terapia da fala”, é uma teoria e prática clínica que busca, a partir da análise do inconsciente, entender a mente humana.

Embora tenha sido fundada por Sigmund Freud no final do século XIX, outros autores e teóricos contribuíram para que a psicanálise se desenvolvesse até como a conhecemos hoje.

Freud reuniu um grupo de colaboradores, o que resultou na criação da Sociedade Psicanalítica de Viena. Apesar das divergências conceituais, os debates entre ele e seus seguidores foram fundamentais para os desdobramentos da psicanálise.

Vamos agora conhecer alguns dos principais autores da psicanálise, os conceitos elaborados por eles e suas ideias.

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Sigmund Freud

Foto de Sigmund Freud

Sigmund Freud (Reprodução)


Sigmund Freud nasceu em 6 de maio de 1856, em Freiberg in Mähren, no antigo Império Austríaco. Filho de comerciantes de lã, mudou-se ainda criança com a família para Viena.

Em 1873, ingressou na Universidade de Viena para cursar medicina. Interessou-se por biologia e neurociência, com destaque para os estudos sobre o cérebro humano.

Apesar de sua inicial preferência, foi da clínica que nasceu sua principal contribuição: a psicanálise.

Observando pacientes com sintomas histéricos, Freud percebeu que as causas do sofrimento não eram apenas fisiológicas. Aos poucos, distanciou-se dos métodos médicos tradicionais e passou a investigar os conflitos psíquicos.

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Os principais conceitos de Sigmund Freud são:

Inconsciente:

O inconsciente é um pilar fundamental da psicanálise, porque é nele que se encontram os conteúdos da mente que escapam à consciência, mas que influenciam nossos pensamentos, comportamentos e relações.

A partir do método da associação livre, o psicanalista auxilia o paciente a encontrar as origens do sofrimento psíquico presentes no inconsciente, possibilitando a transformação de sua jornada subjetiva e pessoal.

Transferência e contratransferência:

Os conceitos de transferência e contratransferência tem grande importância para a psicanálise. A transferência ocorre quando o paciente projeta no analista sentimentos e experiências ligadas a figuras do passado, revelando conteúdos inconscientes.

Já a contratransferência é a reação emocional do analista diante do vínculo estabelecido com o paciente. Embora inicialmente vista por Freud como um obstáculo, passou a ser compreendida como um recurso valioso para compreender o paciente e fortalecer o vínculo terapêutico.

Id, ego e superego:

Estes três conceitos fazem parte da estrutura do aparelho psíquico que Freud construiu na segunda tópica freudiana.

Ego

O ego é a instância psíquica com dimensões conscientes e inconscientes que representa a realidade, formado pelas interações sociais. Atua como instância mediadora entre os impulsos do id, as exigências do superego e a realidade externa.

Uma vez que é responsável pela mediação dos impulsos do id e as exigências do superego, ele substitui o princípio do prazer pelo da realidade.

Id

O id é a instância inconsciente e instintiva da mente, controlada pelo princípio do prazer. Ele representa impulsos, desejos e pulsões, buscando satisfação imediata. Segundo Freud, é a origem de conflitos e sintomas psíquicos, uma vez que abriga conteúdos reprimidos que podem gerar sintomas e conflitos internos.

Superego

Por fim, o superego, considerado por Freud como herdeiro direto do complexo de Édipo. Este é a instância psíquica que se situa entre o consciente e o inconsciente.

Ao passo que ele representa normas, valores e moralidade internalizados ao longo da vida, acaba atuando como um juiz interno dos pensamentos, desejos e ações, punindo desvios com sentimentos como culpa e vergonha. Sendo assim, influencia profundamente o comportamento do indivíduo.




Jacques Lacan

Foto de Jacques Lacan

Jacques Lacan (Reprodução)


Jacques Lacan nasceu em Paris, em 14 de abril de 1901. Criado em uma família católica, rompeu cedo com a religião e se interessou por Nietzsche, Spinoza e Freud. Em 1919, ingressou na Faculdade de Medicina de Paris e, em 1927, iniciou seus estudos em psiquiatria no Hospital Sainte-Anne.

Conhecido por revisar e divulgar a obra freudiana, Lacan reformulou a psicanálise a partir da linguística, filosofia e estruturalismo, sendo um dos teóricos mais influentes da psicanálise contemporânea.

Conheça alguns dos principais conceitos de Jacques Lacan:

Inconsciente estruturado como uma linguagem

Segundo Lacan, o inconsciente é estruturado como uma linguagem.

Influenciado por Saussure, entendeu que o inconsciente segue uma lógica própria, guiada por metáforas e metonímias, manifestando desejos e conteúdos reprimidos em sonhos, atos falhos e sintomas. Assim, não se revela explicitamente, mas como um texto que precisa ser interpretado.

Estádio do espelho

O Estádio do Espelho é um momento no qual a criança é capaz de reconhecer a sua própria imagem refletida no espelho, sendo assim, ela passa a ser capaz de perceber a sua totalidade corporal. Esta é uma etapa fundamental na constituição do sujeito.

Desejo na teoria de Lacan

O desejo, para Lacan, se diferencia do impulso ou da necessidade, porque o desejo lacaniano nunca se satisfaz completamente. Ele não é algo que possuímos, mas algo que nos constitui.

Desta forma, desejo não é algo que possuímos, mas sim algo que nos constitui. Ele é a tentativa de preencher uma falta, um vazio que nunca sana.

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Melanie Klein

Foto de Melanie Klein

Melanie Klein (Reprodução)


Melanie Klein nasceu em 30 de março de 1882, em Viena. Apesar do desejo de cursar medicina, estudou história por limitações financeiras.

Ela teve uma vida pessoal turbulenta, desde uma relação conturbada com a mãe até a perda de vários entes queridos, incluindo seu filho Hans.

Melanie Klein ficou conhecida por desenvolver a psicanálise infantil e ampliar as ideias de Freud. Para ela, os conflitos psíquicos começam mais cedo do que Freud havia indicado, ainda nos primeiros meses de vida.

Alguns dos conceitos mais importantes de Melanie Klein:

Análise do brincar

De acordo com Melanie, brincar é uma das principais formas de expressão do inconsciente durante a infância, assemelhando-se aos sonhos e à associação livre dos adultos.

O ato de brincar permite que as crianças expressem suas emoções, manifestando suas fantasias e desejos inconscientes. Sendo assim, o psicanalista é capaz de interpretar os processos inconscientes da criança.

Relações objetais primárias

As relações objetais primárias se referem aos primeiros vínculos afetivos da criança, sobretudo com a mãe. Para Klein, o primeiro objeto não é a mãe inteira, mas o seio materno.

Sendo assim, a amamentação, além da função nutritiva, é vista como um momento fundamental de interação entre mãe e filho, influenciando profundamente as futuras formas de se relacionar com os outros.

Complexo de Édipo

Melanie Klein fez uma releitura do Complexo de Édipo proposto por Sigmund Freud.

Na visão de Klein, o Complexo de Édipo - a expressão de sentimentos como inveja e ciúme - inicia-se no primeiro ano de vida da criança, portanto, mais cedo do que Freud propôs.

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Donald Winnicott

Foto de Donald Winnicott

Donald Winnicott (Reprodução)


Donald Winnicott nasceu em 7 de abril de 1896, na Inglaterra. Formou-se em medicina em 1920 e iniciou sua formação psicanalítica em 1927. Durante esse período, vivenciou o conflito entre os seguidores de Anna Freud e Melanie Klein na Sociedade Britânica de Psicanálise. Apesar de adotar uma postura independente, teve maior afinidade com a escola kleiniana.

Winnicott destacou-se por suas contribuições ao desenvolvimento infantil, enfatizando o papel fundamental do ambiente e dos cuidados maternos no amadurecimento emocional saudável da criança.

Conceitos de Donald Winnicott:

Mãe suficientemente boa

Segundo Donald, a mãe suficientemente boa é aquela que é capaz de se adaptar e proporcionar um ambiente seguro e acolhedor para a criança. Portanto, este contexto deve oferecer estabilidade emocional para que o verdadeiro self da criança possa se expressar e o bebê seja capaz de desenvolver a sua autonomia psíquica.

Objeto transicional

De acordo com Winnicott, o objeto transicional trata-se de um item que a criança escolhe para simbolizar a mãe (como um cobertor ou um brinquedo). Este objeto representa um sentimento de segurança, especialmente no momento em que o bebê percebe que a mãe é uma parte separada dele. Sendo assim, ele ajuda a criança a lidar com a fase de transição entre a realidade interna e externa.

Verdadeiro e Falso self

Enquanto verdadeiro selfie representa a autenticidade da personalidade da criança, que se desenvolve a partir de um cuidado adequado e um ambiente seguro e acolhedor, o falso self se manifesta como uma defesa diante de um ambiente inadequado para que o verdadeiro selfie se apresente, porém isso impede a expressão autêntica da pessoa.


Sándor Ferenczi

Foto de Sandor Ferenczi

Sándor Ferenczi (Reprodução)


Sándor Ferenczi nasceu em 7 de julho de 1893, na Hungria, e iniciou seus estudos em medicina na Faculdade de Medicina de Viena, especializando-se em neurologia e neuropatologia.

Embora colaborador estimado de Freud e ter feito parte de seu círculo íntimo, chegando integrar o “Comitê Secreto”, divergiam em alguns conceitos e práticas.

Freud e Jung também tiveram uma relação inicial de colaboração, mas se separaram devido a diferenças teóricas. Freud via o inconsciente como repressor, enquanto Jung introduziu o conceito de inconsciente coletivo, ampliando o foco. Essa divergência marca um rompimento que impactou profundamente a psicanálise moderna.



Conhecido como enfant terrible, Ferenczi revolucionou a psicanálise introduzindo novos conceitos e um olhar inovador sobre o papel do psicanalista, impactando tanto o campo teórico quanto o clínico.

Alguns conceitos de destaque de Ferenczi:

Elasticidade da técnica

Ferenczi rompeu com a rigidez técnica proposta por Freud e defendeu uma postura mais flexível, empática e responsiva do analista durante a sessão.

Desta forma, o profissional poderia acolher o sofrimento do paciente de forma mais humanizada. Ferenczi acreditava que o método deveria se adaptar ao paciente e não ao contrário.

Transferência e introjeção

Sándor Ferenczi fez uma releitura do conceito de transferência de Freud. Para ele, a transferência era mais do que uma repetição de experiências traumáticas, mas sim uma tentativa de reparação.

Já a introjeção é um processo no qual o paciente internaliza experiências e figuras importantes, assumindo a culpa pelo que aconteceu. Para Ferenczi, este era um mecanismo central do trauma.

Teoria do trauma

Para Sándor, o trauma é mais do que o evento em si, mas também as consequências emocionais da negação ou do silêncio frente ao trauma vivido.

Ele ainda complementa que, para ressignificar o sofrimento, é necessário que haja confiança na relação analista e paciente. Desta forma, uma análise empática seria o caminho para que o analisado encontrasse a cura.


Wilfred Bion

Foto de Wilfred Bion

Wilfred Bion (Reprodução)


Wilfred Bion, nascido em 8 de setembro de 1897 no Punjab, foi um autor contemporâneo da psicanálise, destacando-se pela sua originalidade teórica sobre o pensamento e as experiências emocionais primitivas.

Na década de 1920, depois de ter contato com as obras de Freud, decidiu estudar medicina na University College London. Influenciado por Melanie Klein, aprofundou suas pesquisas nos processos psíquicos iniciais e na construção do aparelho mental, marcando a psicanálise com novas abordagens e ideias.

Alguns dos principais conceitos de Wilfred Bion:

Teoria do pensar

Segundo Wilfred Bion, a mente se desenvolve a partir da necessidade de significar as experiências emocionais. Esse processo é o primeiro passo da função Alfa, que permite a transformação de emoções brutas em pensamentos.

A partir dessa capacidade de transformação, a mente cria pensamentos e o sujeito se torna capaz de se tornar um pensador.

Função alfa e beta:

A teoria alfa-beta de Bion descreve como a mente processa experiências emocionais. A função alfa transforma essas experiências sensoriais em pensamentos, palavras ou sonhos (elementos alfa).

Quando falha, cria elementos beta, experiências brutas que não podem ser pensadas e podem gerar angústia, e a pessoa acaba projetando-as. Se ausente, o analista ajuda a transformar esses elementos por identificação projetiva.

Identificação projetiva

Para Bion, a identificação projetiva é uma forma de comunicação primitiva, em que o paciente projeta conteúdos brutos no analista.

Sendo assim, o analista, ao acolher e transformar essas projeções, pode devolvê-las de forma mais compreensível. Isso possibilita ao paciente integrar essas partes e desenvolver sua capacidade de pensar.


Obras selecionadas de cada um dos autores da psicanálise para você conhecer

  • A Interpretação dos Sonhos – Sigmund Freud (1900)

  • O Estádio do Espelho como Formador da Função do Eu – Jacques Lacan (1949)

  • A Psicanálise de Crianças – Melanie Klein (1932)

  • Bebês e Suas Mães – Donald Winnicott (1983)

  • Thalassa: Um Ensaio sobre a Teoria da Genitalidade – Sándor Ferenczi (1924)

  • O Aprender com a Experiência – Wilfred Bion (1963)


Este texto pode ter sido um passo importante na sua imersão na psicanálise. Trata-se de um campo com muitos caminhos para você desbravar e mergulhar cada vez mais na compreensão da mente humana.

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Referências:

PAVÃO, Antônio Carlos. A teoria projetiva da consciência. Revista Simbio-Logias, v. 13, n. 19, 2021.

BION, Wilfred. O conceito de continente e contido. Revista Mineira de Psiquiatria, v. 24, n. 2, p. 44-48, jul./dez. 2022.

WINNICOTT, Donald W. Processos de amadurecimento e ambiente facilitador: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. São Paulo: Ubu Editora, 2022.

FEBRAPSI. Wilfred Ruprecht Bion.

FEBRAPSI. Donald Woods Winnicott



A relação entre Sigmund Freud e Carl Gustav Jung é um dos capítulos mais fascinantes da história da psicologia e da psicanálise. O vínculo entre esses dois pensadores foi, ao mesmo tempo, profundamente criativo e intensamente conflituoso.

Neste guia introdutório, vamos explorar como essa parceria se formou, quais foram seus pontos de convergências teóricas e as principais diferenças conceituais. Além disso, abordaremos o rompimento que dividiu seus caminhos e o impacto duradouro que tiveram na psicanálise e na psicologia moderna.



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Freud e Jung: Um intercâmbio teórico e pessoal

O encontro entre Freud e Jung marcou o início de uma parceria promissora, tanto em termos teóricos quanto afetivos. Em 1899/1900, Freud publicou a significativa obra A Interpretação dos Sonhos, um livro que investiga a relação do inconsciente com a produção de imagens elaboradas em sonhos.

A discussão chamou a atenção de Jung, um psiquiatra suiço que, à época, já demonstrava interesse pelas manifestações simbólicas do inconsciente em pessoas com transtornos mentais.

O interesse de Jung foi percebido por Freud, que considerou esta uma oportunidade de difundir a psicanálise nos estudos psiquiátricos. Além disso, Freud buscava ampliar as discussões do campo em outros territórios, pois tinha receio de que a psicanálise pudesse ser percebida como uma “ciência judaica”.

Nessa disputa de interesses, a parceria entre eles foi tão promissora, que a primeira conversa, em 1907, teria durado mais de 13 horas ininterruptas, sinalizando uma conexão intelectual intensa. Freud e Jung passaram a trocar cartas e estabeleceram um intenso diálogo intelectual, que logo se transformou em amizade.

Assim, Freud via em Jung uma figura central para dar continuidade a sua teoria psicanalítica, e que ajudaria a expandir e legitimar o campo. Jung, por sua vez, via Freud como um mentor intelectual para os estudos do inconsciente.

Durante mais de 8 anos de colaboração, ambos desenvolveram ideias preciosas sobre a psique humana, os sintomas, sonhos e processos interpretativos sobre eles.



Pontos de Convergência entre Freud e Jung

Freud e Jung compartilhavam diversas concepções fundamentais. Essa base comum a ambos possibilitou uma ampliação significativa do campo da psicologia e da psicanálise, especialmente no que diz respeito à compreensão do inconsciente e à prática clínica.

Dentre as proximidades teóricas e metodológicas entre eles, algumas merecem destaque:

  • A importância do inconsciente:

    Para Freud e Jung, o inconsciente desempenha um papel central na vida psíquica. Ambos consideravam que muitos pensamentos, emoções e comportamentos são influenciados por conteúdos que escapam à consciência.

  • Valor terapêutico dos sonhos:

    Para eles, os sonhos revelariam conteúdos ocultos, se apresentando como um elemento essencial do processo analítico. Freud e Jung acreditavam que o ato de sonhar, recordar e relatar são considerados instrumentos de análise valiosos, sendo capazes de iluminar as zonas mais profundas da mente.

  • A transferência:

    Freud e Jung reconheciam a importância da relação transferencial entre paciente e analista. Ambos concordavam que essa relação é ativa, dinâmica e profundamente reveladora — embora a forma de entender esse vínculo tenha divergido mais tarde.

  • A busca por um método clínico:

    Além disso, eles desenvolveram abordagens baseadas na escuta, na interpretação e na elaboração simbólica da experiência subjetiva humana. Freud e Jung também tinham em comum o interesse em desenvolver um saber clínico e intelectual sobre a sexualidade — apesar de ocorrer em perspectivas diferentes.

Assim, apesar da ruptura posterior, essa fase de convergência foi decisiva para que a psicologia do século XX ganhasse profundidade, pluralidade e complexidade. A partir daquilo que compartilharam — e da tensão que os separou — surgiram novas maneiras de pensar o ser humano, suas dores, seus desejos e seus caminhos de transformação.



Freud e Jung ao lado de outros participantes da Conferência de Psicologia, Pedagogia e Higiene Escolar na Clark University, em Worcester (EUA), 1909. Fonte: Wikimedia


A Ruptura Teórica e Afetiva entre Freud e Jung

Nesse processo, diferenças profundas começaram a emergir, tanto em relação ao método analítico quanto à visão de mundo.

Em 1912, Jung publicou a obra Transformações e Símbolos da Libido. O livro propunha uma visão ampliada da energia psíquica, o que Freud considerou uma grave distorção dos princípios psicanalíticos.

Para Freud, Jung estava abandonando a ciência pela metafísica. Para Jung, Freud estava aprisionado em uma visão limitada e materialista da psique.

Jung passa a desenvolver uma teoria própria - a psicologia analítica - que, embora se parta de fundamentos psicanalíticos, seguiu um caminho teórico autônomo. Ele introduziu conceitos como o inconsciente coletivo, os arquétipos, a função simbólica dos sonhos e o processo de individuação, todos incompatíveis com o modelo freudiano.

Curiosidade: As divergências e tensões entre Freud e Jung foram tratadas em obras audiovisuais como no filme “Um Método Perigoso” (2011), dirigido por David Cronenberg.

Na obra, explora-se o surgimento da psicanálise, as proximidades, os conflitos profissionais entre eles e as experiências bem e mal sucedidas na prática psicanalítica. Além disso, trata da relação de ambos com Sabina Spielrein, uma paciente de Freud que, posteriormente, se relacionou com Jung.



Psicologia Analítica com Jung e Psicanálise com Freud: Principais diferenças conceituais

Nesse movimento, as divergências intelectuais ganharam espaço na relação entre Freud e Jung. À medida que aprofundavam seus estudos, tornaram-se cada vez mais evidentes suas diferentes formas de compreender os fundamentos da psique.

Mas, de fato, quais eram as diferenças?

A compreensão da libido e a teoria da sexualidade

As divergências na teoria da sexualidade entre Freud e Jung estão entre os principais motivos que levaram à ruptura entre os dois pensadores — e dizem muito sobre suas visões de mundo, de ser humano e de psique.

Para Freud, a sexualidade está no centro da constituição psíquica.

A teoria da libido em Freud é baseada na ideia de que o ser humano é movido por pulsões, principalmente as de caráter sexual. Para ele, essa energia é reprimida ao longo do desenvolvimento e retorna de forma disfarçada, gerando sintomas, sonhos e lapsos.

Além disso, Freud defendia que a sexualidade não começa na puberdade, mas na infância (sexualidade infantil). Para ele, tudo — dos sonhos à arte — pode ser, em última instância, reconduzido a conteúdos sexuais reprimidos. A sexualidade seria, portanto, uma chave universal para entender o funcionamento da mente humana.

Jung inicialmente aceitou a teoria sexual de Freud, mas logo começou a questioná-la por considerá-la reducionista. Para ele, a libido não deveria ser entendida exclusivamente como energia sexual, mas sim como uma energia psíquica geral, que se manifesta em diferentes formas: sexualidade, espiritualidade, criatividade, vontade de sentido, religiosidade, entre outros.

A sexualidade seria, então, para Jung, uma expressão possível, mas não única da psique.

Em vez de interpretar os sonhos apenas como disfarces de desejos sexuais, Jung os via como mensagens simbólicas vindas do inconsciente, frequentemente carregadas de elementos mitológicos e espirituais.

A estrutura do inconsciente

Além do inconsciente pessoal — formado por experiências individuais reprimidas já apontado por Freud —, Jung propôs a existência de um inconsciente coletivo. Esta seria uma camada mais profunda da psique que não se origina na vivência individual, mas é comum a toda a humanidade.

O inconsciente coletivo seria composto por arquétipos, ou seja, imagens universais e atemporais que moldam a forma como percebemos e vivemos o mundo.

Presentes em sonhos, mitos, contos e religiões, os arquétipos funcionam como estruturas simbólicas fundamentais para a construção do sentido e da experiência humana. Essa percepção de um inconsciente individual e um inconsciente coletivo se revelou como uma das maiores distinções entre eles.

Enquanto Freud buscava curar o sintoma por meio da rememoração de experiências individuais reprimidas, Jung propunha uma jornada de integração entre o consciente e o inconsciente individual e coletivo, guiada por símbolos, imagens e significados.

Símbolo e Transferência

Além disso, Freud acreditava que os símbolos se apresentavam como uma máscara para desejos individuais inconscientes. Já Jung, defendia que o simbolismo se manifestaria como uma representação transformadora do inconsciente coletivo.

A noção de transferência também se diferenciava entre eles. Freud compreendia a transferência como a repetição de padrões do inconsciente na relação com o analista. Já Jung, a percebia como uma dinâmica simbólica, capaz de auxiliar na transformação psíquica.

Abordagens e objetivos terapêuticos distintos

As abordagens e os objetivos terapêuticos também se distinguem entre Freud e Jung.

Freud fundamentava sua teoria em um modelo determinista e causal, voltado ao passado e às repressões infantis. O seu objetivo terapêutico centrava-se em tornar consciente o reprimido, aliviando sintomas neuróticos.

Jung, por sua vez, propunha uma abordagem dialética e simbólica, com foco na totalidade da psique e no processo de individuação e autoconhecimento. Assim, objetivava promover a individuação e o equilíbrio entre o consciente e o inconsciente.

A diferença de abordagem entre Freud e Jung teve impacto decisivo no rumo da psicologia ocidental, abrindo caminhos para outras abordagens do processo terapêutico.

Em Jung, por exemplo, a sua perspectiva ampliada da psique abriu caminhos para um olhar simbólico, espiritual e arquetípico para a psicologia. Nesse movimento, a Psicologia Humanista inspirada por Carl Rogers e Abraham Maslow, compartilharam com ele a ideia de que o ser humano busca crescer e integrar partes de si e alcançar uma existência autêntica.



A relação entre Freud, Lacan e Jung

Embora Jacques Lacan tenha surgido em uma geração posterior à Freud e Jung, seu trabalho reatualizou conceitos freudianos centrais sob uma ótica estruturalista e linguística, influenciado por autores como Saussure, Lévi-Strauss e Hegel.

Lacan manteve-se avançando nas investigações psicanalíticas de Freud. O seu objetivo era explorar a linguagem como a própria estrutura do inconsciente, e não como um recurso simbólico e arquetípico, como defendia Jung, ou como meio de expressão dos desejos, como acreditava Freud.

O inconsciente, para Lacan, funciona como uma linguagem, ou seja, seria estruturado por significantes que escapam ao controle do sujeito, mas que organizam seu desejo, sua identidade e seus sintomas. Em outras palavras, para Lacan, o sujeito não é o “dono” de seus pensamentos, nem de sua fala — ele é falado pela linguagem, atravessado por significantes que o precedem.

Embora Lacan tenha elaborado uma perspectiva própria sobre o inconsciente, é notável o impacto e a influência de Freud e Jung em suas teorias psicanalistas.


O impacto que a separação entre Freud e Jung teve na história da psicanálise e da psicologia

Mais do que um simples desacordo teórico, o rompimento entre Freud e Jung representou a divergência entre duas visões de mundo, que acabaram por originar duas grandes tradições clínicas e filosóficas distintas: a psicanálise freudiana e a psicologia analítica junguiana.

A psicanálise freudiana seguiu sendo estruturada com base na sexualidade, no recalque, na transferência e na interpretação dos sintomas. Freud manteve um núcleo racionalista e científico, mesmo explorando territórios como os instintos de morte e a cultura.

Além disso, sua perspectiva se estendeu a partir de outros psicanalistas, diversificando-se em várias correntes: kleiniana, lacaniana, winnicottiana, entre outras — mantendo uma influência central nas áreas de saúde mental, cultura e teoria crítica.

A psicanálise influenciou a literatura, a crítica cultural, o cinema, a política e a filosofia, sobretudo através de Jacques Lacan, Jacques Derrida e Gilles Deleuze.

Já a psicologia analítica junguiana, avançou por um caminho mais simbólico e espiritual, explorando mitos, religiões, imagens arquetípicas e o processo de individuação como forma de transformação psíquica.

O seu impacto influenciou práticas como a arteterapia, a psicoterapia simbólica, a psicologia transpessoal, a ecopsicologia e até aspectos da educação e da espiritualidade contemporânea.

Além disso, propôs uma leitura voltada à integração dos opostos, à autocompreensão simbólica e à conexão com uma dimensão arquetípica universal.

A relação entre Freud e Jung: Uma conclusão

Historicamente, muitos autores consideram que a separação impediu o surgimento de uma síntese mais ampla entre razão e simbolismo, ciência e espiritualidade. No entanto, essa ruptura também produziu um legado fecundo: a partir dela, duas tradições puderam se desenvolver com profundidade, cada uma explorando aspectos distintos, porém complementares, da psique humana.

Com o tempo, o distanciamento inicial abriu espaço para uma reaproximação. Hoje, há um movimento crescente de diálogo entre as escolas freudiana e junguiana, especialmente entre clínicos e pesquisadores interessados em abordagens mais holísticas e interdisciplinares.

Essa pluralidade fez com que a psicologia se tornasse mais sensível às diferenças culturais, existenciais e espirituais entre os sujeitos. Assim, o legado de Freud e Jung, mesmo marcado por divergências, continua a inspirar caminhos de integração, escuta e transformação no campo da saúde mental.


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Referências

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FREUD, S. (1900). A interpretação dos sonhos. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. 2ª ed. Rio de Janeiro: Imago, 1987, vol. 4, 5.

JUNG, C. G. (1912). Transformações e Símbolos da Libido. In: Símbolos da Transformação. 9ª ed. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2013, vol. 5.

Investigar a psicanálise é explorar o inconsciente, o sofrimento psíquico e o processo analítico. Ela auxilia a entender como funcionam as abordagens sobre o ser humano, os conflitos internos, desejos e traumas que moldam os comportamentos e emoções, ampliando o olhar do sujeito para si e para o mundo.

Nesse caminho, alguns conceitos são centrais para a compreensão do campo, pois ajudam a entender de modo aprofundado como a lente psicanalítica percebe esses fenômenos. Assim, dominar os conceitos da psicanálise é essencial para quem deseja adentrar esse universo, seja para fins acadêmicos, profissionais ou por interesses pessoais.

Esse guia irá apresentar os fundamentos da psicanálise de forma clara e acessível, trazendo referências clássicas, exemplos e indicações para aprofundamento.



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Inconsciente

O inconsciente é, talvez, o conceito mais emblemático da psicanálise. Esse pilar foi elaborado por Sigmund Freud, seu fundador, que definiu o inconsciente como a instância psíquica onde se alojam desejos reprimidos, ideias censuradas e conteúdos que escapam à consciência.

Ao investigar sobre a histeria e sobre o ato de sonhar, lembrar e relatar os sonhos, Freud percebeu que havia algo atuando fora da consciência, que influenciava diretamente os pensamentos e os comportamentos humanos. Assim, o inconsciente seria responsável por revelar as questões que mais foram reprimidas internamente pelo sujeito.

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Repressão

A repressão (ou recalcamento) é o mecanismo pelo qual conteúdos inaceitáveis para o consciente são excluídos da consciência e empurrados para o inconsciente. Freud desenvolveu esse conceito a partir do estudo de pacientes com histeria, ao perceber que lembranças traumáticas eram recalcadas e retornavam em forma de sintomas.

Assim, Freud identificou a repressão como um motor da neurose, pois ela denunciaria um processo de adoecimento. Esse processo estaria ligado ao conflito entre o desejo e as exigências da realidade ou da moralidade.

Clinicamente, compreender o que foi reprimido pode ajudar a aliviar o sofrimento e trazer sentido ao sintoma.


Transferência e contratransferência

Outros conceitos centrais para a psicanálise, trata-se da transferência e da contratransferência.

A transferência é o fenômeno pelo qual o paciente desloca para o analista experiências, sentimentos e desejos inconscientes que originalmente pertenciam a figuras significativas da infância, como os pais ou cuidadores. Freud a considerava um “campo de batalha”, mas também a chave da análise.

a contratransferência se refere às reações emocionais do analista diante do paciente. Inicialmente considerada um obstáculo, a contratransferência passou a ser vista como uma valiosa ferramenta de análise, desde que o analista esteja atento a suas próprias emoções e reações.


Pulsão

Na psicanálise, a pulsão é compreendida como um impulso energético entre o corpo e a mente, que busca aliviar a tensão interna. Ela está entre o somático e o psíquico, não sendo uma necessidade fisiológica, mas um motor de desejo. As pulsões têm fonte corporal, mas se expressam na mente como um empuxo em direção à satisfação.

Freud as distinguiu em pulsões de vida (Eros) e pulsões de morte (Thanatos). Enquanto a primeira teria relação com a união e a preservação da vida, a segunda apontaria para a repetição, a destruição e o retorno ao inorgânico. A segunda, em particular, criou bases para entendimentos sobre a agressividade, sadismo, masoquismo e psicopatologia.

Discutida na obra Além do Princípio do Prazer (1920), a teoria das pulsões é crucial para entender comportamentos compulsivos e autodestrutivos.


Id, ego e superego

Em 1923, Freud propôs um modelo de aparelho psíquico: Id, ego e superego.

Para ele, o id seria uma espécie de reservatório das pulsões, onde habitam os desejos inconscientes, regidos pelo princípio do prazer. Em outras palavras, o id é a fonte dos impulsos inconscientes.

o ego, é a instância mediadora entre o id, o superego e a realidade, buscando satisfazer os desejos de maneira social e moralmente aceitáveis.

O superego, por sua vez, representa a internalização das normas e proibições sociais - entre elas, parentais —, operando como um juiz moral.

Esse modelo permite entender conflitos psíquicos complexos, por exemplo, quando o desejo do id (impulsos) é bloqueado pelo superego (instâncias morais), pode surgir sentimentos e sintomas como culpa.

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Complexo de Édipo

Inspirado na tragédia de Sófocles, Freud formulou o Complexo de Édipo para explicar a estruturação do desejo e da identidade sexual na infância.

Analisando o desenvolvimento infantil a partir de casos clínicos, Freud observou a manifestação do desejo, sobretudo, de meninos, sobre o genitor do sexo oposto, ou seja, a mãe, vendo o pai enquanto um obstáculo.

Para ele, esse conflito gera angústia na criança e precisa ser resolvido para que ela avance em seu desenvolvimento psíquico. A resolução do Complexo de Édipo se daria a partir da renúncia ao desejo incestuoso e a identificação com o genitor do mesmo sexo, o que permitiria a internalização da autoridade e dos limites social e moralmente estabelecidos (superego).


Resistência

O conceito de resistência tem relação com as estratégias de autopreservação do inconsciente. Trata de tudo aquilo que, de forma inconsciente, impede o sujeito de acessar seus conteúdos reprimidos. Essa resistência pode se manifestar por meio da recusa, do silêncio, da evasão, do esquecimento ou da racionalização.

Para alguns estudiosos, a resistência é considerada um obstáculo à associação livre de ideias, pois impede que o paciente não permaneça aberto a falar tudo o que vier à mente no processo analítico. No entanto, é justamente a resistência que revela o ponto exato onde o inconsciente se recusa a se mostrar.

“Só quando a resistência está em seu auge é que pode o analista, trabalhando em comum com o paciente, descobrir os impulsos recalcados que estão alimentando a resistência; e é este tipo de experiência que convence o paciente da existência e do poder de tais impulsos” (Freud, 1914/1996, p. 202).

Sintoma

Para a psicanálise, o sintoma não é apenas um sinal que denuncie uma doença, mas uma forma de expressar um conflito inconsciente, um desejo recalcado. Ele tem um valor simbólico e pode ser interpretado como uma mensagem a ser decifrada.

Em “Inibição, sintoma e angústia” (1926/1980), Freud descreve o sintoma como “um sinal e um substituto de uma satisfação pulsional que permaneceu em estado jacente; [o sintoma] é uma consequência do processo de recalcamento” (Freud, 1980, p. 112).

Enquanto Freud percebe o sintoma como fundamentalmente relacionado ao sentido, Lacan o identifica (sinthoma) a partir da linguagem e do processo interpretativo. Assim, para o segundo, o sintoma revelaria a relação do sujeito não apenas com o inconsciente, mas também com o Outro e com o Real a partir da sua dimensão simbólica.

O que a experiência analítica nos ensina em primeiro lugar é que o homem é marcado, é perturbado por tudo aquilo a que se chama sintoma, na medida em que o sintoma é aquilo que o liga aos seus desejos (Lacan, 1992, p. 262-263).



Sonhos

Freud afirma que os sonhos são realizações disfarçadas de desejos inconscientes. Eles funcionam como uma via privilegiada de acesso ao inconsciente, pois dão forma ao que escapa do discurso racional.

Em “Interpretação dos Sonhos” (1899/1900), Freud os identifica como uma “realização disfarçada de um desejo reprimido” (Freud, 1900, p. 45) que não tem relação com os sonhos que se sucedem após eventos traumáticos. Estes últimos estariam mais relacionados à compulsão à repetição, do que ao desejo.


Narcisismo

Definir o conceito de narcisismo é um desafio, na medida em que essa discussão percorre toda a teoria freudiana, sofrendo alterações e aprofundamentos ao longo do tempo.

Para a psicanálise, o narcisismo se refere às manobras da libido que o sujeito faz sobre si mesmo. Diferenciado por Freud como narcisismo primário (infantil) e secundário (retorno do investimento do outro para si), o conceito é central para entender as relações de autoestima e idealização.

O narcisismo primário é uma herança do ideal narcísico dos pais. A criança passaria a ocupar o lugar do que não foi vivido pelos seus cuidadores, cabendo a ela realizar os sonhos e projetos que estes foram obrigados a renunciar. Já o narcisismo secundário teria relação com um refluxo da libido para o próprio eu enquanto sujeito. Em outras palavras, seria o retorno ao eu dos investimentos feitos anteriormente.

“O narcisismo não seria uma perversão, mas o complemento libidinal do egoísmo da pulsão de autoconservação, do qual justificadamente atribuímos uma porção a cada ser vivo” (Freud, 1914/2010, p. 14-15).

O termo “narcisismo” deriva do mito grego de Narciso, elaborado na obra Metamorfoses, de Ovídio. Na história, Narciso foi um jovem de muita beleza que se apaixonou pelo seu próprio reflexo na água - por isso a relação com o termo.



Associação livre

A associação livre é uma técnica que consiste em permitir que o paciente fale livremente, dizendo tudo o que vier à mente. Para Freud, essa é a principal via de acesso ao inconsciente, pois é um espaço onde o discurso se manifesta, e o analista pode ouvir além do que é dito diretamente.

O analista, por sua vez, escuta essas associações em busca de lapsos, contradições e repetições. Assim, a técnica é capaz de revelar o modo como os significantes se encadeiam no discurso e permite interpretar os efeitos de sentido que emergem no processo.


Repetição

a repetição é um fenômeno pelo qual o sujeito revive experiências passadas, especialmente traumas que não foram elaborados. Ao analisar casos clínicos, Freud observou esse padrão em pacientes que, em vez de recordar, repetiam certas situações, mesmo que dolorosas.

Para ele, esse gesto estaria ligado à compulsão à repetição — conceito apontado na obra Além do Princípio do Prazer (1920).

“Uma vez que nenhuma dessas situações que o paciente repete em transferência poderia, no passado, propiciar-lhe prazer, seria de supor que esses elementos hoje tenderiam a emergir como recordações ou em sonhos, causando um desprazer menor do que quando se atualizam na transferência como se fossem novas experiências” (Freud, 2006/1920, p.146-147).

Ato falho

O conceito de ato falho é uma manifestação interessante de ser investigada pela psicanálise. Erros aparentemente banais, como esquecimentos, trocas de palavras, revelariam conteúdos inconscientes, pois a fala “trocada” denunciaria um sintoma.

Para Freud, o ato falho seria uma forma de “tomar conhecimento do que foi reprimido” (Freud, 1923-25/2011, p. 250), sendo caracterizada pelo movimento do sujeito em revelar, negativamente, algo que se encontra recalcado.

Assim, esses “pequenos deslizes” revelariam desejos, resistências e conflitos. Na clínica, a atenção aos atos falhos ajuda a compreender a dinâmica psíquica do inconsciente.

Formas fundamentais de funcionamento psíquico (neurose, psicose e perversão)

Para Freud, a psique humana se organiza a partir de três princípios fundamentais: neurose, psicose e perversão. Cada uma corresponde a um modo de lidar com o desejo, o recalque e a realidade.

A neurose (histeria) teria relação com desejos proibidos não aceitos pela pessoa. Então, ela empurra os desejos para o inconsciente (recalque). No entanto, esses desejos voltam disfarçados em forma de sintoma: ansiedade, fobia, insônia, entre outros. Assim, a neurose estaria ligada à repressão e à formação de sintomas.

a psicose (paranóia), trata da recusa da pessoa em aceitar alguma parte da realidade. Em vez de reprimir ou processar o acontecimento, ela expulsa da mente essa realidade (recusa). Isso faz com que ela crie uma nova realidade, através de delírios e alucinações.

A perversão (fetichismo), por sua vez, envolve a manutenção de desejos proibidos, sem que a pessoa queira abrir mão deles. Em outras palavras, o sujeito tem desejos proibidos e finge que o limite (castração) não existe, então busca encontrar as vias para satisfazer o desejo sem culpa.




Conclusão: conceitos fundamentais da psicanálise e sua importância

Entender os conceitos da psicanálise é mergulhar em uma linguagem que dá forma ao sofrimento humano, aos desejos, conflitos e modos de existir. Mais do que teorias, esses conceitos estão vivos na experiência analítica e na escuta do outro, revelando a singularidade de cada sujeito e a complexidade de sua vida psíquica.

Esses conceitos oferecem ferramentas para interpretar os impasses da vida e para pensar as subjetividades. Por isso, a psicanálise continua sendo um campo vivo, provocativo e cada vez mais necessário para quem deseja compreender o ser humano.

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Referências

https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/11780/11780_3.PDF

FREUD, S. (1920). Além do Princípio do Prazer. In: Escritos Sobre a Psicologia do Inconsciente. Tradução Luis Alberto Hanns (Org). Rio de Janeiro: Imago, 2006. v. 2, p. 123-192.

FREUD, S. (1914). Introdução ao narcisismo. In: ___. Obras completas. São Paulo: Companhia das letras, 2010. Vol. 12.

FREUD, S. (2011) O Eu e o Id, Autobiografia e outros textos In: Sigmund Freud, Obras Completas. São Paulo: Companhia das Letras, v XVI. (Obra Original publicada em 19223-1925)

FREUD, S. (1996). Recordar, repetir e elaborar. In: ______. Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. 12. Rio de Janeiro: Imago, 1914.

LACAN, J. (1992). O seminário livro 8: a transferência Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Original publicado em 1960-1961).

Você já parou para pensar que há forças dentro de você das quais nem sequer tem consciência, mas que influenciam suas escolhas, seus medos e seus desejos mais íntimos? Para a psicanálise, esse território oculto da mente tem nome: inconsciente.

Neste artigo, vamos explorar o que é o inconsciente segundo Freud — sua maior descoberta —, entender como ele se manifesta por meio de sonhos, atos falhos, sintomas e esquecimentos, além de conhecer a relação entre o inconsciente e o recalque, suas diferenças em relação ao pré-consciente e ao consciente, e as contribuições de Jung com a ideia do inconsciente coletivo.

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O que é o inconsciente?

O termo “inconsciente” significa literalmente “aquilo que é desconhecido” (“consciência” em latim significa “conhecido” e o prefixo “in”, neste caso, dá a ideia de negatividade). Ele é tido como a maior descoberta de Freud e principal conceito da psicanálise.

Quando Freud postulou que todos nós possuímos um inconsciente ele considerou, portanto, que todos nós nos desconhecemos. Ou seja, possuímos desejos, fantasias, características ou mesmo traumas que sequer conhecemos. No entanto, estes tantos desejos, fantasias, características ou traumas influenciam nossa vida de maneira crucial.


Freud e a descoberta do inconsciente

Freud (1900/1996) postulou o conceito de inconsciente muito cedo, já em sua primeira obra, o livro “A interpretação de sonhos”.

Tal postulação se deu em virtude dos mais de vinte anos de experiência e de tratamento com suas histéricas. Em linhas gerais, as histéricas eram mulheres que sofriam de alguns sintomas de conversão, ou seja, dores e paralisias corporais sem que nada de anatômico ou fisiológico as explicasse.

Por exemplo, era muito comum que uma histérica ficasse surda. Neste caso, os médicos faziam nela os mais variados exames e não encontravam quaisquer lesões ou defeitos que justificavam aquela surdez. Pelo contrário, todo o seu organismo funcionava de modo absolutamente normal: os ouvidos, as inervações, os órgãos interiores, o cérebro... E por isto nenhum médico conseguia explicar como essa histérica veio a ficar surda.

Tal explicação só veio com Freud. Através da análise dos mais variados casos, ele finalmente descobriu que esses sintomas de conversão eram manifestações de desejos inconscientes e, portanto, desconhecidos às histéricas.


Alguns exemplos de casos clínicos de pacientes histéricas de Freud

Como ilustração, há o famoso caso de Elisabeth von N. (Breuer & Freud, 1895/1996), paciente de Freud que sentia inexplicáveis dores na perna, às vezes chegando mesmo a paralisá-las. Em suas associações livres com Freud, a paciente descobriu que possuía um forte desejo pelo cunhado, mas que, de forma alguma, conseguia “dar um passo a frente” (segundo suas palavras) para conquistá-lo. Desta maneira, a impossibilidade de “dar esse passo à frente” era, de alguma forma, simbolizada na paralisia de suas pernas.

Há também o caso de Dora (Freud, 1905a/1996), histérica que, dentre vários outros sintomas, possuía fortes dores na região do abdômen. Em sua análise com Freud, ela reconheceu-se apaixonada pelo melhor amigo de seu pai, o Sr. K.

Certo dia, este senhor deu-lhe uma investida e a jovem prontamente o recusou. Porém, exatos nove meses após esta cena, ela veio a sentir as benditas dores no abdômen, como se elas representassem a simulação de um parto. Nesta medida, Dora veio a descobrir o quanto lamentava-se por ter recusado as investidas do Sr. K.


O inconsciente e o recalque

Assim, através da análise de sucessivos casos, Freud confirmou a existência de desejos inconscientes em todos os seus pacientes. Mas por que estes desejos se tornam inconscientes?

Freud (1909/1996) demonstra que alguns dos nossos desejos acabam se tornando inconscientes por serem incompatíveis com as regras morais. Segundo ele, nós vivemos em uma sociedade governada por uma “moral sexual civilizada”, ou seja, uma moral que atinge e critica basicamente a nossa vida sexual.

Tal moral reconheceria como corretos apenas os desejos sexuais genitais e heterossexuais, de preferência, direcionados ao contexto matrimonial. Portanto, quando algum dos nossos desejos escapa a esta regra, ele ficaria condenado a tornar-se inconsciente através do processo de recalque.

Nesta medida, o recalque é definido como uma defesa frente à nossa sexualidade. Ele consiste, basicamente, em fazer com que um desejo consciente venha a se tornar inconsciente, ou seja, desconhecido para nós.

No entanto, é necessário frisar que recalcar um desejo sexual não significa matá-lo. Pelo contrário, o desejo passa a se tornar apenas desconhecido. Porém, ele continua vivo dentro de nós, à espera de alguma uma ocasião oportuna para manifestar-se.

Mas, então, como os nossos desejos inconscientes conseguem manifestar-se?

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Como o inconsciente se manifesta?

Segundo Freud, nossos desejos inconscientes manifestam-se de cinco maneiras diferentes: nos sonhos, nos atos falhos, nos esquecimentos, nos chistes ou tiradas espirituosas e nos sintomas. Vejamos cada uma delas.

  • Sonhos: segundo Freud (1900/1996), “os sonhos são realizações de desejos inconscientes”. Conforme destacamos, os desejos inconscientes são muito imorais e até mesmo perigosos. Por isso nos censuramos tanto e fazemos de tudo para que eles permaneçam inconscientes e jamais surjam na consciência.

    No entanto, quando estamos dormindo, deixamos um pouco de nos censurar. Daí tais desejos conseguem disfarçar-se e aparecer nos sonhos. Através deste disfarce, eles conseguem não ser reconhecidos e, assim, burlam a nossa censura. Cabe alertar que é justamente devido a este disfarce que os nossos sonhos parecem tão confusos e disparatados.

  • Atos falhos: os atos falhos são também por Freud (1901/1996) considerados manifestações do inconsciente. Eles são definidos como erros ou enganos nas nossas falas. Ocorrem quando almejamos dizer alguma coisa, mas inesperadamente nos enganamos e acabamos falando outra. Só que através deste engano, acabamos dizendo a verdade.

    Um exemplo citado por Freud é o de um senhor que, em uma reunião social, conversava com uma dama de seios fartos. O papo entre os dois era sobre os preparativos de Berlim para o dia de Páscoa. E, assim, no meio do assunto, ele diz: “A senhora viu a exposição de Wertheim? Está totalmente decotada”.

  • Esquecimentos: Segundo Freud (1901/1996), nossos esquecimentos também são manifestações do inconsciente. Ou seja, quando esquecemos “algo” é porque desejamos efetivamente esquecer este “algo”, ou então, alguma coisa a ele relacionada.

    Um exemplo que aconteceu com o próprio Freud: certo dia, uma amiga pediu-lhe que fosse até o Centro de Viena para comprar-lhe um pequeno cofre. Ele sabia onde ficava a loja em que deveria ir, mas não a encontrou.

    Percorreu ruas e ruas inteiras do centro e nada... Até que quando chega em casa, lembra-se que esqueceu de percorrer apenas uma rua da cidade, justamente onde ficava esta loja. Segundo Freud, tal esquecimento se deu porque nesta rua morava uma família da qual ele queria distanciar-se e jamais manter contato.

  • Chistes ou tiradas espirituosas:: De acordo com Freud (1905b/1996), os chistes ou as diversas tiradas que fazemos em nossas conversas também são manifestações do inconsciente. Elas ocorrem quando almejamos dizer algo proibido e imoral e que, portanto, não podemos falar... Mas fazendo um trocadilho ou uma ironia, acabamos por indiretamente dizer e até provocamos risos em quem nos ouve.

    Um exemplo também fornecido por Freud é o de um senhor que conversava com um amigo sobre alguém que ele odiava. No meio do papo, ele solta: “Bem, a vaidade é um de seus quatro calcanhares de Aquiles”.

    Outro exemplo também mencionado por Freud foi o de Phocion, estadista ateniense. Em certa ocasião, ele termina um discurso para o povo e, então, se vê aplaudido. Como ironia, vira para os amigos e pergunta: “Qual foi a besteira que eu falei agora”? Ora, Phocion encarava o povo como propriamente estúpido e, portanto, se o estavam aplaudindo, certamente era porque ele havia dito alguma asneira durante seu pronunciamento. Com efeito, esta foi uma pergunta irônica e sarcástica que manifestava todo o seu desdém pela população.

  • Sintomas: De acordo com o que explicamos acima a respeito das pacientes histéricas de Freud, os sintomas também são formas de manifestação de um desejo inconsciente.

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Inconsciente e psicanálise

Portanto, a partir de tudo o que foi exposto, podemos dizer que, para a psicanálise, o inconsciente não corresponde apenas “àquilo que foi esquecido”. Pelo contrário, apesar de não termos consciência dos desejos recalcados, eles jamais podem ser considerados inertes ou estanques. Ou seja, não devemos entendê-los como algo que foi retirado da consciência de uma vez por todas, permanecendo inconsciente para todo o sempre.

Para a psicanálise, o inconsciente é ativo. Em outros termos, há todo um dinamismo que lhe é próprio e que faz com que as tendências recalcadas lutem, a todo instante, para novamente se manifestarem na consciência.

A respeito disso, vimos tudo o que se passa no contexto dos sonhos, dos atos falhos, dos esquecimentos, das tiradas e dos sintomas: recalcar um desejo e, assim, torná-lo inconsciente não significa matá-lo ou condená-lo ao esquecimento. Pelo contrário, existe uma luta constante entre o desejo sexual imoral e as tendências que tentam silenciá-lo.




Inconsciente, pré-consciente e consciente

Também é importante marcar que, em seu modelo de aparelho psíquico apresentado em “A Interpretação dos Sonhos”, Freud (1900/1996) o dividiu em três diferentes sistemas: o inconsciente, o pré-consciente e o consciente.

  1. Inconsciente: Conforme está sendo assinalado, o inconsciente corresponde a uma parcela de si que o sujeito desconhece. Todos os desejos sexuais que escapam à moral são recalcados e assim permanecem à espera de alguma forma de manifestação.

    Resta mencionar que tudo o que é inconsciente é indestrutível, ou seja, jamais se extingue ou é encerrado. Pelo contrário, nossos desejos recalcados permanecem vivos e ativos para todo o sempre.

  2. Pré-consciente: Já o pré-consciente corresponde às tendências momentaneamente inconscientes, mas que podem voltar à consciência sem maiores problemas. Isto porque elas não são propriamente imorais ou perigosas. São apenas coisas que voluntariamente optamos por esquecer momentaneamente ou não dar muita atenção.

    Por exemplo, quando temos planos de fazer uma viagem, mas estamos impossibilitados por quaisquer questões, afastamos este plano do nosso pensamento consciente. Tão logo ressurja a oportunidade, voltamos nosso pensamento para a viagem.

    Ou então, quando temos uma tarefa de trabalho, mas queremos aproveitar o final de semana, deixamos de pensar neste dever. Porém, tão logo chega a segunda-feira, voltamos nossa atenção para o trabalho e, assim, a tarefa volta a se tornar consciente.

  3. Consciente: Já a consciência responde basicamente pela percepção do mundo e pelo conhecimento das informações que dele chegam. Cabe à consciência também a função de percepção dos nossos mais diversos sentimentos, dentre eles, os de prazer e de desprazer.




Freud, Jung e o inconsciente: diferentes percepções

Por fim, é necessário frisar que, ao contrário de Freud, Jung vai falar da existência de dois inconscientes: o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo.

De acordo com Silveira (1995), o conceito de inconsciente pessoal é razoavelmente semelhante ao conceito freudiano. Ele diz respeito a determinadas tendências que permanecem inconscientes por serem incompatíveis com a atitude consciente, ou então, por serem demasiado fracas e não disporem de energia suficiente para manifestar-se na consciência.

Já o inconsciente coletivo corresponde às camadas mais profundas da nossa mente. Ele diz respeito a alguns fundamentos estruturais do psiquismo comuns a todos os homens, independente de suas culturas ou raças. Trata-se de uma espécie de herança comum que explica, dentre outras tantas coisas, o estranho fato de indivíduos tão diferentes e tão distantes entre si possuírem desejos, fantasias e comportamentos em muito semelhantes.



Este texto foi escrito pelo professor Ricardo Salztrager, psicanalista e professor associado da UNIRIO e da Casa do Saber. Possui Graduação em Psicologia, mestrado e doutorado em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

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Referências:

Breuer, J. & Freud, S. (1893-1895). Estudos sobre histeria. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 2. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 11-316.

Freud, S. (1900). A interpretação de sonhos. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vols. 4 e 5. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 13-650.

_____. (1901). A psicopatologia da vida cotidiana. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 6. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 11-290.

_____. (1905a). Fragmentos da análise de um caso de histeria. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 7. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 13-116.

_____. (1905b). Os chistes e sua relação com o inconsciente. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 8. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 9-231.

Silveira, N. (2007). Jung: vida e obra. São Paulo: Paz e Terra, 1995.

A figura do psicanalista desperta cada vez mais interesse, seja por quem busca um processo terapêutico mais profundo, seja por estudantes e profissionais que desejam atuar na área. Mais do que trabalhar uma técnica terapêutica, o psicanalista atua em um campo de conhecimento complexo, que investiga o inconsciente e os caminhos singulares de cada pessoa. Em um mundo cada vez mais marcado pela urgência, a formação em psicanálise defende o tempo da escuta, o valor da palavra e a subjetividade do sujeito.

Neste artigo, apresentaremos um guia completo para entender quem é o psicanalista, o que faz, onde atua, como se dá a sua formação e como é o curso. Além disso, iremos abordar as diferenças entre psicanalista e outros profissionais da saúde mental, apresentando as principais linhas da psicanálise e seus conceitos centrais.



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O que é um psicanalista?

O psicanalista é um profissional que atua na escuta e compreensão do inconsciente humano. Sua prática é baseada na psicanálise, um campo criado por Sigmund Freud no século XIX, que busca entender os processos psíquicos profundos através da fala do paciente e da interpretação de sintomas.

O processo interpretativo do psicanalista se baseia não nos sintomas médicos, mas no que está por trás deles: os desejos reprimidos, os traumas inconscientes, as lembranças ocultas, além da interpretação de sonhos e padrões de repetição.

Diferente de outras profissões da saúde mental, o psicanalista foca em tornar conscientes os processos inconscientes que influenciam os comportamentos e ações. Nesse sentido, o profissional da psicanálise tem o potencial significativo de transformar os modos como as pessoas se sentem em relação às suas experiências e ao sofrimento mental.



O que faz um psicanalista?

O psicanalista conduz um processo terapêutico que auxilia o paciente a acessar conteúdos psíquicos que não estão imediatamente disponíveis à consciência, mas que se manifestam por meio das fantasias, sonhos, lapsos, sintomas e repetições.

O seu trabalho consiste em escutar atentamente, interpretar quando necessário e oferecer novas formas de se pensar e ressignificar experiências. Assim, o que o psicanalista faz é construir um espaço seguro para o processo analítico do paciente.

Ao longo do processo terapêutico construído pelo profissional, a sessão se baseia na associação livre, uma técnica em que o paciente é incentivado a falar livremente o que vier à mente, sem censura.

Durante as sessões, emergem fenômenos como a transferência - quando o paciente transfere sentimentos para o psicanalista, relacionados a outras figuras importantes da vida - e a contratransferência - apontada como as reações emocionais do analista ao paciente.

Esses elementos são importantes para a compreensão da dinâmica interna do paciente, pois revelam padrões inconscientes de relacionamento, desejos recalcados e formas de defesa psíquica.

Nesse cenário, é estruturado o que foi denominado por setting analítico, ou seja, um ambiente, um contexto elaborado cuidadosamente para compor as sessões. O objetivo é construir um espaço confiável, com acordos pré-estabelecidos, como a regularidade nos atendimentos, os horários e o formato.

Através da escuta atenta e das interpretações oferecidas em sessão, o psicanalista ajuda o paciente a dar sentido ao que antes era vivido de forma repetitiva, sofrida ou enigmática. Assim, o paciente desenvolve uma nova relação com sua história, podendo romper com repetições que o aprisionam e construir novos caminhos subjetivos.

👉 É importante lembrar que não existe uma “fórmula” para as sessões de psicanálise. O psicanalista não irá oferecer conselhos ou receitas pré-estabelecidas. Cada encontro é único, guiado pelo discurso do paciente e pelas intervenções pontuais do analista.

Por isso, o objetivo terapêutico não é dar “respostas prontas” ao paciente, mas apresentar interpretações que visam abrir caminhos de reflexão e transformação.




Psicanalistas e psicólogos trabalham com a compreensão da mente humana através da escuta. Eles conduzem o processo terapêutico através da investigação sobre questões emocionais e comportamentais, buscando os mecanismos para contribuir com o bem-estar das pessoas.

No entanto, apesar das semelhanças, eles possuem trajetórias, formações, métodos de trabalho e abordagens teóricas bastante distintas. Além disso, também se distinguem na forma como cada um compreende e aborda o sofrimento psíquico. Vamos, então, entender qual a diferença entre esses profissionais.

O psicanalista utiliza o método psicanalítico, baseado nos princípios criados por Freud. Esse método parte do pressuposto de que muitos dos nossos comportamentos e sintomas têm origem no inconsciente, em conteúdos reprimidos, desejos não reconhecidos e memórias recalcadas. O processo analítico envolve não apenas a resolução de sintomas, mas a compreensão inconsciente sobre esses sintomas.

O psicanalista pode atuar em consultórios particulares, clínicas de saúde mental, instituições de ensino, projetos sociais, entre outros espaços. Sua atuação se estende para além da clínica tradicional, podendo contribuir com equipes multidisciplinares e com a produção do conhecimento científico.

Já o psicólogo pode utilizar de diferentes métodos, a depender da sua formação e escolha teórica. Ele tem liberdade para atuar em clínicas, hospitais, escolas, empresas e instituições, e utilizar de diferentes abordagens terapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), Gestalt, Humanista e a Psicologia Analítica.

Além disso, é comum que psicólogos exerçam a própria Psicanálise, após realizar um processo formativo específico para isso.

Ao contrário da prática psicanalítica, as abordagens mais convencionais da psicologia tendem a trabalhar com problemas mais pontuais e objetivos, na busca por estratégias práticas para lidar com eles, visando um alívio mais rápido do sofrimento e a reestruturação do comportamento.

É importante destacar que para se tornar psicólogo, é necessário a formação de graduação na área de Psicologia, com registro no Conselho Regional de Psicologia (CRP). O processo formativo dura, em média, 5 anos, e é necessário realizar estágios supervisionados para exercer a prática clínica.


Como se tornar psicanalista?

Para se tornar psicanalista, primeiramente, é necessário compreender que o processo formativo é apenas o ponto de partida de uma jornada contínua. Dentro da comunidade psicanalítica, há um percurso amplamente reconhecido, que pode nos auxiliar a compreender o que é necessário para essa formação.

  • Interesse e curiosidade pela escuta psicanalítica:

O primeiro passo é conhecer a psicanálise não apenas como técnica, mas como uma forma de compreender o ser humano. Trata-se de um método complexo de compreensão da subjetividade humana, por isso, exige um olhar crítico, atento e curioso pela abordagem e pelos seus contextos.

Assim, investigar, pesquisar e explorar o mundo da psicanálise é essencial.

Uma sugestão de como esse interesse pode ser estimulado, se dá a partir do contato com assuntos relacionados. Livros, cursos introdutórios, filmes, séries e revistas, podem ser um excelente ponto de partida para conhecer mais sobre a psicanálise.

  • Vivência teórica e autoanálise:

Mais do que um curso em psicanálise, esse é um processo de transformação. Se tornar psicanalista não apenas envolve o estudo da teoria, mas também o confronto com o próprio inconsciente e o desenvolvimento de uma escuta refinada e profissional.

Nesse sentido, é importante que seja realizada uma vivência da análise, de preferência, por meio da psicanálise. Passar por um processo analítico estando “do outro lado” é essencial não apenas para compreender como acontece, mas para desenvolver a capacidade de fala e escuta.

Escolher um analista de confiança e explorar essa vivência pode trazer resultados significativos para o processo formativo.

  • Inserção em instituições psicanalíticas:

Muitos profissionais se associam a escolas ou sociedades psicanalíticas para aprofundar os estudos na área. A participação em seminários, congressos, a integração em grupos de pesquisa e a organização de vínculos com a comunidade analítica, também são ótimas vias de acesso à discussões do campo.

Além disso, a busca por cursos reconhecidos e bem avaliados também é necessária, uma vez que a escolha de um instituto ou escola irá influenciar diretamente no processo formativo e na prática psicanalítica.


A formação em psicanálise

O processo formativo acontece, tradicionalmente, a partir do tripé psicanalítico: a análise pessoal, a supervisão clínica, e o estudo teórico das obras de Freud, Lacan, Winnicott, Melanie Klein e outros psicanalistas.

Vamos entender cada etapa:

Na análise pessoal, o foco está na experiência subjetiva do futuro analista - ela é a base da psicanálise. Nessa etapa, ele é estimulado enquanto paciente a explorar seus pensamentos, emoções e sentimentos de forma livre e segura. Geralmente é guiada por algum psicanalista da própria escola ou instituição.

Já na etapa da supervisão clínica, o psicanalista em formação é acompanhado em seus atendimentos por outro analista mais experiente. A supervisão visa auxiliar o profissional a aprimorar suas habilidades terapêuticas e sua capacidade analítica.

Por fim, o estudo teórico é a base conceitual da formação. O conhecimento sobre autores e conceitos como inconsciente, id, superego, pulsão, transferência, desejo, fantasia, são fundamentais na compreensão do comportamento humano a partir da psicanálise.


A formação do psicanalista é singular e se dá fora do sistema universitário tradicional. Embora legalmente não se exija diploma acadêmico para exercer a psicanálise, a maioria dos institutos mais reconhecidos costuma exigir uma formação prévia em áreas como Psicologia, Medicina ou outra das ciências humanas.

Com duração de 1 e 4 anos, a carga horária da formação psicanalítica varia de acordo com a escola ou instituto. Mais do que a formalização acadêmica, o interessante é considerar nesse processo a profundidade e o envolvimento subjetivo do futuro analista.

Além disso, os cursos dos institutos mais reconhecidos mantêm critérios éticos e podem incluir entrevistas de admissão, avaliações regulares e orientações sobre limites éticos da prática analítica.

As sessões de psicanálise, normalmente, adotam um tempo padrão de 50 minutos de duração, podendo variar para mais ou para menos. Independentemente da extensão, o mais importante é a frequência e a constância dos atendimentos.

A regularidade - geralmente de uma a três vezes por semana - é essencial para que o processo analítico ganhe profundidade. Do mesmo modo, é necessário para que o inconsciente possa se expressar em suas repetições, associações e silêncios - que também dizem muito!



Curso de psicanálise: como é?

Os cursos de psicanálise são oferecidos por escolas ou institutos com orientação freudiana, lacaniana, kleiniana, entre outras. Cada linha/escola propõe metodologias de estudo e enfoques específicos.

Entenda:

Psicanálise Freudiana

A escola ou psicanálise freudiana, por exemplo, tem por objetivo analisar as pulsões de vida e morte, as estruturas psíquicas (neurose, psicose e perversão) e a sexualidade. A partir dela, são analisados os sonhos, os padrões e o processo elaborativo do paciente.



Psicanálise Lacaniana

Já a psicanálise lacaniana desenvolvida por Jacques Lacan - também denominada de Escola Francesa -, tem como eixo central a linguagem. Nessa abordagem, a escuta visa captar as rupturas do discurso para tocar o real do sujeito.

Com a linguística, a psicanálise se potencializa para compreender os sentidos de como o paciente se posiciona no mundo e nas relações a partir dos modos como fala.

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Psicanálise Kleiniana

Um outro exemplo é a escola ou psicanálise kleiniana, desenvolvida por Melanie Klein, centrada na relação entre figuras parentais e o mundo interno do bebê. Nessa abordagem, são investigadas as fantasias inconscientes originadas desde a primeira infância, ainda nas primeiras interações, sobretudo, maternas.

Nesse sentido, todas as abordagens investigam sobre o inconsciente, mas cada uma o faz a partir de uma lente específica, com foco em diferentes aspectos do psiquismo e em modos distintos de conduzir a escuta clínica.

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O que aprendemos sobre o psicanalista: conclusão do guia

Neste artigo, aprendemos como ser psicanalista envolve um compromisso ético profundo com o sofrimento do outro e com uma busca pela autocompreensão do sujeito. Entendemos que a psicanálise não é apenas uma profissão, mas um modo de escutar e compreender o ser humano em sua complexidade.

Se você se interessa pela escuta, pelo inconsciente e pelo cuidado com a subjetividade, a psicanálise pode ser um caminho transformador. E se está em busca de um processo terapêutico profundo, esse método pode proporcionar mudanças e percepções significativas.

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Você sabe o que é o tripé da psicanálise? Neste artigo, vamos explorar os três pilares fundamentais para a formação de um psicanalista: a análise pessoal, a supervisão clínica e o estudo teórico. Vamos entender como surgiu a exigência desse tripé, qual a sua importância para a prática ética da psicanálise e de que forma ele ajuda a construir a escuta analítica. Também vamos discutir os riscos de ignorar essas etapas e as implicações éticas na atuação profissional.



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O que é o tripé da psicanálise?

O tripé da psicanálise diz respeito aos três pilares da formação de um psicanalista: análise pessoal, supervisão e estudo teórico. De acordo com Freud (1926/1996), somente uma formação fundamentada nestas três bases tornaria um sujeito apto para ser psicanalista.

A formação psicanalítica

A primeira menção de Freud ao tripé da formação psicanalítica data de 1919 quando publicou o pequeno ensaio “Sobre o ensino da psicanálise nas universidades”. No entanto, foi somente entre os anos de 1925 e 1933 que o obedecimento a este tripé foi oficialmente considerado a condição fundamental para a formação de quem quisesse praticar a psicanálise.

Segundo Roudinesco & Plon (1988), tal oficialização se fez dentro da IPA (Associação Psicanalítica Internacional), primeira instituição de formação de psicanalistas fundada por Freud e seu discípulo Ferenczi em 1910. Ora, como a psicanálise vinha desfrutando de uma imensa fama, era comum que os mais variados tipos de pessoas passassem a praticá-la e a se declararem psicanalistas. E o problema era que muitos destes não tinham a preparação necessária para tal.

Deste modo, era necessário barrar o caminho e a admissão na IPA dos chamados “psicanalistas selvagens”, gíria que na época fazia referência aos maus psicanalistas, espécies de “charlatões” que praticavam a psicanálise. Além deles, seriam barrados os psicóticos, os “gurus” e os líderes religiosos. E, neste contexto, uma longa e polêmica discussão também se fez sobre os que praticavam a psicanálise sem possuir o diploma de médico (Freud, 1926/1996).

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O surgimento do tripé da formação psicanalítica

Daí a instituição do tripé da formação psicanalítica: era preciso colocar um mínimo de ordem em tamanha bagunça. E para tal, passou a ser exigido que os psicanalistas em formação passassem por 1) uma análise pessoal; 2) uma supervisão de seus primeiros atendimentos; e 3) se dedicassem aos mais variados estudos teóricos ao longo deste percurso.

Assim, em primeiro lugar, formulou-se a necessidade de um psicanalista passar por uma análise pessoal com outro psicanalista reconhecido pela IPA. Tal procedimento funcionaria como garantia de que ele estava sendo “bem analisado”. E jamais alguém poderia qualificar-se com o título de psicanalista antes de terminar seu processo de análise pessoal.

Em segundo lugar, havia a necessidade de supervisão. Deste modo, após o término de suas análises pessoais e com a devida autorização de seus psicanalistas, os formandos poderiam começar a atender desde que supervisionados por alguém também reconhecido pela IPA.

Por fim, foi exigido que, ao final de todo este percurso, eles apresentassem um trabalho teórico original a ser comunicado em uma das reuniões científicas da IPA. Tal trabalho seria o resultado dos muitos estudos que eles eram obrigados a fazer durante seus processos de análise pessoal e de supervisão.

Com a aprovação deste trabalho teórico, eles poderiam finalmente declarar-se psicanalistas, praticar a profissão e serem reconhecidos pela IPA (Miller, 1989). A seguir analisaremos detalhadamente cada um dos três pilares do tripé da psicanálise.


Análise pessoal: o mergulho necessário no próprio inconsciente

Conforme estamos demonstrando, a primeira base do tripé é a análise pessoal. Em relação a isto, ficou famosa a intervenção de Freud (1910/1996) quando, durante as conferências proferidas nos Estados Unidos, perguntaram-lhe do que precisaria alguém para tornar-se psicanalista. Ele então respondeu que esta pessoa deveria saber “interpretar os próprios sonhos”.

Deste modo, fica marcado ser imprescindível que o futuro psicanalista tenha certo contato com suas tendências inconscientes. Com efeito, a psicanálise é uma prática que se aprende em um divã. De forma que o manejo psicanalítico em si seja algo impossível de ser aprendido apenas em livros, artigos, palestras e mesmo em universidades e cursos de especialização.

Deve o futuro psicanalista passar por um amplo processo de análise pessoal e é apenas através desta experiência que ele conseguirá entender o que se faz em um consultório. Em suma: só entende o trabalho do psicanalista aquele que se propõe a elaborar suas próprias tendências inconscientes.

Aquele que não aceita passar por uma análise pessoal ficaria mais vulnerável a alguns riscos. Dentre eles:

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a) O risco de projetar-se em seus pacientes

Com efeito, aquele que não se submete a uma análise pessoal pode acabar projetando demais suas próprias questões em seus pacientes.

Nas palavras de Freud (1912/1996), “quem não se tiver dignado a tomar a precaução de ser analisado (...) cairá facilmente na tentação de projetar (...) algumas das peculiaridades de sua própria personalidade (...) e desencaminhará os inexperientes” (pp. 130-131).

Como exemplo, podemos mencionar o de um psicanalista bastante ciumento e que, assim, corre o risco de acabar sugerindo a um de seus pacientes que ele é traído. Ou seja, pode o paciente contar-lhe que, volta e meia, sua esposa sai com as amigas ou mesmo sozinha, mas que ele não vê qualquer problema nisso. No entanto, o analista ciumento por demais pode acabar reagindo a esta fala com um estranho conselho de “cuidado que numa dessas, você pode acabar perdendo ela para outro homem”.

Ou então o exemplo de um psicanalista que não lida muito bem com alguns de seus desejos homossexuais e que, assim, pode acabar concluindo que um de seus pacientes é homossexual, sem nem escutá-lo direito. Neste caso, o paciente pode contar-lhe sobre uma forte amizade que mantém com outro rapaz e, assim, sem nem escutar-lhe direito, o psicanalista pode concluir haver um desejo sexual nesta relação meramente amigável.

b) O risco de criar algumas resistências em seu trabalho

O processo de análise pessoal também ajuda o psicanalista a elaborar algumas de suas questões que, caso contrário, funcionariam como verdadeiras resistências ou entraves à sua escuta. Em outros termos, algumas questões suas ainda mal-elaboradas poderiam gerar alguns “pontos cegos” que viciariam sua escuta e o impossibilitaria de ouvir o que seus pacientes efetivamente dizem:

“O médico (...) não pode tolerar quaisquer resistências em si próprio. (...) Deve-se insistir, antes, que tenha passado por uma purificação psicanalítica e ficado ciente daqueles complexos seus que poderiam interferir na compreensão do que o paciente lhe diz. (...) Todo recalque não solucionado nele constitui o que foi apropriadamente descrito por Stekel como um ‘ponto cego’ em sua percepção analítica” (Freud, 1912/1996, pp. 129-130).

Como exemplos destas resistências ou “pontos cegos”, podemos mencionar o caso de um psicanalista que, ainda sem ter elaborado suficientemente algumas questões com seus pais, teria sua escuta contaminada por este problema. Assim, supomos que ele culpe seus pais por alguns de seus fracassos na vida. Neste caso, ao ouvir um paciente que se queixa de tristeza, solidão ou timidez, pode o psicanalista apressadamente concluir que os pais deste paciente são os verdadeiros culpados pelo que ele se queixa.

Ou então o exemplo de um psicanalista que tem sua escuta viciada por ainda não lidar muito bem com o fato de um de seus filhos consumir álcool. Neste sentido, ao ouvir um paciente relatar-lhe que seus filhos gostam de sair com amigos para beber (mas sendo isto um mero detalhe em seu discurso e que nem lhe importa muito) pode o psicanalista privilegiar demais este fragmento, ao invés de centrar-se em questões que efetivamente incomodam o paciente.

Supervisão em psicanálise: escutar o que escutamos

A segunda base do tripé é a supervisão. Ela pode ser definida como a prática de um psicanalista (iniciante ou não) de levar seus casos para discuti-los com outro psicanalista mais experiente.

Deste modo, em supervisão, o psicanalista será devidamente alertado a respeito, por exemplo, das projeções que eventualmente faz em seus pacientes, das possíveis resistências ou “pontos cegos” em sua escuta e, sobretudo, se está ou não conseguindo manter com eles uma “atenção flutuante”.

Conforme vimos no texto sobre a associação livre, a “atenção flutuante” corresponde à necessidade de o psicanalista saber escutar seus pacientes sem, a princípio, privilegiar quaisquer aspectos de seus discursos. Trata-se de uma tarefa bastante difícil de ser cumprida e, neste aspecto, uma supervisão pode muito bem auxiliá-lo.

Por exemplo, quando nos concentramos demais em um material que nossos pacientes nos trazem, é certo que negligenciamos outros tantos. E isto não deve ocorrer em nossos consultórios. Caso atuemos desta forma, estaremos arriscados a jamais descobrirmos nada além do que já sabemos. Neste sentido, uma boa supervisão pode ser muito útil.

Fora que quando um psicanalista cede à tentação de privilegiar apenas um ou poucos aspectos dos discursos de seus pacientes, pode-se ter a certeza de que ele assim age em virtude de suas próprias questões.

Por exemplo, vamos supor que um psicanalista possua uma série de problemas com seus irmãos. Neste caso, quando, dentre tantas outras coisas, algum de seus pacientes vem a narrar-lhe uma briga de família, pode o psicanalista acabar centralizando demais sua escuta neste ponto. O problema aqui é que o paciente pode nem ter se importado muito com a briga e efetivamente querer trabalhar outros assuntos. No entanto, o psicanalista mal supervisionado corre o risco de, em virtude de suas próprias questões, acabar privilegiando este aspecto.



Estudo teórico na psicanálise: teoria como sustentação da escuta

Por fim, o terceiro alicerce do tripé da psicanálise é o estudo teórico. De fato, as mais variadas instituições de formação psicanalítica oferecem uma série de cursos, módulos, palestras, debates e grupos de estudos sobre os mais variados temas da psicanálise.

Assim, durante todo o período no qual o psicanalista em formação faz sua análise pessoal e pratica a supervisão de seus primeiros atendimentos, ele também tem a oportunidade de mergulhar em uma série de estudos teóricos.

Tais estudos teóricos podem se dar sobre os principais conceitos da teoria freudiana: o inconsciente, os sonhos, a sexualidade, o narcisismo, as fantasias, a transferência, as pulsões, a angústia e o desamparo, dentre tantos outros.

Há também nas instituições alguns módulos de estudo sobre os principais autores pós-freudianos: Ferenczi, Balint, Winnicott, Lacan, Klein, dentre outros.

E também é interessante notar a presença de muitos grupos de estudos sobre questões atuais cujas discussões em muito auxiliam em nossa prática: debates sobre racismo, homofobia, debates sobre gênero, etc.

O tripé e a ética do trabalho de psicanalista

Portanto, conclui-se ser necessário o cumprimento deste tripé para que alguém venha a tornar-se psicanalista. Em si, seus três pilares são indissociáveis. Ou seja, de nada adiantaria estudar sem fazer uma análise pessoal ou supervisão. Do mesmo modo, de nada adiantaria apenas fazer supervisão sem uma análise pessoal e um estudo teórico. O mesmo vale para alguém que apenas tenha passado por uma análise pessoal, mas se recusa a estudar e a ser supervisionado.

Deste modo, a formulação deste tripé envolve toda uma discussão ética sobre o trabalho daqueles que se recusam a cumpri-lo. Há muitos, por exemplo, que se dizem psicanalistas apenas por possuírem uma faculdade de psicologia e terem aprendido sobre psicanálise, mas que, por exemplo, nunca se submeteram a uma análise pessoal.

Fora os tantos “psicanalistas selvagens”, “gurus”, líderes religiosos e mesmo “charlatães” que, tal como na época de Freud, ainda existem e fazem seus questionáveis atendimentos por aí.


Este texto foi escrito pelo professor Ricardo Salztrager, psicanalista e professor associado da UNIRIO e da Casa do Saber. Possui Graduação em Psicologia, mestrado e doutorado em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

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Referências:

Freud, Sigmund. (1910). Cinco lições de psicanálise. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 11. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 15-65.

______. (1912). “Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise”. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 12. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 123-135.

______. (1919). “Sobre o ensino da psicanálise nas Universidades”. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 17. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 185-191.

______. (1926). “A questão da análise leiga”. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 20. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 175-249.

Miller, Dominique. (1989). “Tão só como sempre estive em minha relação com a causa analítica”. In: Miller, Gérard. Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora.

Roudinesco, Elisabeth. & Plon, Michel. (1998). Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora.

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Você já se questionou sobre o mundo ou sobre si mesmo? Então, já deu o primeiro passo rumo à filosofia.

Nascida na Grécia antiga, ela é fruto de uma reflexão lógica sobre a vida e o saber.

Mais do que um conceito, a filosofia se aplica no cotidiano, estimulando o autoconhecimento, pensamento crítico e soluções mais racionais para os desafios do dia a dia.



O que é filosofia?

Primeiramente, esta é uma pergunta filosófica. A filosofia estuda o mundo, a existência humana e esse questionamento é um retorno em si mesma. Porque filosofar é exatamente fazer perguntas que nos tiram da zona de conforto.

Apesar deste começo filosófico, o conceito de filosofia é uma tentativa de explicar de forma racional aspectos fundamentais da nossa vida.

O termo filosofia vem das palavras philia (amor) e sophia (sabedoria), então, philosophia (amante da sabedoria).

A filosofia parte de uma reflexão crítica constante, baseada no raciocínio lógico e na argumentação sobre seus fundamentos, métodos e objetivos.

Para que serve a filosofia?

A filosofia tem um caráter problematizador. Perguntar para que ela serve já expressa a sua função questionadora.

Se considerarmos a utilidade da filosofia de forma prática e imediata, talvez ela não se evidencie de maneira concreta. Seus resultados não são imediatos ou palpáveis, mas se transformam ao manter o pensamento em movimento.

Além disso, ela está presente na ética e na política, já que nos auxilia na reflexão sobre questões sociais, certo e errado, direitos e deveres.

Ademais, também pode ser um instrumento de autoconhecimento, ajudando-nos a enfrentar os conflitos da vida. Uma corrente filosófica que está diretamente ligada a isso e pode ser aplicada no cotidiano é o estoicismo.

A origem da filosofia

A filosofia surgiu no século VI a.C, na Grécia, com Tales de Mileto, primeiro homem ocidental a questionar as crenças mítico-religiosas da época.

Anteriormente, os fenômenos eram explicados por mitos, que exerciam a função de coordenar as relações humanas e explicar eventos naturais.

Apesar de diversos fatores terem contribuído para o nascimento da filosofia, como a navegação marítima, a compreensão do calendário, uso da moeda, o principal deles foi a criação das pólis (cidades-estado), que possibilitaram o debate público e o exercício do pensamento racional.

A partir dessa nova organização da sociedade grega, surgiram questionamentos racionais quanto às exigências de uma vida social mais complexa.

Entretanto, este momento não significou uma ruptura, mas uma passagem gradual para investigação racional da realidade.


Conheça os períodos da filosofia

A filosofia, como campo de conhecimento, está em constante transformação e pode ser dividida em quatro períodos.

Filosofia antiga

A filosofia antiga se divide em pré-socrática e socrática.

A filosofia pré-socrática buscava explicações racionais sobre a origem do universo - cosmos - advindas dos fenômenos naturais. Como Tales de Mileto, que via a água como o princípio fundamental da natureza (arché).

Por outro lado, a filosofia socrática, iniciada por Sócrates, focava na busca pela verdade e no desenvolvimento do pensamento crítico.

Portanto, Sócrates mudou o foco da investigação filosófica do cosmo para as questões relativas ao homem.

Filosofia medieval

Influenciada pelo cristianismo, a filosofia medieval buscava conciliar fé e razão. Era uma construção de pensamento enraizada na antiguidade, voltada para responder aos problemas de sua época, tempo em que as questões religiosas ainda eram fundamentais.

A filosofia medieval é tradicionalmente dividida em dois períodos: a patrística e a escolástica.

A patrística se desenvolveu entre os séculos II e VIII, reunindo o pensamento dos Padres da Igreja, como Santo Agostinho.

Já a escolástica, do século V ao XV, teve seu desenvolvimento nas escolas, destacando-se Tomás de Aquino, com a intenção de sistematizar o pensamento cristão.

Filosofia moderna

A filosofia moderna tem início no Renascimento e termina com o Iluminismo, tendo como principais marcas o rompimento com a tradição medieval e a valorização da razão, considerando-a fonte de conhecimento.

Também proporcionou o surgimento do Iluminismo a partir de grandes debates sobre liberdade, ética, política e ciência.

Filosofia contemporânea

A filosofia contemporânea começou no século XIX e está presente até os dias de hoje.

Além de sua vastidão temporal, também apresenta uma diversidade de pensamentos. Entretanto, sua máxima é a busca pela reflexão sobre a realidade e as suas mudanças.

Em vez de buscar verdades absolutas, foca na complexidade da existência humana, na linguagem, na subjetividade e no contexto histórico. Assim, correntes como o existencialismo, o marxismo e o niilismo surgiram.



Principais correntes filosóficas

Como a filosofia está em constante desenvolvimento, novas abordagens surgiram, formando diferentes escolas de pensamento influenciadas pelos filósofos que, ao longo do tempo, abordaram questões fundamentais da existência humana.

Vamos conhecer quais as principais correntes filosóficas:

Estoicismo

Fundado por Zenão de Cítio durante o período helenístico, o estoicismo é uma doutrina filosófica que busca a virtude, valoriza o autocontrole e a aceitação do destino, tendo a razão como caminho para o fim principal, a felicidade.

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Racionalismo

O racionalismo é uma vertente filosófica da era moderna que coloca a razão como principal fonte de conhecimento, valorizando as ideias inatas e o raciocínio fundamentado na razão.

Empirismo

Diferentemente do racionalismo, o empirismo é uma teoria filosófica que defende que o conhecimento vem a partir da experiência sensorial e não de ideias inatas. Ou seja, a origem de todas as ideias vem da relação do homem com o ambiente externo.

Positivismo

O positivismo é uma corrente filosófica que coloca o conhecimento científico como a única forma verdadeira de conhecimento. Com isso, prioriza a lógica e os fatos, recusando explicações metafísicas.

Existencialismo

O existencialismo surgiu no final do século XIX, na Europa. Essa corrente filosófica tem como foco a experiência humana e a existência individual. Portanto, valoriza a liberdade e a responsabilidade pessoal diante do sentido da existência.

Marxismo

O marxismo é uma teoria filosófica, social e econômica que entende a sociedade a partir da luta de classes, propondo a superação do capitalismo.

Utilitarismo

Utilitarismo é uma doutrina ética que tem como ideal final promover o bem maior para o maior número de pessoas possível, minimizando o sofrimento e maximizando o bem-estar da sociedade.

Niilismo

Uma das principais características do niilismo é o afastamento de valores absolutos, questionando, principalmente, a existência de um propósito na vida, que são, geralmente, atribuídos à moral absoluta e ao próprio ser.

Fenomenologia

Fenomenologia estuda a experiência humana a partir daquilo que aparece na consciência, buscando entender como os fenômenos se manifestam na mente. A descrição é parte fundamental, porque busca do próprio entender a experiência a partir do próprio fenômeno.


Áreas da filosofia

A filosofia não é uma coisa única, ela é composta por várias áreas, como a metafísica, ética, política e tantos outros.

Entenda um pouco mais sobre algumas áreas da filosofia:

Metafísica

A metafísica é uma área da filosofia que estuda todos os temas relacionados ao ser humano. Investiga a natureza fundamental da realidade, questionando conceitos como a existência, o tempo, o espaço e a casualidade.

Epistemologia

A epistemologia é um campo que estuda o conhecimento, investigando sua origem, natureza e limites.

Ética

A ética busca compreender os princípios que orientam o comportamento humano, a partir da moralidade, ou seja, o que é certo e errado, bom ou mau. Além de buscar compreender como as pessoas agem em diferentes situações morais.

Estética

A estética investiga o belo e a arte a partir de uma perspectiva sensorial, ou seja, como as pessoas percebem e interpretam essas expressões artísticas.

Filosofia política

A filosofia política analisa formas de governo, organização social e a relação entre o indivíduo e o Estado. Para isso, estuda temas como a natureza do poder, o governo, a justiça, a liberdade e os direitos.

Lógica

A partir da busca pela compreensão do pensamento e da linguagem, essa vertente filosófica estuda a natureza lógica, os princípios e fundamentos do raciocínio válido.

Filosofia da religião

Essa corrente examina o fenômeno religioso de uma perspectiva racional, buscando compreender questões como a existência de Deus, a fé, a moral religiosa e a relação entre razão e crença.

Conheça os principais filósofos e suas contribuições

Sócrates

Sócrates foi um filósofo grego, considerado o pai da filosofia ocidental. Acreditava que a sabedoria começa no indivíduo e ficou conhecido por suas ideias sobre ética, imoralidade e pelo método dialético de questionamento, influenciando profundamente o pensamento filosófico.

“Conhece-te a ti mesmo.”

Platão

Platão, discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles, contribuiu para a filosofia ocidental, especialmente com a teoria do mundo das ideias, que seria o mundo da perfeição e da alma.

“Existe em cada um de nós, mesmo aqueles que parecem ser os mais moderados, um tipo de desejo que é terrível, selvagem e sem lei.”

Aristóteles

Aristóteles, discípulo de Platão e mestre de Alexandre o Grande, influenciou profundamente a filosofia ocidental. Suas grandes contribuições estão nas áreas política, lógica e metafísica, defendendo, na teoria da virtude, que o equilíbrio é o caminho para a felicidade.

“Somos o que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é um feito, mas um hábito”.

Kant

Immanuel Kant foi um dos principais filósofos do Iluminismo e fundador da filosofia crítica, que buscou unir racionalismo e empirismo. Em sua frase célebre, mostra que razão e experiência são complementares na construção do conhecimento humano.

“Pensamentos sem conteúdos são vazios; intuições sem conceitos são cegas. “

Nietzsche

Friedrich Nietzsche é frequentemente associado ao niilismo e ao existencialismo. Criticava valores morais tradicionais, especialmente os religiosos. Colocou a “vontade de poder” como a força vital que impulsiona o ser humano a alcançar seu pleno potencial.

“Deus está morto”

René Descartes

Descartes acreditava que a razão era a única fonte segura de conhecimento. Seu principal conceito, o “Método”, propunha um caminho para alcançar o conhecimento verdadeiro através de uma abordagem sistemática e rigorosa.

“Penso logo existo “

Karl Marx

Karl Marx foi um filósofo alemão que teve como uma de suas principais contribuições o materialismo histórico, que afirmava que a história da humanidade é definida pela luta de classes.

“A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes“

Epicuro

Epicuro, filósofo grego, fundou o epicurismo, que considera o prazer um bem supremo. Para ele, a felicidade podia ser alcançada através da busca de prazeres simples e moderados.

“A felicidade não é atingida por grandes riquezas, mas pela ausência de dor no corpo e perturbação na alma “.

Rousseau

Jean-Jacques Rousseau, filósofo do Iluminismo, ficou conhecido por suas reflexões sobre liberdade, sociedade e educação. Sua teoria contratualista defende que a soberania pertence ao povo e que o homem é naturalmente bom, mas corrompido pela sociedade.

“O homem nasce livre, e em todo lugar está acorrentado"

Jean-Paul Sartre

Jean-Paul Sartre foi um filósofo existencialista. Suas principais ideias são sobre liberdade e responsabilidade individual. Um grande defensor da liberdade, colocava-se contrário a toda amarra social.

“Estamos condenados a ser livres.”

Michel Foucault

Michel Foucault foi um filósofo francês conhecido pelo conceito de poder, através da investigação de instituições sociais, desde escolas a hospitais, que tentam moldar o comportamento das pessoas através da disciplina e do poder.

“Onde há poder, há resistência.


Como estudar filosofia?

Para começar a estudar filosofia, inicie com leituras introdutórias e busque cursos com especialistas da área que ofereçam uma visão geral das escolas filosóficas. Aqui na Casa do Saber temos uma variedade de cursos de filosofia para você viajar pela história da filosofia, refletir sobre as áreas de estudo, conceitos, o sentido da vida e muito mais!

Dicas de leitura para começar:

  • Diálogo de Fédon - Platão
  • Retórica - Aristóteles
  • Ética a nicômaco - Aristóteles
  • O mundo de Sofia - Jostein Gaarder


Além disso, busque aplicar os conceitos filosóficos no cotidiano para internalizá-los, permitindo uma compreensão mais profunda da realidade e de si. Exercite a escuta ativa e, como propunha Sócrates, dialogue e debata sobre os temas, isso exercita o pensamento crítico.


Pensar é preciso

Por fim, a filosofia nos ensina que pensar é essencial para a vida. Assim que nos desafiamos a questionar, refletir e buscar a verdade, é nela que encontramos as ferramentas para pensarmos de forma mais clara e racional.

Quando nos permitimos ter acesso e cultivar o conhecimento, ampliamos nossos horizontes, tendo uma visão mais complexa e completa do mundo. A prática filosófica nos liberta porque nos ensina a pensar, e isso nos guia para uma existência mais plena.

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Referências

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 12. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.

SILVA, M. R. da. Filosofia medieval: uma breve introdução. Pelotas: Universidade Federal de Pelotas, 2019.

UOL EDUCAÇÃO. Filosofia. [S.l.]: UOL Educação].

ATENA EDITORA. Existencialismo: fundamentos e conceitos da existência para a atualidade. [S.l.]: Atena Editora, 2024.


SANTOS, M. C. dos; SILVA, R. A. da. A importância da filosofia na formação do enfermeiro. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 72, n. 6, p. 1539-1543, 2019.

A associação livre é considerada por Sigmund Freud a regra fundamental da psicanálise e desempenha um papel central no trabalho clínico. Neste artigo, você vai entender o que é a técnica da associação livre, como ela surgiu, qual sua importância para o acesso ao inconsciente e como é aplicada nas sessões de psicanálise. Também vamos abordar o papel da escuta do analista, o conceito de atenção flutuante, as resistências que podem surgir ao longo do processo e os principais entraves à escuta psicanalítica.

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O que é associação livre?

De acordo com Sigmund Freud (1904/1996), a técnica da associação livre é a regra fundamental da psicanálise. Ela é definida como convite que o psicanalista faz aos seus pacientes para que, durante as sessões, digam tudo o que lhes vêm ao pensamento, sobretudo, o que acharem sem importância ou lhes provoquem dor ou vergonha. Através desta técnica, Freud conseguia chegar mais facilmente às tendências inconscientes que tanto lhes causavam sofrimento.

Como surgiu a técnica da associação livre de Freud?

É difícil precisar o momento em que ela surgiu. De fato, mesmo enquanto praticava a sua auto-análise, Freud (1900/1996) já se servia da técnica da associação livre. Assim, visando interpretar seus sonhos, por exemplo, ele pegava um de seus fragmentos e ia associando-o a tudo o que lhe vinha à mente. Ao longo deste trabalho, ele ia descobrindo uma série de desejos inconscientes seus.

No entanto, é comum situar o caso de Emmy von N. (Breuer & Freud, 1895/1996) como aquele no qual a técnica da associação livre foi utilizada pela primeira vez. Freud nos conta que ele costumava falar bastante com esta paciente e até mesmo interferir no livre curso dos seus pensamentos. Até que, certa vez, ela o adverte para que deixasse de intervir a todo instante, de forma que ela pudesse falar à vontade sobre tudo o que lhe vinha ao pensamento.

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A associação livre na psicanálise

Apesar de ter sido utilizada desde muito cedo, a técnica da associação livre só vai se constituir como técnica privilegiada da psicanálise após Freud abandonar a hipnose.

Como muitos já sabem, Freud iniciou sua prática servindo-se da hipnose, vindo a abandoná-la em alguns poucos anos. Tal abandono se deu por vários motivos. O primeiro foi que a hipnose não era considerada exatamente um método científico e, assim, não desfrutava de muito respeito entre os médicos. O segundo foi que nem todo paciente era hipnotizável e, com isto, Freud deixava de atender uma enormidade deles.

No entanto, o principal motivo que o levou ao abandono da hipnose foi a descoberta de que era possível chegar às tendências inconscientes de seus pacientes mesmo com eles acordados. Bastava que se pedisse que dissessem tudo o que lhes vinha ao pensamento, sem maiores censuras ou restrições. Com isto, a livre associação foi alçada à categoria de regra fundamental da psicanálise (Freud, 1904/1996).

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Como funciona a técnica da livre associação?

Conforme destacamos, a técnica da associação livre possibilita que o paciente associe suas ideias de forma livre e sem maiores interferências do analista. Este se limitaria a escutar e a observar aonde as associações vão chegar. De vez em quando, é claro, cabe ao analista fazer algumas perguntas ao paciente, mas sempre com o intuito de melhor estimular suas associações.

Através desta técnica, o paciente consegue, por exemplo, expor seus pensamentos, falar sobre alguns acontecimentos cotidianos e construir um relato sobre aquilo que o faz sofrer. Ele pode também falar de seus conflitos, de seu passado, dos projetos para o futuro e, inclusive, de suas fantasias e ideias de qualquer ordem (Freud, 1904/1996).

Associação livre e o inconsciente

Com efeito, destacamos que a psicanálise parte do pressuposto de que todos nós possuímos desejos inconscientes (desejos dos quais não temos qualquer conhecimento). Segundo Freud (1909/1996), são justamente estes desejos que se escondem por trás de tudo o que nos faz sofrer. Trata-se de desejos sexuais que tiveram de ser afastados da consciência por serem considerados imorais.

Assim, quando um sujeito vem procurar análise, o psicanalista deve com ele trabalhar para trazer estes desejos novamente à consciência. Desta forma, o paciente consegue elaborar seu sofrimento.

De fato, conduzir o material inconsciente à consciência foi considerado o principal objetivo da clínica psicanalítica, pelo menos nos primeiros anos de trabalho de Freud. Para tal, o analista se serviria da associação livre, propondo que seu paciente tudo dissesse e encadeiasse umas às outras as suas associações. Ao longo deste trabalho, acontecia de o paciente perceber em si algumas tendências inconscientes que ele nem desconfiava existir.

À guisa de ilustração podemos tomar o caso de Elisabeth, paciente de Freud, que em muito sofria em virtude de fortes dores na perna. Nesta medida, através da técnica da associação livre, a paciente ia falando, contando sua história, trazendo seu passado e relatando suas mais diversas fantasias e acontecimentos cotidianos.

Até que, ao longo destas tantas associações, ela descobriu possuir os mais ardentes desejos pelo próprio cunhado. Porém, não conseguia “dar um passo adiante” em seus propósitos, justamente, em virtude dos tantos preceitos morais existentes. Deste modo, Elisabeth concluiu que suas dores na perna eram justificadas por seu desejo sexual pelo cunhado aliado à impossibilidade de correr atrás de seus objetivos (Breuer & Freud, 1895/1996).



O método da associação livre e as resistências

Cabe agora perguntar: por que quando o analista solicita que o paciente diga tudo o que lhe vem ao pensamento, ele frisa para que não se exclua aquilo que considere sem importância, pareça-lhe sem sentido ou lhe cause dor, vergonha ou mesmo asco? A resposta é: porque assim acredita-se que o trabalho de associação livre consiga driblar a força das resistências.

Como se pode imaginar, não é tarefa muito fácil fazer com que, a partir das associações livres, os desejos inconscientes cheguem à consciência. Isto porque, ao longo das sessões, as livres associações frequentemente se esbarram com algumas forças contrárias à conscientização dos desejos. Freud (1904/1996) denominou estas forças de “resistências”. Vejamos alguns de seus tantos exemplos.

Alguns exemplos de resistências na psicanálise

Tais resistências podem se reconhecer, por exemplo, quando o paciente silencia em meio às suas associações, quando sente dificuldade em dizer o que lhe vem à mente, quando prontamente se recusa a falar, quando falta à alguma sessão ou mesmo quando coloca uma série de empecilhos para o prosseguimento da análise.

Mas há também as situações nas quais o paciente se embaraça em virtude do que iria contar ou sente vergonha a respeito do que está narrando. Inclusive, há as situações nas quais o prosseguimento das associações livres lhe cause desconforto, tristeza ou mesmo dor. Ademais, há o caso nos quais suas associações pareçam não fazer muito sentido. Em todos estes casos, Freud (1904/1996) diz fazer-se presente a força das resistências.

Um último exemplo remete ao caso de quando o paciente deixa de contar algo porque o considera irrelevante. Geralmente, este é mais um dos pretextos que funciona como uma arma das resistências. Nesta medida, é sempre surpreendente observar que aquilo que o paciente julga como pouco importante é justamente o que mais diretamente vai conduz aos desejos inconscientes.

Daí o pedido para que o paciente não exclua de seu discurso o que considere sem importância ou que venha lhe causar tristeza, dor ou embaraço dentre tantos outros sentimentos penosos. De fato, quanto mais as associações provocam embaraço, desprazer ou sejam consideradas sem sentido ou mesmo sem importância, pode-se ter a certeza de que elas estão se aproximando das tendências inconscientes.

A escuta psicanalítica

Freud (1912b/1996) também destaca que ao ouvir as associações livres de seus pacientes, o psicanalista deve manter uma “escuta flutuante”.

Por “escuta flutuante” ou “atenção flutuante”, ele caracteriza uma escuta que não privilegia qualquer elemento das associações livres de seus pacientes. Deste modo, tal como deve acontecer com as associações do analisando, a escuta do psicanalista deve ser igualmente livre. Por isto, há o destaque de que o psicanalista deve tudo ouvir, de forma a não se concentrar – pelo menos à princípio – em quaisquer dos elementos narrados.

Caso o analista se concentre por demais em determinado elemento das associações livres, ele corre o risco de negligenciar outra série de elementos que podem ser importantes para o caso. Além do mais, ao fechar os ouvidos para estes outros elementos, ele periga não descobrir nada além do que já sabe e, com isto, recorrer a graves enganos.

Os entraves à escuta psicanalítica

Em relação à escuta flutuante, Freud também coloca que ela deve ser isenta de quaisquer entraves. Dentre eles, os três mais conhecidos são: as concepções teóricas que o psicanalista traz consigo, os diversos preconceitos que ele insiste em manter e também alguns julgamentos seus de qualquer ordem.

Daí a necessidade de o psicanalista do tripé psicanalítico, onde deve fazer uma análise pessoal – além de uma supervisão – para se livrar, ao máximo, destas tendências que prejudicam sua escuta. Ilustremos cada um destes três entraves.

  1. Concepções teóricas

    Há, portanto, a necessidade de o psicanalista se esforçar para, de certa maneira, esquecer parte de seus conhecimentos teóricos, pelo menos enquanto escuta seus pacientes. Deste modo, o psicanalista evitaria acabar aplicando aos casos que atende uma teoria conhecida que, talvez, nada tenha a ver com eles.

    Um exemplo grosseiro remete a uma possível paciente que chegue ao seu consultório sentindo fortes dores nas pernas e ele presuma que, assim como aconteceu com Elisabeth, ela estaria apaixonada pelo cunhado.

    Ou então que, em conformidade com o que aprendeu a respeito do complexo de Édipo, o psicanalista venha a concluir de antemão que a esposa de um paciente seu seja a substituta de sua figura materna. Assim, sem nem escutar direito o paciente, o psicanalista acaba dizendo-lhe: “Você provavelmente briga com a sua esposa, igual brigava com a sua mãe”. Ou: “Você sente ciúmes dela tal qual na infância sentiu ciúmes da sua mãe”.
  2. Preconceitos

    Nesta mesma perspectiva, uma análise pessoal aliada a uma supervisão também poderia impedir que determinados preconceitos do analista venham a prejudicar sua escuta. Como ilustrações, há o caso do psicanalista homofóbico que pode vir a achar que seus pacientes homossexuais são relativamente anormais ou perversos. Há também o caso do psicanalista extremamente machista que pode estranhar e mesmo criticar algumas atitudes e pensamentos de suas pacientes mulheres. Além do caso do psicanalista extremamente religioso e moralizatório que possa vir a fazer longos sermões aos pacientes que utilizam drogas lícitas ou mesmo ilícitas.
  3. Julgamentos pessoais

    Outros exemplos correntes remetem aos próprios julgamentos pessoais do psicanalista que prejudicam sua escuta no caso de não serem bem analisados ou supervisionados. Desta forma, há o caso de uma psicanalista que, por exemplo, sofre por nunca ter conseguido ser mãe e que, assim, tenha dificuldade em escutar os motivos de uma paciente que decidiu abortar uma gravidez indesejada. Ou mesmo o caso de um psicanalista com tendências políticas mais reacionárias e que possa vir a ter dificuldade em escutar alguns comportamentos de seus pacientes com visões mais progressistas.



Associação livre e escuta flutuante

A partir de tudo o que foi acima colocado, podemos concluir que a atenção flutuante está para o analista assim como a associação livre está para o analisando e que ambas se complementam durante o tratamento (Freud, 1912/1996). Assim como as associações do paciente devem ser livres de preconceitos ou julgamentos, a escuta do psicanalista também o deve ser. E se o analista abre mão de sua atenção flutuante, ele inevitavelmente joga fora todo o proveito que se poderia retirar das associações livres de seus pacientes.

Este texto foi escrito pelo professor Ricardo Salztrager, psicanalista e professor associado da UNIRIO e da Casa do Saber. Possui Graduação em Psicologia, mestrado e doutorado em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

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Referências:

BREUER, J. & FREUD, S. (1893-1895). Estudos sobre histeria. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 2. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 11-316.

FREUD, S. (1900). A interpretação de sonhos. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vols. 4 e 5. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 13-650.

______. O método psicanalítico de Freud. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 7. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 233-240.

______. (1909). Moral sexual “civilizada” e doença nervosa moderna. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 9. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 165-186.

______. (1912). Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 12. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 121-133.



Muitas pessoas confundem os papéis do psicanalista e do psicólogo. Ambos os profissionais atuam no cuidado em saúde mental, escutam pacientes e trabalham com questões emocionais e comportamentais. No entanto, apesar das semelhanças na prática clínica, existem diferenças importantes entre eles.

O psicanalista e o psicólogo possuem trajetórias, formações e campos de atuação próprios. Os métodos de trabalho e as abordagens teóricas utilizadas também se diferem, refletindo maneiras distintas de compreender o funcionamento psíquico e de conduzir o processo terapêutico.

Neste artigo, vamos entender o que diferencia o psicanalista do psicólogo, as áreas de atuação, a formação e como eles contribuem para o bem-estar emocional e mental das pessoas.



O que faz um psicanalista?

O psicanalista é um profissional da psicanálise, uma abordagem terapêutica criada por Sigmund Freud. O psicanalista analisa os sintomas, investiga os motivos inconscientes por trás desses sintomas, e busca tratá-los. Além disso, explora questões como a linguagem, os traumas e os sonhos do paciente para acessar conteúdos reprimidos pela psique.

Sua prática é marcada pela abordagem do sujeito a partir das manifestações do desejo, sendo que o objetivo não é a cura em seu sentido biomédico, mas o processo de subjetivação e elaboração psíquica de conflitos pessoais.

O processo analítico na psicanálise costuma ser mais longo, pois analisa questões complexas e subjetivas para o paciente. Nesse processo, a interpretação de padrões de pensamento e comportamento são estratégias centrais para a escuta clínica.


O psicólogo opera para compreender os modos como as pessoas se relacionam com o mundo e com elas mesmas. Na prática, o profissional da psicologia auxilia o paciente a entender os pensamentos, as emoções e percepções, dentro de um contexto de sociabilidade, e elabora soluções para se construir um maior bem-estar.

Embora o processo terapêutico seja mais reduzido a depender do objetivo, a área da psicologia inclui uma multiplicidade de abordagens teóricas e práticas clínicas, o que permite diferentes formas de condução do processo analítico.

Entre as abordagens mais utilizadas, destaca-se a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), focada na identificação de padrões de comportamento disfuncionais e na reestruturação cognitiva para promover mudanças práticas no cotidiano.

Já a Psicologia Humanista valoriza a experiência subjetiva do indivíduo e busca promover seu potencial de crescimento através do vínculo terapêutico. A Gestalt-terapia, por sua vez, é centrada na percepção do “aqui e agora” e na responsabilidade pessoal.

Além disso, muitos psicólogos exercem a própria Psicanálise, após passar por uma formação específica nessa abordagem. Eles encontram nela um campo de aprofundamento teórico e clínico que enriquece a sua prática e amplia os modos de escuta e intervenção sobre o sofrimento humano. Assim, um psicólogo pode se tornar membro de uma escola ou sociedade psicanalítica, que reconhece sua capacitação e atuação na área.


Como Psicólogos e Psicanalistas Entendem a Ansiedade: Um Exemplo

Mencionamos que ambos olham para o sofrimento mental de modos distintos. Mas, como isso acontece?

Um diagnóstico de ansiedade , por exemplo, pode ser analisado por psicólogos a partir de modelos teóricos com foco na função adaptativa ou disfuncional do comportamento ansioso. Na prática, a psicologia irá ajudar a identificar os gatilhos emocionais e a reestruturar os pensamentos ansiosos. Além disso, auxiliará a reduzir os sintomas e ensinar técnicas de manejo emocional, com metas e tempo definidos.

Já para a psicanálise, a ansiedade é interpretada como um sintoma subjetivo, com raízes no inconsciente. Ela denunciaria algum outro aspecto psíquico do sujeito, que precisaria ser analisado profundamente. Na prática, o psicanalista investigaria a relação com traumas, desejos, conflitos e padrões de pensamento e comportamento ansiosos, aprofundando o processo terapêutico.

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O que é psicanálise e o que é psicologia?

Antes de aprofundarmos sobre o processo formativo e os campos de atuação, é preciso entender brevemente o que é cada área.

A psicanálise é uma abordagem terapêutica centrada na investigação do inconsciente sobre a personalidade do paciente. Criada por Sigmund Freud no final do século XIX, a terapia psicanalítica investiga o que está fora da consciência, mas que influencia diretamente nos modos de agir, pensar, sentir e sofrer.

Por outro lado, a psicologia é uma ciência que estuda o comportamento humano e os processos mentais. Ela tem por objetivo trabalhar as dimensões cognitivas, afetivas e comportamentais das pessoas, em todas as fases da vida.


A formação em psicanálise e psicologia

O exercício profissional da psicologia acontece por meio de uma formação de graduação universitária, que dura em média, 5 anos. Além disso, para realizar a prática clínica, é necessário realizar estágios supervisionados e se registrar no Conselho Regional de Psicologia (CRP).

Durante a prática, o psicólogo também pode realizar entrevistas clínicas, testes psicológicos e utilizar de outros recursos que auxilie no processo terapêutico.

Já na psicanálise, a formação tem duração de 1 a 4 anos, dependendo da instituição e da carga horária. Além disso, o processo formativo se dá, tradicionalmente, por meio do tripé psicanalítico: análise pessoal, supervisão clínica e estudo teórico. O estudo contínuo das obras de Freud, Lacan, Melanie Klein, Winnicott, entre outros psicanalistas, é fundamental para o desenvolvimento profissional do psicanalista.

Na psicanálise a formação acontece por meio de institutos ou escolas de psicanálise, de forma livre e independente da graduação universitária. Não sendo uma profissão regulamentada por lei no Brasil, a formação psicanalítica não possui conselho e nem exigência de registro profissional.

Embora, legalmente, a formação em psicanálise não exija diploma universitário, a maioria dos institutos mais reconhecidos costuma exigir formação prévia em áreas como psicologia, medicina ou ciências humanas.

Atenção:

É importante destacar que psicanalistas não podem realizar testes ou emitir laudos e pareceres psicológicos. Do mesmo modo, um psicólogo só pode se apresentar como psicanalista se tiver realizado uma formação específica em psicanálise.




Campos de atuação para psicanalistas e psicólogos

A atuação de psicanalistas e psicólogos também acontece de modos distintos, tanto por questões institucionais e legais, quanto pela concepção de saúde e sofrimento mental adotada por cada campo.

Embora ambas possam trabalhar com escuta clínica, seus espaços de trabalho e formas de inserção na sociedade divergem bastante.

O psicólogo pode atuar nas seguintes áreas regulamentadas por lei:

  • Psicologia Clínica: Oferece psicoterapia individual, de casal, em grupo ou família. Trabalha com diferentes abordagens para promover saúde mental, entre elas, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), Humanista, Gestalt, Psicologia Analítica e Psicanálise.
  • Psicologia Jurídica ou Forense: Atua no sistema de justiça, realizando avaliação psicológica em vítimas, réus e seus familiares. Contribui com pareceres técnicos e decisões judiciais, quando envolvem questões subjetivas.
  • Psicologia Hospitalar: Trabalha em hospitais, clínicas e unidades de saúde no cuidado emocional de pacientes, familiares e equipes profissionais. Auxilia na adaptação de diagnósticos, internações e processos de luto.
  • Psicologia Educacional ou Escolar: Atua em instituições de ensino promovendo inclusão e desenvolvimento psíquico de alunos. Responde junto a professores e famílias para auxiliar com dificuldades de aprendizagem e relações escolares.
  • Psicologia Organizacional e do Trabalho: Exerce a prática em empresas e instituições com recrutamento de profissionais. Desenvolve ações de prevenção ao estresse, melhorando a gestão de pessoas e a comunicação.
  • Neuropsicologia: Investiga a relação das funções cognitivas do cérebro com o comportamento humano. Com base nos estudos das neurociências, a neuropsicologia atua para entender as influências de questões neurológicas sob a atenção, a memória, o raciocínio, as emoções e o comportamento do paciente.


A formação psicanalítica, por sua vez, pode abrir portas para áreas de atuação não convencionais. O psicanalista pode explorar a:

  • Clínica psicanalítica: Realiza atendimentos individuais, geralmente em processos mais longos e aprofundados. O foco é na investigação sobre o inconsciente através do estudo dos sonhos, das experiências infantis e relações familiares.
  • Formação de outros psicanalistas: Diversos psicanalistas se dedicam ao processo formativo de outros profissionais da psicanálise. O ensino de cursos livres, a supervisão de atendimentos clínicos e a construção de núcleos de estudos teóricos também integram essa formação.
  • Produção acadêmica: Atuam na elaboração do conhecimento científico, participando de eventos, congressos e espaços de discussão intelectual. Produzem livros e artigos, além de ministrar aulas e palestras, com o objetivo de aprofundar as investigações nos estudos sociais e culturais sob o olhar psicanalítico.
  • Interlocuções profissionais: A formação psicanalítica pode ser somada a outras formações, como psicologia, medicina com foco em psiquiatria, filosofia, literatura, sociologia e outras áreas das humanidades.


A psicanálise também tem ganhado espaço em clubes de leitura, atendimentos populares e projetos culturais, sendo utilizada como ferramenta crítica para analisar fenômenos contemporâneos.

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Tanto a psicanálise quanto a psicologia oferecem caminhos legítimos e potentes para o cuidado em saúde mental.

Para quem deseja seguir carreira, a psicologia oferece possibilidades de atuação em múltiplas áreas, sendo assegurado pelo Conselho (CRP). Já a psicanálise, oferece um campo de atuação mais flexível e livre em termos profissionais, mas que exige comprometimento, estudo contínuo e envolvimento com instituições formadoras.

Já para quem busca atendimento, a escolha entre um psicólogo e um psicanalista pode depender do tipo de abordagem que a pessoa deseja experimentar. Diferentes linhas teóricas podem oferecer caminhos igualmente valiosos e profundos. Por isso, ao procurar um psicólogo, é recomendável se informar sobre a abordagem utilizada para entender se ela está alinhada com o que se busca para o processo terapêutico.

Aprofunde seu conhecimento sobre Psicanálise, Psicologia, Filosofia, Artes, História, entre tantos outros temas com os cursos da Casa do Saber:

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Referências

https://bvsms.saude.gov.br/psicologia-6/

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A psicanálise é muito mais do que uma teoria sobre o inconsciente: ela é uma forma de escuta, um método clínico e um campo vasto de investigação sobre o funcionamento da mente humana. Criada por Sigmund Freud no final do século XIX, a psicanálise revolucionou o modo como compreendemos nossos pensamentos, desejos e comportamentos.

Neste artigo, você vai entender o que é psicanálise, quais são seus principais conceitos, quem foram os autores que ajudaram a moldá-la, como funciona uma sessão psicanalítica e de que forma é possível iniciar sua formação na área.



A origem da psicanálise: um breve histórico do surgimento

A história da psicanálise começa antes mesmo dela receber este nome e para isso é importante entender como Sigmund Freud se tornou o “pai da psicanálise”.

Na passagem do século XIX para o século XX, Freud observou que alguns de seus pacientes apresentavam sintomas que não tinham explicações fisiológicas - chamados à época de casos de histeria. Foi quando propôs uma nova forma de olhar para a origem dos sofrimentos.

A partir de então, Freud começou a desenvolver a ideia do que hoje conhecemos como psicanálise: a noção de que os sintomas dos pacientes histéricos são expressões de ideias que estão fora da consciência. Inicialmente, ele utilizou o termo “psico-análise” em um artigo publicado em 1896. Somente mais tarde a psicanálise se consolidou como uma ciência humana e uma prática clínica.

A psicanálise marcou uma ruptura com a medicina tradicional, uma vez que passou a utilizar a escuta subjetiva como instrumento terapêutico e de tratamento. A partir de então, esse campo se expandiu e várias escolas e vertentes teóricas foram sendo desenvolvidas.

O que é psicanálise, afinal?

A psicanálise é um método analítico-terapêutico, criado por Sigmund Freud no final do século XIX, voltado à compreensão da mente humana e de suas manifestações conscientes e inconscientes.

A psicanálise trabalha a partir de alguns conceitos específicos que tem como fim comum compreender o funcionamento da mente humana. O conceito principal para entender o que é psicanálise é o inconsciente.

Primeiramente, inconsciente é o elemento principal no qual o analista vai trabalhar. Quem cunhou este conceito foi Freud em seu livro A Interpretação de Sonhos(1900).

De forma geral, o inconsciente é o lugar onde residem desejos reprimidos, experiências traumáticas e lembranças inaceitáveis para o ego. Resumidamente, por meio do conceito de inconsciente, Freud diz que nós não nos conhecemos totalmente.

Como o inconsciente influencia tanto nossos pensamentos quanto nossas atitudes - e não pode ser compreendido dentro da lógica consciente - ele precisa de outros meios para ser alcançado. A psicanálise, então, oferece o método de escuta como um caminho para acessá-lo.

A partir do momento que o psicanalista oferece a escuta, dá-se início ao processo ativo de investigação clínica, o que Freud chamou de Associação Livre. Você vai entender sobre este e outros conceitos mais adiante.

Ao longo do tempo, a psicanálise foi ressignificada por diversas escolas e autores, mas preserva como essência o compromisso com a escuta dos processos psíquicos e o cuidado com os conflitos que emergem do inconsciente.

Principais conceitos da psicanálise

Agora que você já entendeu o que é a psicanálise, podemos aprofundar nesse universo explorando alguns de seus conceitos fundamentais. O principal deles - e marco inaugural da teoria freudiana - é o inconsciente. Confira um pouco mais sobre este e outros conceitos abaixo.

Inconsciente

É no inconsciente que se encontram os desejos e características das quais não temos conhecimento e que mesmo assim influenciam a nossa vida, comportamento e relações sociais.

Freud foi quem formulou essa noção revolucionária: a de que não somos senhores em nossa própria casa. Ou seja, há algo em nós que nos dirige, mesmo sem sabermos. Este conteúdo inconsciente se manifesta de maneiras indiretas e de forma disfarçada, como em sonhos, atos falhos e lapsos de linguagem.

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Transferência e contratransferência

Os conceitos de transferência e contratransferência foram também desenvolvidos por Sigmund Freud. A transferência refere-se ao vínculo estabelecido entre paciente e analista.

Nesta relação, o paciente pode deslocar sentimentos inconscientes, desejos e experiências passadas em relação a figuras significativas de sua vida (geralmente os pais) para a figura do terapeuta. Freud percebeu que esses sentimentos podem ser tanto positivos quanto negativos e que podem revelar aspectos profundos do inconsciente do paciente.

Já a contratransferência é definida por Freud como o modo através do qual o analista reage às transferências de seus pacientes, que deve ser manejado com cautela pelo profissional.

Associação livre

A associação livre é o processo no qual o paciente é incentivado a falar livremente, abrindo espaço para o analista acessar o inconsciente e interpretar o que é dito de forma distante. Por isso, a psicanálise é comumente conhecida como “terapia da fala”.

ID, Ego e Superego

Id, Ego e Superego são três conceitos da segunda tópica freudiana, que propõe explicar o funcionamento da psique a partir da divisão do aparelho psíquico nesses 3 conceitos.

📌 Nota sobre os termos Id, Ego e Superego

Caso você veja os termos escritos como “Eu”, “Isso” e “Supereu”, existe uma explicação. Freud nasceu em Freiberg, então parte do Império Austro-Húngaro, e escrevia em alemão — sua língua materna. Os termos originais usados por ele eram “Ich” (Eu), “Es” (Isso) e “Über-Ich” (Supereu).

Esses termos foram traduzidos para o inglês como Ego, Id e Superego, utilizando o latim numa tentativa de conferir um tom mais científico à teoria psicanalítica. Essa versão inglesa, feita por James Strachey, tornou-se referência mundial e influenciou as primeiras traduções brasileiras, que foram feitas a partir do inglês — e não diretamente do alemão. Por isso, até hoje, é comum encontrar nos textos em português as formas Id, Ego e Superego, embora elas não correspondam literalmente ao vocabulário original de Freud.



Segundo Freud, o Ego (eu) é a instância psíquica que estrutura a nossa personalidade. Ele representa o mundo externo, ou seja, é formado a partir da relação entre o sujeito e a realidade. Sendo assim, o ego é o elemento conciliador das exigências do ID (isso).

Uma vez que o Ego é responsável por essa mediação, a nossa mente busca estratégias para se proteger de situações de sofrimento, e Freud deu nome a este processo de mecanismos de defesa do ego. Para ele, esses mecanismos atuam como uma defesa para evitar dores e ansiedades diante de conflitos internos ou externos.

Os principais mecanismos de defesa do ego:



Já o ID (isso), para Freud, é o que representa o mundo interno, a instância psíquica inconsciente, a fonte dos impulsos, desejos e satisfação dos nossos instintos voltados para o prazer. O ID é desconhecido, é indomável.

Por último, temos o Superego, que é a instância psíquica formada a partir do ego que une os valores morais e culturais. Ele é o representante das normas e regras internas que correspondem às expectativas do Eu ideal.

O Superego pode ser considerado como o herdeiro do Complexo de Édipo, uma vez que se torna um representante das influências sociais e culturais, como educação religião imoralidade, que o sujeito recebeu de seus pais e, por isso, exerce a posição de vigiar, julgar e punir o Ego (eu).

Complexo de Édipo

Para entender o Complexo de Édipo, é interessante saber antes: quem foi Édipo?

Édipo é o personagem de uma tragédia grega escrita por Sófocles. Ele era o príncipe de Tebas, filho do rei Laio e da rainha Jocasta.

Édipo foi abandonado ao nascer após seu pai ouvir uma profecia que dizia que o próprio filho o mataria e se casaria com a mãe. Sem saber de sua origem, Édipo cumpre o destino: mata Laio e casa-se com Jocasta. Ao descobrir a verdade, Jocasta se suicida e Édipo fura os próprios olhos.

Freud se inspirou na tragédia grega para exemplificar o que acreditava estar reprimido no inconsciente infantil. Segundo o médico, a criança, na primeira infância, desenvolve um desejo (amoroso e/ou hostil) inconsciente para com os pais.

Ato falho

O ato falho, conceito também cunhado por Sigmund Freud, é uma manifestação do inconsciente através de deslizes verbais ou comportamentais, que parecem insignificantes, mas que revelam desejos reprimidos ou conflitos internos.

Esses podem surgir em momentos de estresse ou tensão, expondo sentimentos ou pensamentos que estão inconscientes, mas que ainda assim influenciam as ações.

Narcisismo

Conceito muito importante também elaborado por Freud, narcisismo é o termo que se refere a transição do autoerotismo para a escolha de um objeto de amor, etapa crucial no desenvolvimento do eu. E ele pode se dividir em primário e secundário.

Narcisismo primário: Este é o estado em que a criança investe toda a libido em si mesma, ou seja quando a libido está direcionada ao próprio eu. Nesse momento, o sujeito ainda não distingue o eu dos objetos externos e não há direcionamento da libido para o outro. É uma fase em que o bebê vive uma relação de completude consigo mesmo, sendo ele o centro de seu mundo psíquico. Esse tipo de narcisismo é considerado normal e necessário nas primeiras etapas da vida.

Narcisismo secundário: Neste estágio, a libido que foi anteriormente direcionada a objetos externos é retirada e reinvestida no próprio eu. Esse movimento costuma ocorrer quando o sujeito experimenta frustrações ou falhas nas relações com o outro, passando a buscar no eu a fonte de satisfação e proteção psíquica.


Principais autores da psicanálise

Embora Freud tenha fundado a psicanálise, ela vai muito além de sua obra. No começo do século XX, o médico austríaco começou a formar grupos com alguns seletos seguidores que contribuíram muito para o desenvolvimento e difusão da psicanálise.

Às quartas-feiras à noite, Freud convidava um grupo de homens, que era composto por médicos, educadores, intelectuais da época, para dialogar sobre qualquer produção cultural ou científica que fosse relacionada aos estudos psicanalíticos.

A partir disso, fundou-se a Sociedade Psicanalítica de Viena, em 1906, composta inicialmente por Carl Jung, Karl Abraham, Ernest Jones. Ademais, em 1912, Freud criou o “Comitê Secreto “ ou “Círculo Íntimo “ com alguns dos seus integrantes mais próximos, como Ferenczi, Otto Rank e outros ilustres da época.

Apesar de divergências nas abordagens, conceitos e perspectivas teóricas, Freud e seus seguidores contribuíram de forma decisiva para a construção da psicanálise como a conhecemos hoje. Entre os nomes que marcaram a trajetória da psicanálise estão Jacques Lacan, Melanie Klein, Donald Winnicott, Sándor Ferenczi, Wilfred Bion, entre muitos outros.

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Carl Jung

Freud e Jung, desde o início do relacionamento profissional, já anunciavam grandes discordâncias sobre pontos cruciais, como o papel da sexualidade na vida do indivíduo.

Apesar das diferenças, os dois concordavam quanto à relevância do inconsciente e dos processos psíquicos profundos, o que levou a Freud a se interessar pelas pesquisas e experiências de Jung.

Enquanto Freud enfatizava os impulsos instintivos, a libido como ponto central da vida psíquica, Jung propôs um olhar no qual a libido não era apenas sexual, mas uma força mais ampla e criativa.

Além disso, Freud debruçou-se sobre a importância dos traumas da infância na construção do indivíduo. Ao passo que Jung apresentou o conceito de inconsciente coletivo, o qual defende que as experiências universais moldam o psiquismo. Após o rompimento entre os dois, Jung fundou a psicologia analítica.

Melanie Klein

Melanie Klein, nascida em 1882, é uma psicoterapeuta austríaca e desenvolveu diversos conceitos e estudos sobre a psicanálise infantil, além de grande contribuição na compreensão do conceito de inconsciente.

Alguns dos conceitos desenvolvidos e revisados por Klein foram:

  • Análise do brincar
  • Relações objetais primárias
  • Posição esquizo-paranóide
  • Posição depressiva
  • Teoria da inveja e gratidão
  • Revisão do complexo de Édipo


Suas inovações abriram novos horizontes para a compreensão da análise infantil e novas abordagens na teoria e na clínica psicanalítica.

Jacques Lacan

Jacques Lacan foi um dos principais psicanalistas pós-freudianos. Ele propôs uma reinterpretação das teorias de Freud a partir da linguística saussuriana, da filosofia heideggeriana e estruturalismo de Lévi-Strauss.

Uma das suas principais contribuições para a psicanálise foi a ideia de que o inconsciente é estruturado como uma linguagem e que nossos pensamentos e desejos são fundamentados a partir disso, influenciando a forma como percebemos o mundo.

Além disso, também introduziu um conceito de estádio do espelho, que descreve o momento em que a criança, ao se olhar no espelho, torna-se capaz de reconhecer a sua própria imagem e ter uma percepção da sua totalidade corporal - a percepção do eu.

Como funciona uma sessão de psicanálise?

Agora você já conheceu alguns dos principais autores e conceitos da psicanálise. Antes de entendermos como funciona uma sessão de psicanálise, é importante termos compreensão sobre qual a função do psicanalista durante a consulta para saber o que esperar de uma sessão.

Primeiramente, é preciso entender que existem diferentes linhas da psicanálise e cada uma leva a uma condução diferente da sessão. Entretanto, existe um ponto necessariamente comum: a função do psicanalista na construção do setting analítico.

Entendendo o que é o setting psicanalítico

O termo “setting”, do inglês, pode ser traduzido como "configuração” ou “contexto". Portanto, setting psicanalítico refere-se à construção simbólica compartilhada entre analista e paciente que estabelece as diretrizes e procedimentos variáveis, visando criar um ambiente propício para que o tratamento tenha êxito.

O setting se desenvolveu com a consolidação da psicanálise como teoria e prática. Com isso, ele é definido pelo método, pela técnica e pela ética. Em seu texto “Recordar, repetir e elaborar” (1914), Freud aponta alguns dos elementos que compõe o conjunto do setting psicanalítico:

  • analista
  • paciente
  • tempo
  • pagamento
  • regra fundamental
  • atenção flutuante


Resumindo: o setting psicanalítico é uma construção da posição simbólica que o analista assume no percurso de uma análise para que o tratamento tenha êxito.

A sessão de psicanálise

A sessão de psicanálise, segundo os fundamentos de Sigmund Freud, deve ser um espaço de escuta e fala livre - associação livre -, onde o paciente é incentivado a associar ideias sem censura. É comum o analista incentivar que o paciente relate seus sonhos como forma de estimular o acesso ao conteúdo presente em seu inconsciente.

O trabalho com os sonhos é um processo sofisticado que envolve as associações do paciente e, quando pertinente, intervenções do analista. A interpretação dos sonhos, nesse contexto, não é uma decodificação pronta, mas um recurso clínico que busca abrir sentidos a partir do que emerge na fala do analisando.

O setting analítico é fundamental para que a relação flua e seja criado um ambiente de segurança. Desta forma, o paciente sente-se confortável para falar livremente e o profissional consegue exercer de fato a função do psicanalista, que é escutar sempre sem julgamentos, favorecendo o surgimento e o trabalho da transferência.

O final de uma análise é um tema complexo. Algumas pessoas interrompem o processo ao perceberem mudanças significativas, sentindo-se mais capazes de lidar com suas questões — o que pode ser, paradoxalmente, um sinal de que o tratamento está surtindo efeito. Outras continuam por entender que ainda há aspectos importantes a serem trabalhados.

O término da análise não é definido unilateralmente, mas construído ao longo do processo. Cabe ao psicanalista, com escuta atenta e ética, ajudar o paciente a avaliar se ainda há caminhos a serem percorridos ou se chegou o momento de encerrar a travessia analítica.

A dúvida sobre as diferenças entre o psicanalista e o psicólogoé muito comum. Uma questão importante a ser sobre o assunto refere-se ao laudo, configurando uma das grandes diferenças entre eles, além do caminho de formação.

Todo psicólogo pode ser psicanalista, mas a recíproca não é verdadeira. As diferenças entre psicanalista e psicólogo existem, mas os dois profissionais têm como propósito comum cuidar da saúde mental dos pacientes e ajudá-los no tratamento de seus conflitos psíquicos.

O psicólogo é o profissional graduado em Psicologia, podendo se especializar em psicanálise e atuar como psicanalista ou escolher outras abordagens da psicologia para seguir, como a Terapia Cognitivo-Comportamental, Psicologia Analítica, entre tantas outras. Além disso, tem autorização legal para emitir laudos e pareceres psicológicos.

o psicanalista pode ter formação em outras áreas do conhecimento — como Filosofia, Medicina, Letras ou Sociologia — desde que complemente sua formação por meio de estudos específicos em psicanálise. No entanto, por não ser regulamentado por um conselho profissional, o psicanalista não está autorizado a emitir laudos psicológicos formais.

O psicanalista assume a função de escutar o paciente, ajudá-lo a lidar com suas dores e enfrentar os seus conflitos internos, e não de patologizar a sua condição.

Como se tornar psicanalista?

O interesse pela psicanálise vem crescendo e cada vez mais pessoas estão buscando conhecimento e caminhos para começar a estudar psicanálise.

A psicanálise é reconhecida como uma ocupação profissional e, por isso, pode ser exercida por pessoas formadas em diversas áreas do conhecimento, desde que tenham realizado uma formação específica ou especialização em psicanálise.

Embora não exista um caminho único e formalmente regulamentado no Brasil para se tornar um psicanalista, critérios éticos e formativos reconhecidos pelas principais escolas psicanalíticas orientam o exercício da profissão.

Entre esses critérios, destaca-se o chamado tripé da formação psicanalítica: a análise pessoal, o estudo teórico e a supervisão clínica, considerados pilares essenciais na formação de um psicanalista.

Alguns dos caminhos que podem te levar à formação em psicanálise clínicas são:

  • Especialização
  • Programa de mestrado
  • Programas de doutorado
  • Residência



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Referências

BARROS, Glória. O setting analítico na clínica cotidiana. Estudos de Psicanálise, Belo Horizonte, n. 40, p. 71–78, 2013.

PENA, Breno Ferreira; GUERRA, Andréa Máris Campos. Supereu e neurose: dos pecados do pai à demanda do Outro. aSEPHallus, [S.l.], n. 6, p. 1–9, 2019.

Você já ouviu falar em transferência e contratransferência, mas não sabe exatamente o que esses termos significam na prática da psicanálise? Neste texto, você vai entender o que são transferência e contratransferência, suas origens no pensamento de Freud, como se manifestam na clínica e por que exigem tanto cuidado por parte do analista.

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O que é transferência e contratransferência na psicanálise?

A transferência é definida por Freud como o vínculo que o paciente estabelece com seu analista. Este vínculo pode ser, por exemplo, de amor, de ódio, de idealização, de ciúmes, de inveja, etc. Na maioria das vezes, inclusive, uma relação transferencial engloba vários destes sentimentos ao mesmo tempo.

Já a contratransferência é definida por Freud como o modo através do qual o analista reage às transferências de seus pacientes. Tais reações podem ser igualmente de amor, de ódio e dos demais sentimentos acima elencados.

Freud e a descoberta da transferência

A transferência foi descoberta já nos primórdios da psicanálise enquanto Freud observava a relação da paciente Anna O. com seu médico Joseph Breuer (Breuer & Freud, 1895/1996).

Com efeito, era visível que Anna O. apaixonara-se pelo terapeuta. Ela não parava de falar em Breuer, dizia também sentir muitas saudades dele e até – segundo Ernest Jones (1999), biógrafo de Freud – chegou a desenvolver uma espécie de “gravidez psicológica” durante o tratamento.

O amor de transferência

A partir deste e de tantos outros casos, Freud (1915/1996) concluiu ser comum que se estabeleça na clínica uma relação transferencial amorosa da parte do paciente. Ou seja, em uma relação terapêutica, temos, de um lado, um paciente que sofre demais em virtude de seus tantos conflitos e, de outro, alguém que ele supõe poder curá-lo. Assim, a relação terapeuta e paciente passa a ser marcada por uma idealização tal que o analista vem a assumir uma posição central na vida do paciente.

Deste modo, é comum que o paciente venha a pensar demais em seu psicanalista e que não pare de falar dele para seus familiares e amigos. É também corriqueiro que venha a stalkear as redes sociais do analista visando descobrir alguma informação sobre sua vida privada: onde mora, se é casado, se tem filhos... E muitos pacientes são capazes de passar horas e horas vendo repetidas vezes algumas fotos de seus analistas.

Outros exemplos comuns de transferência no vínculo entre terapeuta e paciente

Como o amor é um sentimento que nunca vem sozinho, é normal que o vínculo entre terapeuta e paciente seja também mesclado por intensos ciúmes, ódios, sentimentos de posse, competições, etc.

  • O ciúme: Se onde há amor há ciúme, nada mais previsível que as relações terapêuticas sejam também por ele marcadas. Assim, pode o paciente, por exemplo, vir a detestar os outros pacientes de seu analista e, nesta medida, às vezes, o ambiente de uma sala de espera é marcado por muita hostilidade. É inclusive comum que um paciente questione: “por que você atende tal paciente por mais tempo que a mim?”, “por que você sorri para ele, mas nunca para mim?” ou então “eu tenho certeza que você prefere a ele que a mim”.
  • O ódio: Em todo este contexto é também de se imaginar que a relação terapeuta e paciente seja marcada por um grande ódio. Com efeito, nós também odiamos aqueles que tanto amamos e, por isto, pode acontecer que o paciente diga coisas horríveis sobre a pessoa de seu analista, tenha sonhos maléficos com ele, ou então, que se entregue às mais variadas brigas e disputas. Desta forma, o analista pode ser alvo de algumas ironias e indiretas e a situação às vezes chega ao limite de o paciente descarregar uma grande raiva em cima de seu terapeuta.
  • O sentimento de posse: Outro exemplo é quando o vínculo entre terapeuta e paciente é acompanhado por um intenso sentimento de posse. Daí pode acontecer de o paciente vir a encher o analista de presentes com o intuito de conquistá-lo, tentar manipular sua agenda para que consiga protagonismo diante de seus outros pacientes ou mesmo de se colocar como alguém gentil e amável para que o analista retribua todo o seu amor.
  • A competição: É também provável que este vínculo seja marcado por forte competição. Ou seja, se o paciente presume que o analista tudo sabe, é capaz que ele próprio insista em defender que sabe muito mais que o terapeuta. Uma relação transferencial baseada na competição pode também incluir questionamentos do paciente sobre quem é mais jovial, bonito, magro ou atlético dentre tantas outras coisas.


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Por que ocorre a transferência?

No artigo “A dinâmica da transferência”, Freud (1912/1996) diz que ela ocorre porque quando uma pessoa está em análise, ela costuma deslocar uma série de tendências suas para o psicanalista. Trata-se, geralmente, de algumas formas de se comportar na vida que o paciente traz consigo desde a infância mais remota e que agora serão direcionadas ao terapeuta.

Como exemplo, podemos citar o caso de uma pessoa que, desde criança, sente muita inveja dos outros. Ela agia desta maneira com seus irmãos e irmãs, com as outras crianças do colégio e, conforme crescia, passou a se comportar assim com os amigos, com aqueles que conseguiam namorados melhores que os seus e mesmo com os que tinham um trabalho mais valorizado.

Ora, nada mais óbvio que quando esta pessoa inicie um tratamento, também passe a sentir inveja do analista, já que ela é assim com todo mundo e é desta forma que ela se relaciona.

A transferência e o inconsciente

No entanto, destaca-se que não necessariamente o paciente possui a exata consciência daquilo que transfere ao analista.

Ou seja, se tomarmos o exemplo acima, podemos dizer que tal paciente talvez nem tenha noção do quanto é invejoso nem do quanto transfere suas relações de inveja para o terapeuta. Pelo contrário, a psicanálise estabelece que todos nós temos um inconsciente, ou seja, todos nós desconhecemos grande parte dos nossos desejos, fantasias e comportamentos. Neste sentido, Freud vai dizer que são justamente estas tendências inconscientes aquelas que com maior frequência estarão presentes na cena transferencial.

Como ilustração, tomemos o exemplo de uma pessoa que se julga extremamente boa. Uma pessoa religiosa, caridosa e incapaz de praticar qualquer maldade. No entanto, ela não possui a exata consciência do quanto é agressiva com os outros, fazendo com eles pequenas maldades como fofocas, intrigas e injustiças.

Ora, quando esta pessoa entra em análise, é exatamente desta forma que ela vai se comportar com o psicanalista. É provável que dirá o tempo inteiro o quanto é boa e íntegra, porém sem perceber, direcionará ao analista todas as suas pequenas agressividades. E, assim, ela só poderá se tornar consciente do quanto é agressiva quando isso for apontado por seu psicanalista.


O caso Dora

Conforme colocamos, Freud descobriu a existência da transferência bastante cedo quando seu colega Breuer atendia a Anna O. Todavia, foi a partir de situações vividas com sua paciente Dora que ele concedeu maior atenção ao tema. O conjunto de suas observações sobre o tema está em “Fragmentos da análise de um caso de histeria” (Freud, 1905/1996).

Dora era uma jovem envolta em paixões por algumas pessoas de seu convívio, paixões estas que jamais se concretizavam. Dentre elas, estava seu apaixonamento pelo melhor amigo de seu pai, o Sr. K. Com ele a jovem mantinha uma relação no mínimo curiosa: sem medir quaisquer esforços, Dora seduzia completamente o Sr. K. e se entregava a tal jogo de sedução com todas as suas armas. Porém, quando ela sentia que estava conseguindo seu objetivo, de repente, abandonava a cena e sumia. Claro que a jovem não tinha a exata consciência de que agia desta maneira.

E foi exatamente assim que Dora se comportou com Freud. Seduziu o analista em demasia a ponto de Freud em muito se dedicar a sua análise e, inclusive, ter o desejo de publicar o caso (algo que não acontecia com qualquer paciente seu). Dora também insistia em não relatar determinadas coisas, deixando Freud extremamente curioso e praticamente em suas mãos. E em meio a tamanho jogo de sedução, de repente, Dora abandonou a análise.

Quando se dá o abandono, Freud finalmente percebe o quanto não tinha se dado conta da transferência de Dora.


A contratransferência na psicanálise

Foram poucas as vezes que Freud escreveu sobre a contratransferência. Em linhas gerais, ela é definida como o conjunto de sentimentos que um paciente é capaz de despertar em seu analista: amores, ódios, invejas, raivas, etc. Vale marcar que assim como a transferência do paciente para o analista é marcada por tendências inconscientes, o psicanalista também não possui a exata consciência daquilo que contratransfere.

Deste modo, o terapeuta pode, por exemplo, desenvolver um apaixonamento por certo paciente sem que disso esteja consciente. Da mesma maneira, pode ter inveja de um paciente sem que exatamente perceba isso. E pode até mesmo, sem saber, desenvolver um sentimento de posse em relação a seus pacientes, o que em muito prejudicaria seu trabalho.

A contratransferência e a importância da análise pessoal

Assim, ao contrário da transferência que é tida como algo a ser estimulado no tratamento psicanalítico, Freud (1915/1996) situa a contratransferência como uma coisa a ser incisivamente evitada. Isto porque um amor, um ódio, uma inveja ou uma raiva que o analista venha a sentir de seus pacientes pode, em muito, atrapalhar seus tratamentos.

Daí a necessidade de os analistas também fazerem uma análise pessoal. Ora, é comum – e até mesmo inevitável – que um terapeuta venha a sentir os mais variados afetos por seus pacientes. Alguns podem despertar-lhes maior interesse, outros podem fazer com que o psicanalista se lembre de traumas e ainda há os que ele possa vir a conceder um exagero de cuidados.

Por isso é imprescindível que um analista seja uma pessoa suficientemente analisada. Com sua análise pessoal, ele conseguirá melhor elaborar seus sentimentos e fazer com que suas próprias questões não interfiram tanto em seu trabalho.


O manejo da contratransferência

Com base nesta discussão, podemos perguntar: como um tratamento analítico poderia progredir se o analista respondesse com raiva aos sentimentos transferenciais de seus pacientes? Com certeza, o vínculo entre terapeuta e paciente passaria a ser marcado por uma raiva imensa que em muito prejudicaria o tratamento.

Ou então: como um tratamento analítico pode progredir se o analista responde com certo cansaço às falas de seus pacientes? Aqui a contratransferência também é prejudicial. E a mesma pergunta deve ser feita em relação a outros sentimentos do analista que venham a se manifestar na contratransferência.

Nesta medida, é importante frisar que o psicanalista não deve necessariamente se portar como uma pedra de gelo diante de seus pacientes, pois isso é humanamente impossível. Enquanto ser humano, ele possui os mais variados sentimentos que sempre se manifestarão independentemente de sua boa vontade e demais esforços. Por isso, certa dose de contratransferência é inevitável ao tratamento. Porém, é importante frisar que determinados exageros sentimentais da parte do analista são prejudiciais e por isto devem ser analisados.

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E quando o terapeuta se apaixona pelo paciente?

Foi para responder esta pergunta que Freud (1915/1996) escreveu o artigo “Observações sobre o amor transferencial”.

Apesar de ser uma coisa rara, nenhum psicanalista está livre de se apaixonar por alguns de seus pacientes. De fato, não controlamos nossos sentimentos e, às vezes, quando menos esperamos, eles acabam transbordando. E, assim, cabe ao psicanalista analisar-se e, com sua paixão devidamente elaborada, decidir se o tratamento prossegue ou termina em virtude de seu amor contratransferencial.

Deve o psicanalista orgulhar-se quando um paciente se apaixona por ele?

Uma discussão sobre esta pergunta também se faz em “Observações sobre o amor transferencial”.

Nele, Freud (1915/1996) é incisivo ao responder que não, alertando ser raro um paciente se apaixonar por seu psicanalista devido aos seus encantos pessoais. Conforme vimos, o amor transferencial é induzido pela própria situação analítica, mas jamais pelo charme, beleza ou inteligência do psicanalista. Por isto o terapeuta não teria motivos para orgulhar-se do fato de um paciente estar por ele apaixonado. Tampouco para entregar-se a uma ardente paixão com um de seus clientes.

Este texto foi escrito pelo professor Ricardo Salztrager, psicanalista e professor associado da UNIRIO e da Casa do Saber. Possui Graduação em Psicologia, mestrado e doutorado em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

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Referências:

BREUER, J. & FREUD, S. (1895/1996). Estudos sobre histeria. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 2. Rio de Janeiro: Imago. p. 11-316.

Freud, Sigmund. (1905/1996). Fragmentos da análise de um caso de histeria. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 7. Rio de Janeiro: Imago. p. 13-116.

_____. (1912/1996). A dinâmica da transferência. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 12. Rio de Janeiro: Imago. p. 107-119.

_____. (1915/1996). Observações sobre o amor transferencial. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 12. Rio de Janeiro: Imago. p. 173-188.

Jones, Ernest. (1999). A Vida e a Obra de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago.

A História da Arte é um campo do conhecimento que investiga a evolução das manifestações artísticas ao longo do tempo, desde as pinturas rupestres da Arte Pré-Histórica até as expressões contemporâneas que estão presentes no nosso cotidiano. Neste texto, vamos focar principalmente na História da Arte ligada à pintura, passando pelos principais períodos da História da Arte Mundial, pelos grandes artistas e suas obras, e vamos destacar também a História da Arte no Brasil.



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O que é Arte?

Antes de mergulharmos nas divisões históricas e nas correntes artísticas, é essencial entender o conceito de arte. Arte pode ser entendida como a expressão da criatividade e sensibilidade humana, através das mais diferentes linguagens, como pintura, música, literatura, cinema, escultura, desenho, dança, entre outras. As obras de arte, em sua maioria, são realizadas com algum propósito comunicativo, seja através do visual, do sonoro ou do narrativo. Portanto, a arte transmite emoções, ideias, valores e questionamentos sobre a sociedade e a existência humana.

Cada tipo de arte tem características próprias e formas de expressar uma mensagem. Por exemplo, a pintura pode ser figurativa ou abstrata, a escultura pode ser uma representação tridimensional de figuras ou formas, e a música pode explorar diferentes ritmos e harmonias. A dança, por sua vez, se expressa por meio do movimento corporal, enquanto a literatura utiliza as palavras para criar histórias, reflexões e críticas sociais.

A arte reflete o modo de vida, as crenças e as inovações de cada época. Mas para que serve a arte? Ela vai além da apreciação estética e é fundamental na formação de nossa identidade cultural e na reflexão sobre questões sociais e políticas.

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Períodos da História da Arte

A História da Arte é geralmente dividida em períodos e movimentos que ajudam didaticamente na compreensão das manifestações de cada época. Claro que essas divisões periódicas não são rígidas e algumas formas de se fazer arte coexistiram, mas a divisão em fases facilita a identificação dos estilos e também das ideias que estavam aflorando em cada momento histórico.

Cada período tem suas características próprias, refletindo mudanças de pensamento, inovações técnicas e influências sociais. A seguir, fizemos um resumo com os principais períodos da História da Arte.

Arte Pré-Histórica

A arte pré-histórica remonta aos primórdios da humanidade e é marcada por ser uma arte desenvolvida antes da invenção da escrita. As pinturas rupestres são os principais exemplos desta fase e as famosas pinturas das cavernas de Altamira, na Espanha, e de Lascaux, na França, seguem como os grandes marcos da arte rupestre no mundo.

As pinturas nas cavernas retratam animais e algumas cenas da vida cotidiana da época, como a caça. Essas obras têm um caráter simbólico e ritualístico, também chamado de “magia simpática ou propiciatória”. São pinturas muitas vezes associadas a crenças espirituais e ao entendimento do mundo natural.

Bisonte na Caverna de Altamira, Espanha.  As pinturas rupestres da Caverna de Altamira foram realizadas entre 36.000 e 13.000 anos atrás.

Bisonte na Caverna de Altamira, Espanha. As pinturas rupestres da Caverna de Altamira foram realizadas entre 36.000 e 13.000 anos atrás.


Arte Antiga

Com o surgimento das primeiras civilizações, como as dos povos que habitaram a Mesopotâmia, o Egito, a Grécia e Roma, a arte passou a ter um caráter mais formal e funcional. A arte produzida durante a Antiguidade foi muito diversa, principalmente quando comparamos a arte do Egito Antigo com a da Grécia Antiga, por exemplo, pois os artistas egípcios produziam imagens a partir de esquemas pré-definidos, enquanto os gregos buscavam o realismo na representação dos corpos humanos.

Isso acontecia porque a arte para a sociedade egípcia possuía um significado político e espiritual que precisava ser preservado. Portanto, as pinturas tinham que seguir certos padrões, como a lei da frontalidade que era usada na representação de corpos humanos, como é possível ver na imagem abaixo:

Pintura egípcia mostrando processo de mumificação, hábito comum na sociedade do Egito Antigo.

Pintura egípcia mostrando processo de mumificação, hábito comum na sociedade do Egito Antigo.


As civilizações antigas criaram obras de arte famosas, como as esculturas de Fídias na Grécia e as pirâmides do Egito, que não só adornavam os templos e palácios, mas também tinham significados religiosos e políticos profundos. A arte antiga foi marcada pela busca da perfeição e harmonia nas formas e pela representação idealizada do corpo humano.

Arte Medieval

A Arte Medieval foi realizada no longo período que vai do século V ao século XV, e se caracteriza pela religiosidade. Durante este período, a arte cristã predominou, com grande foco em temas bíblicos e na construção de igrejas, mosteiros e catedrais, além de manuscritos iluminados, que ficaram conhecidos como iluminuras.

A arte medieval utilizou pintura em murais, vitrais e a escultura religiosa. A arte gótica e bizantina, com suas imponentes catedrais e ícones religiosos, também são destaques deste período. Este período é essencialmente marcado pela busca de transmitir mensagens espirituais e teológicas.

Cenas da Vida de Cristo - Lamentação. Giotto, obra realizada entre 1304 e 1306. 200 cm X 185 cm. Capela Scrovegni, em Pádua, Itália.

Cenas da Vida de Cristo - Lamentação. Giotto, obra realizada entre 1304 e 1306. 200 cm X 185 cm. Capela Scrovegni, em Pádua, Itália.


Arte Renascentista

A Arte Renascentista, compreendida entre os séculos XIV e XVI, marca um retorno aos ideais da Antiguidade Clássica e uma revolução na maneira de pensar a arte e a humanidade. Artistas como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael buscaram a representação naturalista do corpo humano, explorando a perspectiva, a proporção e a luz.

A Renascença é, sem dúvida, um dos períodos mais ricos da história da arte, com grandes obras de arte famosas, como "A Última Ceia" de Da Vinci e "O David" de Michelangelo.

A Última Ceia. Leonardo da Vinci, obra realizada entre 1495 e 1498. Dimensões: 460 cm X 880 cm. Refeitório da igreja de Santa Maria delle Grazie, em Milão, Itália.

A Última Ceia. Leonardo da Vinci, obra realizada entre 1495 e 1498. Dimensões: 460 cm X 880 cm. Refeitório da igreja de Santa Maria delle Grazie, em Milão, Itália.


Arte Pré-Colombiana

A arte pré-colombiana refere-se à produção artística das civilizações indígenas das Américas antes das Grandes Navegações, que culminaram com a chegada de Cristóvão Colombo, no final do século XV, ao continente americano. Esse período é imensamente diversificado, refletindo a rica variedade de culturas que habitaram as Américas, como os maias, astecas, incas e diversos povos indígenas da América do Norte, Sul e América Central.

A arte pré-colombiana é caracterizada por uma profunda relação com a natureza, a religião e o poder. Entre os principais tipos de arte desse período estão as esculturas, pinturas, cerâmicas e tecelagens, todas com grande simbolismo. Os maias e astecas criaram magníficas esculturas de pedra, como os templos e figuras divinas que decoravam suas cidades. Os incas, por sua vez, desenvolveram técnicas de tecelagem complexas e a arte da metalurgia, criando peças de ouro e prata com significados religiosos e cerimoniais.

Templo de Kukulkán, pirâmide maia que começou a ser construída no século VI. Iucatã, México.

Templo de Kukulkán, pirâmide maia que começou a ser construída no século VI. Iucatã, México.


A arte pré-colombiana também apresenta uma rica simbologia, com forte presença de elementos geométricos e figuras mitológicas, como os deuses e heróis das lendas dessas civilizações.

Arte Moderna

A Arte Moderna (séculos XIX e XX) começou a apresentar suas primeiras obras a partir da Revolução Industrial e de toda a transformação social e política decorrente dela. Movimentos como o Impressionismo, Cubismo, Surrealismo e Expressionismo, que ficaram conhecidos como as vanguardas europeias, trouxeram novas formas de ver e entender a arte, distantes da representação figurativa clássica. Artistas como Pablo Picasso, Vincent van Gogh, Claude Monet e Salvador Dalí são alguns dos grandes nomes desse período.

A arte passou a explorar a abstração e a subjetividade, questionando as convenções tradicionais das academias e a própria realidade. O fazer artístico se diversificou, incluindo novos experimentos com o uso da cor, da forma e da luz, além de novas linguagens da arte, como a fotografia e a arte digital.

Guernica, quadro de Pablo Picasso. 1937, pintura a óleo. 349,3 cm X 776,5 cm. Museu Reina Sofia, Madrid.

Guernica, quadro de Pablo Picasso. 1937, pintura a óleo. 349,3 cm X 776,5 cm. Museu Reina Sofia, Madrid.


A Arte Moderna ou Modernismo foi um período riquíssimo da produção artística mundial e também no Brasil. Você pode compreender melhor esse estilo de arte através do curso A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock, ministrado pelo doutor em História da Arte, Felipe Martinez. No curso, ele faz uma análise da vida e da obra de grandes artistas modernistas, mostrando os impactos causados pelas novas ideias e como a arte dialoga com as grandes questões sociais.

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Arte Contemporânea

A Arte Contemporânea (século XX até o presente) é um campo diversificado e amplo, de difícil definição. Diversos movimentos artísticos coexistem, como o minimalismo, o arte pop, a arte conceitual e as manifestações da arte digital. A arte contemporânea rompe com as fronteiras dos tipos de arte tradicionais, explorando novas linguagens da arte como o vídeo, a performance e as instalações interativas. Banksy, Yayoi Kusama e Damien Hirst são alguns dos artistas contemporâneos mais influentes no mundo. A arte contemporânea está muito relacionada às ideias e geralmente aborda temas sociais, culturais e políticos, desafiando as normas da arte tradicional e incentivando uma reflexão crítica sobre o mundo atual.

Grandes Artistas da História e Suas Obras

A história da arte é marcada por inúmeros grandes artistas, cujas obras ajudaram a definir os rumos da arte. Cada um desses artistas famosos trouxe uma contribuição única, seja através da técnica, do estilo ou das ideias que procuraram expressar. Listamos a seguir algumas obras de arte famosas na história e seus respectivos autores:

Século XIV (1300)

  • Giotto di Bondone:

O Beijo de Judas (1305)
Afrescos da Capela Scrovegni (1304–1306)

Século XV–XVI (Renascimento)

A Última Ceia (1495–1498)
Mona Lisa (c. 1503–1506)

  • Michelangelo Buonarroti

O Davi (1501–1504)
Afrescos da Capela Sistina (1508–1512)

Século XIX (Impressionismo e Pós-Impressionismo)

  • Édouard Manet

Almoço na Relva (1863)
Olympia (1863)

  • Claude Monet

Impressão, nascer do sol (1872)
Nenúfares (série, 1897–1926)

  • Edgar Degas

A Aula de Balé (c. 1874)
O Balé Azul (c. 1890)

  • Vincent van Gogh

Girassóis (1888)
A Noite Estrelada (1889)

Século XIX–XX (Simbolismo, Art Nouveau e Modernismo)

  • Gustav Klimt

Retrato de Adele Bloch-Bauer I (1907)
O Beijo (1907–1908)

  • Antoni Gaudí

Parque Güell (projeto iniciado em 1900)
Sagrada Família (iniciada em 1882, ainda em construção)

Século XX (Modernismo, Abstracionismo, Surrealismo e Pop Art)

  • Pablo Picasso

Les Demoiselles d'Avignon (1907)
Guernica (1937)

  • Wassily Kandinsky

Composição VIII (1923)
Amarelo-Vermelho-Azul (1925)

  • Frida Kahlo

Auto-retrato com Espinho e Colibri (1940)
As Duas Fridas (1939)

  • Andy Warhol

Campbell's Soup Cans (1962)
Marilyn Diptych (1962)

História da Arte no Brasil

A história da arte no Brasil é marcada por uma rica e diversa trajetória, que reflete a complexidade cultural do país. Desde os tempos anteriores à colonização, as expressões artísticas indígenas já revelavam uma profunda conexão com a natureza, os mitos e os rituais das diferentes etnias. Arte plumária, cerâmica, pinturas corporais e grafismos em objetos e superfícies naturais eram — e ainda são — manifestações de um conhecimento ancestral transmitido de geração em geração.

Com a chegada dos colonizadores portugueses no século XVI, iniciou-se o período da arte colonial, fortemente influenciado pela estética europeia, especialmente o barroco. Igrejas ricamente ornamentadas, como as de Ouro Preto e Salvador, são testemunhos do talento de artistas como Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa) e Manuel da Costa Ataíde, que reinterpretaram as referências europeias sob uma ótica brasileira, mesclando elementos locais, africanos e indígenas em suas obras sacras.

No século XIX, com a vinda da Missão Artística Francesa (1816), liderada por Jean-Baptiste Debret, o Brasil passou por um processo de academização da arte. A fundação da Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro, contribuiu para a formação de artistas dentro de um modelo europeu clássico. Nomes como Pedro Américo e Victor Meirelles se destacaram com grandes telas históricas, representando cenas como o Grito do Ipiranga e episódios da história nacional com uma estética grandiosa e idealizada.

O Grito do Ipiranga, quadro de Pedro Américo, 1888. Óleo sobre tela, 415cm X 760 cm. Museu Paulista da USP, São Paulo.

O Grito do Ipiranga, quadro de Pedro Américo, 1888. Óleo sobre tela, 415cm X 760 cm. Museu Paulista da USP, São Paulo.


A virada do século XX trouxe profundas transformações. O movimento modernista brasileiro, com a Semana de Arte Moderna de 1922, rompeu com os padrões acadêmicos e buscou uma nova linguagem artística, autenticamente nacional.

Artistas como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Di Cavalcanti e Oswald de Andrade propuseram uma arte que refletisse a realidade brasileira, suas cores, suas contradições sociais e culturais, ao mesmo tempo em que dialogava com as vanguardas europeias.

Obras como Abaporu (Tarsila), que se tornou símbolo do movimento antropofágico, tinham como proposta a “digestão” crítica das influências estrangeiras para criar algo novo e original, em sintonia com a história do Brasil.

Candido Portinari, por sua vez, levou o realismo social às telas, retratando com sensibilidade temas como o trabalho, a infância pobre e as injustiças sociais, em obras como Retirantes e os painéis de Guerra e Paz, encomendados pela ONU.

Na segunda metade do século XX, a arte brasileira expandiu-se ainda mais, incorporando novas linguagens como a arte concreta, o neoconcretismo, a arte conceitual, o cinema experimental e a performance. Figuras como Lygia Clark, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Tomie Ohtake, entre outros, romperam com os limites tradicionais da pintura e escultura, criando experiências sensoriais e interativas que colocavam o espectador como parte da obra.

Hoje, a arte contemporânea brasileira é plural, crítica e inovadora. Artistas como Adriana Varejão, Ernesto Neto, Vik Muniz, Rosana Paulino e Jaider Esbell (este último representando a retomada da arte indígena no circuito contemporâneo) continuam a explorar temas como identidade, corpo, ancestralidade, meio ambiente, desigualdade e memória, levando a produção artística nacional a dialogar com os grandes debates do mundo atual — sem perder o enraizamento nas realidades locais.

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Para que serve a Arte?

A arte tem várias funções e serve para inúmeros propósitos. Ela pode ser uma ferramenta de expressão pessoal, um meio de questionamento social e político, uma forma de comunicação universal e até um instrumento terapêutico. A arte também tem uma função educativa, ajudando a transmitir a história, as emoções e as ideias de diferentes culturas e épocas.

Conclusão

A História da Arte é uma jornada fascinante que nos permite entender a evolução das expressões humanas através de diferentes épocas e estilos. Desde a Arte Pré-Histórica até a arte contemporânea, cada período e movimento artístico oferece insights valiosos sobre a cultura, os valores e as ideias de seu tempo. Além disso, grandes artistas e obras de arte influenciam nossa percepção de mundo, e desenvolvem legados que permanecem como um registro da história da humanidade.

Seja para entender as complexidades de nossa sociedade, para se envolver emocionalmente com uma obra ou simplesmente para apreciar a beleza estética, estudar História da Arte é fundamental para qualquer um que deseje expandir sua visão do mundo e compreender a profundidade da experiência humana.

Se você tem interesse em História da Arte e deseja aprender mais sobre o tema, confira o curso Introdução à História da Arte, da Casa do Saber, ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp, Felipe Martinez.

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Referências

https://www.cultura.gob.es/mnaltamira/cueva-altamira/arte.html

https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-11160/chichen-itza/

Nos últimos anos, a informação sobre saúde mental ganhou ampla circulação no mundo através das redes sociais. Disseminou-se o debate sobre noções de um adoecimento emergente que não é silencioso, e que exige atenção da sociedade e dos profissionais de saúde mental.

Seja nas relações de trabalho, nos relacionamentos amorosos, nos espaços de ensino e aprendizagem ou nas práticas de autocuidado, a saúde mental é um tema que precisa ser discutido constantemente.

Neste artigo, apresentaremos os principais conceitos, as questões mais frequentes e os caminhos para uma saúde mental de qualidade.

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Qual o conceito de saúde mental?

A saúde mental é definida como um estado de bem-estar mental que permite que as pessoas lidem com os momentos difíceis da vida com uma maior qualidade emocional.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o conceito de saúde mental é mais do que a ausência de transtornos psíquicos. Ela está relacionada ao desenvolvimento de habilidades individuais e coletivas, que conectem as emoções, os comportamentos e os pensamentos de modo equilibrado.

Assim, manter uma boa saúde mental envolve tanto fatores internos, como o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal, quanto externos, como suporte social, acesso à recursos de saúde e às políticas públicas, além de boas condições de trabalho e participação em ambientes saudáveis e inclusivos.

Muito embora seja considerado um tema complexo, na medida em que cada pessoa experiencia o bem-estar e o sofrimento de modos distintos, é fundamental reconhecer que as abordagens terapêuticas e as práticas de cuidado e inteligência emocional, não devem se restringir às pessoas diagnosticadas com algum tipo de transtorno psíquico.

Por isso, a saúde mental deve ser compreendida como um aspecto essencial da vida cotidiana e de forma permanente, pois todas as pessoas vivenciam desafios emocionais, lidam com situações difíceis e enfrentam momentos de vulnerabilidade ao longo da vida.

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Qual a importância da saúde mental?

Cuidar da saúde mental possibilita qualidade de vida. Ao envolver bem-estar emocional, psicológico e social, a saúde da mente pode proporcionar um bem viver com mais qualidade, equilíbrio e harmonia.

No entanto, muitas pessoas não reconhecem a importância do cuidado em saúde mental, e acabam recorrendo ao autodiagnóstico e a automedicação, o que distancia e dificulta a adesão aos tratamentos e acompanhamento psicossocial adequado. Abaixo veremos algumas situações que exigem uma maior atenção psicológica.

Saúde mental no trabalho

A sobrecarga de trabalho é uma das principais causas de adoecimento psíquico na contemporaneidade. Conhecido como burnout ou síndrome do esgotamento profissional, ela resulta da exposição intensa e contínua do trabalhador a um estresse agudo.

De acordo com a Associação Internacional de Gestão de Estresse, 32% dos profissionais no Brasil sofrem com esgotamento no ambiente de trabalho. Com um aumento expressivo de casos de afastamento por questões psicológicas, o país registra o maior número dos últimos dez anos.

Esse cenário afeta a vida de todos: compromete a saúde mental do(a) trabalhador(a), desgasta as relações profissionais e reduz a produtividade em equipe. Além disso, a exaustão acumulada afeta além do espaço profissional, impactando no bem-estar geral da pessoa.


Saúde mental na adolescência

Outra área que exige atenção é a saúde mental de adolescentes. As pressões estéticas, as redes sociais, o vício em jogos online, o bullying e a insegurança quanto ao futuro aumentaram significativamente os índices de ansiedade e depressão em jovens em idade escolar.

Como consequência, vemos um número expressivo de jovens e adolescentes com dificuldade de socialização e concentração, além de altos níveis de estresse.

O fácil acesso às tecnologias digitais têm proporcionado aproximações, mas também, distanciamentos, que interferem na saúde da mente das pessoas. Nesse sentido, é preciso perceber e investigar os modos como o uso de redes sociais e outras ferramentas online estão afetando o cotidiano.


Quais os fatores que afetam a saúde mental?

Compreender quais as causas e como elas afetam o bem-estar mental, é o primeiro passo para saber como desenvolver uma saúde mental de qualidade.

A pressão social, a sobrecarga de trabalho, as inseguranças nos relacionamentos, o uso excessivo de redes sociais – sobretudo, para jovens e adolescentes –, as desigualdades de acesso e os determinantes sociais da saúde como raça, classe, gênero, religião e território, podem impactar diretamente no bem-estar psíquico. Na sequência, iremos conferir os principais fatores e influências.

Fatores psicológicos:

A ausência de inteligência emocional para lidar com os conflitos cotidianos, uma percepção negativa sobre si e a vivência de experiências traumáticas, são condições que afetam diretamente a saúde mental. Esses aspectos aumentam significativamente a vulnerabilidade ao estresse e a ansiedade, além de agravar a sensação de solidão.

Fatores biológicos:

Além disso, a neurociência explica que a alteração química do cérebro – como níveis desequilibrados de serotonina ou dopamina, que impactam em mudanças de humor –, a presença de doenças hormonais e crônicas, ou a privação de sono e de uma alimentação adequada, irão gerar forte impacto na saúde mental e no funcionamento cognitivo.

Fatores sociais, culturais e ambientais:

O isolamento social, a exposição excessiva à conteúdos negativos nas redes sociais, as cobranças estéticas, inseguranças e ciúmes em relacionamentos, as desigualdades socioeconômicas e os desastres climáticos, são fatores que geram altos índices de adoecimento psíquico, aumentando o estresse e o sofrimento mental.

Quais os sinais que indicam uma má saúde mental? Ao que se deve estar atento?

Por mais que o sofrimento mental não seja percebido ou compreendido com facilidade, ele pode manifestar sinais que devem ser notados com atenção. Cabe mencionar que os sintomas podem ser indicativos em casos de sofrimento emocional prolongado, devendo ser investigado junto com um profissional da saúde mental.

Uma autoavaliação sobre a rotina e sobre os sentimentos diante os acontecimentos da vida, podem auxiliar a compreender possíveis mudanças emocionais e a necessidade de acompanhamento psicoterapêutico.Nesse caminho, é importante estar atento à:

  • Alterações do sono: dificuldade para dormir, sono excessivo ou cansaço extremo ao acordar, podem estar relacionados a um quadro de sofrimento mental ou preocupação excessiva que gere algum tipo de sofrimento.
  • Mudanças repentinas de humor: Oscilações no humor podem ter relação direta com quadros de estresse excessivo ou dificuldades de gerenciar emoções intensas.
  • Cansaço constante: Sentir cansaço extremo após períodos de descanso pode ser um sinal de alerta para a saúde mental. A exaustão mental é um sintoma que denuncia que é necessário realizar uma pausa, respirar, encontrar vias de descanso e reavaliar a rotina.
  • Comportamentos autodestrutivos: A exposição deliberada às situações perigosas, o abuso de substâncias psicoativas, distúrbios alimentares e autoagressões são atitudes que denunciam um sofrimento emocional profundo.
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Quais os principais tipos de transtornos mentais? Conheça as características

Existem diversos tipos de transtornos mentais, com apresentações diferentes e com padrões que precisam ser avaliados não apenas pela soma de sintomas, mas, sobretudo, pelos contextos sociais, culturais, biomédicos e psicológicos do indivíduo.

Os transtornos mentais mais frequentes na sociedade contemporânea incluem:



Ansiedade

Preocupação, ansiedade ou medo excessivo, de modo a comprometer a rotina da pessoa. Estresse desproporcional, inquietação, fadiga, irritabilidade e intolerância também são sintomas.

Depressão

Angústia, desânimo, cansaço constante, falta de vontade ou interesse para exercer atividades cotidianas e falta de energia. Também são sintomas de depressão um humor triste, vazio ou irritável, acompanhado por alterações relacionadas que afetam significativamente a capacidade funcional do indivíduo.

Burnout

Exaustão extrema, estresse e esgotamento físico e mental gerado no ambiente de trabalho. Também são sintomas a desmotivação, baixa autoestima profissional, irritabilidade e dores físicas musculares.

Transtornos Alimentares

Hábitos alimentares irregulares que geram sofrimento ou preocupação excessiva com o peso ou forma do corpo. Podem incluir a ingestão comprometida ou excessiva de alimentos.

Borderline

Caracterizada por instabilidades emocionais, oscilações de humor e impulsividade frequente. Além disso, quadros de hipersensibilidade relacionados à autoimagem e a relações interpessoais também integram os sintomas.

Bipolaridade

Relacionado à alternância entre episódios de mania e depressão, a bipolaridade oscila entre agitação e falta de energia, aceleração do pensamento e apatia, além de sensação de grandeza e prostração.

TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade

Padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento ou no desenvolvimento. Também são sinais sintomáticos a procrastinação, esquecimentos e falta de organização e foco.

É importante reforçar que o diagnóstico de qualquer transtorno mental deve ser realizado por um profissional de psicoterapia, para que a pessoa seja orientada, supervisionada e auxiliada da melhor maneira possível.

Como cuidar da saúde mental no dia a dia?

Compreender que o sofrimento mental faz parte da experiência humana e que existem formas de cuidado e bem-estar eficazes que respeitam os próprios limites e necessidades emocionais, é um passo fundamental para garantir mais qualidade de vida para todos.

Nesse caminho, é preciso encontrar as vias de cuidar da saúde mental dentro de uma rotina possível.Confira algumas dicas práticas de cuidado com a saúde mental:

  • Psicoterapia
    Buscar apoio profissional através da psicoterapia é um aspecto essencial do autocuidado em saúde mental. O acompanhamento psicológico é um lugar seguro que ajuda diretamente na compreensão sobre os sentimentos e emoções, auxiliando na construção do bem-estar. Existem diversas abordagens da psicologia disponíveis atualmente.

    Alguns exemplos bem conhecidos são a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Psicanálise, que podem ajudar no processo terapêutico, sobretudo por oferecerem ferramentas para lidar com situações e pensamentos que geram sofrimento psíquico.
  • Meditação/Mindfulness
    Práticas como meditação e mindfulness ajudam a reduzir os níveis de estresse, melhorando o foco, a disposição e o bem-estar. Mesmo que realizadas por poucos minutos ao dia, elas trazem benefícios importantes ao corpo, como qualidade do sono e concentração.
  • Autoconhecimento
    Entender emoções, sentimentos e padrões de comportamento pode auxiliar a encontrar soluções possíveis para se viver melhor. Nesse sentido, quanto mais nos conhecemos, mais aprendemos a nos cuidar.
  • Aprender sobre inteligência emocional
    O aprendizado sobre inteligência emocional ajuda no enfrentamento de situações difíceis e no exercício de uma comunicação interpessoal com maior qualidade. Desenvolvê-la favorece relações mais saudáveis consigo e com os outros.
  • Neurociência
    A neurociência estuda os mecanismos cerebrais que regulam nossas emoções, experiências e hábitos. Assim, o estudo sobre o funcionamento do cérebro pode ser uma ferramenta poderosa para o cuidado com a saúde mental.


Investir em saúde mental é um processo de autoconhecimento individual e coletivo. Nesse sentido, é fundamental que cada pessoa investigue e reconheça suas necessidades emocionais, desenvolva práticas de autocuidado de modo responsável e seguro, e saiba solicitar ajuda profissional.

Aprofunde-se em diversos temas relacionados à saúde mental, neurociência, filosofia, psicanálise e tantos outros com a Casa do Saber +!

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Referências

https://www.sbponline.org.br/arquivos/9789240049338-eng.pdf

Prevenção e tratamento de stress | ISMA-BR

A adolescência é uma etapa da vida repleta de desafios e preocupações. Marcada por mudanças físicas, emocionais, sociais e cognitivas, a adolescência na sociedade contemporânea exige atenção e cuidado.

Durante essa fase, ocorrem mudanças significativas que podem influenciar na saúde mental de quem está na transição entre a infância e a vida adulta.

Os conflitos familiares, as pressões escolares e sociais, as inseguranças com a imagem corporal, a busca por aceitação e pertencimento, e os primeiros contatos com temas como sexualidade e autoestima, podem provocar mudanças intensas na vida dos jovens e dos adolescentes.

Neste artigo, apresentaremos os principais desafios, sinais de alerta, o impacto das redes sociais e possíveis caminhos de apoio e prevenção à saúde mental na adolescência.

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Mudanças emocionais na adolescência

Durante a adolescência, os jovens estão construindo a sua identidade e sua autonomia emocional. É comum que sentimentos como a incompreensão, a impaciência, as oscilações de humor e as frustrações se tornem parte da rotina.

Embora sejam naturais, essas alterações podem gerar mal estar ou sofrimento psíquico para o adolescente. Nesse caminho, os sinais que poderiam denunciar algum tipo de sofrimento podem ser confundidos com “drama” ou “rebeldia”, o que dificulta o acesso aos cuidados adequados.

Apesar de comuns, as mudanças emocionais podem aumentar a vulnerabilidade ao estresse e aos transtornos mentais como ansiedade e depressão. Ao longo do texto vamos entender como esse processo ocorre e os principais sintomas.


Ansiedade na adolescência

A ansiedade é um dos transtornos mentais mais comuns na adolescência. Ela pode se manifestar por meio de preocupações excessivas, angústia, irritabilidade e insônia, influenciando a rotina do adolescente.

Além disso, pode afetar a concentração e o rendimento escolar, comprometendo os estudos e a convivência em sala de aula.

Um dos fatores que pode agravar ou desencadear quadros de ansiedade em adolescentes, é o bullying. Caracterizado como qualquer tipo de intimidação, exposição ou humilhação praticado por indivíduo ou grupo, o bullying tem efeitos profundos na autoestima e na saúde emocional dos jovens.

Episódios de bullying podem desenvolver pensamentos negativos persistentes, isolamento, crises de choro e dificuldade para tomar decisões. Diante de mudanças comportamentais como essas, procurar apoio profissional pode fazer toda a diferença no acolhimento do adolescente e na condução do cuidado.

Depressão na adolescência

A depressão, por sua vez, é um transtorno mental cada vez mais presente entre os jovens e frequentemente invisibilizada. Seus sintomas incluem o isolamento, a irritabilidade, a apatia e a perda de interesse por atividades cotidianas.

Uma tristeza constante, choro frequente ou humor deprimido também compõem os sinais que denunciam um sofrimento mental relacionado a um quadro depressivo.

Nesse cenário, as redes sociais se tornaram a principal ferramenta de expressão entre os adolescentes, ampliando as conexões entre eles e afetando intensamente a vida desse grupo, condicionando suas emoções, pensamentos e ações.


Adolescência e redes sociais

Além de um espaço de acesso à informação, as redes sociais passaram a funcionar como ambientes de comparação, exposição, violência e discursos de ódio como o cyberbullying - descrito como a prática do bullying por meio das redes sociais.

Na prática, o cyberbullying se manifesta através do compartilhamento de mensagens, vídeos ou fotos ofensivas e maldosas. Também inclui ameaças que humilham e constrangem, comentários mentirosos e montagens inapropriadas.

Nesse caminho, a violência cometida por adolescentes nas escolas também se tornou uma emergente preocupação na sociedade contemporânea. Casos de agressão física, ameaças e ataques planejados ganharam visibilidade nos últimos anos, revelando um intenso cenário de adoecimento emocional de jovens em idade escolar.

O tema foi amplamente discutido a partir da estreia da minissérie Adolescência, na plataforma de streaming Netflix. A série aborda a história de um jovem de 13 anos que foi acusado de assassinar uma colega da escola, e trata de temas como bullying e cyberbullying, misoginia, masculinidade e o impacto das redes sociais na vida dos adolescentes.

É preciso compreender que, em diversos casos, a violência praticada por jovens está ligada a experiências anteriores de bullying e traumas não superados. Quando não há espaços de acolhimento, apoio e escuta, sentimentos como raiva e frustração podem se transformar em comportamentos agressivos ou autodestrutivos.

Para romper e evitar esse ciclo de violência, é fundamental compreender como cuidar da saúde mental de adolescentes e tratar sobre o assunto de modo responsável e seguro.

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Como cuidar da saúde mental na adolescência?

Cuidar da saúde mental na adolescência é um desafio coletivo que exige atenção escolar e familiar. Ambos precisam estar atentos aos sinais de sofrimento emocional para garantir que os jovens atravessem esse período com mais equilíbrio e autoestima.

Os sinais de um sofrimento não devem ser ignorados, pois são formas do corpo e da mente pedirem ajuda. Nesses momentos, o mais importante é oferecer escuta e apoio, sem julgamentos.

Para isso, é necessário fortalecer as relações e possibilitar um processo de autoconhecimento e autonomia emocional. A seguir iremos conferir algumas como a escola e a família podem ajudar:

O papel da escola na saúde mental

Inicialmente, é preciso que o ambiente escolar reconheça que o sofrimento psíquico faz parte da realidade, e que os adolescentes são um grupo fortemente atingido.

Assim, a escola tem um papel central na promoção da saúde mental de adolescentes. Além de ser um dos principais lugares de socialização, ela deve funcionar como um lugar de acolhimento e suporte.

Entenda como a escola pode abordar sobre saúde mental com adolescentes:

  • Desenvolver projetos, rodas de conversa e ações de combate ao bullying e ao cyberbullying: criar espaços seguros para que os adolescentes compartilhem experiências e construam empatia.
  • Promover debates e palestras sobre prevenção ao suicídio na adolescência: ajuda a quebrar tabus e a informar sobre sinais de alerta e pedir ajuda.
  • Manter uma comunicação direta com os pais dos adolescentes: fortalece a rede de apoio e permite ações conjuntas entre família e escola.
  • Promover a escuta ativa e o diálogo entre estudantes, professores e equipe pedagógica: constrói vínculos de confiança e a identificação precoce de sofrimentos.
  • Integrar temas de saúde e inteligência emocional ao currículo de forma transversal: contribui para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e autocuidado.


Além disso, é fundamental que a escola proporcione espaços de discussão sobre transtornos mentais em geral como ansiedade, depressão, TDAH, bipolaridade e transtornos alimentares. Romper com o estigma social é um passo indispensável para o autoconhecimento.

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Saúde mental e família

A atenção à saúde mental de adolescentes não deve se restringir à escola. A família é a base do cuidado emocional e deve estar atenta aos sinais.

Saiba como a família pode oferecer suporte para prevenir quadros de sofrimento psíquico:

  • Crie um espaço de confiança: Muitos adolescentes sofrem em silêncio por não saberem como pedir ajuda ou por temerem serem julgados por seus familiares. Por isso, é fundamental criar espaços seguros e de confiança, onde possam expressar suas opiniões e sentimentos sem medo.
  • Desenvolva uma escuta ativa: A escuta ativa é uma das ferramentas mais eficientes no cuidado com a saúde mental desse grupo. Seja acolhedor(a), respeitoso(a) e empático(a) com as questões compartilhadas pelo adolescente.
  • Invista em suporte psicológico: Buscar ajuda profissional é fundamental quando os sinais de sofrimento persistem ou se intensificam. Psicólogos, psiquiatras, psicopedagogos e serviços de saúde mental podem oferecer o acompanhamento necessário.


Além disso, abordagens como a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e a Psicanálise podem contribuir significativamente para a melhor qualidade de vida dos adolescentes.

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Cuidar da saúde mental de adolescentes é um ato de responsabilidade e compromisso com o futuro. Garantir que eles tenham acesso a apoio emocional e escuta qualificada é investir no desenvolvimento de uma geração mais consciente, empatia e saudável.

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O envelhecimento saudável é uma construção relativamente recente na humanidade. Práticas de exercícios físicos, bons hábitos alimentares, sono restaurador e relações interpessoais benéficas, aliadas ao avanço da medicina, têm permitido um aumento na expectativa de vida.

Para se ter uma ideia, aqui no Brasil, na década de 1950, a expectativa de vida era de apenas 46 anos de idade, de acordo com dados do IBGE. Atualmente, passou a ser de 76 anos. E é muito provável que esses números melhorem ainda mais. Neste artigo, vamos mostrar quais práticas contribuem para a longevidade e qualidade de vida.



O Que é Ter Um Envelhecimento Saudável?

A partir de 2020, o Brasil passou a apoiar a declaração da Assembleia Geral das Nações Unidas, que anunciou a Década do Envelhecimento Saudável, compreendida entre os anos de 2021 e 2030. De acordo com o relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre essa década, o envelhecimento saudável é o processo de desenvolver e manter a habilidade funcional que permite o bem-estar na idade mais avançada.

Nesse sentido, existe todo um esforço que reúne os governos, a sociedade civil, a mídia, a comunidade acadêmica e o setor privado com o mesmo objetivo: colaborar para a melhoria da vida das pessoas idosas. Para isso, é essencial o combate ao etarismo, a entrega de serviços de cuidados integrados e de atenção primária à saúde adequados à pessoa idosa. Para além das ações propostas pelas Nações Unidas, as pessoas podem adotar certos hábitos que vão contribuir para envelhecer bem.

Quando falamos em envelhecimento saudável, não nos referimos apenas a viver mais, mas a viver melhor. O envelhecimento saudável envolve a manutenção da saúde física e mental ao longo do tempo. Significa viver com autonomia, aproveitar os momentos ao lado de quem amamos e manter o prazer nas atividades diárias. Isso implica fazer escolhas de vida que favoreçam a saúde.

Além disso, entender o processo de envelhecimento e suas mudanças fisiológicas nos ajuda a viver com mais aceitação. Ao longo dos anos, o corpo passa por transformações inevitáveis, mas isso não significa que devemos perder a qualidade de vida. Pelo contrário, os anos podem ser uma oportunidade para viver de maneira mais consciente e apreciar o que a vida oferece.



Fases e Alterações Fisiológicas do Envelhecimento

Envelhecer é um processo inevitável e natural, que se desdobra ao longo das diversas fases da vida. Cada uma dessas etapas é marcada por transformações fisiológicas distintas, que, embora inescapáveis, podem ser vivenciadas de maneira equilibrada.

A forma como enfrentamos essas mudanças tem o poder de impactar profundamente nossa qualidade de vida na terceira idade. Veja a seguir as principais fases do envelhecimento humano:

Fase Inicial (Até os 50 anos): Durante os primeiros anos da vida adulta, o corpo atinge seu auge físico. A energia é abundante, a regeneração celular é eficiente e a capacidade de recuperação após esforços intensos é notável. Contudo, mesmo nesse estágio de vitalidade, começam a surgir as primeiras preocupações com os sinais iniciais do envelhecimento.

Para as mulheres, além das mudanças gerais, a preocupação com o impacto da saúde reprodutiva é um fator relevante porque é nessa fase que se inicia a menopausa e as mudanças hormonais no corpo feminino acarretam diversas transformações físicas e emocionais.

Meia-Idade (50 a 65 anos): Este período marca o início das mudanças mais visíveis e significativas no corpo. A perda gradual de massa muscular, o declínio da elasticidade da pele e o desequilíbrio hormonal são algumas das transformações mais notáveis.

Além disso, o metabolismo pode desacelerar, e a resistência a doenças começa a diminuir. Apesar disso, essa fase ainda permite que a saúde seja bem preservada, especialmente para aqueles que adotam hábitos saudáveis ao longo dos anos. O cuidado preventivo, tanto físico quanto psicológico, é crucial para manter a vitalidade e garantir um envelhecimento saudável.

Velhice (Acima dos 65 anos): A partir dessa fase, os sinais do envelhecimento tornam-se mais evidentes e frequentes. A perda de massa óssea, o enfraquecimento do sistema imunológico e a diminuição da capacidade cognitiva são algumas das alterações que podem ocorrer. Entretanto, é importante destacar que a qualidade de vida não se resume apenas à saúde física.

A vivência emocional, social e a manutenção de conexões significativas continuam a desempenhar um papel fundamental no bem-estar geral. Manter uma rede de apoio, cultivar relacionamentos e praticar atividades que estimulem o intelecto e as emoções podem ser decisivas para um envelhecimento mais pleno.

É fundamental compreender que o envelhecimento de cada indivíduo pode ser mais ou menos marcante dependendo dos cuidados que foram tomados ao longo da vida.

Adotar uma rotina saudável desde a juventude e na meia-idade, com alimentação equilibrada, atividades físicas regulares e cuidados com a saúde mental, pode fazer toda a diferença na forma como encaramos o envelhecer. Além disso, a aceitação e a adaptação a essas mudanças são essenciais para manter uma boa qualidade de vida e aproveitar as diversas experiências que cada fase da vida nos oferece.


Longevidade e Qualidade de Vida: Como Alcançar

Frequentemente associamos a longevidade saudável ao número de anos vividos, mas é essencial compreender que a verdadeira longevidade diz respeito à qualidade de vida que conseguimos manter ao longo do tempo.

Para alcançar uma vida longa e saudável, é necessário adotar um estilo de vida que favoreça o bem-estar físico, emocional e social em todas as etapas da vida. A longevidade não deve ser vista apenas como a soma de anos, mas como a soma de momentos vividos de forma plena, com saúde e satisfação. Para isso, existem certos hábitos indispensáveis.

A Alimentação Balanceada é um dos mais importantes. Uma nutrição adequada é a base para uma vida longa e saudável. Alimentar-se com uma dieta rica em nutrientes essenciais, como vitaminas, minerais, fibras e antioxidantes, é fundamental para manter a saúde cardiovascular, óssea e cerebral.

Alimentos frescos e naturais, como frutas, legumes, grãos integrais e proteínas magras, são aliados poderosos na prevenção de doenças crônicas e no fortalecimento do sistema imunológico. Uma alimentação equilibrada também ajuda a controlar o peso, a manter níveis saudáveis de colesterol e a regular a pressão arterial.

Outro segredo da longevidade é a prática regular de exercícios físicos. O movimento é vital para a longevidade. A prática constante de atividades físicas, como caminhada, natação, yoga ou musculação, fortalece o corpo, melhora a circulação sanguínea e previne doenças. Além disso, os exercícios promovem a liberação de substâncias que melhoram o humor, como endorfinas, e ajudam a reduzir o risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e osteoporose. O exercício regular também mantém a energia, a flexibilidade e a resistência física, permitindo que você se mantenha ativo e independente por mais tempo.

Um fator que merece atenção no processo de envelhecimento é a saúde mental. O equilíbrio emocional é uma peça fundamental para garantir uma vida longa e saudável. Estresse, ansiedade, sensação de angústia e depressão podem afetar profundamente a qualidade de vida, e, portanto, cuidar da saúde mental é imprescindível.

Práticas como meditação e relaxamento contribuem para a redução dos níveis de estresse e aumentam a sensação de bem estar. Além disso, momentos de descontração, como hobbies, leituras e convivência com amigos, são essenciais para manter a saúde emocional e a satisfação pessoal.

Somos seres sociais. Portanto, os laços afetivos com amigos e familiares são de extrema importância ao longo da vida. Estudos mostram que manter amizades e relacionamentos saudáveis ajuda a combater a solidão, a depressão e a ansiedade, promovendo um envelhecimento mais feliz e equilibrado.

Interações sociais enriquecem nossas vidas, oferecem suporte emocional e ajudam a manter a mente ativa. Participar de atividades sociais e manter contato com familiares e amigos é uma das melhores maneiras de manter a qualidade de vida, especialmente na velhice.

A verdadeira qualidade de vida na velhice não está relacionada apenas à ausência de doenças, mas à capacidade de adaptação às mudanças, ao esforço contínuo para manter-se ativo, e ao cuidado em manter bons relacionamentos e um equilíbrio emocional estável. Ao adotar hábitos saudáveis e manter uma mentalidade positiva, podemos construir uma vida mais significativa.


O Segredo da Longevidade: Dicas para Envelhecer Bem

Se você deseja saber como envelhecer bem, saiba que o segredo da longevidade está em atitudes simples, mas que podem fazer uma grande diferença ao longo dos anos. Aqui estão algumas dicas que você incluir na sua rotina para prevenir o envelhecimento precoce:

DICA PARA ENVELHECER DE FORMA SAUDÁVEL DESCRIÇÃO
Gestão do estresse Práticas de relaxamento e meditação ajudam a reduzir o impacto do estresse.
Autoestima e Amor Próprio Valorizar a si mesmo e manter o equilíbrio entre trabalho, descanso e lazer.
Alimentação balanceada Manter uma dieta rica em nutrientes essenciais para o corpo e a mente.
Exercício físico regular Praticar atividades físicas regularmente para fortalecer o corpo e a mente.
Sono de qualidade Dormir o suficiente para permitir a recuperação do corpo e da mente.
Manter relacionamentos sociais Cultivar amizades e laços afetivos ajuda a combater a solidão e a depressão.
Desafiar a mente Estimular o cérebro com leitura, jogos e novos aprendizados para manter a mente ativa.
Controle do peso Manter o peso dentro de uma faixa saudável reduz o risco de doenças crônicas.
Exposição ao sol de forma moderada Tomar sol de forma moderada é importante para a saúde dos ossos e a produção de vitamina D.
Hidratação adequada Beber água regularmente mantém o corpo hidratado e as funções vitais em dia.
Prevenção de doenças Consultar médicos regularmente para exames preventivos e cuidados com a saúde.
Fazer atividades prazerosas Incorporar hobbies e interesses pessoais ao dia a dia proporciona bem-estar.
Evitar o tabagismo e o álcool excessivo Evitar substâncias prejudiciais contribui para a saúde a longo prazo.
Adaptar-se ao envelhecimento Aceitar as mudanças naturais com uma visão positiva e adaptar-se a elas com serenidade.


O Que é o Estoicismo e Como Ele Pode Ajudar a Lidar com o Medo do Envelhecimento

O medo de envelhecer e o medo da morte são desafios profundos que afligem muitas pessoas à medida que o tempo avança. A simples consciência de que nossa vida é finita pode gerar uma sensação de desconforto existencial, levando a questionamentos sobre o propósito e a relevância de nossa jornada.

Nesse cenário, filosofias como o estoicismo oferecem uma abordagem reconfortante, sugerindo que, ao invés de lutar contra o que não podemos controlar, devemos concentrar nossa energia nas atitudes e reações que estão ao nosso alcance — especialmente no que diz respeito ao envelhecimento.

O estoicismo nos ensina a arte de aceitar o inevitável com serenidade, promovendo a paz interior através do domínio sobre nossas emoções e pensamentos. Em vez de resistir ao envelhecimento ou à morte, somos incentivados a abraçá-los como aspectos naturais da vida, reconhecendo que nossa verdadeira liberdade reside na forma como reagimos a essas realidades.

Ao adotar essa perspectiva, podemos transformar a ansiedade que o envelhecer desperta em uma oportunidade de viver com mais presença, gratidão e dignidade, independentemente da idade.

Além disso, o estoicismo nos orienta a cultivar virtudes essenciais, como a sabedoria, a coragem e a moderação, que são fundamentais para um envelhecimento pleno e consciente. Essas virtudes nos ajudam a encarar a finitude com tranquilidade e nos permitem também aproveitar cada fase da vida de maneira mais rica e significativa. Ao aplicarmos os princípios estoicos, somos capazes de viver de forma mais profunda, com menos medos e fobias e mais aceitação, encontrando paz na impermanência e celebrando a sabedoria que vem com o passar do tempo.



Conclusão

O envelhecimento saudável vai muito além de simplesmente cuidar do corpo físico. É uma jornada de aceitação das mudanças naturais que a vida nos impõe e de encontrar maneiras de viver de forma plena, significativa e gratificante, independentemente da idade. Envelhecer com saúde requer cuidados com o corpo, mas também com o lado emocional. A qualidade de vida e a longevidade saudável são conquistadas através de escolhas conscientes, como manter um estilo de vida ativo, cultivar relações positivas e praticar a gratidão.

Perguntas Frequentes sobre Envelhecimento

O que é ter um envelhecimento saudável?

Ter um envelhecimento saudável significa viver a velhice de maneira ativa e plena, mantendo o equilíbrio entre saúde física, mental e emocional. Envolve cuidar do corpo com uma alimentação balanceada, exercícios regulares, sono adequado e gestão do estresse. Também está relacionado à manutenção de uma mentalidade positiva e ao cultivo de relacionamentos saudáveis, o que ajuda a manter a qualidade de vida ao longo do tempo.

Como ter longevidade e qualidade de vida?

Para alcançar longevidade e qualidade de vida, é fundamental adotar hábitos saudáveis desde cedo. Isso inclui uma alimentação nutritiva, atividade física regular, cuidados com a saúde mental e emocional, e o cultivo de conexões sociais. Além disso, praticar a aceitação das mudanças naturais do envelhecimento e procurar viver com propósito e gratidão pode fazer toda a diferença na qualidade de vida, proporcionando bem-estar e uma velhice mais saudável e feliz.





Referências

https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/41984-em-2023-expectativa-de-vida-chega-aos-76-4-anos-e-supera-patamar-pre-pandemia#:~:text=Destaques,mulheres%20de%2079%2C7%20anos

https://www.em.com.br/saude/2024/10/6954965-7-dicas-para-envelhecer-de-forma-saudavel.html

https://www.cnnbrasil.com.br/saude/quais-sao-os-melhores-exercicios-para-envelhecer-bem-especialistas-respondem/

https://www.cnnbrasil.com.br/saude/estilo-de-vida-afeta-mais-o-envelhecimento-do-que-a-genetica-diz-estudo/

https://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/BibliotecaDigital/BibDigitalLivros/TodosOsLivros/Decada-do-envelhecimento-saudavel_relatorio-de-linha-de-base.pdf

Um dos sentimentos mais desejados pela humanidade é o amor. Esse sentimento está entre os mais presentes na literatura, nas letras de música, nos estudos psicológicos, no cinema. Acontece que esse sentimento que supostamente deveria gerar as melhores emoções, muitas vezes é vivenciado de formas que não são saudáveis. A dependência emocional é uma das manifestações doentias que podem acontecer nas relações amorosas e este artigo será dedicado a entendermos melhor o que é a dependência emocional, quais são os sintomas e como tratar a dependência emocional.



O que é Dependência Emocional?

Um aspecto que tem chamado atenção dos estudiosos da psicologia e da neurociência são os mecanismos mentais desencadeados pelas relações amorosas. Constatou-se que os sentimentos amorosos usam as mesmas vias neurais das substâncias psicoativas, ativando o sistema de recompensa do cérebro. Isso significa que o sentimento amoroso tem a capacidade de causar sintomas de dependência semelhantes aos do uso de substâncias ou drogas psicoativas.

Isso explica o uso da expressão Dependência Emocional ou Dependência de Relacionamentos. Apesar do termo “dependência” ser usado tradicionalmente para designar o uso de substâncias ou drogas psicoativas, ele também é utilizado para apresentar o comportamento de pessoas que possuem um padrão crônico de necessidades afetivas que precisam ser realizadas através de relacionamentos interpessoais.

Portanto, a dependência emocional é um transtorno mental caracterizado pela criação de vínculos afetivos patológicos. Ela pode causar prejuízos significativos, como a falta de iniciativa e de autonomia do dependente, o isolamento e danos psicológicos.

O laço afetivo existente entre o dependente e a pessoa amada é disfuncional, pois o dependente busca preencher algum vazio emocional através do apego ao outro, colocando nessa pessoa toda a sua capacidade afetiva.

A falta de autoconhecimento e a baixa autoestima são dois fatores que contribuem para a manutenção desses comportamentos dependentes. Geralmente, o dependente emocional apresenta uma carência extrema, que pode ter sido causada por alguma rejeição sofrida no passado, cujas causas podem ser investigadas através de diversas abordagens terapêuticas, como a psicanálise, por exemplo.



Sinais de Dependência Emocional

A dependência emocional é um transtorno psicológico caracterizado pela necessidade excessiva de aprovação, atenção e afeto de outras pessoas, frequentemente em contextos de relacionamento amoroso. Indivíduos com dependência emocional tendem a sentir-se inseguros e incapazes de tomar decisões sem a validação ou presença de outra pessoa.

Esse comportamento pode ser observado em relacionamentos amorosos, familiares ou até mesmo amizades, e está geralmente relacionado à dificuldade de lidar com a solidão, carência afetiva e inseguranças internas. A pessoa dependente emocionalmente frequentemente sente-se incapaz de viver de forma autônoma, dependendo sempre do outro para se sentir segura, amada e completa.

Os principais sinais da dependência emocional incluem idealização excessiva, submissão, baixa autoestima, relações desequilibradas e medo constante do abandono. Em muitos casos, a baixa autoestima e a carência afetiva levam a pessoa a acreditar que não pode ser feliz ou realizada sem a aprovação constante de outra pessoa.

A dependência emocional pode gerar grande sofrimento, pois quem a sofre muitas vezes coloca o bem-estar do outro acima do seu, sacrificando sua própria identidade para atender às expectativas alheias.

A forma mais comum de dependência emocional se manifesta em relacionamentos amorosos, onde a pessoa busca incessantemente o amor, afeto e aprovação de seu parceiro, frequentemente à custa de sua própria felicidade e saúde mental.

A busca constante por validação e o medo do abandono podem levar a comportamentos manipulativos, de controle e a uma perda de identidade. A pessoa dependente emocionalmente tende a viver em função do outro, acreditando que sua felicidade e bem-estar dependem exclusivamente da presença e da aceitação do parceiro.

A carência afetiva muitas vezes está no cerne da dependência emocional. Quando essa carência não é atendida, a pessoa pode se sentir vazia, incompleta e incapaz de estabelecer uma conexão saudável consigo mesma, o que a leva a buscar incessantemente a presença e aprovação do outro para preencher esse vazio emocional.



Sintomas de Dependência Emocional

É essencial reconhecer os sinais de dependência emocional para buscar ajuda e tratamento. Abaixo estão alguns sintomas de dependência emocional comuns:

  • Baixa autoestima: A pessoa sente-se constantemente insegura e acredita que não é capaz de alcançar seus objetivos ou tomar decisões importantes.
  • Medo de abandono: Um medo irracional de ser rejeitado ou deixado sozinho, o que pode levar a atitudes de controle e manipulação.
  • Satisfação apenas na presença do outro: A pessoa não se sente completa ou feliz sem estar com alguém, o que pode levar à perda de interesse por outras atividades ou amizades.
  • Sacrifício constante: A pessoa coloca suas próprias necessidades em segundo plano, muitas vezes negligenciando sua saúde emocional, física ou social para agradar o outro.
  • Necessidade de aprovação: Constantemente busca a validação do outro, seja para suas decisões ou comportamentos.
  • Ciúmes excessivos: Sentimentos de posse ou controle sobre a outra pessoa, com o medo constante de perdê-la.



Como Identificar a Dependência Emocional em Relacionamentos

Quando se trata de dependência emocional em relacionamentos, o comportamento de uma pessoa pode se tornar obsessivo. Ela pode sentir uma necessidade constante da presença do parceiro para se sentir bem consigo mesma, frequentemente agindo de maneira possessiva ou manipuladora para manter essa proximidade.

Identificar a dependência emocional em um relacionamento pode ser desafiador, pois seus sinais muitas vezes se manifestam de forma sutil. Isso torna difícil reconhecê-la, especialmente quando gestos afetivos são confundidos com amor genuíno.

Portanto, é fundamental observar certos comportamentos, pois a dependência emocional, muitas vezes camuflada sob atitudes de carinho, pode ser um reflexo de insegurança e carência afetiva. Dentre as características predominantes da dependência emocional, destacamos:

  • Falta de autonomia: A pessoa não consegue tomar decisões importantes sem consultar ou pedir aprovação do parceiro.
  • Desprezo por limites: Frequentemente invade o espaço do parceiro, sem respeitar a privacidade e os limites emocionais do outro.
  • Comportamento de "salvador": Tende a assumir a responsabilidade pelos problemas do parceiro, tentando "salvá-lo", mesmo que isso prejudique sua própria saúde emocional.



Como Tratar a Dependência Emocional?

A terapia de casal é uma abordagem essencial nesse processo, especialmente quando a dependência emocional afeta o relacionamento como um todo. Ela oferece um espaço seguro onde os parceiros podem explorar suas dinâmicas emocionais, identificar comportamentos disfuncionais e aprender a se comunicar de forma mais saudável.

A terapia ajuda o casal a estabelecer limites, promover o respeito mútuo e fortalecer a confiança, aspectos essenciais para superar a dependência emocional e construir uma relação equilibrada.

Além disso, a terapia de casal também trabalha aspectos como o medo do abandono e a insegurança emocional, que muitas vezes estão no cerne da dependência. Com a orientação do terapeuta, os parceiros podem desenvolver uma maior autonomia emocional, aprendendo a lidar com suas próprias necessidades sem depender do outro para validação. Com isso, o casal não só supera a dependência emocional, mas também fortalece a relação, criando uma base mais sólida para um amor saudável e duradouro.

Além da terapia de casal, existem outras abordagens que ajudam a superar a dependência emocional e curar o coração. Com o tratamento adequado, é totalmente possível alcançar a autonomia emocional e estabelecer relacionamentos mais saudáveis. A seguir, estão algumas outras opções de tratamento para a dependência emocional:

  • Psicoterapia: A psicoterapia, especialmente a psicanálise, é uma ferramenta poderosa no tratamento da dependência emocional. Ela permite que a pessoa explore as causas profundas de seu comportamento, muitas vezes relacionadas a experiências passadas, traumas ou padrões de apego disfuncionais. O ambiente terapêutico oferece um espaço seguro para que o indivíduo compreenda suas emoções e trabalhe na resolução de questões inconscientes que alimentam a dependência.
  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): A TCC é uma abordagem eficaz para tratar a dependência emocional, pois foca em modificar os padrões de pensamento que sustentam a dependência. Essa terapia ajuda a pessoa a identificar e desafiar crenças disfuncionais, como a ideia de que sua felicidade depende do outro. A TCC também auxilia no desenvolvimento da autoestima e na construção de independência emocional, proporcionando ferramentas práticas para lidar com pensamentos negativos e fortalecer o senso de autossuficiência emocional.
  • Estabelecimento de limites saudáveis: Desenvolver habilidades para estabelecer e respeitar limites nas relações é fundamental para romper com a dependência emocional. Estabelecer limites saudáveis permite que a pessoa preserve sua individualidade e mantenha relacionamentos equilibrados, sem cair em comportamentos possessivos ou submissos. Saber dizer "não", respeitar o espaço do outro e proteger o próprio bem-estar emocional são aspectos essenciais nesse processo.
  • Suporte familiar e grupos de apoio: Além do acompanhamento terapêutico, o suporte de familiares e amigos pode ser fundamental. Muitas vezes, o entendimento e o apoio de pessoas próximas ajudam a fortalecer a jornada de recuperação. Grupos de apoio, onde indivíduos com experiências semelhantes podem compartilhar suas histórias, também oferecem um ambiente acolhedor e encorajador. Nessas comunidades, é possível aprender com a experiência dos outros, obter conselhos práticos e sentir-se menos isolado no processo de recuperação.
  • Práticas de autocuidado e bem-estar: Incorporar práticas de autocuidado na rotina, como meditação, exercícios físicos, hobbies e atividades relaxantes, é uma forma importante de fortalecer a saúde emocional. Ao aprender a cuidar de si mesma, a pessoa começa a perceber que pode encontrar satisfação e felicidade em suas próprias ações, sem depender exclusivamente de outro para seu bem-estar.
  • Educação emocional: Aprender sobre emoções e como gerenciá-las adequadamente é essencial para tratar a dependência emocional. A educação emocional ensina como reconhecer, compreender e lidar com sentimentos de maneira saudável, sem que eles se tornem uma fonte de sofrimento ou dependência.


Essas são algumas opções de tratamento para a dependência emocional, permitindo que o indivíduo reconquiste sua autonomia, desenvolva relacionamentos mais saudáveis e aprenda a viver de forma mais equilibrada e independente. O caminho para superar a dependência emocional exige paciência, comprometimento e, acima de tudo, o desejo de se curar e crescer emocionalmente.



Diferença entre Amor e Dependência Emocional

Muitas vezes, as pessoas confundem amor com dependência emocional, mas é importante entender que existe uma diferença significativa entre os dois. Enquanto o amor saudável promove a autonomia e o respeito mútuo, a dependência emocional está frequentemente associada à carência e à busca constante por validação. A seguir, apresentamos uma tabela que destaca as principais diferenças entre o amor genuíno e a dependência emocional:

ASPECTO AMOR SAUDÁVEL DEPENDÊNCIA EMOCIONAL
Independência Cada parceiro mantém sua individualidade e autonomia Há uma necessidade constante de validação e aprovação do parceiro
Relacionamento O amor é baseado em respeito mútuo e confiança, sem o medo constante de perda O relacionamento é caracterizado por medo excessivo de abandono e insegurança
Saúde emocional Ambos os parceiros são emocionalmente equilibrados e independentes A pessoa dependente sente-se incompleta sem o parceiro e tem baixa autoestima
Interesses e amizades Cada parceiro pode ter seus próprios interesses e amizades, sem conflitos O dependente muitas vezes abandona seus próprios interesses e amizades para agradar ao parceiro
Comportamento O amor saudável permite o espaço para o crescimento pessoal de ambos O comportamento pode ser possessivo e controlador, muitas vezes sacrificando a identidade
Autocuidado e bem-estar Ambos os parceiros se cuidam emocionalmente e fisicamente A pessoa dependente negligencia seu próprio bem-estar em favor do outro


A principal diferença entre amor e dependência emocional reside na maneira como as pessoas se relacionam consigo mesmas e com o outro. O amor saudável promove equilíbrio, autonomia e respeito, enquanto a dependência emocional é marcada pela insegurança, carência e a necessidade de validação constante, o que pode prejudicar o bem-estar de ambos os parceiros na relação.


Como Evitar a Dependência Emocional?

A dependência emocional não precisa ser uma sentença permanente. Para evitar cair nessa armadilha, considere as seguintes estratégias:

  • Fortalecer a autoestima: Desenvolver uma boa relação consigo mesmo é o primeiro passo para evitar a dependência emocional. Isso pode ser feito por meio de autoconhecimento, cuidados com a saúde mental e física, e construindo confiança em suas próprias decisões.
  • Promover a independência: Busque construir uma vida pessoal rica e significativa, com hobbies, interesses e amizades que não dependam de outra pessoa.
  • Estabelecer limites saudáveis: Aprenda a respeitar seus próprios limites e os dos outros, desenvolvendo relações baseadas no respeito mútuo e na autonomia emocional.




Conclusão

A dependência emocional é uma condição que pode afetar profundamente a vida de quem a experimenta, tornando difícil encontrar equilíbrio e felicidade nas relações. Reconhecer os sinais de dependência emocional e buscar ajuda, seja por meio da psicoterapia ou de outras formas de apoio, é fundamental para superar essa dificuldade e aprender a viver de forma mais auto suficiente.

Com o tratamento adequado e o comprometimento pessoal, é possível restaurar o equilíbrio emocional e criar relações mais maduras e satisfatórias, baseadas no respeito mútuo e na independência.

Perguntas Frequentes sobre Dependência Emocional

O que causa a dependência emocional?

A dependência emocional pode ser causada por uma série de fatores, incluindo traumas de infância, falta de modelos de relacionamento saudável, e uma baixa autoestima. Além disso, questões emocionais como a ansiedade e o medo de abandono podem contribuir para o desenvolvimento da dependência emocional.

Como saber se a pessoa é dependente emocional?

A pessoa dependente emocionalmente geralmente demonstra sinais como o medo constante de ser abandonada, a incapacidade de tomar decisões sozinha, e uma necessidade incessante de validação e aprovação do parceiro.

Referências:

https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/saude/e-possivel-superar-a-dependencia-emocional,75dd2dd317017b49953d686d4368a737yd8z0gh4.html

https://www.em.com.br/app/noticia/saude-e-bem-viver/2023/06/12/interna_bem_viver,1505850/dependencia-emocional-em-relacionamentos-amorosos-sinais-e-como-superar.shtml

https://www.metropoles.com/vida-e-estilo/e-amor-ou-dependencia-emocional-psicanalista-ensina-como-identificar

Provavelmente você conhece alguém que sofre por conta da compulsão. Sabe aquela pessoa que tenta parar de jogar e não consegue? Ou que vive fazendo compras, mesmo sem precisar ou sem poder? Esses são apenas dois exemplos de como a compulsão pode se manifestar.

Ela é um comportamento repetitivo e impulsivo em que as pessoas sentem uma necessidade incontrolável de realizar ações ou pensamentos específicos, apesar de saber que esses comportamentos podem trazer prejuízos.

A compulsão é um transtorno e geralmente está ligado a estados emocionais como ansiedade, angústia e estresse, dificultando o controle do impulso. Além disso, as transformações sociais das últimas décadas contribuíram para a construção de tempos compulsivos, onde as pessoas buscam de todas as formas aliviar suas tensões internas e acabam entrando em ciclos viciosos como as compulsões alimentares, por compras, por jogos, por sexo.

Compreender os diferentes tipos de compulsão e como eles afetam as nossas vidas é essencial para identificar o problema e buscar tratamentos adequados. Neste artigo, vamos abordar o que é compulsão, os tipos mais comuns e as formas de tratamento.



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O que é Compulsão?

A compulsão é um transtorno emocional caracterizado pela repetição excessiva de comportamentos ou pensamentos, mesmo quando esses atos causam prejuízos à pessoa. Embora o indivíduo saiba que seu comportamento não é saudável, ele se sente incapaz de interrompê-lo.

Esse impulso repetitivo frequentemente ocorre como uma tentativa de aliviar um sofrimento psíquico ou uma angústia profunda, originados de emoções difíceis como ansiedade, estresse ou frustração. O comportamento compulsivo se manifesta como uma forma de lidar com sentimentos de desconforto interno, buscando um alívio imediato. No entanto, ao invés de solucionar o problema, esse comportamento só intensifica o sofrimento emocional a longo prazo, podendo inclusive desencadear quadros depressivos.

Por exemplo, a pessoa com compulsão alimentar pode sentir a necessidade de comer grandes quantidades de comida, mesmo sem fome, para tentar escapar de sentimentos de vazio ou desamparo. Da mesma forma, alguém com compulsão por compras pode buscar adquirir objetos desnecessários para aliviar uma sensação de frustração ou insatisfação.

Os sintomas mais frequentes dessa condição incluem a dificuldade para controlar a própria vontade, o alívio momentâneo quando o impulso é satisfeito, sentimentos de culpa e vergonha após a ação compulsiva, além de um pensamento obsessivo sobre o comportamento.

A irritação surge quando o indivíduo não consegue realizar o ato compulsivo, e muitas vezes ele recorre a mentiras para esconder a verdadeira extensão do problema. O uso excessivo de palavras como “preciso” indica a urgência que a pessoa sente em ceder à compulsão.

É fundamental entender a natureza da compulsão para iniciar um tratamento adequado. Muitas vezes, ela está associada a outros transtornos psiquícos, como a depressão e a ansiedade, e requer uma abordagem que considere esses aspectos emocionais simultaneamente. O tratamento pode envolver psicoterapias como a psicanálise, que ajuda a identificar as causas inconscientes do comportamento, além de estratégias que utilizam a abordagem comportamental, que auxiliam a pessoa a desenvolver o autocuidado com exercícios práticos.



Quais são os Tipos de Compulsão?

Os tipos de compulsão podem variar de acordo com a área da vida afetada, mas todos possuem características semelhantes de repetição e falta de controle.

A seguir, veremos alguns dos tipos mais comuns de compulsão, cada um com seus próprios desafios.

Tipo de Compulsão Descrição CID (Classificação Internacional de Doenças)
Compulsão Alimentar Caracteriza-se pelo impulso de comer em excesso, muitas vezes sem fome, como uma forma de lidar com emoções negativas. Pode levar à obesidade e distúrbios alimentares. F50.8 – Outros Transtornos da alimentação
Compulsão Sexual Envolve uma busca incessante por atividades sexuais, independentemente das consequências. Pode levar a problemas nas relações e afetar a saúde emocional. F52.7 – Apetite Sexual Excessivo
Compulsão por Jogos Caracteriza-se pela dependência dos jogos de azar ou jogos eletrônicos, que afetam a vida financeira e social da pessoa. F63.0 – Jogo patológico (compulsão por jogos)
Compulsão por Doces O desejo incontrolável de consumir doces ou alimentos açucarados, muitas vezes ligado a uma tentativa de controlar as emoções. F50 – Transtornos alimentares
Compulsão por Mentira (Mitomania) Impulso de mentir sem necessidade, muitas vezes para manipular ou evitar confrontos, criando uma realidade distorcida. 6D10 – Transtornos de personalidade
Compulsão por Compras (Oniomania) Envolve a compra excessiva de itens, sem necessidade real, muitas vezes para aliviar sentimentos de insatisfação ou ansiedade. F63.8 – Outros transtornos do controle de impulsos



Compulsão Alimentar

A compulsão alimentar é uma das formas mais comuns e é frequentemente associada a um desejo de aliviar sofrimentos psíquicos.

O comportamento compulsivo de comer em excesso, muitas vezes sem fome, é um subterfúgio utilizado como uma maneira de lidar com sentimentos de ansiedade, tristeza ou frustração. As pessoas com esse transtorno podem consumir grandes quantidades de comida em um curto período de tempo, se sentindo incapazes de controlar o impulso.

Esses problemas alimentares podem ter consequências físicas graves, como ganho de peso excessivo, obesidade, diabetes e outros distúrbios. Psicologicamente, a pessoa pode começar a se sentir culpada ou envergonhada de seus hábitos alimentares, o que pode intensificar o ciclo de compulsão.

O tratamento da compulsão alimentar envolve uma associação entre a mudança dos hábitos alimentares com o tratamento dos aspectos emocionais que levam a esse comportamento. Muitas vezes, é necessário um acompanhamento psicológico para tratar a angústia e a ansiedade que alimentam esse impulso, além de estratégias para promover o autocuidado saudável.



Compulsão Sexual

A compulsão sexual é uma busca constante e descontrolada por atividades sexuais. Indivíduos com essa condição costumam se envolver em comportamentos sexuais de risco, independentemente das consequências, como no caso de relacionamentos destrutivos ou até mesmo vícios em pornografia.

A pessoa que sofre com a compulsão sexual geralmente não sente satisfação duradoura com a atividade sexual, o que leva a uma busca constante por mais.

Assim como na compulsão alimentar, a compulsão sexual pode ser uma forma de aliviar sofrimentos psíquicos ou a sensação de vazio. Muitas vezes, esse comportamento está relacionado a questões emocionais não resolvidas ou a um desejo inconsciente de se conectar com algo mais profundo.

Compulsão por Compras

A compulsão por compras, ou oniomania, é caracterizada pela compra incessante, muitas vezes sem necessidade. As pessoas com esse transtorno frequentemente compram objetos como uma forma de buscar uma satisfação e alegria que não encontram no seu dia a dia.

A satisfação momentânea de adquirir algo novo logo se dissipa, o que leva o indivíduo a repetir o comportamento, muitas vezes gerando dívidas e problemas financeiros.

O tratamento da compulsão por compras envolve a compreensão dos gatilhos emocionais que levam o indivíduo a esse comportamento, além de abordagens que ensinem maneiras mais saudáveis de lidar com a angústia e outras emoções difíceis.

Compulsão por Jogos

A compulsão por jogos, também conhecida como jogo patológico, é caracterizada pela necessidade incontrolável de se envolver com jogos de azar, como cassinos, apostas esportivas, jogos virtuais ou jogos de cartas.

Indivíduos com esse transtorno frequentemente se sentem impelidos a continuar jogando, mesmo diante das consequências negativas, como perdas financeiras, problemas familiares e sociais.

Essa compulsão se manifesta por um desejo constante de buscar mais emoção ou satisfação, resultando em um ciclo vicioso difícil de interromper.

A compulsão por jogos pode ser desencadeada por fatores emocionais, como a busca por uma forma de escapar de problemas, sofrimentos psíquicos ou angústia.

Muitas vezes, o jogo é visto como uma maneira de obter alívio temporário ou de sentir uma sensação de controle sobre a vida. Contudo, à medida que o comportamento se intensifica, o prazer diminui, criando a necessidade de apostar mais para atingir a mesma "descarga" emocional.

Entre os possíveis tratamentos para esse tipo de compulsão, existem grupos de apoio, como os Jogadores Anônimos, que são uma opção eficaz no processo de recuperação.

Compulsão por Drogas

A compulsão por drogas, ou dependência química, é uma condição caracterizada pela necessidade incontrolável de consumir substâncias psicoativas, como álcool, maconha, cocaína, opioides ou outras drogas.

Esse comportamento compulsivo vai além do simples desejo de prazer, envolvendo a busca constante pela substância. O uso repetido e excessivo de substâncias pode levar a sérios problemas físicos, sociais e psicológicos, afetando a saúde mental e as relações interpessoais.

Pessoas com compulsão por drogas frequentemente enfrentam dificuldades em interromper o uso, mesmo quando estão cientes dos danos que isso causa. O cérebro de um dependente químico sofre mudanças estruturais e químicas, o que aumenta a dificuldade de abandonar o vício.

Além disso, a dependência muitas vezes está ligada a traumas, questões emocionais não resolvidas ou predisposição genética, tornando a recuperação um processo complexo e desafiador.

O tratamento da compulsão por drogas envolve intervenções terapêuticas intensivas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que ajuda o paciente a desenvolver novas estratégias de enfrentamento e controle da compulsão.

Além disso, programas de desintoxicação, apoio familiar e grupos de ajuda, como Narcóticos Anônimos, desempenham um papel importante no processo de recuperação. O uso de medicamentos também pode ser necessário para controlar os sintomas de abstinência e prevenir recaídas.

Compulsão por Mentiras

A compulsão por mentiras, também conhecida como mitomania, é um transtorno psicológico caracterizado pela tendência repetitiva e incontrolável de mentir.

A pessoa com essa compulsão pode mentir para evitar confrontos, ganhar atenção, manipular situações ou simplesmente por hábito. Essas mentiras podem variar de pequenas inverdades a grandes falsidades que afetam gravemente a vida pessoal, profissional e social do indivíduo.

A compulsão por mentiras pode estar relacionada a uma série de fatores emocionais e psicológicos, incluindo baixa autoestima, medo de rejeição, insegurança ou desejo de aprovação.

Muitas vezes, a pessoa que mente sente que, ao inventar uma história ou alterar a verdade, pode se proteger de críticas ou de situações desconfortáveis. A mentira, nesse caso, funciona como uma "defesa" contra o medo de ser julgada ou rejeitada. O tratamento da compulsão por mentiras exige uma abordagem terapêutica focada em identificar as causas subjacentes dessa necessidade de mentir.



Qual a Diferença entre Compulsão e Obsessão?

Embora a compulsão e a obsessão sejam frequentemente associadas, elas são condições distintas, mas interligadas, especialmente no contexto de transtornos como o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC).

A obsessão envolve pensamentos, imagens ou impulsos intrusivos que surgem repetidamente na mente da pessoa, muitas vezes de forma indesejada e fora de seu controle. Esses pensamentos são, em sua maioria, perturbadores, causando desconforto emocional, como angústia e medo.

A pessoa sente uma necessidade constante de afastar esses pensamentos, mas, apesar de seus esforços, eles continuam retornando, gerando um ciclo de ansiedade.

Já a compulsão refere-se ao comportamento repetitivo ou à ação que a pessoa sente que deve realizar para aliviar a ansiedade ou algum tipo de vazio emocional. A compulsão pode se manifestar de várias formas, como a compulsão alimentar, por compras, por jogos ou até por mentiras.

O comportamento compulsivo é uma tentativa de neutralizar ou reduzir a tensão interna, mas o alívio proporcionado é geralmente temporário, o que leva a uma repetição do ciclo, agravando o sofrimento e a dificuldade em controlar os impulsos.

A principal diferença entre essas compulsões e o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) está no fato de que, no TOC, a obsessão e a compulsão estão diretamente relacionadas e se reforçam mutuamente.

No TOC, os pensamentos obsessivos são tão intensos que a pessoa sente que precisa realizar uma compulsão para aliviar a ansiedade. No entanto, mesmo que a pessoa saiba que a compulsão não resolve o problema, ela não consegue evitar o comportamento repetitivo.

Em contraste, em outros tipos de compulsão, como as alimentares ou por compras, o impulso de ceder ao comportamento compulsivo pode não estar necessariamente ligado a pensamentos obsessivos, mas sim a outros fatores emocionais ou psicológicos, como a busca por alívio de tensões internas, estresse ou desejo de escapar de emoções negativas.

Assim, enquanto as compulsões no TOC estão profundamente enraizadas em um ciclo de obsessão e compulsão, outras compulsões podem ser mais focadas no comportamento repetitivo em si, sem necessariamente serem desencadeadas por pensamentos intrusivos.

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Como Tratar a Compulsão?

O tratamento da compulsão é um processo individualizado, pois cada tipo de compulsão tem causas, sintomas e consequências diferentes. No entanto, todas as abordagens terapêuticas têm em comum a busca por interromper o ciclo vicioso do comportamento compulsivo, proporcionando ao indivíduo as ferramentas necessárias para lidar de maneira mais saudável com seus sentimentos e impulsos.

A combinação de terapias cognitivas, comportamentais e, em alguns casos, o uso de medicação, tem se mostrado eficaz no tratamento da compulsão, ajudando a promover um controle mais equilibrado sobre os comportamentos e emoções.

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), uma das abordagens mais indicadas para o tratamento de transtornos compulsivos, foca na identificação e modificação dos padrões de pensamento que alimentam os comportamentos compulsivos.

Esse tipo de terapia auxilia o paciente a reconhecer os pensamentos disfuncionais que precedem a compulsão e a substituí-los por estratégias mais adaptativas. A TCC também ensina técnicas de enfrentamento que ajudam o indivíduo a lidar com as emoções intensas, como a ansiedade e o estresse, que frequentemente desencadeiam o comportamento compulsivo.

Além disso, a TCC tem como objetivo ajudar o paciente a entender as consequências a longo prazo de seus impulsos e a tomar decisões mais saudáveis para enfrentar os desafios emocionais sem recorrer ao comportamento compulsivo.


Por outro lado, a psicanálise oferece uma visão mais profunda das causas inconscientes que podem estar por trás do comportamento compulsivo. Através da exploração das experiências passadas, dos traumas e dos conflitos internos, o paciente pode começar a compreender como certos padrões de comportamento, muitas vezes relacionados a desejos reprimidos ou medos inconscientes, influenciam suas ações no presente.

A psicanálise permite que o paciente se conecte com seus sentimentos mais profundos, descobrindo gatilhos emocionais que não estavam claramente conscientes. Esse processo de autoexploração pode ajudar a liberar o paciente de padrões de comportamento compulsivos, proporcionando uma nova maneira de lidar com as emoções sem precisar recorrer à compulsão para buscar alívio.

Embora a psicanálise geralmente exija um período mais longo para mostrar resultados, ela pode ser fundamental para aqueles que desejam entender as raízes profundas de suas compulsões.

Em alguns casos, quando a compulsão está fortemente ligada a condições como a ansiedade ou a depressão, o uso de medicação pode ser uma parte importante do tratamento.

Medicamentos ansiolíticos, antidepressivos ou estabilizadores de humor podem ser prescritos para ajudar a regular os sintomas emocionais que impulsionam os comportamentos compulsivos. Esses medicamentos podem auxiliar na redução da intensidade da ansiedade ou da depressão, proporcionando ao paciente um estado mais equilibrado e uma maior capacidade de se engajar em terapias.

No entanto, o uso de medicação deve sempre ser supervisionado por um profissional de saúde, que determinará a melhor abordagem para cada caso individual. A medicação, por si só, não resolve o comportamento compulsivo, mas pode ser uma ferramenta importante quando usada como parte de um tratamento integrado.


Conclusão

A compulsão é um transtorno complexo que pode afetar diferentes áreas da vida, seja por meio de comportamentos alimentares, compras, jogos ou outros impulsos.

Esse comportamento repetitivo e incontrolável geralmente surge como uma tentativa de aliviar emoções negativas, como a ansiedade ou o estresse. No entanto, embora ofereça alívio temporário, a compulsão acaba intensificando o sofrimento e criando um ciclo vicioso difícil de quebrar.

É essencial reconhecer a compulsão como um sinal de que algo mais profundo está afetando o bem-estar emocional da pessoa, seja um transtorno mental subjacente, um evento traumático ou uma insatisfação interna.

Felizmente, existem diversas abordagens terapêuticas que podem ajudar a pessoa a lidar com as causas emocionais da compulsão e desenvolver formas mais saudáveis de enfrentar as dificuldades emocionais. Com o tratamento adequado e o apoio certo, é possível interromper o ciclo da compulsão e promover uma vida mais equilibrada e satisfatória.

Perguntas Frequentes sobre Compulsão

1. O que é compulsão mental?

A compulsão mental refere-se ao ato de repetidamente pensar ou fixar-se em ideias ou imagens, muitas vezes relacionadas ao medo, à culpa ou à ansiedade. Esses pensamentos se tornam dominantes e difíceis de controlar, o que pode gerar sofrimentos psíquicos significativos. A compulsão mental é frequentemente observada no Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC).

2. Qual é a principal diferença entre obsessão e compulsão?

A obsessão é um pensamento intrusivo que surge de forma repetitiva na mente, muitas vezes sem controle e causando desconforto emocional. A compulsão, por sua vez, é a ação impulsiva de realizar um comportamento ou ritual com o objetivo de aliviar a ansiedade gerada por algum pensamento indesejado ou por outras questões emocionais, criando um ciclo difícil de interromper.




Referências

https://bvsms.saude.gov.br/transtorno-obsessivo-compulsivo-toc/

A psicanálise é uma das principais áreas do conhecimento voltadas para o estudo do inconsciente, dos comportamentos humanos e das emoções.

Criada por Sigmund Freud, essa prática se consolidou como uma ferramenta valiosa para a compreensão profunda da mente humana e tem aplicações tanto na clínica quanto em diversas áreas do conhecimento, como a educação, a filosofia e as artes.

Mas, para quem deseja se aprofundar nesse universo, surge uma dúvida comum: por onde começar a estudar psicanálise?

A jornada exige mais do que simplesmente ler os textos clássicos. É um processo que envolve um mergulho profundo na mente humana, na compreensão das emoções e na capacidade de analisar os fenômenos inconscientes.

Se você deseja embarcar nessa, este guia foi elaborado para fornecer um roteiro claro e bem estruturado, com indicações de leituras fundamentais, cursos disponíveis, métodos de estudo e referências importantes.

Ao final deste artigo, você terá um caminho definido para iniciar seus estudos com confiança e uma base sólida para compreender o pensamento psicanalítico.




Por dentro da história, suas teorias e por onde começar a estudar psicanálise

Antes de decidir onde e como estudar psicanálise, é fundamental entender o que ela abrange.

A psicanálise investiga os processos mentais inconscientes, os mecanismos psíquicos que moldam nossos comportamentos e emoções e as forças internas que influenciam nossos pensamentos e decisões.

Freud postulou que a mente humana é composta por três instâncias psíquicas principais:

  • Id: a parte instintiva, responsável pelos desejos primitivos e inconscientes.
  • Ego: o mediador entre o id e a realidade externa, responsável pelo pensamento racional e pela tomada de decisões.
  • Superego: a instância moral, que internaliza valores e normas sociais.


Além dessa estrutura, a psicanálise se aprofunda em conceitos essenciais, como:

  • O inconsciente e suas manifestações: muitas de nossas ações e emoções são influenciadas por conteúdos reprimidos que escapam à consciência.
  • Os mecanismos de defesa: estratégias psicológicas usadas para lidar com conflitos internos, como a repressão, a projeção e a sublimação.
  • A interpretação dos sonhos: os sonhos são considerados manifestações simbólicas do inconsciente.
  • A transferência e a contratransferência: fenômenos que ocorrem na relação entre o paciente e o analista, essenciais para a prática clínica.
  • O desenvolvimento psicossexual: Freud dividiu o desenvolvimento da personalidade em estágios psicossexuais (oral, anal, fálico, latência e genital).


Embora Freud tenha sido o pioneiro da psicanálise, muitos outros teóricos contribuíram para o avanço dessa ciência. Entre eles estão Carl Jung, Jacques Lacan, Melanie Klein, Donald Winnicott, Wilfred Bion e Erik Erikson, cada um com perspectivas e aprofundamentos distintos.

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Quem pode estudar psicanálise

Diferentemente de algumas áreas da saúde, como a psicologia e a psiquiatria, a formação em psicanálise não exige um curso superior específico.

Essa característica torna a psicanálise uma área acessível, mas também carrega a responsabilidade de uma formação rigorosa e comprometida com a ética e a prática adequada.

No Brasil, qualquer pessoa interessada pode estudar psicanálise e até mesmo atuar como psicanalista, desde que siga um percurso de formação adequado.

Esse percurso envolve não apenas a assimilação teórica dos conceitos psicanalíticos, mas também uma transformação pessoal profunda, já que o trabalho do psicanalista é diretamente influenciado pela sua própria capacidade de autoconhecimento e interpretação das dinâmicas inconscientes.


Para se tornar um psicanalista, é necessário seguir o chamado tripé psicanalítico, um modelo de formação essencial que garante a qualidade e a profundidade da prática. Esse tripé consiste em:

Formação teórica

O estudo aprofundado das obras fundamentais da psicanálise é um compromisso exigente e transformador.

Não se trata apenas de compreender conceitos teóricos, mas de mergulhar em uma leitura que demanda interpretação, reflexão e uma escuta atenta ao que está dito e ao que permanece nas entrelinhas.

Esse estudo não se restringe aos textos inaugurais de Freud – embora eles sejam a base –, mas se expande para os desenvolvimentos realizados por autores como Jacques Lacan, Donald Winnicott, Melanie Klein, Carl Gustav Jung, entre muitos outros.

A teoria psicanalítica exige uma leitura cuidadosa, capaz de captar não apenas o conteúdo explícito das obras, mas também os significados simbólicos, as metáforas e as sutilezas do inconsciente que permeiam esses textos.

Cada autor traz uma perspectiva singular, mas todos convergem na busca por decifrar as complexidades da psique humana.

Freud nos apresenta conceitos fundamentais como o inconsciente, a repressão e a transferência, inaugurando um campo que seria amplamente explorado e revisitado.



Lacan, com sua releitura estruturalista, introduz a primazia da linguagem e do simbólico, convidando-nos a pensar o sujeito como efeito do discurso.

Melanie Klein aprofunda a compreensão dos primeiros vínculos e das fantasias inconscientes, enquanto Winnicott nos oferece a delicada noção de ambiente suficientemente bom e do espaço potencial.

Jung amplia o escopo da psicanálise ao abordar o inconsciente coletivo e os arquétipos, abrindo portas para uma visão mais ampla e simbólica da experiência psíquica.

Esse processo de estudo não é linear. Requer revisitas constantes aos textos, cruzamentos entre diferentes teorias e uma disposição para lidar com as ambiguidades e contradições próprias desse campo.

A psicanálise não oferece respostas definitivas, mas provoca questionamentos contínuos. A interpretação dos textos muitas vezes demanda a escuta de supervisores, a troca com colegas e a experiência pessoal em análise, uma vez que o conhecimento teórico só ganha profundidade quando atravessado pela vivência subjetiva.

Além disso, a leitura psicanalítica implica uma relação dialética entre teoria e prática. A compreensão dos conceitos se enriquece na medida em que são articulados com a experiência clínica, permitindo que o psicanalista desenvolva uma escuta mais sensível e uma interpretação mais precisa.

Esse movimento de ir e vir entre os textos e a prática é fundamental para a formação, possibilitando que a teoria não se cristalize em dogmas, mas permaneça viva e aberta a novas leituras.

Análise pessoal

O estudante deve passar por um processo de análise para compreender seus próprios processos psíquicos.

Esse aspecto é considerado indispensável, já que permite ao futuro psicanalista identificar suas próprias resistências, projeções e transferências, evitando que essas questões interfiram na escuta e na condução dos seus pacientes.

A análise pessoal promove um mergulho nas próprias angústias, desejos e conflitos, tornando-se uma experiência transformadora e essencial para a prática clínica.

Supervisão clínica

O trabalho clínico deve ser supervisionado por um psicanalista experiente. Durante a supervisão, o estudante tem a oportunidade de discutir casos, refletir sobre suas intervenções e receber orientações sobre a condução dos atendimentos.

Esse processo é fundamental para o desenvolvimento da escuta psicanalítica, da interpretação dos sintomas e da construção de uma postura ética na relação com os analisandos.

Sem esse tripé, é difícil garantir a qualidade da formação psicanalítica, pois a psicanálise não se baseia apenas em conhecimento teórico, mas também na vivência e no aprofundamento do inconsciente do próprio analista.

O modelo de formação visa assegurar que o psicanalista seja capaz de oferecer um espaço de escuta qualificada, compreensão empática e intervenções que promovam transformações genuínas no processo terapêutico.

A prática psicanalítica, portanto, é construída a partir de um compromisso contínuo com a própria análise e com o estudo permanente, visto que o inconsciente é uma dimensão inesgotável e sempre aberta a novas interpretações.

Como estudar psicanálise?

Se você está se perguntando como começar a estudar psicanálise, saiba que há diferentes caminhos, e o ideal é combinar métodos teóricos e práticos.

A seguir, apresentamos algumas sugestões para estruturar seus estudos:

Como Indicações
Comece pelos clássicos A base da psicanálise está nas obras de Freud, e seus textos são fundamentais para qualquer iniciante. Por isso, trouxemos algumas indicações de livros para começar a estudar psicanálise:
  • "A interpretação dos sonhos" – um dos principais textos de Freud, no qual ele apresenta sua teoria sobre os sonhos como expressões do inconsciente.
  • "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade" – explora o desenvolvimento da sexualidade desde a infância.
  • "O mal-estar na civilização" – analisa o conflito entre os impulsos humanos e as exigências da sociedade.
  • "Totem e Tabu" – relaciona psicanálise e antropologia, explorando a origem das normas sociais.
Aprofunde-se Após Freud, é recomendável estudar os principais autores que deram continuidade ao pensamento psicanalítico:
  • Jacques Lacan – trabalhou a relação entre linguagem e psicanálise, reinterpretando Freud.
  • Carl Jung – desenvolveu a teoria do inconsciente coletivo e dos arquétipos.
  • Melanie Klein – introduziu conceitos fundamentais sobre a psicanálise infantil.
  • Donald Winnicott – abordou o desenvolvimento emocional e a importância do ambiente no psiquismo.
Faça cursos de psicanálise Existem diversas opções de cursos presenciais e online para quem deseja estudar psicanálise. Algumas instituições reconhecidas podem oferecer cursos à distância, na modalidade EAD, como é o caso do Programa +Psicanálise da Casa do Saber. Você consegue acessar a assinatura de cursos de psicanálise, garantindo um repertório inédito e plural para se atualizar em teoria psicanalítica e qualificar sua clínica.
Complemente assistindo filmes e documentários Eles podem ajudar a visualizar conceitos psicanalíticos de forma prática:
  • "Freud, além da alma" – biografia sobre Freud e o nascimento da psicanálise.
  • "Um método perigoso" – relação entre Freud, Jung e Sabina Spielrein.
  • "O gabinete do Dr. Caligari" – clássico do cinema expressionista que remete a questões do inconsciente.
Participe de grupos de estudo Os textos psicanalíticos são densos e, muitas vezes, difíceis de compreender sem discussão. Participar de grupos de estudo permite trocar ideias, esclarecer dúvidas e aprofundar o conhecimento. Esses grupos podem ser presenciais ou online, organizados por instituições ou de forma independente.


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Os desafios, transformações e recompensas na jornada psicanalítica

Estudar psicanálise vai muito além da aquisição de conhecimento teórico – é um mergulho profundo em um processo que envolve autoconhecimento, resiliência e uma constante disposição para lidar com a complexidade da mente humana.

Um dos primeiros obstáculos que muitos encontram é a densidade dos textos clássicos. Obras de Freud, Lacan, Klein e outros autores exigem uma leitura cuidadosa e interpretativa, onde cada conceito carrega múltiplos significados, muitas vezes simbólicos e entrelaçados.

A psicanálise não oferece respostas simples ou definitivas, mas convida à reflexão contínua, exigindo paciência e disposição para revisitar ideias sob novas perspectivas.

Outro ponto desafiador é a necessidade de passar pela análise pessoal – um processo transformador e, ao mesmo tempo, confrontador. Ao se colocar no papel de analisando, o futuro psicanalista precisa lidar com suas próprias angústias, resistências e conteúdos inconscientes.



Esse aprofundamento é essencial, já que permite identificar projeções, transferências e defesas, evitando que essas questões interfiram na escuta clínica, como falamos anteriormente.

A supervisão clínica também se apresenta como uma etapa crucial, mas desafiadora. Discutir casos reais sob a orientação de um psicanalista experiente exige humildade e abertura para receber críticas construtivas.

É nesse espaço que o estudante aprende a interpretar sintomas, formular intervenções adequadas e desenvolver uma escuta sensível, sem julgamentos ou precipitações.

No entanto, apesar dos desafios, a formação psicanalítica oferece recompensas profundas. A capacidade de compreender as dinâmicas inconscientes, escutar além das palavras e promover transformações genuínas na vida dos analisandos é um privilégio.

A prática psicanalítica não se resume a uma profissão, mas a um compromisso ético e pessoal com a busca pela verdade psíquica — tanto do outro quanto de si mesmo.

Por fim, a jornada psicanalítica não tem um ponto de chegada definitivo. Trata-se de um processo contínuo de aprendizado, onde cada leitura, análise ou supervisão revela novas camadas de compreensão. É essa eterna abertura ao desconhecido que torna a psicanálise uma prática tão rica, desafiadora e transformadora.

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Referências bibliográficas:

https://www.casadosaber.com.br/blog

https://www.casadosaber.com.br/categorias/psicanalise

FREUD, S. Cinco lições de psicanálise. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

LACAN, J. O Seminário, Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

WINNICOTT, D. W. Conceitos e distorções. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

Na menopausa, ocorrem transformações hormonais que podem afetar o desejo sexual, reduzindo a libido em muitas mulheres. Curiosamente, algumas mulheres podem experimentar um aumento do desejo sexual nessa fase. Durante esse período da vida, a redução dos níveis hormonais, especialmente do estrogênio, afeta diretamente a sexualidade. Mas, questões psicológicas, emocionais e relacionais também influenciam no desejo sexual.

A menopausa é um marco biológico que acompanha o envelhecimento e provoca uma reconfiguração da identidade feminina. Em alguns casos, mudanças no corpo, como ressecamento vaginal ou alteração na percepção da imagem corporal, podem gerar desconforto, mas existem maneiras de lidar com essas transformações. Este artigo abordará os diversos aspectos relacionados à libido e à menopausa.



O que é libido e como ela se relaciona com a menopausa?

A libido é definida como o desejo sexual ou a energia psíquica que motiva os impulsos sexuais. Sigmund Freud desenvolveu a teoria da libido, onde a enxergava como um componente essencial da psique humana, que, embora ligado ao prazer físico, também carrega dimensões emocionais e psicológicas. A libido e a menopausa se conectam de maneira muito particular, pois a diminuição dos hormônios reprodutivos tende a afetar diretamente a resposta sexual. No entanto, a menopausa não anula o desejo sexual, mas pode promover uma transformação no que se entende por prazer e desejo.

Com a chegada da menopausa, muitas mulheres experienciam uma redução na produção de estrogênio, o que pode causar uma série de efeitos fisiológicos, como secura vaginal e alterações no desejo. No entanto, é possível sentir prazer na menopausa. Por exemplo, mulheres podem explorar novas formas de prazer, como a utilização de lubrificantes ou a abertura para uma sexualidade mais livre de pressões. A ausência da menstruação e a possibilidade de não engravidar também podem proporcionar um alívio psicológico, permitindo uma vivência mais relaxada da sexualidade.

Entretanto, as questões hormonais não são as únicas influências sobre os encontros e desencontros no sexo.No campo da psicanálise, a sexualidade feminina na menopausa é compreendida como um território complexo de desejos inconscientes. A libido, ou energia sexual, não desaparece, mas pode se manifestar de formas diferentes.

Como saber se estou entrando na menopausa?

A menopausa é uma fase natural na vida da mulher, geralmente ocorrendo entre os 45 e 55 anos, marcada pelo fim da menstruação e mudanças hormonais. Para saber se você está entrando nesse período, é importante observar alguns sinais. A transição para a menopausa, conhecida como perimenopausa, pode ocorrer alguns anos antes da última menstruação. Os sintomas da menopausa podem variar de mulher para mulher, mas alguns dos mais comuns incluem:

SINTOMAS DA MENOPAUSA CARACTERÍSTICAS
Ondas de calor (fogachos) Sensação repentina de calor intenso, geralmente acompanhada de suor excessivo
Suores noturnos Suores intensos durante a noite, que podem afetar o sono
Irregularidade menstrual Menstruações mais espaçadas ou com fluxos mais intensos ou mais leves
Dificuldade para dormir Insônia ou sono interrompido, muitas vezes devido a suores noturnos
Alterações no humor Irritabilidade, ansiedade e, em alguns casos, sintomas depressivos
Secura vaginal Ressecamento da vagina, causando desconforto, especialmente durante a relação sexual
Diminuição do desejo sexual Mudanças hormonais podem reduzir a libido
Alterações no cabelo e na pele Cabelo mais fino e queda de cabelo, além de pele mais seca e menos elástica
Aumento de peso Algumas mulheres notam ganho de peso, especialmente na região abdominal
Problemas de memória e concentração Dificuldade para focar ou lembrar de coisas com clareza


Como aumentar a libido feminina durante a menopausa?

Para muitas mulheres, o maior desafio da libido na menopausa é a diminuição do desejo sexual. Contudo, isso não significa que o prazer precisa ser completamente perdido. Existem formas de aumentar a libido feminina, tanto a partir de tratamentos médicos quanto de mudanças no estilo de vida e práticas terapêuticas. Primeiramente, a consulta a um ginecologista pode ser fundamental, pois existem tratamentos que podem aliviar os sintomas da menopausa e restaurar a qualidade de vida sexual, como terapia hormonal, lubrificantes e até mesmo terapias com laser vaginal.

No entanto, é importante também observar o aspecto psicológico da menopausa. A abordagem psicanalítica da sexualidade revela que, muitas vezes, o desejo sexual é afetado por tensões emocionais, autoimagem negativa e até mesmo traumas antigos. A terapia pode ser uma excelente maneira de trabalhar esses aspectos emocionais e promover uma relação mais positiva com a sexualidade. O acompanhamento psicológico ajuda a mulher a entender melhor suas próprias expectativas sexuais e a lidar com o que está envolvido no processo de envelhecimento e de reconfigurar seu desejo sexual.

Além disso, práticas de relaxamento, como yoga, meditação e exercícios físicos regulares, têm mostrado benefícios significativos na melhoria do desejo sexual. O exercício, por exemplo, melhora a circulação sanguínea e reduz o estresse, fatores que podem contribuir para um aumento da libido. Mulheres que sentem que perderam o desejo durante a menopausa podem se beneficiar muito com essas mudanças no estilo de vida, já que elas promovem uma sensação de bem-estar e confiança, aspectos essenciais para o prazer sexual.



É possível sentir prazer na menopausa?

A menopausa é uma fase da vida associada a uma série de mudanças hormonais e físicas. Durante esse período, o corpo passa por transformações, como a diminuição da produção de estrogênio, o que pode impactar a saúde sexual e afetiva. Muitas mulheres acreditam que, com a chegada da menopausa, a libido diminui e o prazer sexual se torna algo do passado. No entanto, essa visão é simplista e não leva em consideração a complexidade do desejo sexual.

É possível sim sentir prazer na menopausa. Mesmo que a diminuição da produção hormonal possa causar alguns desconfortos, como a secura vaginal e as ondas de calor, isso não significa que o prazer sexual esteja fora de alcance. Pelo contrário, muitas mulheres relatam que, ao longo dessa fase, o prazer na menopausa pode se transformar, assumindo novas formas e sendo experimentado de maneiras diferentes.



Mais importante ainda, é o impacto que a percepção de envelhecer tem sobre a sexualidade. Para muitas mulheres, a menopausa pode ser vista como uma libertação das pressões da fertilidade e da procriação, abrindo espaço para um novo tipo de prazer que não está mais vinculado à reprodução, mas sim ao prazer puro e ao autoconhecimento.

A menopausa, ao marcar o fim da fase reprodutiva, pode ser também um período de redescoberta da sexualidade e do prazer, pois muitas mulheres experimentam uma sensação de liberdade emocional que não sentiam antes. O desejo, assim como a libido, não é algo estático. Na menopausa, ele pode ser ressignificado, levando a uma experiência sexual mais focada no prazer emocional e na conexão íntima, em vez de se preocupar com a performance ou dos aspectos físicos relacionados à fertilidade.

Portanto, sim, é possível sentir prazer na menopausa. O prazer sexual pode, sim, ser vivido de uma maneira diferente, mas não menos intensa ou satisfatória. A chave está em compreender as mudanças físicas e psicológicas que essa fase traz e aceitar que o prazer sexual pode ser ressignificado ao longo do tempo.

O impacto psicológico da menopausa na sexualidade

A menopausa é, acima de tudo, um evento psicobiológico que envolve muito mais do que mudanças no corpo. O envelhecimento, em si, traz questões complexas para a mulher, não apenas sobre a perda da fertilidade, mas sobre a percepção de sua própria identidade e sexualidade. A libido na menopausa pode ser uma fonte de ansiedade, principalmente se a mulher associa sua sexualidade à sua capacidade de gerar filhos ou à imagem jovem e sensual que é frequentemente valorizada na sociedade.

A psicanálise, ao explorar as questões do desejo e o processo de envelhecer, ajuda a compreender que a sexualidade não desaparece na menopausa, mas se transforma. O desejo não se extingue, mas é reinterpretado e ressignificado. Nesse sentido, a menopausa pode ser um momento de amadurecimento e autoconhecimento, onde a mulher tem a oportunidade de redefinir o que o prazer significa para ela, independentemente de padrões estéticos ou sociais. Ao longo da vida, as mulheres têm se relacionado com o sexo e o desejo de diferentes maneiras, e a menopausa é apenas mais uma etapa de reconfiguração desse processo.

A psicanálise e a sexualidade entram em cena ao considerar que as experiências passadas, as expectativas frustradas e até as relações familiares podem impactar diretamente na vivência da sexualidade na menopausa. Desejos inconscientes, que surgem como fantasias ou sonhos, podem ajudar a mulher a reconectar-se com sua sexualidade de maneira mais plena. A teoria freudiana também sugere que, durante esse período, ressignificar a própria história sexual pode ser fundamental para o reestabelecimento do desejo.



Qual a diferença entre climatério e menopausa?

A menopausa e o climatério são dois conceitos que se referem a diferentes aspectos da transição hormonal na vida da mulher, mas muitas vezes são confundidos. A menopausa é o momento específico em que a mulher deixa de menstruar permanentemente, marcando o fim da fase reprodutiva. Ela é definida como a ausência de menstruação por 12 meses consecutivos e ocorre, em média, entre os 45 e 55 anos. Esse é um evento biológico que indica a cessação da fertilidade.

Já o climatério é o período de transição que inclui a menopausa, mas vai além dela. Ele abrange a fase de mudanças hormonais que começa anos antes da última menstruação e pode durar até a pós-menopausa, envolvendo tanto os anos de preparação para a menopausa quanto os que se seguem a ela. Durante o climatério, a mulher passa por uma série de alterações no corpo, como variações nos ciclos menstruais e o surgimento de sintomas como ondas de calor, suores noturnos, secura vaginal e alterações de humor.

Portanto, enquanto a menopausa é o evento que marca o fim da menstruação, o climatério é um período mais amplo, que engloba toda a transição hormonal e as mudanças físicas e emocionais que ocorrem antes e após esse momento.

O Complexo de Édipo e a Sexualidade

O complexo de Édipo é um conceito central na teoria psicanalítica de Sigmund Freud, que descreve o conflito emocional e psíquico vivido por uma criança, geralmente entre os 3 e 6 anos de idade, durante o processo de desenvolvimento sexual. Segundo Freud, nesse período, a criança desenvolve um desejo inconsciente pela figura do sexo oposto, geralmente a mãe, e uma rivalidade em relação à figura do mesmo sexo, que, no caso dos meninos, seria o pai. Este processo é visto como uma parte essencial da formação da identidade sexual e das primeiras estruturas psíquicas da pessoa, tendo um impacto duradouro na sexualidade adulta.

Quando se fala de sexualidade na vida adulta, o complexo de Édipo tem relevância, pois muitas das questões e dinâmicas afetivas e sexuais que surgem mais tarde podem estar relacionadas a esse primeiro momento de desenvolvimento. O desejo inconsciente que a criança experimenta por um dos pais e a rivalidade com o outro não são superados automaticamente; ao contrário, essas experiências se refletem nas relações emocionais e sexuais ao longo da vida. Freud acreditava que a resolução bem-sucedida do complexo de Édipo, ou seja, a aceitação da autoridade do pai e o distanciamento dos desejos infantis pela mãe, seria fundamental para o desenvolvimento da sexualidade madura.



No contexto da sexualidade adulta, o que ocorre na fase do complexo de Édipo pode ter efeitos de longo alcance, com suas ressonâncias se manifestando em padrões de relacionamento, desejo e comportamento sexual. Por exemplo, questões não resolvidas relacionadas ao complexo podem levar a padrões de escolha de parceiros que replicam, de forma inconsciente, as figuras parentais. Mulheres podem se envolver com homens que reeditam a figura paterna, e homens podem procurar mulheres que lembram a mãe, muitas vezes sem se dar conta disso. Essas dinâmicas psíquicas inconscientes podem influenciar profundamente a libido e até os padrões de intimidade e afetividade ao longo da vida adulta.

A teoria da libido de Freud coloca o desejo como um impulso psíquico fundamental que atravessa as diferentes fases do desenvolvimento humano. A forma como o complexo de Édipo é vivenciado e superado pode, assim, impactar diretamente na forma como um indivíduo experimenta a sexualidade e o desejo ao longo da vida. É importante destacar que, na abordagem psicanalítica, o complexo de Édipo não é algo que se resolve apenas uma vez, mas sim um processo dinâmico que se reflete em diversas camadas da vida emocional e sexual do adulto.

Além disso, o complexo de Édipo também nos leva a refletir sobre as questões do desejo, e como essas questões podem ser distorcidas ou até reforçadas por ideais e expectativas sociais sobre o papel da mulher e do homem nas relações sexuais e afetivas. A psicanálise nos ajuda a compreender que a sexualidade não é uma questão puramente fisiológica ou social, mas um campo vasto e complexo, enraizado em dinâmicas inconscientes profundas que se originam nas primeiras fases da vida.

Embora seja um conceito que se refira a uma fase inicial do desenvolvimento, suas repercussões podem ecoar durante toda a vida sexual de uma pessoa, influenciando a maneira como ela se relaciona com seu corpo, com os outros e, principalmente, com sua libido e desejos inconscientes. Compreender esses mecanismos pode ser um caminho para o amadurecimento do desejo.

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Conclusão

A libido e menopausa estão interligadas por uma série de fatores fisiológicos, emocionais e psíquicos. Embora a menopausa traga consigo alterações hormonais que podem reduzir o desejo sexual, ela também oferece uma oportunidade para a mulher reconfigurar sua identidade sexual, explorar novas formas de prazer e lidar com as questões do envelhecimento. A chave para viver a sexualidade de maneira plena durante a menopausa está na aceitação das mudanças do corpo e na busca por práticas que favoreçam o bem-estar físico e psicológico.

É possível sentir prazer na menopausa, mas isso envolve uma mudança de perspectiva, um olhar mais livre e autêntico sobre a sexualidade, onde não apenas o físico, mas também os aspectos emocionais e inconscientes desempenham um papel fundamental. Ao trabalhar as questões do desejo, através da psicanálise ou outras terapias, a mulher pode viver sua sexualidade de forma renovada, superando os desafios e aproveitando os novos caminhos que se abrem com a maturidade.

Perguntas Frequentes sobre Libido e Menopausa

  1. A libido realmente diminui durante a menopausa?

    Embora a libido na menopausa possa diminuir devido às mudanças hormonais, não é uma regra para todas as mulheres. Algumas mulheres podem experimentar uma transformação no desejo, enquanto outras podem perceber um aumento na libido.
  2. É possível aumentar a libido feminina durante a menopausa?

    Sim, existem maneiras de aumentar a libido feminina, incluindo tratamentos médicos, terapia hormonal e mudanças no estilo de vida. Além disso, abordagens psicoterapêuticas, como a psicanálise, podem ajudar a lidar com bloqueios emocionais que afetam o desejo.



Referências

https://www.casadosaber.com.br/blog/sexualidade-e-teoria-da-libido-em-freud

https://www.tuasaude.com/sintomas-da-menopausa/




Provavelmente, você já ouviu alguém dizer: “aquela mulher é histérica!”. Essa expressão tem uma longa história, e não por acaso. Mas o que é histeria? A palavra “histeria” – tema deste post – tem suas raízes na Grécia Antiga, derivada do termo “hystéra”, que significa útero.

Na antiguidade, acreditava-se que a histeria era uma condição exclusivamente feminina, atribuída ao deslocamento do útero pelo corpo – eles achavam que esse movimento do órgão, chegando até regiões como o diafragma ou o cérebro, causava sintomas físicos e emocionais incomuns, levando as mulheres a apresentarem comportamentos considerados estranhos. Como forma de tratamento, eram usados banhos de assento com ervas específicas, acreditando-se que isso ajudaria a “chamar” o útero de volta ao seu lugar.

Essa ideia foi fortemente influenciada pelos escritos de Hipócrates, visto que era ele quem associava os sintomas histéricos a distúrbios do aparelho reprodutor feminino.

Tal visão persistiu por séculos, reforçada pela ideia de que as mulheres eram mais suscetíveis a desordens emocionais devido à sua biologia. Foi apenas no final do século XIX, com o avanço dos estudos médicos e psicológicos, que essa interpretação começou a ser questionada.

Charcot, neurologista francês, teve um papel crucial nesse processo ao demonstrar que a histeria não era restrita ao sexo feminino e que seus sintomas poderiam ser induzidos e aliviados por meio da hipnose – e é aqui que Freud entra.

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A histeria para a psicanálise

Desde as primeiras investigações de Freud até as reformulações propostas por Lacan, a histeria não apenas marcou o início da psicanálise como também permanece relevante para a compreensão das dinâmicas do inconsciente.

Em sua essência, revela a complexidade das relações entre o corpo e a mente, manifestando-se através de sintomas físicos para expressar conflitos psíquicos profundos, como falamos anteriormente.

Sigmund Freud, ao estudar pacientes com sintomas inexplicáveis pela medicina tradicional, percebeu que havia uma conexão entre algumas manifestações e traumas psíquicos reprimidos – sintomas físicos que expressam conflitos psíquicos profundos.

Sendo assim, introduziu a ideia de que a histeria era uma forma de neurose onde o inconsciente se expressava por meio de sintomas somáticos, como paralisias, cegueira histérica ou convulsões, por exemplo.



Esse entendimento foi revolucionário, pois deslocou a visão da histeria como uma condição exclusivamente fisiológica para uma interpretação psicodinâmica.

Jacques Lacan, por sua vez, trouxe uma nova abordagem, destacando a histeria como uma estrutura subjetiva. Para ele, a pessoa histérica está sempre em busca de respostas sobre seu próprio desejo e o desejo do outro. Essa insatisfação constante e a necessidade de reconhecimento são características fundamentais da histeria lacaniana, que ultrapassam a mera manifestação de sintomas físicos e se inserem em uma complexa dinâmica de linguagem e desejo.

Portanto, a histeria é muito mais do que um diagnóstico clínico – é um campo de estudo que permite explorar as profundezas do inconsciente, a construção do desejo e as formas como os sujeitos lidam com suas angústias.

Essa condição, que já foi vista como um mistério ou até mesmo como encenação, hoje é reconhecida como uma chave essencial para entender a psicanálise e a condição humana.

O significado e a origem da histeria

Freud, inspirado pelas pesquisas de Charcot, aprofundou o estudo da histeria ao vinculá-la a traumas psíquicos e desejos inconscientes. Em sua obra "Estudos sobre a Histeria", escrita em parceria com Josef Breuer, apresentou casos clínicos que demonstravam como sintomas físicos sem causa orgânica eram, na verdade, manifestações de conflitos emocionais reprimidos.

Essa abordagem – considerada inovadora – abriu caminho para o desenvolvimento da psicanálise, estabelecendo a histeria como um modelo paradigmático para a compreensão das neuroses.



Hoje, a histeria é reconhecida como uma forma de neurose, caracterizada por manifestações físicas de conflitos psíquicos. Os sintomas histéricos, muitas vezes dramáticos e sem explicação médica aparente, continuam sendo objeto de estudo e debate, revelando a complexa interação entre corpo, mente e desejo.

Casos de histeria coletiva e histeria em massa, por exemplo, mostram como essas manifestações podem se expandir para além do indivíduo, atingindo grupos sociais inteiros em momentos de tensão e ansiedade, como podemos ver no quadro abaixo:

ASPECTO HISTERIA INDIVIDUAL HISTERIA COLETIVA | HISTERIA EM MASSA
ORIGEM Conflitos psíquicos pessoais, como traumas e desejos reprimidos. Emoções compartilhadas, como medo, ansiedade ou excitação, amplificadas socialmente.
EXEMPLOS DE SINTOMAS Paralisias, cegueira histérica, convulsões sem causa orgânica. Desmaios coletivos, sintomas psicossomáticos compartilhados, comportamentos anômalos.
EXEMPLOS HISTÓRICOS Caso Anna O. (Freud e Breuer). Dança de São Vito (século XIV), surtos de pânico em ambientes escolares ou de trabalho.
DESENCADEADORES Traumas psíquicos individuais, repressão de desejos inconscientes. Situações de tensão, ansiedade ou sugestão coletiva.


Apesar de ocorrerem em diferentes escalas, ambos os fenômenos refletem a vulnerabilidade do psiquismo diante de situações de crise, mostrando como o inconsciente individual e o inconsciente coletivo podem se entrelaçar na construção de sintomas histéricos.

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A histeria na psicanálise e a contribuição de Freud

O caso de Anna O., documentado por Freud e Breuer, é um dos exemplos mais conhecidos da histeria na literatura psicanalítica e foi crucial para a formulação de conceitos fundamentais da psicanálise.

Anna O. apresentava um conjunto complexo de sintomas físicos e psíquicos, como paralisias, dificuldades de fala, distúrbios visuais e episódios de alucinação. Esses sintomas não tinham uma causa orgânica identificável, o que os levou a explorar a conexão entre as manifestações somáticas e o estado emocional da paciente.

Através do método catártico, Breuer conseguiu aliviar os sintomas ao ajudá-la a relembrar e verbalizar memórias traumáticas associadas a essas manifestações físicas. Esse processo mostrou como experiências emocionais reprimidas poderiam se expressar de forma somática, inaugurando a ideia de que a fala e a elaboração consciente de eventos traumáticos tinham um efeito terapêutico direto.

Para Freud, a histeria estava intimamente ligada à sexualidade e ao desejo inconsciente. Ele observou que os sintomas histéricos frequentemente derivavam de desejos reprimidos, traumas infantis ou conflitos emocionais não resolvidos. Essa perspectiva foi essencial para a formulação da teoria da sexualidade na psicanálise, que enfatiza a importância dos impulsos inconscientes na formação dos sintomas neuróticos, como visto anteriormente.

Além de Anna O., Freud documentou outros casos clínicos de histeria que se tornaram clássicos na literatura psicanalítica. O caso de Dora, por exemplo, revelou novas dimensões da relação entre repressão, desejo inconsciente e sintomas somáticos.

Esses casos ajudaram a consolidar a compreensão de que a histeria não se limitava a uma condição exclusivamente física, mas envolvia uma intrincada interação entre psique e corpo.

A abordagem psicanalítica proposta por Freud e Breuer, ao dar voz às experiências reprimidas dos pacientes, abriu caminho para a prática da associação livre e a interpretação dos conteúdos inconscientes, pilares da psicanálise moderna.



Neurose histérica e obsessiva, quais as principais diferenças

A neurose histérica e a neurose obsessiva são duas formas distintas de manifestações psíquicas, cada uma refletindo maneiras específicas de lidar com conflitos internos. Embora ambas tenham origens em processos inconscientes, suas expressões e dinâmicas são bastante diferentes. Confira:

Neurose histérica:

  • Sintomas: manifesta-se através de sintomas físicos e emocionais intensos, como paralisias, cegueira histérica, convulsões sem causas orgânicas, dores inexplicáveis e outros sintomas somáticos.
  • Causa: os sintomas representam a expressão simbólica de conflitos psíquicos reprimidos, geralmente ligados a traumas ou desejos inconscientes.
  • Exemplos: casos como a cegueira histérica — onde a pessoa perde a visão sem nenhuma causa orgânica detectável — ou paralisias temporárias sem explicação médica.
  • Dinâmica psíquica: a histeria transforma angústias psíquicas em manifestações corporais, funcionando como uma representação simbólica de questões internas não resolvidas.


Neurose obsessiva:

  • Sintomas: caracteriza-se por pensamentos intrusivos e obsessivos, acompanhados de comportamentos repetitivos ou rituais compulsivos.
  • Causa: surge como um mecanismo de controle para lidar com ansiedades profundas, levando à repetição como forma de alívio temporário.
  • Exemplos: a necessidade de verificar repetidamente se uma porta está trancada, lavar as mãos excessivamente por medo de contaminação ou seguir rituais meticulosos para evitar catástrofes imaginárias.
  • Dinâmica psíquica: nessa neurose, há uma constante luta entre pensamentos obsessivos e as defesas criadas para neutralizá-los, resultando em compulsões e rituais.


Entenda a diferença entre neurose, psicose e perversão neste artigo


Essas duas manifestações psíquicas, apesar de diferentes, mostram como a mente cria mecanismos complexos para enfrentar angústias e conflitos internos, cada uma à sua maneira.

Para finalizar, podemos dizer que a histeria, longe de ser um termo pejorativo ou ultrapassado, revela-se como uma chave fundamental para a compreensão do inconsciente humano.

Desde os primeiros estudos de Freud até as contribuições de Lacan, a histeria mostra como sintomas físicos e emocionais podem ser expressões simbólicas de conflitos psíquicos profundos.

Ao estudar essa estrutura, a psicanálise não só ampliou o entendimento sobre as neuroses, mas também abriu caminhos para uma abordagem mais profunda sobre o desejo, a linguagem e a subjetividade.

Dessa forma, a histeria segue sendo uma peça essencial para entender as complexas interações entre mente e corpo, trazendo à tona questões que ainda ressoam na prática clínica e no estudo do inconsciente.

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Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. Estudos sobre a histeria. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

LACAN, Jacques. O seminário, livro 3: As psicoses. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

LACAN, Jacques. O seminário, livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.





A sexualidade humana é um tema profundamente complexo, que precisa ser constantemente debatido, no sentido de promover o autoconhecimento e combater o preconceito associado a questões sexuais. A sexualidade engloba diversas dimensões, como a orientação sexual e a identidade de gênero, que são fundamentais para entender as experiências individuais e coletivas.

A orientação sexual, por exemplo, está diretamente ligada às preferências emocionais e relacionais de cada pessoa, sendo um aspecto dinâmico e, em alguns casos, fluido ao longo da vida. As orientações sexuais podem incluir categorias como heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade, demissexualidade, pansexualidade, entre outras, cada uma com suas particularidades. Neste artigo, abordaremos os diferentes aspectos da sexualidade, explicaremos o conceito de orientação sexual e discutiremos tópicos relevantes, como identidade de gênero, pansexualidade, assexualidade e muito mais. Acompanhe e entenda as nuances que envolvem esse tema.



O Que é Sexualidade?

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a sexualidade é uma energia que nos motiva para encontrar o amor, contato, ternura e intimidade. Nesse sentido, a sexualidade vai muito além do simples ato sexual. Ela é um aspecto profundo da psiquê que engloba nuances como prazer, erotismo, sexo biológico, orientação sexual e identidade de gênero. Ou seja, é através da sexualidade que uma pessoa se identifica em relação ao seu próprio sexo e essa identificação faz com que ela se expresse no contexto social e cultural.

Hoje, a sexualidade é um campo de estudo com notório reconhecimento, que possui marcos históricos como a Revolução Sexual da década de 1970 e a inclusão de disciplinas sobre sexualidade em graduações de psicologia e medicina na década de 1980.

Discutir sexualidade é essencial para acabar com preconceitos e discriminações e para aumentar o nível de consciência das pessoas em relação às inúmeras possibilidades de configurações relacionadas à sexualidade humana.

Além disso, o tema é relevante para promover a saúde integral da população e para defender os direitos da comunidade LGBTQIA+.

Tipos de Sexualidade: Diversidade e Inclusão

Os tipos de sexualidade são definidos a partir das orientações e preferências sexuais. Algumas preferências são mais comumente reconhecidas, mas existem identidades que só estão sendo discutidas e nomeadas há poucos anos. Veja a seguir quais são os principais tipos de orientação sexual:

TIPOS DE SEXUALIDADE CARACTERÍSTICAS
HETEROSSEXUAL Atração amorosa, física ou afetiva por pessoas do sexo/gênero oposto
HOMOSSEXUAL Atração emocional, sexual ou afetiva por pessoas do mesmo sexo/gênero
BISSEXUAL Atração afetiva e sexual por pessoas de ambos os sexos/gêneros
ASSEXUAL Pessoa que não sente nenhuma atração sexual, por nenhum sexo ou gênero
PANSSEXUAL Pessoa que sente atração sexual por todos os gêneros e sexos
POLISSEXUAL Pessoa que sente atração por muitos gêneros, mas não todos
ANDROSSESUAL Pessoa que sente atração sexual por pessoas masculinas, incluindo mulheres héteros e homens gays
GINECOSSEXUAL Pessoa que sente atração sexual por pessoas femininas, incluindo homens héteros e lésbicas
DEMISSEXUAL Só sente atração sexual depois de uma conexão emocional estabelecida


O Que é Orientação Sexual?

A orientação sexual é definida pela atração sexual. Ou seja, refere-se à tendência emocional, romântica ou sexual que uma pessoa tem em relação a outra. Pode ser caracterizada como heterossexual, homossexual, bissexual, pansexual, entre outras, como abordamos acima. A orientação sexual é muitas vezes considerada uma parte fundamental da identidade de uma pessoa, embora as pessoas possam se descobrir e se identificar com mais de uma orientação ao longo da vida.

Identidade de Gênero e Sexualidade

A identidade de gênero é a percepção que uma pessoa tem a respeito de si mesma. Ela pode se enxergar como alguém do sexo masculino, feminino, uma combinação de ambos ou até mesmo nenhum. A identidade reflete a compreensão que a pessoa tem a respeito de si mesma e demonstra como ela deseja ser vista socialmente.

A relação entre gênero e sexualidade é profunda, mas não é simples. Enquanto o gênero diz respeito à identidade interna de uma pessoa, a sexualidade está relacionada ao que a pessoa sente em termos de atração sexual. Alguém pode ser transgênero e heterossexual, bissexual ou pansexual, assim como uma pessoa cisgênero pode ter qualquer orientação sexual. Veja a seguir algumas das possibilidades de identidade de gênero:

1. Pessoas Cisgênero

Pessoas que se identificam com o gênero atribuído ao nascimento são chamadas de cisgêneros. Um homem cis é aquele que foi designado do sexo masculino ao nascer e se identifica como homem. Da mesma forma, uma mulher cis foi designada do sexo feminino ao nascer e se identifica como mulher. O cisgênero é, portanto, o termo oposto a transgênero, referindo-se a quem se identifica com o gênero atribuído ao nascimento.

2. Pessoas Transgênero

Pessoas transgênero são aquelas cuja identidade de gênero não corresponde ao sexo que lhes foi atribuído ao nascimento. Por exemplo, uma pessoa designada como mulher ao nascer, mas que se identifica como homem, seria um homem trans. A transgeneridade abrange uma variedade de experiências e identidades, e muitas vezes as pessoas trans enfrentam desafios significativos relacionados à aceitação e ao preconceito social.

Queer: O Que É?

O termo "queer" é utilizado para descrever pessoas cuja identidade de gênero ou orientação sexual não se alinha às normas tradicionais e socialmente aceitas. Em vez de se conformar às categorias convencionais de gênero e sexualidade, as pessoas que se identificam como queer preferem adotar uma perspectiva mais fluida e aberta, que não exige rótulos fixos ou definições rígidas. Isso inclui indivíduos que não se encaixam nas categorias binárias de "homem" ou "mulher", ou que não se identificam exclusivamente com a heterossexualidade.

Originalmente, a palavra "queer", que em inglês significa "estranho" ou "excêntrico", era usada de forma pejorativa, sendo empregada como um insulto para xingar pessoas cujas sexualidades ou expressões de gênero eram vistas como fora da norma. No entanto, ao longo do tempo, essa palavra passou por um processo de ressignificação. Em vez de ser uma expressão de discriminação, "queer" foi apropriada pela comunidade LGBTQIA+ como uma forma de autoidentificação empoderada. Ao ser reapropriada, ela deixou de ser um termo depreciativo para se tornar um símbolo de resistência e liberdade.

Hoje, queer é um conceito abrangente e flexível, que rejeita a ideia de que a identidade de gênero ou a orientação sexual deve ser limitada a categorias fixas. As pessoas queer podem ter experiências de sexualidade e identidade de gênero que não se enquadram nas convenções tradicionais de homossexual, heterossexual, cisgênero ou transgênero. Esse conceito de fluidez permite que os indivíduos explorem e vivenciem sua identidade de maneira mais autêntica e pessoal, sem a pressão de se encaixar em uma definição pré-estabelecida.

Além de ser uma forma de autoidentificação para aqueles que não se reconhecem nas normas convencionais, o termo queer também serve como uma crítica às construções sociais rígidas de gênero e sexualidade. Ele questiona e desafia as normas heteronormativas que dominam a sociedade, abrindo espaço para uma maior aceitação da diversidade. Ao adotar o termo queer, muitos buscam, não apenas a liberdade pessoal de expressão, mas também uma mudança cultural mais ampla, onde a identidade sexual e de gênero possa ser mais fluida e menos sujeita a estigmas e marginalização.

Portanto, a palavra queer representa muito mais do que uma identidade específica dentro da comunidade LGBTQIA+; ela simboliza um movimento de liberdade e de quebra de barreiras sociais. É um convite à reflexão sobre como as normas de gênero e sexualidade são impostas e como elas podem ser desafiadas, para que cada pessoa possa viver de acordo com sua verdadeira essência, sem medo de ser rotulada ou limitada por convenções externas.

A Psicanálise e Sexualidade

A psicanálise, campo do conhecimento desenvolvido por Sigmund Freud, tem uma relação intrínseca com a sexualidade humana e traz uma abordagem diferenciada para entender os desejos, comportamentos e a formação da identidade sexual. Freud propôs que grande parte do comportamento sexual é influenciado por impulsos inconscientes que emergem da dinâmica interna da psique. De acordo com a teoria psicanalítica, a sexualidade humana está intimamente ligada ao desenvolvimento psíquico, e é formada por experiências passadas junto com fatores inconscientes. Teorias como a do Complexo de Édipo e a dinâmica da libido desempenham papéis fundamentais na constituição da identidade sexual, influenciando os desejos e a forma como o indivíduo se relaciona consigo mesmo e com os outros.

A psicanálise trabalha com a teoria da libido para entender o desenvolvimento da sexualidade. Freud considerava a libido, ou energia sexual, como uma força central na vida psíquica, presente em diferentes estágios do desenvolvimento humano. Segundo ele, a maneira como essa energia é direcionada ao longo da infância e adolescência tem um impacto profundo na forma como a sexualidade se expressa na vida adulta. E a libido não se limitaria ao desejo sexual, ela também estaria envolvida em várias outras áreas da experiência humana, como a atração, o desejo e até as preferências nas relações interpessoais. A dinâmica da libido, portanto, vai além do ato sexual, abrangendo a forma como os indivíduos buscam satisfação emocional e psíquica.

Outra teoria importante que relaciona a psicanálise à sexualidade é o Complexo de Édipo, que se tornou um dos conceitos mais conhecidos da psicanálise. Ele descreve uma fase do desenvolvimento infantil em que os meninos vivenciam sentimentos ambivalentes de desejo e hostilidade em relação à mãe. O correspondente do Complexo de Édipo para as meninas seria o Complexo de Electra.

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Freud sugeriu que, durante essa fase, a criança experimenta um desejo inconsciente pelo genitor do sexo oposto e uma rivalidade com o genitor do mesmo sexo. A resolução bem-sucedida desse complexo é considerada fundamental para o desenvolvimento saudável da identidade sexual e para a capacidade de formar relações afetivas e amorosas na vida adulta. Embora esse conceito tenha gerado debates acalorados, ele permanece um pilar importante da psicanálise e ainda influencia a compreensão de como a sexualidade se desenvolve ao longo da vida.

Para entender melhor a relação entre psicanálise e questões da sexualidade, acesse o curso Psicanálise e Sexualidade, da Casa do Saber+. Nas aulas, a psicanalista Natália Pereira Travassos busca aprofundar a compreensão da sexualidade, fazendo um panorama histórico sobre o tema, desde os primeiros estudos que antecederam as pesquisas freudianas até as contribuições da psicanálise para o discurso contemporâneo sobre sexualidade.



Conclusão

Os tipos de sexualidade são múltiplos e refletem a diversidade da psique humana. Estudar o tema é essencial para entender que cada pessoa tem o direito de explorar sua sexualidade e identidade de gênero da maneira que melhor se alinha com sua vivência e sentimentos. A orientação sexual varia de pessoa para pessoa, e a aceitação dessas diferenças é vital para a construção de uma sociedade inclusiva e respeitosa. Nesse sentido, a educação sobre esses temas, incluindo conceitos como identidade de gênero, cisgênero, assexualidade, contribui para superar os preconceitos e estabelecer a compreensão necessária para o respeito às diversas formas de ser.

Perguntas Frequentes sobre Tipos de Sexualidade

Quais são as principais diferenças entre orientação sexual e identidade de gênero?

A orientação sexual refere-se ao tipo de atração emocional, afetiva ou sexual que uma pessoa sente por outra. Por exemplo, uma pessoa pode se identificar como heterossexual, homossexual, bissexual, pansexual, entre outras. Já a identidade de gênero diz respeito à percepção que uma pessoa tem de si mesma em relação ao gênero, podendo ser masculino, feminino, uma combinação de ambos ou nenhum. A identidade de gênero pode ou não coincidir com o sexo atribuído ao nascimento, enquanto a orientação sexual está relacionada às preferências e atração por pessoas de diferentes sexos ou gêneros.

O que significa ser um homem cis ou uma mulher cis?

Ser um homem cis ou uma mulher cis significa que a identidade de gênero da pessoa está alinhada com o sexo que lhe foi atribuído ao nascer. No caso de um homem cis, ele foi designado do sexo masculino ao nascer e se identifica como homem. Da mesma forma, uma mulher cis foi designada do sexo feminino ao nascer e se identifica como mulher. O termo "cisgênero" é usado para descrever pessoas cuja identidade de gênero corresponde ao sexo biológico atribuído a elas, em contraste com pessoas transgêneras, que não se identificam com o sexo designado ao nascimento.




Referências

https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/583362/3/Manual%20de%20Orienta%C3%A7%C3%B5es%20sobre%20G%C3%AAnero%20e%20Diversidade%20Sexual.pdf

https://g1.globo.com/pop-arte/diversidade/noticia/2024/06/23/entenda-o-que-e-ser-queer.ghtml

A psicanálise vai muito além da simples compreensão de sintomas psicológicos. Ela investiga o inconsciente, os desejos reprimidos e os conflitos internos que influenciam o comportamento humano. Justamente por ser um tema tão amplo, é cercada por diversas crenças – algumas verdadeiras, outras nem tanto. Por isso, é importante esclarecer os mitos e verdades sobre a psicanálise.

Muitas pessoas acreditam que a psicanálise se restringe a um modelo rígido criado por Freud e que suas ideias permanecem estáticas.

No entanto, ela evoluiu significativamente desde sua fundação, incorporando novas perspectivas e diálogos com outras áreas do conhecimento. Hoje, há diferentes escolas psicanalíticas, como a lacaniana, a winnicottiana e a kleiniana, que ampliam o alcance e a aplicabilidade da teoria freudiana.

Diferentemente de abordagens que focam exclusivamente no alívio sintomático, a psicanálise trabalha com o tempo subjetivo de cada indivíduo. O processo analítico não é imediato, pois envolve a construção de significados, a ressignificação de experiências e a elaboração de conteúdos inconscientes.

Todo psicanalista é psicólogo?

Falar sobre as diferenças entre psicólogo e psicanalista é fundamental para compreender a diversidade de abordagens dentro da saúde mental. Enquanto a Psicologia é uma ciência com base acadêmica formal, a Psicanálise é um campo de estudo e prática que segue uma trajetória formativa distinta, baseada na transmissão de conhecimento entre analistas.

Diferentemente da Psicologia, que exige uma graduação reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC) e, no caso do exercício clínico, registro no Conselho Regional de Psicologia (CRP), a Psicanálise não é regulamentada como uma profissão de ensino acadêmico tradicional. Os profissionais que desejam começar a formação psicanalítica precisam seguir três pilares fundamentais:

  1. Estudo teórico: o psicanalista precisa se aprofundar nos textos clássicos e contemporâneos da Psicanálise, incluindo as obras de Sigmund Freud, Jacques Lacan, Melanie Klein, Donald Winnicott, entre outros. Essa formação é conduzida por institutos de Psicanálise, sociedades psicanalíticas, grupos de estudo e cursos livres como o +Psicanálise da Casa do Saber.
  2. Análise pessoal: um dos requisitos mais importantes para um psicanalista é passar pelo próprio processo de análise. Essa experiência é considerada essencial para que o futuro analista compreenda suas próprias questões inconscientes, evitando que interfiram na escuta do paciente.
  3. Supervisão clínica: o aprendizado prático se dá por meio do acompanhamento de casos clínicos, sob a orientação de um psicanalista mais experiente. Esse processo de supervisão garante que o analista em formação refine sua escuta e sua capacidade interpretativa dentro da prática clínica.


Então, se você está se perguntando: “Para ser psicanalista é obrigatório ter curso superior?”, a resposta é não. Isso porque os psicanalistas podem atender sem formação em Psicologia.

Como a Psicanálise não exige uma graduação específica, um psicanalista pode ter diferentes formações acadêmicas – Filosofia, Comunicação, Medicina, Direito, Letras, entre outras. O que define um psicanalista não é um diploma universitário, mas sim seu percurso formativo dentro da tradição psicanalítica.

É importante destacar que sua atuação está focada na escuta do inconsciente e na condução do processo terapêutico a partir das associações livres e da interpretação das formações do inconsciente, como os sonhos e atos falhos.

O psicólogo clínico, por outro lado, tem uma formação acadêmica estruturada e regulamentada. Sua prática envolve o uso de métodos científicos para avaliar e intervir em processos cognitivos, emocionais e comportamentais.

Ou seja, enquanto a Psicanálise enfatiza o papel do inconsciente e das experiências infantis na constituição da subjetividade, a Psicologia Clínica pode adotar uma abordagem mais voltada para padrões de pensamento e comportamento no presente, dependendo da linha teórica escolhida.

Com essas distinções em mente, vamos abordar algumas questões recorrentes sobre a psicanálise para desmistificar, de uma vez por todas, as crenças que o senso comum muitas vezes trata como verdades absolutas – mesmo quando são difíceis de engolir.



Para a psicanálise, todo mundo tem raiva da mãe?

Desde os primeiros momentos da vida, a mãe – ou a figura que representa esse papel – desempenha funções cruciais no desenvolvimento do bebê e constrói essa relação mãe e filho na psicanálise.

Mas não se trata apenas de afeto ou cuidado físico, mas de uma construção subjetiva: é por meio desse vínculo inicial que o indivíduo começa a formar sua identidade, reconhecer limites e estruturar seus primeiros desejos.

Nos primeiros meses, o bebê vive um estado de fusão simbiótica com a mãe, em que não se percebe como separado dela. Gradualmente, à medida que o mundo externo se impõe e outras figuras entram em cena, ocorre a diferenciação entre o “eu” e o “outro”. Esse processo de separação é fundamental para o desenvolvimento emocional e pode ser marcado por momentos de frustração e ambivalência.

Dessa forma, Sigmund Freud formulou o conceito de complexo de Édipo, que descreve como a criança organiza seus primeiros sentimentos amorosos e conflitos em torno das figuras parentais. Nesse processo, é comum que sentimentos contraditórios surjam, incluindo amor, desejo de proximidade, ciúme e até raiva.

No entanto, é um erro interpretar isso de forma literal ou universal – ou como sendo uma verdadeira raiva da mãe na psicanálise. O complexo de Édipo não significa que todas as pessoas desenvolvem ressentimento ou hostilidade contra a mãe. Em vez disso, ele ilustra como as relações familiares moldam a forma como lidamos com nossos afetos e criamos modelos de relacionamento para o futuro.

Outro conceito fundamental vem do pediatra e psicanalista Donald Winnicott, que introduziu a ideia da mãe suficientemente boa. Para ele, não existe uma mãe perfeita, mas uma mãe que atende às necessidades do bebê de forma responsiva, sem sufocar nem abandonar.

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Terapia é coisa de doido?

A ideia de que “terapia é coisa de doido” é um dos mitos mais prejudiciais à saúde mental, pois cria um estigma que impede muitas pessoas de buscarem ajuda psicológica ou psicanalítica.

A verdade é que a terapia não é destinada apenas a quem enfrenta transtornos psíquicos graves, mas a qualquer pessoa que deseje compreender melhor seus sentimentos, comportamentos e desafios emocionais.

Historicamente, a sociedade sempre teve dificuldades em lidar com questões ligadas à mente e às emoções. Durante séculos, distúrbios psíquicos foram associados à loucura, possessões demoníacas ou fraqueza moral.

Além disso, a Psiquiatria, no passado, esteve fortemente ligada à internação compulsória em manicômios, o que contribuiu para reforçar a visão negativa sobre o tratamento da saúde mental.

Com o tempo, o avanço da Psicologia, da Psicanálise e da Neurociência mostrou que o sofrimento psíquico faz parte da experiência humana e que todos podem se beneficiar de um espaço de escuta e reflexão. No entanto, o preconceito ainda persiste em algumas culturas e contextos sociais.

A psicanálise e outras abordagens terapêuticas da psicologia não são exclusivas para quem tem transtornos mentais diagnosticados. Muitos procuram terapia para:

  • Compreender melhor seus sentimentos e padrões de comportamento.
  • Melhorar seus relacionamentos interpessoais e profissionais.
  • Aprender a lidar com momentos de crise, como luto, separação ou mudanças na vida.
  • Desenvolver um senso mais profundo de identidade e propósito.
  • Trabalhar questões como ansiedade, insegurança e autoestima.


Ou seja, buscar terapia não é um sinal de fraqueza, mas um ato de cuidado consigo mesmo. Assim como cuidamos do corpo indo ao médico ou praticando exercícios, cuidar da saúde mental deveria ser encarado como algo natural e necessário.



Psicanalista não fala nada?

A concepção de que o psicanalista permanece em silêncio durante toda a sessão, apenas ouvindo o paciente, é uma das ideias mais equivocadas sobre a psicanálise.

De fato, a escuta ativa é uma parte central do processo terapêutico, mas o papel do psicanalista vai muito além de simplesmente ser um ouvinte passivo – envolve uma participação ativa, com intervenções que estimulam o paciente a refletir sobre seu inconsciente, seus conflitos e seus padrões emocionais.

Freud, o pai da psicanálise, estabeleceu que o psicanalista deve ouvir atentamente as palavras do paciente, mas também prestar atenção nos lapsos, esquecimentos, hesitações e até nos silêncios. Esses aspectos podem revelar o que está reprimido ou fora da consciência, oferecendo pistas preciosas sobre o inconsciente.

Porém, essa escuta ativa não significa que o analista não fale. O psicanalista utiliza a escuta como uma ferramenta para compreender as dinâmicas internas do paciente, mas também intervém de maneira estratégica, questionando, sugerindo e interpretando.

O silêncio do analista, quando presente, não é passividade, mas um espaço que permite ao paciente elaborar seus próprios pensamentos e sentimentos.

Embora a psicanálise se concentre na escuta e no processo de livre associação, onde o paciente fala livremente sobre tudo o que vem à mente, o psicanalista intervém de maneira cuidadosa e ponderada. Essas intervenções podem ocorrer de várias formas:

INTERVENÇÃO NA PRÁTICA
Questões O psicanalista faz perguntas que incentivam o paciente a aprofundar sua reflexão. Essas perguntas muitas vezes buscam explorar inconscientemente os sentimentos e pensamentos que surgem nas associações livres. Elas podem ser simples, mas com grande potencial de provocar uma mudança de perspectiva no paciente.
Interpretações Uma das funções principais do psicanalista é ajudar o paciente a conectar as pontes entre os pensamentos conscientes e os inconscientes. Quando o analista percebe um padrão ou um conflito inconsciente, pode oferecer uma interpretação que ajude o paciente a compreender suas resistências, medos ou desejos ocultos. A interpretação visa trazer à luz o que está reprimido ou não plenamente consciente.
Reflexões O analista também pode refletir sobre o que foi dito pelo paciente, destacando padrões emocionais ou comportamentais que ele observa. Isso pode ajudar o paciente a perceber aspectos da sua psique que talvez não tivesse notado, promovendo insights valiosos sobre seu próprio comportamento.
Contratransferência Refere-se às reações emocionais do analista em relação ao paciente. O psicanalista deve estar ciente de como suas próprias emoções e percepções influenciam a terapia. Muitas vezes, essas reações podem oferecer informações valiosas sobre os sentimentos inconscientes do paciente, e o analista pode usá-las para ajudar a entender melhor a dinâmica da relação terapêutica.


Ao dar ao paciente tempo e espaço para pensar, o psicanalista ajuda a criar um ambiente de liberdade psíquica, no qual o paciente pode se abrir e trazer à tona aspectos mais profundos de sua psique. O silêncio do psicanalista pode, assim, ser visto como uma ferramenta terapêutica importante.



Tudo é sobre sexo?

A afirmação de que "tudo é sobre sexo" é um mal-entendido comum sobre a psicanálise, muitas vezes simplificando excessivamente as ideias complexas de Freud.

Embora a sexualidade seja de fato uma parte fundamental da teoria psicanalítica, ela não é a única área de investigação da psicanálise. O trabalho de Freud estabeleceu a importância da libido, ou energia psíquica relacionada ao desejo, mas sua teoria vai muito além da sexualidade, envolvendo uma análise abrangente das motivações inconscientes, das relações interpessoais e das experiências formativas ao longo da vida.

Sigmund Freud introduziu o conceito de libido como uma energia psíquica que, em sua forma mais simples, está relacionada ao desejo sexual. Em sua teoria inicial, ele sugeriu que a libido se manifesta primariamente na sexualidade e, portanto, muitos dos impulsos humanos e comportamentos são de alguma forma influenciados por desejos sexuais inconscientes.

A ideia central da teoria da libido é que nossas motivações e conflitos não são apenas conscientes, mas também profundamente enraizados em aspectos ocultos da nossa psique.

No entanto, Freud também enfatizou que a libido não se limita ao sexo genital, mas se manifesta em uma variedade de formas ao longo do desenvolvimento humano. Ele sugeriu que a energia libidinal se desloca por diferentes estágios do desenvolvimento sexual, começando com a infância e a fase oral, passando para a fase anal, fálica e, por fim, à fase genital, com diferentes fixações e formas de expressão da libido ao longo desses estágios.

Embora a sexualidade tenha sido um foco central da teoria de Freud, a psicanálise moderna abrange uma gama muito mais ampla de experiências humanas. Freud reconheceu que as pulsões de vida e de morte, a dinâmica do inconsciente e as relações de apego são igualmente cruciais para o entendimento da mente humana.

Para ele, os conflitos inconscientes entre desejos instintivos e a moralidade imposta pela sociedade eram fundamentais para compreender as motivações e os sintomas psíquicos.

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Psicanálise não funciona?

Muitas vezes, as pessoas buscam soluções imediatas para seus problemas emocionais ou psíquicos, mas a psicanálise, ao contrário de métodos terapêuticos mais diretos, é um processo gradual e profundo. Ela não promete alívio instantâneo, mas sim a transformação lenta e consistente de padrões emocionais e comportamentais que podem estar enraizados em experiências passadas e dinâmicas inconscientes.

A psicanálise é um processo de longo prazo, que pode durar anos, dependendo das necessidades do analisando. Ao contrário de terapias mais breves, que se concentram em resolver problemas específicos em um tempo limitado, a psicanálise busca uma compreensão profunda e duradoura da psique humana.

Esse tempo prolongado de análise permite que a pessoa consiga entrar em contato com partes da sua psique que estão geralmente escondidas, e também com sentimentos e memórias reprimidas.

Embora a psicanálise não prometa uma solução rápida ou "cura" para os sintomas, ela tem o potencial de provocar transformações profundas e duradouras.

Ao longo da análise, o paciente pode descobrir as raízes inconscientes de seus conflitos e sintomas, o que muitas vezes permite uma mudança significativa no modo como ele vê a si mesmo e ao mundo ao seu redor.

Outra razão pela qual algumas pessoas podem acreditar que a psicanálise "não funciona" está ligada ao conceito de resistência, um fenômeno central no processo psicanalítico.

A resistência se refere às defesas psíquicas que as pessoas desenvolvem para evitar enfrentar conteúdos emocionais dolorosos ou traumáticos. Isso pode ocorrer de várias formas, como a falta de vontade de falar sobre certos assuntos, a sensação de que o processo não está trazendo resultados ou a tendência a sabotar o próprio progresso.

Outro aspecto fundamental é a relação entre o paciente e o psicanalista. A chamada "transferência" é um processo no qual o paciente projeta sentimentos, desejos e expectativas em relação ao psicanalista, muitas vezes revivendo relacionamentos significativos do passado.

Em um mundo em que a rapidez e a eficiência são muitas vezes vistas como os maiores valores, a psicanálise se destaca por seu compromisso com a exploração mais rica e complexa da mente humana.



O tratamento demora muito?

O tempo de tratamento na psicanálise é frequentemente visto como uma das suas características mais distintas, e também uma das que geram mais questionamentos.

De fato, quando comparada a outras abordagens terapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que tende a ser mais curta e focada em soluções práticas e imediatas, a psicanálise pode parecer demorada.

No entanto, a duração do tratamento psicanalítico está diretamente relacionada à sua profundidade e ao objetivo de compreensão do inconsciente, tornando-o um processo transformador e, muitas vezes, de longa duração.

Ao contrário de abordagens que visam tratar os sintomas de forma mais rápida e objetiva, a psicanálise se propõe a uma exploração profunda das causas subjacentes dos problemas emocionais e psíquicos do paciente, como dito anteriormente. Ela busca compreender padrões inconscientes, traumas de infância, dinâmicas familiares e os mecanismos psíquicos que moldam o comportamento e os conflitos emocionais.

Esse tipo de análise exige tempo, porque muitas vezes os conteúdos inconscientes estão protegidos por mecanismos de defesa, como a repressão, que impedem que a pessoa tenha acesso imediato às suas questões mais profundas.

O psicanalista, portanto, ajuda o paciente a "desbloquear" esses conteúdos e a enfrentar suas resistências ao longo do processo. Esse trabalho gradual de descobrimento e integração exige tempo para que a pessoa compreenda, aceite e se transforme.

Embora a psicanálise seja geralmente mais longa, a duração do tratamento pode variar amplamente entre os pacientes, dependendo de vários fatores, como a gravidade dos sintomas, os objetivos terapêuticos e a intensidade do trabalho que é necessário para acessar o inconsciente.

Algumas pessoas podem sentir que as questões que estão explorando são resolvidas em menos tempo, enquanto outras podem passar anos em análise, especialmente se estiverem lidando com traumas complexos ou questões emocionais profundamente enraizadas – em muitos casos, a psicanálise não tem um "prazo final" pré-estabelecido.




Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

A discussão sobre psicopatologias tem ganhado cada vez mais espaço na sociedade contemporânea, refletindo uma preocupação crescente com a saúde mental e os impactos do mundo moderno no bem-estar das pessoas.

No entanto, a forma como essas questões são abordadas pode variar consideravelmente, dependendo do referencial teórico utilizado.

A psicanálise, por exemplo, compreende a psicopatologia de maneira distinta, considerando a subjetividade do indivíduo e sua relação com o inconsciente. Para a abordagem, os sintomas não são apenas sinais de uma doença, mas manifestações de conflitos internos que podem ser trabalhados através da fala e da escuta.

Por isso, neste texto, iremos nos aprofundar em cada um dos aspectos da psicopatologia, explorando significados, além da sua relação com a sociedade contemporânea e as críticas à medicalização do sofrimento.

Saúde mental e sua relação com as psicopatologias

A psicopatologia é o campo de estudo que investiga os transtornos mentais, buscando compreender suas causas, manifestações e formas de tratamento. A palavra vem do grego "psykhē" – alma – e "pathos" – sofrimento –, indicando a análise do sofrimento psíquico.

Desde o século XIX, o conceito de psicopatologia tem sido estudado por diversas correntes, incluindo a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise. A abordagem psicanalítica se diferencia das perspectivas biomédicas ao priorizar o inconsciente, os processos simbólicos e a subjetividade do sofrimento psíquico.

Enquanto a psiquiatria compreende as doenças mentais principalmente como disfunções biológicas ou neuroquímicas passíveis de tratamento medicamentoso e intervenções comportamentais, a psicanálise as interpreta como manifestações de conflitos internos e experiências subjetivas.

A abordagem psiquiátrica, amplamente adotada na medicina moderna, fundamenta-se em classificações diagnósticas como o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) e a Classificação Internacional de Doenças (CID), que estruturam os critérios para identificação e tratamento dos transtornos mentais.

A psicopatologia psicanalítica, estudada por Freud e aprofundada por diversos autores ao longo do tempo, adota uma perspectiva distinta. Para a psicanálise, os sintomas não são apenas disfunções a serem corrigidas, mas expressões do inconsciente que devem ser compreendidas no contexto da história singular de cada indivíduo.

Dessa forma, um mesmo diagnóstico pode assumir significados completamente diferentes para cada pessoa, dependendo de sua subjetividade, vivências e traumas.

A principal diferença entre essas abordagens está no tratamento: enquanto a psiquiatria frequentemente recorre à prescrição de medicamentos para aliviar os sintomas, a psicanálise propõe um espaço de escuta e elaboração, permitindo que o sujeito compreenda e ressignifique seus conflitos internos.



A relação entre psicopatologias, a sociedade contemporânea e a psicanálise

A psicanálise compreende as psicopatologias como formas de expressão do sofrimento humano ligadas à estrutura psíquica de cada sujeito. Sigmund Freud foi um dos primeiros a categorizar os transtornos mentais de acordo com três estruturas clássicas, que classificou como neurose, psicose e perversão.

  • Neurose: conflitos inconscientes gerando sintomas como ansiedade e fobias.
  • Psicose: perda do contato com a realidade, como ocorre na esquizofrenia.
  • Perversão: modo de organização psíquica em que o desejo se realiza por meio da transgressão das normas e da negação da castração simbólica.

Atualmente, a psicopatologia psicanalítica amplia esses conceitos, incorporando elementos socioculturais e novas formas de sofrimento psíquico, como transtornos relacionados à hiperconectividade e ao mal-estar na sociedade contemporânea.
A sociedade moderna tem desempenhado um papel central no aumento dos diagnósticos de transtornos mentais como depressão, ansiedade e burnout. O ritmo acelerado de vida, o excesso de informação e as exigências de produtividade são fatores que impactam diretamente a saúde psíquica dos indivíduos, criando um cenário no qual o sofrimento emocional se torna cada vez mais presente.
O neoliberalismo, enquanto modelo econômico e ideológico, impôs uma lógica de performance e competitividade, na qual o indivíduo é constantemente incentivado a se reinventar, otimizar seu tempo e alcançar resultados cada vez mais expressivos.

CARACTERÍSTICAS DO NEOLIBERALISMO IMPACTO NA SAÚDE MENTAL RESPOSTA PSICANALÍTICA
Competitividade excessiva Ansiedade e depressão Reflexão sobre o impasse social e individual.
Busca por resultados rápidos Burnout e exaustão Compreensão dos conflitos internos e da pressão externa.
Falta de tempo para o lazer Dificuldades em descansar e certos vícios Aprofundamento do sofrimento psíquico e questionamento do ritmo de vida.




Essa pressão constante tem transformado a saúde mental em uma questão mercadológica – em vez de serem compreendidas como respostas legítimas ao contexto social, angústia, medo e insatisfação passaram a ser tratadas como falhas individuais a serem corrigidas.

A patologização do sofrimento se torna, assim, uma resposta cultural. Muitos buscam soluções rápidas, como o consumo de psicofármacos ou métodos de autoajuda, na tentativa de manter um funcionamento produtivo, ignorando as raízes subjetivas e estruturais do problema.

O sujeito neoliberal se vê como o único responsável pelo próprio sucesso ou fracasso, o que acarreta um sentimento de culpa diante da exaustão e da incapacidade de atender às expectativas impostas.

Podemos dizer que a cultura digital amplificou esse processo ao criar ambientes de exposição e comparação constante. Redes sociais funcionam como vitrines de um ideal de vida bem-sucedida, onde felicidade, beleza e produtividade se tornam métricas de validação social. Essa dinâmica gera uma pressão para que os indivíduos não apenas performem bem no trabalho, mas também exibam uma vida pessoal impecável.

Isso tem levado a um aumento significativo nos índices de depressão e ansiedade, especialmente entre os mais jovens. O fenômeno da "economia da atenção" reforça essa lógica ao transformar o próprio tempo livre em um ativo explorável – o lazer se torna um espaço para autopromoção, e o descanso, uma pausa estratégica para voltar ao jogo da performance.

Diante desse cenário, a psicanálise propõe uma abordagem distinta. Em vez de tratar sintomas como transtornos isolados a serem eliminados, enxerga-os como manifestações subjetivas que carregam significados profundos sobre o indivíduo e seu contexto – a depressão, por exemplo, pode ser entendida não apenas como um distúrbio químico, mas como um sintoma que expressa conflitos internos e impasses da vida moderna.

Ao contrário de soluções padronizadas, a psicanálise incentiva uma reflexão sobre a origem dos sofrimentos psíquicos, possibilitando que o sujeito compreenda seus próprios desejos e angústias de maneira singular. Em um mundo que valoriza a velocidade e a superficialidade, essa abordagem propõe um olhar mais profundo para a existência humana e suas complexidades.

Dessa forma, ao considerar as psicopatologias como respostas subjetivas a uma sociedade marcada por excessos e exigências, é possível não apenas tratá-las, mas questionar as próprias estruturas que as produzem. Afinal, o sofrimento psíquico não é apenas uma falha a ser corrigida, mas um sinal de que algo na forma como vivemos precisa ser repensado.

A medicalização do sofrimento

Uma das principais críticas feitas pela psicanálise à psiquiatria contemporânea é a tendência de transformar todas as formas de sofrimento psíquico em transtornos mentais que exigem tratamento medicamentoso. Esse fenômeno pode ser chamado de medicalização do sofrimento.

A psiquiatria moderna, baseada em evidências biológicas, tem avançado no tratamento de doenças mentais, mas também tem sido alvo de críticas por sua tendência a simplificar o sofrimento humano. Em muitos casos, sintomas como tristeza, angústia e insatisfação são reclassificados como distúrbios que precisam ser corrigidos com medicamentos.

Isso cria uma série de problemas, como a dependência de psicofármacos, a falta de uma compreensão mais profunda dos sintomas e a desconsideração da singularidade de cada indivíduo.

A psicanálise propõe uma abordagem diferente: em vez de buscar eliminar os sintomas rapidamente, ela convida o paciente a compreendê-los. O sintoma, segundo Freud, tem uma função no psiquismo, e tratá-lo exige uma escuta cuidadosa que vá além de um simples rótulo diagnóstico.



Psicopatologias e o corpo: o fenômeno psicossomático

O conceito de psicossomática refere-se à relação entre mente e corpo, destacando como conflitos psíquicos podem se manifestar em sintomas físicos.

Muitas doenças sem explicação médica clara – como dores crônicas, distúrbios gastrointestinais e problemas dermatológicos – podem ter origem em questões emocionais. A psicanálise sugere que, quando um sofrimento não pode ser elaborado psiquicamente, ele pode se expressar no corpo, sendo o organismo uma espécie de "canal" por onde a mente inconsciente comunica suas questões não resolvidas.

Esse fenômeno reforça a importância de abordagens terapêuticas que considerem o sujeito em sua totalidade, e não apenas como um conjunto de sintomas isolados. A psicanálise, por exemplo, oferece uma compreensão mais ampla do sujeito ao integrar o corpo e a mente, considerando que o sofrimento emocional pode se transformar em manifestações físicas quando não encontrado um espaço para sua expressão simbólica.

Nesse contexto, a psicossomática não se limita a um entendimento de que o corpo apenas reflete a mente, mas que o corpo também exerce um papel ativo no processo de comunicação do inconsciente.

Além disso, propõe que, ao trabalhar o sofrimento psíquico por meio da fala e da interpretação, é possível promover um processo de integração entre corpo e mente, permitindo que os conflitos internos sejam elaborados de maneira mais saudável, reduzindo, assim, os sintomas físicos que surgem como consequências de tais conflitos.

Nesse sentido, o tratamento psicanalítico pode oferecer alívio tanto no nível emocional quanto físico, ao restabelecer o equilíbrio entre as dimensões psíquica e corporal.



A compreensão da psicossomática, portanto, vai além da simples ideia de que o corpo manifesta o que está acontecendo na mente. Ela envolve uma complexa interação entre o sofrimento psíquico não elaborado e as respostas do corpo, que, muitas vezes, trazem à tona as dores não processadas do sujeito.

A cura, então, não se dá apenas por meio de medicamentos ou intervenções físicas, mas também por meio de uma escuta profunda e sensível, capaz de compreender as causas emocionais subjacentes aos sintomas.

Em um mundo onde as pressões externas parecem ditar o ritmo da vida, é crucial lembrar que o sofrimento psíquico não deve ser visto como um erro a ser corrigido rapidamente, mas como uma manifestação legítima da complexidade humana.

A psicanálise nos convida a olhar para as psicopatologias com um olhar mais profundo, entendendo-as não como falhas, mas como expressões de conflitos internos que merecem ser ouvidos, compreendidos e trabalhados.

O caminho para o cuidado da saúde mental vai além do tratamento sintomático. Ao integrar corpo e mente, e ao dar espaço para que as dores internas se manifestem de forma simbólica e construtiva, podemos promover um tratamento mais completo e efetivo.

O verdadeiro cuidado com a saúde mental exige não apenas remédios para os sintomas, mas também uma profunda escuta e compreensão do sujeito como um todo.

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Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Introdução à psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: O eu e o id. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: A psicopatologia da vida cotidiana. Rio de Janeiro: Imago, 1996.





O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma disfunção neuropsiquiátrica muito frequente. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 3% da população mundial convive com esse distúrbio que afeta a saúde mental, caracterizado pela dificuldade de concentração e pela inquietação constante. Esses sintomas são típicos do TDAH, que se manifesta também por uma impulsividade excessiva e, em alguns casos, uma hiperatividade difícil de controlar.

Quando não tratado adequadamente, o transtorno pode prejudicar o desempenho acadêmico, profissional e até mesmo as relações sociais, afetando a qualidade de vida do indivíduo. Embora muitos associem o TDAH à infância, a verdade é que ele pode se estender à vida adulta. Neste artigo, vamos esclarecer o que é TDAH, mostrar quais são seus sintomas, como é feito o diagnóstico e quais são os tratamentos mais indicados.



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O que é o TDAH?

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno caracterizado pela dificuldade em manter o foco, impulsividade excessiva e, em muitos casos, hiperatividade. O TDAH impacta profundamente a vida cotidiana de seus portadores e não se restringe à infância, já que muitos adultos também convivem com seus sintomas.

Muitas vezes, o TDAH é reduzido a uma simples dificuldade de concentração, mas é importante destacar que suas implicações vão muito além disso. Quem tem o transtorno pode conviver com um constante sofrimento psíquico, já que não se trata apenas de “não conseguir prestar atenção”, mas de uma dinâmica cerebral que dificulta o controle das ações e pensamentos, resultando em comportamentos que são frequentemente mal interpretados pela sociedade.

De perto ninguém é normal – o que é considerado uma característica de "anormalidade" no TDAH, muitas vezes reflete uma forma de ser e de estar no mundo, que não se encaixa nas expectativas da sociedade sobre como devemos nos comportar. Essa dificuldade em seguir normas pode levar a frustrações, principalmente porque a pessoa com TDAH é constantemente desafiada a corresponder a expectativas que não são naturais para ela.

Como o TDAH afeta o corpo e a mente?

Sabe aquela pessoa que parece viver no “mundo da Lua”? Ou aquela que é uma “espoleta” e não consegue ficar parada de jeito nenhum? Provavelmente você já conheceu alguém assim e é possível que essas pessoas tenham TDAH. A mente da pessoa com TDAH parece estar em constante movimento, saltando de um pensamento para outro, o que dificulta a concentração em uma única tarefa. Esse ciclo de desatenção afeta a autoestima, alimentando sentimentos de inadequação e fracasso.

Além disso, a impulsividade, um dos principais sintomas do TDAH, adiciona outra camada de complexidade à condição. As decisões tomadas com pressa e sem a devida reflexão muitas vezes resultam em comportamentos inadequados ou prejudiciais, tanto no âmbito social quanto profissional. No contexto interpessoal, a falta de autocontrole pode gerar mal-entendidos e desentendimentos, uma vez que a pessoa com TDAH pode agir de forma impetuosa, sem considerar as consequências de suas atitudes. No trabalho, isso se traduz em dificuldades para lidar com tarefas que exigem paciência, atenção aos detalhes e pensamento estratégico, prejudicando o trabalho em equipe. A impaciência pode levar a erros evitáveis e à incapacidade de concluir projetos de maneira satisfatória.

O TDAH também afeta o corpo. A inquietude física é uma característica comum, fazendo com que muitos indivíduos sintam necessidade constante de se movimentar. Essa agitação pode resultar em dificuldades para permanecer sentado por longos períodos, como em salas de aula ou em ambientes de trabalho. Além disso, essa inquietação pode gerar tensão muscular e fadiga, já que o corpo está em constante estado de alerta. A dificuldade em se concentrar e em manter o controle sobre os impulsos também pode afetar a capacidade de realizar tarefas motoras finas, como escrever ou coordenar ações mais complexas.

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Quais são as causas do TDAH?

As causas do TDAH incluem fatores genéticos, neurológicos e ambientais. Entre os principais fatores que contribuem para o transtorno, destacam-se:

  1. Genética: O TDAH é frequentemente observado em famílias, o que sugere uma forte base hereditária. Se um dos pais tem TDAH, as chances de o filho também ser diagnosticado aumentam significativamente.
  2. Anormalidades Neurológicas: O TDAH está relacionado a desequilíbrios nos neurotransmissores cerebrais, principalmente a dopamina. Esse desequilíbrio afeta os circuitos cerebrais responsáveis pela atenção e pelo controle do comportamento, dificultando a regulação dessas funções.
  3. Fatores Ambientais: A exposição a substâncias tóxicas durante a gestação, como nicotina e álcool, ou complicações no parto, podem ser fatores que aumentam o risco de desenvolvimento do transtorno.
  4. Pressões e Estresse Social: Vivemos em uma sociedade cada vez mais acelerada, o que coloca enormes demandas sobre os indivíduos, principalmente sobre as crianças, que são as mais afetadas por esse contexto. O impacto de uma educação excessivamente pressionada, sem espaço para a individualidade e a criatividade, pode desencadear ou agravar os sintomas de TDAH.


Quais são os tipos de TDAH?

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é classificado em três tipos principais, de acordo com a literatura médica:

  • predominantemente desatento

  • predominantemente hiperativo e impulsivo

  • combinado (que mistura características dos dois anteriores)


O tipo predominantemente desatento é caracterizado pela dificuldade persistente de manter a atenção, focar em uma tarefa ou seguir instruções, resultando em um desempenho abaixo do esperado, tanto na escola quanto no ambiente de trabalho. Indivíduos com esse tipo de TDAH frequentemente são vistos como "sonhadores", distraídos e esquecidos. Eles podem ter dificuldades em concluir tarefas e manter a organização, o que afeta sua produtividade e autoestima. Na infância, esse tipo é mais comumente diagnosticado em meninas, que tendem a exibir um comportamento mais internalizado, ao contrário dos meninos que, frequentemente, apresentam sinais mais evidentes de hiperatividade.

O segundo tipo, o predominantemente hiperativo e impulsivo, é marcado pela impulsividade excessiva e pela hiperatividade, o que torna difícil para o indivíduo controlar seus impulsos ou manter-se calmo em situações que exigem paciência ou quietude. Pessoas com esse perfil frequentemente têm dificuldade em permanecer sentadas por longos períodos, interrompem os outros enquanto falam, tomam decisões apressadas e se envolvem em comportamentos arriscados sem considerar as consequências. Na infância, esse tipo é mais comumente identificado em meninos, já que os sinais de hiperatividade são mais visíveis e frequentemente associados a comportamentos que causam incômodos em ambientes como escolas e outros locais sociais. A impulsividade pode afetar a interação com os outros, dificultando o estabelecimento de relacionamentos saudáveis.

Finalmente, o TDAH combinado é o tipo mais comum, caracterizado pela presença de sintomas tanto de desatenção quanto de hiperatividade/impulsividade. Indivíduos com esse tipo de TDAH apresentam uma combinação de dificuldades em manter o foco e uma constante necessidade de se movimentar, o que pode interferir em várias áreas da vida, como desempenho acadêmico, habilidades sociais e relacionamentos.

TIPOS DE TDAH SINTOMAS
Predominantemente desatento Dificuldade em manter o foco, organização e seguir instruções.
Predominantemente hiperativo e impulsivo Impulsividade excessiva, hiperatividade e dificuldades em controlar comportamentos.
Combinado Combinação de desatenção, impulsividade e hiperatividade.


Como é feito o Diagnóstico do TDAH?

O diagnóstico do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um processo que exige uma análise clínica minuciosa, dada a sobreposição de sintomas com outras condições psicológicas e neuropsiquiátricas. Sintomas como desatenção, impulsividade e hiperatividade podem ser confundidos com outras condições, como depressão, distúrbios de aprendizagem e até mesmo transtornos de personalidade. Por essa razão, é essencial que o diagnóstico seja realizado por profissionais qualificados, como psicólogos, psiquiatras ou neurologistas, que tenham experiência no reconhecimento dos sinais e na diferenciação do TDAH em relação a outras condições.

O diagnóstico adequado do TDAH requer várias etapas. Inicialmente, o profissional realiza uma entrevista clínica detalhada com o paciente, além de conversar com familiares, professores ou outras pessoas que convivem com o indivíduo, a fim de entender melhor o histórico e o comportamento ao longo do tempo. Também são aplicadas escalas de avaliação específicas, que medem a intensidade dos sintomas de desatenção e impulsividade, além de verificar como esses sintomas impactam a vida cotidiana do paciente. Em alguns casos, exames neurológicos e testes psicológicos mais profundos podem ser indicados para descartar outras condições que possam gerar sintomas semelhantes, como dislexia ou transtornos de humor.

Adicionalmente, o Código CIDF90, presente na Classificação Internacional de Doenças, pode ser utilizado para facilitar a identificação do TDAH, promovendo a padronização do diagnóstico e auxiliando na escolha do tratamento mais adequado. Ao considerar todos esses fatores, o diagnóstico do TDAH não se resume à simples observação de sintomas, mas envolve um olhar atento para o histórico clínico e a avaliação cuidadosa das variáveis psicológicas e neurológicas, garantindo um caminho eficaz para o manejo do transtorno.



Existe tratamento para TDAH?

O tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) exige uma abordagem profissional personalizada, que leve em consideração as diversas características do indivíduo, incluindo aspectos neurológicos, emocionais e comportamentais. Uma combinação de intervenções médicas, terapêuticas e complementares é frequentemente utilizada para lidar com os principais sintomas do transtorno, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e o bem-estar geral do paciente.

Além do uso de medicamentos, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) tem se mostrado uma das abordagens mais eficazes para o tratamento do TDAH. Por meio da TCC, o paciente aprende estratégias para organizar suas tarefas, controlar suas emoções e melhorar suas habilidades de resolução de problemas. Essa terapia também é eficaz para lidar com as questões de impulsividade e baixa autoestima que frequentemente acompanham o transtorno. Outras terapias complementares, como o treinamento de habilidades sociais, programas de reabilitação cognitiva e práticas de mindfulness, podem ser incluídas no tratamento para oferecer recursos adicionais e promover uma vida mais equilibrada.

Saúde Mental e TDAH

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Conclusão

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma condição que vai além das limitações cognitivas, influenciando o comportamento do indivíduo e a maneira como interage com o mundo e com as pessoas ao seu redor. Através de um diagnóstico preciso e um plano de tratamento adaptado às necessidades de cada pessoa, aqueles com TDAH têm a oportunidade de gerenciar seus sintomas e alcançar uma vida plena e produtiva, superando as dificuldades impostas pelo transtorno. É essencial que o apoio familiar, escolar e social esteja presente ao longo desse percurso, criando um ambiente de acolhimento e compreensão.

Perguntas frequentes sobre TDAH

  1. Quais são os principais sintomas do TDAH e como identificá-los?


    Os principais sintomas de TDAH incluem dificuldades em manter a atenção em tarefas ou conversas por períodos prolongados, impulsividade (agir sem pensar nas consequências), hiperatividade (excesso de movimento ou inquietação), e uma tendência a ser facilmente distraído. Além disso, pessoas com TDAH podem apresentar desorganização, dificuldade em seguir instruções e esquecimento frequente. Esses sintomas podem variar de acordo com a idade, sendo mais evidentes em crianças, mas também presentes em adultos. Caso esses sintomas persistam por mais de seis meses e impactem a vida diária, pode ser um indicativo de TDAH.

  2. O TDAH é um transtorno que afeta apenas crianças?


    Não. O TDAH não é exclusivo da infância e pode persistir na vida adulta. Muitas pessoas com TDAH são diagnosticadas quando crianças, mas seus sintomas podem continuar ou até ser reconhecidos tardiamente na fase adulta. Nos adultos, o transtorno pode se manifestar de formas diferentes, como dificuldades de concentração no trabalho, desorganização nas tarefas cotidianas, impulsividade em decisões financeiras ou sociais, e até mesmo desafios nas relações interpessoais. O tratamento do TDAH em adultos pode incluir Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), acompanhamento psicológico e, em alguns casos, medicação, dependendo da gravidade dos sintomas.





Referências

https://drauziovarella.uol.com.br/psiquiatria/o-que-esta-por-tras-da-explosao-de-casos-de-tdah-no-brasil-e-no-mundo/


https://bvsms.saude.gov.br/transtorno-do-deficit-de-atencao-com-hiperatividade-tdah/




A psicanálise de Sigmund Freud transformou profundamente nossa compreensão da mente humana e das forças que moldam nossas ações e desejos. Desde os primeiros anos de vida, as pulsões sexuais desempenham um papel central no desenvolvimento psíquico, influenciando tanto os aspectos conscientes quanto os inconscientes do nosso ser.

Em suas obras fundamentais, Freud desafiou as ideias tradicionais, apresentando a sexualidade como algo presente desde a infância e não restrito à puberdade. Além disso, introduziu as pulsões de vida e de morte como forças conflitantes e dinâmicas que coexistem e interagem em nosso psiquismo.

Por isso, neste texto, vamos nos dedicar a explorar essas teorias, investigando como as pulsões e as instâncias psíquicas – como o Id, o Ego e o Superego – se entrelaçam, gerando conflitos internos que afetam a maneira como nos relacionamos conosco e com o mundo ao nosso redor.

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A pulsão sexual na obra de Freud

Um dos pilares fundamentais da psicanálise, foi publicado por Freud em 1905: “Três ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” – que servem também para a compreensão da sexualidade humana na modernidade.

Tal obra propôs uma visão considerada bastante radical para sua época, pois sugere que a sexualidade não surge apenas na puberdade, mas está presente desde a infância, moldando o desenvolvimento psíquico do indivíduo.

No primeiro ensaio, Sigmund Freud desafia a visão tradicional da sexualidade como algo exclusivamente reprodutivo e normativo, apresentando as chamadas "aberrações sexuais", que abrangem desde práticas consideradas desviantes – como o fetichismo, por exemplo – até a bissexualidade e o masoquismo.

Ele argumenta que essas manifestações não podem ser consideradas como patologias em si, mas expressões das forças pulsionais humanas, demonstrando a diversidade e a plasticidade da sexualidade.

Além disso, também introduz o conceito de "fixação" e "regressão", explicando como algumas pulsões podem permanecer em estágios anteriores do desenvolvimento psicossexual.

O segundo ensaio é uma das contribuições mais inovadoras da psicanálise: a descoberta da sexualidade infantil. Freud rompe com a noção de que a infância é um período assexuado, descrevendo como a libido se manifesta desde os primeiros anos de vida.

Ele teoriza que a criança experimenta prazer em diferentes zonas erógenas (boca, ânus, genitais) ao longo de estágios específicos:



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As Fases do Desenvolvimento Psicossexual de Freud

  • Fase oral (0-1 ano): quando o prazer está centrado na sucção e na amamentação.
  • Fase anal (1-3 anos): a criança tem interesse na retenção e liberação das fezes, associado a controle e autonomia.
  • Fase fálica (3-6 anos): o foco está voltado aos genitais e existe a descoberta das diferenças sexuais, onde surge o Complexo de Édipo.
  • Período de latência (6-12 anos): quando a atividade sexual é reduzida devido à repressão cultural e social.
  • Fase genital (a partir da puberdade): fase em que começa a organização da sexualidade adulta, com integração das pulsões e direcionamento ao outro.


Dessa forma, Freud enfatiza que a sexualidade infantil não se assemelha à sexualidade adulta, sendo inicialmente autoerótica e fragmentada, bem como introduz a ideia de que traumas e repressões nesse período podem ter impacto duradouro na vida adulta.

Já no terceiro ensaio, Sigmund explora como a puberdade reorganiza e direciona as pulsões sexuais. A partir desse momento, a sexualidade se estrutura em um modelo mais próximo ao adulto, com um objeto de desejo externo e uma busca pela satisfação genital.

A importância da sublimação ganha destaque, sendo um mecanismo pelo qual impulsos sexuais podem ser redirecionados para atividades culturais e sociais.

No texto, descreve a tensão entre o princípio do prazer e as exigências da realidade, que moldam a maneira como o indivíduo lida com sua sexualidade.



Pulsão de vida e pulsão de morte: o conflito psíquico para Freud

Passando adiante, na ordem cronológica das publicações de Freud relacionadas ao tema do conceito de pulsão, podemos citar a sua obra de 1920: “Além do princípio do prazer”.

Nesse texto, Freud revisita e amplia sua teoria das pulsões, introduzindo um conceito revolucionário para a psicanálise: a distinção entre a pulsão de vidaEros – e a pulsão de morteThanatos. Confira abaixo as principais representações de ambas as pulsões:

PULSÕES SUAS REPRESENTAÇÕES
Pulsão de vida – Eros Representa as forças que promovem a conservação da vida, a construção, a ligação e a sexualidade. Eros busca a união e a criação de novas formas de organização psíquica e social.
Pulsão de morte – Thanatos Representa uma tendência à dissolução, ao retorno ao estado inorgânico e à repetição compulsiva. Essa pulsão opera silenciosamente e pode se manifestar na autodestruição, no sadismo e na agressividade.


Segundo Freud, essas duas forças coexistem e se entrelaçam na psique humana, formando um equilíbrio dinâmico que molda o comportamento e os conflitos internos. A luta entre Eros e Thanatos se manifesta nas relações interpessoais, nos ciclos históricos e até mesmo na cultura.

É aí que sua teoria fica marcada por uma mudança significativa, pois sugere que nem todas as ações humanas são regidas pelo princípio do prazer – o aparelho psíquico busca evitar o desprazer e alcançar o máximo de satisfação – e que há uma força fundamental no psiquismo voltada para a destruição e a repetição compulsiva – pacientes que passaram por eventos traumáticos, por exemplo, repetem inconscientemente cenas dolorosas, como se estivessem presos a elas, em vez de evitá-las.

Freud sugere que essa repetição pode estar relacionada a um desejo inconsciente de domínio sobre o trauma ou, mais radicalmente, a uma tendência inerente ao psiquismo.

Vale ressaltar que a teoria das pulsões de morte gerou muitas controvérsias e foi amplamente debatida por psicanalistas posteriores. Alguns, como Jacques Lacan, reinterpretaram o conceito em suas próprias formulações, enquanto outros questionaram a necessidade de postular uma pulsão de morte separada das pulsões destrutivas já presentes no pensamento freudiano anterior.

Apesar de tudo isso, os estudos e observações para chegar a tal conceito, fizeram com que Freud passasse a enxergar o psiquismo como um campo de tensões entre forças opostas.



O modelo estrutural da psique e o conflito interno

Mais uma obra de Freud que podemos citar quando o assunto é pulsão, é o texto publicado em 1923: “O Ego e o Id”, em que Freud propõe um modelo estrutural da psique humana, reformulando sua teoria do aparelho psíquico e introduzindo as três instâncias psíquicas: Id, Ego e Superego – ampliando assim a compreensão da dinâmica interna da mente, explicando como as pulsões se manifestam e são reguladas dentro do psiquismo.

Antes dessa obra, Freud trabalhava com um modelo topográfico da mente, dividido entre o consciente, o pré-consciente e o inconsciente. No entanto, ao aprofundar suas observações clínicas, percebeu que essa divisão não explicava de forma satisfatória os conflitos internos do indivíduo. Dessa forma, desenvolveu um novo modelo, conhecido como modelo estrutural, que divide a psique em três instâncias:

DIVISÃO DA PSIQUE COMO ATUAM
Id Representa a parte mais primitiva e instintiva da mente, localizada no inconsciente. O Id é a fonte das pulsões, especialmente as pulsões sexuais. Opera segundo o princípio do prazer, buscando satisfação imediata sem considerar a realidade ou as normas sociais.
Ego Atua como mediador entre o Id e a realidade externa. O Ego desenvolve-se a partir do Id e opera segundo o princípio da realidade, buscando satisfazer os desejos do Id de maneira adaptada às exigências do mundo exterior. Ele é responsável pelo pensamento racional, planejamento e tomada de decisões.
Superego Formado a partir da internalização das normas e valores sociais, o Superego representa a consciência moral do indivíduo. Ele age como um juiz do comportamento, impondo restrições ao Ego e punindo transgressões através da culpa e da vergonha.


Dentro dos conceitos, é importante dizer que o Ego, ao lidar com as demandas do Id e as restrições do Superego, precisa encontrar um equilíbrio que permita ao indivíduo funcionar de maneira saudável. Esse conflito constante entre as instâncias psíquicas é a base dos processos psicanalíticos e da formação dos sintomas neuróticos.

  • O Id pressiona o Ego com impulsos e desejos instintivos.
  • O Superego impõe limites baseados nas regras e valores morais internalizados.
  • O Ego, como mediador, tenta equilibrar essas forças, garantindo a adaptação do indivíduo à realidade.


Quando o Ego falha nessa mediação, podem surgir sintomas neuróticos, mecanismos de defesa e outras manifestações psíquicas.



As pulsões e sua manifestação nas instâncias psíquicas

Como dito anteriormente, Freud já havia estabelecido – em “Além do princípio do prazer” – a existência das pulsões de vida e de morte. Em “O Ego e o Id”, ele aprofunda a relação dessas pulsões com as instâncias psíquicas:

  • O Id é a sede das pulsões, agindo de maneira irracional e caótica.
  • O Ego busca canalizar essas pulsões de forma aceitável e segura.
  • O Superego tenta reprimir os impulsos do Id que considera moralmente inaceitáveis, muitas vezes gerando conflitos internos.


Diante das pressões exercidas pelo Id e pelo Superego, o Ego desenvolve estratégias para lidar com os conflitos psíquicos. Essas estratégias são conhecidas como mecanismos de defesa e incluem:

  • Repressão: exclusão inconsciente de conteúdos inaceitáveis.
  • Projeção: atribuição a terceiros de sentimentos que o indivíduo não admite em si mesmo.
  • Racionalização: justificativas lógicas para comportamentos impulsivos.
  • Sublimação: transformação de impulsos inaceitáveis em atividades socialmente valorizadas.


Esses mecanismos ajudam a preservar a estabilidade psíquica, mas, quando usados em excesso, podem levar a transtornos psicológicos.

A vida psíquica, segundo Freud, é resultado do equilíbrio dinâmico entre as duas forças: Eros e Thanatos e esse conflito reflete-se nos dilemas humanos, desde os desafios individuais até as tensões sociais e históricas.

Em alguns momentos, a pulsão de vida predomina, promovendo crescimento e estabilidade, enquanto em outros, a pulsão de morte se impõe, levando à destruição e ao sofrimento.

Esse embate pode ser observado em fenômenos como guerras, autossabotagem e violência, mas também na capacidade de superação e na criação de novas possibilidades. Para Freud, o desafio da psicanálise e do próprio ser humano é entender e lidar com essa dualidade, buscando integrar as forças psíquicas de forma equilibrada.

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Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. O Ego e o Id. 1923. In: FREUD, Sigmund. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 19.

FREUD, Sigmund. Além do princípio do prazer. 1920. In: FREUD, Sigmund. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 18.

FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. 1905. In: FREUD, Sigmund. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 7.







A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma das abordagens mais eficazes e estudadas no campo da psicologia. Criada na década de 1960 pelo psiquiatra britânico Aaron Beck, ela é baseada na ideia de que nossos pensamentos influenciam diretamente nossos comportamentos e sentimentos. Aaron Beck descreveu essa abordagem em seu livro Terapia Cognitiva da Depressão (1982), no qual explicou como a modificação de padrões de pensamento negativos pode levar a mudanças significativas no comportamento e na forma como lidamos com o mundo ao nosso redor.

A TCC busca ajudar o paciente a identificar e reestruturar esses pensamentos disfuncionais, promovendo um melhor equilíbrio emocional e uma melhor adaptação às mais diversas situações cotidianas. A TCC é indicada para tratar uma ampla gama de condições psicológicas, como ansiedade, depressão, burnout, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtornos alimentares, fobias, transtorno bipolar, ataques de pânico, entre outras. Além disso, pode ser uma excelente ferramenta no auxílio de questões como o cansaço mental, a busca pela superação da ansiedade, e também para promover o autocuidado e o bem-estar geral. Este artigo explora os objetivos, as técnicas e os efeitos da terapia cognitivo-comportamental.



O que é a Terapia Cognitivo-Comportamental?

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma abordagem psicoterapêutica de tratamento que se baseia na ideia de que os pensamentos, sentimentos e comportamentos estão interligados. Por meio da identificação e modificação de padrões de pensamento distorcidos ou negativos, a TCC busca melhorar a forma como os indivíduos se sentem e agem, oferecendo mais controle sobre as emoções e comportamentos. Isso torna a TCC um dos tratamentos mais eficazes para uma variedade de transtornos mentais.

Esse tipo de terapia considera a forma como o paciente interpreta o mundo ao seu redor e como reage a ele. O terapeuta auxilia o paciente a entender seus sistemas de crenças, que muitas vezes geram emoções negativas e destrutivas. A partir dessa compreensão, o paciente aprende a lidar de maneira mais saudável com suas emoções, desenvolvendo habilidades para autorregular seu humor e suas reações diante dos acontecimentos.

A TCC pode ser usada para tratar condições como transtorno de ansiedade, depressão, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtornos alimentares, distúrbios de sono, burnout, fobias, transtornos de personalidade, e até mesmo distúrbios psicossomáticos. Seu foco é ajudar o paciente a entender como seus pensamentos influenciam suas emoções e comportamentos, para que possa fazer mudanças positivas em sua vida.

A TCC também é eficaz para ajudar as pessoas a lidar com situações desafiadoras da vida, como mudanças significativas (por exemplo, separações ou mudanças de carreira) ou para quem simplesmente busca por uma vida mais feliz. Ela oferece ferramentas práticas que capacitam os indivíduos a resolverem problemas de forma eficaz e emocionalmente saudável.

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Como funciona a Terapia Cognitivo-Comportamental?

Na prática, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) envolve a aplicação de uma combinação de técnicas cognitivas, comportamentais, emocionais e interpessoais, com o objetivo de promover mudanças duradouras nas crenças, atitudes e reações do paciente.

  • Técnicas Cognitivas

    As técnicas cognitivas são aplicadas para modificar crenças distorcidas e pensamentos automáticos negativos. O foco está em desafiar interpretações errôneas que o paciente tem sobre si mesmo e o mundo ao seu redor. Ao questionar e ajustar essas crenças, o paciente pode passar a adotar uma visão mais realista e equilibrada da vida, o que diminui a ansiedade e aumenta o bem-estar geral. Por exemplo, um paciente que teme ser chamado pelo chefe para uma conversa, por acreditar ter feito algo errado, pode ser orientado a reavaliar essa crença e reconhecer que não há evidências para esse medo.
  • Técnicas Comportamentais

    As técnicas comportamentais visam alterar comportamentos disfuncionais que contribuem para o sofrimento emocional. Isso pode ser feito através de exercícios práticos, como relaxamento, por exemplo. Essas técnicas ajudam o paciente a agir de maneira mais adaptativa, superando padrões negativos e criando alternativas mais saudáveis para lidar com as dificuldades do dia a dia.
  • Técnicas Emocionais

    As técnicas emocionais têm como objetivo ajudar o paciente a lidar melhor com suas emoções, desenvolvendo a inteligência emocional e a autocompaixão. Isso é alcançado ao incentivar o paciente a aceitar suas emoções, sem se julgar negativamente por senti-las, e a aprimorar suas habilidades para se relacionar de maneira mais saudável com os outros. Ao cultivar uma visão mais positiva de si mesmo, o paciente consegue melhorar suas interações sociais e reduzir sentimentos de inadequação ou frustração.
  • Técnicas Interpessoais

    As Técnicas Interpessoais são voltadas para a melhoria das habilidades de comunicação e relacionamento social. A TCC ensina o paciente a ouvir ativamente, a se expressar de maneira assertiva e a interpretar corretamente as respostas não verbais dos outros. Isso facilita a criação de relações interpessoais mais saudáveis, ajudando o paciente a desenvolver maior confiança em suas interações e a lidar melhor com situações sociais, tanto no âmbito pessoal quanto profissional.


O processo terapêutico começa com a identificação dos pensamentos automáticos e das crenças disfuncionais que o paciente possui, permitindo que o terapeuta e o paciente trabalhem juntos para avaliar a validade dessas crenças e, quando necessário, substituí-las por pensamentos mais realistas e adaptativos. Além disso, durante a terapia, o paciente aprende sobre os processos cognitivos que influenciam seus sentimentos e comportamentos, e é incentivado a registrar suas atividades diárias para observar padrões e planejar mudanças futuras.

Em momentos de ansiedade ou estresse, a TCC também oferece ferramentas práticas como técnicas de relaxamento, ensaios comportamentais e treinamento de assertividade, que ajudam o paciente a lidar com essas emoções de forma mais eficaz. A exposição gradual a situações que geram medo ou desconforto, seja de forma real ou imaginária, permite que o paciente enfrente suas preocupações de forma controlada, reduzindo gradualmente a ansiedade e melhorando sua resposta emocional.

Em suma, a Terapia Cognitivo-Comportamental trabalha de forma estruturada e prática para modificar pensamentos, sentimentos e comportamentos disfuncionais, permitindo que o paciente desenvolva habilidades para lidar com as dificuldades de maneira mais adaptativa. Ao longo do processo, o paciente aprende a se tornar mais consciente de seus padrões de pensamento e comportamento, possibilitando-lhe enfrentar desafios de forma mais resiliente e equilibrada.

Como a Terapia Cognitivo-Comportamental impacta o comportamento e as emoções

A TCC atua principalmente na alteração de padrões de pensamento que contribuem para emoções negativas ou desajustadas. Por exemplo, pessoas que lutam para superar a ansiedade ou depressão tendem a ter pensamentos automáticos negativos, como "Eu nunca vou conseguir", ou "Nada vai melhorar". Esses pensamentos distorcidos podem levar a reações emocionais e comportamentais desproporcionais ao contexto.

A TCC ensina os pacientes a identificarem esses padrões de pensamento e a questioná-los, proporcionando novas formas de pensar e agir. O objetivo é desenvolver uma forma mais realista de enxergar o mundo, ajudando a controlar a ansiedade e a lidar melhor com as pressões do dia a dia. A terapia cognitivo-comportamental também é uma abordagem eficaz para o tratamento de casos de burnout e cansaço mental.

No contexto profissional, indivíduos com diferentes perfis de personalidade e carreira podem usar a TCC para desenvolver estratégias que minimizem a pressão interna e externa que enfrentam. A TCC oferece um caminho estruturado e objetivo para lidar com medo e para ajudar a superá-lo, equilibrando as reações emocionais frente a desafios pessoais ou profissionais.




Como a Terapia Cognitivo-Comportamental pode ajudar na busca por uma vida mais feliz

O principal objetivo da TCC é melhorar o bem-estar emocional e psicológico, ajudando os indivíduos a reagirem de forma mais saudável aos desafios da vida. A terapia oferece ferramentas práticas que permitem às pessoas desenvolverem uma melhor compreensão de seus pensamentos e comportamentos, contribuindo para uma vida mais plena.

Muitas vezes, as pessoas experimentam mudanças na vida, como mudanças no trabalho, relacionamentos ou a busca por novos objetivos pessoais, e essas transformações podem ser fontes de estresse ou ansiedade. A TCC permite que os indivíduos encontrem maneiras eficazes de lidar com essas transições, mantendo o equilíbrio emocional e a perspectiva positiva. Além disso, a TCC ajuda no desenvolvimento de habilidades de autocuidado, fundamentais para preservar a saúde mental.

Por exemplo, uma pessoa que sofre de burnout pode se beneficiar da TCC, aprendendo a gerenciar melhor o estresse e as demandas da vida profissional, ao mesmo tempo em que encontra equilíbrio na vida pessoal.

Técnicas e métodos da Terapia Cognitivo-Comportamental

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) utiliza uma abordagem de psicoterapia contemporânea, baseada em uma variedade de técnicas que ajudam os pacientes a identificar e modificar padrões de pensamento negativos. Esses métodos são aplicados de forma prática e contínua, com foco em promover mudanças duradouras no comportamento dos pacientes. Algumas das principais técnicas utilizadas na TCC incluem:

  • Reestruturação cognitiva: envolve identificar e modificar pensamentos distorcidos, substituindo-os por interpretações mais realistas e equilibradas.
  • Treinamento de habilidades sociais: ensina como interagir de forma mais eficaz e assertiva em diferentes situações sociais.
  • Exposição gradual: usada no tratamento de fobias ou transtornos de ansiedade, envolve a exposição controlada ao objeto ou situação que causa medo, ajudando a reduzir a ansiedade ao longo do tempo.
  • Relaxamento e respiração profunda: ajudam a reduzir o estresse e a ansiedade, proporcionando calma física e mental.



Efeitos da Terapia Cognitivo-Comportamental: como ela pode melhorar sua qualidade de vida

A TCC tem mostrado resultados extremamente positivos para aqueles que a praticam. Entre os benefícios mais notáveis estão a redução de sintomas de ansiedade, depressão, e burnout, o que leva a uma melhora significativa na qualidade de vida. Além disso, a terapia promove um aumento da autoestima, o que pode ajudar a melhorar relacionamentos pessoais e a felicidade conjugal.

Outro efeito importante da TCC é o aumento da resiliência emocional, ajudando as pessoas a se recuperarem mais rapidamente de mudanças na vida e a lidarem melhor com situações estressantes. Os pacientes aprendem a se concentrar no que pode ser controlado, melhorando a percepção de controle sobre a própria vida.

O que é Psicoterapia Contemporânea e sua relação com a TCC

A psicoterapia contemporânea engloba abordagens que visam tratar problemas emocionais de forma mais integrada e prática, levando em consideração os avanços da psicologia moderna. A TCC é uma das principais correntes da psicoterapia contemporânea, proporcionando resultados rápidos e eficazes. Ela combina técnicas da psicologia cognitiva com estratégias comportamentais para fornecer aos pacientes ferramentas que os ajudem a enfrentar desafios psicológicos e emocionais de maneira mais eficaz.




Conclusão

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem terapêutica altamente eficaz que pode ser usada para tratar uma variedade de transtornos psicológicos e emocionais, como ansiedade, depressão, burnout, e transtornos alimentares. Seus benefícios vão além do tratamento de doenças mentais, sendo também uma ferramenta valiosa na busca por uma vida mais equilibrada, saudável e feliz.

Se você está enfrentando dificuldades emocionais, a TCC pode ser uma das melhores opções de terapia para te ajudar a mudar padrões de pensamento negativos e alcançar uma vida mais gratificante.

Perguntas Frequentes sobre Terapia Cognitivo-Comportamental

  1. Como a Terapia Cognitivo-Comportamental pode me ajudar a superar o burnout?

    A TCC é especialmente eficaz no tratamento de burnout, pois ela ajuda a identificar e mudar os pensamentos e comportamentos que contribuem para o esgotamento emocional. Ao ensinar estratégias para gerenciar o estresse, estabelecer limites saudáveis e modificar padrões de pensamento excessivamente perfeccionistas, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ajuda a aliviar os sintomas de burnout e facilita uma recuperação mais rápida e sustentável.


  2. A Terapia Cognitivo-Comportamental é eficaz no tratamento de distúrbios alimentares?

    Sim, a TCC é uma abordagem altamente eficaz no tratamento de transtornos alimentares, como anorexia e bulimia. A terapia ajuda os pacientes a identificarem padrões de pensamento negativos e distorcidos sobre imagem corporal e comida, promovendo uma relação mais saudável com a alimentação e o corpo.





Referências

https://www.correiobraziliense.com.br/ciencia-e-saude/2023/06/5103116-terapia-cognitivo-comportamental-alternativa-eficaz-para-depressao.html

https://www.metropoles.com/sao-paulo/psicoterapia-insonia-estudo-usp

https://vidasaudavel.einstein.br/o-que-e-a-terapia-cognitiva-comportamental-tcc-e-como-ela-funciona/#:~:text=Atlas%20Mental-,O%20que%20%C3%A9%20a%20Terapia%20Cognitiva%2DComportamental,TCC

https://artmed.com.br/artigos/terapia-cognitivo-comportamental-como-funciona-evidencias-e-como-aplicar






O conceito de inconsciente, presente na teoria de Sigmund Freud, é amplamente conhecido e fundamental para a psicanálise e o entendimento da mente humana.

Pode até parecer verdade – e muitos leigos pensam assim –, mas o inconsciente não é somente aquilo que esquecemos – ou que gostaríamos de esquecer –, mas sim um espaço psíquico ativo, que influencia nossas emoções, pensamentos e comportamentos de maneira indireta.

É no inconsciente que ocorrem mecanismos como o recalque, impedindo que certos conteúdos traumáticos ou inaceitáveis se tornem conscientes.

Para Freud, dentro desse contexto, existiam certas manifestações do inconsciente, tais como:

  • Sonhos – que ele chamava de "a via régia para o inconsciente".
  • Atos falhos – com certeza você já cometeu algum, como trocar o nome do parceiro, por exemplo (polêmico, mas pode revelar um pensamento reprimido).
  • Sintomas neuróticos – fobias, ansiedades e compulsões.


Compreender o inconsciente freudiano é essencial para entendermos como nossa mente lida com desejos, traumas e conflitos internos, para isso é preciso observar para além de um depósito de memórias esquecidas.

Quanto você conhece Sigmund Freud?

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O conceito de repressão através da história da psicanálise

Falar sobre o recalque pode parecer bastante simples quando pensamos no conceito disseminado pela internet, onde a imagem de um iceberg está sempre em evidência. Tudo bem! É importante desmistificar algumas teorias e trazê-las para o universo contemporâneo, ampliando o alcance de muitos conteúdos acadêmicos.

Porém, também é necessário um certo aprofundamento a fim de termos embasamento suficiente para entendermos como existe um emaranhado de outros conceitos e teorias por trás de cada um dos detalhes apresentados por nomes como Sigmund Freud.

Quando pesquisamos para a elaboração deste texto, esbarramos em um grande conjunto complexo de explicações colocadas por Freud em diferentes épocas de seu trabalho, onde iremos destacar alguns de seus escritos.

No volume XX, que traz trabalhos de 1925 a 1926 – Um estudo autobiográfico: inibições, sintomas e ansiedade; a questão da análise leiga e outros trabalhos – o apêndice A nos oferece algumas referências em que podemos encontrar os conceitos de recalque, bem como de repressão.

O primeiro uso do termo “repressão” apareceu na “Comunicação preliminar”, de 1974 – edição brasileira. Já em “Estudos sobre histeria”, Freud cita o conceito diversas vezes, estando misturado à “defesa”, que começou a desaparecer após o período de Breuer.

Foi então que “repressão” se tornou predominante em suas obras, tendo sido quase que exclusivamente utilizada no famoso caso “Dora” e nos “Três ensaios”. Uma mudança que foi efetivamente chamada à atenção em um artigo sobre sexualidade das neuroses, em 1905.

Encarava a própria divisão psíquica como o efeito de um processo de repulsão que naquela ocasião denominei de “defesa”, e depois, de “repressão”. Freud, em “A história do movimento psicanalítico" (1914d), Edição Standard Brasileira, Vol. XIV, p. 20, IMAGO Editora, 1974.

E foi após 1905 que a palavra “repressão” teve sua dominância, como por exemplo na análise do texto “O homem dos ratos” – de 1909. Dito isso, podemos trazer uma pincelada sobre o sentido de “repressão” para Freud.

Para aprofundar ainda mais, trouxemos uma sugestão de curso que irá oferecer uma abordagem simples e acessível para explorar as origens e os significados de diversos conceitos, com base em algumas das obras mais relevantes de Freud. As aulas servem como uma introdução à psicanálise para iniciantes e uma excelente fonte de novas perspectivas para aqueles que já conhecem o tema.



O conceito de repressão de Sigmund Freud

Quando sentimos um impulso instintivo, como um desejo ou necessidade, ele pode encontrar obstáculos que tentam bloqueá-lo. Se fosse um estímulo externo – algo vindo de fora, como um som alto ou um cheiro forte – a solução natural seria fugir. Mas, quando o impulso vem de dentro de nós, não há para onde escapar.

Nesse caso, o que acontece é esse processo inconsciente chamado repressão, uma operação psíquica que procura repelir – ou manter no inconsciente – pensamentos, lembranças, traumas ou imagens que não conseguimos lidar e que podem nos ameaçar a experienciar o desprazer.

Esse conceito foi desenvolvido na psicanálise e ajuda a explicar como lidamos com desejos ou pensamentos que nos causam certo desconforto. Mas a pergunta que fica é: “por que um impulso instintivo precisaria ser reprimido?

Isso acontece quando a ideia de satisfazê-lo causa mais desprazer do que prazer. Normalmente, nossos instintos nos levam a buscar sensações agradáveis.

No entanto, algumas circunstâncias podem fazer com que algo que deveria ser prazeroso se torne incômodo ou doloroso. Por exemplo, na mente, quando um desejo reprimido se torna desconfortável, nosso cérebro pode tentar afastá-lo para evitar sofrimento.

Vale ressaltar que a repressão, ao contrário do que muitas pessoas pensam, também não acontece uma única vez, de forma definitiva.

Para que a repressão ocorra, primeiro precisa haver uma divisão entre o consciente e o inconsciente. No início, ela impede que um pensamento ou desejo desconfortável chegue ao consciente. Depois, continua atuando sobre ideias e lembranças associadas a esse conteúdo reprimido.

Porém, o que foi reprimido não desaparece. Ele pode se reorganizar no inconsciente, influenciando nossas emoções, comportamentos e até mesmo reaparecendo de formas indiretas, como em sonhos, atos falhos ou sintomas psicológicos, como falamos no início do texto.

Além disso, a repressão exige um esforço contínuo para se manter ativa. Se essa "força de repressão" enfraquece, o conteúdo reprimido pode tentar emergir novamente, exigindo novos esforços para ser contido. Ou seja, a repressão não é um evento único e fixo, mas um processo dinâmico e constante ao longo da vida psíquica.

E é nesse ponto que entramos no conceito de recalque, um mecanismo psíquico mais profundo e estruturado dentro da teoria freudiana. Se a repressão atua como uma barreira inicial, impedindo que certos conteúdos entrem na consciência, o recalque é o processo responsável por mantê-los no inconsciente de forma mais duradoura.

Agora, se você já está estudando conteúdos e conceitos como esses – ou já está atuando na clínica –, é imprescindível ter uma base de conhecimento que auxilie no desenvolvimento da escuta, além de ampliar toda a sua base teórica.

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O que significa recalque?

O recalque é um tipo específico de repressão, podemos dizer que mais profundo e estruturado. Freud usava esse conceito para explicar como certos pensamentos, memórias ou desejos incômodos são "empurrados" para o inconsciente de forma duradoura.

Isso significa que a pessoa não tem acesso direto a esse conteúdo, mas ele continua influenciando sua vida, podendo reaparecer de maneira disfarçada, como em sonhos, atos falhos ou até sintomas neuróticos, como fobias e ansiedades – o que anda lado a lado com a repressão, convenhamos.

Antes de seguirmos, é importante ter atenção ao seguinte adendo: supressão e repressão não são a mesma coisa para Freud:

  • Repressão (Verdrängung): como já citado, é um mecanismo de defesa inconsciente, ou seja, ocorre sem que a pessoa perceba. O ego "expulsa" desejos, memórias ou pensamentos indesejáveis da consciência e os mantém no inconsciente para evitar sofrimento.
  • Supressão: diferente da repressão, a supressão é um ato consciente. A pessoa decide deliberadamente afastar um pensamento incômodo ou evitar lembrar de algo desagradável – um processo que pode ser revertido quando a pessoa quiser acessar aquela memória ou pensamento novamente.


Ou seja, enquanto a repressão acontece de forma involuntária e inconsciente, a supressão é um esforço consciente de afastar um pensamento incômodo.

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Voltando… diferente da supressão, onde conscientemente evitamos pensar em algo, o recalque acontece de forma involuntária, sem que a pessoa perceba. Ele funciona como um mecanismo de defesa da mente para evitar o sofrimento, impedindo que certos conteúdos perturbadores cheguem à consciência.

No entanto, Freud destacava que o material reprimido não desaparece – ele pode se acumular e se manifestar de outras formas, como angústia, dificuldades emocionais ou padrões de comportamento disfuncionais.

O trabalho da psicanálise, segundo Freud, é justamente trazer esses conteúdos recalcados de volta à consciência, ajudando a pessoa a compreendê-los e, assim, aliviar seus efeitos. Afinal, podemos esquecer por causa do recalque, mas o que é reprimido sempre encontra uma maneira de retornar.

Lendo assim, parece bem confuso de entender – e, acredite em mim, também de explicar –, mas vamos a um resumo prático, com exemplos, a fim de clarificar mais as ideias:

CONCEITO EXPLICAÇÃO EXEMPLO
Repressão

Mecanismo de defesa inconsciente que afasta pensamentos, desejos ou lembranças que causam sofrimento. O ego, para evitar o desprazer, bloqueia esses conteúdos e os mantém no inconsciente. Pode ter duas fases:

  • Repressão primária: quando o desejo ou pensamento nunca chega a se tornar consciente.
  • Repressão propriamente dita: quando um conteúdo que já foi consciente é "empurrado" para o inconsciente.

Uma pessoa que sofreu um trauma na infância pode não se lembrar conscientemente do evento, mas ainda sentir ansiedade ou medo sem saber a origem.

Recalque

Tipo específico de repressão, mais profundo e estruturado, que está na base da formação do inconsciente. Quando algo é recalcado, ele não só é reprimido, mas também se fixa no inconsciente de forma duradoura, gerando sintomas indiretos. O recalque está na base da teoria freudiana sobre os conflitos psíquicos e a formação dos sintomas neuróticos.

Um desejo proibido (como uma raiva intensa contra os pais) pode ser recalcado e reaparecer de forma distorcida, como dificuldade em se relacionar com figuras de autoridade.



Todo recalque é um tipo de repressão, mas nem toda repressão é um recalque.




A barreira do recalque e seu funcionamento

Você sabia que nem tudo o que a gente sente ou pensa chega à consciência? Pois é! Alguns conteúdos podem não conseguir atingir esse lugar, como se passassem por um grande filtro, porém, eles não desaparecem e interferem indiretamente na vida.

Os relacionamentos são um excelente exemplo, visto que crianças que foram rejeitadas pelos pais podem ter dificuldades na vida adulta – seja para confiar nas pessoas ou para escolher seus parceiros (que acabam reforçando essa sensação de abandono).

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Mas essa barreira da mente não é perfeita, visto que alguns desses conteúdos encontram brechas para emergir – através de pequenos deslizes ou pelos conteúdos oníricos dos sonhos (esse é um conceito de Jung que cabe muito bem aqui).

O recalque acontece porque nossa mente busca evitar o sofrimento. Mas o problema é que ignorar um problema não faz com que ele desapareça – apenas o esconde. Com o tempo, conteúdos recalcados podem surgir como ansiedade, fobias ou comportamentos autossabotadores.

A psicanálise acredita que, para reduzir os efeitos negativos do recalque, é necessário trazer esses conteúdos reprimidos à consciência. Dessa forma, terapia, autoconhecimento e até a análise dos sonhos são formas de acessar esses conteúdos e integrá-los à vida de forma saudável.

Em outras palavras, aquilo que você recalca não some – apenas encontra outras formas de se manifestar.

Agora que você já conhece um pouco mais sobre como os conteúdos recalcados podem impactar sua vida – e a vida dos pacientes – de maneira indireta , que tal se aprofundar os aprendizados com os cursos da plataforma da Casa do Saber+?

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Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: A interpretação dos sonhos (segunda parte) e sobre os sonhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Um estudo autobiográfico. Inibições, sintomas e ansiedade. A questão da análise leiga e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996.





Elena Ferrante é uma das escritoras mais enigmáticas da literatura contemporânea. A autora conquistou uma legião de leitores ao mergulhar em temas profundos sobre a amizade, a identidade e a experiência feminina. Conhecida mundialmente por sua tetralogia Napolitana, que começa com A Amiga Genial, Ferrante oferece uma reflexão intensa sobre as complexas relações humanas e os labirintos psicológicos que nos permeiam. A Amiga Genial foi considerada pelo The New York Times como o livro do século, eleito após uma pesquisa com 503 especialistas literários, o que demonstra a relevância e o impacto profundo de sua obra no cenário literário mundial.

Sua escrita, marcada pela sinceridade crua e pela profundidade emocional, tem o poder de transformar a maneira como entendemos os vínculos afetivos e a complexidade da vida interna de suas personagens. Além disso, o mistério em torno de sua verdadeira identidade, já que Elena Ferrante é um pseudônimo, aumenta a curiosidade em relação à autora, criando uma aura de fascínio que apenas intensifica o interesse por suas obras. Neste artigo, vamos explorar a trajetória de Elena Ferrante, suas obras mais impactantes e como ela se tornou uma das vozes mais relevantes da literatura atual.



Por que ler Elena Ferrante?

Elena Ferrante oferece uma literatura que toca as profundezas da alma humana. Suas histórias, repletas de uma sinceridade crua, revelam os complexos laços de amizade, as contradições da identidade e os desafios da experiência feminina de forma magistral. Suas personagens são imersivas, e a forma como ela aborda as nuances dos sentimentos e das relações é capaz de alterar profundamente a maneira como entendemos nossas próprias vidas emocionais.

Sem dúvida, ela é uma das mulheres da literatura contemporânea que mais causa fascínio e curiosidade. Afinal, até hoje se mantém no anonimato. O mistério em torno de quem é Elena Ferrante gera um fascínio adicional que contribui para o charme de suas obras. Ao não se expor publicamente, ela desvia o foco da autora e coloca toda a atenção em suas histórias, permitindo que o leitor se conecte diretamente com os temas e as emoções descritas em seus livros.

O anonimato, aliado à escrita profundamente envolvente, criou uma aura de curiosidade que tem feito de Elena Ferrante uma das autoras mais discutidas e admiradas da literatura contemporânea. Suas obras não são apenas para ser lidas, mas para serem sentidas, tornando-se uma experiência emocional que vai além das páginas.

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Quem é Elena Ferrante?

Elena Ferrante é o pseudônimo de uma autora italiana cuja verdadeira identidade permanece desconhecida. A escolha de se manter anônima, ao longo dos anos, despertou uma onda de especulação e curiosidade, mas a escritora sempre declarou que a obra é mais importante do que a figura de quem a escreveu. Sua literatura, então, se destaca por sua sinceridade e profundidade emocional, proporcionando uma visão íntima da vida feminina, das relações humanas e da complexidade das identidades.

Apesar do anonimato, Elena Ferrante construiu uma carreira literária sólida e admirada, sendo reconhecida globalmente. O que importa, para a autora, são as palavras e as histórias que ela compartilha, e não a imagem que o público tem dela.

Para Elena Ferrante, manter sua identidade em sigilo é uma escolha. Mas, nem sempre foi assim para as mulheres. Ao longo da história, as vozes femininas foram caladas e sufocadas. O sistema patriarcal reprimiu a expressão das ideias femininas, através de relações de poder que mantinham as mulheres tolhidas em sua liberdade criativa e existencial. A escritora Mary Shelley, por exemplo, autora de Frankenstein, demorou alguns anos para ter sua identidade associada à obra prima que escreveu. E até mesmo J.K.Rowling, criadora da saga Harry Potter, foi aconselhada por seu editor a não revelar sua identidade feminina nas primeiras publicações, porque ele acreditava que os meninos não iriam se interessar em ler seus livros, caso soubessem que eram escritos por uma mulher. Portanto, a misoginia não ficou no passado, quando deusas, bruxas e feiticeiras foram incineradas pela fogueira da inquisição.

Livros de Elena Ferrante: quais são os mais conhecidos?

Os livros de Elena Ferrante têm conquistado leitores ao redor do mundo devido à sua profundidade emocional e à forma como abordam as relações humanas. Entre seus trabalhos mais famosos está a Tetralogia Napolitana, que começa com A Amiga Genial. Veja a seguir quais são as principais obras de Elena Ferrante:

LIVROS DE ELENA FERRANTE RESUMO
A Amiga Genial (2011) A história de uma amizade intensa e complexa entre Lila e Lenù, duas meninas que crescem em Nápoles, e como essa relação se desenvolve ao longo dos anos. A obra explora temas como identidade, classe social e o impacto do ambiente no desenvolvimento humano.
A História do Novo Sobrenome (2012) Continuação de A Amiga Genial, este livro segue a vida de Lila e Linù na juventude, aprofundando-se nas suas escolhas de vida, em especial a busca de Lila por um caminho diferente de Elena.
História de Quem Foge e de Quem Fica (2013) A amizade entre Lila e Linù continua a se transformar enquanto elas lidam com o amadurecimento, o amor e os conflitos internos.
História da Menina Perdida (2014) O último livro da Tetralogia Napolitana foca na busca de Linù por uma identidade própria, enquanto ela lida com os desafios da maternidade e a conclusão da sua amizade com Lila. A obra trata da experiência feminina e dos dilemas existenciais, culminando em um retrato de amadurecimento pessoal.
Um Amor Incômodo (1991) Delia retorna a Nápoles após a morte misteriosa de sua mãe, e, ao investigar o passado de sua mãe, ela se vê confrontada com descobertas desconcertantes. A obra explora os segredos familiares e a complexidade das relações maternas e filiais.
Dias de Abandono (2002) Olga enfrenta uma profunda crise emocional após seu marido pedir o divórcio, entrando em um período de instabilidade psicológica enquanto lida com a maternidade e sua identidade.
Frantumaglia (2003) Uma coleção de cartas, entrevistas e reflexões de Elena Ferrante, revelando suas ideias sobre o processo de escrita, o anonimato e a identidade literária. Este livro oferece uma visão sobre a autora e sua abordagem da criação literária e dos temas de suas obras.
A Filha Perdida (2006) Leda, uma mulher de meia-idade, passa suas férias em uma praia italiana, onde reflete sobre sua maternidade e suas escolhas, ao se envolver com a família de uma jovem mulher.
Uma Noite na Praia (2007) A história segue duas mulheres que, em uma noite à beira-mar, refletem sobre suas vidas e os dilemas emocionais e existenciais que as atormentam.
A Vida Mentirosa dos Adultos (2019) Giovanna, uma adolescente, começa a descobrir segredos sobre sua família e a sociedade em que vive, desafiando as suas próprias percepções de amor e lealdade. O livro explora a transição da adolescência para a vida adulta, revelando as mentiras e contradições da vida dos adultos ao seu redor.
A Invenção Ocasional (2019) Uma narrativa de ficção que examina como a identidade e a criação literária podem ser um jogo de invenção e imaginação, com a autora abordando a relação entre ficção e realidade.
As Margens e o Ditado (2021) O livro é baseado em seminários que Elena Ferrante escreveu para uma atriz realizar a leitura durante a Aula Magna da Universidade de Bolonha, na Itália.


Por onde começar a ler Elena Ferrante?

Se você está se perguntando por onde começar a ler Elena Ferrante, a resposta mais comum seria começar com A Amiga Genial. Esse livro é o mais famoso da autora e apresenta os principais temas trabalhados por Ferrante em sua obra – amizade feminina, identidade e os desafios da vida. A Amiga Genial é o primeiro livro da tetralogia napolitana, série que oferece uma imersão ainda maior nas vidas e nas relações das personagens.

Mas, se você deseja ter um conhecimento ainda maior sobre a escritora, conheça o curso As Mulheres na Obra de Elena Ferrante, ministrado pela doutora em História da Filosofia Antiga pela Puc-Rio, Julia Myara. O curso analisa a obra da autora, a partir das personagens femininas que marcam suas narrativas. São abordadas questões relacionadas à maternidade, liberdade, abandono e competição no universo feminino.





Além do curso, você também pode participar do Clube do Livro Histórias que nos Ensinam a Amar,conduzido pela psicanalista Carol Tilkian. O clube vai te motivar na leitura de livros escritos por mulheres, além de ser um espaço aberto para reflexão e debate das obras, a partir dos encontros online. A maioria dos encontros contará, ainda, com a presença das autoras das obras que serão comentadas.

O livro Dias de Abandono, de Elena Ferrante, é uma das publicações que serão debatidas pelo Clube, em um encontro que vai tratar da Literatura como Reflexão sobre Relacionamentos. Saiba mais sobre este Clube do Livro inédito clicando no botão a seguir.

Quero participar do Clube do Livro "Histórias que nos ensinam a amar"






Elena Ferrante: A Amiga Genial e a adaptação para a Netflix

O sucesso de A Amiga Genial foi tão grande que a obra foi adaptada para a TV pela HBO, e mais tarde, foi lançada uma adaptação da minissérie na Netflix. A série segue a trajetória de Lila e Linù, explorando as complexidades da amizade e dos dilemas existenciais dessas personagens de maneira visualmente arrebatadora.

Para quem já leu o livro, a adaptação traz uma nova camada de emoção à história, tornando a experiência ainda mais imersiva. A produção foi tão bem recebida que se tornou uma das mais comentadas e aclamadas da plataforma.

Veja a seguir as obras de Elena Ferrante que ganharam adaptações cinematográficas e de TV :

  • A Amiga Genial (HBO) – A famosa Tetralogia Napolitana foi adaptada para a TV pela HBO. A série, que acompanha a amizade de Lila e Elena, está disponível na plataforma Max, com a quarta e última temporada chegando em breve. A adaptação captura com precisão a essência dos livros, retratando a complexa relação entre as protagonistas e o cenário social e político de Nápoles ao longo das décadas.
  • A Filha Perdida (Netflix) – Adaptado do livro de 2006, A Filha Perdida segue a personagem Leda, interpretada por Olivia Colman, enquanto ela reflete sobre a maternidade e os dilemas familiares durante suas férias em uma cidade costeira na Itália. O filme é uma exploração emocionalmente complexa dos relacionamentos e das escolhas que moldam a vida de Leda.
  • A Vida Mentirosa dos Adultos (Netflix) – A minissérie baseada no romance de Elena Ferrante de 2019 segue Giovanna, uma adolescente que começa a descobrir um lado diferente de Nápoles, longe da proteção de sua família. A série explora o despertar da juventude, os conflitos familiares e a busca por identidade.
  • Um Amor Incômodo (2002) – O primeiro livro de Elena Ferrante a ser adaptado para o cinema foi Um Amor Incômodo, publicado originalmente em 1992. A história acompanha Delia, uma mulher de 45 anos que retorna a Nápoles, sua cidade natal, após a morte misteriosa de sua mãe. O retorno de Delia à cidade traz à tona lembranças de sua infância e uma série de descobertas perturbadoras sobre a vida e os segredos de sua mãe. A adaptação cinematográfica de 2002 capturou a tensão emocional da obra e a complexidade das relações familiares.
  • Dias de Abandono (2005) – Publicado em 2002, Dias de Abandono narra a história de Olga, uma mulher que enfrenta uma crise emocional após seu marido pedir o divórcio. A narrativa segue a jornada intensa de Olga, que se vê imersa em um turbilhão de inseguranças e emoções enquanto tenta se reconstruir. O filme, lançado em 2005, foi dirigido por Roberto Faenza e retratou brilhantemente o processo de autodescoberta e sofrimento da protagonista.


A Polêmica do jornalista que tentou desvendar a identidade de Elena Ferrante

A revelação da identidade de Elena Ferrante, uma das autoras mais enigmáticas da literatura contemporânea, gerou grande polêmica e acusações de invasão de privacidade. Ferrante sempre manteve o anonimato, recusando-se a fornecer qualquer foto ou informação sobre sua identidade. A dúvida pairava sobre sua identidade: seria Ferrante um homem ou uma mulher? Nenhuma resposta oficial havia sido dada.

print da matéria 'Elena Ferrante: An Answer?', de Claudio Gatti
Reportagem de Claudio Gatti veiculada na New York Review of Books


Em 2016, o jornalista italiano Claudio Gatti publicou uma reportagem na New York Review of Books, intitulada "Elena Ferrante: Uma Resposta?" , que causou grande repercussão. Gatti alegava, com base em uma análise forense de textos e informações públicas, que por trás do pseudônimo de Elena Ferrante estava Anita Raja, uma tradutora italiana. A matéria foi amplamente divulgada no mundo e indicava Raja como a autora da aclamada Série Napolitana.

No entanto, essa alegação foi imediatamente negada pelos envolvidos. Tanto Anita Raja quanto seu marido, o escritor italiano Domenico Sartore, repudiaram as informações de Gatti. Além disso, Elena Ferrante também se manifestou, por escrito, negando as alegações. Em sua declaração, Ferrante reafirmou seu compromisso com o anonimato e ressaltou que a identidade do autor não deveria ser o foco, mas sim a obra.

A publicação causou reações intensas, muitos leitores e críticos consideraram a abordagem de Gatti uma invasão de privacidade. Para esses, a identidade de Ferrante deveria ser irrelevante diante da profundidade de suas obras. O anonimato da autora, assim, faria parte de sua identidade literária. A polêmica em torno da sua identidade continua a provocar debates sobre os limites da privacidade na literatura e sobre como o anonimato pode, na verdade, enriquecer a experiência de leitura. Para muitos, o mistério de Elena Ferrante se tornou uma parte essencial do fascínio que ela exerce sobre seus leitores.

Conclusão

Elena Ferrante é, sem dúvida, uma das escritoras mais relevantes da literatura contemporânea. Seus livros, especialmente a Tetralogia Elena Ferrante, se destacam pela maneira como abordam temas universais de amizade, amor e identidade.

Perguntas Frequentes sobre Elena Ferrante

  1. Quem é Elena Ferrante?

    Elena Ferrante é o pseudônimo de uma autora italiana cuja verdadeira identidade permanece desconhecida. Sua obra é marcada por um olhar sensível e profundo sobre a amizade, a identidade e as relações humanas, especialmente as experiências femininas.
  2. Por onde começar a ler Elena Ferrante?

    Se você quer começar a explorar a obra de Elena Ferrante, A Amiga Genial é a melhor introdução. A partir dela, você pode seguir com os outros volumes da Tetralogia Napolitana, que examinam a complexidade da amizade e das relações em Nápoles.


Referências:

https://revistacult.uol.com.br/home/por-que-gostamos-de-elena-ferrante/

https://www.estadao.com.br/cultura/literatura/elena-ferrante-entenda-misterio-da-autora-de-a-amiga-genial-eleito-o-melhor-livro-do-seculo-21-nprec/?srsltid=AfmBOoqvb7i3OwQ2DilsrsHOzUs8E4icWpOfu5Q5uemoZAvRizJ6azJm

https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/03/cultura/1475489430_113758.html

https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/quem-e-elena-ferrante-autora-misteriosa-tem-livro-eleito-melhor-do-seculo/

https://www.youtube.com/watch?v=4uTWHThuJoY





A sexualidade na psicanálise é um tema essencial para entender os desejos e conflitos inconscientes. A psicanálise aborda a sexualidade, considerando sua influência nas dinâmicas de transferência e nas relações afetivas. Neste texto, exploramos como a psicanálise interpreta a sexualidade e sua importância no processo terapêutico.

A sexualidade sempre foi um dos temas centrais da psicanálise, abordado por Sigmund Freud e seus sucessores de maneiras complexas e reveladoras. Para Freud, a sexualidade vai além dos aspectos físicos e biológicos, envolvendo processos emocionais, psicológicos e, principalmente, inconscientes que moldam nossos desejos, comportamentos e identidade. Ao longo de mais de um século de estudos, as teorias psicanalíticas sobre a sexualidade passaram por transformações significativas, sendo acompanhadas de perto pelos debates sobre a transferência, a resistência e o desejo no contexto terapêutico.

Sexualidade e transferência: conexões inconscientes

Um dos conceitos fundamentais da psicanálise que melhor explica como a sexualidade se manifesta no tratamento terapêutico é a transferência. Freud introduziu esse termo no início do século XX para descrever o fenômeno em que os desejos e sentimentos inconscientes do paciente, muitas vezes relacionados a figuras parentais ou a experiências da infância, se deslocam para o terapeuta. Em outras palavras, a transferência é um processo pelo qual o paciente projeta, inconscientemente, emoções e comportamentos vivenciados com outros objetos ou pessoas para o analista, criando um campo fértil para o trabalho psicanalítico.

Ao longo do tempo, Freud refinou sua compreensão da transferência, distinguindo a transferência positiva, associada a sentimentos de amor e ternura, da transferência negativa, que se manifesta através de sentimentos hostis e agressivos. Além disso, Freud observou que esses fenômenos não são exclusivos da psicanálise, mas permeiam todas as relações humanas. Assim, o conceito de transferência oferece uma chave para entender como a sexualidade inconsciente do paciente se expressa nas interações terapêuticas, e como essas emoções podem ser trabalhadas durante o tratamento.




A sexualidade e o complexo de édipo: repetição e desejo

Outro aspecto crucial da teoria freudiana é a relação entre sexualidade, desejo e o complexo de Édipo. Para Freud, a sexualidade infantil não é algo marginal ou secundário, mas uma força formadora e estruturante da psique humana. Através do complexo de Édipo, o desejo sexual da criança é canalizado em direções específicas, com o filho ou filha desenvolvendo sentimentos ambivalentes em relação aos pais: o desejo pelo genitor do sexo oposto e a rivalidade com o genitor do mesmo sexo.

Freud argumentou que esse processo é uma fonte primária de neurose, sendo projetado de maneira repetitiva ao longo da vida do indivíduo. O conceito de transferência se conecta diretamente ao complexo de Édipo, uma vez que o paciente, ao revisitar seus sentimentos inconscientes sobre os pais, reatualiza essas questões emocionais durante a terapia. Assim, a sexualidade, ao ser trazida para o campo terapêutico, pode ser vista como uma repetição de padrões emocionais originados na infância.

Teorias pós-freudianas: a sexualidade e o inconsciente coletivo

Após Freud, diversas abordagens psicanalíticas continuaram a explorar o vínculo entre sexualidade e psique humana, com figuras como Melanie Klein, Donald Winnicott, Heinz Kohut e Jacques Lacan oferecendo novas perspectivas. No campo das teorias pós-freudianas, a sexualidade continua a ser um tema central, mas a forma de abordá-la e interpretá-la foi expandida.

Melanie Klein, por exemplo, desenvolveu a ideia de que a transferência não é apenas uma reprodução de relações parentais, mas também uma reencenação das fantasias inconscientes do paciente. Ela associou as experiências transferenciais a processos profundos de amor, ódio, agressão e culpa, presentes desde as primeiras fases do desenvolvimento humano. Para Klein, esses sentimentos se conectam diretamente ao desejo inconsciente, transformando a sexualidade em um terreno fértil para a expressão de conflitos psíquicos profundos.

Donald Winnicott, influenciado pela ideia do vínculo materno, sugeriu que a transferência poderia ser vista como uma repetição deste vínculo primordial. Em sua abordagem, o analista não se coloca apenas como uma figura neutra, mas como um facilitador que pode ajudar o paciente a reconectar-se com a verdade emocional que foi distorcida ou reprimida ao longo da vida. Essa perspectiva mais relacional da transferência, voltada para a criação de um ambiente seguro e receptivo, tem grande relevância no tratamento de pacientes mais fragilizados emocionalmente.

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A sexualidade no pensamento lacaniano: desejo e verdade inconsciente

Jacques Lacan, por sua vez, trouxe uma contribuição fundamental para a compreensão da sexualidade na psicanálise, ao relacioná-la diretamente ao conceito de desejo. Em sua leitura da transferência, Lacan propôs que a relação entre o paciente e o analista não é apenas uma repetição das relações familiares, mas uma busca pela verdade do desejo inconsciente. Lacan viu a transferência como um processo em que o paciente busca atribuir ao analista o papel de “sujeito suposto saber”, ou seja, alguém que detém o conhecimento sobre o que o paciente verdadeiramente deseja.

Para Lacan, a transferência e o desejo estão entrelaçados de maneira intrínseca. Ele se inspirou em Platão, usando a metáfora de Alcibíades e Sócrates para ilustrar como o desejo inconsciente do paciente pode ser distorcido, projetando objetos de desejo de maneira que não correspondem à realidade. Essa visão foi revolucionária, pois trouxe a ideia de que a sexualidade e o desejo inconsciente não são apenas expressões de traumas ou frustrações, mas também sinais de uma busca profunda por entendimento e liberdade psíquica.

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Transferência e sexualidade: desafios éticos e terapêuticos

A sexualidade na psicanálise não se limita apenas a uma questão teórica. O manejo da transferência, especialmente quando envolvem sentimentos intensos de amor ou hostilidade, levanta importantes questões éticas no tratamento. O analista, ao lidar com a sexualidade transferencial, precisa manter uma postura de neutralidade e abstinência, evitando a satisfação de qualquer desejo transferido que possa prejudicar o processo terapêutico.

O desafio ético é grande, especialmente em casos em que o paciente desenvolve sentimentos românticos ou eróticos pelo analista. Freud e seus sucessores alertaram para a necessidade de um manejo cuidadoso e atento dessas manifestações, pois elas são, em grande parte, resistência ao próprio processo de cura. A sexualidade transferida, portanto, se torna não apenas um campo de exploração, mas também um terreno de resistência que precisa ser compreendido e trabalhado dentro das normas da psicanálise.

Conclusão: a sexualidade como via de acesso ao inconsciente

A sexualidade na psicanálise revela-se como uma expressão fundamental dos desejos e conflitos inconscientes que moldam a psique humana. Seja através da transferência, do complexo de Édipo ou das abordagens pós-freudianas, a sexualidade é vista como um fenômeno dinâmico e repetitivo, que se manifesta nas relações terapêuticas de forma intensa e reveladora. O manejo ético e técnico dessas questões demanda do analista uma sensibilidade profunda, sendo fundamental para o avanço do processo analítico.

Assim, ao compreender a sexualidade na psicanálise, não se trata apenas de explorar questões fisiológicas ou de desejo, mas de mergulhar nas profundezas do inconsciente, onde se revelam as dinâmicas que moldam nossa identidade, nossos relacionamentos e, acima de tudo, o nosso desejo mais íntimo.





A terapia de casal é uma abordagem da psicologia clínica especializada em resolver problemas conjugais, oferecendo um espaço seguro para que os casais possam explorar suas questões. Psicólogos capacitados recebem casais das mais diversas idades e crenças, para ajudá-los a superar impasses que, muitas vezes, parecem impossíveis de serem resolvidos na dinâmica cotidiana do casal.

Durante as sessões, os casais têm a oportunidade de identificar soluções saudáveis para seus desafios, encontrar o bem-estar individual de cada membro e, assim, ter uma vida mais plena. Esse tipo de terapia fortalece os laços afetivos e promove uma melhora significativa na comunicação e compreensão mútua. Neste artigo, vamos explorar como a terapia de casal funciona, os benefícios que ela oferece e como pode transformar a qualidade do relacionamento. Também discutiremos os sinais de quando é o momento ideal para buscar ajuda e iniciar o processo terapêutico.



O que é terapia de casal?

A terapia de casal é um tratamento psicológico especializado, dentro da psicoterapia contemporânea, voltado para ajudar os casais, independentemente da configuração de gênero, a superarem dificuldades e desafios que surgem ao longo da convivência. Esses desafios podem se manifestar de diversas formas, como conflitos frequentes, comunicação falha, problemas de intimidade, infidelidade ou distanciamento emocional, entre outras questões que afetam diretamente o bem-estar e a harmonia da relação.

O principal objetivo da terapia de casal é restaurar o equilíbrio emocional do relacionamento, promovendo uma compreensão mútua e fortalecendo o vínculo afetivo. Durante o processo, o terapeuta facilita o diálogo entre os parceiros, ajudando-os a identificar as causas profundas dos problemas e, mais importante, encontrar soluções adequadas e eficazes para a resolução dos conflitos. A terapia não tem a intenção de apontar culpados, mas de promover a empatia e a colaboração entre os dois, ajudando a reconstruir uma convivência mais saudável, essencial para a arte de amar.

Cada casal tem uma história diferente, com experiências e necessidades distintas. Daí, a necessidade de uma terapia personalizada, sempre levando em consideração a dinâmica específica de cada relacionamento. No contexto da procura da felicidade conjugal, o objetivo da terapia é proporcionar aos parceiros as ferramentas necessárias para melhorar a qualidade do relacionamento, fortalecer o vínculo afetivo e alcançar um equilíbrio emocional que favoreça a convivência e o bem-estar de ambos.



Como funciona a terapia de casal?

Durante as sessões de terapia de casal, um profissional especializado, geralmente um psicólogo com experiência em relações interpessoais, tem o papel de facilitar a comunicação entre os parceiros, criando um ambiente seguro e acolhedor. Portanto, o casal participa das sessões de forma conjunta. Este espaço deve permitir que ambos se sintam à vontade para expressar seus sentimentos, necessidades e preocupações, sem o medo de serem julgados ou de que haja hostilidade. O terapeuta atua com empatia e cuidado, com o foco em promover uma compreensão mútua, sem a intenção de apontar culpados, mas com o intuito de auxiliar o casal a entender os padrões de comportamento que podem estar gerando tensões ou distúrbios na relação.

A terapia de casal não busca uma solução rápida ou superficial. É uma linha de cuidado pautada na reflexão, onde o terapeuta orienta os parceiros a reconhecerem suas atitudes prejudiciais e tóxicas, muitas vezes baseadas em comunicação violenta, falta de empatia ou dificuldades relacionadas ao apego emocional.

A duração da terapia pode variar conforme a complexidade dos desafios enfrentados pelo casal. Embora as sessões ocorram geralmente de forma semanal ou quinzenal, cada encontro é uma oportunidade para analisar e praticar novas formas de comunicação e resolução de conflitos. O objetivo é que o casal saia de cada sessão mais preparado para lidar com os desafios de forma saudável, usando ferramentas e habilidades adquiridas no processo terapêutico.

A terapia de casal é estruturada em várias etapas fundamentais, que visam promover uma compreensão mais profunda para a resolução dos conflitos. Essas etapas incluem:

  • Acolhimento: O psicoterapeuta apresenta-se e explica a abordagem que será utilizada durante o processo terapêutico. O casal tem a oportunidade de se apresentar e fornecer informações pessoais, estabelecendo uma base de confiança e abertura. O ambiente é preparado para que ambos os parceiros possam expressar suas preocupações de maneira confortável..
  • Avaliação inicial: O terapeuta investiga as razões que levaram o casal a procurar ajuda, ouvindo cada parceiro de forma individual. Isso permite entender as questões que estão afetando o relacionamento, identificando as áreas que necessitam de mais atenção.
  • Diagnóstico: Com base nas informações coletadas, o terapeuta elabora um diagnóstico sistêmico conjugal, que leva em consideração a dinâmica do relacionamento e os padrões de comportamento dos parceiros.
  • Exploração emocional: Os parceiros são incentivados a compartilhar abertamente suas emoções, com foco na escuta ativa. A ênfase está em compreender a perspectiva de cada um, favorecendo uma comunicação mais eficaz e empática.
  • Identificação de padrões: O terapeuta ajuda o casal a identificar padrões de interação ou comportamentos repetitivos que perpetuam os conflitos, como falta de comunicação, críticas constantes ou a evitação de discussões importantes.
  • Desenvolvimento de estratégias: O terapeuta, junto com o casal, desenvolve estratégias para resolver os conflitos e melhorar a convivência. Técnicas de comunicação eficaz, resolução de conflitos e regulação emocional são ensinadas e praticadas. O casal também pode sugerir comportamentos que acredita que podem ajudar a resolver o problema. Cada ideia é avaliada e escolhida a mais adequada para ser experimentada, com a definição de um prazo para avaliação dos resultados.
  • Plano de ação: Ao final de cada sessão, o terapeuta sugere atividades ou tarefas para serem realizadas fora do consultório, de forma que os parceiros possam consolidar as mudanças e aplicar os novos comportamentos no cotidiano.


Essa estrutura proporciona um caminho claro para restaurar a harmonia no relacionamento e promover o crescimento individual de cada parceiro, com foco na construção de uma convivência mais saudável e equilibrada.

Objetivos da terapia de casal

O objetivo central da terapia de casal é proporcionar a regulação emocional no relacionamento, ajudando os parceiros a superar os obstáculos que prejudicam a convivência. A terapia é especialmente eficaz quando há desentendimentos constantes, comunicação deficiente ou quando os parceiros se sentem emocionalmente distantes. Problemas sexuais podem ser um reflexo de tensões subjacentes, muitas vezes relacionadas a questões emocionais não resolvidas, expectativas não atendidas ou até mesmo traumas do passado. Durante as sessões, o casal tem a oportunidade de explorar e compreender as causas profundas dessas dificuldades, que podem envolver experiências da infância, diferenças de personalidade ou conflitos não abordados.

Muitas vezes, os casais se sentem sozinhos mesmo estando em um relacionamento, o que pode ser uma das principais causas de insatisfação emocional. A sensação de solidão no relacionamento ocorre quando as necessidades emocionais de um ou ambos os parceiros não estão sendo atendidas. Esse distanciamento pode fazer com que um ou ambos sintam que estão "sozinhos juntos", o que agrava o sentimento de desconexão e isolamento. A terapia de casal oferece um espaço seguro para que esses sentimentos sejam discutidos abertamente e para que o casal trabalhe em conjunto para restaurar a intimidade e a conexão emocional.

Nesse sentido, a terapia de casal visa fortalecer o vínculo entre os parceiros, promovendo o desenvolvimento de habilidades emocionais e comportamentais que permitirão ao casal lidar de forma mais madura com os desafios que surgirem no futuro.



Benefícios da terapia de casal

A terapia de casal oferece uma série de benefícios profundos e significativos, proporcionando aos parceiros ferramentas valiosas para restaurar e fortalecer sua relação. A seguir, destacamos os principais benefícios dessa abordagem terapêutica:

BENEFÍCIOS DA TERAPIA DE CASAL GANHOS
Melhora na comunicação A terapia de casal ensina aos parceiros como se comunicar de forma mais eficaz, com foco em uma comunicação respeitosa. Os casais aprendem a expressar suas emoções e necessidades sem recorrer a críticas ou acusações. Esse aprimoramento do diálogo favorece a escuta ativa, o que contribui para a criação de um ambiente mais harmonioso e empático no relacionamento.
Fortalecimento da intimidade A terapia ajuda os casais a restabelecerem sua conexão afetiva, promovendo a abertura e a vulnerabilidade.
Resolução de conflitos A terapia de casal oferece ferramentas para lidar com desacordos de forma construtiva e não conflituosa. Ao invés de ceder a impulsos de brigas ou acusações, os casais aprendem a resolver os problemas de maneira colaborativa. Isso diminui o risco de ressentimentos e evita que desentendimentos pequenos se transformem em grandes confrontos.
Recuperação após traições ou violações da confiança Quando ocorre uma infidelidade ou qualquer outra violação de confiança, a terapia oferece um espaço seguro para lidar com a dor emocional causada. O terapeuta facilita o processo de reconstrução da confiança, ajudando os parceiros a decidirem, juntos, se querem continuar o relacionamento ou seguir caminhos separados. A terapia pode ser um ponto de renovação e crescimento após um momento difícil, ajudando o casal a restaurar a confiança mútua.
Aumento do bem-estar emocional Ao enfrentar e resolver questões importantes no relacionamento, os casais conseguem atingir um equilíbrio emocional mais estável. Isso reduz o estresse emocional proveniente de conflitos não resolvidos e ajuda a promover uma vida conjugal saudável.


Terapia de casal online: como funciona?

A terapia de casal online se tornou uma alternativa viável para muitos casais que têm dificuldades de encontrar tempo para as consultas presenciais. Funciona de forma similar à terapia tradicional, com a diferença de que as sessões são realizadas por meio de plataformas digitais, como videochamadas. Isso oferece maior conveniência e flexibilidade para os casais que moram em locais distantes ou têm uma rotina apertada.

A principal vantagem da terapia de casal online é a acessibilidade, além de permitir que os casais se sintam mais confortáveis ao conversar sobre assuntos delicados no ambiente familiar ou no conforto de sua casa.

Quando procurar ajuda psicológica para o casal?

Muitas vezes, os casais evitam procurar ajuda devido ao estigma ou à ideia de que devem resolver seus problemas sozinhos. No entanto, existem vários sinais que indicam que é o momento de buscar a terapia de casal, tais como:

  • Comunicação que se tornou agressiva ou inexistente.
  • Falta de intimidade ou conexão emocional
  • Perda de confiança após uma traição ou outra quebra significativa de vínculo
  • Conflitos frequentes sem resolução
  • Sentimento de insatisfação constante no relacionamento
  • Sensação de solidão, mesmo estando no relacionamento


Quais são as linhas de tratamento para terapia de casal?

As principais linhas da terapia de casal incluem a terapia sistêmica, a cognitivo-comportamental e a abordagem psicanalítica. Elas oferecem abordagens distintas e focadas em aspectos específicos da dinâmica conjugal, permitindo que cada casal encontre a solução mais adequada para suas necessidades.

  • Terapia sistêmica: trabalha com o casal dentro de um contexto mais amplo, considerando a influência de fatores externos, como a família, os amigos e o ambiente social. O objetivo é compreender os padrões de interação entre os parceiros e como essas influências externas afetam a dinâmica do relacionamento. Essa abordagem enfoca as interações e a forma como as relações fora do casal impactam o comportamento de ambos.
  • Terapia cognitivo-comportamental: foca nas atitudes e comportamentos do casal. Ela ajuda a identificar e modificar pensamentos disfuncionais que geram conflitos e tensões, buscando transformar padrões de comunicação e interação negativa. Além disso, propõe tarefas práticas que os parceiros podem realizar para reforçar as mudanças e ajustes no relacionamento, promovendo uma nova forma de se comunicar e lidar com as dificuldades cotidianas.
  • Abordagem psicanalítica: mergulha nas questões inconscientes que podem estar influenciando o comportamento e os sentimentos do casal. Essa abordagem explora as influências das famílias de origem de cada parceiro, investigando como os padrões aprendidos no passado influenciam as reações, expectativas e comportamentos no relacionamento atual. O objetivo é compreender e resolver conflitos mais profundos, muitas vezes ligados a questões não resolvidas de ambos.


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Perguntas para terapia de casal: como começar?

Para muitos casais, o primeiro desafio é reconhecer a necessidade de ajuda. Isso geralmente acontece quando os problemas no relacionamento se tornam recorrentes e difíceis de resolver por conta própria. Quando a comunicação se torna difícil, a intimidade começa a desaparecer ou os conflitos se intensificam, pode ser hora de procurar apoio profissional. Reconhecer esses sinais e entender que a ajuda de um terapeuta pode ser fundamental para melhorar a relação é o primeiro passo importante.

Após perceber que a terapia pode ser a solução, o próximo passo é buscar um terapeuta especializado. É importante encontrar um profissional com experiência em terapia de casal, que tenha um bom entendimento dos desafios comuns que os casais enfrentam. Hoje, muitos terapeutas oferecem consultas tanto presenciais quanto online, o que aumenta ainda mais a acessibilidade para aqueles com uma rotina apertada ou que moram em lugares distantes.

Ao marcar a primeira consulta, o casal deve estar preparado para falar sobre suas preocupações e expectativas em relação à terapia. Muitas vezes, essa primeira sessão é um momento de esclarecimento, onde o terapeuta explica como funciona o processo terapêutico, quais são os objetivos e o que se espera de cada parceiro durante o tratamento. Para alguns casais, o simples fato de ter um espaço seguro para expressar sentimentos pode ser o início de uma mudança significativa. É importante estar disposto a ser transparente e honesto, já que isso cria a base para um processo terapêutico eficaz.

Nesse sentido, é essencial que ambos os parceiros estejam comprometidos com o processo, entendendo que as mudanças podem levar tempo. Não há um tempo exato para ver os resultados, mas, com dedicação, a terapia pode ajudar a reconstruir a confiança, restaurar a intimidade e melhorar o vínculo afetivo.

Para que a terapia seja eficaz, é fundamental que o casal mantenha a mente aberta e esteja disposto a ouvir e refletir sobre suas próprias atitudes. Isso exige paciência, especialmente quando se enfrentam temas sensíveis ou questões que podem ter sido ignoradas por um longo tempo.

Conclusão

A terapia de casal é uma ferramenta importante para restaurar o bem-estar no relacionamento, promovendo mudanças significativas na comunicação, na resolução de conflitos e no fortalecimento dos laços afetivos entre os parceiros. Quando enfrentam dificuldades constantes, como desentendimentos frequentes, distanciamento emocional ou falta de intimidade e de admiração mútua, a terapia pode ser a melhor alternativa para revitalizar a relação. As mudanças que surgem nesse processo são essenciais para quebrar padrões disfuncionais e abrir espaço para a evolução do relacionamento.

Ao se comprometer com a terapia de casal, vocês estarão investindo no futuro do relacionamento. O processo pode trazer transformações importantes, como o desenvolvimento de um novo repertório de comunicação, negociação e alinhamento de objetivos, além de contribuir para a melhoria da vida sexual e emocional. Essas mudanças são fundamentais para a superação de velhos hábitos.

Perguntas Frequentes sobre Terapia de Casal

O que é terapia de casal e como ela pode ajudar?

A terapia de casal é uma abordagem psicoterapêutica focada em melhorar a dinâmica do relacionamento, ajudando o casal a resolver conflitos, melhorar a comunicação e fortalecer os laços afetivos.

Como funciona a terapia de casal online?

A terapia de casal online funciona de maneira similar à presencial, mas as sessões são realizadas por meio de videochamadas, oferecendo maior conveniência e flexibilidade.





Referências

https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/09/12/terapia-de-casal-salva-o-relacionamento-entenda-quando-ela-pode-ajudar.htm

https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2024/03/09/terapeutas-contam-o-que-os-casais-mais-levam-para-terapia-de-casal.htm

https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/terapia-de-casal-saiba-quando-ela-e-indicada,4c9e2021095c2a84618aefcc3debd6e8ssgzjxo9.html




Depois daqueles dois anos que ficamos trancados dentro de nossas casas, impossibilitados de sair, interagir e exercer nossos papéis sociais – você deve se lembrar do que estamos falando –, a psicologia começou a ser vista com outros olhos, ganhando maior importância na vida da maioria das pessoas, abrindo assim a oportunidade de acesso a diversos tipos de terapia.

Mas suas tantas vertentes não tiveram início nesse tempo sombrio que tentamos – a duras penas – apagar de nossas mentes, elas vem se desenvolvendo e evoluindo à medida que as necessidades humanas surgem e se modificam. É o famoso Zeitgeist – termo alemão que significa "espírito do tempo".

Dentro desse contexto, você já deve ter ouvido a famosa frase: “todo mundo precisa de terapia”, mas será que estamos conseguindo acessar o que, de fato, nos coloca nesse lugar?

Não à toa, a psicoterapia contemporânea bebe de diversas fontes, sendo um conglomerado de teorias e conceitos que compartilham de ideias, muitas vezes, semelhantes – ou que se complementam.

Imagem computadorizada. Fundo bege, meio cinza, com uma estrutura redonda que possui três degraus no canto direito. No meio da estrutura, um busto humano andrógino. De seu peito se abre uma porta, de onde saem nuvens, com uma escada. Na beirada da escada, um homem está parado olhando para a porta.

Conseguimos explicar o que é psicologia?

Quando nos deparamos com as tantas nomenclaturas que as linhas da psicologia abrangem, acabamos gerando certa confusão de qual direção tomar, qual curso fazer ou qual caminho se deve seguir.

E é exatamente isso que Luiz Hanns aborda em seu curso “Psicoterapia contemporânea: por uma integração transteórica de diversas práticas e teorias”, em que nos convoca a pensar nas tantas psicologias existentes como sendo conectadas umas com as outras, ampliando olhares e conhecimentos a fim de extrair bases fundamentais para o atendimento clínico.

Vale ressaltar que um psicólogo generalista tende a não se aprofundar em transtornos complexos, como borderline e anorexia, pois esses quadros exigem um alto grau de especialização, além de longas horas de estudo, supervisão e prática clínica específica. Nesses casos, é essencial que o paciente receba não apenas acolhimento e orientação adequados, mas também um direcionamento claro para profissionais ou abordagens com maior experiência na área.

Existem diversas teorias psicológicas que frequentemente divergem entre si, muitas vezes gerando rivalidades e debates contínuos. Além disso, algumas abordagens são tão distintas em seus princípios e métodos que não deveriam ser enquadradas no mesmo sistema de comparação ou avaliação, pois operam a partir de fundamentos epistemológicos completamente diferentes.

Quer saber como funciona na prática? Aprenda com o curso “Psicoterapia contemporânea: por uma integração transteórica de diversas práticas e teorias

thumb do curso 'Psicoterapia contemporânea', por Luiz Hanns


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Os debates entre as linhas da psicologia

Podemos citar algumas “comparações” como Sigmund Freud e Carl Jung, uma vez que se fala muito sobre a separação de ambos. No debate, a psicanálise é considerada por vários países como sendo uma modalidade de psicoterapia, que analisa os sintomas e tem como uma das bases a teoria da libido.

Enquanto outros dizem que a psicologia analítica consegue ir mais profundo, através do inconsciente coletivo e dos arquétipos – claro que estamos trazendo aqui uma mínima pincelada.

Ao longo de sua trajetória, o psicólogo pode ou não se identificar com uma abordagem específica. É igualmente importante considerar como, no meio acadêmico e profissional, se estabelece quais abordagens prevalecem, quais podem coexistir e quais acabam sendo gradualmente rejeitadas ou caindo em desuso.

Segundo Hanns, para que uma ou mais teorias avancem e alcancem maior aceitação acadêmica e social, é necessário compreender a dinâmica da retórica científica e acadêmica.

Esse processo não se baseia em quem grita mais alto, em disputas agressivas ou em ataques pessoais, mas sim em um conjunto de parâmetros que, embora não garantam que uma teoria seja intrinsecamente mais científica do que outra, fornecem argumentos mais sólidos dentro do debate.

Esses argumentos podem aumentar a aceitação de uma teoria sobre outra ou, em alguns casos, permitir que duas teorias dominem o campo, mesmo que sejam antagônicas entre si – por isso, é essencial reconhecer a evolução das abordagens dentro da psicoterapia.

Imagem computadorizada. Fundo azul claro, meio esverdeado, com busto humano andrógino ao centro. O topo da sua cabeça está cortado e o cérebro é exposto como se fosse um labirinto. Seu rosto também está projetado para fora, como uma máscara. Em seu peito consta uma porta, de onde sai uma escada.

Conhecendo algumas linhas da psicologia

É fundamental manter a coerência de uma teoria não apenas internamente, mas também em diálogo com áreas afins. As diferentes disciplinas – quando em formação – estão em constante interação, e a psicoterapia não pode se isolar como um campo independente que ignora outros saberes – mesmo que algumas abordagens tentem sustentar essa ideia. O ideal é que apresentem congruência com outras áreas do conhecimento, garantindo um embasamento sólido e interdisciplinar.

A psicologia é uma área bastante ampla e diversa, oferecendo cuidado à saúde mental, bem como proporcionando bem-estar àqueles que se dedicam ao seu processo como clientes, analisados ou pacientes – cada abordagem trata de uma maneira distinta.

Neste texto, focamos na psicologia clínica, um dos principais ramos da psicologia, voltado para a avaliação, diagnóstico, tratamento e prevenção de transtornos mentais, emocionais e comportamentais. Seu objetivo é promover o bem-estar psicológico e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, ajudando-os a lidar com desafios internos e externos de maneira mais saudável.

O psicólogo clínico trabalha diretamente com indivíduos, casais, famílias ou grupos, utilizando diferentes abordagens para compreender e tratar problemas emocionais e comportamentais.

Esse processo, muitas vezes, começa com uma avaliação psicológica, que pode envolver entrevistas, testes e a análise do histórico do paciente para compreender melhor quais são as suas dificuldades e necessidades.

A psicologia clínica não se limita a uma única linha teórica. Existem diversas abordagens, cada uma com sua visão sobre a psique humana, o desenvolvimento dos transtornos e os métodos de intervenção. Algumas das principais são:

LINHA TEÓRICA ABORDAGEM
Psicanálise e Psicodinâmica Tem como base as teorias de Freud, Winnicott, Lacan, dentre outros – costumam ser mais longas e consideradas profundas, investigando processos inconscientes e sintomas que afetam a vida do paciente.
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) Enfatiza a relação entre pensamentos, emoções e comportamentos, ajudando o paciente a identificar e modificar padrões disfuncionais. Baseada em evidências e amplamente utilizada no tratamento de transtornos como ansiedade, depressão, TOC e fobias.
Humanista e Existencial Foca na experiência subjetiva do paciente, na busca por significado e na autorrealização. Abordagens como a Terapia Centrada na Pessoa (Carl Rogers) e a Logoterapia (Viktor Frankl) valorizam o crescimento pessoal e a autodeterminação.
Gestalt-terapia Trabalha a consciência do momento presente e a responsabilidade do indivíduo sobre suas emoções e comportamentos. Incentiva a integração de diferentes aspectos da experiência do paciente para promover o autoconhecimento.
Terapias de Terceira Onda São abordagens mais recentes dentro da TCC, incorporando elementos de aceitação, mindfulness e valores pessoais. Exemplos incluem a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) e a Terapia Comportamental Dialética (DBT) – eficaz para transtorno de personalidade borderline.
Psicologia Analítica (Junguiana) Criada por Carl Jung, enfatiza o inconsciente coletivo, os arquétipos e o processo de individuação como chave para o desenvolvimento pessoal. Utiliza a análise de sonhos, mitos e símbolos para auxiliar na compreensão dos conflitos internos.


Atualmente, a psicologia clínica tem se expandido e integrado novas tecnologias, incluindo terapias online e abordagens interdisciplinares envolvendo neurociência e psiquiatria. O campo continua a evoluir, buscando sempre formas mais eficazes e acessíveis de promover a saúde mental e o bem-estar.

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Afinal, qual a diferença entre analista, terapeuta e psicólogo?

Fazer comparações não é o nosso objetivo aqui, mas sim esclarecer os papéis e as formas de atuação dos profissionais ligados à saúde mental de milhares de pessoas.

A diferença principal entre analista, terapeuta e psicólogo está no nível de formação, no tipo de atuação e na abordagem utilizada no atendimento clínico.

  • Psicólogo: graduação em psicologia + CRP – Atua com psicoterapia, avaliação psicológica e intervenções terapêuticas. Pode diagnosticar pacientes.
  • Terapeuta: formação variada (pode ou não ser psicólogo) – Trabalha com diferentes formas de terapia (psicológicas ou holísticas). A possibilidade de poder ou não diagnosticar irá depender da formação.
  • Analista: formação em psicanálise (pode ou não ser psicólogo) ou psicologia analítica – Atua com psicanálise (Freud, Lacan) ou análise junguiana (Jung).


O psicólogo é um profissional formado em psicologia, com curso superior de quatro a cinco anos, podendo atuar em diversas áreas, como clínica, organizacional, educacional, esportiva, hospitalar e social.

Para atuar, é necessário ter registro no Conselho Regional de Psicologia (CRP) e escolher uma abordagem para conduzir seus atendimentos, podendo realizar avaliações psicológicas, testes, diagnósticos e intervenções terapêuticas.

O terapeuta, por outro lado, é um termo mais amplo e não exige necessariamente formação em psicologia. Ele pode atuar no campo da saúde mental, emocional e comportamental sem precisar ser psicólogo ou possuir CRP.

Um terapeuta pode ser um psicoterapeuta, caso tenha formação em uma abordagem psicológica específica ou atuar em áreas complementares – sua atuação depende das regulamentações locais e do campo de especialização. Vale ressaltar – e colocar em letras garrafais – que para escolher um terapeuta os pacientes devem se aprofundar em suas pesquisas, visto que existem muitas abordagens sendo trabalhadas sem bases científicas ou comprovações teóricas.

O analista pode seguir diferentes formações dependendo da abordagem adotada. No caso da psicanálise Freud, Lacan –, a formação pode ser realizada em instituições psicanalíticas sem a necessidade de um diploma em psicologia, mas necessitando de uma formação acadêmica e de bases sólidas no estudo de psicanálise, permitindo até mesmo que profissionais de outras áreas da saúde atuem como psicanalistas. Alguns psicanalistas contemporâneos de renome, como Ana Suy, reforçam que a formação em psicologia atrelada à atuação em psicanálise é extremamente proveitosa ao profissional.

Já a psicologia analíticaJung – exige formação superior em psicologia para que o profissional possa atuar como analista junguiano. Esse requisito se deve ao fato de que essa abordagem faz parte do campo da psicologia e exige uma base acadêmica formal para aplicação clínica.

Na prática, o analista trabalha com métodos específicos de sua abordagem, como associação livre, interpretação de sonhos, inconsciente coletivo e arquétipos, dependendo da linha teórica adotada.

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Referências bibliográficas

HANNS, Luiz. Psicoterapia contemporânea: por uma integração transteórica de diversas práticas e teorias. Casa do Saber.

SANTI, Pedro Luiz Ribeiro; FIGUEIREDO, Luís Cláudio. Psicologia: uma (nova) introdução. São Paulo: Educ, 2008.

E se, no texto de hoje, a gente te propuser um desafio: tirar um tempo para refletir a respeito da sua felicidade? Atualmente, a maioria das pessoas corre de maneira desenfreada sem se dar conta do que está se passando ao redor – e dentro – delas. E a incessante busca do que é felicidade acaba sendo colocada como um objetivo a ser alcançado – ou um item a ser comprado. Mas a psicologia positiva tem outra ideia sobre esse tipo de fato e, dentro desse cenário, a pergunta que fica é: “o que é felicidade para você?”.

Segundo Luiz Hanns, em seu curso “A tal da felicidade: a busca de uma vida mais plena”, essa busca pela felicidade é recente, indo contra a ideia de que é algo inerente ao ser humano.

Isso porque, em tempos passados, existiam algumas hierarquias de metas da vida, onde a felicidade estava amplamente ligada a cumprir ciclos, como casar, ter filhos, estudo e um bom emprego, por exemplo. Mas, e agora?



O impacto da psicologia positiva na história da psicologia

Nos Estados Unidos, e em outros países da língua inglesa, estamos acostumados à associação da palavra happiness – que significa aquilo que acontece –, partindo do pressuposto de que se coisas boas ocorrem, nós estamos felizes.

O termo caminha lado a lado ao que se percebia como a verdadeira felicidade, que era ter segurança, saúde, fartura, o direito de ir e vir, além da cidadania (não que isso também não seja fundamental hoje em dia – a pirâmide de Maslow que nos diga).

Antes da Segunda Guerra Mundial, a psicologia tinha três objetivos principais: tratar transtornos mentais, promover uma vida mais satisfatória e plena para as pessoas, reconhecer e estimular talentos.

No entanto, após o conflito, passou a concentrar-se quase exclusivamente na pesquisa e no tratamento das doenças mentais, deixando um pouco de lado a valorização das qualidades e potenciais humanos.

O contexto histórico desse período teve um impacto significativo nessa mudança de foco, resultando em uma menor atenção ao estudo das virtudes humanas ao longo da segunda metade do século XX.



Pode-se dizer que em anos não tão antigos assim, a sociedade era menos acometida por diagnósticos e sintomas como depressão, melancolia, frustração e estresse. Talvez – aqui é uma especulação – pelo fato de existirem tantas “certezas” sobre os processos e trajetos pelos quais a vida iria passar.

Como dito anteriormente, a psicologia tinha – e ainda tem em algumas vertentes – foco em patologias, com abordagens variadas que costumam enfatizar a angústia do ser humano, esquecendo da ideia de vocação para a felicidade.

O conceito de felicidade que conhecemos hoje é bastante recente, tendo sido “criado” por volta de 1960, onde a alegria de viver era muito mais do que trabalhar duramente, tendo um sentido voltado à capacidade das pessoas conseguirem usufruir das coisas, derivando assim de condições internas.

Foi então que, através de Martin Seligman, surgiu a psicologia positiva, uma das linhas da psicologia que trabalhamos até os dias atuais. Martin – um dos fundadores – e outros teóricos se dedicaram a estudos sistemáticos da felicidade, onde olhavam para os pacientes de forma a encontrar o bem-estar, como ele se definia e como se promovia.

Imagem gerada por inteligência artificial. Jovem adulto de cabelos castanhos e enorme sorriso, usa blusa branca. Ao fundo uma parede colorida e em toda a imagem respingos de tinta.

Felicidade não é euforia, é satisfação consigo mesmo e com a vida

Não existe uma forma de explicar o que é felicidade – ou como ela se apresenta para cada um de nós –, pois existem fatores que precisam estar alinhados e em congruência, facilitando o acesso a esse estado “de ser feliz”.

As escolhas de vida dos seres humanos não são pautadas apenas na busca pela felicidade, visto que existem objetivos diversos – separados em cinco pela psicologia positiva:

  • Felicidade.
  • Relacionamentos.
  • Propósito.
  • Engajamento.
  • Realizações.


Em uma curva de análise considerada como normal, cerca de 60% da felicidade de uma pessoa depende de genética, epigenética e condições biológicas – o que é um número bastante alto. Outra parte depende das condições de nascimento do indivíduo, como a cultura em que está inserido, por exemplo.

Ao longo da vida, também existem picos de felicidade, que variam de acordo com a idade – 12 a 18 anos, com picos de bem-estar; 20 a 40 anos, com picos de ansiedade; e de 50 anos em diante pode-se observar uma melhoria.

Dito isso, para uma outra parte ainda maior, a sensação de bem-estar é fruto de uma aprendizagem, sendo adquirida ao longo da trajetória do viver. Porém, pensar em tudo isso pode nos levar a uma ideia de um projeto ingênuo de felicidade e, como Hanns traz em seu curso – o qual falamos na introdução deste texto – queremos lidar com um ideal de felicidade realista, mas temos quatro obstáculos:

  1. A vida, em essência, é um estresse. Existe um esforço feito contra o meio ambiente, o próprio organismo está em luta a todo momento, inclusive contra a morte. A harmonia que imaginamos – e almejamos – não é dada estruturalmente, é uma vida tensionada e vocacionada para a luta.
  2. Existe uma dualidade, onde o princípio do prazer nos guia e nos indica para onde ir, como se fosse uma bússola para a felicidade – teoria amplamente discutida por Freud. Dessa forma, o prazer pode ser considerado como um alívio de tensão e o princípio da realidade se opõe ao princípio do prazer – onde precisamos conter o impulso perante aquilo que desejamos.
  3. Muitas das coisas que acontecem ao longo da vida conspiram contra a felicidade, sendo acumuladas a cada minuto. Como seres humanos, possuímos a capacidade única da consciência reflexiva, o que nos permite atribuir significado às nossas vivências e desenvolver resiliência emocional – ou não.
  4. As relações humanas são naturalmente complexas, pois envolvem indivíduos com histórias, perspectivas e desejos distintos. Essa complexidade se manifesta em uma constante negociação entre o que queremos e o que o outro deseja.


Dessa forma, é necessário que tenhamos uma observação detalhada de cada um desses itens, a fim de construir uma vida que valha a pena – para si mesmo. O que nos leva a outro ponto crucial dentro do conceito da psicologia positiva: o ajuste da congruência de seis elementos fundamentais.

Imagem gerada por inteligência artificial. Jovem adulto, à esquerda da imagem, de cabelos castanhos e enorme sorriso, usa blusa branca. À direita, uma jovem adulta, também de sorriso largo, usa regata azul. Ao fundo uma parede colorida e em toda a imagem respingos de tinta.

A arte de viver leva tempo

Ter apenas uma ação positiva não vai fazer com que suas relações saiam do zero e atinjam altos patamares de plenitude. É preciso elaborar certos fundamentos para que as análises sejam profundas e quase precisas – porque nada é perfeito quando se trata de viver, até porque, sempre que achamos estar no caminho da felicidade, algo extra – melhor ou pior – aparece, fazendo com que esse querer nunca cesse.

Existem forças humanas que desempenham um papel importante na proteção contra a doença mental, são elas: coragem, foco no futuro, esperança, otimismo, competências interpessoais, fé, trabalho ético, honestidade, a capacidade de “flow” e de compreensão, além de perseverança.

Essa abordagem enfatiza e potencializa os aspectos positivos dos clientes, sem ignorar seu sofrimento, utilizando essas qualidades como ferramentas para o processo de terapia.

Sendo assim, a psicoterapia positiva propõe uma transição gradual para um equilíbrio no foco terapêutico, indo além das fragilidades e dificuldades. Em vez de apenas tratar o sofrimento psicológico, busca compreendê-lo de forma mais ampla, incentivando o uso dos próprios recursos – tanto internos quanto interpessoais – para enfrentar os desafios apresentados pela vida.



Ao reconhecer suas forças, desenvolver habilidades para cultivar emoções positivas, fortalecer conexões interpessoais e encontrar propósito e significado, é possível experimentar um processo terapêutico mais motivador, fortalecedor e transformador.

O propósito central da psicologia positiva é ensinar estratégias concretas e aplicáveis que ajudem cada pessoa a usar suas potencialidades para construir uma vida mais engajada, satisfatória e plena.

Com essa abordagem, o papel do terapeuta se expande: ele deixa de ser apenas um especialista que identifica déficits e passa a atuar ativamente como um facilitador do crescimento, da resiliência e do bem-estar.

Para isso, também precisamos olhar para as seis competências e aptidões que cada pessoa possui, fortalecendo a congruência de fatores específicos que poderão levar à felicidade (para maior compreensão do tema conferir a imagem na sequência).

  1. Interesse, entusiasmo em experimentar – flow. O "flow" é um estado de imersão total e entusiasmo por atividades que desafiam habilidades, promovendo prazer, aprendizado e criatividade. Pessoas que buscam novas experiências tendem a viver mais plenamente e se tornam mais resilientes. No entanto, é importante equilibrar esse entusiasmo com a reflexão sobre os riscos e consequências para evitar a superficialidade e manter o foco.
  2. Desejo por autonomia, independência e o fazer por conta própria. É necessária uma postura proativa perante o que a vida traz. Aqueles que não possuem esse tipo de competência tendem a entrar em um esquema de dependência.
  3. Habilidade interpessoal, empatia, traquejo, senso diplomático. As pessoas que não possuem esses tipos de aptidões, muitas vezes, podem engolir muito sapo e serem extremamente confrontantes.
  4. Relação com o erro e a garra. É preciso saber admitir os erros cometidos, além de ter força de vontade para fazer – e fazer diferente. Indivíduos que possuem tais características em excesso podem se tornar obsessivos.
  5. Frustração e flexibilidade. Saber gerir momentos de frustração, independente do grau, levam o indivíduo ao outro item, que é a flexibilidade, em que é possível se adaptar ao meio e ao que acontece nele. O excesso acaba levando a não se ter metas consistentes.
  6. Planejamento e execução. É interessante conter o impulso e o desejo para que a vida seja mais satisfatória, onde é possível garantir um prazer futuro melhor estruturado. Em excesso, tais características deixam a vida sem graça e tira a capacidade de que a pessoa usufrua dela.


Já no caso da congruência, conforme mencionado, seguimos um fluxo de itens que precisam de certo equilíbrio, são eles:

slide sobre congruência, software e aprendizagem

Retirado do curso “A tal da felicidade: a busca de uma vida mais plena”, de Luiz Hanns.


Logo, de acordo com o pai da psicologia positiva, Martin Seligman, o entendimento das forças e virtudes humanas pode promover o "florescimento" das pessoas, comunidades e instituições.

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thumb do curso 'Psicoterapia contemporânea', por Luiz Hanns


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Identificando e organizando as forças e virtudes rumo à felicidade

O “florescimento” falado acima é visto como o desenvolvimento completo, saudável e positivo dos aspectos psicológicos, biológicos e sociais dos seres humanos. Com isso, os estudiosos criaram um manual para classificar as forças de caráter e virtudes – CSV (Character, Strengths and Virtues) –, voltado para o bem-estar psicológico, de forma análoga ao manual que existe para classificar as desordens mentais – DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders).

O objetivo desse manual foi identificar e organizar as forças e virtudes que ajudam as pessoas a alcançar seu pleno potencial. Ele contém uma lista de 24 forças de caráter, organizadas em 6 virtudes principais.

VIRTUDES E FORÇAS QUE A INTEGRAM DEFINIÇÃO
1. Sabedoria e conhecimento

Forças cognitivas que se relacionam com a aquisição e o uso do conhecimento.

Criatividade Pensar numa maneira nova e produtiva de fazer as coisas.
Curiosidade Ter interesse por todas as experiências e acontecimentos.
Originalidade Pensar nas coisas através e examinando todas as perspectivas.
Gosto pela aprendizagem Dominar novas competências, assuntos e corpos de conhecimento.
Empatia Ser capaz de dar conselhos apropriados aos outros.
2. Coragem

Forças emocionais que envolvem o exercício da vontade para atingir metas, face à oposição interna ou externa.

Autenticidade Falar a verdade e apresentar-se de uma forma genuína.
Ousadia Não evitar desafios, dificuldades ou sofrimentos.
Persistência Terminar o que começou.
Entusiasmo Enfrentar a vida com entusiasmo e energia.
3. Bondade

Forças interpessoais que envolvem colaborar e apoiar os outros. Prestar favores e praticar boas ações.

Amor Valorizar as relações próximas com os outros.
Inteligência social Estar consciente das suas motivações e sentimentos e das dos outros.
4. Justiça *
Equidade Tratar todas as pessoas de forma igual de acordo com as noções de lealdade e justiça.
Liderança Organizar atividades de grupo e certificar-se que elas se realizam.
Trabalho em equipe Trabalhar bem enquanto membro de um grupo ou equipe.
5. Moderação Forças que protegem contra os excessos.
Perdão Perdoar aqueles que fizeram algo de errado.
Modéstia *
Prudência Ter cuidado com as escolhas: não dizer nem fazer coisas de que se possa arrepender depois.
Autocontrole Controlar o que diz e sente.
6. Transcendência *
Apreciar a beleza e a excelência Ver e apreciar a beleza, a excelência e/ou desempenhos excelentes em todos os domínios da vida.
Gratidão Estar consciente e agradecido pelas coisas boas que acontecem.
Esperança Esperar o melhor e trabalhar no sentido de o alcançar.
Humor Gostar de rir e gracejar; fazendo com que os outros sorriam.
Religiosidade Ter crenças coerentes acerca do alto propósito e significado da vida.


Todo o quadro e seu conteúdo foram retirados do material referente à Martin Seligman: “Todo mundo pode florescer”, na reportagem por Letícia Sorg. Fonte: Revista ÉPOCA online, 20 de maio de 2011. *Os itens que constam sem explicação, também estavam em branco no quadro original.

O avanço da psicologia positiva pode ajudar a prevenir diversas desordens emocionais. Além disso, pode favorecer a saúde física, fortalecer indivíduos sem transtornos psicológicos, aumentar sua produtividade e contribuir para o desenvolvimento pleno de seu potencial.

Então, para que serve o psicólogo?

O que é psicologia positiva, sem um psicólogo que desempenha um papel fundamental ao ajudar as pessoas a reconhecerem e cultivarem suas emoções positivas, fortalecendo a resiliência e descobrindo um sentido mais profundo de propósito e satisfação? Nada. Seu trabalho vai além do tratamento de transtornos, ampliando as possibilidades de alcançar o bem-estar e a qualidade de vida.

Para isso, a escuta ativa e uma visão holística são essenciais, considerando os diversos aspectos que influenciam a experiência humana. Dessa forma, os indivíduos tornam-se mais conscientes e preparados para tomar decisões alinhadas aos seus valores e objetivos de vida, trilhando um caminho mais autêntico rumo à felicidade.

Afinal, todas as áreas da vida — desde as relações conjugais, amizades e sexualidade até o trabalho, a criação dos filhos e os desafios da jornada — envolvem potencialidades, virtudes, temperamentos e fatores individuais que moldam nossa existência.




Referências bibliográficas

SELIGMAN, Martin E. P. Felicidade autêntica – usando a nova psicologia positiva para a realização permanente. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

SELIGMAN, Martin E. P. Todo mundo pode florescer. Reportagem por Letícia Sorg Fonte: Revista ÉPOCA online, 20 de maio de 2011.

SELIGMAN, Martin E. P; RASHID Tayyab. Psicoterapia positiva - manual do terapeuta. Porto Alegre: Artmed, 2019.

O que você quer ser quando crescer?” Durante a nossa infância e grande parte da juventude, ouvimos essa frase e, por pelo menos alguns minutos, pensamos nela com certa profundidade.

Mesmo que não saibamos o real sentido do que essa pergunta nos traz tão cedo, quando ainda nem temos o córtex pré-frontal – grande tomador de decisões – totalmente formado, ela nos remete ao que podemos chamar de potencialidades e, dentro do humanismo, é exatamente disso que estamos falando.

Todos nós, como seres humanos, nascemos com potencialidades a serem desenvolvidas e, dentro da perspectiva da psicologia humanista, a forma como buscamos pelo sentido da vida e a autoatualização – como o indivíduo desenvolve todas as suas possibilidades de crescimento – é encarada com grande ênfase.

Características do humanismo e seu surgimento

A psicologia humanista surgiu entre as décadas de 1940 e 1950 como uma resposta às abordagens dominantes da época, como o behaviorismo – que priorizava os comportamentos observáveis – e a psicanálise – que enfatizava os aspectos inconscientes e patológicos da psique.

Em contraste, a abordagem humanista foca no potencial humano, nas experiências subjetivas e no desenvolvimento saudável do indivíduo.

Caracterizada por uma visão otimista da natureza humana, parte do princípio de que as pessoas possuem capacidade de crescimento, transformação e autorrealização – seu nome reflete esse foco centrado no ser humano e nas suas experiências.

Diferente das correntes anteriores, essa abordagem busca compreender o indivíduo de maneira integral e holística, considerando também seus pensamentos, sentimentos, necessidades e desejos.

O termo humanista está relacionado a uma filosofia que enfatiza o valor e a dignidade do ser humano, sustentando que cada pessoa possui um potencial inato para o crescimento e a autotransformação. Dessa forma, não se limita a tratar patologias, mas se dedica a promover um estado de bem-estar, autenticidade e realização pessoal.

Podemos dizer que está profundamente alinhada com diversas correntes filosóficas, pois compartilham de uma visão positiva e otimista sobre a natureza humana, o desenvolvimento pessoal e a busca por um sentido existencial, como mencionado. Essa relação com a filosofia é especialmente evidente em sua ênfase no autoconhecimento, na liberdade de escolha e na busca por autenticidade.



Os principais teóricos da psicologia humanista, seus conceitos e objetivos

Para o desenvolvimento de qualquer teoria, geralmente, temos como base a participação de muitos nomes, dando continuidade ao que está sendo trabalhado na época em questão ou aperfeiçoando alguns – ou muitos – pontos.

Com a psicologia humanista não poderia ser diferente, por isso, fizemos um apanhado com os principais teóricos que contribuíram significativamente para o campo, influenciando terapias centradas no indivíduo, abordagens existenciais e a psicologia positiva.

Foto preto e branco de Abraham Maslow. Senhor sorridente, com cabelos curtos e cinzas. Veste um suéter e uma blusa social por baixo.

Abraham Maslow

É fato que você já ouviu falar de Maslow pelo menos uma vez na sua vida, visto que ele está presente na maioria dos cursos superiores, seja no marketing, na administração ou na psicologia.

Famoso por sua teoria da hierarquia das necessidades – a tal da pirâmide –, sugeriu que os seres humanos têm uma sequência de necessidades que precisam ser atendidas para que possam atingir o seu pleno potencial e ela se divide em cinco níveis:

  1. Necessidades fisiológicas – básicas e fundamentais para a sobrevivência: água, sono, alimentação.
  2. Necessidade de segurança – proteção e estabilidade: segurança física, financeira, emprego, saúde.
  3. Necessidades sociais – relacionamentos interpessoais, amor e pertencimento: amigos, família, intimidade, grupos sociais.
  4. Necessidade de estima – autoestima e reconhecimento externo: independência, confiança, competência, status, respeito, reconhecimento de terceiros.
  5. Necessidade de autorrealização – realização do propósito de vida, crescimento pessoal, desenvolvimento do máximo potencial.

Ou seja, no topo dessa hierarquia está a autoatualização, o processo de realização do potencial máximo do indivíduo, como busca trabalhar a psicologia humanista. Porém, muito se engana aquele que acha que existe uma certa rigidez, pois nada acontece de forma linear ou programada – cada pessoa vai ter um tipo de prioridade.

Depois de mais alguns – muitos – anos de estudo, Maslow acrescentou um sexto nível, de acordo com alguns pesquisadores, chamado de “metanecessidades” – ou transcendência.

Foto em preto e branco de Carl Rogers. Senhor de terno, com blusa social clara. Calvo, com óculos de graus e segurando uma espécie de jornal.

Carl Rogers

Esse é um dos teóricos que muitos estudantes e profissionais, que se dedicam à psicologia humanista existencial, querem guardar num potinho.

Rogers desenvolveu a Terapia Centrada na Pessoa, colocando o indivíduo no centro do processo terapêutico, pois acreditava que a saúde mental resulta de um ambiente acolhedor, com empatia e aceitação – criando um espaço seguro para o desenvolvimento pessoal.

Também formulou o conceito de autoatualização, defendendo que os seres humanos possuem uma tendência natural de buscar seu pleno desenvolvimento. No entanto, esse crescimento só ocorre quando há um ambiente favorável e apoio emocional, como mencionado.

Outro ponto fundamental em sua teoria é a relação entre o self real e o self ideal. Segundo Rogers, o bem-estar psicológico depende da congruência entre quem a pessoa realmente é e quem gostaria de ser – quanto maior a discrepância entre esses dois aspectos, maior o sofrimento emocional.

Além disso, enfatizava a importância da experiência e da subjetividade, acreditando que cada indivíduo interpreta o mundo de maneira única e que essa visão pessoal deve ser respeitada.

O que Rogers nos deixou como ensinamento e teoria, vai além da psicoterapia. Seu foco na escuta ativa e na empatia continua sendo um dos pilares para relações interpessoais saudáveis e eficazes, tornando suas contribuições extremamente relevantes até os dias atuais.



Foto em preto e branco de Rollo May. Senhor de cabelos grisalhos, óculos de grau e vestindo uma blusa de gola alta. Ao fundo, uma estante de livros.

Rollo May

May foi amplamente influenciado pela filosofia existencialista de grandes nomes – Søren Kierkegaard, Friedrich Nietzsche e Jean-Paul Sartre –, abordando questões como ansiedade, liberdade, responsabilidade e autenticidade.

Ele acreditava que o ser humano deve enfrentar os desafios existenciais para alcançar autenticidade, pois isso pode impulsionar o crescimento – desde que não se torne paralisante.

Um dos conceitos centrais apresentados por ele em sua teoria é a ansiedade existencial – parte natural da vida e do desenvolvimento humano –, que ele diferenciava da ansiedade neurótica – que paralisa e impede a ação.

De modo geral, acreditava que a ansiedade acaba surgindo a partir do confronto com a necessidade de escolher e assumir a responsabilidade por nossas próprias vidas e, dentro do seu conceito, é essencial aceitar e aprender a lidar de maneira construtiva.

Isso também está bastante alinhado com outro dos seus temas: a liberdade, que, para ele, não significa apenas poder fazer escolhas, mas sim assumir responsabilidades por elas – um compromisso com a existência.

May ainda busca explicar a autenticidade, quando traz notícias a respeito do alinhamento entre ações e valores profundos, sem conformismo com expectativas advindas do exterior. Uma característica que podemos ver diariamente em nossas próprias vidas, onde a maioria das pessoas busca se adaptar ao meio, a fim de seguir papéis sociais, crenças e regras impostas, se afastando cada vez mais de quem se é – o que pode acarretar na falta de sentido da vida.

Também podemos citar sua teoria da “coragem de ser”, onde deve-se aceitar a dor e as dificuldades da vida sem fuga, com coragem e desenvolvendo resiliência diante das adversidades – claro que falando assim parece fácil, mas não se iluda.

Um dos seus livros mais citados é Love and Will, onde May explora a relação entre amor e vontade, argumentando que o verdadeiro amor exige esforço, comprometimento e uma compreensão profunda do outro.

No livro, ele critica a visão superficial do amor na sociedade moderna e enfatiza que o amor genuíno só pode existir quando há um equilíbrio entre paixão e responsabilidade.



Foto em preto e branco de Viktor Frankl. Ao fundo uma cerca de arame farpado. Cabelos um puco maiores, penteados para trás, usa óculos de grau e roupa  social.

Viktor Frankl

Criador da logoterapia, Frankl focava na busca de sentido da vida, mesmo em situações extremas, principalmente com base em sua história pessoal.

Sua teoria está relacionada com a ideia de que a motivação humana mais profunda é a busca por significado, indo contra a relação com o prazer – sugerida por Sigmund Freud –, por exemplo.

Para ele, o significado não é algo imposto externamente, mas algo que cada indivíduo precisa descobrir por si mesmo. Esse significado pode ser encontrado em diferentes tipos de fontes: trabalho, relacionamentos, atividades criativas ou até mesmo na forma como enfrentamos o sofrimento inevitável.

Frankl nos oferece o conceito de vontade de sentido, descrevendo que o ser humano tem um desejo inato de encontrar um propósito. Quando essa busca não é atendida ou quando alguém se vê perdido em um vácuo existencial, surge a frustração, que pode levar a um sentimento de vazio e desespero.

Atualmente, estamos enfrentando um movimento de grande dificuldade nessa busca de sentido claro e significados profundos, com o boom de diagnósticos psicológicos – como depressão e ansiedade – percebemos sintomas dessa frustração.

Foto em preto e branco de Fritz Perls. Senhor calvo, olhando para baixo, com barba longa e branca. Camisa de tecido clara.

Fritz Perls

Perls é co-criador da Gestalt-terapia, tendo enfatizado a importância de viver no presente e de experimentar o "aqui e agora", ajudando os indivíduos a tomar consciência de seus pensamentos, sentimentos e comportamentos.

Inspirou-se em correntes filosóficas como o existencialismo e a fenomenologia, bem como pelo estudo da percepção humana na psicologia da Gestalt, desenvolvendo assim uma metodologia que convida o indivíduo a tomar consciência de seus pensamentos, emoções e comportamentos no momento presente, promovendo um maior autoconhecimento e autenticidade.

A palavra Gestalt significa "forma" ou "configuração" e vem da Psicologia da Gestalt, que estudava como os seres humanos organizam e interpretam suas experiências.

Perls aplicou essa visão ao campo da psicoterapia, argumentando que as pessoas devem ser vistas como um todo integrado – mente, corpo e emoções – e não apenas como uma soma de partes isoladas. Assim, suas teorias e aplicações buscam restaurar essa totalidade, ajudando os indivíduos a reconhecer e integrar aspectos fragmentados de sua experiência.

Sua abordagem continua extremamente atual, sendo amplamente utilizada em diversas áreas da psicoterapia e do desenvolvimento pessoal.

Imagem computadorizada com um senhor de terno e gravata ao centro, cabelos brancos e blazer azul. Ao seu redor saem raios azuis em um fundo creme. À direita, uma orelha humana com uma asa abaixo; ao centro, uma espécie de mandala em tons de laranja e, à esquerda, um  coração também em tons de laranja. Alguns detalhes se somam à imagem como: espirais, nuvens, pequenos ramos de plantas, flores e estrelas.


Quais são as 3 bases da psicologia humanista?

Ao longo do texto, trouxemos os principais teóricos da abordagem humanista, agora, para que possamos analisar suas bases, separamos em um esquema que facilitará a leitura:

Base da psicologia humanista

Como ela atua
Autenticidade e experiência subjetiva A valorização da experiência única de cada indivíduo, considerando suas percepções, emoções e vivências como essenciais para o desenvolvimento pessoal.
Autonomia e autorrealização A crença de que todos têm um potencial inato para o crescimento e a busca da autorrealização, conceito amplamente explorado por Maslow em sua hierarquia das necessidades.
Relacionamento e empatia Mostra a real importância das relações humanas baseadas na empatia, aceitação incondicional e compreensão genuína, princípios defendidos por Carl Rogers em sua abordagem centrada na pessoa.


Então, dentro desses conceitos, quais seriam então as influências exercidas nos dias atuais?

Não é difícil abordar um tema como esse alinhado ao que estamos vivendo atualmente, pois a sociedade em geral está amplamente marcada pelo estresse, a ansiedade e a depressão. Assim, a psicologia humanista tem se tornado cada vez mais essencial visto que oferece um olhar positivo e holístico sobre o ser humano, ao invés de alimentar o amplo número de diagnósticos de sintomas e doenças – buscando melhorar a qualidade de vida, com equilíbrio emocional, suporte genuíno e empatia.

E ainda bem que quando olhamos para uma grande porcentagem da população, vemos pessoas dispostas a romper com os padrões impostos socialmente, desenvolvendo e valorizando o autocuidado em prol do desenvolvimento pessoal.

Dessa forma, o papel do humanismo vem sendo cada vez mais forte, incentivando o autoconhecimento, a autoaceitação e a busca por um propósito, muitas vezes perdido na “sociedade do cansaço”.

Em um mundo onde o sucesso é frequentemente medido por conquistas materiais e status, esse tipo de abordagem ajuda as pessoas a se reconectarem com seus valores internos e a encontrarem seu próprio caminho, não apenas em resposta às demandas externas, mas em sintonia com sua verdadeira essência – propõe uma alternativa ao paradigma da performance, proporcionando um caminho sólido para quem busca autoconhecimento, realização e propósito de vida.

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Referências bibliográficas

FRICK, Willard B. Psicologia humanista: entrevistas com Maslow, Murphy e Rogers. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.

PERLS, Frederick Salomon. Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997.

ROGERS, Carl R. Tornar-se pessoa. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2017.





A ansiedade é uma emoção natural, que surge como uma resposta do corpo diante de situações de perigo ou incertezas. Mas, ela pode se tornar debilitante e impactar a qualidade de vida quando se torna recorrente, afetando as atividades diárias.

Os sintomas de ansiedade, como o coração acelerado, a tensão muscular, a falta de ar e até mesmo o comprometimento do sono, prejudicam o cotidiano e as relações interpessoais. Pessoas ansiosas podem ficar mais agressivas ou extremamente inseguras, dificultando todos os aspectos de sua vida. Para controlar a ansiedade, é necessário entender como ela se manifesta para saber como adotar ações para aliviar seus efeitos no corpo e na mente.

Neste artigo, exploraremos diferentes estratégias de autocuidado para que você saiba como controlar a crise de ansiedade. Vamos discutir também o impacto do perfeccionismo e como ele está profundamente relacionado ao aumento da ansiedade, além de analisar a vulnerabilidade, um conceito abordado pela psicóloga Brene Brown, que pode ser uma chave importante para o autoconhecimento e para a superação da ansiedade.



O que é a ansiedade e como ela se manifesta?

A ansiedade é uma resposta natural do corpo diante de situações que geram tensão, incerteza ou até risco, como enfrentar desafios ou situações desconhecidas. Esse mecanismo tem raízes biológicas, sendo uma forma de preparação do organismo para enfrentar ou escapar de possíveis ameaças. No entanto, quando esse sistema de defesa se ativa de maneira excessiva, a ansiedade pode se transformar em um transtorno, afetando negativamente a saúde mental e emocional do indivíduo.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os transtornos de ansiedade são os mais recorrentes no mundo e chegam a afetar mais de 301 milhões de pessoas globalmente em 2019, o que representa aproximadamente 4% da população mundial. Além disso, as mulheres são mais propensas a desenvolver esse tipo de transtorno do que os homens, com os sintomas frequentemente surgindo na infância ou adolescência.

Embora seja comum experimentar momentos de ansiedade em resposta a situações desafiadoras, quando esses sentimentos se tornam recorrentes e intensos, eles podem prejudicar a qualidade de vida. A ansiedade pode interferir diretamente nas atividades diárias, tornando a rotina mais difícil de ser cumprida e causando um impacto profundo no bem-estar emocional e social. Se não tratada, essa condição pode persistir por anos, agravando ainda mais os sintomas e afetando o equilíbrio psicológico do indivíduo.

A boa notícia é que os transtornos de ansiedade podem ser tratados com eficácia. Abordagens terapêuticas, como a psicoterapia, bem como o uso de medicamentos, têm se mostrado eficazes no controle dos sintomas e na restauração da regulação emocional. Além disso, uma mudança de comportamento e o apoio emocional de uma rede afetuosa de amigos e parentes, também pode contribuir para a restauração do organismo. Contudo, um grande número de pessoas com transtornos de ansiedade ainda não busca ajuda profissional. Estima-se que apenas uma em cada quatro pessoas afetadas procure tratamento, o que pode ser atribuído à falta de conscientização sobre a condição e ao estigma social.

Sintomas de Ansiedade

Os sintomas de ansiedade podem se manifestar de diferentes formas, tanto físicas quanto emocionais, e afetam o corpo e a mente. Algumas pessoas podem, inclusive, confundir os sintomas físicos da ansiedade com sinais de outras condições de saúde. Entre os sintomas mais comuns, podemos destacar:

  • Tensão muscular: A ansiedade provoca a contração muscular, especialmente no pescoço, ombros e mandíbula, resultando em desconforto físico.
  • Taquicardia: A sensação de coração acelerado e as palpitações são frequentes em episódios de ansiedade.
  • Dificuldade para respirar: A sensação de falta de ar, comum em crises de ansiedade, pode gerar grande aflição e desconforto.
  • Suor excessivo: Mesmo sem uma fonte imediata de estresse, é comum a transpiração intensa, especialmente nas palmas das mãos, testa e axilas.
  • Tremores: A ansiedade pode provocar tremores nas mãos ou em outras partes do corpo, uma resposta física ao nervosismo.
  • Boca seca: A diminuição da produção de saliva pode gerar sensação de boca seca e desconforto.
  • Dores no peito: O estresse físico causado pela ansiedade pode se manifestar com dores ou pressão no peito, frequentemente confundidas com problemas cardíacos.
  • Problemas digestivos: O estresse afeta o sistema digestivo, resultando em náuseas, cólicas ou até diarreia.
  • Distúrbios do sono: a mente inquieta e a preocupação constante dificultam o relaxamento necessário para uma noite de descanso reparador.


Esses sintomas podem ocorrer isoladamente ou em conjunto, variando de pessoa para pessoa. Reconhecer a ansiedade e seus sinais precoces é fundamental para tomar as medidas necessárias e buscar ajuda antes que a situação se agrave, desencadeando crises de pânico ou síndrome de burnout.



Como controlar a ansiedade no dia a dia

Controlar a ansiedade exige paciência e consistência, pois não é algo que acontece de forma instantânea. Trata-se de um processo contínuo de autoconhecimento, adaptação e cuidado emocional. Mas, existem várias práticas e abordagens que você pode incorporar à sua rotina para reduzir significativamente os efeitos da ansiedade e melhorar o seu bem-estar psicológico.

Com o tempo, ao adotar hábitos saudáveis, como técnicas de relaxamento, exercícios físicos regulares e uma alimentação equilibrada, você pode criar uma base sólida para lidar com as emoções de maneira mais equilibrada e promover uma maior qualidade de vida. Além disso, buscar apoio profissional é uma parte fundamental desse processo, garantindo que você tenha as ferramentas adequadas para enfrentar os desafios de forma mais tranquila e saudável. Algumas das estratégias eficazes para aliviar a ansiedade incluem:

  1. Respiração profunda e meditação

    Exercícios de respiração profunda são uma ferramenta poderosa para controlar a crise de ansiedade. Ao inspirar lentamente pelo nariz e expirar pela boca, você ativa o sistema nervoso parassimpático, o que reduz o estresse e promove uma sensação de calma. A meditação também ajuda a focar a mente no presente, reduzindo os pensamentos ansiosos e trazendo clareza mental.
  2. Exercícios físicos regulares

    A atividade física regular ajuda a liberar endorfinas, que são neurotransmissores responsáveis por melhorar o humor e reduzir a sensação de ansiedade. Caminhadas, yoga ou qualquer outro exercício que você goste podem ter um impacto significativo no controle da ansiedade.
  3. Estabeleça uma rotina de autocuidado

    Incorporar práticas de autocuidado na sua rotina auxilia na redução dos níveis de estresse e aumenta sua capacidade de lidar com as adversidades. Isso pode incluir uma alimentação equilibrada, a prática de atividades relaxantes e garantir que você tenha tempo para o descanso necessário.
  4. Limite a exposição a gatilhos

    Muitas vezes, os sintomas de ansiedade são exacerbados pela exposição a situações que causam estresse, como sobrecarga de trabalho ou informações excessivas nas redes sociais. Tente estabelecer limites saudáveis para proteger sua saúde mental, reservando momentos para desintoxicação digital e descanso.


Se você quer entender melhor como lidar com a ansiedade na era digital, baixe gratuitamente o eBook abaixo. Ele aborda como as redes sociais impactam a saúde mental e explica o conceito de Brain Rot, um termo que descreve os efeitos negativos da exposição contínua a conteúdos de baixa qualidade.

O eBook também traz insights do curso Saúde Mental e Estresse: Uma Visão das Neurociências, ministrado pela doutora em Ciências pela UFRJ, Ana Carolina Souza. Preencha o formulário a seguir e receba o seu eBook diretamente no seu e-mail, de forma rápida e gratuita:

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Ansiedade e perfeccionismo: A busca pela perfeição e o sofrimento psíquico

Um dos fatores que mais contribuem para a ansiedade, especialmente em ambientes de alta pressão, é o perfeccionismo. A busca incessante pela perfeição cria uma pressão interna constante, que pode gerar ansiedade e até mesmo uma sensação de medo ou fobia quando não conseguimos atingir nossos próprios padrões elevados.

A pesquisadora norte-americana Brené Brown aborda esse tema de forma brilhante em seu livro A Coragem de Ser Imperfeito. Ela afirma que o perfeccionismo está intimamente ligado à vergonha e ao medo da vulnerabilidade. As pessoas perfeccionistas sentem uma necessidade constante de mostrar que são suficientes e que têm controle total sobre suas vidas, o que é uma expectativa irreal e extenuante.

Nesse sentido, Brown nos faz um convite: prepare-se para ser vulnerável. Ou seja, permita que suas imperfeições e falhas sejam reconhecidas, só assim conseguimos nos conectar verdadeiramente uns aos outros e viver a experiência verdadeira do amor. Ao aceitar nossas limitações, nos libertamos de uma carga emocional pesada, permitindo que a ansiedade diminua e que possamos viver de forma mais autêntica e equilibrada.

O perfeccionismo, em sua essência, alimenta o ciclo de sofrimento psíquico na atualidade. Quando buscamos sempre a perfeição, nos tornamos voltados a padrões inalcançáveis, gerando uma constante sensação de insatisfação e frustração. Ao aprender a aceitar a vulnerabilidade, podemos dar um passo importante para superar a ansiedade, pois a verdadeira liberdade emocional está em nos aceitarmos como somos, com todas as nossas falhas.

O papel do sistema nervoso na ansiedade

O sistema nervoso desempenha um papel essencial na nossa resposta à ansiedade. Quando nos deparamos com uma situação estressante, o cérebro envia sinais para o corpo se preparar para a ação — seja para lutar contra o problema ou fugir dele. Essa reação é fundamental para a nossa sobrevivência, mas quando essa resposta se torna crônica ou exagerada, o sistema nervoso fica sobrecarregado, e isso pode resultar em distúrbios emocionais e físicos, como a ansiedade. O sistema simpático, responsável por ativar a resposta de “luta ou fuga", pode permanecer em funcionamento excessivo, prejudicando nosso equilíbrio emocional e físico.

Aprender a controlar a ansiedade também significa aprender a gerenciar o sistema nervoso de forma saudável. Isso envolve práticas que ajudam a reduzir a ativação constante do sistema simpático, como técnicas de respiração profunda, meditação, e exercícios físicos regulares. Essas práticas promovem o equilíbrio, ativando o sistema parassimpático, responsável por relaxar o corpo e restaurar a sensação de bem-estar.

Além disso, a maneira como gerenciamos nossa ansiedade tem um impacto direto na longevidade e na qualidade do envelhecimento. O estresse crônico e a ansiedade constante podem acelerar o envelhecimento celular e aumentar o risco de doenças relacionadas ao envelhecimento, como problemas cardíacos, hipertensão e distúrbios metabólicos. Ao controlar a ansiedade e adotar hábitos saudáveis para o sistema nervoso, como manter uma rotina de exercícios, comer de forma equilibrada e reservar momentos para relaxamento, podemos não apenas melhorar nossa saúde mental, mas também promover um envelhecimento mais saudável e com mais qualidade de vida.

Envelhecer com saúde envolve cuidar do corpo e da mente, e aprender a gerenciar a ansiedade de forma eficaz é um passo fundamental para garantir um envelhecimento mais tranquilo, com um sistema nervoso equilibrado e uma vida mais plena.

Como controlar crise de ansiedade sozinha: Dicas práticas

Quando uma crise de ansiedade acontece, pode ser difícil saber por onde começar a lidar com a situação. No entanto, existem algumas ações simples que podem ajudar a amenizar o impacto e trazer alívio imediato. Aqui estão algumas sugestões:

  1. Respire profundamente

    A respiração controlada é uma das maneiras mais eficazes de acalmar a mente e o corpo durante uma crise de ansiedade. Inspire profundamente pelo nariz, segure o ar por alguns segundos e, em seguida, expire lentamente pela boca. Esse simples exercício ajuda a desacelerar os batimentos cardíacos e a reduzir a tensão muscular, promovendo um estado de calma.
  2. Faça uma pausa e mude o ambiente

    Muitas vezes, uma mudança de ambiente pode ser o suficiente para quebrar o ciclo da ansiedade. Se possível, saia do local que está gerando estresse, faça uma breve caminhada ou até mesmo mude de atividade por alguns minutos. Momentos de pausa ajudam a restaurar a sensação de controle e reduzem a intensidade da ansiedade.
  3. Pratique o auto acolhimento

    É fundamental ser gentil consigo mesmo durante uma crise de ansiedade. Reconheça que o que você está sentindo é válido e evite se criticar por isso. Dizer a si mesmo que está tudo bem, mesmo que não se sinta assim, pode criar um espaço emocional de acolhimento, permitindo que você recupere a calma de forma mais eficiente.
  4. Engaje-se em atividades que tragam prazer

    A ansiedade muitas vezes nos afasta das coisas que gostamos de fazer. Reservar um tempo para atividades prazerosas, como ler um bom livro, ouvir música ou assistir a um filme favorito, pode ajudar a restabelecer a conexão com você mesmo e aliviar a tensão. Essas pequenas pausas no seu dia podem ser fundamentais para renovar a energia emocional e reduzir o impacto da ansiedade.
  5. Considere a ajuda de um psicólogo

    Lidar com a ansiedade de forma eficaz muitas vezes requer apoio profissional. A psicoterapia é uma das ferramentas mais poderosas no enfrentamento de crises de ansiedade, ajudando a identificar os gatilhos e a desenvolver estratégias de controle. Consultar um psicólogo periodicamente pode fornecer novas perspectivas e mecanismos de enfrentamento que são essenciais para lidar com o transtorno de forma saudável a longo prazo.


Essas dicas são formas de reduzir os efeitos imediatos da ansiedade, mas o controle contínuo da ansiedade envolve um trabalho persistente e consciente. Incorporar essas práticas no seu cotidiano e buscar apoio profissional pode ser um passo importante em direção ao bem-estar emocional duradouro.



Conclusão

Controlar a ansiedade é um processo contínuo e envolve a prática de várias estratégias que visam melhorar o bem estar psicológico e a qualidade de vida. Ao aplicar ações como focar os pensamentos no momento presente, exercícios físicos regulares, sono de qualidade, você pode começar a lidar melhor com os sintomas de ansiedade e evitar que se tornem crises intensas. Além disso, ao refletir sobre o impacto do perfeccionismo e abraçar a vulnerabilidade, podemos aprender a superar a ansiedade em contextos sociais, de uma forma mais leve e saudável.

Se os sintomas persistirem ou se agravarem, procurar ajuda profissional é essencial. O tratamento adequado e o acompanhamento psicológico são ferramentas valiosas para lidar com o tratamento da ansiedade, promovendo uma vida mais plena e saudável.

A psicossomática é uma área do conhecimento que investiga a relação entre as emoções e o impacto que elas podem ter na saúde física. Muitas vezes, o estresse e a ansiedade, além de outros fatores emocionais podem resultar em doenças psicossomáticas.

A palavra psicossomática vem do grego, onde psique significa alma e soma significa corpo, refletindo a ideia de que a mente e o corpo estão profundamente conectados. Nesse contexto, as emoções podem influenciar a saúde física, gerando condições como dores, desconfortos e outras manifestações incômodas, sem uma causa aparente.

Doenças psicossomáticas são aquelas cujos sintomas físicos não têm uma origem orgânica identificável, sendo desencadeadas por fatores emocionais como traumas, estresse ou ansiedade, por exemplo. Isso pode levar a um ciclo de consultas médicas sem diagnóstico definitivo, até que a relação entre a mente e o corpo seja compreendida. Neste artigo, abordaremos o que é psicossomática, as principais doenças psicossomáticas, suas causas, sintomas e formas de tratamento.



O que é Psicossomática?

A psicossomática é um campo da medicina que investiga como as questões que abalam a saúde mental afetam o corpo, gerando sintomas físicos. Embora frequentemente ignorado, o impacto das emoções no funcionamento dos órgãos e sistemas corporais, como o sistema nervoso e o sistema imunológico, é real e pode resultar em condições como dores de cabeça crônicas, problemas digestivos e até doenças mais graves. A psicossomática, portanto, busca compreender como os transtornos emocionais podem refletir no corpo, gerando sinais, sintomas e até doenças.

O vínculo entre a mente e o corpo é especialmente evidente em condições como a hipertensão, que pode ser agravada pelo estresse. Em muitos casos, os incômodos físicos não são explicados por exames clínicos, mas têm uma causa emocional subjacente que deve ser observada e tratada por profissionais da saúde mental. O sofrimento psíquico pode, de fato, desencadear ou agravar doenças físicas, mostrando a conexão profunda entre corpo e mente.

Quando enfrentamos sofrimento psicológico, ele pode afetar nosso corpo de maneiras que nem sempre são conscientes. Esse sofrimento, muitas vezes involuntário, pode vir de traumas, pressões ou até da autocobrança, e suas consequências podem ser sentidas de diversas formas.

O sofrimento psíquico na atualidade, impulsionado pelo aumento da pressão social, profissional e pessoal, tem se intensificado, contribuindo para o aumento das doenças psicossomáticas. Fatores como o estresse relacionado ao trabalho, as altas expectativas sociais e a constante comparação nas redes sociais ampliam a incidência de problemas psicológicos, tornando as pessoas mais vulneráveis aos efeitos do estresse e ansiedade. Como resultado, o bem-estar psicológico das pessoas tem sido cada vez mais afetado, refletindo diretamente na saúde física. Esse cenário revela como o equilíbrio entre a mente e o corpo é essencial para a manutenção de uma boa saúde e para a prevenção de doenças psicossomáticas.

Para auxiliar no desenvolvimento de uma boa gestão da saúde mental na Era Digital, a doutora em Ciências pela UFRJ, Ana Carolina Souza, explica no ebook gratuito Ansiedade e Redes Sociais como a exposição constante às redes sociais afeta a saúde mental e oferece dicas para lidar melhor com os desafios da presença digital no nosso cotidiano. Preencha o formulário abaixo para receber o ebook gratuitamente em seu e-mail:



O que são doenças psicossomáticas?

As doenças psicossomáticas são condições físicas que têm sua origem em fatores emocionais ou psicológicos. Elas não podem ser explicadas exclusivamente por causas materiais, mas resultam de um desequilíbrio emocional ou psicológico prolongado. Esses distúrbios demonstram a forte conexão entre o emocional e o físico, onde o sofrimento psicológico se manifesta fisicamente, gerando sintomas e doenças. Importante destacar que o diagnóstico de uma doença psicossomática envolve a exclusão de outras condições físicas, já que seus sintomas não possuem explicações orgânicas claras.

O cérebro desempenha um papel crucial na manifestação de doenças psicossomáticas, pois ele regula nossa resposta emocional e física aos estímulos externos. Quando uma pessoa lida com afetos, sentimentos e emoções disfuncionais, que causam traumas ou estresse intenso e prolongado, esses fatores podem impactar diretamente a saúde física, gerando um ciclo de desgaste tanto emocional quanto físico.

Quais são as doenças psicossomáticas mais comuns?

Entre as doenças psicossomáticas mais comuns, encontramos:

DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS CARACTERÍSTICAS
Síndrome do Intestino Irritável (SII) Trata-se de um distúrbio gastrointestinal que provoca dores abdominais, constipação, diarreia ou uma combinação de ambos. O estresse emocional é um dos principais gatilhos para o desenvolvimento e agravamento dos sintomas dessa condição, tornando-a um exemplo clássico de doença psicossomática.
Enxaqueca Crônica A dor de cabeça intensa e persistente, muitas vezes acompanhada de náuseas, vômitos e sensibilidade à luz, pode ter uma base psicossomática. Embora nem todas as enxaquecas sejam causadas por fatores emocionais, o estresse e as tensões psicológicas podem intensificar as crises e a frequência das dores de cabeça.
Dermatite Atópica Condição de pele crônica que causa coceira, vermelhidão, descamação e erupções cutâneas. A dermatite atópica é altamente influenciada por fatores emocionais, e situações de estresse ou ansiedade podem piorar seus sintomas, levando a ciclos recorrentes de inflamação na pele.
Transtornos de Ansiedade A ansiedade excessiva, que afeta o cérebro e o sistema nervoso, pode causar sintomas físicos como falta de ar, batimento cardíaco acelerado, suores excessivos e até dores no peito. A constante tensão emocional associada ao transtorno de ansiedade pode levar a uma série de distúrbios psicossomáticos.
Gastrite A gastrite, inflamação do revestimento interno do estômago, pode ser exacerbada por fatores emocionais. O estresse, a ansiedade e a preocupação constante podem aumentar a produção de ácido gástrico, irritando o estômago e resultando em sintomas como dor abdominal, queimação e náuseas.
Insônia Quando as dificuldades para dormir são causadas por fatores emocionais. Isso cria um ciclo vicioso, onde a falta de sono piora os sintomas emocionais.
Dores Musculares e nas Articulações Muitas pessoas experimentam dores musculares e articulares sem uma causa aparente, e esses sintomas podem estar relacionados ao estresse ou à ansiedade. O tensionamento muscular causado por emoções negativas pode resultar em dores que afetam a mobilidade e o bem-estar.
Disfunção Erétil (Impotência Sexual) Esta condição, caracterizada pela dificuldade de manter uma ereção, pode ter raízes em fatores psicológicos, como estresse, ansiedade e baixa autoestima. O estresse emocional e a pressão psicológica podem agravar o quadro e dificultar o tratamento.
Síndrome do Cansaço Crônico O estresse e a sobrecarga emocional podem resultar em cansaço extremo, onde a pessoa se sente exausta, mesmo sem esforço físico significativo. Esse esgotamento mental pode afetar a capacidade de realizar atividades cotidianas, impactando a qualidade de vida.


Um dos fatores que contribuem para o desencadeamento das doenças psicossomáticas é a vida excessivamente estressante. Nesse contexto, a vulnerabilidade pode ajudar pessoas altamente perfeccionistas a superar a rigidez e o desejo de dar conta de tudo de forma excelente. Com isso, a vulnerabilidade contribui para o processo de crescimento e aceitação dos erros e imperfeições, sendo uma ferramenta aliada para tornar o cotidiano mais leve e diminuir a autocobrança.

Quais são os sintomas das doenças psicossomáticas?

Os sintomas das doenças psicossomáticas são frequentemente físicos e estão intimamente ligados ao impacto que o estresse e a ansiedade têm sobre o corpo, especialmente através do sistema nervoso. Quando uma pessoa experimenta altos níveis de estresse ou ansiedade, o sistema nervoso autônomo, responsável por funções como respiração, ritmo cardíaco e digestão, entra em um estado de alerta conhecido como "luta ou fuga". Esse estado é útil em situações de perigo, mas, quando ativado constantemente, causa um desgaste físico significativo.

Entre os sintomas mais comuns das doenças psicossomáticas estão:

  • Insônia: A ativação prolongada do sistema nervoso pode dificultar o relaxamento, levando a dificuldades para dormir.
  • Alterações no apetite: O estresse e a ansiedade podem influenciar os hábitos alimentares, resultando em perda de apetite ou, em alguns casos, em comer excessivamente.
  • Problemas digestivos: O sistema nervoso também afeta o trato gastrointestinal, o que pode levar a distúrbios como constipação, diarreia, síndrome do intestino irritável ou refluxo gástrico.
  • Dores musculares e tensões: O corpo tende a se contrair em resposta ao estresse, resultando em dores nas costas, pescoço, ombros e outras áreas.
  • Problemas de memória e concentração: O aumento nos níveis de cortisol e adrenalina pode afetar a memória de curto prazo e a capacidade de concentração.
  • Fadiga e cansaço excessivo: O estresse prolongado pode resultar em exaustão, mesmo sem esforço físico significativo.

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Como a Ansiedade e o Estresse Podem Causar Doenças Psicossomáticas?

A ansiedade e o estresse são dois dos principais fatores psicológicos que podem desencadear doenças psicossomáticas. Quando uma pessoa vive constantemente em estado de ansiedade, o corpo reage de forma física, gerando uma série de sintomas que podem afetar sua saúde de maneiras diversas. A tensão emocional contínua pode levar a um esgotamento físico e mental, resultando em cansaço excessivo, desencadeando distúrbios como o burnout . O estresse também provoca contrações musculares, que são frequentemente sentidas como dores no pescoço, nas costas e nos ombros. Essas tensões musculares podem se tornar crônicas, prejudicando a mobilidade e o bem-estar geral.

Eventos como o luto, a violência doméstica, o medo excessivo e o bullying também estão entre as causas comuns das doenças psicossomáticas.

Esses fatores podem causar, inclusive, impactos no sistema digestivo que não podem ser ignorados. Problemas como constipação, diarreia e até gastrite são comuns em pessoas que lidam com altos níveis de estresse e ansiedade. O sistema digestivo é altamente sensível às emoções, e quando a mente está sobrecarregada, os sintomas físicos podem se manifestar de maneira significativa.

Outro efeito do estresse é o comprometimento da qualidade do sono, devido ao aumento do cortisol. A ansiedade constante dificulta o relaxamento necessário para uma boa noite de descanso, o que resulta em insônia e cansaço.

Superar a ansiedade e outros transtornos emocionais é fundamental para restaurar o equilíbrio entre mente e corpo. Ter uma rede de apoio pautada no amor, agir com autocuidado e procurar acompanhamento psicológico são essenciais para prevenir e tratar doenças psicossomáticas, ajudando as pessoas a manterem uma boa saúde mental e a protegerem o corpo dos efeitos negativos dos fatores estressores do sistema nervoso.

Como identificar uma doença psicossomática?

Identificar uma doença psicossomática pode ser difícil, pois os sintomas físicos se apresentam de forma semelhante a várias condições médicas, mas não têm explicação orgânica clara. O primeiro passo para a identificação é observar se os sintomas físicos persistem sem uma causa aparente ou que não seja explicada por exames médicos. Quando uma pessoa sente dores crônicas, distúrbios digestivos, como constipação ou diarreia, ou problemas de pele, como dermatite, sem uma causa evidente, pode ser um indicativo de que há um componente emocional subjacente.

Se os sintomas se manifestam ou se agravam em momentos de grande tensão emocional, isso também pode sugerir que a origem é psicossomática. Outro fator importante é a presença de sintomas físicos que não são facilmente explicados por condições médicas tradicionais, como dores musculares intensas, falta de ar, pressão no peito, insônia ou problemas digestivos, mesmo após a exclusão de outras doenças.

A conexão entre o sofrimento emocional e os sintomas físicos é fundamental para identificar doenças psicossomáticas. Se uma pessoa está passando por períodos prolongados de estresse, ansiedade, trauma ou outros conflitos emocionais não resolvidos, é mais provável que o corpo manifeste esses problemas de forma física. A ajuda de um profissional da saúde mental, como psicólogos ou psiquiatras, é essencial para fazer a conexão entre os sintomas emocionais e físicos, e para um diagnóstico adequado.

O Que Fazer para Prevenir e Tratar Doenças Psicossomáticas?

O tratamento das doenças psicossomáticas começa com a investigação clínica detalhada para excluir outras possíveis causas físicas. Caso o diagnóstico seja realmente psicossomático, o tratamento deve ser multidisciplinar, envolvendo médicos especializados na área afetada pelo problema, além de profissionais da saúde mental, como psiquiatras e psicólogos. Isso é fundamental para abordar tanto os aspectos físicos quanto emocionais da condição, prevenindo que o adoecimento se repita ou se manifeste em outra parte do corpo.

O tratamento das doenças psicossomáticas exige um enfoque que trate a mente e o corpo de forma integrada. Para garantir o bem-estar completo, algumas abordagens terapêuticas podem ser eficazes. A psicoterapia pode ser útil para identificar os gatilhos emocionais que desencadeiam sintomas físicos, ajudando a pessoa a desenvolver mecanismos de enfrentamento mais saudáveis. Além disso, práticas de mindfulness e meditação são altamente eficazes no combate ao estresse e à ansiedade, promovendo o equilíbrio do sistema nervoso e prevenindo problemas físicos relacionados.

A prática regular de exercícios físicos também é fundamental, pois ajuda a reduzir o estresse, melhora a saúde mental e mantém o corpo em bom estado. Além disso, adotar uma mudança de estilo de vida que inclua momentos de lazer, descanso e autocuidado é essencial para prevenir doenças psicossomáticas, permitindo que o indivíduo se reconecte com suas necessidades emocionais e físicas.

É importante lembrar que, para envelhecer com saúde, é necessário equilibrar a saúde mental e física ao longo da vida. Procurar orientação médica adequada e garantir que o tratamento psicológico esteja alinhado com as necessidades físicas do paciente é essencial para uma recuperação completa e para a manutenção do bem-estar ao longo dos anos.

Conclusão

A psicossomática nos ensina que a mente e o corpo estão profundamente interligados. Problemas de saúde como a ansiedade, o estresse e a depressão podem estar intimamente relacionados a questões de origem emocional. Nesse sentido, a compreensão de que existe a somatização de questões advindas da mente é essencial para tratar essas condições de maneira eficiente.

Cuidar da saúde mental e adotar práticas que promovam o equilíbrio emocional são passos fundamentais para prevenir ou tratar doenças psicossomáticas. Lembre-se: a mente saudável contribui para um corpo saudável, e vice-versa. Para lidar com as consequências físicas do estresse e da ansiedade, buscar ajuda profissional e fazer mudanças no estilo de vida são atitudes importantes para restaurar o bem-estar.

Perguntas Frequentes sobre Psicossomática

  1. O que é psicossomática e como ela pode afetar a saúde?

    Psicossomática é a interação entre mente e corpo, onde problemas psicológicos podem gerar sintomas físicos. Ela pode resultar em doenças psicossomáticas como dores crônicas, distúrbios digestivos e doenças relacionadas ao estresse.
  2. Como tratar doenças psicossomáticas?

    O tratamento envolve uma abordagem integrada que pode incluir psicoterapia, exercícios físicos, práticas de relaxamento como meditação, e mudanças no estilo de vida.


Referências:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Psicossom%C3%A1tica

https://www.tuasaude.com/sintomas-de-doencas-psicossomaticas/

https://www.rmmg.org/artigo/detalhes/1444

"O estresse é uma ameaça direta ou indireta à integridade física ou psicológica de alguém". Essa definição do neurocientista Bruce McEwen reflete a profundidade do impacto do estresse no corpo humano, fenômeno que ele estudou profundamente ao longo de sua carreira, com ênfase nos hormônios envolvidos, como o cortisol e a adrenalina.

Embora o estresse faça parte da vida cotidiana e, até certo ponto, seja uma resposta adaptativa saudável do corpo, quando suas causas se tornam constantes e intensas, os efeitos sobre a saúde podem ser extremamente prejudiciais.

Ansiedade, depressão e burnout são algumas das consequências do estresse crônico, que tem se intensificado na população mundial devido ao ritmo acelerado da vida contemporânea, à sobrecarga de responsabilidades e aos relacionamentos disfuncionais. Neste artigo, exploraremos as causas do estresse, suas manifestações físicas e emocionais, além dos tratamentos neurocientíficos disponíveis para restaurar o bem-estar.



O que é estresse?

O estresse é uma resposta do organismo a situações percebidas como ameaçadoras ou frustrantes. Dependendo do nível da reação ao estresse, o corpo pode ficar sobrecarregado e adoecer. Isso acontece quando o indivíduo não consegue se recuperar completamente após ter entrado em contato com eventos estressores. Sintomas como ansiedade, burnout, depressão e insônia são os que mais acometem as pessoas submetidas ao estresse crônico.

No contexto contemporâneo, o estresse é amplificado pela sobrecarga de tarefas diárias, pelo desejo de atingir padrões elevados de produtividade e pela constante comparação com os outros, algo cada vez mais exacerbado pelas redes sociais. A pressão para estar sempre disponível, para mostrar resultados e para não perder oportunidades se tornou uma constante na vida de muitos indivíduos, gerando um estado de alerta constante no cérebro. Isso pode levar ao desenvolvimento de estados de ansiedade e estresse crônico.

De acordo com estudos da neurociência, existem três níveis de enfrentamento ao estresse: o primeiro deles seria o nível adaptativo saudável, que é quando o organismo se recupera rapidamente, logo após situações impactantes. O segundo nível seria um estresse mais prolongado, porém o corpo consegue voltar ao estado de equilíbrio passada a fase estressora. E o terceiro nível seria uma sobrecarga emocional que provoca danos maiores à saúde.

As causas do estresse podem estar relacionadas a diversos fatores, como a pressão no trabalho, dificuldades financeiras, problemas de saúde, exposição constante às vidas idealizadas das redes sociais, sobrecarga de exigências diárias, entre outras. Cada indivíduo tem a sua maneira de lidar com o estresse, portanto os impactos à saúde podem ser diferentes entre as pessoas que vivem o mesmo tipo de situação.

Além das causas mais perceptíveis, também existe o estresse psicológico que gera consequências negativas para a saúde por ser um tipo de desgaste mental. Ele acontece, por exemplo, quando o indivíduo fica continuamente com medo do futuro ou com medo do julgamento dos outros. Nesse sentido, pode até mesmo não estar acontecendo um evento estressor, mas os pensamentos seriam geradores do estresse psicológico.

Para ajudar a desenvolver uma boa gestão do estresse na Era Digital, a doutora em Ciências pela UFRJ, Ana Carolina Souza, se especializou no tema. No eBook gratuito Ansiedade e Redes Sociais a professora ela esclarece quais são os fatores de estresse a partir da exposição constante às redes sociais e dá algumas dicas do que é possível fazer para manter a saúde mental. Preencha o formulário abaixo para ter acesso ao eBook de forma gratuita no seu e-mail:



Apesar do conteúdo esclarecedor, o ebook não substitui um acompanhamento psicológico. Recomendamos consultar um profissional da saúde para um tratamento personalizado para problemas relacionados à saúde mental.

Como o estresse impacta o corpo e a mente

O estresse afeta o corpo de diversas maneiras e com intensidades variadas. Quando estamos estressados, o organismo entra em um estado de “luta ou fuga”, uma resposta biológica que, em situações de risco, pode ser benéfica, permitindo-nos reagir rapidamente a uma ameaça.

No entanto, uma rotina causadora de estresse ou pensamentos estressores constantes acarretam uma série de problemas de saúde. Dentre os problemas mais comuns, destacamos:

  • Problemas cardíacos: O aumento da pressão arterial e a aceleração dos batimentos cardíacos, que podem contribuir para o desenvolvimento de doenças cardíacas.
  • Comprometimento do sistema imunológico: O estresse constante pode enfraquecer as defesas do corpo, tornando-o mais vulnerável a infecções e doenças.
  • Enxaqueca e dores de cabeça constantes: As dores de cabeça e crises de enxaqueca também são reflexos da sobrecarga de estresse
  • Insônia: A dificuldade de relaxar e dormir torna-se comum em pessoas com alto nível de estresse
  • Ansiedade: Dificuldade em se manter no presente e pensamentos recorrentes sobre o futuro desgastam o bem-estar e atrapalham a concentração e tomada de decisões
  • Depressão: O desânimo e a falta de interesse e envolvimento nas atividades do dia a dia desconecta as pessoas de um sentido na vida, resultando na queda de autoestima e de motivação
  • Distúrbios digestivos: O estresse pode afetar o sistema digestivo, gerando problemas como gastrite, síndrome do intestino irritável e outros distúrbios gastrointestinais.
  • Problemas musculoesqueléticos: A tensão muscular prolongada devido ao estresse pode causar dores crônicas, principalmente na região dos ombros, pescoço e costas.


Os Hormônios do Estresse

O estresse, quando persistente, tem efeitos profundos sobre o corpo, e muito disso se deve à ação de hormônios como o cortisol e a adrenalina. Esses hormônios são liberados pelo organismo em resposta ao estresse, ativando o que é conhecido como a resposta de "luta ou fuga". Embora essa resposta seja útil em situações imediatas de ameaça, o problema surge quando o estresse se torna crônico.

O cortisol, conhecido como o hormônio do estresse, é um dos principais responsáveis pelos efeitos adversos dessa condição prolongada. Sua produção constante pode afetar a memória, dificultando a capacidade de concentração e aprendizado. Além disso, o cortisol tem um impacto negativo no sistema imunológico, enfraquecendo as defesas do corpo e tornando-o mais suscetível a doenças. Esse desequilíbrio hormonal contribui para o aumento da ansiedade, criando um ciclo vicioso no qual o estresse alimenta mais estresse.

Já a adrenalina, outro hormônio fundamental durante o estresse, prepara o corpo para a ação imediata, aumentando a frequência cardíaca e a pressão arterial. No entanto, quando liberada de forma contínua devido ao estresse crônico, ela pode prejudicar o funcionamento do sistema cardiovascular e desencadear uma série de problemas físicos, como hipertensão e problemas cardíacos.

Portanto, embora a resposta ao estresse seja natural e inicialmente útil, quando prolongada, ela pode prejudicar a saúde e o bem-estar psicológico de diversas maneiras, afetando tanto o corpo quanto a mente. É essencial aprender a gerenciar o estresse de forma eficaz, minimizando a produção excessiva de cortisol e adrenalina, para evitar os danos que podem surgir com o tempo.

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Estresse no trabalho e a pressão por resultados

O ambiente de trabalho é um dos principais contextos onde o estresse se manifesta de forma mais evidente. Em uma sociedade voltada para o consumo e para a competitividade, as pessoas altamente produtivas são mais valorizadas e admiradas. Nesse sentido, todos se sentem pressionados a entregar resultados rápidos e de alta qualidade, mas na maioria das vezes sem ter tempo suficiente para descansar ou se recuperar o suficiente após a jornada de trabalho. A pressão por metas e o medo de não atender às expectativas geram um clima de ansiedade e tensão, que compromete a saúde mental dos trabalhadores.

Nesse modelo neoliberal, a busca incessante pelo sucesso na carreira e o medo de fracassar acabam gerando um estresse contínuo. Além disso, o home office e o trabalho no ambiente digital, trouxeram consigo a necessidade de estar disponível o tempo todo. Com isso, o tempo de trabalho acaba invadindo a vida pessoal, aumentando a sensação de cansaço e exaustão que, muitas vezes, leva a situações de esgotamento, como o burnout. Por isso, estabelecer limites e uma rotina que contemple espaço para o descanso e o lazer precisam ser incluídos entre as prioridades de quem cumpre jornada de trabalho.

Como reduzir o estresse: tratamentos e práticas eficazes

O desenvolvimento das habilidades de inteligência emocional nos permite ter autoconhecimento suficiente para saber quais são os nossos limites e preferências. Essas informações nos ajudam a nos relacionar melhor e a saber dizer não quando necessário. Além disso, aumenta nossa capacidade de ter empatia e nos colocar no lugar do outro.

Uma vida sem estresse não existe. Mas, podemos equilibrar a forma como lidamos com os desafios da vida. Algumas práticas que ajudam a reduzir o estresse incluem:

  • Atividade física regular: A prática constante de exercícios, como caminhada, corrida ou yoga, ajuda a reduzir o estresse ao liberar endorfinas, substâncias responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar.
  • Mindfulness e meditação: Técnicas de atenção plena (mindfulness) e meditação são poderosas ferramentas para acalmar a mente, reduzir a ansiedade e promover o equilíbrio emocional, concentrando-se no momento presente e afastando pensamentos negativos recorrentes.
  • Apoio psicológico: Abordagens terapêuticas, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), ajudam a identificar padrões de pensamento prejudiciais e ensinam estratégias para enfrentar as pressões cotidianas de forma mais saudável.
  • Descanso e lazer: Garantir tempo para descansar e desfrutar de momentos de lazer é fundamental para a recuperação mental. Estabelecer limites para desacelerar o ritmo diário pode ser um desafio, mas é essencial para o equilíbrio emocional.
  • Relaxamento e contato com a natureza: Técnicas de respiração, alongamento e contato com a natureza são formas de desacelerar e se reconectar com o presente e minimizar a sobrecarga de preocupações.
  • Conexões sociais e sentido de pertencimento: Criar laços de confiança e empatia com amigos e familiares contribui para uma sensação de inclusão social, reduzindo a solidão e aliviando o estresse.
  • Autocuidado: O autocuidado vai além de rituais de beleza; é sobre saber o que faz bem para você e realizar escolhas que proporcionem prazer e equilíbrio, sem se preocupar em corresponder às expectativas dos outros.
  • Estímulo à criatividade: Engajar-se em atividades criativas, sem pressão por resultados. Apenas praticar hobbies para se divertir e aumentar a sensação de bem estar.
  • Hábitos saudáveis: Manter uma rotina de sono adequada, alimentação balanceada e hidratação é fundamental para o funcionamento adequado do corpo, contribuindo para uma maior resiliência frente ao estresse.


Como prevenir o estresse?

Prevenir o estresse começa com a conscientização de que nossa saúde mental é tão importante quanto a saúde física. Cuidar da mente é fundamental para evitar que o estresse se acumule e traga consequências prejudiciais. Isso envolve cultivar o autoconhecimento, fortalecer a inteligência emocional e desenvolver habilidades de resiliência diante dos desafios da vida. Além disso, praticar a autocompaixão e buscar um equilíbrio saudável entre trabalho, descanso e relacionamentos pessoais são aspectos chave para manter o bem-estar e prevenir o impacto negativo do estresse.



Conclusão

O estresse é uma resposta do organismo que afeta diversas áreas da vida, desde o ambiente de trabalho até os relacionamentos amorosos. A pressão constante por desempenho, as diversas tarefas diárias e a busca por resultados rápidos têm contribuído para o aumento significativo de casos de estresse, ansiedade e burnout. No entanto, existem estratégias eficazes para prevenir e reduzir os efeitos do estresse, como a prática de técnicas de relaxamento, o cuidado contínuo com a saúde mental e a redefinição das expectativas em relação à produtividade.

Embora o mercado de trabalho valorize o desempenho incessante, é fundamental aprender a respeitar os próprios limites e a priorizar o bem-estar psicológico. Desacelerar e restaurar o equilíbrio, garantindo tempo para o descanso, é necessário para a manutenção da saúde mental. Em momentos de sobrecarga emocional, buscar ajuda psicológica é essencial. Profissionais capacitados podem oferecer suporte e ferramentas adequadas para lidar com o estresse de maneira saudável, ajudando a prevenir que ele se torne um problema crônico. Lembre-se: cuidar da saúde mental é um passo fundamental para garantir uma vida mais equilibrada e satisfatória.

Perguntas Frequentes sobre Estresse

  1. Quais são os principais sintomas do estresse e como identificá-los?

    Os sintomas do estresse podem ser físicos, emocionais e comportamentais. Entre os sinais mais comuns estão: tensão muscular, ansiedade, dores de cabeça, cansaço excessivo, dificuldades para dormir, irritabilidade, ansiedade e dificuldade de concentração. Se esses sintomas se mantiverem por um período prolongado e interferirem nas atividades diárias, pode ser um indicativo de estresse crônico, que requer atenção e, possivelmente, tratamento.

  2. Como posso gerenciar o estresse no meu dia a dia e evitar que ele se torne crônico?

    Para gerenciar o estresse de maneira eficaz, é importante adotar práticas que promovam o equilíbrio físico e mental. Algumas estratégias incluem: a prática regular de exercícios físicos, como caminhada ou yoga, o uso de técnicas de relaxamento e mindfulness, estabelecer limites saudáveis entre trabalho e vida pessoal, garantir momentos de descanso e lazer, e buscar apoio psicológico quando necessário. Além disso, é fundamental aprender a reconhecer seus limites e a não sobrecarregar-se com expectativas irreais.

Referências

https://curadoria.casadosaber.com.br/curso/320/saude-mental-e-estresse-uma-visao-das-neurociencias

https://www.rockefeller.edu/news/27135-neuroscientist-bruce-mcewen-studied-impact-stress-brain-died/

Gosto da forma como alguns teóricos da Gestalt apresentam a abordagem, destacando que ela é, ao mesmo tempo, uma arte e uma ciência.

Além disso, é interessante expandirmos nossos horizontes e olhares para diferentes tipos de abordagens, pois, assim como o ser humano é múltiplo, também são as formas de lidar com ele.

De acordo com a fala de Luiz Hanns, no curso “Psicoterapia contemporânea: por uma integração transteórica de diversas práticas e teorias”, hoje temos mais de mil diferentes abordagens, metodologias e técnicas de psicoterapia.

A maioria delas é formada por até quinze matrizes, que servem de base para uma ampla diversidade – e apesar da fragmentação teórica, muitas acabam dialogando entre si.

Neste texto falaremos sobre a Gestalt, que oferece uma importante contribuição para as linhas da psicologia: sua visão holística do ser humano, compreendido como um ser biopsicossocial em constante interação com o meio. Essa abordagem considera não apenas a pessoa em sua totalidade, mas também o contexto em que está inserida.



O surgimento da abordagem Gestalt

Um dos nomes que encontramos ao pesquisar sobre a Gestalt é o de Max Wertheimer, pois o primeiro estudo oficial contou com sua autoria, juntamente com Kurt Koffka e Wolfgang Köhler – seus trabalhos estavam alinhados à corrente fenomenológica alemã – e a Gestalt-terapia é a própria fenomenologia aplicada.

Embora Max Wertheimer seja uma figura central no desenvolvimento da Psicologia da Gestalt, sua contribuição, assim como a dos outros nomes mencionados, está mais diretamente ligada à psicologia experimental e à teoria da percepção. Como um dos fundadores da escola de Psicologia da Gestalt, sua influência foi indireta na Gestalt-terapia, posteriormente desenvolvida por Fritz Perls e seus colaboradores.

Nessa abordagem mais ampla desenvolvida por eles, o foco do estudo estava em compreender como os seres humanos percebem e organizam os estímulos sensoriais em configurações significativas, ao invés de analisá-los como elementos individuais isolados.

Dessa forma, a Gestalt-terapia adaptou essa ideia e a aplicou no campo emocional e psicológico, com foco em como as pessoas vivenciam e organizam suas experiências.

No Brasil, suas raízes foram lançadas por volta de 1970, com uma palestra seguida de um convite para que terapeutas estrangeiros formassem o primeiro grupo de Gestalt-terapeutas no país.

Quando surgiu no campo terapêutico, a abordagem despertou um grande interesse entre profissionais da área social, como educadores especializados, assistentes sociais, diretores de instituições para jovens em situação de vulnerabilidade e conselheiros conjugais, entre outros. O que chamava a atenção não era apenas o método em si, mas sua capacidade de atender de forma específica e eficaz às demandas práticas de suas atividades.

Imagem surrealista com um homem vestido com terno e sapatos sociais sentado em uma poltrona laranja no topo de um precipício. Ao fundo, sol e nuvens, além de lustres em formato de discos voadores.

Afinal, o que é Gestalt?

A pergunta de milhões vem de uma época em que seus teóricos ainda se diziam psicanalistas e, claro, bebiam da fonte de Sigmund Freud. Fritz Perls e sua esposa Laura Perls, faziam parte de um grupo de artistas e intelectuais não conformistas.

Perls era considerado por muitos como o criador da Gestalt-terapia, porém, analisando alguns livros, podemos encontrar o que era chamado de “grupo dos sete”, que englobava nomes como: Isadore From, Paul Goodman, Paul Weisz, Sylvester Eastman, Elliot Shapiro e Ralph Hefferline, além de Laura.

A abordagem acabou se tornando uma das forças rebeldes, humanistas e existenciais da psicologia, sendo redescoberta durante toda a história da humanidade, visto que seus conceitos e teorias continuam aparecendo sob novas formas.

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A Gestalt-terapia utiliza ferramentas criadas ou aprimoradas por Pearls – autointitulado como “redescobridor da gestalt” – para ajudar a desbloquear o modo natural de funcionamento do ser humano e, a partir dessa liberação, proporcionar uma vivência direta do que é a Gestalt.

Porém, apenas a experiência pode fazer isso – a própria experiência de si mesmo –, ou seja, não é uma teoria que pode ser colocada de forma fundamentada em um papel. Ela se baseia na compreensão da existência do indivíduo, focando na experiência do "ser" e na interação do ser humano com o mundo ao seu redor, considerando tanto a dimensão mental quanto a biológica.

Na Gestalt-terapia, é possível aprender a prestar atenção no que está acontecendo internamente, tanto na mente quanto no corpo, como uma forma de se entender melhor.

Essa forma de atuação pode ser desafiadora, pois, na maioria das vezes, estamos tão focados em nossas atividades diárias que nem percebemos o que estamos fazendo, sentindo ou querendo – vivemos de maneira automática, em muitos dos casos.

Em vez de observarmos o que está acontecendo enquanto falamos ou agimos, como se estivéssemos em um estado meditativo, acabamos nos identificando com o conteúdo das nossas palavras ou ações. Isso nos prende em ciclos, como sentir pena de nós mesmos, culpar os outros ou nos julgar, sem perceber que estamos apenas repetindo esses sentimentos e pensamentos. Dessa forma, o objetivo dos terapeutas da abordagem é ampliar o potencial humano por meio do processo de integração, apoiando os interesses, desejos e necessidades genuínas de cada pessoa.

Sabe aquele sentimento que fica guardado por muito tempo, sem ter a mínima condição de ser expressado? A Gestalt-terapia ajuda a nos “livrarmos” dele e, ao invés de esconder ou reprimir o que sentimos, aprendemos a expressar emoções de maneira saudável.

E isso se dá através de métodos específicos – e até mesmo simples –, como bater em uma almofada ou conversar com uma cadeira vazia, liberando assim esses sentimentos de forma segura e sem nenhum tipo de julgamento.

Como em outros tipos de terapia, ela não oferece a cura para todos os problemas, mas auxilia a viver melhor em um mundo cheio deles. Isso porque, quando conseguimos entender claramente o que está acontecendo na nossa vida, ela fica mais tranquila, sem confusão ou sofrimentos desnecessários, entrando em contato com o que sentimos, percebendo o que acontece ao nosso redor e formando nossas próprias experiências e interpretações.

Por fora existe uma imagem de um casal de idosos olhando um para o outro. A mulher está do lado esquerdo, com cabelos brancos e brinco em formato de garrafa. Ele, do lado direito, é calvo. Olhando de um outro ângulo, a figura externa é formada por duas entradas de um salão onde em cada portal estão sentados dois homens. O do lado direito segura na cabeça um pote de barro, ao lado do pé do seu pé direito uma garrafa transparente (que é o brinco da senhora). O do lado direito está sentado no chão sobre o portal segurando um violão e cantando. Atrás dele uma mulher aparece em um outro portal.

A psicologia das formas e as leis da Gestalt

Um dos principais conceitos da Gestalt-terapia trabalha com a relação de figura e fundo – que abarca seus princípios –, que é a forma como percebemos e organizamos nossas experiências. Em vez de olhar apenas para os elementos isolados, como faz a psicanálise, considera a totalidade da experiência.

Por exemplo, no contexto terapêutico, o comportamento do paciente não é uma manifestação isolada, mas o resultado de múltiplas variáveis que emergem na interação com o terapeuta. Por isso, o terapeuta deve atuar com flexibilidade e sensibilidade, ajustando-se às constantes dinâmicas e transformações do "campo" terapêutico.

As leis da Gestalt estão intimamente relacionadas com a psicologia das formas (ou psicologia da percepção), sendo considerada como uma das bases da teoria da Gestalt.

Ela investiga como o ser humano percebe, organiza e interpreta os estímulos sensoriais, formando padrões ou figuras significativas, em vez de simplesmente analisar os elementos de forma isolada. Dessa maneira, explica como o cérebro organiza os estímulos visuais para criar uma percepção clara e coerente do mundo, buscando sempre entender o todo, e não apenas suas partes.

Uma das leis fundamentais é a da Pregnância, também conhecida como lei da forma, que afirma que nossa percepção tende a organizar os estímulos de maneira mais simples, estável e completa, preferindo formas claras e simétricas. Em outras palavras, o cérebro busca sempre a forma mais "organizada" e "completa", aquela que exige o menor esforço cognitivo para ser compreendida. No esquema a seguir podemos explorar as demais leis:

Leis da Gestalt

Como ela se coloca

Unidade Afirma que o cérebro humano tende a perceber grupos ou elementos como uma única unidade, em vez de vê-los como partes separadas.
Unificação Descreve a tendência do cérebro de agrupar estímulos separados em uma unidade coerente quando há uma relação entre eles, formando uma figura única, similar à Lei da Unidade, mas com foco na conexão entre os elementos.
Semelhança Fala sobre a tendência do cérebro de agrupar elementos com características semelhantes, como cor, forma ou tamanho, em uma única unidade ou figura.
Proximidade Afirma que elementos próximos uns dos outros são percebidos como pertencentes ao mesmo grupo, independentemente de suas características individuais.
Fechamento Descreve que o cérebro tende a completar figuras incompletas, preenchendo lacunas para formar uma unidade coerente.
Continuidade Diz sobre como a nossa mente organiza elementos em uma sequência contínua, percebendo-os como um fluxo suave, mesmo quando há interrupções.
Segregação Sustenta que o cérebro tende a separar elementos distintos e organizá-los em grupos ou figuras diferentes, mesmo que compartilhem o mesmo espaço.


Essas leis explicam como organizamos as informações visuais para perceber o mundo de maneira estruturada e coerente, muitas vezes sem nos darmos conta de que esse processo está ocorrendo.

O que Fritz Perls ensinou em sua teoria é que as dificuldades de uma pessoa estão sempre no presente, e qualquer maneira de trazê-las à tona ajudará tanto o terapeuta quanto o cliente a entender melhor a situação.

A Gestalt-terapia não é apenas uma filosofia de viver no aqui e agora, mas também um conjunto de práticas que, com o tempo, aprimoram a capacidade de estar totalmente presente no momento.

As pessoas estão tão habituadas a viver em meio aos pensamentos, seguindo os padrões da consciência, dos hábitos e das expectativas, que, ao atingirem a vida adulta, já aprenderam a bloquear a experiência de viver esse presente, como falado anteriormente.

Então, Fritz demonstrou diversas maneiras de fazer com que essas questões se tornem visíveis. Sendo assim, a Gestalt, essencialmente, é uma abordagem que busca despertar as sutilezas da vida, permitindo que elas se manifestem, para que a vida seja percebida e compreendida de maneira mais clara.

Ela propõe uma abordagem que não foca apenas no cliente individual, mas também na relação estabelecida entre ele e o terapeuta. A ênfase está no "campo" no qual o processo terapêutico ocorre, o que significa que tanto o cliente quanto o terapeuta são parte ativa da experiência.

Podemos dizer que Fritz Perls e Paul Goodman deslocaram a ênfase do "por quê?" do passado para o "como?" no presente, permitindo que a pessoa se torne mais consciente de suas experiências no momento atual. A ideia de awareness (consciência) surge aqui, permitindo que o cliente perceba o que está acontecendo com ele tanto interna quanto externamente, de forma corporal, mental e emocional. A awareness não é apenas uma reflexão sobre o problema, mas uma integração criativa do que está sendo experienciado, relembrado ou dito no momento presente.

Diferente da psicanálise, que explora o passado e os processos inconscientes do paciente, a Gestalt-terapia foca no que está acontecendo no "aqui e agora". Em vez de permitir que o terapeuta permaneça distante ou semi-oculto, a abordagem gestáltica coloca o terapeuta no centro da experiência terapêutica, junto ao cliente. A relação entre ambos deve ser clara e dinâmica, com o terapeuta se envolvendo no processo sem se esconder atrás das cortinas.

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Para quem é indicada a Gestalt-terapia?

Como falamos anteriormente, a Gestalt-terapia consiste em explorar e entender a estrutura interna da experiência concreta do cliente. O objetivo é investigar não apenas o que está sendo dito ou feito, mas como está sendo expressado – gestos, expressões faciais, tom de voz e outros detalhes são analisados.

Dessa forma, a importância do corpo como parte fundamental da experiência também é reconhecida. O terapeuta presta atenção nas manifestações corporais do cliente, como posturas e movimentos involuntários, que podem revelar aspectos da experiência emocional ou psicológica que o cliente talvez não esteja consciente. O sintoma corporal, portanto, é utilizado como uma “porta de entrada” para o processo terapêutico, respeitando a forma como o cliente se expressa, ainda que de maneira involuntária.

Podemos dizer que a Gestalt, mais do que uma psicoterapia, é uma ferramenta metodológica que permite uma visão holística do ser humano. Ela integra várias correntes terapêuticas e filosóficas e prepara o terreno para uma nova visão do homem, onde a busca pelo "ser" integrado supera a busca pelo "ter" fragmentado. Em vez de um foco na causa ou no "porquê", valoriza o "como" e o "para quê", enfatizando a experiência direta, a percepção e a consciência do presente. Essa abordagem não busca ser uma ciência no sentido tradicional, mas continua sendo uma arte que acompanha as tendências contemporâneas.

Por isso, é indicada para uma ampla variedade de pessoas, pois não se restringe a tratamentos de transtornos psicológicos específicos, mas busca promover o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal:

  • Para aqueles que desejam compreender melhor seus sentimentos, pensamentos, comportamentos e suas interações com o mundo ao seu redor.
  • Pessoas que enfrentam desafios como ansiedade, depressão, estresse ou outros sintomas que afetam seu bem-estar emocional, mas que ainda não necessariamente possuem um diagnóstico clínico.
  • Quem está vivendo momentos de transição na vida, como mudanças de carreira, divórcio, aposentadoria, entre outras situações que exigem adaptação ou reflexão sobre novos caminhos.
  • Ou que possui dificuldade de expressar, compreender emoções ou que enfrentam desafios nos relacionamentos interpessoais, seja com familiares, amigos ou colegas de trabalho.
  • Especialmente útil para quem deseja conectar mais profundamente com seu corpo, por meio da observação de posturas, respiração, microgestos e outras manifestações físicas que refletem o estado emocional.
  • Pessoas que preferem uma abordagem terapêutica que não se concentre tanto em explicações analíticas, mas sim na vivência do momento presente e na construção do significado da experiência de forma prática.
  • Podendo também ser aplicada em contextos de grupos ou terapia familiar, ajudando a identificar padrões de interação, aumentar a consciência coletiva e facilitar a comunicação entre os membros.


A Gestalt-terapia é uma abordagem terapêutica flexível e profunda, indicada para qualquer pessoa que deseje se reconectar consigo mesma, compreender suas emoções e comportamentos, e promover um maior equilíbrio nas suas relações e na sua vida. Ao focar no presente, auxilia no autoconhecimento e no desenvolvimento de uma consciência mais plena e integrada.

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Referências bibliográficas

GINGER, Serge. Gestalt: uma terapia do contato. São Paulo: Summus, 1995.

PERLS, Frederick Salomon. Isto é Gestalt. São Paulo: Summus, 1977.

PERLS, Frederick Salomon. Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997.

Quantas vezes ao longo do ano refletimos sobre o verdadeiro sentido da vida, os motivos de estarmos trilhando o caminho que escolhemos, nossas relações ou a forma como enxergamos a nós mesmos e ao mundo?

É como dar uma pausa em tudo aquilo que nos move diante das tantas demandas atuais, do imediatismo e da correria do dia a dia – e nos agarrarmos à atenção plena, a fim de, como seres humanos pensantes, reconhecermos a nossa verdadeira natureza e encontrarmos o significado de propósito.

Muitos chamam isso de autoconhecimento, mas Jung, com as teorias que construiu na psicologia analítica, chamou de processo de individuação.

Imagem representando uma estrada com várias opções de caminho no horizonte, com uma silhueta de pessoa no meio. Ao redor, muitas árvores, plantas e jardins multicoloridos.

O sentido da vida alinhado ao processo de individuação

A vida acontece de forma natural, como se fosse algo básico explicado pela famosa frase dos ciclos: “nascemos, crescemos, nos reproduzimos e morremos.” Mas será que é só isso mesmo?

Primeiro, porque no meio de cada uma dessas etapas passamos por transformações que englobam não só a nossa vida externa, mas também a interna – onde a expansão da consciência se torna necessária para acessarmos conteúdos guardados, esquecidos ou reprimidos, além dos símbolos, arquétipos e demais representações que nos oferecem insumos para que o processo aconteça.

Para Carl Jung, existe um caminho a ser percorrido, no qual a pessoa se torna, a grosso modo, uma versão mais plena e integrada de si mesma. A esse caminho, ele deu o nome de processo de individuação, que busca uma harmonia entre os diferentes aspectos da psique – sejam eles conscientes ou inconscientes.

Dessa forma, é possível levar uma vida mais autêntica e tornar-se quem sempre foi. Parece bem simples ao ler essas palavras, mas a realidade é que a consciência torna tudo mais difícil, já que se desvia da base arquetípica instintual – interconexão entre os arquétipos (estruturas inatas do inconsciente coletivo) e os instintos (impulsos biológicos naturais que orientam nosso comportamento) –, mantendo oposição a ela.

O sentido da vida, nesse caso, vai para um lugar de integração, visto que a psique é constituída de duas metades incongruentes que, juntas, deveriam formar um todo. Muitas vezes, inclusive, pensamos que a consciência é capaz de assimilar o inconsciente, porém ele é algo que não conhecemos – e que se apresenta através de símbolos e arquétipos, conforme citado.

Mesmo que tenhamos acesso a esses materiais – muitas vezes através dos sonhos e seus conteúdos oníricos –, não quer dizer que somos capazes de penetrar nos recônditos do inconsciente.

Por isso, segundo Jung, a individuação é um processo dinâmico e permanente, além de possuir dois movimentos principais:

  1. Decompor o inconsciente por meio da análise o separatio na alquimia: a separação analítica envolve se desprender das identidades que a pessoa criou com base em outras, de coisas externas e daquilo que está enraizado dentro de si mesmo. Esse processo de desapego ajuda a desenvolver uma consciência mais clara e reflexiva, como um espelho cristalino.
  2. Observar e ter atenção às imagens simbólicas que surgem do inconsciente coletivo: essas imagens aparecem em sonhos, na imaginação ativa – técnica desenvolvida por Jung – e em eventos que parecem coincidir de forma significativa – sincronicidades. Isso envolve a integração dos novos conteúdos do inconsciente à vida cotidiana e ao modo como a mente consciente funciona.




O processo de individuação engloba a necessidade de que sejamos capazes de desvendar os aspectos mais confusos e entrelaçados da nossa psique, fazendo com que se tornem mais claros.

É necessário uma espécie de confronto, além do distanciamento de certos traços do nosso caráter, permitindo que novos componentes da psique venham à tona, para que exista uma integração em um todo mais completo.

Falando assim, parece algo muito complexo para o entendimento consciente – e é mesmo –, por isso a psicologia junguiana nos apresenta um caminho para lidar com tais paradoxos, mantendo-os na consciência e compreendendo suas complexidades – não à toa, a abordagem teórica e clínica de Carl Jung é denominada de psicologia complexa ou psicologia profunda.



Principais etapas do processo de individuação

O princípio da individuação revela algo essencial sobre o ser humano: o impulso básico e natural de nos distinguirmos do que nos cerca. Esse movimento não é algo opcional, muito menos condicional e, para Jung, existem duas fases principais, a primeira e a segunda metade da vida – que começa por volta dos quarenta anos.

Sabe aquela famosa crise de meia-idade? Popularmente chamada assim, essa transição para um retorno de quem se é, ou seja, um retorno a si mesmo, é considerada como uma oportunidade para o “crescimento” psicológico. Dessa forma, antigos padrões podem ser deixados de lado, restabelecendo uma nova ordem, que cria espaço para um novo tipo de consciência.

Jung divide tal processo em duas etapas, com características distintas que podem ser vistas no esquema abaixo:

PRIMEIRA METADE DA VIDA SEGUNDA METADE DA VIDA
Foco no desenvolvimento do ego e na construção de uma identidade sólida. Foco do mundo externo para o interno, com integração de partes esquecidas ou reprimidas da psique.
Consolidação dos papéis sociais e formação de família, além do estabelecimento de carreira. Existe um questionamento sobre o propósito da vida, além de uma revisitação ao significado de escolhas e valores – pode gerar uma crise existencial.
Adaptação ao mundo exterior, com um esforço gerado para atender demandas e expectativas sociais, familiares e culturais. Pode haver uma manifestação de elementos como sombras, arquétipos e aspectos inconscientes para que sejam reconhecidos e incorporados.
Pode haver repressão de aspectos inconscientes, gerando um afastamento das partes mais profundas do Self. Passa a existir um movimento em direção à harmonia entre o Self e o ego, permitindo assim uma vida mais autêntica.
Desenvolvimento de uma personalidade consciente, que garante autonomia e independência. O foco se desloca de conquistas externas para a realização interna e espiritual, redefinindo as prioridades.


Embora grande parte das pessoas ignore esse processo, reprimindo e não admitindo a transição, ele acontece durante toda a vida dos seres humanos, sendo uma obra contínua que nunca chega ao fim – ou seja, não existe uma conclusão.

Uma das palestras de Jung, de 1916, traz a seguinte afirmação sobre a individuação: “é um princípio que possibilita, e se necessário determina, a diferenciação progressiva com relação à psique coletiva”.

Mas é óbvio que para entendermos tal conceito – bem como todos os outros conceitos, teorias e terminologias utilizadas por Jung – é necessário um aprofundamento em sua obra e a Casa do Saber disponibiliza cursos que auxiliam o público nesta missão.

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O Sábio

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Conteúdos que podem auxiliar na busca do sentido da vida

Para começar, vale reforçar que a psicologia – não só a analítica – nos exige constante pesquisa, estudo, esforço e atualização. Isso pode se dar através de cursos livres, formações, leitura de livros, artigos etc.

Dentro do tema abordado neste texto, podemos apresentar algumas obras de Jung, como:

  • Septem Sermones ad Mortuos [Sete Sermões aos Mortos]: onde aparece uma das primeiras ocorrências do termo individuação.
  • Memórias, Sonhos, Reflexões: em que descreve os anos de “confronto com o inconsciente”.
  • O Livro Vermelho – uma leitura mais avançada (não que as anteriores não sejam): onde se encontram os resultados do período do livro anterior.


Também podemos citar autores como Murray Stein, e seu livro “Jung e o caminho da individuação”; mesmo autor de “Jung, o mapa da alma”; bem como “Alquimia e a imaginação ativa”, escrito pela famosa Marie-Louise Von Franz.

Complementando, Tatiana Paranaguá, professora da Casa do Saber, nos oferece uma excelente explanação a respeito de quatro livros para compreender aspectos dos pensamentos de Carl Jung, sua personalidade e a construção de uma psicologia profunda que atua de forma ampla e complexa. As obras possuem estilos distintos, tendo sido escritas pelo próprio Jung, servindo como um importante ponto de partida para a compreensão de tudo o que dissemos até aqui, como também para o que você ainda irá estudar e consultar ao longo do seu desenvolvimento profissional e pessoal.



Como aprender com os cursos da Casa do Saber

A Casa do Saber possui uma curadoria que tem como objetivo oferecer conteúdos que agreguem valor não só às pesquisas, como também na formação dos seres humanos como um todo. Por isso, opta não só pelos clássicos, mas engloba pensadores contemporâneos e temas acessíveis e aplicáveis ao cotidiano individual e coletivo.

Se você já é assinante e busca por conteúdos que tenham a ver com a sua área de atuação, basta clicar em “explorar cursos” para ter uma visão geral do que é apresentado na plataforma – onde cada um deles é dividido em setores autoexplicativos.

Dica:

Caso queira realizar uma pesquisa específica, basta clicar no símbolo da lupa e digitar seu interesse, sendo assim, a plataforma irá apresentar todos os cursos que estejam alinhados à palavra-chave em questão – são mais de seiscentas horas em aulas sobre diversas áreas do conhecimento!

Você também pode buscar pelos professores, seguindo o mesmo padrão – clicando em “nossos professores” ou pesquisando pela lupa que se encontra no canto superior direito.

Para os não assinantes, a chance é agora, pois a Casa do Saber oferece sete dias de acesso gratuito para que seja possível navegar pela plataforma a fim de conhecer cursos, professores e todas as aulas disponíveis.

Os cursos, inclusive, são divididos em aulas com títulos específicos, organizados de acordo com o tema abordado. Isso facilita para o aluno que deseja assistir a módulos separados para complementar algum estudo. Quer uma dica de ouro? Faça anotações separando cursos e aulas; assim, quando precisar pesquisar novamente, escrever um artigo acadêmico ou preparar um trabalho para a faculdade, saberá exatamente onde encontrar o conteúdo para citá-lo.

Agora que já falamos sobre como realizar suas pesquisas dentro da plataforma, que tal explorar o tema da individuação e do sentido da vida com novas perspectivas e olhares?



Filosofia e pensamento contemporâneo, como encontrar significado aqui agora

Agora que você já sabe como explorar os conteúdos da Casa do Saber, é essencial incorporar também perspectivas de pensadores contemporâneos, enriquecendo o olhar singular de Jung.

Um excelente exemplo é Contardo Calligaris, que em seu curso O Sentido da Vida, nos convida a refletir sobre respostas automáticas, como à habitual pergunta “está tudo bem?”. Ele destaca como essa interação frequentemente revela um comportamento inconsciente, já que, na maioria das vezes, respondemos “sim” – mesmo quando não estamos bem.

Isso porque o desejo de evitar desconfortos e a incapacidade de lidar com respostas sinceras podem revelar uma espécie de desconexão entre o eu consciente e os conteúdos mais profundos da psique – podendo ser considerado como um reflexo do hábito de reprimir emoções e pensamentos que não se alinham com a expectativa social de otimismo que nos cerca atualmente – a famosa positividade tóxica –, prejudicando, muitas vezes, a autenticidade das relações humanas.

A conexão entre o inconsciente e o consciente está diretamente ligada à busca por propósito e significado, aspectos fundamentais da jornada humana – que, como vimos anteriormente, Jung denomina de processo de individuação.

Dessa forma, também podemos citar algumas falas de Kaká Werá, que nos traz o poder criador – muito ligado ao exercício da liberdade criadora – como um reflexo de uma possível integração: ao transformar experiências passadas em novas possibilidades, o indivíduo se torna agente de sua própria existência. Essa transformação ocorre no presente, onde o mundo do alto (transcendência), o mundo do meio (vida organizada) e o mundo de baixo (tempo e matéria) convergem, segundo a tradição Tupi.



É necessário que possamos ampliar a forma como estudamos a psicologia – não só a analítica –, uma vez que a atualidade nos demanda olhares variados. Por isso, aqui citamos também Renato Nogueira, que apresenta um olhar sensível sobre como o amor e a infância desempenham papéis essenciais nessa jornada da individuação.

Em seu curso “Qual é o sentido da vida”, ele traz o amor, descrito por Fromm e Reich, como sendo uma força que equilibra e conecta o indivíduo ao mundo, promovendo autoconhecimento e vínculo. A infância, com sua confiança inata e potência criadora, é o estado em que a relação com a vida é mais pura e autêntica. Resgatar essa energia vital, mesmo na vida adulta – e na velhice –, é um exercício de resistência ao esvaziamento do sentido.

Jung também afirma que o envelhecimento não deve ser temido, mas sim encarado como uma oportunidade de refinar e expandir a consciência. E Renato traz o pensamento de Marco Túlio Cícero, que reforça essa ideia ao destacar que a experiência acumulada ao longo da vida nos permite encontrar propósito e gratidão. Esse processo não significa apenas olhar para o passado, mas reconfigurar nossa relação com o tempo, reconhecendo que o futuro é moldado pela qualidade de nossa vivência no presente.

Para finalizar todo esse apanhado, vale dizer que a integração da consciência e do inconsciente nos dá a capacidade de acessar o nosso potencial criador e explorar o desconhecido. Como Jung sugere, essa integração nos conduz ao máximo desenvolvimento da consciência humana, permitindo que transcendamos as limitações impostas pelo tempo e pelo espaço. E, ao abordarmos este tema, é indispensável mencionar Viktor Frankl, criador da Logoterapia, que fundamentou toda a sua abordagem na busca pelo sentido da vida. Para Frankl, a vida nos apresenta constantemente uma pergunta: "O que faremos dela?"





Referências bibliográficas

JUNG, Carl Gustav. Sobre sonhos e transformações. Petrópolis: Vozes, 2014.

JUNG, Carl Gustav. Memórias, sonhos e reflexões. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 2017.

STEIN, Murray. Jung e o caminho da individuação. São Paulo: Cultrix, 20015.

STEIN, Murray. Jung, o mapa da alma. São Paulo: Cultrix, 2006.

VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia e a imaginação ativa. São Paulo: Cultrix, 2022.

O estudo da libido revela como as pulsões impactam o sujeito e influenciam a sexualidade. Este texto explora essas transformações teóricas e como elas ajudam a compreender as complexas relações entre desejo, identidade e subjetividade.




A libido na teoria psicanalítica: origens, evolução e implicações clínicas

O conceito de libido, cuja etimologia remonta ao latim, em que significa "desejo", carrega consigo uma história complexa, que se entrelaça com diversas teorias sobre o sexual e psíquico ao longo do século XIX e XX. Inicialmente, o termo foi utilizado por Moriz Benedikt e, posteriormente, por cientistas como Albert Moll e Richard von Krafft-Ebing, para designar uma energia instintiva ligada à sexualidade, ou libido sexualis. No entanto, foi Sigmund Freud quem transformou e ampliou o significado de libido, conferindo-lhe um papel central na psicanálise, ao utilizá-lo para descrever as manifestações das pulsões sexuais na vida psíquica e, por extensão, para explicar a sexualidade humana, incluindo suas manifestações infantis e não-genitais.

Freud e a construção do conceito de libido

Sigmund Freud apresentou uma mudança paradigmática ao incorporar a libido em sua teoria da sexualidade, a qual ele delineou de maneira mais clara em 1905, com a publicação de Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. Nessa obra, Freud introduziu a libido como uma manifestação da pulsão sexual, que, em sua visão, não se limitava ao aspecto genético ou somático, mas estava profundamente imersa nas dinâmicas psíquicas do sujeito. Esse movimento foi uma revolução na compreensão da sexualidade, uma vez que Freud desafiou as noções vigentes da época, que viam a sexualidade como uma mera questão biológica ou moral.

A libido, conforme Freud, era uma energia psíquica vinculada à pulsão sexual, mas com um caráter multifacetado e polimorfo. A ideia de uma sexualidade infantil que se manifestaria de diferentes formas ao longo da vida foi uma das maiores inovações de Freud. De acordo com sua teoria, a libido não se restringe à genitalidade, mas se desloca, ao longo da vida, para diferentes objetos e metas, sendo capaz de se sublimar em atividades não sexuais, como a arte e a intelectualidade. Assim, Freud expandiu o conceito de libido para além do sexo, entendendo-o como a força motivadora para o sujeito fazer investimentos no mundo externo.



O narcisismo e a libido do eu

Uma das grandes inovações de Freud foi a introdução da ideia de que a libido não se limita à busca de objetos externos, mas também pode ser direcionada ao próprio eu, conceito que ficou conhecido como libido do eu ou libido narcísica. A partir de 1914, Freud incorporou o narcisismo à sua teoria, entendendo-o como uma forma de investimento libidinal voltada para a própria pessoa. O narcisismo, então, torna-se uma das formas mais complexas e interessantes de manifestação da libido, uma vez que envolve tanto o amor-próprio quanto a relação do sujeito com sua imagem e identidade. Essa mudança teórica foi uma resposta direta às tensões e conflitos gerados pela interpretação sexual da psique humana, ampliando a compreensão da libido para além de suas expressões genitais ou objetais.

O conceito de libido e as críticas

A teoria da libido, especialmente após as reformas que Freud introduziu nas primeiras décadas do século XX, foi alvo de críticas e resistência. A crítica de Carl Gustav Jung, que se distanciou de Freud e desenvolveu uma abordagem alternativa, foi um dos momentos mais significativos dessa resistência. Jung propôs que a libido deveria ser vista não como uma energia sexual, mas como uma energia psíquica mais geral, capaz de se manifestar em diversas formas de comportamento, incluindo processos espirituais e intelectuais. Para Jung, a libido não estava restrita ao impulso sexual, mas era uma força motriz subjacente a toda a atividade psíquica.

A reação ao pansexualismo de Freud também ganhou força entre alguns de seus discípulos, como Alfred Adler, e na comunidade médica e científica da época, que viam a sexualidade como um componente mais restrito e menos central da vida psíquica. No entanto, Freud se manteve firme em sua perspectiva, defendendo que a libido, como expressão da pulsão sexual, era um fator primordial na constituição do psiquismo humano.

A libido na psicanálise lacaniana

Na psicanálise lacaniana, a libido é vista como uma energia que está profundamente ligada ao conceito de "objeto a". Lacan descreve o "objeto a" como o que o sujeito perde ao nascer, algo essencial à sua constituição psíquica. Esse "objeto perdido" pode se manifestar de diferentes formas, como excrementos, o olhar ou a voz. A busca por esse objeto reflete a tentativa do sujeito de restaurar sua perda original, criando a base para o desejo e a pulsão. A teoria de Lacan oferece uma nova perspectiva sobre a libido, ampliando a visão de Freud e conectando-a a questões de falta e sexualidade.

  • Libido e Pulsão: A Relação entre Energia Sexual e Subjetividade
    Freud identificou a libido como uma energia sexual, inicialmente associada à polaridade entre virilidade e feminilidade. Lacan, no entanto, amplia esse conceito, situando a libido não apenas como um impulso sexual, mas como uma força que interage com a pulsão. A pulsão, em Lacan, está ligada ao destino do sujeito e à sua estrutura psíquica, marcada pela falta e pelo desejo. A libido, portanto, não é só uma energia sexual, mas também um ponto de ancoragem para o sujeito, em sua busca por completar o que foi perdido.
  • Tipos Libidinais: A Diversidade Psíquica segundo Lacan
    A teoria lacaniana propõe uma tipologia dos tipos libidinais, que considera a forma como a libido se organiza nas diferentes instâncias psíquicas. De acordo com Lacan, esses tipos podem ser classificados em três grandes categorias: erótico, narcisista e obsessivo. Cada tipo é caracterizado pela predominância da libido em relação ao isso (instância pulsional), ao eu (instância do eu) ou ao supereu (instância moral). Essa tipologia permite entender melhor a dinâmica da libido e sua relação com os processos psíquicos, fornecendo uma estrutura para compreender as diferentes formas de desejo e sexualidade no sujeito.
  • A Sublimação e o Destino Pulsional: O Impacto na Psicologia
    A sublimação é um conceito essencial na psicanálise, que Lacan também integra em sua teoria sobre a libido. A libido pode ser desviada ou transformada em outras formas de expressão, não diretamente ligadas à sexualidade. Esse processo, conhecido como sublimação, está relacionado ao modo como o sujeito lida com a falta e o desejo. Além disso, Lacan explora como a pulsão molda o destino pulsional do indivíduo, influenciando suas escolhas e ações ao longo da vida. A teoria lacaniana da libido, assim, conecta a sexualidade com a estrutura psíquica e com o desenvolvimento do sujeito, criando uma visão mais abrangente da psicanálise.





Conclusão:

A teoria da libido, tanto em Freud quanto em Lacan, oferece uma compreensão profunda das dinâmicas psíquicas que envolvem o desejo, a pulsão e a falta. Para Freud, a libido é uma energia sexual fundamental que atravessa todas as fases do desenvolvimento humano, sendo moldada por questões de virilidade, feminilidade e a castração. Lacan, por sua vez, expande esse conceito ao situar a libido no contexto do "objeto a" – o objeto perdido que dá origem ao desejo e à pulsão. Ambos os pensadores exploram como a libido não se limita à sexualidade explícita, mas também se reflete em questões psíquicas mais profundas, como a sublimação e as relações do sujeito com o Outro.

Para aprender mais sobre a libido, é essencial estudar as vicissitudes da pulsão, a construção dos tipos libidinais e como esses conceitos são fundamentais para compreender a psicanálise e a psicologia humana em sua totalidade.

Para aqueles que desejam se aprofundar ainda mais nos conceitos de libido, pulsão e psicanálise, a Casa do Saber oferece cursos especializados que exploram essas e outras questões fundamentais da teoria psicanalítica. Com um corpo docente qualificado e uma abordagem teórica profunda, os cursos da Casa do Saber proporcionam um ambiente de aprendizado dinâmico e enriquecedor, ideal para quem busca uma compreensão mais aprofundada do pensamento de Freud, Lacan e outros grandes teóricos. Ao se inscrever, você terá a oportunidade de explorar os conceitos psicanalíticos de maneira prática e teórica.

O Programa +Psicanálise é ideal para quem quer se aprofundar e atualizar na área com cursos e conteúdos dos maiores professores do país.

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Referências Bibliográficas

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.




A camada mais profunda da psique humana: o inconsciente coletivo

Jung dedicava-se a um intenso processo de introspecção enquanto enriquecia seus estudos com os relatos e experiências apresentados por seus pacientes. Esse mergulho profundo no inconsciente, realizado sobretudo por meio da análise de sonhos e fantasias, permitiu com que ele explorasse as fontes mais enigmáticas da psique.

Com base nessas investigações, Jung formulou teorias sobre as estruturas gerais da mente humana – aquelas que transcendem a individualidade e pertencem a todos. Assim, denominou a camada mais profunda da psique como inconsciente coletivo, identificando seu conteúdo como uma combinação de forças universais e padrões recorrentes, os quais chamou de arquétipos.

Dessa forma, de acordo com o que a psicologia junguiana chama de inconsciente coletivo, já teríamos uma estrutura psíquica prévia, ou seja, antes mesmo de desenvolvermos nossa psique ela já estaria ali, pronta para se manifestar seus conteúdos, que seriam idênticos em todos os seres humanos.

Em seu livro “Os arquétipos e o inconsciente coletivo”, podemos encontrar um parágrafo que descreve de forma genuína o que Jung nos traz acerca de tal conceito: “É o mundo da água, onde todo vivente flutua em suspenso, onde começa o reino do "simpático" da alma de todo ser vivo, onde sou inseparavelmente isto e aquilo, onde vivencio o outro em mim, e o outro que não sou, me vivência.



Descubra seu Arquétipo Junguiano

Embarque em uma jornada de autoconhecimento através deste quiz baseado na Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung.

O Sábio

O Inocente

O Explorador

O Governante

O Criador

O Cuidador

O Amante

O Herói

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O inconsciente coletivo é tudo, menos algo individual e fechado em si mesmo, é amplo e conectado a tudo que se encontra ao nosso redor, ele é formado por conteúdos que não adquirimos individualmente e que nunca fizeram parte da nossa consciência – eles existem por causa da herança psicológica que recebemos, algo transmitido através das gerações. Uma maneira de entender isso é imaginar o inconsciente coletivo como um vasto oceano, com uma pequena ilha que representa a nossa consciência.

Jung vai além ao afirmar que nossa psique não é uma "tabula rasa", ou seja, não nascemos sem nenhum conteúdo mental. Em vez disso, temos essa herança psicológica que se soma à nossa herança biológica, influenciando quem somos e como vemos o mundo.

Portanto, ao entender o inconsciente coletivo, Jung nos oferece uma visão mais abrangente da psique humana, desafiando a ideia de que não somos apenas produtos das nossas experiências individuais. Dessa forma, podemos considerar a existência de um depósito de saberes e imagens universais que transcendem o tempo e o espaço, conectando todos os seres humanos.

Imagem feita em Inteligência Artificial de uma cabeça humana e vários componentes saindo dela. Ao fundo, céi azul com nuvens e algumas montanhas.

O inconsciente pessoal e a forte carga emocional

Carl Jung não teria alcançado as profundezas da psique sem antes explorar sua camada mais superficial, conhecida como inconsciente pessoal, distinguindo-a do inconsciente coletivo.
Para melhor compreensão, podemos recorrer a uma reflexão de Nise da Silveira, que descreve o inconsciente pessoal como uma camada onde se manifestam percepções, impressões subliminares e representações carregadas de intenso potencial afetivo, sendo assim incompatíveis com a postura consciente – para Jung, eram os complexos afetivos ou apenas complexos, derivados de nossas vivências pessoais marcadas por forte carga emocional:

  • Complexos são padrões emocionais e comportamentais inconscientes.
  • Surgem de experiências emocionais intensas ou traumas.
  • Influenciam o comportamento de maneira inconsciente.
  • Podem gerar reações irracionais.
  • São projetados em outras pessoas, afetando relações.
  • O objetivo da individuação é integrar esses complexos ao consciente.
  • A análise dos sonhos ajuda a entender e integrar os complexos.

Sabe aquele pensamento ou emoção que um dia você sentiu e “nunca mais” se recordou dele? De acordo com a psicologia analítica e seus conceitos, qualquer coisa que saia da nossa consciência por algum motivo não se perde ou desaparece, mas sim fica armazenado no que se chama de inconsciente pessoal, como uma espécie de arquivo temporário da mente.

Em algum outro momento existe a capacidade de que possamos lembrar ou, até mesmo perceber, tais pensamentos ou emoções, mesmo que estejam bloqueados, esquecidos ou escondidos na nossa psique. Mesmo assim, tudo isso pode continuar influenciando ações, sentimentos e escolhas na vida cotidiana, pois, de fato, estiveram sempre ali.

Dessa maneira, Jung nos traz a ideia de que a mente humana é uma vasta rede de camadas interconectadas, onde o inconsciente pessoal, com suas impressões e complexos emocionais, serve de ponte para o inconsciente coletivo, que guarda os arquétipos universais da experiência humana.

Para que possamos entender de forma mais didática, separamos uma tabela comparativa com as principais características de cada um dos “inconscientes”:

INCONSCIENTE PESSOAL INCONSCIENTE COLETIVO
Imagens arquetípicas: Não são universais, mas refletem a experiência e os aspectos culturais de cada pessoa. Arquétipos: Padrões universais de comportamento, imagens e símbolos compartilhados por toda a humanidade.
Possui aspectos culturais: As vivências pessoais de uma pessoa estão frequentemente moldadas pelas normas, valores e tradições da sociedade em que ela vive. Comuns a toda a humanidade: Independentemente de sua cultura ou histórico pessoal. Contém padrões que são compartilhados.
Tem relação com complexos e cargas afetivas: Padrões de emoções, pensamentos e comportamentos inconscientes originados de experiências de vida com forte carga emocional, como traumas, conflitos ou situações não resolvidas. Extrapola as experiências vividas de cada indivíduo: Abarca experiências universais e atemporais, como arquétipos que representam a herança coletiva da humanidade.
Seus conteúdos já estiveram na consciência: Pensamentos ou sentimentos que, por alguma razão, foram afastados da consciência e guardados nesse "arquivo mental". Seus conteúdos nunca passaram pela consciência: Não é algo que tenha sido conscientemente experimentado ou adquirido, mas é transmitido através da herança psicológica.


Dessa forma, a psicologia junguiana procura, principalmente em sua clínica, dar prioridade ao inconsciente individual, porém sem deixar de lado os conteúdos presentes também no inconsciente coletivo.

Pintura de uma mulher cujo rosto é retirado como máscara e ela o segura em uma das mãos. Do buraco criado em seu rosto, sai uma pomba branca.

Os arquétipos, o inconsciente coletivo e uma das suas aplicações na contemporaneidade

A partir da leitura deste e de outros textos da Casa do Saber, mesmo que você não tenha percebido, várias manifestações de arquétipos do inconsciente coletivo podem ter se manifestado. É assim que as teorias de Jung podem ser também analisadas e descritas, afinal, as redes sociais e o universo on-line são uma das ferramentas para acesso aos conteúdos universais.

Trends, memes, emojis e hashtags, criam símbolos diariamente, fazendo com que exista uma manifestação que ressoa com diferentes culturas, independente da localidade.

Dentro desse ambiente digital, essas imagens arquetípicas se mostram de formas simbólicas, refletindo tanto os conteúdos universais do inconsciente coletivo quanto as experiências pessoais do inconsciente individual.

Nas redes sociais, o inconsciente pessoal de cada indivíduo se mistura com o inconsciente coletivo da sociedade digital, criando um espaço onde as imagens arquetípicas podem ser projetadas, distorcidas ou até mesmo amplificadas.

Jung acreditava que o processo de individuação – o desenvolvimento do indivíduo em direção à totalidade e à integração da psique – pode ser facilitado pelo reconhecimento e confronto com esses arquétipos.

Esse processo de individuação, quando aplicado ao ambiente digital, pode ser visto como uma jornada de autodescoberta e integração, onde as pessoas têm a oportunidade de confrontar, expressar e transformar seus conteúdos internos – podendo isso ser benéfico ou não.







Referências bibliográficas

JUNG, C. G. A dinâmica do inconsciente. Petrópolis: Vozes, 1984.

JUNG, C. G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.

JUNG, Carl Gustav. Sobre sonhos e transformações. Petrópolis: Vozes, 2014.

BONFATTI, Paulo; NOGUEIRA Cátia; BLANCO Manuela; COSTA Marina. Breves considerações acerca do conceito de inconsciente coletivo na psicologia analítica de Carl Gustav Jung. Juiz de Fora: Uniacademia, 2019.




Inteligência Emocional: Entenda Como Ela Pode Transformar Sua Vida

A inteligência emocional, popularizada pelo psicólogo Daniel Goleman em 1995, é uma habilidade socioemocional importante para o equilíbrio em várias áreas da vida, inclusive no ambiente de trabalho. No livro Inteligência Emocional, Goleman destacou que essa habilidade é tão importante quanto o coeficiente intelectual (QI) para o bem-estar pois nos permite reconhecer e gerenciar tanto nossas emoções quanto as dos outros.

Nesse sentido, a inteligência emocional apresenta-se como uma competência que contribui para tomadas de decisão mais assertivas e para desenvolver relacionamentos melhores. Neste artigo, vamos apresentar o conceito de inteligência emocional, suas principais competências e como colocá-la em prática para ter uma melhora significativa em todas as áreas da vida.



O que é Inteligência Emocional?

A Inteligência Emocional refere-se à habilidade de reconhecer, compreender e gerenciar as próprias emoções, bem como perceber e lidar com as emoções dos outros. Popularizada pelo psicólogo Daniel Goleman, ela abrange cinco componentes principais: autoconsciência, autorregulação, motivação, empatia e habilidades sociais, e é essencial tanto no âmbito pessoal quanto profissional.

A Inteligência Emocional também está ligada à neuroplasticidade, ou seja, à nossa capacidade de criar novas conexões cerebrais ao longo do tempo. Ao praticar essas habilidades, conseguimos reconfigurar nossos padrões emocionais e comportamentais, o que permite um maior controle sobre nossas reações automáticas. Embora inicialmente desafiador, esse processo de desenvolvimento se torna mais natural com a prática contínua.

Confira a seguir os principais componentes que formam a Inteligência Emocional:

COMPONENTES DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL SIGNIFICADO
Autoconsciência É a base da inteligência emocional. Ela permite identificar nossas emoções no momento em que surgem, compreender suas causas e reconhecer como afetam nossos pensamentos e comportamentos. Esse autoconhecimento é crucial para lidar de forma mais equilibrada com os desafios do dia a dia.
Autorregulação Diz respeito à capacidade de controlar impulsos e reagir de forma equilibrada, especialmente em situações de estresse ou adversidade. A pessoa emocionalmente inteligente é capaz de manter a calma e tomar decisões ponderadas, evitando reações automáticas que poderiam ser prejudiciais.
Motivação Está relacionada à capacidade de se manter focado em objetivos de longo prazo, apesar das dificuldades. Indivíduos com alta inteligência emocional são motivados por mais do que recompensas externas, como dinheiro ou reconhecimento; eles encontram satisfação no próprio processo e no impacto positivo que causam no mundo ao seu redor.
Empatia Envolve a capacidade de compreender e compartilhar os sentimentos dos outros. Em ambientes de trabalho, por exemplo, essa habilidade é essencial para líderes, pois permite que eles reconheçam e atendam às necessidades emocionais dos membros da equipe, promovendo um ambiente de compreensão e colaboração.
Habilidades sociais Referem-se à capacidade de construir e manter relacionamentos saudáveis e produtivos. Isso envolve comunicação eficaz, escuta ativa e resolução de conflitos de maneira construtiva.


Além disso, a Inteligência Emocional desempenha um papel fundamental na tomada de decisões, pois nos permite reconhecer e regular nossas emoções de maneira eficaz. Ao gerenciar nossas respostas emocionais, podemos tomar decisões mais assertivas e alinhadas com nossos objetivos de longo prazo, sem negligenciar as emoções sentidas. Esse processo envolve a prática constante de autocontrole e o desenvolvimento de melhores condutas.

Na Casa do Saber, você encontra uma seleção de cursos dedicados ao desenvolvimento da Inteligência Emocional, habilidade essencial para o crescimento pessoal e profissional. Esses cursos abordam desde os fundamentos da autoconsciência e autorregulação emocional até a aplicação da empatia e das habilidades sociais em diferentes contextos. São oportunidades valiosas para aprender a gerenciar as próprias emoções e melhorar as relações interpessoais. Confira a seguir os cursos disponíveis:



Quais são as características de pessoas com Inteligência Emocional?

  • Autocontrole
  • Autoconsciência
  • Otimismo Realista
  • Prática de Gratidão
  • Capacidade de Adaptabilidade
  • Trabalham bem em grupo
  • Resiliência
  • Liderança e Influência
  • Visão Sistêmica


Como as Emoções Influenciam Nossas Decisões Diárias?

As emoções estão sempre presentes em nossas decisões, muitas vezes influenciando nossa escolha de forma inconsciente. Por exemplo, quando estamos nervosos ou ansiosos, podemos tomar decisões impulsivas que não são as mais racionais. Por outro lado, emoções positivas, como a confiança, podem nos levar a agir de maneira mais assertiva e otimista.

A inteligência emocional nos ajuda a entender nossas emoções e a não deixar que elas nos controlem. Ao aprender a identificar o que estamos sentindo, podemos fazer escolhas mais equilibradas e refletidas. Afinal, gerenciar nossas emoções de forma adequada é fundamental para alcançarmos o bem estar. Além disso, a inteligência emocional nos ajuda a desenvolver empatia, um dos pilares da felicidade em nossas relações com os outros. Pessoas emocionalmente inteligentes tendem a ser mais altruístas, criando um ambiente de apoio e compreensão, o que também contribui para sua felicidade.

No mundo corporativo, a inteligência emocional é uma das habilidades mais requisitadas pelos empregadores. Com a automação de tarefas repetitivas e a evolução tecnológica, as empresas estão cada vez mais valorizando os aspectos emocionais de seus colaboradores. Competências como compaixão, comunicação eficaz e resolução de conflitos são fundamentais para o bom desempenho de uma equipe.

Estudos apontam que pessoas com alta inteligência emocional são mais produtivas, melhores em trabalhar em equipe e têm maior capacidade de tomar decisões complexas e de lidar com a exposição de suas vulnerabilidades. Por isso, desenvolver essa habilidade é muito importante para o crescimento pessoal e para a carreira profissional.

Como Desenvolver Sua Inteligência Emocional: 5 Passos Essenciais

Desenvolver inteligência emocional é um processo contínuo e diário, que exige dedicação e prática. Aqui estão cinco passos essenciais para começar:

  1. Trabalhar o autoconhecimento: reconhecer as emoções que podem estar atrapalhando o dia a dia, refletir como as emoções podem estar influenciando no comportamento. Saber o que te motiva também contribui para o autoconhecimento.
  2. Desenvolver a autoconfiança: Entender quais são os próprios limites e capacidades. Reconhecer seus pontos fortes e também os pontos fracos.
  3. Fazer autoavaliações: pensar a respeito do que você está sentindo, seja uma frustração ou um entusiasmo. Reconhecer as emoções negativas e positivas para saber tomar melhores decisões.
  4. Capacidade de ouvir críticas construtivas: pedir opiniões com a intenção de crescer através dos feedbacks externos. Além disso, fazer autoavaliações diante de situações que tiveram um resultado diferente do almejado
  5. Rir de si mesmo: compreender que o erro faz parte da vida e lidar com mais leveza diante das situações que não aconteceram da maneira que você queria. Ser menos crítico consigo mesmo e desenvolver a autocompaixão.


Como a Inteligência Emocional Pode Melhorar os Relacionamentos Interpessoais?

Relacionamentos saudáveis são fundamentais para o bem-estar emocional, e a inteligência emocional tem um papel central na construção e manutenção desses relacionamentos. Pessoas com alta inteligência emocional tendem a ser mais empáticas e amorosas, ouvindo os outros com atenção e respondendo de maneira construtiva.

Além disso, a capacidade de autorregulação emocional ajuda a evitar discussões impulsivas e mal-entendidos, criando um ambiente mais harmonioso e respeitoso nas interações. Dessa forma, investir no desenvolvimento da inteligência emocional pode ser um passo importante para fortalecer os vínculos com as pessoas ao seu redor.

O Impacto da Inteligência Emocional na Saúde Mental

A inteligência emocional também tem uma relação direta com a saúde mental. Ser capaz de entender e gerenciar as próprias emoções é uma forma de prevenir transtornos como ansiedade, depressão e estresse. Muitas vezes, quando estamos emocionalmente sobrecarregados ou não conseguimos lidar com nossas emoções de maneira saudável, isso afeta diretamente nosso bem-estar psicológico.

Pessoas com alta inteligência emocional têm maior capacidade de lidar com desafios e pressões sem se deixarem dominar por sentimentos negativos. Elas sabem como identificar sinais de alerta, como o estresse excessivo ou os sentimentos de angústia, e sabem como tomar medidas para reverter esse quadro. Isso inclui práticas como a meditação, o autocuidado e a busca por apoio profissional quando necessário.

No contexto atual, onde as redes sociais têm um papel central na nossa vida cotidiana, é fundamental entender como a exposição constante a esses ambientes pode impactar nossa saúde mental e aumentar a ansiedade. O ebook gratuito Ansiedade e Redes Sociais: Como Recuperar e Proteger sua Saúde Mental? oferece ferramentas para lidar com esses desafios. O ebook foi escrito com base no conteúdo do curso Saúde Mental e Estresse: Uma Visão das Neurociências, da Casa do Saber, ministrado pela doutora em Ciências pela UFRJ, Ana Carolina Souza. Para ter acesso ao conteúdo completo do ebook, preencha o formulário abaixo:

Banner ebook 'Ansiedade e redes sociais', da Casa do Saber

Inteligência Emocional na Liderança

No contexto profissional, a liderança é uma área onde a inteligência emocional se destaca como um diferencial importante. Líderes que dominam as habilidades emocionais são capazes de motivar suas equipes, resolver conflitos de maneira eficaz e criar um ambiente de trabalho saudável e produtivo. A empatia, por exemplo, permite que o líder compreenda as necessidades e preocupações de seus colaboradores, criando um espaço para comunicação aberta e apoio mútuo.

Além disso, a autorregulação emocional de um líder é fundamental. Quando um líder consegue manter a calma sob pressão, demonstrando controle emocional mesmo em momentos de crise, ele transmite confiança para sua equipe, que se sente mais segura e orientada a tomar decisões assertivas.

Uma liderança emocionalmente inteligente também sabe a importância do reconhecimento e da valorização das pessoas. Esse tipo de líder se preocupa com o bem-estar emocional de seus colaboradores, o que resulta em um ambiente de trabalho mais engajado, produtivo e criativo. Organizações que investem no desenvolvimento da inteligência emocional de seus líderes geralmente têm equipes mais motivadas, comprometidas e satisfeitas com o ambiente de trabalho.

Como a Inteligência Emocional Pode Melhorar a Qualidade de Vida?

A inteligência emocional impacta diretamente a qualidade de vida, pois nos proporciona as ferramentas necessárias para lidar com as adversidades de forma equilibrada e saudável. Ao aprimorar a inteligência emocional, conseguimos enfrentar os desafios diários com mais leveza e confiança, criando um equilíbrio entre o trabalho, o lazer e os relacionamentos pessoais.

Uma pessoa com alta inteligência emocional também tende a ser mais autoconfiante, pois compreende suas próprias forças e fraquezas. Essa autoconfiança ajuda a reduzir os níveis de insegurança e aumenta a sensação de realização pessoal, o que contribui para uma vida mais satisfatória.

Além disso, ao aprender a controlar o estresse e as emoções negativas, você pode melhorar sua saúde física, já que a redução do estresse está diretamente ligada à diminuição de riscos de doenças como hipertensão, doenças cardíacas e problemas de sono. A inteligência emocional, ao fortalecer o bem-estar psicológico, acaba tendo um impacto positivo em diversos aspectos da saúde, refletindo-se também na qualidade de vida geral.



Melhores Livros sobre Inteligência Emocional

Listamos abaixo as principais publicações sobre Inteligência Emocional, caso você tenha interesse em aprofundar seu conhecimento no assunto:

  1. Inteligência Emocional - Daniel Goleman
  2. A Coragem de Ser Imperfeito - Brené Brown
  3. Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar - Daniel Kahneman
  4. Trabalhando com a Inteligência Emocional - Daniel Goleman
  5. Agilidade Emocional - Susan David
  6. Foco - Daniel Goleman
  7. Inteligência Emocional 2.0 - Travis Bradberry e Jean Greaves


Conclusão

A inteligência emocional é uma habilidade essencial para uma vida pessoal e profissional mais equilibrada e satisfatória. Ao aprender a reconhecer e gerenciar suas emoções, você será capaz de tomar decisões mais sábias, melhorar suas relações interpessoais e alcançar seus objetivos com mais facilidade. No ambiente de trabalho, ela é fundamental para lidar com os desafios diários e para tornar o convívio mais humano, diante do desenvolvimento avassalador da inteligência artificial.

Ao praticar a inteligência emocional, aprendemos a ouvir ativamente, comunicar nossas próprias emoções de forma assertiva e, quando necessário, pedir desculpas ou oferecer perdão. Essas ações ajudam a transformar um conflito em uma oportunidade de aprendizado e crescimento, fortalecendo as relações e promovendo relacionamentos mais harmoniosos.

Investir no desenvolvimento da inteligência emocional traz benefícios para a sua saúde mental e emocional. Comece agora a trabalhar em sua autoconsciência, autorregulação e empatia, e observe os resultados positivos em todos os aspectos da sua vida.




Perguntas Frequentes

  1. Como a inteligência emocional pode melhorar minha vida profissional?

Desenvolver inteligência emocional no trabalho pode melhorar sua capacidade de lidar com o estresse, tomar decisões assertivas e trabalhar de maneira mais eficiente em equipe. Além disso, pessoas emocionalmente inteligentes têm mais facilidade em se adaptar a mudanças e liderar com empatia.

  1. Quais são os primeiros passos para começar a desenvolver minha inteligência emocional?

O primeiro passo é praticar a autoconsciência, ou seja, estar atento às suas emoções e como elas influenciam seu comportamento. A partir disso, você pode trabalhar na autorregulação e na empatia, buscando sempre melhorar sua capacidade de lidar com as situações emocionais de forma equilibrada e construtiva.

Referências:

https://porvir.org/daniel-goleman-identifica-o-papel-da-inteligencia-emocional-na-educacao/





No senso comum, quando falamos em alquimia, geralmente, a primeira coisa que nos vem à cabeça é o famoso livro de Paulo Coelho: “O alquimista”, que conta a história de um jovem pastor que parte em busca de seu "tesouro pessoal" após ter um sonho recorrente – o que não se afasta tanto assim do que Carl Jung nos fala sobre o tema.

A alquimia é um processo comentado há muitos séculos pela sua capacidade de transformar metais comuns em ouro, além de alcançar a pedra filosofal. E, para que possamos entender as metáforas e histórias por trás dos símbolos da alquimia e seus significados, a psicologia analítica nos fornece conceitos e elementos estudados e interpretados por Jung, que nos levam ao caminho da transformação interior, ou seja, rumo à individuação.

Imagem estilo chinês, toda em tons de amarelo, que apresenta à esquerda um senhor ajoelhado, oferecendo um cadinho alquímico. Ao centro um cadinho alquímico em tamanho grande, saindo fumaça. À direita, um senhor mostra a figura central para um nobre, com vestimentas elegantes em tons de preto e dourado.

Como Carl Jung alinhou psicologia e alquimia

Em 1928, a alquimia passou a fazer parte da vida de Jung. Isso aconteceu por meio de um texto da alquimia chinesa, que chegou até ele por intermédio de Richard Wilhelm, conhecedor da psicologia analítica e consciente de que o conteúdo estava alinhado às pesquisas de Jung naquela época.

Sem dúvidas, esse foi um dos marcos mais importantes, pois a psicologia junguiana toma a própria alquimia como base para o seu desenvolvimento. Carl Jung recorreu a experiências pessoais e sonhos nesse processo, incluindo também a análise de pacientes que relataram episódios complementares.

Todos os textos eram trabalhados através de linguagem simbólica, em que os símbolos reuniam aspectos da consciência e do inconsciente. Foi então que Jung passou a usá-los não apenas como analogias, mas como forma de compreender e se aprofundar nos processos psíquicos.

As práticas alquímicas, em sua busca pela pedra filosofal – símbolo da iluminação –, refletem o processo pelo qual uma pessoa deve passar para expandir a consciência. Esse processo envolve o desenvolvimento psíquico em direção à individuação, que consiste na integração dos aspectos conscientes e inconscientes da psique.



Também podemos citar que ele enxergava diversos arquétipos nas imagens alquímicas, expressando polaridades como, por exemplo: o sol e a lua, a prima matéria e o ouro, o claro e o escuro. Na psicologia analítica, os arquétipos também estão conectados ao inconsciente coletivo, ou seja, à camada mais profunda da mente humana, compartilhada por todos, sem distinção.

Esse processo alquímico, considerado como uma purificação para a transformação, se refletia no próprio processo de individuação, onde é necessário confrontar a sombra – aspectos reprimidos da psique, os quais não queremos acessar –, para que todos os elementos sejam integrados a fim de alcançar um estado de equilíbrio.

De forma mais simples: no processo de individuação, precisamos ser os próprios alquimistas trabalhando a matéria-prima bruta – sombra –, com o objetivo de transformá-la em ouro – autoconhecimento. Mas nem tudo é tão fácil como parece.

Pintura onde um  senhor de barba branca e vestimentas marrons, segura um frasco de vidro de laboratório, contendo um líquido dourado. Em sua frante, se encontra um segundo recipiente, que brilha como se fosse uma luz solar. Ao fundo, um forno à lenha.

O processo de transmutação para alcançar a pedra filosofal

O Opus Alquímico, também conhecido como a Grande Obra, é o termo utilizado para se referir ao processo de transformação que o alquimista busca alcançar – a transmutação de um estado inferior para um estado superior –, criando assim a pedra filosofal.

Ele é dividido em duas partes: operações – atividades realizadas em laboratório – e teoria – aquilo que pode ser observado, meditado e especulado. Sua fundamentação se dá na filosofia hermética, de Hermes Trismegisto e, ao longo do processo histórico, acabou sendo acrescido de ideias dogmáticas cristãs.

Como dito anteriormente, Jung utiliza desse processo como uma metáfora para a individuação, ou seja, a busca pelo autoconhecimento e a integração das diversas partes da psique, tanto conscientes quanto inconscientes. O Opus Alquímico seria então, um caminho simbólico que reflete as etapas da transformação psicológica, tendo alguns elementos principais e etapas específicas:

FASES DA ALQUIMIA DO QUE SE TRATA O PROCESSO
Prima matéria Ponto de partida para a transformação. Na psicologia analítica, é considerada como o estado inicial da psique – aspectos não reconhecidos, reprimidos ou que estão na sombra.
Nigredo Simboliza o enfrentamento da sombra, das partes mais negligenciadas da psique, daquilo que não se quer acessar e que está reprimido no inconsciente. Na análise, pode ser considerada como o momento de confronto, difícil e doloroso, onde medos e traumas tendem a aparecer para serem transformados.
Albedo É onde há a clareza, a fase em que os aspectos sombrios da psique já foram transformados, equilibrados e trazidos à consciência. Nesta fase, é onde acontece a integração dos opostos, além de uma profunda compreensão de si mesmo.
Rubedo Fase final onde ocorre a unificação de todas as partes da psique. Ela representa a conclusão da transformação e a integração total do inconsciente com a consciência – a criação da pedra filosofal, ou seja, o self integrado. Podemos considerar como exemplos para esta fase Buda e Jesus, pois é aqui que ocorre a iluminação.


Mas não podemos nos ater apenas às fases do Opus Alquímico, visto que para que a prima matéria comece seu processo, precisamos pensar também na ideia de Kairós, que nos traz a necessidade de um tempo – momento – adequado para que o trabalho alquímico seja iniciado.

Na clínica, por exemplo, durante o processo terapêutico, o paciente só conseguirá acessar um trauma – um aspecto de sua sombra – quando já tiver passado, previamente, por outras etapas da análise, ou seja, “é chegado o seu Kairós”.

Também é necessário que exista um processo de introspecção e reflexão profunda, denominado meditatio, onde é preciso manter um diálogo com aspectos internos da psique que, muitas vezes, podem ser representados por imagens arquetípicas de anjos da guarda, guias, mentores, gurus ou outras facetas do si mesmo – permitindo assim um contato com a subjetividade, proporcionando uma maior compreensão de elementos do inconsciente.

A partir disso, pode-se concretizar aspectos psíquicos através da imaginatio, que se expressa de símbolos – linguagem de expressão do inconsciente. Isso faz com que tais aspectos se tornem visíveis, pois foram trazidos à consciência. Para que sejam compreendidos, é necessário que esses símbolos estejam conectados a algo já conhecido, para que possam ser revelados.

O Opus Alquímico também necessita de um local apropriado para a operação, como se o “vaso” onde a alquimia é feita servisse como um útero para a própria gestação da pedra filosofal. Muitas vezes, esse lugar, no caso da terapia junguiana, será o próprio setting terapêutico.

Essa é uma atividade considerada sagrada, pois lida com o sublime, se tratando de uma atuação quase secreta ao próprio alquimista, pois ele conhece apenas uma parte do trabalho, enquanto parte dessa busca é ocultada por ela mesma e jogada no inconsciente.

Pintura com um homem vestido de azul, com cabelos e barbas grisalhos, sentado em uma cadeira, utilizando um fole para aumentar o pequeno fogo que se encontra abaixo de um recipiente. Ao seu lado, no chão, encontram-se alguns livros abertos, além de vidros de laboratório.

O que é alquimia e seu desenvolvimento

Assim como a natureza oferece os metais como matéria prima para que o alquimista a transforme em ouro, o inconsciente – ou a vida em geral – nos oferece potencialidades a serem trabalhadas para a integração dos opostos no processo de individuação, a partir da tomada de consciência.

É importante dizer que um dos conceitos fundamentais da alquimia é de que nada é criado do zero, mas sim existe a transformação de tudo. Como na famosa frase: “Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, do químico francês Antoine-Laurent Lavoisier (1743-1794), que corresponde à Lei da Conservação das Massas.

De certa forma, essa é uma frase alquímica, pois todas as potencialidades existentes se encontram em nossa psique desde o momento do nascimento. Até porque, quando falamos que é necessário um “vaso” que se assemelha ao útero para que o processo ocorra, muitas vezes, esse retorno ao útero se faz necessário em terapia, com o objetivo de que certos conteúdos do inconsciente sejam acessados para que haja sua integração.

Nesse contexto, a prima matéria é tudo aquilo que é intrínseco ao ser humano – pensamentos, ações, comportamentos, emoções – e, do ponto de vista psicológico, são esses elementos que irão passar pelas transformações do processo alquímico.



Na psicologia analítica, os primeiros aspectos com necessidade de transmutação e aperfeiçoamento são provenientes da sombra, ou seja, tudo aquilo que é rejeitado e ignorado acaba sendo recalcado ou esquecido no inconsciente. E, para além desse conteúdo, também existe o macro, denominado de inconsciente coletivo, que nos influencia através dos arquétipos, conforme já mencionado.

Pintura com um homem de barbas e cabelos grisalhos, misturando um conteúdo em um mini pote, segurando na mão esquerda um livro. Na mesa, alguns potes e uma ampulheta. Ao chão, perto da mesa, alguns livros abertos, enquanto do lado esquerdo, ao fundo da pintura, uma pessoa de joelhos acende uma espécie de forno, onde encontram-se vários frascos de laboratório.

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Psicologia e alquimia, do que fala o elemento

Muitos dos processos alquímicos estão intimamente relacionados aos elementos água, fogo, terra e ar, principalmente devido ao paralelo que é feito com os metais. Por exemplo, uma espada é forjada através do refinamento de um metal específico, exposto ao fogo, seguido de seu resfriamento na água. Da mesma forma, ocorre com o material psíquico, que Jung divide da seguinte forma:

  • Calcinatio: elemento fogo. Tem relação com a Rubedo e representa a purificação das chamas. Também é tido como representação das paixões fulminantes e da raiva. Ou seja, se não for um aspecto devidamente trabalhado, tende a ser destrutivo – para o próprio indivíduo ou pessoas ao redor.
  • Solutio: elemento água. Representa a dissolução de aspectos enrijecidos da psique, comportamentos que acabaram sendo consolidados. Pode ser relacionado com a fragilidade, pois para o líquido não existe certo contorno. Ao se quebrar em partes, a quantidade de energia psíquica liberada pode ampliar outros aspectos, afrouxando o sofrimento da consciência. Muitas vezes, no processo de transferência, o paciente identificado com tal reação alquímica tende a se dissolver no terapeuta em busca desse contorno.
  • Sublimatio: elemento ar. Representa a elevação e a transcendência de conteúdos psíquicos. Esse processo busca libertar o indivíduo de padrões mais densos ou materiais, permitindo que sua consciência alcance níveis mais elevados. A Sublimatio está ligada à capacidade de abstração, insight e compreensão de significados mais profundos.
  • Coagulatio: elemento terra. Simboliza a concretização, a materialização de conteúdos psíquicos antes dispersos ou abstratos. Esse processo corresponde à integração dos aspectos inconscientes na consciência, permitindo que ideias e potencialidades se tornem tangíveis e úteis na vida prática. A Coagulatio é essencial para que o trabalho psíquico realizado encontre um equilíbrio sólido e funcional no dia a dia.

Essas quatro operações nos oferecem uma metáfora para a compreensão da jornada alquímica, pois, eventualmente, elas chegarão para todos. Não podemos considerar um passo a passo ou uma jornada linear, mas um caminho com avanços e regressões, idas e voltas, por muitas vezes longo e sinuoso.

À esquerda, um desenho com a figura de um ouroboros, com um pentagrama ao centro, com símbolos e signos, além de uma escrita em hebreu. Do lado esquerdo um sol, do lado direito uma lua, ao centro um olho. Abaixo, um diabo com asas e um rei. À direita, um homem prepara um líquido em um grande frasco enquanto segura uma ampulheta. Abaixo ainda temos a representação de vários símbolos alquímicos como se fosse uma tabela periódica.

Alquimia e terapia, o paralelo da expansão da consciência

A psicologia junguiana, assim como o processo alquímico, envolve uma interação constante entre o mundo interno e externo, onde a matéria – as experiências vividas – refletem os conteúdos psíquicos.
O analista e o paciente trabalham em conjunto para decifrar esses reflexos, projetados nas situações rotineiras ou em eventos que parecem unicamente externos. Trata-se de um processo sutil, pois lida com feridas psíquicas – a sombra.

Portanto, é necessário que o indivíduo respeite seu próprio tempo – Kairós –, para que o seu Opus Alquímico aconteça. Mas mesmo em momentos de pausa (da terapia), o desenvolvimento psicológico não cessa; ele ocorre de forma orgânica, sendo impulsionado pela força natural de evolução da psique.

Acessar tais elementos, por mais doloroso que possa parecer o confronto com a sombra, gera potencial para a transformação da psique e o processo de individuação. Então, assim como o alquimista transforma metais brutos em ouro, o paciente é capaz de transmutar dores e dificuldades em autoconhecimento, integrando seus opostos e ampliando assim sua consciência.

Para tal, o analista tende a ser visto como um elemento fundamental, também como sendo alquimista que, como descrito na citação abaixo, convoca o paciente a tomar posse de sua própria psique:

“Geber requer do artifex as seguintes qualidades psicológicas e caracterológicas: ele deve ter o espírito extremamente sutil e dispor de conhecimentos suficientes acerca dos metais e dos minerais. Assim pois não pode ser grosseiro de espírito ou rígido, nem pode ser voraz ou cobiçoso, indeciso e inconstante. Não deve ser apressado ou presunçoso. Pelo contrário, deve ter firme propósito, longanimidade, perseverança, paciência, docilidade e moderação.”

(Apud Carl Gustav JUNG, Psicologia e Alquimia, p. 282-3).


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Referências bibliográficas:

JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia. Petrópolis: Vozes, 2016.

STEIN, Murray. O mapa da alma. São Paulo: Cultrix, 2006.

VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia e imaginação ativa. São Paulo: Cultrix, 2022.

Com o que você sonhou hoje? Escrever um diário com os episódios desse “streaming noturno” tem se tornado rotina de muitas pessoas, especialmente aquelas que estão em processo de análise, em busca da interpretação dos sonhos.

Geralmente, o objetivo é que a psicologia junguiana auxilie no entendimento não apenas dos elementos presentes, mas também do simbólico e dos arquétipos que compõem a longa jornada entre as diversas atividades cerebrais e psíquicas do sono. Para Jung, isso sempre era um mistério e, para nós, também costuma ser.




Como a análise dos sonhos se torna possível com a psicologia analítica

Segundo Sidarta Ribeiro, no curso "A arte de sonhar: história, ciência e futuro dos sonhos", a capacidade de sonhar é um reflexo da evolução da espécie. Ao longo desse processo, o cérebro se desenvolve em camadas, passando por modificações que se tornam adaptativas, estabelecendo a base para futuros avanços.

Nesse contexto, os animais mamíferos apresentam uma característica marcante: a necessidade de aprendizado cerebral e o amadurecimento por meio de um repertório de memórias. Assim, o sonho e a brincadeira desempenham papéis importantes, auxiliando nessa dinâmica – em um ambiente seguro e afastado da supervisão parental.

Como sendo expressões do inconsciente, para Jung, os sonhos se dão a partir de uma lógica própria, que está para além da consciência. Dessa forma, o inconsciente se comunica através de conteúdos oníricos, que podem ser compostos por cenários, situações, imagens, sentimentos, memórias e até mesmo emoções.

É importante ressaltar que eles não são fenômenos que se delimitam em interpretações únicas – sem sentidos ambíguos –, mas sim com inúmeras possibilidades de análise e significados. Algumas definições foram trazidas por Carl Jung ao apresentar um método de interpretação dos sonhos, em um dos seminários sobre sonhos de crianças, proferido por ele entre 1936 e 1941. São elas:

  • O sonho reflete a resposta do inconsciente a uma experiência ou situação vivida na consciência, ou seja, o sonho traz conteúdos que, de maneira complementar ou compensatória, refletem a impressão deixada pelas experiências do dia. Ele só acontece porque alguma coisa específica foi vivida no dia anterior e precisa ser trabalhada enquanto dormimos.
  • Ele pode ser visto como uma mistura de duas realidades: a que vivemos acordados – consciência –, e a que vem do nosso inconsciente. Na maioria das vezes, não conseguimos apontar um motivo claro do nosso dia para determinada manifestação, sendo assim, o inconsciente cria algo novo e totalmente diferente, entrando em conflito com o que sabemos e vivemos, dando origem ao sonho.
  • Também é uma forma do nosso inconsciente tentar dar um toque peculiar na maneira como vemos e percebemos as coisas de forma consciente. Às vezes, o que sonhamos é tão forte e estranho que acaba influenciando atitudes e, até mesmo, a forma de pensar – um empurrãozinho para sair da estagnação, de vez em quando, vai bem.
  • Alguns deles são bem diferentes e difíceis de entender, já que se apresentam sem relações diretas com o que está sendo vivenciado durante o dia. Sem pé nem cabeça e com surpresas épicas – ou não –, também oferecem significados profundos e importantes. Podem, inclusive, surgir como revelações ou avisos, deixando uma sensação de clareza e ensinamento adquirido.


Muitas pessoas acabam acreditando que os sonhos se limitam ao mundo interno, porém é importante salientar que, na verdade, eles podem refletir percepções sutis do inconsciente, capazes de influenciar aspectos psicossomáticos da saúde e também da doença. No entanto, diagnósticos e prognósticos baseados em sonhos dificilmente seguem uma lógica categórica como no modelo médico atual, o que os torna inadequados para um tratamento sistemático com rigor técnico-científico.

Pintura surrealista em cores vivas, com uma mesa ao centro e elementos dispostos: árvores em miniatura, moldura de quadro e coreto. Ao fundo, um céu multicolorido, com nuvens cinzas e duas janelas.

Sonhos complexos e seu conteúdo onírico

No mesmo seminário, Jung traz uma estrutura que auxilia no desmembrar de sonhos complexos, facilitando a visualização dos conteúdos oníricos, que podem ser classificados de duas formas: manifestos – como o sonho é lembrado pelo sonhador, através dos elementos que aparecem na consciência ao acordar –; e latentes – associados aos significados ocultos ou inconscientes por trás do sonho (desejos, medos, memórias reprimidas e conflitos internos, por exemplo).

Para a interpretação dos sonhos, pode-se considerar os aspectos apresentados no esquema geral trazido abaixo, pois é uma estrutura típica e, segundo ele, dramática:

PARTES DO SONHO PRINCIPAIS DETALHES
Local ou lugar Espaço onde o sonho ocorre, bem como sua época e “Dramatis Personae” – pessoas que sejam protagonistas, antagonistas e personagens secundários, bem como suas relações, características e papéis desempenhados.
Exposição Como o problema se apresenta.
Peripécia (reviravolta ou mudança súbita) Introdução a uma mudança que, no entanto, também pode resultar em um desfecho catastrófico.
Lýsis (solução ou desfecho) Momento em que os conflitos do sonho são resolvidos, conduzindo ao seu possível término. Desfecho que faz sentido para o sonhador, apresentando a natureza compensatória do enredo do sonho.


Com tal esquema, Jung nos oferece um direcionamento capaz de auxiliar no processo de interpretação dos tipos de sonhos e seus significados, onde direciona para uma espécie de desmembramento de características e elementos, atribuindo funções, símbolos e formas a esse conteúdo onírico, como citado anteriormente.

Para isso, é essencial concentrar-se na imagem inicial, utilizando-a como uma espécie de núcleo central. A observação deve ser direcionada e focada, abandonando a ideia de associação livre – que permite aos pensamentos fluírem sem restrições, muitas vezes distanciando a mente do sonho e de sua imagem principal.

A partir dessa abordagem, as camadas do sonho podem ser exploradas de maneira estruturada, garantindo que a imagem central permaneça como base sólida para as associações que se desenvolvem ao seu redor.

Jung também compartilha algumas perguntas que foram utilizadas em casos de análise de sonhos com seus pacientes, tendo "x" como a imagem central:

  • O que vem à mente em relação a x, o que pensa sobre isso?
  • O que mais vem à mente em relação a x?


Quem está à frente de um sonho analisado é sempre o sonhador, um fator que se alinha com a ideia da psicologia analítica de que a fala do paciente vem antes de qualquer teoria.

Pintura surrealista em cores vivas. Chão de areia, como um deserto, onde, ao fundo, observa-se lagoas que se misturam à areia. Céu em tons de azul e laranja com balões voando. Árvore ao fundo e destaque para um relógio vertical antigo, com maquinário exposto, que marca 11h10.

Sabemos interpretar todos os sonhos?

O psicólogo ou analista não sabe do que se trata o sonho e seu significado, não faz ideia ou tem a mínima noção do modo como a imagem onírica se encontra na mente de cada uma das pessoas; é preciso que os símbolos e arquétipos façam sentido para aquele que traz a mensagem, para que possa ser interpretada à luz dos conceitos junguianos.

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Amplificar cada um dos elementos do sonho faz com que eles tomem forma – no sentido de se tornarem visíveis. Sendo assim, anotar todas as ideias e expressões que surgem individualmente, irão auxiliar na compreensão do significado como um todo, chegando ao real sentido do fenômeno.

As imagens precisam ser acompanhadas de um contexto, para que possam ser interpretadas por inteiro, sem contar que essa “estratégia” se dá a partir de uma amplificação pessoal e, claro, não podemos nos esquecer daquilo que é coletivo, das imagens universais. Ou até mesmo da cultura onde estamos inseridos, uma vez que as nossas figuras de linguagem já estão envoltas em diferentes tipos de símbolos. De maneira geral, um brasileiro sonhando com um elefante pode associar a imagem a um zoológico, enquanto, para um indiano, ela pode estar ligada a um festival sagrado.

Para esses sonhos onde imagens coletivas – que temos pouca ou nenhuma associação – se encontram em primeiro plano, acabamos não sabendo qual o contexto daquele conteúdo onírico, demandando muito esforço para que os sentidos sejam revelados e entendidos.

Os estudiosos da psicologia analítica sabem o quanto mitologias são importantes para a construção de um embasamento amplo, onde se possa acessar e coletar informações sobre diferentes símbolos, além dos motivos mitológicos. Não à toa, um dos principais sonhos de Jung o levaram a desenvolver um dos seus principais conceitos: os arquétipos.

Pintura surrealista com um homem com vestes orientais ao cenro, parado em um pequeno monte de pedra e grama, que se estende para um lago que se mistura com o céu. Tons de verde, laranja, rosa e azul compõem o chão; enquanto o céu é laranja degradê para o mais escuro do azul. Ao fundo nuvens e um imenso sol, enquanto, ao lado esquerdo, se apresenta, ao longe, um castelo com uma lua.

Para quê você está sonhando?

A psicologia analítica considera os sonhos como um fenômeno natural, não sendo intencional e contendo um modo muito específico de funcionamento, que não é proveniente de vontades, desejos, intenções ou objetivos da consciência.

Por ser algo tão intangível, tem como característica o esquecimento do sonhador, pois sua qualidade efêmera o desconecta do estado desperto, ou seja, quando acordamos, na maioria das vezes, nossa “memória sonhadora” se apaga.

Para Freud, os sonhos funcionam como uma janela para o inconsciente, desempenhando duas funções principais: realizar desejos reprimidos e proteger o sono.

Quando esses desejos são inaceitáveis ou difíceis de lidar, eles se manifestam de forma camuflada nos sonhos, permitindo que sejam explorados de maneira mais aceitável – mesmo conteúdos perturbadores encontram uma forma simbólica de expressão. Ao mesmo tempo, os sonhos têm um papel protetor, garantindo que o descanso não seja interrompido.

Podemos oferecer a Freud um grande mérito, pois foi ele quem abriu o caminho para que possamos interpretar os sonhos, tendo reconhecido, antes de tudo, que a interpretação de nenhum dos conteúdos oníricos pode se dar sem a colaboração do próprio sonhador – o que também é colocado por Jung.

As palavras que formam o relato de um sonho não possuem um único significado, mas múltiplos. Por exemplo, todos sabem o significado da palavra “elefante”, mas o que compõe o sonho como um todo, é muito mais amplo do que uma simples consulta a um dicionário.

Para a interpretação, é necessário contar com a colaboração do sonhador para restringir a variedade de significados das palavras, guiando a análise até o ponto central, onde não restem mais dúvidas.

Do ponto de vista da psicologia analítica, devemos nos questionar sobre o "para quê" – qual é o propósito – de ter tido um sonho específico, em vez de perguntar "por que" se teve. Essa abordagem, buscando entender o objetivo final, deve guiar a análise dos sonhos, pois, frequentemente, não encontraremos uma explicação imediata para um determinado conteúdo.



Durante o processo de interpretação, diversas hipóteses irão aparecer, isso porque o sonho pode ser tão confuso e denso, que demore a fazer sentido – inclusive, existem pacientes que entendem determinados episódios muitos anos depois.

Segundo Von Franz, é algo que acarreta um grande esforço físico, não apenas mental e ela diz: “O inconsciente, entre outras coisas, é um grande brincalhão, e às vezes ele fala direto – bang! Ao anotar o sonho, você dá uma gargalhada e sabe o que significa. Entretanto, muitos dos nossos sonhos não são assim tão óbvios.”

Ela ainda traz a ideia de que não devemos interpretar nossos próprios sonhos, uma vez que eles tendem a tocar em nosso ponto cego, ou seja, nos mostram aquilo que não sabemos – e que, muitas vezes, não queremos acessar. Nesse caso, a projeção acaba sendo inevitável e se mostrarmos a outra pessoa – um analista – ela poderá encontrar o que não podemos ver.

Entre as manifestações psíquicas, os sonhos talvez sejam aqueles que mais nos apresentam elementos "irracionais". Eles parecem ter pouca ou nenhuma coerência lógica e precisam da hierarquia de valores que definem outros conteúdos da consciência, tornando-os assim mais difíceis de entender – sonhos que possuem uma estrutura lógica, moral e estética são exceções.

Imagem psicodélica de um rosto andrógino, de olhos fechados, virado para cima, em tom de azul claro, com cores e luzes saindo dela.

A investigação dos sonhos é tarefa para uma vida inteira

Há pessoas que, de tempos em tempos, têm os mesmos sonhos repetidamente. Isso é mais comum na juventude, mas esse fenômeno pode continuar ocorrendo por muitos anos.

Isso acontece devido ao fato de precisarem elaborar alguns – ou vários – dos conteúdos oníricos ou até mesmo o contexto geral do sonho. Essas repetições acabam sendo as mais importantes para análise, uma vez que novas percepções podem ser atribuídas em cada sessão, facilitando assim o aprofundamento do entendimento do analisado. Geralmente, quando elaborados, esse tipo de sonho para de acontecer, dando lugar a outras formas do inconsciente se revelar.

Durante o sono, ocorre uma interação entre o mundo consciente, representado pelo ego ou "eu sonhador", e o inconsciente, expresso pelos conteúdos que surgem de maneira aparentemente aleatória no sonho. Para Jung, esse processo é tão significativo que ele o vê como uma tentativa de restaurar o equilíbrio psíquico.

Sidarta ainda nos traz a informação de que a nossa capacidade de sonhar dormindo, provavelmente, explica a nossa capacidade de sonhar despertos, ou seja, se relaciona com a nossa capacidade de imaginar. Mas como o processo acontece?

O sono é composto por diferentes fases que envolvem ondas cerebrais – elas não seguem uma única frequência ou um único padrão, mas sim uma sequência complexa e variada de atividade cerebral:

  • Vigília: quando estamos acordados, nosso cérebro está em atividade alfa, com ondas cerebrais na faixa de 10 Hz e olhos fechados – conscientes e alertas.
  • Teta: é a fase inicial do sono, onde as ondas cerebrais caem para uma faixa entre 5 a 7 Hz – começamos a relaxar e a transitar de um estado de vigília para o sono profundo.
  • Fusos corticais: onde ocorrem oscilações rápidas nas ondas cerebrais, com frequências de 10 a 12 Hz, durando de 1 a 3 segundos – são associados à consolidação da memória e ao descanso físico.
  • Complexos K: surgem ondas isoladas que atuam como um tipo de "apagão" no cérebro, interrompendo a atividade neuronal e promovendo uma desconexão temporária da consciência externa.
  • Ondas lentas: caracterizadas por grandes amplitudes e frequências baixas, geralmente abaixo de 4 Hz – aumentam de intensidade à medida que o sono avança, sinalizando um sono mais profundo e restaurador.
  • Sono REM (Rapid Eye Movement): marcado por uma aceleração das ondas cerebrais e uma dessincronização das mesmas – sono paradoxal, onde o cérebro está ativo, mas o corpo está imobilizado. Durante o REM, os sonhos intensos geralmente acontecem.




A cada noite, o ciclo de sono se repete várias vezes, passando por essas diferentes fases de forma contínua, proporcionando descanso e reparação do corpo e da mente.

Jung, tendo se dedicado às investigações dos encontros com entidades oníricas, tanto dormindo quanto desperto – imaginação ativa, imagos –, diz que o sonho prepara o sonhador para o dia seguinte. Essa porta de entrada para o inconsciente nos permite acessar conteúdos, submergindo em seus significados, com o objetivo de que se tornem presentes na consciência, proporcionando insights sobre nós mesmos.

Os sonhos têm uma função significativa, não são meras atividades aleatórias do inconsciente, desempenham um papel tanto retrospectivo – processando o passado –, bem como prospectivo – influenciando o futuro. A capacidade dos sonhos de moldar o estado emocional e mental consciente demonstra sua importância como ferramenta de autocompreensão e desenvolvimento psíquico.

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Referências bibliográficas

HALL, James A. Jung e a interpretação dos sonhos: um guia prático e abrangente para a compreensão dos estados oníricos à luz da psicologia analítica. São Paulo: Cultrix, 2021.

JUNG, Carl Gustav. Seminário sobre sonhos de crianças: sobre o método de interpretação dos sonhos – Interpretação psicológica de sonhos de crianças. Petrópolis: Vozes, 2011.

JUNG, Carl Gustav. Sobre sonhos e transformações. Petrópolis: Vozes, 2014.

VON FRANZ, Marie-Louise. O

O livro A Sociedade do Cansaço, do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, oferece uma análise perspicaz sobre um fenômeno globalizado que afeta milhões de pessoas: a sensação de cansaço e exaustão. Essa sensação tornou-se onipresente na sociedade tecnológica voltada para o desempenho. Existe, em grande parte, uma valorização implícita das pessoas que experimentam esse cansaço extremo, por ele estar associado a um esforço contínuo pela produtividade no trabalho.

Essa admiração, alimentada pela ideologia neoliberal, sugere que a cultura do estar “sempre ocupado” é sinal de sucesso. Contudo, os efeitos dessa entrega excessiva – seja no trabalho presencial, no home office ou nos estudos – resultam em um fardo diário de esgotamento, que pode levar a condições como ansiedade, burnout e depressão. Neste artigo, exploraremos as possíveis causas da sobrecarga mental e como a filosofia de Byung-Chul Han pode nos oferecer uma compreensão ampla da situação, criando ferramentas para redefinir as formas de ação dentro de uma ideologia que exalta o "empreendedor de si mesmo".



Como as redes sociais influenciam na ansiedade?

As redes sociais têm um papel central na sociedade contemporânea, impactando significativamente a saúde mental da humanidade. De acordo com o filósofo Byung-Chul Han, estamos vivendo um contexto de mudança de paradigma, onde ocorre a transição entre a sociedade disciplinar descrita por Michel Foucault, para a sociedade do desempenho. Nessa nova configuração, os limites entre o eu e o outro desaparecem, pois tudo passa a ser visto a partir da preocupação com a própria existência. Como consequência, tudo se transforma em mero reflexo de si mesmo. Em cada situação, o indivíduo enxerga a prolongação de sua própria identidade, e as pessoas acabam enxergando apenas a si mesmas.

Nesse sentido, as redes sociais são o principal veículo por meio do qual as pessoas constroem e afirmam suas próprias identidades. Cada postagem, foto ou atualização é uma forma de autoafirmação narcisista, que visa mostrar ao mundo o quanto o indivíduo é produtivo, bem-sucedido e realizado. Isso reflete a lógica neoliberal que se baseia na ideia de que o sucesso provém do esforço contínuo e permanente.

Cansados e Conectados: O Preço da Busca pelo Reconhecimento nas Redes Sociais

No entanto, essa busca incessante por validação e autoafirmação nas redes sociais tem um custo significativo. Ao se verem como produtos a serem consumidos pelos outros, os indivíduos se sentem compelidos a manter uma produtividade constante. Essa busca por aprovação torna-se uma forma de "empreendedorismo de si", onde a pessoa precisa sempre "vender" a melhor versão de si mesma.

Esse comportamento acaba por produzir uma exaustão psicológica que, em muitos casos, leva a problemas psíquicos como ansiedade, insônia, burnout e depressão, como apontado pelo filósofo Byung-Chul Han. A produtividade ininterrupta, tanto no trabalho quanto na vida social, surge com aparência de liberdade, já que não existem chefes ou horários impostos. Mas, na prática, é uma “falsa liberdade”, pois as pessoas sentem-se na obrigação de realizar entregas virtuais cada vez mais constantes, comprometendo a capacidade de desfrutar de uma vida plena.

Para obter mais conhecimento sobre como superar a ansiedade na era digital, baixe gratuitamente o ebook abaixo, que explica os impactos das redes sociais na saúde mental e o conceito de Brain Rot, termo usado para se referir aos efeitos negativos da exposição contínua aos conteúdos de baixa qualidade das redes sociais. O ebook contém informações do curso da Casa do Saber intitulado Saúde Mental e Estresse: Uma Visão das Neurociências, ministrado pela doutora em Ciências pela UFRJ, Ana Carolina Souza. Preencha o formulário a seguir e tenha acesso ao ebook instantaneamente no seu e-mail:

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As redes sociais: uma dependência patológica

As redes sociais, ao promoverem um modelo de produtividade constante, reduzem a vida humana a uma busca incessante por reconhecimento. Assim, o que antes era um espaço pessoal, como a casa ou a privacidade do pensamento, agora se mistura ao olhar e ao julgamento constante do público. Esse processo de exposição contínua cria uma atmosfera de pressão, onde o indivíduo não pode mais se relacionar com sua própria identidade de maneira autêntica, mas em função de como é percebido pelos outros. Assim, a autoafirmação na era digital se torna dependente da validação externa, medida por curtidas, comentários, seguidores, compartilhamentos.

Esse fenômeno revela um paradoxo de liberdade. Em vez de promover a liberdade individual, as redes sociais, na verdade, encorajam uma forma de escravidão contemporânea. Ao acreditar que estão se autoafirmando e sendo livres, os indivíduos acabam presos a uma lógica de produtividade sem fim. O filósofo Byung-Chul Han explica que, no capitalismo neoliberal, a liberdade é confundida com a obrigação de se afirmar constantemente, o que leva a uma exploração do próprio corpo e mente. O indivíduo, ao tentar se destacar e se afirmar nas redes sociais, está, na realidade, se exaurindo, tornando-se incapaz de desfrutar dos próprios momentos de descanso ou de lazer em conexão com outras pessoas.

Essa incessante procura por autossuperação nas redes sociais reflete o modelo de vida capitalista, onde a produtividade desenfreada gera uma exaustão que compromete a saúde mental e emocional. A pessoa, que inicialmente se vê como livre ao produzir e compartilhar sua identidade, acaba se tornando um "morto-vivo", como descreve o já mencionado pensador sul-coreando, presa a um ciclo de atividade e consumo sem limites. Nesse sentido, as redes sociais não apenas refletem essa lógica, mas também a amplificam, tornando o indivíduo cada vez mais dependente da constante validação externa, e cada vez mais distante de alcançar momentos de plenitude que estejam desprovidos de uma função econômica.

Burnout e Redes Sociais

Quem trabalha com redes sociais, seja como social media para empresas ou como empreendedor de si mesmo no digital, sabe que o esgotamento mental é uma constante nesse ambiente virtual de trabalho. Postagens diárias, seja no Instagram ou no TikTok, precisam ter alcance, curtidas, compartilhamentos, engajamento. Portanto, esse tipo de trabalho opera em uma lógica de produtividade ininterrupta, que acaba sugando as energias dos criadores de conteúdo. Principalmente, quando o produtor de conteúdo digital também é o próprio empreendedor, fato que acontece com frequência na sociedade do desempenho que vivenciamos.

A lista de atividades diárias de quem trabalha como produtor de conteúdo digital nas redes sociais é interminável:

  • Fotos
  • Legendas
  • Carrosséis
  • Arte com conteúdo para feed
  • Vídeos para reels
  • Vídeos para story
  • Vídeo para TikTok
  • Caixinhas de perguntas para story
  • Compartilhamento de conteúdo relevante
  • Texto persuasivo de copywriter para vendas


Além da pressão para estar disponível 24 horas por dia, responder imediatamente a mensagens e estar presente em múltiplas plataformas. Tudo isso gera uma sensação de sobrecarga. Se identificou? Muito provavelmente sim.

Mas, o que você talvez ainda não saiba é que a lógica neoliberal tem propagado uma ideia sedutora de liberdade no ambiente virtual. Apesar da aparência de liberdade que essa lógica sugere, ela resulta, na prática, em uma uniformização das experiências de vida. As pessoas, ao acreditarem que estão tomando decisões autônomas, estão, na realidade, sendo moldadas por uma mesma dinâmica de produtividade e consumo. Todos estão seguindo o mesmo caminho: trabalhar mais, se expor mais, alcançar mais.

Nesse sentido, são incentivadas a se perceberem como responsáveis pelo seu próprio destino e pela sua realização pessoal. Mas, essa promessa de autonomia, no entanto, esconde uma realidade de exploração constante. Trata-se da “uberização do trabalho”, uma dinâmica onde as pessoas se percebem como “donas de seu próprio tempo” e acreditam que assim, são livres. Quando, na verdade, estão sujeitas a uma nova forma de subordinação. Ao se verem como empresários de suas vidas, acabam presas a uma rotina de produtividade incessante, sem descanso e sem a possibilidade de se desconectar das demandas virtuais, sociais e econômicas.

Nesse contexto, o trabalho não é mais uma obrigação imposta de fora, como propôs Foucault com sua sociedade disciplinar, mas tornou-se uma escolha que se transforma em uma necessidade constante de atingir metas. A lógica do "empreendedorismo de si mesmo" faz com que o indivíduo se sinta constantemente pressionado a demonstrar sua capacidade nas redes sociais, em um ciclo de validação permanente.

Essa obsessão por produzir e se autoafirmar em todas as esferas da vida intensifica a carga de trabalho e drena as energias emocionais e psicológicas, levando as pessoas a uma exaustão constante. Daí, o surgimento de quadros de muito sono acumulado, estresse e o aumento significativo dos casos de burnout. Dados da Organização Mundial da Saúde indicam um aumento significativo de diagnósticos relacionados a distúrbios mentais, com o Brasil sendo um dos países com maiores índices de síndrome de burnout, um reflexo claro de uma sociedade que sobrecarrega seus cidadãos em nome do desempenho.

A exaustão provocada por essa lógica é uma das consequências mais devastadoras do neoliberalismo. O constante esforço para manter a imagem de sucesso e capacidade leva ao esgotamento físico e mental. O indivíduo, pressionado a se afirmar a todo momento, perde a capacidade de se conectar consigo mesmo e de aproveitar os momentos de lazer. O paradoxo é claro: ao tentar conquistar sua liberdade através do trabalho e da produtividade, as pessoas se tornam cada vez mais escravizadas por essas mesmas exigências. O “empreendedor de si mesmo” está, na realidade, preso a um ciclo de autossubordinação, onde sua identidade é definida unicamente pela sua capacidade de produzir e de se mostrar ativo. E essa dinâmica leva, inevitavelmente, à exaustão, à perda de autonomia real e ao sofrimento psicológico.

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thumb do curso 'A Filosofia de Byung-chul Han', por Lucas Nascimento Machado


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Como recuperar a saúde mental na Era Digital?

Alcançar o bem-estar psicológico na era das redes sociais exige um esforço consciente para desacelerar e redefinir o que significa bem-estar. A sociedade atual valoriza a produtividade acima de tudo, mas é preciso saber valorizar também a pausa, o descanso. Até mesmo o tempo de lazer é frequentemente visto como algo secundário, um luxo ou até mesmo um desperdício, especialmente em um cenário onde as redes sociais impõem uma imagem de sucesso ininterrupto e constante.

No entanto, é fundamental entender que o descanso genuíno não é apenas uma pausa física, mas também emocional e psicológica. A recuperação da saúde mental começa quando se reconhece que o descanso não deve ser vivenciado com culpa ou com a mesma lógica da produtividade, considerando que as pessoas muitas vezes ficam querendo compartilhar fotos e vídeos de onde estão nas férias; assistir ao máximo de séries e filmes, ler o máximo de livros, fazer o máximo de viagens possíveis. Ou seja, mesmo nos momentos de descanso, a lógica da produtividade continua a mesma.

Isso resulta em um ciclo vicioso de autocobrança, onde não fazer nada é inaceitável e o sofrimento é invisibilizado. Para quebrar esse ciclo, é essencial que as pessoas questionem a forma como se relacionam com o trabalho e a busca pelo sucesso. O verdadeiro descanso envolve parar, refletir e dar a si mesmo permissão para não estar sempre "fazendo algo". Ao interromper o ciclo de exigências, é possível recuperar uma vida mais equilibrada.



Conclusão

Em uma sociedade que induz as pessoas a acreditarem que o resultado de suas conquistas depende exclusivamente de seu esforço, é preciso redefinir o conceito de produtividade. A ideologia dominante pressiona as pessoas a acreditarem que o sucesso é resultado exclusivo do esforço individual. Portanto, é essencial redefinir o conceito de produtividade. Essa lógica do esforço individual impõe uma opressão psicológica que leva muitos a acreditarem que o valor de sua existência e conquistas depende exclusivamente do seu desempenho. Esse pensamento cria uma cobrança constante, onde o indivíduo se vê em um ciclo exaustivo de autossuperação.

Quando os resultados não correspondem às expectativas, o impacto psicológico é profundo, gerando sentimentos de inadequação, frustração e até angústia. Essa pressão por resultados, combinada com a ideia de que não há limites para o esforço, acaba produzindo uma exaustão física e um sofrimento mental significativo, pois a busca incessante por sucesso é vivida como uma obrigação pessoal, e não como uma escolha saudável.

A produtividade também pode envolver momentos de introspecção, cuidado consigo mesmo e conexão com os outros. Integrar esses momentos na rotina, ao lado do trabalho, cria um espaço para a regeneração mental e emocional. Para que isso aconteça, é necessário estabelecer limites claros entre o trabalho e o lazer, respeitando o tempo de desconexão sem que isso seja visto como uma falha. A recuperação da saúde mental não se resume a diminuir o ritmo, mas a reconfigurar as expectativas sobre o que é produtivo e valioso.

Para lidar com a sobrecarga mental imposta pela era das redes sociais, é importante procurar um profissional de saúde habilitado para realizar um tratamento individualizado. Por mais que atitudes possam ser incluídas na rotina no sentido de minimizar os efeitos negativos provocados pela exposição incessante e diária ao universo virtual, o acompanhamento psicológico continua sendo fundamental no processo de recuperação psíquica.

thumb do curso 'Manual Psicanalítico para Viver Melhor no Século 21', por Marcelo Veras




Referências

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/259/a-filosofia-de-byung-chul-han

É provável que você tenha ouvido algum conto de fadas quando era criança, conhecido histórias antigas de mitos ou se deparado com figuras religiosas estampadas em quadros expressivos. Dentro desse contexto, na época, não tinha conhecimento suficiente – uma consciência expandida – que ajudasse na interpretação das principais características dos arquétipos ali inseridos.

Neste texto, à luz da psicologia analítica, os símbolos dos signos serão decifrados a partir de uma pincelada no inconsciente coletivo, conceito amplamente discutido por Jung a fim de que a psique humana possa ser compreendida em sua totalidade e complexidade.

Jung, o conceito de arquétipo e o inconsciente coletivo

O processo histórico é essencial para que possamos entender a atualidade e, quando falamos de arquétipos – um dos principais conceitos da psicologia junguiana –, existe uma necessidade ainda maior de ampliarmos nossos olhares, com o objetivo de construirmos uma base bem estruturada para analisarmos algo que não se pode medir em palavras, que é inefável.

Jung era um psiquiatra que se denominava psicólogo; seus longos anos de estudo foram baseados nos fenômenos, não deixando que as teorias viessem antes. Toda essa experiência pregressa à teorização lhe proporcionava um rico saber, visto que, para ele, poderiam valer mais do que milhares de escritos. Dessa forma, em sua clínica, era primordial que a fala do paciente fosse colocada à frente de qualquer tipo de conceito ou teoria, o que é aplicado até os dias atuais.

No caso da análise, o psicólogo busca explorar e compreender todas as dinâmicas existentes internamente compondo a psique, ou seja, trabalha-se tanto o consciente como o inconsciente – que se apresenta das mais diversas formas, como nos sonhos, símbolos ou arquétipos.



Acessar o consciente é uma tarefa quase palpável, mas, no caso do inconsciente, é como descascar uma cebola, são tantas camadas que, na maioria das vezes, nos perdemos antes de chegarmos ao seu miolo.

Por isso, Carl Jung trazia como forte argumento que não se podia reduzir todos os aspectos da experiência humana a explicações psicológicas – o que denominava de psicologismo –, pois, dessa forma, estaríamos limitando toda a compreensão da psique e do próprio mundo através de uma visão reducionista.

Para a psicologia junguiana, o inconsciente não é um depósito de conteúdos reprimidos. Mas de onde vem esses conteúdos que não passam pela consciência? Como eles podem se expressar de forma tão influente sem que estejam necessariamente relacionados com a vida pessoal?

foto de Carl G. Jung

O inconsciente coletivo como uma das suas mais originais contribuições

A partir de seus questionamentos e estudos, Jung ia cada vez mais fundo nos materiais do inconsciente, explorando sonhos e fantasias dos seus pacientes, bem como materiais oriundos do seu trabalho pessoal de introspecção. Isso o levou a criar teorias e desmembrar as estruturas da psique, onde descobriu que algumas delas eram inerentes a todos os seres humanos, como no caso do inconsciente coletivo – sua camada mais profunda.

Um dos pontos marcantes para que chegasse a tal entendimento, foi um sonho tido por ele, onde uma casa de vários andares se mostrava como uma descida ao recôndito da psique. Nesse sonho, Jung explorou os diversos níveis, como sendo camadas do inconsciente, onde os mais altos eram organizados – representando a atualidade –, enquanto os mais profundos se encontravam abandonados – com a presença de crânios que remontavam ao primitivo. Só então, Carl Jung fez sua primeira menção ao inconsciente coletivo.

Não à toa, na mesma época, havia toda uma dedicação de sua parte ao estudo da mitologia, seus simbolismos e povos antigos, aprofundando-se nas teorias de Friedrich Creuzer.

De acordo com o que ia observando, ouvindo e experienciando, elaborou a ideia de que o conteúdo contido no sonho – e nessas partes mais profundas do inconsciente – era uma combinação de forças e padrões universalmente predominantes, que denominou de arquétipos e instintos. Nesse nível, nada seria individual ou único, o inconsciente coletivo não seria fruto da nossa vivência, mas sim um local onde todos nós estaríamos imersos.

A noção de Jung de arquétipos começou quando ainda colaborava com Freud, tendo sua origem localizada nas obras que escreveu no período entre 1909 e 1912. A exploração e a descrição do que Jung denominou inconsciente coletivo foram os elementos que conferiram à sua obra o caráter mais marcante e singular.

imagem de simbolos, olhos, mariposas e uma pessoa pensando representando inconsciente coletivo

O que é arquétipo

Ao contrário do que muitos acreditam, o arquétipo não é uma construção cultural, pois não foi criado por nós. Na realidade, é ele quem nos molda, e é a partir do seu impulso que também desenvolvemos a nossa consciência.

Para além, as construções culturais são responsáveis pelos símbolos arquetípicos, que facilitam o acesso à energia arquetípica, moldando a totalidade da experiência humana. Esses símbolos funcionam como dons que a natureza oferece, sem distinção de classe, credo, cor ou gênero.

Existem alguns arquétipos básicos, que estão presentes em todas as pessoas e acessíveis a elas – são a base para a construção de experiências. Porém, vale ressaltar, que nem sempre serão constelados de uma forma consciente por todos, a manifestação dos arquétipos de Jung dependerá da sintonia de cada um no contexto dessa linguagem simbólica do inconsciente. Confira alguns deles:

ARQUÉTIPOS JUNGUIANOS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Self É a parte central da psicologia analítica, sendo identificado como quem realmente somos, uma busca pela totalidade e pela individuação.
Ego Também com muita relevância para as teorias apresentadas por Jung, o ego é a nossa identidade consciente, como nos percebemos e como queremos ser percebidos pelo outro. Ego e Self equilibrados acabam sendo fundamentais para a jornada de individuação.
Sombra A maioria das pessoas não deseja ter acesso a esse arquétipo, por se tratar da parte reprimida ou considerada como obscura da personalidade. Compreender a própria sombra também faz parte do processo.
Anima e Animus Representando o feminino e o masculino, respectivamente, estão em todos nós, independente do sexo biológico, auxiliando assim a dinâmica de integração dos opostos.
Herói Coordena uma série de símbolos de forma característica para expressar a realização de grandes feitos, muito bem representados quando analisamos a vida de profetas. Ele exige o abandono do pensamento fantasioso infantil, para que a realidade seja aceita de um modo ativo.
Mãe e Pai Não se restringem a figuras parentais literais; eles se manifestam em papéis e comportamentos que podem ser assumidos ao longo da vida, como por exemplo: nutrição, amor, cuidado e o útero, no caso da mãe; e autoridade, lei, racionalidade e disciplina, no caso do pai.
Criança Este arquétipo aparece em muitos mitos, contos de fadas e sonhos como a criança divina, o bebê milagroso ou o herói infantil. Pode ser associado a momentos de transformação e novos começos. Simboliza a pureza, o lado instintivo e espontâneo do ser humano.
Velho sábio Simbolizando sabedoria, orientação e conhecimento profundo, o arquétipo do velho sábio representa a conexão com o inconsciente coletivo e a capacidade de oferecer soluções ou conselhos. Dessa forma, muitas vezes, é associado à figura do mentor, guia ou ancião, em mitos, contos de fadas e narrativas culturais.


Os arquétipos, como fonte primordial de energia e padronização psíquica, constituem a base essencial dos símbolos psíquicos, são como matrizes do funcionamento dos símbolos que expressam a normalidade e a patologia. No entanto, as imagens arquetípicas frequentemente correm o risco de serem confundidas com uma psicologia espiritualizada, desprovida de um embasamento sistematizado.

Dessa forma, é fundamental que saibamos fundamentar tais discussões na vida e em tudo aquilo que é vivido no corpo humano, entrelaçando as histórias pessoais, a exploração da psique, o corpo e a mente.



A partir disso, Jung traz a ideia de que o homem não nasceu da tábula rasa, mas sim inconsciente, possuindo muitas informações que não adquiriu por si, mas que herdou dos seus antepassados, mesmo das mais remotas origens. Ou seja, se compõe de um sistema organizado, advindo de milhões de anos de desenvolvimento, assim como os pássaros que constroem seus ninhos ou tartarugas que colocam seus ovos na mesma praia onde nasceram – o plano básico da sua natureza coletiva, um plus forts que vous (mais fortes do que a gente).

pintura de narciso

As manifestações dos arquétipos na contemporaneidade

Com todos esses conceitos e teorias da psicologia junguiana, às vezes, paira no ar o questionamento de como os arquétipos e suas principais características podem influenciar no desenvolvimento de uma personalidade, então, para clarificarmos o que trouxemos até aqui, vamos entender como eles moldam não apenas nossas histórias, mas também nossas identidades.

Ao nos relacionarmos com essas figuras arquetípicas, através dos mitos, filmes ou até mesmo em nossa própria vida, começamos a reconhecer partes de nós mesmos, acessando camadas mais profundas da psique, como falado anteriormente, sendo assim, a compreensão permite que possamos integrar esses aspectos de forma mais consciente. Cada arquétipo, com seus padrões e símbolos, tem o poder de influenciar decisões, medos, motivações e desejos que guiam nossas ações no mundo.

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O Sábio

O Inocente

O Explorador

O Governante

O Criador

O Cuidador

O Amante

O Herói

O Comediante

O Homem Comum

O Mago

O Rebelde

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Nos contos de fadas, como em “Branca de Neve e os Sete Anões”, o arquétipo do herói é personificado pelo príncipe, enquanto o arquétipo da criança divina é simbolizado por Branca de Neve, que embarca em uma jornada de transformação e confronta sua sombra. Já em “A Bela e a Fera”, Bela representa o feminino consciente – Anima –, enquanto a Fera vivencia o processo de integrar sua sombra masculina em busca de aceitação e transformação.

Os mitos também são fonte de consulta quando o assunto é arquétipo, como no caso de Thor, na mitologia nórdica, onde Thor é o próprio herói, defendendo o mundo contra forças malignas, enquanto seu martelo, Mjöllnir, simboliza poder e proteção, enquanto também reflete o processo de confronto com a sombra, representada pelas forças do caos e da destruição. A mitologia grega nos traz o mito de Narciso, que nada mais é do que o arquétipo do ego, que se encontra inflado, com uma grande obsessão consigo mesmo – essa representação nos traz também a sombra, pois esse ego não está “saudável”.

Filmes são amplamente trabalhados com base em personalidades relacionadas aos arquétipos, em que a psique humana se depara com o que há de mais óbvio; por serem tão evidentes, muitas vezes, tais contextos acabam passando despercebidos. Alguns dos mais famosos são:

  • "O Senhor dos Anéis" – de Tolkien –, onde a jornada de Frodo é um exemplo clássico de individuação.
    • Arquétipo do velho sábio (Gandalf).
    • Arquétipo do herói (Frodo).
    • Arquétipo da sombra (Smigol).


  • "Star Wars" – de George Lucas –, que consiste em um processo de transformação psíquica ao longo da saga.
    • Arquétipo do herói (Luke Skywalker).
    • Arquétipo do velho sábio (Yoda).
    • Arquétipo da sombra (Darth Vader).


  • "O Rei Leão" – da Disney –, onde o personagem principal precisa confrontar sua sombra para alcançar a individuação.
    • Arquétipo do herói (Simba).
    • Arquétipo da sombra (o passado e Scar).
    • Arquétipo do velho sábio (Rafiki).


E, claro, ícones da cultura pop também devem ser mencionados, como:

  • "Game of Thrones" – de George R.R. Martin.
    • Arquétipo do herói (Jon Snow).
    • Arquétipo da sombra (Cersei Lannister).


  • "Vingadores: Ultimato" – da Marvel Studios.
    • Arquétipos de heróis (Capitão América e Homem de Ferro).
    • Arquétipo da sombra (Thanos).


  • "Stranger Things" – de Matt e Ross Duffer.
    • Arquétipo do herói (Eleven).
    • Arquétipo da sombra (Demogorgon).
    • Arquétipo do velho sábio (Jim Hopper).


Ao considerar temas e cenários arquetípicos, como os citados acima, as pessoas, muitas vezes, se veem caindo em uma armadilha. É como estar em um labirinto sem saída, onde o ego, que sempre tenta evitar enfrentar seus desafios internos e responsabilidades, se vê sem alternativas.

Esse é o ponto onde a jornada interior, segundo os conceitos de Jung aqui apresentados, exige que se encare suas questões, pois, até que essas questões sejam resolvidas, a liberdade não será alcançada.

imagem do filme 'o rei leão' da Disney

Como se aprofundar nos símbolos dos signos e nos arquétipos

Todos nós nascemos integrados ao inconsciente coletivo, repleto de arquétipos que, ao longo da vida, vão sendo atualizados, manifestados – constelados – ou não. Esses padrões originais têm uma base profunda e única, que vai além do que podemos compreender de forma cognitiva. Para isso, Jung utiliza o termo alemão Selbst o si-mesmo ou arquétipo central, aquele que é da ordem e da totalidade do homem.

Dessa forma, inicialmente, esses “pacotes de informação” transitam pelo inconsciente coletivo, onde são, de certa forma, influenciados por outros conteúdos já presentes nesse nível da psique. Posteriormente, eles emergem para a consciência, podendo se manifestar sob a forma de intuições, visões, sonhos, percepções de impulsos instintivos, imagens, emoções e ideias.

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Referências bibliográficas

JUNG, Carl Gustav. Sobre sentimentos e a sombra. Petrópolis: Vozes, 2015.

JUNG, Carl Gustav. Sobre sonhos e transformações. Petrópolis: Vozes, 2014.

JUNG, Carl Gustav. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995.

STEIN, Murray. Jung, o mapa da alma. São Paulo: Cultrix, 2006.

VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia e a imaginação ativa. São Paulo: Cultrix, 2022.

O psicanalista Sigmund Freud foi fundamental na redefinição da melancolia no século XX. Em seu trabalho Luto e Melancolia (1917), Freud propôs que a melancolia não era simplesmente uma doença, mas sim uma forma patológica do luto. Em vez de superar a perda de um objeto amado, o sujeito melancólico se identifica com o objeto perdido, o que o impede de seguir em frente e o mantém preso a um sofrimento sem fim.

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Freud E A Melancolia

Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, aborda a melancolia em sua obra "Luto e Melancolia" (1917). Para Freud, a melancolia não é apenas um estado de tristeza, mas uma condição psíquica profunda, distinta da depressão comum. Ele identificou que, enquanto o luto é uma reação natural à perda de um objeto significativo, a melancolia está ligada a uma perda interna, mais complexa e inconsciente.

A pessoa melancólica, ao contrário do enlutado, não apenas sofre pela perda do objeto, mas também direciona uma parte significativa de seu sofrimento contra si mesma. Freud propôs que esse processo de autoagressão poderia ser interpretado como uma identificação do eu com o objeto perdido, o que gerava uma intensificação do sofrimento psíquico.

Além disso, Freud destacou a relação entre melancolia e a incapacidade do eu de elaborar e aceitar a perda. Ao contrário do luto, que permite um certo distanciamento emocional do objeto perdido, a melancolia está marcada por um vínculo persistente e patológico com esse objeto. A pessoa melancólica não consegue desvincular-se da perda, o que impede a recuperação emocional e favorece a internalização de sentimentos de culpa e autocensura.

Esse conceito psicanalítico inovador ajudou a entender a melancolia de uma forma mais ampla, não apenas como um distúrbio afetivo, mas como uma dinâmica complexa entre o eu, os desejos inconscientes e a relação com os objetos de amor e perda.

Do Amor e das Trevas: Depressão e Psicanálise

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Lacan E A Melancolia

Para Lacan, a melancolia está intimamente ligada à relação do sujeito com o objeto "a", que representa o objeto causa do desejo. Ao contrário do processo de luto, onde o sujeito busca substituir o objeto perdido, o melancólico não busca esse reposicionamento, mas mantém uma relação com o objeto "a" de forma radicada e excessiva. O melancólico se vê dominado por esse objeto que o transcende, mas que, ao mesmo tempo, se confunde com o próprio sujeito. A ausência desse objeto, que deveria ser um ponto de referência para a constituição do desejo, se transforma em uma presença opressiva que invade o melancólico, dificultando qualquer tentativa de restabelecer a ligação com o mundo exterior e, consequentemente, com o desejo. Essa relação com o objeto ausente leva a uma imersão profunda no vazio, um estado tão intenso que, em casos extremos, pode conduzir à tentativa de aniquilação do próprio sujeito, como forma de escapar dessa ausência insuportável.

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A melancolia e a psicopatologia: luto vs. melancolia

Uma das questões mais debatidas na psicanálise é a diferença entre luto e melancolia. Ambas as condições envolvem a perda de algo importante para o sujeito, mas enquanto o luto é um processo de adaptação a essa perda, a melancolia é caracterizada por uma falha nesse processo.

No luto, a pessoa pode se sentir triste, mas a dor da perda é acompanhada de uma progressiva aceitação e uma retomada da vida. Já a melancolia se caracteriza pela incapacidade do sujeito reconhecer o que perdeu ou o que realmente perdeu com a perda. Em "Luto e Melancolia", Freud descreve a melancolia como uma espécie de luto não resolvido, no qual o sujeito se identifica com o objeto perdido a tal ponto que a perda se torna internalizada, como uma parte de si mesmo.

Uma diferença chave entre os dois é que no luto, o objeto da perda é reconhecido conscientemente, enquanto na melancolia, o sujeito pode não saber exatamente o que perdeu, mas sente a ausência de algo fundamental. Essa ambivalência e confusão são centrais na experiência melancólica.

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A história da melancolia na psiquiatria

Cabe dizer que a melancolia não foi debatida apenas pela psicanálise. Na psiquiatria, o conceito de melancolia tem sido desenvolvido desde o século XIX. Autores como É. Esquirol, H. Dagonet e A. Foville demonstraram grande interesse pela condição, mas também expressaram certo ceticismo em relação ao seu tratamento. Esquirol, por exemplo, preferia o termo "lipemania" (tristeza) para descrever essa condição, relegando a palavra "melancolia" ao domínio dos poetas e moralistas. Esse ceticismo refletia a dificuldade em classificar a melancolia como uma doença orgânica, já que ela se relaciona com a esfera psíquica e emocional.

Por outro lado, a psiquiatria alemã trouxe uma abordagem mais complexa, enfatizando o processo psicológico envolvido na melancolia. Durante o século XIX, psiquiatras alemães começaram a explorar o papel do psiquismo no desenvolvimento de condições como a melancolia, e sua relação com o eu e o inconsciente.

A melancolia é frequentemente confundida com a depressão, mas embora ambas compartilhem sintomas, a melancolia tem características distintas. Ela é definida, na psiquiatria, como uma forma de transtorno afetivo, e pode ser mais intensa e duradoura que a depressão comum. Historicamente, a melancolia foi tratada como uma condição mental separada da psicose maníaco-depressiva (PMD), mas com o tempo os especialistas passaram a revisitar essa categorização.

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Para aprender mais sobre psicanálise

Para aqueles que desejam aprofundar seus conhecimentos sobre psicanálise, a Casa do Saber oferece uma excelente oportunidade por meio do programa + Psicanálise. Este programa foi desenvolvido para quem busca entender as complexidades dessa teoria e suas aplicações práticas, seja no campo clínico, acadêmico ou na vida cotidiana.

Com professores renomados e conteúdos que abrangem desde as principais correntes psicanalíticas até as mais recentes abordagens e interpretações, o programa + Psicanálise é ideal para quem deseja uma formação completa e sólida. Além disso, ao participar, os alunos têm acesso a uma rica troca de ideias com especialistas e colegas de diversas áreas, aprofundando ainda mais o entendimento sobre a psicanálise e suas múltiplas dimensões.

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Referências Bibliográficas

FREUD, Sigmund. Luto e Melancolia (1917). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

LACAN, Jacques. O Seminário 6 - O Desejo e Sua Interpretação (1958-1959). Rio de Janeiro: Zahar, 2016.

KAUFMANN, Pierre. Dicionário Enciclopédico de Psicanálise: Rio de Janeiro: Zahar, 1996.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998

O budismo é a quarta maior religião do mundo, com cerca de 525 milhões de adeptos, número que representa 7,1% da população mundial, de acordo com dados da PEW Research Center de 2021. O surgimento do budismo se deu na Índia, no século VI a.C., através do príncipe Siddhartha Gautama, o Buda. É uma das religiões mais antigas do mundo e uma de suas principais características é o fato de ser uma religião não teísta, ou seja, não acredita na existência de um Deus ou um Criador supremo.

Neste artigo, vamos explicar o que é o budismo, quais são os principais ensinamentos e práticas budistas e destacar conceitos centrais da religião, como o nirvana e o Karma.

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O que é Budismo?

O budismo é uma religião que surgiu no século VI a.C., na Índia, a partir dos ensinamentos do príncipe Siddhartha Gautama, que ficou conhecido como Buda, ou o iluminado. Ao longo dos séculos, o budismo se espalhou por diversos países da Ásia, como Japão, China, Tibete e o Sudeste Asiático, onde foi adaptado às diferentes culturas e contextos locais. Hoje, o budismo continua sendo uma das principais religiões do mundo, com uma rica tradição de ensinamentos espirituais, práticas meditativas e uma filosofia da religião que abrange todos os aspectos da vida humana.

O budismo não se concentra na adoração de um deus criador, como em muitas religiões monoteístas, mas se fundamenta nos ensinamentos de Buda sobre a natureza do sofrimento e como superá-lo. Buda, um príncipe que renunciou a uma vida de luxo e conforto para buscar respostas para as questões existenciais e o sofrimento humano, alcançou a iluminação após uma jornada de práticas ascéticas e profunda meditação.

Seus ensinamentos oferecem um caminho para a liberação do sofrimento, conhecido como nirvana, e orientam seus seguidores a cultivarem compaixão, sabedoria e renúncia aos desejos. O budismo é, assim, uma religião que busca transformar a mente e a vida do indivíduo, guiando-o em direção à paz interior e à liberdade do ciclo de renascimento e morte, conhecido como samsara.

As Quatro Nobres Verdades Budistas

O budismo é estruturado em torno das Quatro Nobres Verdades, que fornecem a base para entender a natureza do sofrimento e o caminho para superá-lo. Essas verdades foram ensinadas por Buda como uma maneira de ajudar os seres humanos a transcender as dificuldades da vida. Elas formam a essência do Caminho Óctuplo, um guia prático para alcançar a iluminação e a libertação do sofrimento. A seguir, estão as Quatro Nobres Verdades:

  1. A Verdade do Sofrimento (Dukkha) – O sofrimento é uma parte inevitável da vida humana. Ele se manifesta de várias formas, como dor física, emoções negativas, frustração e insatisfação, decorrentes da impermanência da vida e do ciclo de nascimento, morte e renascimento (samsara).
  2. A Verdade da Causa do Sofrimento (Samudaya) – A causa do sofrimento é o desejo, que se refere ao apego aos prazeres mundanos, às expectativas e às ilusões. Esse desejo gera avidez, aversão e ignorância, perpetuando o ciclo de sofrimento.
  3. A Verdade da Cessação do Sofrimento (Nirodha) – O sofrimento pode ser superado. Isso ocorre quando se extinguem os desejos e os apegos, alcançando-se um estado de nirvana, que é a libertação do sofrimento e do ciclo de renascimento.
  4. A Verdade do Caminho para a Cessação do Sofrimento (Magga) – O caminho para superar o sofrimento é o Caminho Óctuplo, um conjunto de práticas que envolvem ética (ações e palavras corretas), meditação (desenvolvimento da atenção plena e da concentração) e sabedoria (compreensão correta da realidade). Esse caminho leva à iluminação e à liberação do sofrimento.


Além disso, o budismo enfatiza a importância do karma, a lei de causa e efeito, e da meditação, que é fundamental para o desenvolvimento da mente e a realização da sabedoria. Cada escola de budismo, como o Zen, o Tibetano ou o Theravada, pode ter variações em suas práticas, mas todas compartilham a busca pela liberação do sofrimento e pela compreensão da verdadeira natureza da realidade.

O que o Budismo Prega?

De acordo com o budismo, Buda atingiu a plena iluminação e encontrou a resposta para o sofrimento humano, mostrando que é possível transcender as limitações da existência comum.

Nesse sentido, o budismo, através dos ensinamentos do Buda, prega que o sofrimento é uma parte inevitável da experiência humana. Mas, que é possível superá-lo. Para isso, o Buda propôs um caminho transformador: o Caminho Óctuplo, que inclui práticas de meditação, ética e sabedoria. Esse caminho orienta os praticantes a desenvolverem uma vida equilibrada, com ações conscientes, pensamentos puros e uma mente tranquila, visando alcançar a cessação do sofrimento.

O objetivo final do budismo é atingir o nirvana, que representa a libertação do ciclo de samsara, que seria o eterno ciclo de nascimento, morte e renascimento. Em essência, o que o budismo prega é que, por meio da transformação interior – através da mudança da mente, da prática do desapego e da compaixão – é possível alcançar a paz duradoura e a sabedoria, vivendo em harmonia com a realidade e com os outros.

Se você deseja realizar uma jornada de autoconhecimento para chegar a uma compreensão maior da espiritualidade, é importante estudar os principais pensadores que trouxeram reflexões sobre ética e vida plena.

Nesse sentido, apresentamos a seguir um trecho do curso Sócrates, Buda, Lao-Tzé: Filosofias na Prática, ministrado pelo doutor em filosofia e professor da UFRJ, Lucas Nascimento Machado. Clique no botão abaixo e confira o trailer do curso:

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O que é o Caminho Óctuplo Budista?

O Caminho Óctuplo budista, também conhecido como “o caminho do meio”, é um dos principais ensinamentos do budismo, apresentado por Siddhartha Gautama. Sua prática leva à superação do sofrimento e à realização do nirvana. Ele consiste em oito componentes interligados, que são divididos em três categorias essenciais: sabedoria, ética e meditação.

Cada um desses componentes é uma prática específica que, quando seguida corretamente, ajuda os praticantes a alcançar uma vida equilibrada e a iluminação. Os oito componentes do Caminho Óctuplo são:

  1. Visão Correta: Compreender a verdade sobre a vida e o sofrimento, reconhecendo as Quatro Nobres Verdades e a natureza impermanente de todas as coisas.
  2. Intenção Correta: Ter intenções e motivações puras, livre de desejo, aversão e ilusão. Cultivar pensamentos de compaixão e bondade.
  3. Fala Correta: Falar de maneira honesta, gentil e construtiva, evitando mentiras, fofocas, palavras duras ou prejudiciais.
  4. Ação Correta: Agir de forma ética, evitando ações prejudiciais, como matar, roubar e comportamentos destrutivos, e promovendo o bem-estar dos outros.
  5. Meio de Vida Correto: Escolher uma profissão ou forma de sustento que seja ética e não cause dano a outros seres vivos.
  6. Esforço Correto: Fazer esforço para cultivar qualidades mentais positivas e eliminar as negativas, mantendo uma mente clara e tranquila.
  7. Atenção Correta: Praticar a atenção plena, ou mindfulness, focando no momento presente, observando os pensamentos, sentimentos e ações de maneira consciente e imparcial.
  8. Concentração Correta: Desenvolver a meditação profunda, a prática de samadhi, para alcançar a paz interior e a clareza mental, que leva à sabedoria e à compreensão da verdadeira natureza da realidade.


Budismo é religião?

Sim, o budismo é considerado uma religião. Embora muitas vezes seja descrito também como uma filosofia de vida, ele possui todos os elementos característicos de uma religião, como práticas espirituais, crenças fundamentais, rituais e um sistema ético. Fundado pelos ensinamentos de Buda, o budismo propõe um caminho para a superação do sofrimento humano e a realização pelo nirvana, que é a libertação do ciclo de renascimento e morte, conhecido como samsara.

O budismo tem uma profunda influência na vida cotidiana de seus praticantes, abrangendo áreas como a ética no comportamento social, a arte, a economia e religião.

Em várias culturas asiáticas, o budismo influenciou o pensamento, as artes e as práticas sociais, criando uma forte conexão entre a espiritualidade e a vida diária. O comportamento ético e a busca pela harmonia, que são centrais no budismo, frequentemente se refletem em atitudes de compaixão, respeito e equilíbrio, impactando positivamente a sociedade e as relações econômicas. Portanto, o budismo é uma religião que vai além das crenças espirituais, exercendo também um papel transformador nas esferas sociais e culturais.

Símbolo do Budismo e Outros Elementos Importantes

símbolo budista da Roda do Dharma

O símbolo do budismo mais reconhecível é a roda do dharma, que representa os ensinamentos de Buda. A roda, também conhecida como Dharmachakra, é composta por oito raios que simbolizam o Caminho Óctuplo, o caminho para a iluminação e a superação do sofrimento. Cada raio da roda é um princípio fundamental dos ensinamentos budistas, refletindo as práticas de ética, meditação e sabedoria.

suástica budista no peito de uma imagem do Buda

Outro símbolo significativo no budismo é a suástica budista. Embora a suástica tenha sido associada ao nazismo, no budismo, ela tem um significado profundamente positivo, simbolizando bem-estar, boa sorte, prosperidade e o movimento eterno do ciclo de vida e renovação, ou samsara. A suástica no budismo representa também a harmonia universal e a conexão com o divino, associando-se à ideia de movimento contínuo e equilíbrio.

Além desses, outros símbolos importantes no budismo incluem:

SÍMBOLOS BUDISTAS SIGNIFICADO

Flor de Lótus

simbolo budista lotus
O lótus é um símbolo central no budismo, representando a pureza espiritual e o despertar. Como a flor de lótus cresce na lama e se eleva para a luz, ela simboliza o processo de purificação e iluminação do praticante, que emerge do sofrimento para alcançar a sabedoria.

Peixes dourados

simbolo budista peixes
Os peixes dourados simbolizam a sabedoria, a vida longa e a felicidade. Representam a harmonia e a paz.

Nó Infinito

simbolo budista nó infinito
O nó infinito, também conhecido como símbolo do karma, representa a interconexão de todos os fenômenos e a lei de causa e efeito no budismo. Suas linhas entrelaçadas, sem começo nem fim, simbolizam como todas as ações, pensamentos e palavras estão interligados, criando um ciclo contínuo de karma. Esse símbolo nos lembra que nossas escolhas geram consequências que se estendem ao longo do tempo, afetando tanto nossas vidas quanto as de outros, até que se alcance a liberação do sofrimento e a iluminação.


Budismo Acredita em Deus?

Uma das perguntas frequentemente levantadas é se Deus existe para o budismo. A resposta é um tanto complexa. Mas, ao contrário das religiões teístas, como o cristianismo, o budismo não se concentra em um deus criador. Em vez disso, ele enfoca o autoconhecimento e a experiência direta da realidade. Buda não foi visto como um deus, mas como um mestre que ensinou o caminho para a iluminação. Para os budistas, a prática espiritual e a sabedoria interior são o caminho para superar o sofrimento, e não a crença em uma entidade divina.

Karma: Significado Espiritual no Budismo

No budismo, o conceito de karma é uma das doutrinas mais fundamentais e pode ser entendido como a lei universal da causa e efeito. O karma refere-se à ideia de que todas as nossas ações, palavras e pensamentos geram consequências, que podem se manifestar no presente ou no futuro, tanto nesta vida quanto em futuras reencarnações.

Essas consequências não são vistas como punições ou recompensas, mas como reflexos naturais do que plantamos, sendo o resultado direto de nossas intenções e comportamentos. Assim, o karma ensina que somos responsáveis pelas escolhas que fazemos, e que, ao cultivar ações positivas, compassivas e altruístas, podemos criar um destino mais favorável, não apenas para nós mesmos, mas para os outros ao nosso redor. Em última análise, o karma no budismo é um convite à reflexão sobre nossas atitudes e como elas estão relacionadas a nossa experiência de vida, influenciando nosso caminho em direção ao nirvana e à superação do sofrimento.

O que é Nirvana budista?

O nirvana no budismo é o estado de liberação e iluminação final, onde o praticante supera completamente o sofrimento, o desejo e o apego, alcançando a paz e a tranquilidade absolutas. O termo nirvana significa "extinção", referindo-se ao fim do ciclo de samsara, que é o ciclo contínuo de nascimento, morte e renascimento. Nesse estado, a mente se liberta de todos os condicionamentos e ilusões, alcançando uma compreensão profunda da verdadeira natureza da realidade.

Alcançar o nirvana significa transcender as limitações do ego e do sofrimento, atingindo a sabedoria, compaixão e serenidade. Embora o nirvana seja muitas vezes descrito como a libertação do sofrimento, ele também é visto como um estado de realização espiritual, onde a pessoa vive em harmonia com o universo e experimenta uma paz que não é afetada pelas dificuldades e impermanências da vida. Para o budismo, existe um caminho para alcançar o nirvana, que seria guiado pelos ensinamentos de Buda. O caminho inclui as Quatro Nobres Verdades e o Caminho Óctuplo, que proporcionam as ferramentas necessárias para alcançar essa transformação interior.

Frases de Buda: Sabedoria para a Vida

Abaixo, apresentamos algumas das frases de Buda que transmitem a sabedoria profunda do mestre iluminado. Entre as mais célebres, destacam-se:

  • “Jamais, em todo o mundo, o ódio acabou com o ódio. O que acaba com o ódio é o amor”
  • “Ao cuidar de si mesmo, você cuida dos outros. Ao cuidar dos outros, você cuida de si mesmo”
  • “Não pela eloquência ou pela bela aparência uma pessoa é bela, se ela for invejosa, egoísta, enganadora”
  • "Somos o que pensamos. Tudo o que somos surge com nossos pensamentos. Com nossos pensamentos, fazemos o mundo."


Conclusão

O budismo é uma prática religiosa profunda que oferece um caminho de transformação pessoal e coletiva. Desde sua origem na Índia até sua disseminação pelo mundo, continua a ser uma fonte de inspiração, sabedoria e paz para milhões de pessoas. As questões centrais do budismo, como karma, nirvana e os ensinamentos de Buda, nos ajudam a entender melhor nossa própria vida e o universo em que vivemos. Afinal, o budismo nos ensina que, para alcançar a verdadeira felicidade, devemos primeiro olhar para dentro de nós mesmos e cultivar a sabedoria, a compaixão e a paz.

Perguntas Frequentes sobre o Budismo

O que os budistas acreditam?

Os budistas acreditam que a vida é permeada pelo sofrimento, conhecido como "dukkha", e que esse sofrimento pode ser superado através da compreensão profunda da natureza da realidade. Eles seguem os ensinamentos de Buda, que revelou o caminho para alcançar a iluminação e o nirvana, um estado de liberação do ciclo de sofrimento e renascimento. A prática do budismo envolve a observância do Caminho Óctuplo, que inclui ética, meditação e sabedoria, como formas de transformar a mente e alcançar a paz interior.

O que é budismo: resumo

Budismo é uma religião fundada por Buda no século VI a.C., que ensina como superar o sofrimento e alcançar a paz interior. Através de práticas como meditação, autocompreensão e ética, os budistas buscam a iluminação, ou nirvana, um estado de liberdade do sofrimento e do ciclo de renascimento. O budismo não foca na adoração a um deus, mas no desenvolvimento da sabedoria e compaixão para transformar a própria vida.

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Referências

https://pt.wikipedia.org/wiki/Budismo

https://bodisatva.com.br/os-oito-simbolos-auspiciosos-do-budismo-tibetano/

https://cebb.org.br/o-que-e-o-budismo/#:~:text=O%20budismo%20%C3%A9%20um a%20religi%C3%A3o,s%C3%A1bio%20do%20cl%C3%A3%20dos%20Sakya.

Compreender os conceitos de consciente, pré-consciente e inconsciente é essencial para entender a teoria psicanalítica. Essas três instâncias psíquicas são fundamentais para a compreensão do aparelho psíquico proposto por Freud, que descreve a dinâmica complexa e o funcionamento distinto de cada uma delas.

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O Consciente

O conceito de consciente em Freud refere-se à instância do aparelho psíquico que contém os processos de pensamento, percepção e sentimentos dos quais o sujeito tem plena consciência. Ele é, junto com o pré-consciente e o inconsciente, uma das três áreas principais na primeira tópica freudiana.

O consciente envolve tudo aquilo que o sujeito é capaz de perceber de forma direta, como as sensações e pensamentos imediatos, e tem um papel essencial na interação do indivíduo com a realidade externa. Freud, em suas primeiras formulações, afirmou que o consciente não está ligado a uma área específica do cérebro, mas representa um processo psíquico complexo e dinâmico.

A consciência, para Freud, vai além da simples percepção do mundo externo. Ela está relacionada à capacidade de fazer ligações simbólicas e racionais, permitindo ao sujeito ordenar e interpretar suas experiências.

No entanto, o acesso ao consciente pode ser dificultado por processos internos como o recalque e a censura, que podem impedir que certos conteúdos psíquicos, especialmente os conflitivos ou traumáticos, se tornem acessíveis à consciência. Esses processos são fundamentais na formação de defesas e no desenvolvimento de sintomas.

Freud também introduziu a ideia de que o consciente interage com o inconsciente e o pré-consciente, e sua função não é estática. Ele propôs que a consciência emerge e desaparece dinamicamente, com as percepções sendo processadas, mas não deixando vestígios permanentes.

Esse processo é comparável ao de uma "lousa mágica", onde as informações são apagadas após a tomada de consciência. Isso mostra que a consciência não retém as experiências de forma fixa, mas permite um fluxo contínuo de informações, atualizando constantemente o que é percebido.

Embora Freud tenha dado grande ênfase ao inconsciente, ele nunca ignorou o papel do consciente. Para ele, a psicopatologia não se resume a um conflito entre o consciente e o inconsciente, mas envolve um processo mais complexo de interação entre as diversas forças psíquicas.

O estudo dos sonhos e das defesas psíquicas revelou como a consciência pode ser moldada e distorcida, mostrando que ela não é apenas um reflexo direto da realidade externa, mas uma construção influenciada por fatores internos e inconscientes.



O Pré-Consciente

O conceito de pré-consciente foi introduzido por Sigmund Freud para designar uma das três instâncias fundamentais de sua primeira tópica, junto com o consciente e o inconsciente.

Diferente dos conteúdos inconscientes, que estão totalmente fora do alcance da consciência, os conteúdos do pré-consciente estão à disposição da consciência, embora não estejam imediatamente presentes. O pré-consciente pode ser entendido como uma espécie de "armazém" de informações que, embora não ativas, podem ser acessadas com facilidade quando necessário, por meio da atenção ou do esforço consciente.

Freud introduziu o termo de forma mais sistemática em sua correspondência com Wilhelm Fliess, em 1896, associando-o às representações verbais e ao "eu oficial". O pré-consciente, em sua visão, é o sistema que contém as informações que podem emergir para a consciência, desde que atendidas certas condições, como o grau de intensidade ou a ativação por um foco de atenção.

Essa instância funciona como uma espécie de filtro, permitindo que conteúdos sejam trazidos à consciência sem a interferência direta do inconsciente, que exige uma modificação maior para acessar a consciência.

Uma característica fundamental do pré-consciente é sua proximidade com o inconsciente. Enquanto o pré-consciente é descrito como inconsciente ele se diferencia do inconsciente dinâmico, já que seus conteúdos podem ser trazidos à consciência com maior facilidade, mesmo que, às vezes, necessitem de uma "censura" para evitar o acesso de conteúdos indesejáveis.

Freud, em O eu e o isso, apontou que o pré-consciente age como uma barreira entre o inconsciente e a consciência, com um sistema de triagem que impede que desejos inconscientes, potencialmente perturbadores, se manifestem diretamente na consciência.

Apesar de sua função de "filtro", o pré-consciente também está intimamente ligado ao processo secundário, que regula o pensamento lógico e racional, diferente do processo primário, que está mais relacionado aos impulsos primitivos do inconsciente.

Embora o pré-consciente tenha a função de selecionar e organizar informações, ele pode, de maneira "normal", permitir que certos pensamentos reprimidos ou "restos diurnos" reapareçam, como no caso dos sonhos. Ao longo de sua obra, Freud manteve a ideia de que o pré-consciente tem um papel crucial na mediação entre o inconsciente e o consciente, sendo particularmente relevante na relação com a linguagem e a formação dos pensamentos conscientes.

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O Inconsciente

O conceito de inconsciente passou por uma transformação significativa ao longo do tempo, especialmente com a psicanálise de Sigmund Freud.

Embora o termo tenha sido utilizado de maneira geral na língua comum para descrever processos mentais fora da consciência, foi Freud quem fez dele um pilar central de sua teoria psicanalítica.

O inconsciente freudiano não é apenas uma parte oculta do psiquismo, mas uma instância ativa, onde residem conteúdos reprimidos, impulsos e desejos que não têm acesso direto à consciência. Para Freud, esses conteúdos podem se manifestar de maneiras indiretas, como nos sonhos, atos falhos e lapsos de linguagem, revelando-se de formas disfarçadas, mas significativas.

A psicanálise freudiana introduziu a ideia de que o inconsciente não é apenas um reservatório de conteúdos reprimidos, mas um espaço dinâmico governado por leis próprias, como o processo primário, que se manifesta nos sonhos e nas fantasias.

Esses conteúdos inconscientes estão frequentemente relacionados a pulsões que buscam expressão, mas não podem se tornar conscientes diretamente devido ao recalque. Com o tempo, Freud foi refinando a teoria do inconsciente, especialmente com a introdução da segunda tópica, onde ele passou a situar o inconsciente como uma característica tanto do isso, quanto do eu e do supereu.

O conceito de inconsciente:a importância para a psicanálise

A partir da década de 1920, Freud reestruturou suas ideias sobre o inconsciente, ampliando sua concepção para incluir não apenas os conteúdos reprimidos, mas também a dinâmica entre as instâncias psíquicas, como o isso e o eu. A partir de então, ele afirmou que o inconsciente é uma função fundamental na formação da personalidade, essencial para a psicanálise.

No entanto, com a evolução da psicanálise, outros pensadores, como Melanie Klein e Jacques Lacan , revisitaram e expandiram o conceito, com Lacan, por exemplo, propondo uma teoria inovadora em que o inconsciente é estruturado pela linguagem, o que introduziu uma nova dimensão ao entendimento freudiano.

Para Lacan, o inconsciente é “o discurso do outro”, e sua estrutura é profundamente ligada à linguagem e ao significante, oferecendo uma visão mais complexa e simbólica da psique humana.

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Referências Bibliográficas

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.




O expressionismo foi um movimento artístico que surgiu na Alemanha, no ano de 1905, como uma reação à proposta estética do impressionismo, que buscava realizar uma arte baseada em estudos de óptica, retratando a luminosidade e as imagens da maneira como as vemos. Ao contrário do impressionismo, o expressionismo procurava realizar uma arte onde a emoção do artista tivesse mais espaço do que a técnica.

Expressionismo: Obras, Características e 3 Cursos Para Você Entender Tudo sobre a Vanguarda Modernista

A expressão dos pintores, seus sentimentos e sua visão de mundo importavam mais do que o realismo para essa vanguarda modernista. A obra O Grito (1893), do norueguês Edvard Munch, é precursora do expressionismo e traz muitas de suas características, como a deformação das figuras e a temática pessimista. O movimento não ficou restrito à pintura, mas também se manifestou na literatura, no cinema, na arquitetura e na fotografia.

Neste artigo, vamos mostrar como surgiu a arte expressionista, seus principais artistas e cursos para você aprofundar seus conhecimentos na Arte Moderna. O artigo passará pelos seguintes conteúdos:



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O que é Expressionismo?

O expressionismo foi um movimento artístico que emergiu no início do século XX, com origem na Alemanha, que valorizava a visão particular de mundo de cada artista, bem como suas emoções íntimas. O movimento refletia um mundo em crise, marcado pela Revolução Industrial, pela urbanização crescente e por tensões sociais e políticas intensas.

Os artistas distorciam formas, cores e perspectivas para expressar sentimentos profundos de angústia, sofrimento e desespero, em vez de retratar a realidade de maneira fiel. Em contraste com estilos artísticos anteriores, como o impressionismo, que se concentrava na representação objetiva e realista do mundo, os expressionistas buscaram transmitir a subjetividade e as turbulências internas do indivíduo.

Grandes nomes do expressionismo, como Edvard Munch e Egon Schiele, usaram essas distorções para capturar as intensas emoções humanas e o impacto psicológico das mudanças da sociedade moderna. O expressionismo é considerado uma das primeiras vanguardas históricas, ao lado do fauvismo francês. As vanguardas europeias da arte modernista foram um conjunto de movimentos artísticos que surgiram entre o início do século XX, antes da Primeira Guerra Mundial até o final da Segunda Guerra Mundial

Esses movimentos desafiavam as convenções estéticas tradicionais e traziam novas formas de expressão, abordando questões psicológicas, existenciais e sociais de maneira inovadora e muitas vezes perturbadora. Surgia uma nova era na arte ocidental com a mudança da mentalidade acerca do que faz um trabalho artístico uma obra de arte.

Como surgiu o Expressionismo?

O expressionismo surgiu em uma Alemanha imersa em uma profunda crise, cujas tensões sociais e políticas acabariam por culminar na eclosão da Primeira Guerra Mundial. As consequências da Revolução Industrial, o crescimento das áreas urbanas e os conflitos políticos criaram um cenário de angústia que se refletiu na arte expressionista.

Os artistas expressionistas reagiram a esse ambiente com uma paleta cromática agressiva, utilizando cores intensas e contrastantes para transmitir suas emoções internas. As temáticas centrais do movimento incluem a solidão, o sofrimento e a miséria, refletindo a crise existencial vivida pela sociedade.

O pintor norueguês Edvard Munch, com obras como O Grito (1893), tornou-se um ícone do expressionismo, retratando o desespero e a incomunicação humanas em um cenário de opressão psicológica. Seu trabalho, marcado por uma forte carga emocional e uma paleta de cores intensas, foi uma das principais inspirações para o movimento.

Além de Munch, outros artistas, como o francês Paul Cézanne, cujas experimentações com a desfragmentação da realidade e os pós-impressionistas Vincent van Gogh e Paul Gauguin, também foram precursores do expressionismo, trazendo à tona uma ênfase na subjetividade, na distorção das formas e na expressão de emoções profundas.

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O Expressionismo Alemão na Pintura

O movimento expressionista teve início em 1905, com a formação do grupo Die Brücke (A Ponte), fundado em Dresden por artistas como Ernst Ludwig Kirchner, Karl Schmidt-Rottluff e Erich Heckel. Este grupo se propôs a romper com as tradições artísticas acadêmicas e buscar uma expressão mais direta e emocional da realidade. Influenciados por movimentos como o pós-impressionismo e o primitivismo, os membros do Die Brücke usaram cores intensas e distorções nas formas para retratar temas como a angústia e o sofrimento causados pelas transformações sociais e culturais da época. A arte expressionista visava, assim, representar a subjetividade humana e os sentimentos conflitantes do indivíduo. O fazer artístico estava se transformando, bem como o perfil do consumo da arte.

Em 1911, o termo "expressionismo" foi formalmente associado ao movimento pela primeira vez ao ser escrito na revista Der Sturm (A Tempestade), uma das mais importantes publicações da vanguarda alemã. Ao mesmo tempo, o movimento se expandiu com a formação do grupo Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), em Munique, composto por artistas como Wassily Kandinsky e Franz Marc. Embora ambos os grupos compartilhassem a ideia de distorcer a realidade e explorar a subjetividade, o Der Blaue Reiter adotou uma abordagem mais espiritual, buscando expressar realidades metafísicas por meio da arte.

O Nazismo contra o Expressionismo

O regime nazista teve um impacto devastador sobre a arte expressionista, considerando-a "degenerada" e incompatível com seus valores nacionalistas e tradicionais. O movimento de censura do nazismo visava eliminar formas de arte modernas, como o expressionismo, o cubismo e o futurismo, que eram vistas como antinacionais e subversivas. Em 1937, os nazistas organizaram a Exposição de Arte Degenerada em Munique, onde obras de artistas como Ernst Ludwig Kirchner, foram expostas de forma grotesca, sendo ridicularizadas como expressão da loucura e usadas como exemplo do que o regime considerava corrompido. Muitas dessas obras foram retiradas de museus, destruídas ou vendidas a colecionadores estrangeiros, enquanto outras foram armazenadas fora do alcance do público.

O regime nazista tentou eliminar o expressionismo da cena artística alemã e ainda associou esse movimento ao comunismo e o rotulou de imoral e subversivo. Em 1937, cerca de 16.500 obras de arte foram confiscadas, incluindo trabalhos de artistas renomados como Van Gogh, Pablo Picasso e Matisse, muitas das quais foram vendidas em leilões ou destruídas, resultando em um prejuízo irreparável para a arte alemã e mundial.

3 Cursos Para Você Entender tudo sobre Arte Moderna

Para você que deseja entender profundamente o que é a arte, o que é Arte Moderna e, consequentemente, o movimento Expressionista, listamos três cursos essenciais da Casa do Saber que vão te fornecer uma visão mais abrangente sobre esses temas. São eles:

  1. A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock
  2. Introdução à História da Arte
  3. O que é Arte?



A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock

O curso "A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock" oferece uma análise profunda das transformações que ocorreram na arte moderna entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX.

Através das obras e vidas de artistas icônicos como Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock, o curso revela como a arte moderna rompeu com as convenções estéticas anteriores e aborda o impacto desse movimento nas instituições, na crítica de arte e no mercado.

O curso é ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp e pesquisador de pós-doutorado no Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP), Felipe Martinez. Com vasta experiência acadêmica e profissional, Felipe Martinez é especialista na obra de Van Gogh e tem atuação em instituições renomadas, como o MASP e o MAM de São Paulo. Confira a seguir uma prévia do curso:

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Introdução à História da Arte

O curso "Introdução à História da Arte" oferece uma visão abrangente dos principais marcos e transformações na arte ocidental, desde o Renascimento até a arte moderna e contemporânea. Ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp e pesquisador da USP (MAC-USP), Felipe Martinez, o curso mostra como nossos conceitos de beleza e arte são construídos a partir do contexto histórico.

As aulas cobrem uma vasta gama de movimentos e artistas, como Michelangelo, Caravaggio, Monet, Degas, Van Gogh e Matisse, além de discutir as influências estéticas, técnicas e sociais que formaram cada período. A arte moderna e as vanguardas europeias fazem parte do conteúdo do curso e você pode conferir um pouco das aulas dando play no vídeo abaixo:

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O que é Arte?

O curso "O Que é Arte?" busca responder a essa pergunta, que permanece relevante e aberta a diversas interpretações. Através de uma abordagem crítica, o pesquisador Felipe Martinez investiga a arte a partir de seus diferentes sentidos, funções e efeitos, analisando como ela se conecta com a sociedade e provoca reflexões. As aulas envolvem obras e autores de períodos clássicos, modernos e contemporâneos, oferecendo novas formas de compreender e questionar o papel da arte em nosso mundo. Assista abaixo um trecho de uma das aulas para se familiarizar com o conhecimento compartilhado:

Thumb curso 'O que é arte?' com Felipe Martinez


Quais são as Características do Expressionismo?

Influenciado pelo gótico alemão, o movimento expressionista é caracterizado pela distorção das formas, uso de cores intensas para refletir emoções, e ênfase no impacto psicológico sobre a realidade objetiva. O expressionismo também se concentra no isolamento urbano, alienação e solidão do indivíduo, além de usar linhas dramáticas e angulares para aumentar a tensão emocional. Embora tenha sido um movimento heterogêneo, com grupos e artistas apresentando grandes diferenças estilísticas e temáticas, sua influência se estendeu por várias décadas, até a Segunda Guerra Mundial, e alcançou outros países além da Alemanha.

Principais características do expressionismo:

  • Distorção das formas para expressar emoções, não a realidade
  • Uso de cores vibrantes e intensificadas
  • Foco nas emoções e tensões interiores, não na objetividade
  • Representação de cenas urbanas e do isolamento
  • Linhas dramáticas e angulares para aumentar a intensidade emocional
  • Impacto psicológico mais importante que a beleza visual
  • Diversidade estilística e temática entre os grupos e artistas



Principais Artistas do Expressionismo

Abaixo, apresentamos uma tabela com alguns dos principais artistas do movimento expressionista, suas características e obras mais representativas. Além disso, incluímos artistas do pós-impressionismo, cujas obras influenciaram diretamente o surgimento e o desenvolvimento do expressionismo. Confira:

PINTORES EXPRESSIONISTAS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS OBRAS
Edvard Munch Conhecido por expressar emoções de angústia e ansiedade, especialmente a solidão humana O Grito (1893)
Egon Schiele Famoso por suas representações distorcidas do corpo humano, explorando temas de desejo e morte Retrato de Wally (1912)
Ernst Ludwig Kirchner Membro do grupo Die Brücke, seus trabalhos eram caracterizados por distorções de figuras e cores vibrantes Autorretrato com Modelos (1910)
Wassily Kandinsky Pioneiro da arte abstrata, ele acreditava que a arte deveria expressar a espiritualidade e a emoção Composição VII (1913)


Pintura Expressionista

Aqui estão algumas das principais obras expressionistas, que exemplificam a distorção da realidade e a ênfase nas emoções, tão características do expressionismo:

O Grito (1893) | Edvard Munch

Quadro 'O Grito' de Edvard Munch, pintado em 1893. Retrata, de forma distorcida, uma pessoa gritando em cima de uma ponte, com expressão de aflição.
O Grito, Edvard Munch. 1893. Têmpera e pastel oleoso sobre cartão, 91 x 73,5 cm. Galeria Nacional de Oslo, Noruega.


O Grito é uma das obras mais icônicas do expressionismo, capturando a angústia e o desespero humano. A distorção da figura e a explosão de cores vibrantes transmitem a sensação de uma crise emocional profunda.

Mulher Sentada com Joelhos Dobrados (1917) | Egon Schiele

Quadro 'Mulher Sentada com Joelhos Dobrados' de Egon Schiele, pintado em 1917. Retrata uma mulher sentada, com as pernas abertas, encostando a cabeça em um dos joelhos dobrados.
Mulher Sentada com Joelhos Dobrados, Egon Schiele, 1917. Guache, aquarela e giz de cera preto sobre papel. Galeria Nacional de Praga, Praga.


Mulher Sentada com Joelhos Dobrados é uma das imagens mais conhecidas de Schiele e revela uma mulher representada de uma maneira que destoava completamente dos padrões convencionais da arte da época. Ele mistura um ângulo nada convencional com uma estética erótica.

Composição VII(1913) | Wassily Kandinsky

Quadro 'Composição VII' de Wassily Kandinsky, pintado em 1913. É uma pintura abstrata, de traços fortes e marcantes, com uso de cores intensas e contrastantes.
Composição VII, Wassily Kandinsky, 1913. Óleo sobre tela, 200,6 cm x 302,2 cm. Galeria Tretyakov , Moscou.


Kandinsky foi um dos primeiros artistas a criar a arte abstrata. "Composição VII" é uma obra caótica, com cores vibrantes. O quadro não faz uma representação figurativa da realidade e traz uma composição complexa que cria novos caminhos e possibilidades para a arte modernista.

O Expressionismo no Brasil

O Expressionismo no Brasil, embora não tenha se consolidado como um movimento dominante, surgiu no início do século XX influenciado pelas inovações da vanguarda europeia e deixou uma marca significativa nas artes, especialmente na pintura. Artistas como Cândido Portinari , Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti e Anita Malfatti buscaram transmitir emoções intensas e subjetivas por meio da distorção das formas, cores fortes e contrastantes, além de uma representação mais psicológica e emocional do ser humano. Obras como Retirantes e Guerra, de Portinari, exemplificam a busca por representar o sofrimento e as tensões sociais, refletindo as angústias de sua época.

Quadro 'Retirantes' de Cândido Portinari, pintado em 1944. Mostra uma família de camponeses em fuga, com rostos expressando sofrimento e fadiga, em uma composição de cores fortes que transmite a dor e a luta das dificuldades sociais.
Retirantes, Cândido Portinari, 1944. Óleo sobre tela, 190 cm x 180 cm. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (SP)


Impacto e Legado do Expressionismo

O expressionismo, embora inicialmente rejeitado, desempenhou um papel fundamental na reconfiguração da arte moderna, abrindo caminho para movimentos como o surrealismo e a arte abstrata. Sua ênfase na distorção das formas e na representação do mundo interior desafiou as convenções estéticas da época e transformou a concepção da arte de uma mera representação da realidade externa para uma expressão profunda das experiências humanas. O legado do expressionismo, com suas inovações e reflexões sobre a condição humana, continua a influenciar as artes visuais e outras formas criativas até os dias de hoje. Além disso, o movimento também deixou uma marca significativa no cinema, especialmente nos gêneros de horror e suspense.

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Perguntas Frequentes sobre Expressionismo

O que é o expressionismo?

O expressionismo é um movimento artístico que começou no início do século XX, focado na expressão das emoções do artista através da distorção de formas e do uso intensivo de cores vibrantes.

Quais são as principais características do expressionismo?

As características do expressionismo incluem distorção das formas para expressar emoções, uso de cores intensas e vibrantes, e a exploração de temas como alienação, angústia e a tensão interior do ser humano.

Referências:

https://enciclopedia.itaucultural.org.br/termos/80046-expressionismo

Embora tenha se desenvolvido e aprofundado suas raízes há mais de 2000 anos, o estoicismo tem reaparecido como uma resposta ao complexo e desconfortável mundo moderno, marcado pelo esgotamento coletivo e pelas frustrações geracionais.

Tal filosofia, que é banhada em uma ideia de felicidade resiliente às adversidades e às influências externas, ganha adeptos e curiosos, cuja motivação se dá em direção comum: é realmente possível aplicar a práxis estoica nos dias de hoje?

Neste artigo vamos destacar algumas obras, cursos e dicas que podem oferecer uma resposta certeira ao questionamento, além de mostrar como viver de um modo mais estoico, mesmo em meio a tantas distrações.

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Recordação: o que é o estoicismo?

“A felicidade e a liberdade começam com a clara compreensão de um princípio: algumas coisas estão sob nosso controle, outras não”. A expressão, de autoria um dos maiores filósofos estoicos da antiguidade - Epicteto, define com bastante clareza os pilares que sustentam o estoicismo.

Criada durante o período helenístico, ainda na Grécia Antiga, e tendo como pano de fundo a crença nas leis da natureza, essa vertente filosófica buscou explicar o sentido da vida a partir da racionalização e de uma proposta de aceitação do inevitável.

Na prática, estruturou um entendimento acerca da "felicidade" como um resultado dado àqueles que conseguiam desvencilhar-se das paixões avassaladoras e das emoções exageradas.

Ou seja, para o estoicismo a felicidade se materializava quando as emoções eram racionalizadas, assim como quando os episódios da vida eram entendidos como pertencentes todos à uma teia natural e inevitável de causas e efeitos.

Nessa perspectiva, os esforços e desejos de mudança humanos deveriam ser direcionados para as coisas passíveis de serem controladas e não para aquelas alheias à vontade dos homens, tal qual a morte.

Dessa forma, o estoicismo passou a ser caracterizado como uma filosofia prática, que orientava os indivíduos a viverem em harmonia com a natureza e a razão, buscando a virtude como um bem maior.

Para os estoicos, a vida virtuosa seria aquela baseada no agir lógico, ético e sereno, capaz de enfrentar os desafios com resiliência por entendê-los como pertencentes a uma ordem natural das coisas.

A abordagem, rigorosa e libertadora na mesma medida, faz com que o estoicismo seja uma ferramenta resgatada na modernidade para lidar com os novos desafios e contornos sociais, oportunizando a busca pelo equilíbrio mesmo em cenários turbulentos.

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O que é agir com estoicismo nos dias atuais?

A pergunta "é possível praticar o estoicismo nos dias atuais?" depende essencialmente da compreensão do que é o agir estoico nesse novo contexto.

Em meio à Era da Informação, aos dados gerados em velocidade exponencial, às demandas por performance e resultado e ao excesso de estímulos, o estoicismo apresenta uma bússola mental, que cultiva a clareza e a resiliência emocional como forma de melhor viver e sobreviver a este cenário.

Trata-se de uma aplicação da abordagem que incentiva o foco àquilo que é controlável, como as ações e reações individuais, ao passo que pratica a compreensão serena daquilo que escapa ao domínio pessoal.

Homem segurando um guarda-chuva, virado para parede com metas e planejamentos. Reflete a necessidade de entrega e resultado.
O estoicismo moderno incentiva uma leitura de mundo focada no controle do que se é controlável, ajudando a redefinir prioridades e a encontrar clareza em meio às exigências incessantes por desempenho e resultados.


Assim, no mundo contemporâneo, essas ideias podem se traduzir em práticas, como:

Gerenciar o tempo e a atenção Evitar dispersar energia com distrações ou preocupações improdutivas, dedicando-se ao que realmente importa, bem como ao autocuidado e auto escuta.
Reavaliar o conceito de sucesso Adotar uma perspectiva baseada na virtude e no progresso interno, afastando-se da busca contínua por uma validação externa ou padrões sociais inatingíveis.
Cultivar o autocontrole Responder às adversidades com calma e reflexão, resistindo aos impulsos imediatos ou a emoções exageradas, as quais podem comprometer o senso crítico e a tomada de decisão racional.
Praticar a gratidão e a perspectiva Reconhecer o valor das coisas e aprender a ressignificar os desafios como oportunidades de crescimento pessoal.



No cotidiano moderno, o estoicismo, uma filosofia para tempos de crise, continua emergindo como um consolo e como uma libertação de ilusões. Por isso, oferece uma base sólida para enfrentar crises pessoais ou profissionais, promovendo uma atitude resiliente frente a desafios inevitáveis.



3 livros para entender o estoicismo

Livros são uma excelente maneira de transportar as ideias filosóficas estoicas da Antiguidade para contemporaneidade, indicando um caminho para a prática da filosofia no cotidiano.

Nesse sentido, as obras selecionadas abaixo repercutem os princípios estoicos em seus diferentes tempos, além de apresentarem aplicações palpáveis do conceito e contextos históricos que ajudam na compreensão do pensamento filosófico em sua totalidade.

  • Diário estoico: 366 lições sobre sabedoria, perseverança e a arte de viver - Ryan Holiday e Stephen Hanselman
  • Meditações - Marco Aurélio
  • Sobre a Brevidade da Vida (De Brevitate Vitae) – Sêneca


1) Diário estoico: 366 lições sobre sabedoria, perseverança e a arte de viver - Ryan Holiday e Stephen Hanselman

Uma das mais populares obras do movimento moderno de resgate ao estoicismo, o Diário Estoico propõe a leitura de 366 meditações baseadas em ensinamentos de grandes filósofos estoicos, como Sêneca, Marco Aurélio e Epicteto.

Seu objetivo é funcionar como um guia prático e acessível para quem deseja introduzir o agir estoico à sua rotina, cultivando a arte de viver bem. Para isso, Ryan Holiday e Stephen Hanselman instigam os leitores a expandir a compreensão do mundo e a experimentar novas maneiras de agir e pensar.

Encontrar o propósito da vida, lidar com perdas irreparáveis e o caminho para a felicidade verdadeira são apenas alguns dos tópicos abordados no texto.

Com os ensinamentos dos antigos estoicos, em uma metodologia meditativa a cada dia do ano, o livro proporciona uma reavaliação das percepções, atitudes e metas de vida.

2) Meditações - Marco Aurélio

Uma das mais influentes obras filosóficas de todos os tempos, Meditações transforma-se em uma janela direta para a mente de Marco Aurélio, o imperador romano conhecido como "imperador filósofo".

Escrito como um diário pessoal, o livro reúne reflexões sobre a busca pela virtude, a compreensão do universo e a arte de viver em harmonia com a natureza, mesmo em cenários inconstantes e desequilibrados.

Mesmo que inicialmente não tenha sido destinado à publicação, o texto se tornou um verdadeiro mantra para a prática estoica, atemporal e requisitada ao longo de várias décadas.

No projeto, Marco Aurélio menciona a necessidade da ponderação em meio às pressões, sobretudo aquelas relacionadas ao poder, assim como destaca os desafios do enfrentamento das incertezas e das dores inevitáveis da existência humana, priorizando a serenidade e o autocontrole.

As lições valiosas apresentadas, como a importância de aceitar o que não se pode controlar, focar no presente e viver de acordo com princípios éticos, têm sido incorporadas neste novo momento do estoicismo, guiando os adeptos a uma forma de praticar a filosofia de forma flexível e adaptada.




3) Sobre a Brevidade da Vida (De Brevitate Vitae) – Sêneca

Escrita por outro grande pensador estoico, esta obra concisa, mas profundamente impactante, aborda um dos temas centrais para o estoicismo: a natureza do tempo e as armadilhas de uma vida perpassada pelo negligenciamento.

Para Sêneca, a duração da vida importa à medida que escolhemos como iremos vivê-la. Ou seja, ele convida o leitor a refletir sobre a urgência do cultivo da totalidade interior, contrastando os valores culturais modernos guiados pela prosperidade material e pela produtividade incessante.

Argumenta ser o tempo o bem mais precioso existente, embora seja frequentemente tratado como infinito. Assim, o filósofo critica, sobretudo, a tendência humana de procrastinar, acumular riquezas sem propósito e buscar validação externa, ao invés de focar no desenvolvimento interno e nas relações significativas.

“A vida que recebemos não é curta, mas a tornamos desse modo; tampouco a temos de sobra, mas a desperdiçamos” - Sêneca



Mulher deitada sobre a mesa, aparentando cansaço, com peso de pedras nas costas. Alusão ao estoicismo
O Estoicismo aplicado à modernidade surge como uma alternativa para amenizar os efeitos comuns da experiência humana superestimulada, oferecendo uma nova interpretação possível para a vida, para os desafios e para os problemas do cotidiano. Trata-se de uma filosofia que apresenta ferramentas para aprimorar a resiliência ao inevitável, incentivando a clareza emocional.


4 cursos para aprender de forma rápida sobre o estoicismo

Os cursos são outra excelente oportunidade para mergulhar mais profundamente nos conceitos do estoicismo, a partir da orientação de especialistas que conectam essa filosofia ao mundo contemporâneo, entendendo como e onde aplicá-la. Veja três cursos recomendados para esse propósito:

  1. Aprender a Viver: Como a Sabedoria Pode Ser o Caminho para uma Vida Melhor

    Este curso explora como a sabedoria filosófica pode transformar o cotidiano. Para isso, oferece uma visão geral sobre as escolas filosóficas, com destaque para os estoicos, mostrando como seus ensinamentos podem ajudar a superar os desafios da vida moderna, como o tédio e a banalidade. “Como a sabedoria pode ser o caminho para uma vida melhor? Como aprender a viver e superar o tédio e a banalidade da vida cotidiana?”, essas são algumas das perguntas que a ementa do texto se dedica a responder.

  2. A Filosofia Como Forma de Vida: Estoicos, Epicuristas e Cínicos

    Focado na relação entre filosofia e prática de vida, este curso apresenta Sócrates e escolas como o Estoicismo, o Epicurismo e o Cinismo, refletindo sobre suas diferentes concepções de mundo e suas consequentes formas de vida. O curso explora, principalmente, como os pensadores dessas escolas propunham exercícios espirituais e uma arte de viver, conceitos que permanecem relevantes nos dias de hoje.

  3. Jornada da Filosofia: Vida e Morte no Ocidente

    Com uma abordagem interdisciplinar, este curso examina como o pensamento ocidental lida com a finitude humana. Ele conecta as raízes filosóficas do estoicismo com questões psicológicas e políticas, oferecendo uma compreensão mais ampla sobre como viver e morrer com significado e serenidade.

  4. Trilha da Filosofia | 2ª Temporada

    Esta série propõe uma jornada que aborda, de maneira introdutória, alguns dos principais pensadores, temas e conceitos da história do pensamento filosófico. Com a orientação dos professores Franklin Leopoldo e Silva e Oswaldo Giacoia Junior, o curso esclarece questões fundamentais para o aprendizado da filosofia. Como é o caso do pensamento de Aristóteles (384-322 a.C.) e Santo Agostinho (354-430), do estoicismo e epicurismo do período helenístico. O curso também inclui temas como a Teoria do Justo Meio, os conceitos de Transcendência e Imanência, e a questão do espírito como a fonte principal de todo conhecimento, assim como Deus como fundamento radical do conhecimento.

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Conclusão

Ao final da leitura, devemos nos perguntar: é então possível praticar o estoicismo nos dias de hoje ou estamos condicionados a sucumbir às pressões de uma sociedade que prioriza o imediatismo e o materialismo?

Ou ainda, é realmente viável pensar em uma filosofia de práxis individual em meio a um sistema com falhas estruturais?

A resposta depende do ponto de vista a ser abordado, compreendendo que as filosofias apontam não para a solução absoluta de todos os dilemas humanos, mas para caminhos que auxiliam na reflexão, no enfrentamento das adversidades e na busca por uma vida mais alinhada aos próprios valores.

O estoicismo, nesse sentido, se destaca como uma prática acessível e adaptável ao cotidiano moderno, reconhecido por promover a resiliência individual diante das incertezas externas.

Embora seja interessante reconhecermos as limitações impostas pelo contexto social, destaca-se que o estoicismo também desafia o indivíduo a agir com virtude e propósito, independentemente das circunstâncias.

Em última análise, o estoicismo oferece um convite para olharmos mais profundamente para nós mesmos e para as circunstâncias à nossa volta.

Assim, mais do que uma resposta definitiva, essa escola filosófica antiga nos faz refletir sobre como podemos moldar nossas escolhas e atitudes para encontrar significado em meio ao caos.



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Referências:

¹SANTOS, Kleys Jesuvina dos. A influência do estoicismo na filosofia de Foucault. Kinesis, Marília, v. 11, n. 28. 2019. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/kinesis/article/view/9140. Acesso em: 25 set. 2024.

GAZOLLA, Rachel. Representação compreensiva: critério de verdade e virtude no Estoicismo Antigo. Revista da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, v. 19, n. 2, 2006. Disponível em: https://www-periodicos-capes-gov-br.ez40.periodicos.capes.gov.br/index.php/acervo/buscador.html?task=detalhes&source=&id=W1511359753. Acesso em: 25 set. 2024.

A psicanálise tem um legado profundo e complexo na história. Criada por Sigmund Freud no final do século XIX, ela busca compreender os processos inconscientes. Embora sua teoria tenha avançado ao longo dos anos, com diferentes escolas de pensamentos, a psicanálise continua a ser um valioso campo para o tratamento de conflitos internos, angústias e sofrimentos.



O que é a Psicanálise e como ela surgiu?

Freud criou o termo psicanálise para descrever um novo método investigativo, baseado na exploração do inconsciente. Inicialmente, ele usou o termo "psico-análise" em 1896, em um artigo sobre a hereditariedade e a etiologia das neuroses, e mais tarde a psicanálise se consolidou como uma disciplina científica e clínica.

A psicanálise tem como base a ideia de que os sintomas, sofrimento e angústias dos sujeitos são resultados de processos psíquicos inconscientes, geralmente reprimidos, que se manifestam de forma distorcida.

Freud reformulou a sua abordagem terapêutica antes de criar a psicanálise, rejeitando o uso da hipnose e da sugestão que eram comuns nas técnicas da época, preferindo um método que estimulasse o paciente a associar livremente seus pensamentos e sentimentos.



Como funciona a terapia psicanalítica?

O método de associação livre é uma das principais técnicas psicanalíticas , que permite ao paciente expressar qualquer pensamento ou sensação que venha à mente, sem censura ou moderação, permitindo ao analista interpretar os significados subjacentes.

Por meio da interpretação dos sonhos, das associações livres e dos conteúdos trazidos pela fala do paciente em sessão, o psicanalista pode identificar as causas dos sintomas que afligem o sujeito.

Freud comparava o trabalho do psicanalista com o trabalho de um químico, que disseca uma substância complexa para entender sua composição básica. Da mesma forma, o analista busca decompor os sintomas em seus componentes, como as emoções e os desejos reprimidos, revelando-os ao paciente para facilitar o certo alívio em relação a queixa.

A psicanálise como tratamento consiste em o paciente, em um ambiente seguro, se expresse de forma livre os seus pensamentos, sentimentos e fantasias - processo que Freud chamou de "associação livre".

O analista, por sua vez, aplica o método de "atenção flutuante", ouvindo sem interferir diretamente, ajudando o paciente a desvendar significados inconscientes ocultos nas palavras e ações.




Teoria e prática: entenda como é a estrutura da psicanálise clínica

Uma das características centrais da psicanálise é a relação dialética entre teoria e clínica. A prática clínica, para Freud, nunca deve ser desvinculada da teoria.

A teoria psicanalítica é construída com base nas experiências clínicas, enquanto a clínica psicanalítica é moldada pelas descobertas teóricas.

Freud enfatiza que a psicanálise não pode ser reduzida a uma simples técnica de verificação de teorias, mas deve se manter atenta às necessidades do paciente.

A promessa de cura, portanto, é um aspecto fundamental de sua prática, embora a "cura" não signifique necessariamente a eliminação de sintomas, mas a transformação da relação do sujeito com seu sofrimento.

Qual o objetivo da psicanálise?

De acordo com Freud, o objetivo da psicanálise é mais profundo do que a simples remoção de sintomas. Ele acredita que, por meio da análise, os pacientes podem alcançar uma "verdade" sobre seus desejos inconscientes, e, assim, modificar sua relação com o sofrimento psíquico.

Esse processo não visa à cura no sentido médico clássico — com base em diagnósticos orgânicos e físicos — mas sim ao entendimento da "mensagem" que os sintomas têm, dentro do campo da linguagem e dos significados psíquicos.

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O sintoma e a linguagem: a psicanálise como “cura pela palavra”

Ao contrário da medicina, que frequentemente vê os sintomas como manifestações de disfunções orgânicas, a psicanálise considera que os sintomas psíquicos têm um significado simbólico . Eles são, na visão psicanalítica, uma expressão da divisão interna do sujeito e das lutas inconscientes que ele enfrenta.

O sintoma não é apenas um mal-estar físico ou fisiológico, mas um reflexo de um conflito mais profundo, que precisa ser desvelado e entendido.

Através da fala e da associação livre, o paciente começa a compreender o que seus sintomas significam, construindo uma nova relação com o que lhe causa sofrimento. Isso torna a psicanálise um processo de cura pela palavra, ou como Freud descreveu, uma "talking cure".

Os limites da psicanálise

No entanto, a psicanálise tem seus limites. Como Lacan posteriormente desenvolveu, a castração e a divisão subjetiva representam barreiras que não podem ser totalmente simbolizadas ou resolvidas.

O sujeito nunca alcança uma plenitude, pois a castração — entendida como a imposição de limites à satisfação do desejo — sempre deixa algo de irredutível, algo do real que não pode ser simbolizado. Esse limite é o que torna a análise impossível de ser completada de maneira absoluta.

A psicanálise, portanto, não oferece uma cura total, mas uma mudança na posição do sujeito em relação ao seu próprio desejo e sofrimento.



Qual o papel do psicanalista? Entenda sobre a transferência na psicanálise

Outro aspecto fundamental da prática psicanalítica é o papel do analista na construção do setting analítico.

Freud destacou a importância da transferência, que é o processo pelo qual o paciente projeta sentimentos, desejos e conflitos inconscientes em relação ao analista. Isso cria um espaço único para que o paciente possa reviver e reprocessar suas experiências de uma maneira segura.

A transferência é um conceito central na psicanálise e refere-se à projeção de sentimentos inconscientes do paciente sobre o analista.

Essa dinâmica é cuidadosamente analisada, pois revela aspectos cruciais do relacionamento do paciente com figuras importantes de sua vida, como pais ou outras autoridades. A análise da transferência ajuda a compreender como os conflitos e afetos impactam a vida do paciente e contribuem para seus sintomas.


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Qual deve ser a postura do psicanalista?

O analista deve manter uma postura de abstinência e neutralidade, não interferindo diretamente nas associações do paciente.

Esse é um ponto central da psicanálise: o desejo do analista não é que o paciente alcance um estado de "normalidade" ou conformidade com certos padrões sociais, mas que ele consiga se encontrar com seus próprios desejos e conflitos inconscientes.

Freud acreditava que, ao se deparar com a verdade sobre seu desejo inconsciente, o paciente pode ter uma transformação psíquica significativa.


A psicanálise como um campo vivo e evolutivo

A psicanálise continua a evoluir e se expandir, com diferentes escolas teóricas enriquecendo e desafiando a obra de Freud.

As teorias pós-freudianas, como as de Lacan, Klein e Winnicott, oferecem novas leituras e interpretações do inconsciente, do desejo e da transferência, mas todas compartilham a premissa básica de que o inconsciente é um campo fundamental que influencia profundamente o sujeito.

Em última análise, a psicanálise não se limita a ser uma técnica terapêutica ou uma teoria psicológica.

Ela é, antes de tudo, uma disciplina que busca entender a relação do sujeito com seu desejo e sofrimento, e como, através da fala, podemos acessar essas dimensões ocultas e transformar nossa relação com o inconsciente.

Se, como Freud afirmou, a psicanálise não tivesse valor terapêutico, ela não teria sobrevivido e se expandido por mais de cem anos. E, ainda hoje, continua a oferecer uma perspectiva única sobre a mente humana, sendo indispensável tanto para a psicologia quanto para a compreensão das complexidades da experiência humana.


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

Marcado por ser um grande transformador de paradigmas, o Iluminismo estabeleceu uma interseção com as propostas antropocêntricas para se firmar como um movimento filosófico, intelectual e cultural que acreditava na valoração da razão e do conhecimento como meios autênticos para a conquista da liberdade, justiça e felicidade.

Desenvolvido no cenário da Europa Ocidental, ao longo dos séculos XVII e XVIII (também conhecido como Século das Luzes), o Iluminismo criticou duramente as concepções de verdade da Idade Média, as quais davam à fé e à religião papeis centrais na compreensão do mundo.

Na época, o teocentrismo (doutrina que colocava Deus no centro e que perdurava desde o século IV) abria espaço para que o antropocentrismo (homem no centro) se fortalecesse e para que os filósofos estruturassem discursos e teorias capazes de colocar a legitimidade dos poderes absolutistas em xeque.

Tratou-se, portanto, de uma verdadeira crise dos valores propagados até então, combinada com uma proposta de revisitação aos pensamentos da Grécia Antiga sobre a necessidade da racionalidade para as tomadas de decisão.

Embora seja muitas vezes tratado como um movimento único, o Iluminismo teve várias vertentes em seus diferentes locais de propagação, agindo, inclusive, sobre as Américas e influenciando o pensamento moderno, suas democracias e o cientificismo.

Conheça todas as especificidades desse marco histórico no Guia Iluminista da Casa do Saber. Você irá encontrar por aqui:



O que é o Iluminismo

Como já abordamos anteriormente, o iluminismo é caracterizado como um movimento intelectual dos séculos XVII e XVIII, reconhecido por defender a importância da razão e do conhecimento para a observação e experimentação da vida.

A crença de um mundo regido exclusivamente pelos desígnios de Deus e, sobretudo, pela Igreja Católica era substituída pelas demandas por descentralização de poder e por justificativas racionais para as dinâmicas cotidianas.

Em outras palavras, o iluminismo contrastou a “fé” e a “razão”, questionando os privilégios do clero e das monarquias, bem como desenvolveu teorias e discursos que colocaram o ser humano como vetor responsável por suas ações, fossem elas culturais, filosóficas, sociais ou históricas.

Na prática, a partir do iluminismo e de seus ideais racionalistas, as sociedades modernas passaram a valorizar a ciência como forma de compreender as questões e de solucionar problemas do dia a dia.

Com isso, o gradativo afastamento das explicações místicas e dogmáticas foi um produto lógico desse novo modelo de pensamento, que mitigou também o controle e a opressão característicos dos períodos inquisitivos da Idade das Trevas.

O movimento iluminista deu origem a transformações profundas em diversas áreas, como nos campos político, econômico e cultural, servindo como base e referencial para diversos eventos históricos significativos.

A Revolução Industrial e a Revolução Francesa (com seu lema “liberdade, igualdade e fraternidade"), os movimentos de independência dos Estados Unidos e do Brasil são apenas alguns exemplos desses grandes marcos.

Além disso, o iluminismo propiciou a criação de constituições baseadas em direitos naturais, impulsionou a defesa de governos representativos e o surgimento das democracias modernas, cujos fundamentos perduram até hoje

Um dos principais expoentes do iluminismo alemão, Immanuel Kant formulou um conceito lógico para o movimento, no texto “Resposta à pergunta: Que é o iluminismo?”:

O iluminismo é a saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é culpado. A menoridade é incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem. Tal menoridade é por culpa própria se a sua causa não reside na falta de entendimento, mas na falta de decisão e de coragem em se servir de si mesmo sem a orientação de outrem. Sapere aude (em português, “ouse saber" ou "atreva-se a conhecer)”. (KANT, 1995 apud WEIMANN, 2015)

Pintura de salão do século XVIII com intelectuais do Iluminismo reunidos para a leitura de uma tragédia de Voltaire
A obra de Anicet Charles Gabriel Lemonnier retrata o momento da leitura da tragédia de Voltaire, "O Órfão da China", sendo uma das pinturas sobre o iluminismo mais conhecidas da história da arte. (Fonte: Domínio Público)


Podemos dizer então que o iluminismo foi um movimento complexo, que se desenvolveu nas diversas frentes sociais (política, cultural, econômica, religiosa) através de uma filosofia que dava protagonismo aos seres humanos e não mais às divindades, ao cristianismo e à Igreja Católica.

Articulou a busca pelo conhecimento através da razão como sua principal pauta, priorizando a ciência, o empirismo e as explicações lógicas para fenômenos sociais e da natureza.

Seus principais expoentes, Voltaire, David Hume, Kant, entre outros contribuíram para uma revolução intelectual e para transformação de paradigmas importantes, questionando, sobretudo, as formas de governos absolutistas e os privilégios legados às monarquias e ao clero.

Os reflexos do movimento filosófico iluminista foram tão significativos ao longo do século XVIII, que o período foi reconhecido como Século das Luzes.

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Contexto do Iluminismo: como surge o movimento?

O iluminismo não foi uma ruptura abrupta, mas o ápice de transformações que se desenvolviam há séculos na Europa Ocidental.

Para se ter uma ideia, o pensamento racionalista já estava presente na Grécia Antiga, defendido por nomes importantes como Sócrates, Platão e Aristóteles, os quais enfatizavam a lógica, a ética e a busca pelo conhecimento como instrumentos para a compreensão do mundo.

Os romanos, por sua vez, ao herdarem essas ideias, as adaptaram e exerceram uma influência direta nos sistemas de leis utilizados pelo direito moderno.

Entretanto, com a ascensão do cristianismo no século IV, o teocentrismo ganhou destaque e passou a ser a principal norma das sociedades, colocando a fé e a Igreja Católica no centro da vida social, política e espiritual, especialmente ao longo da era medieval.

Somente a partir dos avanços científicos provocados pelas descobertas que desafiavam o status quo da época (entre os séculos XVI e XVII), como o movimento da Terra - observado por Copérnico e Galileu Galilei, ou pelas leis de Newton e a invenção de equipamentos como o telescópio e o microscópio, é que o teocentrismo passou a ser novamente questionado.

Associadas às Grandes Navegações e ao legado renascentista, essas mudanças retomaram o incentivo da busca pela razão como ferramenta central de investigação.

A colcha de retalho dessas descobertas científicas, com o resgate histórico e as mudanças culturais gradativas, criou as condições ideais para o surgimento do iluminismo e para a sua filosofia de combate aos valores do Antigo Regime.

Facilite a sua compreensão acerca do iluminismo a partir do seguinte resumo comparado:

Resumo do Iluminismo

Idade Média (teocentrismo) Iluminismo (antropocentrismo)
O teocentrismo tinha a religião (Deus) e, posteriormente, a Igreja Católica como bússolas, sendo aspectos que controlavam não só o campo espiritual e ético, como o político.

Através do medo e do misticismo, o modelo de pensamento da época compelia as sociedades a se comportarem de acordo com os interesses das monarquias absolutistas (forma de governo que concentrava o poder nas mãos do rei e da nobreza) e do alto clero.

Desenvolveu-se ao longo dos séculos V ao XV.
Marcou o questionamento das verdades teocêntricas, solidificando o antropocentrismo e o projeto humanista

A razão era o instrumento legítimo para o conhecimento e para a boa aventurança, “iluminando” as explicações outrora associadas às divindades e à natureza.

Caracterizou-se pela crítica ao absolutismo e à sua concentração de poder que resultava nas sociedades estamentais.

Além disso, buscava pela igualdade, autonomia intelectual e direitos naturais, bem como pelo fortalecimento do pensamento crítico e da liberdade de escolha.

Refletiu nos diversos eventos revolucionários da Idade Moderna e foi a principal base das democracias modernas.

Desenvolveu-se durante o século XVII e XVIII - conhecido como Século das Luzes.




Diferenças entre o Iluminismo Francês, Inglês e Americano a partir de seus principais pensadores

O iluminismo foi um movimento bastante complexo, apresentando características específicas alinhadas a cada contexto cultural no qual se estabeleceu.

Dessa forma, refletiu as prioridades e os desafios de cada sociedade, promovendo em todas elas alterações importantes.

Entre as tradições que mais se destacaram nesse sentido, o iluminismo francês, britânico e americano possuem como singularidades os pontos abordados abaixo:

1. Características do iluminismo Francês

Foi profundamente marcado pelo racionalismo e pelo combate às estruturas tradicionais de poder, como a monarquia absolutista e a Igreja Católica.

A razão era a ferramenta para a reconstrução de uma sociedade mergulhada, à época, na insatisfação econômica e social.

Foi a partir dos ideais iluministas que a Revolução Francesa (1789) tomou forma e registrou na História a sua busca por liberdade, igualdade e fraternidade.

A Queda da Bastilha, inclusive, evento caracterizado pelo protesto popular na prisão e fortaleza militar que simbolizava o absolutismo do Antigo Regime francês, assinalou não só o início da própria Revolução Francesa, como a transição da Idade Moderna para a Contemporânea.

Pintura em tela do grande evento iluminista queda da bastilha
Obra "Tomada da Bastilha e prisão do governador M. de Launay", 14 de julho de 1789. (Fonte: Domínio Público)



Seus principais filósofos iluministas foram:

  • René Descartes (1596 – 1650): responsável pelo método de pesquisa cartesiano, cujo objetivo era duvidar de tudo aquilo que era tido como verdade. Um fato deveria ser verificado, sintetizado e iluminado antes de comprovado. Desafiou as certezas dogmáticas, buscando uma nova base lógica para a verdade. "Penso, logo existo"
  • Voltaire (1694 - 1778): criticou os privilégios das aristocracias e dos religiosos, disseminando a liberdade de expressão e o combate à intolerância. Foi perseguido e, por isso, exilou-se na Inglaterra, onde teve contato com John Locke.
  • Montesquieu (1689- 1755): em O Espírito das Leis, o filósofo propôs a separação dos poderes (executivo, legislativo e judiciário) pela primeira vez, argumentando acerca de sua eficácia e prevenção de abusos de autoridade.
  • Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778): teceu a tese do homem natural, sustentando que a sociedade era a perversão desse sujeito, corrompendo-o de sua vocação para o bem e para o convívio harmônico com a natureza. Também foi um crítico da propriedade privada, que, segundo a sua perspectiva, era a responsável pela desigualdade dos homens.


2. Características do Iluminismo Britânico

A busca incessante pela razão não era a principal questão do iluminismo britânico. Parte da "era da benevolência", o iluminismo dessa região voltou-se à ética das virtudes e à moralidade, expandindo o seu foco para além da priorização da racionalidade.

A filosofia política britânica se destacou essencialmente pelos temas do liberalismo e pela defesa dos direitos individuais

Teve como principal pensador iluminista:

  • John Locke (1632 - 1704): considerado o pai do liberalismo, Locke defendeu a ideia de que o conhecimento humano era derivado de uma experiência sensorial. Criticou o governo absolutista e propôs a famosa teoria do contrato social, segundo a qual a sociedade civil seria formada a partir de um pacto entre as pessoas e o Estado. Em condições justas, o filósofo acreditava que as sociedades abriam mão de seus direitos individuais para, de modo consentido, gozar da proteção oferecida pelas instituições estatais.


3. Características do Iluminismo Americano

Enquanto isso, o iluminismo americano encontrou um forte apelo na liberdade política e nos direitos naturais, destacando-se pela busca da independência e pela criação de um novo modelo de governo.

Foi conhecido pela tese da “política da liberdade”, tendo a Independência (declarada no dia 4 de julho de 1776) como seu evento mais importante.

Entre os pensadores iluministas relevantes da época estavam:

  • Thomas Jefferson (1743 - 1826), John Adams (1735 - 1826) e Benjamin Franklin (1706 - 1790): estiveram envolvidos nas questões de liberdade política e nas ideias sobre um governo baseado na razão e nos direitos inalienáveis do homem. Essas ideias se materializaram na Declaração de Independência e ajudaram a moldar os princípios da Constituição dos Estados Unidos.


Além desses nomes, Immanuel Kant e Adam Smith também foram importantes sistematizadores do pensamento iluminista.

O alemão Kant (1724 - 1804), por exemplo, foi fundamental para o desenvolvimento da ética e da epistemologia, além de ser o criador do imperativo categórico, uma medida de princípio universal e racional capaz de sustentar as ações morais.

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Para ele, a percepção da realidade dependia tanto das experiências vividas quanto das individualidades de cada sujeito, o que desafiava diversas abordagens anteriores.

Por sua vez, Adam Smith (1723 - 1790), filósofo escocês, é amplamente reconhecido como pai da economia moderna. Foi na obra A Riqueza das Nações (1776), que o filósofo iluminista introduziu o conceito de economia de mercado livre, posicionando a busca individual pelo lucro, por meio da mão invisível do Estado, como uma ferramenta para o bem-estar coletivo.

O iluminismo também produziu seus efeitos no Brasil, influenciado a Inconfidência Mineira, a Conjuração Baiana e o artigo 5º da Constituição Federal.

Constituição Federal:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:


Veja também: D. Pedro I, Um Príncipe Dividido - a trajetória do monarca que se identificou e apoiou o desejo dos brasileiros pela Independência, liderando a separação entre os dois Reinos.



Um outro olhar para o iluminismo: a crítica a partir de um referencial colonial.

Embora tenha sido revolucionário em diversos aspectos, o iluminismo esteve imerso em contradições relevantes, especialmente quando observamos as suas bases a partir de um referencial decolonial.

A crítica mais pujante ao movimento reside na contraposição dos seus ideais de liberdade e igualdade ao tratamento dado às populações africanas e indígenas, como aponta o doutor em Filosofia pela UFRJ, Renato Nogueira.

Entre as crenças iluministas, havia uma perspectiva de inferiorização desses povos, responsável por legitimar o seu controle pelas colônias e pelos movimentos escravagistas.

Nesse contexto, Frantz Fanon (1925 -1961) assume um papel fundamental ao propor uma revisão do humanismo tradicional, apontando suas falhas em reconhecer e valorizar as identidades dos povos colonizados e escravizados.

Trata-se de uma abordagem fundamental para compreender os impactos do humanismo e do iluminismo para além do continente europeu.

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Referências

COSTA, Abraão Lincoln Ferreira. Relações entre o iluminismo alemão e a concepção goethiana de formação. Água Viva, v. 3, n. 1, p. 12184, jan.-jul. 2018. DOI: 10.26512/aguaviva.v3i1.12184.

WEINMAN, Carlos. O conceito de iluminismo em Kant e sua implicação com a moralidade e a política. Unoesc & Ciência - ACHS, Joaçaba, v. 6, n. 2, p. 201-212, jul./dez. 2015.

A fantasia é um dos conceitos fundamentais da teoria psicanalítica e desempenha um papel fundamental na psicanálise. Ela não é apenas uma forma de evasão da realidade, mas um meio pelo qual o sujeito lida com suas frustrações e cria representações simbólicas de seus desejos mais profundos.



Freud e a Fantasia

As fantasias se tornaram um tema fundamental na obra de Freud desde os anos de 1897 e 1898, muito antes de ele publicar A Interpretação dos Sonhos em 1900, obra que marcou o início da psicanálise.

Elas passaram a ganhar destaque à medida que Freud aprofundava suas primeiras experiências clínicas com as histéricas, mulheres que apresentavam sintomas corporais inexplicáveis, sem justificativa fisiológica. Freud escutava suas pacientes, mas muitas vezes não conseguia entender completamente a origem desses sintomas. Foi nesse contexto que, em 1896, ele formulou a teoria da sedução sexual, explicando que os sintomas histéricos eram o resultado de cenas de sedução ocorridas na infância, onde as pacientes teriam sido seduzidas por um adulto ou até mesmo por uma criança mais velha.

Ao longo dos anos, Freud desenvolveu ainda mais essa ideia, em textos como Escritores Criativos e o Devaneio (1908) e Fantasia Histérica e Suas Relações com a Bissexualidade (também de 1908), entre outros, sempre com o intuito de entender como as fantasias influenciavam o comportamento e os sintomas das histéricas.

Inicialmente, ele se baseava em relatos de suas pacientes, que, sob hipnose, narravam cenas de sedução envolvendo adultos, incluindo os pais. Porém, com o tempo, Freud se deparou com um desafio: muitas mulheres não relatavam tais cenas de sedução. Esse fato, junto à crescente incidência de histeria na Europa, levou Freud a abandonar a teoria da sedução sexual e a introduzir uma nova compreensão sobre o papel das fantasias na psique humana.

Em uma carta de 1897 para seu amigo Fliess, Freud expressa que abandonou a teoria da sedução e passou a defender a teoria da fantasia, pois essa seria a chave para entender os sintomas histéricos. A fantasia, nesse novo contexto, passou a ser vista como uma construção psíquica capaz de gerar os mesmos efeitos devastadores de uma experiência real, já que, para o sujeito, sua fantasia é muitas vezes vivida como uma realidade verdadeira. Foi nesse momento que Freud introduziu o conceito de realidade psíquica, a realidade das nossas fantasias, que, para ele, tem o poder de moldar nossa percepção do mundo.

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Por que as pessoas fantasiam?

Freud responde que as fantasias surgem como uma forma de dar conta de uma realidade que muitas vezes é insatisfatória. Elas oferecem uma certa satisfação às frustrações da vida e ajudam a compensar desejos que, na realidade, raramente são atendidos. As fantasias, portanto, têm uma função de adaptação, permitindo que se suporte o mundo que não corresponde completamente aos desejos dos sujeitos.

Ao mesmo tempo, Freud diferencia as fantasias dos delírios, que são marcados pela ausência de qualquer dúvida, ao contrário das fantasias, que sempre carregam uma margem de incerteza. É essa flexibilidade que torna as fantasias algo comum e natural, enquanto os delírios são sintoma de distúrbios psíquicos mais graves.

É importante frisar que a fantasia, na psicanálise, se torna eficaz porque o sujeito a aceita como verdadeira, acreditando nela de forma plena. É importante destacar que esse processo de construção da realidade psíquica, esse mecanismo fantasioso, ocorre de maneira inconsciente. Ou seja, assim como muitos aspectos da vida subjetiva, o sujeito não tem plena consciência de que está criando essas fantasias nem de que elas não correspondem à realidade. Todo esse processo subjetivo, em sua essência, acontece fora da percepção consciente do indivíduo.

Nessa temática, entre os textos mais importantes de Freud, destacam-se:

  1. Delírios e Sonhos na Gradiva de Jansen (1908)
  2. Escritores Criativos e Devaneio (1908)


Em essência, Freud busca explorar as relações entre a fantasia e o desejo, analisando como essas dimensões estão ligadas na constituição do sujeito. Esses textos também mostram a ideia de Freud sobre o insuportável da realidade e como a fantasia entra justamente nesse lugar na tentativa de suavizar e compensar essa insatisfação existencial.

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O que é fantasia para Lacan?

Para Jacques Lacan, a fantasia é um conceito central em sua teoria psicanalítica, e ela desempenha um papel crucial na estruturação do desejo e na constituição do sujeito. Diferente da concepção de Freud, que via a fantasia principalmente como uma forma de expressão dos desejos reprimidos e inconscientes, Lacan a entende como um mecanismo estrutural que organiza o desejo e o sujeito em relação ao outro.

Em Lacan, a fantasia está intimamente ligada à ideia de falta — a noção de que o sujeito é fundamentalmente marcado pela ausência ou pela falta de algo, que nunca pode ser plenamente satisfeita. A fantasia, então, é a cena ou o cenário através do qual o sujeito tenta dar forma a essa falta. Ela não é uma simples representação de desejos reprimidos, mas uma construção simbólica que organiza a forma do desejo em relação ao objeto do desejo, que Lacan chama de objet petit a (o objeto a).

A fantasia, para Lacan, é uma estrutura que serve para "tapar" a falta, fornecendo uma espécie de "cenário" onde o sujeito pode experimentar a relação com o objeto a, ou seja, com o que ele imagina que possa preencher essa falta. Em outras palavras, a fantasia é uma tela que projeta os desejos do sujeito e ao mesmo tempo mantém a falta e o desejo vivos, sem que o sujeito nunca possa alcançar uma satisfação plena.

Além disso, Lacan vê a fantasia como algo fundamental para o funcionamento do inconsciente, pois é através dela que o sujeito se coloca no campo simbólico, se identificando com determinadas imagens e cenários que estruturam sua relação com o desejo e com o Outro (representado, por exemplo, pelo grande Outro, ou seja, a linguagem, as normas sociais e a figura do pai).

Portanto, para Lacan, a fantasia não é apenas um mecanismo de defesa ou uma expressão do inconsciente, mas uma estrutura psíquica que organiza o desejo e a posição do sujeito dentro da ordem simbólica, sempre em relação à falta que define sua subjetividade. Ela funciona como um modo de "dar sentido" à experiência do desejo, sem jamais permitir uma satisfação definitiva.

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Como aprender mais sobre o conceito de fantasia na psicanálise?

O conceito de fantasia é central tanto na psicanálise e seu estudo exige uma dedicação cuidadosa para compreender sua complexidade. Para se aprofundar na teoria da fantasia, a plataforma da Casa do Saber oferece cursos sobre a teoria psicanalítica, ministrados por renomados especialistas, e pode ser uma excelente forma de aprofundar o entendimento sobre a fantasia, além de proporcionar uma experiência de aprendizado rica e diversificada.

Adicionalmente, há uma vasta gama de literatura complementar que ajuda a contextualizar as ideias de Freud e Lacan no panorama maior da psicanálise, oferecendo novas perspectivas sobre o papel das fantasias na construção da subjetividade.






A Revolução Francesa foi um dos eventos históricos mais significativos da humanidade. Gerou impactos políticos e ideológicos em todo o ocidente. É tanto que o ano que marcou o seu início, 1789, foi utilizado pelos historiadores para estabelecer o início da Idade Contemporânea.

Ideais como liberdade, igualdade e fraternidade foram disseminados pela revolução, que resultou no esfacelamento da monarquia absolutista na França e na ascensão de princípios republicanos. Uma das maiores conquistas da Revolução Francesa foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que consolidou os direitos sociais e as liberdades individuais, sem distinção de classe social. Esse documento serviu de base para muitas constituições e declarações de direitos em diversos países, incluindo o Brasil.

Neste artigo, vamos mostrar como a Revolução Francesa, inspirada pelo pensamento moderno dos filósofos iluministas, abriu caminhos para a democracia representativa.

O que foi a Revolução Francesa?

A Revolução Francesa foi um movimento político que transformou a França de uma monarquia absolutista em uma república. Impulsionada por profundas desigualdades sociais, por uma crise financeira sem precedentes e pela influência dos ideais iluministas, a revolução culminou com o desmantelamento do sistema feudal que ainda prevalecia na França, bem como com a queda do absolutismo.

O processo revolucionário teve início quando o rei Luís XVI convocou os Estados Gerais no intuito de solucionar a crise que o país estava enfrentando. Na década de 1780, a população da França era dividida em estamentos: o Primeiro Estado, o Segundo Estado e o Terceiro Estado. Mas, apenas o Terceiro Estado pagava impostos. Formado por uma massa heterogênea de burgueses, camponeses e população urbana proletária, o Terceiro Estado representava mais de 90% dos cidadãos franceses. Insatisfeitos com a desigualdade social e com os privilégios concedidos ao clero e à nobreza, os representantes do Terceiro Estado vão desencadear a revolução.

O movimento durou cerca de 10 anos, período marcado por importantes momentos, como a Queda da Bastilha; a execução do rei Luís XVI e da rainha Maria Antonieta; a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e a morte de alguns dos principais líderes revolucionários, como Georges Danton e Maximilien Robespierre.

A Revolução Francesa, portanto, não foi um movimento homogêneo e linear, mas cheio de conflitos internos e internacionais, que culminaram com a ascensão de Napoleão Bonaparte. Está entre os principais eventos que mudaram a história das Relações Internacionais.

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Revolução Francesa Resumo

A Revolução Francesa foi um movimento radical que aconteceu na França, no final do século XVIII, marcado pelo fim da monarquia absolutista como modelo governamental do país. Durou 10 anos, que foram divididos em três fases: Monarquia Constitucional (1789-1792), Convenção Nacional (1792-1795) e Diretório (1795-1799).

No primeiro momento, houve a Tomada da Bastilha pelos revolucionários. A Bastilha era uma prisão política onde ficavam detentos os que se rebelavam contra a monarquia. Ainda na primeira fase, foi instituída a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e a Constituição de 1791.

A segunda fase é marcada pela abolição da monarquia e pela proclamação da República. É neste momento que o rei Luís XVI é decapitado e acontece o período do Terror, com execuções em massa.

Já no terceiro momento da revolução, a burguesia assume o poder e precisa lidar com as ameaças externas ao país. É quando acontece o golpe do 18 de Brumário e Napoleão Bonaparte assume o poder.

Causas da Revolução Francesa

A Revolução Francesa foi o ápice de um longo processo de mudanças políticas, sociais e econômicas que já vinham acontecendo há mais de um século na França. O país estava sob o reinado de Luís XVI, que possuía todo o poder e não conseguia administrar adequadamente as finanças públicas.

A alta nobreza e o clero, que detinham enormes privilégios, como a isenção de impostos, contribuíam para a falência do Estado, enquanto as classes populares, especialmente os camponeses e a crescente burguesia, suportavam a maior carga tributária. Esse sistema injusto gerava grande descontentamento, especialmente entre os mais pobres, que viviam em péssimas condições.

No cenário internacional, a França atrasada e feudal observava o exemplo da Inglaterra, que já estava vivendo a Revolução Industrial e dos Estados Unidos, que tinha se tornado independente da Inglaterra. Inclusive, a própria França havia enviado soldados para lutar ao lado dos colonos americanos pela independência.

Internamente, a população francesa enfrentava péssimas colheitas, invernos rigorosos e secas que estavam a levando à miséria. Esse caos financeiro e social culminou na convocação dos Estados Gerais em 1789, uma reunião extraordinária convocada por Luís XVI para tentar resolver a crise fiscal do país.

Contudo, o sistema de votação nos Estados Gerais, em que cada um dos três estados (clero, nobreza e o Terceiro Estado, formado pela burguesia, camponeses e outros grupos) tinha direito a um voto, mostrava-se extremamente desigual.

O Juramento do Jogo da Péla, de Jacques-Louis David (1791)
No dia 20 de junho de 1789, aconteceu o Juramento do Jogo da Péla, quando os membros do terceiro estado decidiram permanecer reunidos até a criação de uma Constituição para a França.


Embora o Terceiro Estado representasse mais de 90% da população, ele estava sempre em desvantagem, já que o clero e a nobreza, unidos, conseguiam derrubar suas propostas. Esse cenário gerou um sentimento de injustiça entre os representantes do Terceiro Estado, que, em resposta, proclamaram a Assembleia Nacional, afirmando que eram os verdadeiros representantes do povo francês. A partir deste momento, o movimento revolucionário começou a ganhar força. A situação se tornou ainda mais explosiva com a tomada da Bastilha, um símbolo do poder absoluto do rei, em 14 de julho de 1789, marcando o início da Revolução Francesa.

Esse processo de revolta contra a monarquia absoluta se deu em um contexto de crescente reflexão sobre os ideais iluministas, que defendiam a liberdade individual, a igualdade perante a lei e o governo baseado na soberania popular.

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Fases da Revolução Francesa

A Revolução Francesa pode ser dividida em três fases principais, cada uma marcada por transformações significativas no governo e na sociedade francesa.

FASES DA REVOLUÇÃO FRANCESA PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS
1ª Fase: Monarquia Constitucional (1789-1792) Formação da Assembleia Nacional e Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

Tomada da Bastilha (14/07/1789)

Aprovação da Constituição de 1791: monarquia constitucional e voto censitário
2ª Fase: Convenção Nacional (1792-1795) Proclamação da República e execução de Luís XVI (1793) Adoção do governo radical dos jacobinos, liderado por Robespierre

Período do Terror e medidas radicais (voto universal masculino, fim da escravidão, congelamento de preços)

Queda de Robespierre (1794)
3ª Fase: Diretório (1795-1799) Governo dos girondinos e revogação das medidas jacobinas

Crises internas e ameaças externas (Império Austríaco e Inglaterra)

Ascensão de Napoleão Bonaparte e Golpe do 18 de Brumário (1799)




Iluminismo: A Influência dos Pensadores

Quadro A Morte de Marat (1793), de Jacques-Louis David
A pintura mostra o revolucionário jacobino Jean-Paul Marat, assassinado em casa em 13 de julho de 1793, por Charlotte Corday


O Iluminismo foi uma corrente filosófica que floresceu no século XVIII na Europa, cujas ideias se expandiram por todo o Ocidente. O Iluminismo, também conhecido como Ilustração ou Esclarecimento, propunha uma nova maneira de interpretar o mundo, com ênfase na razão, no conhecimento científico, no antropocentrismo e nos direitos individuais.

As ideias do movimento desafiavam as tradições dogmáticas da Igreja Católica e os poderes absolutistas da monarquia. Portanto, os preceitos iluministas tiveram impacto direto na Revolução Francesa, fornecendo as bases ideológicas para as transformações políticas e sociais que iriam acontecer na França.

Entre os filósofos iluministas, nomes como Jean-Jacques Rousseau, Voltaire e Montesquieu destacaram-se por suas ideias a respeito de igualdade, liberdade e fraternidade, que mais tarde se tornaram o lema da Revolução Francesa.

Rousseau, em sua obra O Contrato Social, argumentou que a soberania deveria residir no povo e não em uma monarquia absoluta. Ele defendia a ideia de um contrato social, onde os cidadãos, ao se unirem, criariam uma vontade geral que deveria guiar a sociedade. Suas ideias sobre liberdade e igualdade social tiveram um grande impacto nas revoltas contra os privilégios da nobreza e do clero.

Montesquieu, em O Espírito das Leis, propôs a separação dos poderes em executivo, legislativo e judiciário, uma ideia que permanece viva até hoje nas repúblicas democráticas.

Já Voltaire criticava a intolerância religiosa e o absolutismo monárquico, defendendo a liberdade de expressão e a separação entre Igreja e Estado. Seus escritos ajudaram a incitar um espírito de questionamento da autoridade, que se refletiu na oposição popular ao regime monárquico francês.

Immanuel Kant e o Iluminismo

Um dos principais pensadores iluministas foi Immanuel Kant, filósofo alemão que teve um papel decisivo no desenvolvimento da filosofia moderna.

Em O Que é o Esclarecimento? (1784), um dos textos fundamentais para compreender o Iluminismo, Kant responde à pergunta que dá título à obra, explicando o conceito de "esclarecimento" e sua importância para a humanidade. Esse trabalho reflete e sintetiza muitos dos princípios centrais do movimento iluminista.

No texto, Kant define o esclarecimento como o processo de libertação da humanidade da "auto-imposta tutela", ou seja, da incapacidade de pensar por si mesma. Ele escreve que “o esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele mesmo é culpado.”

Essa menoridade seria a condição de dependência intelectual, onde os indivíduos aceitam dogmas, tradições e autoridades sem questionamento. A tutela é imposta pela falta de coragem para usar a própria razão de forma independente, muitas vezes devido ao medo ou à preguiça.

Kant acreditava que o Iluminismo era a saída da humanidade de sua "menoridade", ou seja, a superação do estado de dependência intelectual e política. Ele afirmava que as pessoas deveriam usar sua razão para questionar a autoridade e a tradição, defendendo a autonomia e a liberdade de pensamento.

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Consequências da Revolução Francesa

Os ideais da Revolução Francesa tiveram um impacto duradouro, não apenas na França, mas em todo o mundo. Os princípios que floresceram durante o processo revolucionário marcaram o fim de séculos de monarquia absoluta e feudalismo. A revolução alterou a estrutura política e social da França e inspirou movimentos revolucionários e de independência em várias partes do mundo, especialmente na Europa e nas Américas. A ascensão do capitalismo, a queda do absolutismo e a introdução de direitos humanos fundamentais são apenas algumas das consequências que ecoam até os dias de hoje.

Principais Consequências da Revolução Francesa:

  • Disseminação dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade
  • Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, afirmando os direitos individuais
  • Abolição dos privilégios da nobreza e do clero
  • Fortalecimento do conceito de direitos humanos e cidadania
  • Fim do absolutismo e início da consolidação de regimes republicanos
  • Fim do feudalismo e fortalecimento do capitalismo
  • Inspiração para movimentos de independência nas Américas
  • Separação entre os poderes executivo, legislativo e judiciário
  • Propagação do conceito de nacionalismo, com bandeiras nacionais, hino, idioma oficial



A Influência da Revolução Francesa na Independência do Brasil

No início do século XIX, as ideias republicanas ganharam força no Brasil, influenciadas pela Revolução Francesa e pelas transformações políticas na Europa e nas colônias americanas. A Revolução Francesa serviu como modelo para aqueles que desejavam uma sociedade sem a monarquia absolutista, como a que existia sob Dom Pedro I. Em 1822, Dom Pedro I proclamou a independência do Brasil, tornando-se imperador. No entanto, a insatisfação com o governo imperial cresceu ao longo das décadas, e, em 1889, movimentos republicanos culminaram na Proclamação da República, com a deposição de Dom Pedro II e o fim da monarquia, dando início a um novo regime republicano baseado nos valores de liberdade e igualdade.

Conclusão

A Revolução Francesa foi um marco decisivo na história mundial, cujas transformações políticas, sociais e ideológicas impactaram profundamente a França e reverberaram por todo o Ocidente. Introduziu novos ideais, que foram fundamentais para a construção de sociedades democráticas. Portanto, compreender o passado nos ajuda a saber o que somos e o que podemos nos tornar. Entender as consequências amplas da Revolução Francesa nos permite reconhecer as lutas e conquistas que formaram as bases das sociedades democráticas atuais.

Filmes para Entender a Revolução Francesa

A Revolução Francesa é tema de diversos filmes que abordam suas complexidades e impactos históricos. Alguns exemplos incluem:

  1. Danton - O Processo da Revolução (1983)
  2. Cartaz filme 'Danton - Processo da Revolução, de Andrzej Wajda

    Dirigido por Andrzej Wajda, o filme retrata o retorno do revolucionário Georges Danton (Gérard Depardieu) a Paris em 1794, no auge do clima de terror liderado por Robespierre. Danton, que inicialmente lutou pela revolução, agora se vê perseguido pelas mesmas forças que ajudou a instaurar.

  3. A Revolução em Paris (2018)
  4. Cartaz do filme 'A Revolução em Paris', de Pierre Schoeller

    Dirigido por Pierre Schoeller, o filme se passa em 1789, mostrando a crescente insatisfação popular contra a monarquia de Luís XVI. A história acompanha personagens comuns e figuras históricas, destacando a luta por justiça e igualdade.

  5. Maria Antonieta (2006)
  6. Cartaz do filme 'Maria Antonieta', de Sofia Coppola

    Dirigido por Sofia Coppola e estrelado por Kirsten Dunst, o filme narra a história da princesa austríaca Maria Antonieta, que, ao chegar à corte de Versalhes para casar com Luís XVI, busca escapar das rígidas regras da monarquia, enquanto a Revolução Francesa se aproxima e ameaça o futuro da monarquia.

Perguntas Frequentes sobre a Revolução Francesa

O que foi a Revolução Francesa?

A Revolução Francesa foi um movimento social e político iniciado em 1789, que derrubou a monarquia absolutista na França, estabeleceu a República e promoveu ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.

Quais foram os principais resultados da Revolução Francesa?

A Revolução Francesa resultou na queda da monarquia, na implementação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, e na criação de um novo regime republicano, que inspirou outras revoluções ao redor do mundo.




Referências:

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/473/cinco-eventos-que-mudaram-a-historia-das-relaces-internacionais

https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2024/09/qual-foi-a-origem-da-revolucao-francesa





A angústia ocupa um lugar de destaque na psicanálise, tanto para Sigmund Freud quanto para Jacques Lacan. Enquanto Freud vê a angústia como uma resposta a um conflito psíquico, especialmente em relação ao medo de algo reprimido, Lacan oferece uma leitura mais estrutural, focando na angústia como uma experiência ligada à linguagem e à falta.

Neste texto, vamos explorar as concepções de angústia em Freud e Lacan, destacando as semelhanças e diferenças, e a relevância desses conceitos para a psicanálise contemporânea.



A angústia em Freud: medo e conflito psíquico

Para Sigmund Freud, a angústia é um afeto que surge como uma resposta a um conflito psíquico. Em seus primeiros escritos, Freud descreve a angústia como um sinal de uma ameaça iminente que o Eu não pode controlar ou evitar. Essa ameaça pode se originar de diferentes fontes, como desejos reprimidos, traumas ou fantasias inconscientes que emergem à superfície.

No texto "Além do Princípio do Prazer" (1920), Freud expande sua compreensão da angústia, associando-a ao princípio do prazer e à pulsão. A angústia, nesse contexto, é vista como uma reação do sujeito à percepção de uma ameaça ao equilíbrio psíquico, algo que poderia estar relacionado ao desejo de retornar a um estado de prazer ou à repressão de impulsos conflitantes.

A angústia não é apenas uma reação ao medo de algo concreto, mas uma resposta ao desconhecido e ao incontrolável, muitas vezes surgindo como uma consequência da repressão de desejos ou do medo de uma perda ou separação.



Freud também relaciona a angústia com o conceito de castração, que está ligado ao medo da perda do poder ou da autoridade, ou ainda à ausência de um objeto desejado. Esse medo é frequentemente projetado em símbolos e manifestações inconscientes, levando o sujeito a vivenciar uma sensação de impotência e vulnerabilidade. A angústia, então, surge como um mecanismo de defesa do eu, sinalizando que algo precisa ser simbolizado para aquele sujeito.

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A angústia em Lacan: a falta e a linguagem

Jacques Lacan, psicanalista francês que fez um profundo retorno à obra de Freud, oferece uma nova perspectiva sobre a angústia. Para Lacan, a angústia não é apenas uma resposta a um trauma, medo, ameaça ou a um desejo reprimido, mas um fenômeno estruturante do sujeito. Ele propõe que a angústia está intrinsecamente ligada à linguagem e à estrutura simbólica.

Lacan descreve a angústia como a experiência da falta ou da ausência fundamental, algo que está no cerne da constituição do sujeito. Para ele, o sujeito é moldado pela linguagem e pela entrada no campo do simbólico, onde o desejo e a identidade são estruturados.

Em sua obra, como o seminário "A Angústia" (1962-1963), Lacan afirma que a angústia não é um medo de algo específico, mas uma reação ao que está além do simbolizável, ao que não pode ser representado pela linguagem. A angústia, para Lacan, é o sinal de que o sujeito está diante da "falta", ou seja, diante de uma ausência estrutural que não pode ser preenchida ou resolvida. Essa falta é constitutiva do sujeito humano, e a angústia é a forma como essa falta se manifesta no campo psíquico.

Além disso, Lacan enfatiza que a angústia não é algo que possa ser completamente eliminado ou resolvido. A angústia é, portanto, uma parte da experiência humana, uma condição que aponta para a estrutura de nossa subjetividade e nossa relação com o desejo e a linguagem.

Semelhanças e diferenças: Freud e Lacan

Embora Freud e Lacan compartilhem algumas semelhanças em relação à compreensão da angústia, existem algumas diferenças na elaboração de tal ideia para ambos . A primeira grande diferença está na forma como os dois psicanalistas concebem a origem e a função da angústia.

Para Freud, a angústia é um afeto que atua como resposta a um conflito psíquico. Ela está relacionada ao medo de perder o controle, ao retorno de desejos recalcados ou ao medo de uma ameaça externa (como a castração). A angústia tem uma função defensiva, alertando o sujeito como um sinal de que o Eu está em risco.

Por outro lado, Lacan vê a angústia como um fenômeno estruturante do sujeito, intimamente ligada à linguagem e à falta. Para Lacan, a angústia não é um reflexo de uma ameaça específica, mas uma resposta à estrutura do desejo humano, que é sempre marcado pela ausência. A angústia aparece como o sinal de que o sujeito está diante da impossibilidade de simbolizar seu desejo ou de alcançar a satisfação plena.

Angústia para Freud Angústia para Lacan
Resposta a um conflito psíquico, revelando desejos ou medos Resposta à estrutura do desejo, revelando uma falta
Função defensiva Função estruturante



A relevância da angústia na psicanálise

A teoria da angústia, tanto em Freud quanto em Lacan, é de extrema importância para a psicanálise. No contexto atual, a angústia é frequentemente ligada a transtornos psíquicos, como a ansiedade generalizada, crises existenciais e outros diagnósticos. Muitas vezes, esses quadros não refletem algo específico sobre o sujeito, mas são tratados como condições que podem ser encaixadas em categorias rígidas, com uma medicação pronta para ser prescrita.

A abordagem de Freud sobre a angústia ainda é amplamente utilizada para compreender como os traumas e os conflitos internos se manifestam em sintomas que causam sofrimento. Já a concepção lacaniana da angústia, centrada na falta e na linguagem, continua a influenciar a psicanálise, particularmente em análises sobre a relação entre o sujeito e o desejo, e na compreensão dos fenômenos de subjetividade no mundo moderno.

Em resumo, a angústia em Freud e Lacan oferece duas perspectivas complementares sobre o sofrimento psíquico. Enquanto Freud foca na angústia como uma resposta a conflitos e medos internos, Lacan a vê como uma experiência estruturante do sujeito, ligada à linguagem e à falta. Ambas as concepções continuam a ser de grande importância para a psicanálise, tendo em vista que ela fornece um caminho para direção do tratamento.

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Como aprender mais sobre a angústia

Para entender esse conceito de forma mais aprofundada, é importante explorar os textos fundamentais de Freud, como "O Mal-estar na Civilização" e "A Interpretação dos Sonhos", que ajudam a esclarecer o papel da angústia na formação do sujeito. Freud descreve a angústia como uma resposta à percepção de uma ameaça ao ego, sendo um sinal da repressão de desejos ou do enfrentamento da castração, que desencadeia uma sensação de impotência e vulnerabilidade.

Para quem busca aprofundar o entendimento lacaniano sobre a angústia, é fundamental estudar os escritos de Lacan, especialmente os seminários em que ele aborda o desejo, o gozo e a subjetividade, como no Seminário 10: A Angústia. O estudo da teoria lacaniana permite compreender a angústia não como uma emoção a ser evitada, mas como um fenômeno central para a estrutura psíquica e o entendimento da subjetividade.

Além disso, a Casa do Saber e o programa + Psicanálise oferecem cursos com especialistas no tema. Aqui vão algumas indicações:

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Referências Bibliográficas

FREUD, S. Inibição, sintoma e angústia (1926). In: ______. “Inibição, sintoma e angústia”, “O futuro de uma ilusão” e outros textos (1926-1929). Tradução Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. p. 13-123. (Obras completas, 17).

LACAN, J. O seminário, livro 10: a angústia (1962-1963). Texto estabelecido por Jacques-Alain Miller. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. (Campo Freudiano no Brasil).





O ciúme é um sentimento presente em todo ser humano e é considerado normal até certo ponto. Ele indica que o outro é importante em um relacionamento e que a pessoa que sente ciúmes tem medo de perder aquele relacionamento. Porém, o ciúme se torna um problema quando ele passa a ser uma obsessão. Nesse ponto, a pessoa ciumenta busca controlar a vida do parceiro, prejudicando a qualidade da relação. Neste artigo, vamos abordar o significado dos ciúmes, suas causas, tipos e de que maneira ele impacta os relacionamentos. Além disso, vamos discutir a influência das redes sociais sobre esse sentimento.

O que é Ciúmes?

O ciúme pode ser definido como um sentimento de insegurança emocional que surge quando uma pessoa teme perder o afeto de seu parceiro devido à presença de uma terceira pessoa ou a percepções de diminuição de sua importância. A palavra "ciúmes" tem origem no latim zelumen e no grego zelozus, que significam um desejo ardente, calor ou zelo. Em essência, os ciúmes estão intimamente relacionados ao medo de perder algo ou alguém que consideramos valioso, o que inclui nossos relacionamentos amorosos.

De acordo com o dicionário Aurélio, a palavra ciúme é definida como um “sentimento doloroso que as exigências de um amor inquieto, o desejo de posse da pessoa amada, a suspeita ou a certeza de sua infidelidade, fazem nascer em alguém; zelos; angústia provocada por sentimento exacerbado de posse”.

Este sentimento pode ser natural e até mesmo saudável em algumas situações. Um certo grau de ciúmes pode sinalizar que a pessoa valoriza o relacionamento e tem medo de perdê-lo. No entanto, o ciúmes se torna problemático quando a insegurança e o medo de perda se transformam em obsessão. Neste ponto, a pessoa ciumenta busca controlar a vida do parceiro, o que pode prejudicar a confiança mútua e a qualidade do relacionamento.

Para entender melhor sobre o tema, assista a seguir a aula gratuita sobre ciúmes com a psicanalista e escritora Ana Suy. A autora dos livros “A gente mira no amor e acerta na solidão” e “Não pise no meu vazio”, Ana Suy esclarece sobre as origens do ciúmes e seu significado.

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Tipos de Ciúmes: Quando o Sentimento Se Torna Prejudicial

Sigmund Freud, o pai da psicanálise, acreditava que o ciúmes seria um estado emocional natural, mas que sua manifestação exacerbada causaria uma patologia. Ele identificou três níveis de ciúmes: o competitivo ou normal, o projetado e o delirante, cada um com suas características e intensidades.

Os ciúmes podem se manifestar de várias formas, desde uma preocupação momentânea até uma obsessão destrutiva. Conhecer os diferentes tipos de ciúmes é essencial para entender como esse sentimento pode afetar um relacionamento, de que forma a dependência emocional pode estar relacionada ao ciúmes e como ele pode ser tratado.

Ciúmes Normal ou Competitivo

Este tipo de ciúmes é o mais comum e natural. Ocorre quando uma pessoa percebe uma ameaça à sua relação, geralmente devido à presença de uma terceira pessoa que disputa a atenção ou o afeto do parceiro. O ciúme competitivo, também definido como normal, é desencadeado por situações reais e específicas, como um parceiro que passa mais tempo com um amigo(a) ou tem interações constantes com um ex-namorado(a).

O ciúme competitivo é, em muitos casos, uma reação à percepção de que outra pessoa pode estar ocupando um espaço importante ou oferecendo algo que a pessoa teme não poder oferecer, como atenção ou carinho. Esse tipo de ciúmes está relacionado a uma insegurança temporária e pode ser agravado pela dependência emocional. Mas, é possível ser superado por meio de diálogos abertos e pelo fortalecimento da confiança mútua.

Ciúmes Projetado

O ciúme projetado ocorre quando a pessoa que sente ciúmes transfere suas próprias inseguranças para o parceiro. Em vez de perceber seus próprios medos e desejos, ela começa a projetar essas emoções no outro. Por exemplo, uma pessoa pode suspeitar que seu parceiro está atraído por alguém, quando, na verdade, ela mesma está experimentando sentimentos de atração por outra pessoa. O ciúme projetado reflete uma desconfiança infundada e pode levar a um comportamento possessivo e controlador, sem base na realidade.

Freud acreditava que esse tipo de ciúmes está relacionado a processos inconscientes, onde a pessoa, ao sentir algo negativo sobre si mesma, começa a "enxergar" esse comportamento no parceiro, mesmo quando não há evidências concretas.

Ciúmes Delirante

O ciúme delirante é o tipo mais extremo e patológico de ciúmes. Nesse caso, o indivíduo sente uma obsessão irracional e sem fundamentos de que está sendo traído, mesmo na ausência de qualquer prova concreta. O ciúme delirante pode levar a distúrbios emocionais graves, como raiva, depressão, paranóia e até comportamentos obsessivos de vigilância, como o monitoramento constante do parceiro.

Nesse caso, a pessoa não apenas sente ciúmes de maneira exagerada, mas acredita de forma delirante e sem fundamento que o parceiro está constantemente sendo infiel. O ciúme delirante pode levar o indivíduo a criar fantasias e acreditar em situações inexistentes, como ter convicções firmes de que o parceiro está escondendo algo, mesmo sem nenhuma evidência concreta.

Esse tipo de ciúmes está frequentemente associado a transtornos psiquiátricos, como o transtorno delirante, em que a pessoa se torna obcecada por uma crença infundada. Muitas vezes, esse comportamento é uma forma de defesa contra sentimentos profundos de insegurança, baixa autoestima ou medo da perda. O ciúmes delirante pode destruir um relacionamento, pois a pessoa afetada vive imersa em fantasias e crenças distorcidas, tornando-se cada vez mais difícil para ela distinguir o que é real do que é imaginário.

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Como as Redes Sociais Intensificam os Ciúmes nos Relacionamentos

O surgimento das redes sociais tem adicionado uma nova camada de complexidade ao ciúmes nos relacionamentos. Plataformas como Instagram, Facebook e WhatsApp por exemplo, permitem uma exposição constante de nossas interações sociais e de momentos da nossa vida privada, o que pode alimentar a insegurança e a desconfiança no parceiro. Além disso, esses aplicativos surgem como uma fonte inesgotável de mal entendidos e de comparações, especialmente quando um parceiro interage com outras pessoas de forma aberta ou “excessiva” na internet.

A facilidade com que podemos monitorar as atividades online do outro gera o fenômeno conhecido como "stalking digital" ou ou monitoramento das redes sociais. Esse comportamento é cada vez mais comum e envolve desde a análise de fotos e postagens do parceiro até a investigação de mensagens privadas. Em alguns casos, o parceiro começa a criar cenários e conclusões baseadas em interpretações das interações online, o que pode gerar uma espiral de insegurança e desconfiança, prejudicando o fluir do amor.

Para muitas pessoas, esse tipo de comportamento provoca sofrimento emocional e pode até levar ao fim de um relacionamento saudável, já que o foco passa a ser no mal estar e insegurança gerados pelas redes sociais e não nos sentimentos reais entre os parceiros.

Ciúmes e a Psicanálise: A Profundidade das Motivações Inconscientes

Na psicanálise, o ciúme é frequentemente relacionado a uma manifestação de conflitos emocionais inconscientes, muitas vezes, enraizados em experiências passadas e dinâmicas familiares. Assim, a complexidade e os contratempos das relações amorosas teriam origens muito mais profundas. Segundo Freud, o ciúmes pode ser um reflexo de rivalidades internas, como aquelas com pais ou irmãos, ou até mesmo um desejo inconsciente de controle ou possessividade.

A psicanálise e suas diferentes perspectivas, seja através das concepções de Jacques Lacan, pela psicologia analítica de Carl Jung e de Freud, sugere que, para entender profundamente os ciúmes, é necessário examinar as emoções reprimidas e os mecanismos de defesa que as pessoas utilizam para lidar com suas inseguranças. O ciúme excessivo pode, muitas vezes, ser um reflexo de um medo profundo de abandono ou uma sensação de inadequação, que a pessoa projeta no parceiro.

O que é Ciúmes Retroativo?

O ciúme retroativo é um tipo de ciúmes que surge quando uma pessoa sente insegurança ou desconforto em relação ao passado amoroso ou sexual de seu parceiro. Ao contrário do ciúme tradicional, que geralmente está relacionado ao medo de uma ameaça no presente — como uma terceira pessoa que pode estar competindo pela atenção do parceiro — o ciúme retroativo é alimentado por sentimentos de possessividade ou inveja sobre experiências passadas.

Esse tipo de ciúmes pode ser desencadeado por conversas sobre relacionamentos anteriores, a presença de objetos ou recordações do passado (como fotos ou presentes de ex-namorados), ou até mesmo a comparação constante entre o parceiro atual e ex-parceiros. Também é possível surgir a partir de relacionamentos tóxicos com narcisistas, que costumam realizar triangulações com a intenção de desestabilizar o parceiro e causar ciúmes propositalmente. A pessoa com ciúmes retroativo pode sentir que o parceiro ainda tem uma conexão emocional com os ex, o que cria uma sensação de insegurança ou inadequação.

Por que os Ciúmes Retroativos Surgem?

O ciúme retroativo geralmente está ligado a questões de autoestima e insegurança. Quando uma pessoa não consegue se sentir completamente segura ou valorizada no relacionamento amoroso atual, pode começar a projetar suas próprias inseguranças sobre o que o parceiro viveu anteriormente. Esse sentimento é muitas vezes exacerbado por um desejo de "ser a única" pessoa ou a mais importante na vida do parceiro, levando a uma idealização de uma relação sem passado.

Além disso, pessoas com dificuldades em lidar com sentimentos de abandono ou rejeição são mais propensas a desenvolver o ciúmes retroativo, uma vez que se sentem ameaçadas pela ideia de que o parceiro possa ter experimentado um sentimento de amor mais intenso e significativo com outra pessoa no passado.

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Como o Ciúmes Retroativo Afeta o Relacionamento?

Quando não tratado, o ciúme retroativo pode causar tensão e desconfiança no relacionamento. Ele pode levar a conflitos frequentes, onde o parceiro ciumento questiona o outro sobre detalhes do passado, exige explicações ou tenta apagar símbolos da história anterior do parceiro, como fotos ou presentes de ex-namorados. Isso cria um ambiente de controle e possessividade, onde o foco não está na construção de um relacionamento saudável, mas em tentar apagar ou substituir o passado.

Além disso, o ciúmes retroativo pode gerar uma sensação de culpabilização no parceiro que tem um passado amoroso. Esse parceiro pode se sentir constantemente acusado ou pressionado a se desvincular de suas experiências anteriores, o que é um comportamento injusto e prejudicial à autoestima e à liberdade individual.

Como Lidar com o Ciúme Retroativo?

Autoconhecimento: Entender a origem do ciúme retroativo é fundamental. Muitas vezes, esse sentimento está relacionado a inseguranças próprias, como o medo de não ser bom o suficiente ou a ideia de que o parceiro teve experiências melhores no passado. Trabalhar esses sentimentos pode ajudar a reduzir o impacto do ciúmes.

Diálogo honesto: É importante que o parceiro que sente ciúmes retroativo converse de forma verdadeira e respeitosa com o outro, explicando suas inseguranças sem acusar ou culpar. O diálogo construtivo pode ajudar a esclarecer mal-entendidos e fortalecer a confiança.

Aceitação do Passado: Todo relacionamento tem um passado, e é saudável aceitar que o parceiro teve experiências antes de estar com você. Tentar apagar ou negar esse passado prejudica a relação. O respeito pelo passado do outro é fundamental para o fortalecimento do vínculo no presente.

Desenvolvimento da Autoestima: Investir em melhorar a autoestima e autoconfiança é essencial para quem sente ciúmes retroativo. O parceiro que se sente inseguro deve focar no seu próprio crescimento e entender que seu valor não depende das comparações com outras pessoas.

Conclusão

O ciúmes é um sentimento humano natural, mas quando se torna uma obsessão leva a comportamentos prejudiciais que afetam profundamente os relacionamentos românticos. Compreender suas origens, seus tipos e os efeitos que ele pode ter nas nossas interações é essencial para lidar com esse sentimento de forma saudável.

Se você se vê constantemente sentindo ciúmes e nota que isso está prejudicando sua vida amorosa e suas relações pessoais, a psicanálise pode ser uma boa ferramenta para entender suas causas mais profundas. Um relacionamento saudável é construído com base na confiança, no respeito mútuo e no amor, não na posse ou controle.




Perguntas Frequentes sobre o Ciúmes

  1. O que causa o ciúmes em um relacionamento?
    O ciúmes é causado por insegurança emocional, medo de perder o parceiro, baixa autoestima, e, em alguns casos, traumas devido à experiências passadas de traição ou rejeição.
  2. Como controlar o ciúmes de maneira saudável?
    Para controlar o ciúmes, é importante desenvolver a autoestima, estabelecer uma comunicação aberta com o parceiro e procurar ajuda psicológica, quando necessário.




Referências:

https://curadoria.casadosaber.com.br/curso/287/amor-e-solidao-uma-psicanalise-das-conexes-humanas

https://curadoria.casadosaber.com.br/curso/476/vocabulario-dos-afetos

https://curadoria.casadosaber.com.br/curso/311/as-relaces-amorosas-e-seus-contratempos-uma-abordagem-interdisciplinar

https://www.filosofiaepsicanalise.org/2013/11/freud-explica-o-ciume.html

O medo é uma emoção natural, que faz parte dos nossos mecanismos de defesa para sobreviver. Quando sentimos medo, nosso corpo entra em um estado de alerta, nos preparando para agir ou fugir diante de uma ameaça.

Embora o medo seja uma reação fundamental para nossa proteção, ele também pode tornar-se doentio, ao se manifestar de forma excessiva. Assim, ele pode se tornar uma fobia, emoção que interfere no bem estar e na saúde mental dos indivíduos. Neste artigo, vamos explicar o que é o medo, por que sentimos medo, como lidar com ele e como ele pode se apresentar em forma de fobias. Além disso, vamos discutir as terapias mais eficazes para tratar dessas fobias.

O Que é Medo?

O medo é uma resposta emocional do nosso organismo a uma ameaça percebida, que pode ser real ou imaginada. Ele é, portanto, uma reação orgânica de perturbação emocional diante da exposição a algum tipo de perigo. Dessa maneira, o medo aciona o sistema límbico cerebral, responsável pelas emoções, e deixa o corpo num estado de alerta para decidir rapidamente entre lutar ou fugir da ameaça.

Portanto, o medo desperta os mecanismos de defesa corporais, aumentando os batimentos cardíacos e deixando a respiração mais acelerada. Nesse sentido, o medo é natural e faz parte de um organismo saudável.

De acordo com o psicanalista Christian Dunker, uma pessoa que não tem medo seria uma presa fácil do mundo, alguém que não consegue se defender. Assim, o medo seria, para ele, “um afeto que levanta e mantém o indivíduo numa espécie de estado decisional”.

Ou seja, o medo nos levaria a produzir rápidas interpretações e hipóteses a respeito da situação, de modo que o indivíduo afetado pelo medo consiga gerar decisões para se proteger. Ainda de acordo com Dunker, apesar do medo ser comumente associado à covardia, o que de fato acontece é que a pessoa corajosa não é aquela que não tem medo, mas sim a que é capaz de senti-lo e enfrentá-lo. Já que o medo seria uma emoção essencial para o desenvolvimento do pensamento lógico e da inteligência.

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Por Que Sentimos Medo?

Sentimos medo porque o nosso organismo deseja sobreviver. O medo é uma resposta adaptativa e decisiva para a nossa sobrevivência. Aliás, não apenas para a sobrevivência humana, mas os demais animais também possuem essa emoção como uma defesa para enfrentar situações perigosas.

O medo nos prepara para agir rapidamente, seja através da fuga do perigo ou por meio do enfrentamento. Ademais, essa resposta fisiológica envolve a liberação de adrenalina, acelerando o coração, a respiração e preparando os músculos para ação.

Em suma, sentimos medo porque ele é uma estratégia de sobrevivência. Ele aciona nossa capacidade de responder ao perigo. Sem essa sensação, estaríamos mais propensos a nos expor a situações arriscadas, como ficar perto de animais selvagens ou atravessar avenidas movimentadas sem a atenção necessária.

Muitas vezes, a ansiedade antecede o medo, como uma forma de alertar o corpo para algo que ainda vai acontecer. A ansiedade e o medo estão intrinsecamente relacionados, sendo que a ansiedade estaria mais ligada à antecipação de um risco. O medo, por sua vez, seria a reação imediata a uma ameaça concreta.

Embora o medo seja uma emoção natural e benéfica para nossa proteção, ele pode se tornar disfuncional em algumas situações, levando a uma sensação de paralisia ou a um comportamento excessivo de evitação.

Como Lidar com o Medo?

Apesar de o medo ser uma emoção natural e benéfica para a proteção da vida, ele pode se transformar em um problema quando passa a ser excessivo, e com os limites saudáveis sendo ultrapassados pode se transformar em uma fobia. Nesses casos, a saúde mental e o bem-estar do indivíduo ficam significativamente prejudicados. É aí que as estratégias e abordagens terapêuticas são necessárias para ajudar a lidar com o medo, compreender sua origem e reduzir seu impacto no dia a dia. Aqui estão algumas estratégias para lidar com o medo:

  1. Aceitação do Medo: O primeiro passo para lidar com o medo é aceitá-lo como uma parte natural da vida. Em vez de tentar suprimir ou negar os sentimentos de medo, é importante reconhecê-los e compreender sua função.
  2. Terapias: Para medos excessivos, como fobias, o tratamento é fundamental. Entre as abordagens terapêuticas, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) tem a proposta de ajudar as pessoas a reestruturarem sua relação com o medo e encontrarem maneiras mais saudáveis de lidar com ele. A Dessensibilização Sistemática é uma técnica de exposição gradual utilizada no tratamento de fobias, onde o paciente é progressivamente exposto à situação que causa medo, até que a resposta emocional se torne mais controlável.
  3. Identificar a Causa:

    Compreender o que está por trás do medo é essencial. O medo é uma reação a algo que percebemos como ameaça, mas essa percepção pode ser distorcida ou projetada. Por isso, as psicoterapias e a psicanálise são indicadas para ajudar o paciente a identificar as causas do medo até que tenha os recursos para trazê-las à tona e superá-las.

  4. Mindfulness e Respiração:

    Práticas de meditação como o mindfulness são aliados no controle do medo e da ansiedade. As técnicas de respiração profunda auxiliam na promoção da calma, reduzindo a ativação do sistema nervoso nos casos de medo. Os exercícios de mindfulness levam a pessoa a se concentrar no momento presente, evitando assim que o medo se amplifique por pensamentos catastróficos voltados para o futuro.

  5. Rede de Apoio Social: Conversar sobre seus medos com amigos, familiares ou profissionais é uma maneira eficaz de reduzir a ansiedade e o pavor. O suporte social ajuda a aliviar a carga emocional e também permite que a pessoa perceba que não está sozinha em seus sentimentos.



O Medo de Perder e o Medo da Solidão?

O medo de perder está profundamente ligado à nossa necessidade de controle e segurança. Esse medo surge em contextos variados, mas é extremamente comum nos relacionamentos amorosos. A perda do companheiro/a pode despertar uma sensação de desespero e impotência. Na maioria das vezes, esse tipo de perda causa um grande vazio interior e as pessoas não estão preparadas para lidar com isso. Daí, sentimentos como o ciúme podem surgir a partir do medo de perder o parceiro e também do medo da solidão.

A conectividade moderna tem um impacto direto na nossa saúde mental. Acordar, checar notificações, rolar feeds infinitos, adiar o sono... Isso soa familiar? Se sim, é hora de refletir sobre como as redes sociais podem estar afetando o seu equilíbrio emocional.

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A quebra da rotina, a frustração em relação à idealização do amor, além, é claro, da ausência do companheiro, podem desestruturar o lado emocional. Assim, o medo de que o relacionamento termine, acaba alimentando a ansiedade e a insegurança em algumas pessoas, podendo gerar um ciclo repetitivo de preocupações. Esse contexto é um terreno propício para a evitação ou o apego excessivo àquilo que se teme perder.

Por outro lado, o medo da solidão está associado ao sentimento de desconexão e à busca por aprovação social. A solidão é vista como uma experiência angustiante e digna de pena. Portanto, a hipótese de ser rejeitado ou de não ser amado é sentida como aterrorizante. O medo de ficar sozinho pode afetar a saúde mental, contribuindo para o desenvolvimento de transtornos como a depressão e a ansiedade. Esse medo está intimamente ligado à necessidade de pertencimento, uma das necessidades humanas mais básicas.

Tanto o medo da perda quanto o da solidão podem desencadear a dependência emocional. Devido a esses medos, algumas pessoas acabam permanecendo em relacionamentos tóxicos, apenas para evitar o vazio emocional. O autoconhecimento e o fortalecimento da autoestima podem contribuir para a superação desses medos.

Aprender a lidar com a possibilidade da perda e entender que a solidão não significa necessariamente abandono ou fracasso são pensamentos a serem incorporados para que o sujeito entenda e acolha melhor suas emoções.

Como Diferenciar Tipos de Medo?

Embora todos nós experimentemos o medo de alguma forma, existem diferentes maneiras pelas quais ele se manifesta e intensifica. O medo pode ser classificado em medos comuns, que são reações naturais a situações perigosas, e em fobias, que são medos excessivos e irracionais.

Segundo o psicanalista Christian Dunker, as fobias são mais frequentes em crianças e apresentam-se como “um tipo de sintoma no qual a pessoa mostra um medo muito forte, dirigido a um objeto. Esse objeto pode ser um animal, tipo um rato ou uma cobra; pode ser uma situação, como estar dentro de um elevador, que é a claustrofobia; pode ser uma cor, como a eritrofobia, medo da cor vermelha.” Veja na tabela abaixo alguns tipos comuns de medo e de fobia:

TIPOS DE MEDO TIPOS DE FOBIA
Medo de falar em público É um dos medos mais frequentes, afetando muitas pessoas em contextos profissionais e sociais.
Fobia social Medo intenso de ser julgado ou criticado em situações sociais. Esse tipo de fobia pode levar ao isolamento e prejudicar relacionamentos.
Medo de altura (acrofobia) Sensação de vertigem em grandes altitudes, como ao olhar de um prédio alto ou ao viajar de avião.
Claustrofobia Medo de espaços fechados, como elevadores, salas pequenas ou ambientes sem ventilação.
Medo de animais Cachorros, cobras, aranhas e outros animais podem gerar medo em muitas pessoas, em graus que variam de desconforto a pânico.
Agorafobia Medo de espaços abertos, lugares públicos ou situações onde a fuga seria difícil. Pessoas com agorafobia podem evitar sair de casa ou ter dificuldade em frequentar lugares lotados.



Como Diferentes Terapias Podem Ajudar a tratar do Medo?

Nos casos em que o medo se torna excessivo, irracional e impede a execução normal das atividades diárias, buscar ajuda terapêutica é fundamental. Além das fobias, outros transtornos também podem ter o medo e o estado de alerta como característica predominante. O Transtorno de Pânico, o Transtorno de Estresse Pós-Traumático e até distúrbios alimentares como anorexia e bulimia são exemplos que envolvem uma reação exagerada de medo ou ansiedade, afetando o bem-estar físico e psicológico. Algumas abordagens terapêuticas indicadas para tratar o medo incluem:

  1. Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC):

    Essa abordagem ajuda a identificar e reestruturar padrões de pensamento disfuncionais que alimentam o medo, permitindo que a pessoa desenvolva formas mais saudáveis de reagir.

  2. Dessensibilização Sistemática:

    É uma técnica de terapia de exposição gradual. A pessoa é exposta de forma controlada ao objeto ou situação que causa o medo, começando com uma forma menos intensa e progredindo até enfrentar a situação real. Esse processo ajuda a diminuir a intensidade da resposta de medo ao longo do tempo.

  3. Psicanálise:

    A psicanálise aborda as fobias como manifestações de conflitos inconscientes, que podem estar ligados a traumas, desejos reprimidos ou sentimentos de culpa. Assim, esses medos não estariam ligados apenas a ameaças concretas, mas também a causas simbólicas vindas de questões emocionais mais profundas que o paciente não consegue compreender conscientemente. Esse tipo de tratamento visa ajudar o paciente a integrar e superar os traumas emocionais subjacentes, proporcionando uma cura mais profunda e duradoura.


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O que é o medo considerado normal e necessário para nós?

O medo é visto como normal e saudável quando acontece para nos ajudar a identificar situações de risco. Por fazer parte do nosso mecanismo de defesa, ele é uma emoção normal e necessária. É uma emoção essencial para nos ajudar a evitar perigos e a tomar decisões rápidas. Quando o medo é moderado e alinhado com uma ameaça real, ele representa uma parte necessária do nosso funcionamento emocional.

Porém, ao se tornar desproporcional, como nas fobias, o medo se torna um transtorno que deixa de ser útil à sobrevivência e se torna problemático. Nesses casos, o medo não prepara o indivíduo para agir, mas o paralisa, impedindo-o de se relacionar com a fonte do medo, e afetando sua qualidade de vida.

Conclusão:

O medo em si não é uma emoção que precise de tratamento. Apenas quando se torna irracional ou desmedido é que passa a afetar negativamente a nossa vida. Por isso, é importante saber diferenciar o medo saudável das fobias, já que essas precisam de ajuda profissional. Entender o medo e suas manifestações é o primeiro passo para superá-lo e viver uma vida mais equilibrada.




Perguntas Frequentes:

Quando Buscar Ajuda para o Medo?

Quando o medo se torna excessivo, contínuo e interfere nas atividades diárias, como em casos de fobia, é importante procurar ajuda profissional. As psicoterapias ou a psicanálise podem ajudar a reduzir o impacto do medo e restaurar o equilíbrio emocional, permitindo que a pessoa recupere o controle de sua vida.

O que fazer para vencer o medo de falar em público?

Para vencer o medo de falar em público, é importante se preparar bem e ensaiar a apresentação, o que aumenta a sensação de confiança. Focar na mensagem, em vez de se preocupar com o próprio desempenho, também ajuda a diminuir a ansiedade. Técnicas de respiração profunda e relaxamento podem acalmar os nervos antes e durante a fala. Se o medo for muito intenso, procurar apoio profissional pode ser útil para superar o medo de forma eficaz.



Referências:

https://brasilescola.uol.com.br/psicologia/medo.htm

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/476/vocabulario-dos-afetos

https://www.youtube.com/watch?v=E1BzzharV14

https://www.nationalgeographicbrasil.com/ciencia/2023/09/como-o-corpo-reage-quando-sentimos-medo







Nos últimos anos, o termo burnout se popularizou e tem se tornado cada vez mais presente no vocabulário de quem lida com as pressões do ambiente de trabalho e as inúmeras atividades da vida moderna.

Caracterizado por um estado de exaustão física e emocional, o burnout é uma síndrome do esgotamento profissional que afeta especialmente aqueles que vivem em locais de alto estresse. Seus efeitos costumam ser devastadores para o indivíduo acometido e também para seus relacionamentos profissionais e pessoais.

Neste artigo, vamos mostrar como o burnout se desenvolve, quais são seus principais sintomas e discutir o impacto do neoliberalismo nesse cenário, além de apresentar opções de tratamento para lidar com esse problema crescente no mundo do trabalho.

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O que é a Síndrome de Burnout?

A síndrome de burnout é um distúrbio emocional que resulta da exposição prolongada ao estresse das exigências do trabalho, seja pelas longas horas da jornada laboral ou pelas responsabilidades das atribuições. O burnout é identificado pela exaustão física e mental que causa no indivíduo, devido às atividades do trabalho.

A síndrome está incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), de 2019, como um fenômeno ocupacional. Ela não é uma doença, mas está descrita como um fator que influencia o estado de saúde.

O termo "burnout" significa "queimar até o fim" e foi adotado pelo psicólogo Herbert Freudenberger na década de 1970, para definir o esgotamento de profissionais de saúde e cuidadores de dependentes químicos. Com o tempo, o conceito se expandiu para qualquer profissional exposto a níveis elevados de pressão e estresse no ambiente de trabalho.

Burnout vai além de um simples cansaço após um dia exaustivo. Trata-se de um processo gradual que leva à exaustão física e mental, prejudicando a saúde psicológica e a produtividade. Com pressão por resultados e a falta de tempo para o autocuidado, o trabalhador começa a perder o entusiasmo pelas tarefas diárias, chegando a se sentir incapaz de atender às expectativas profissionais e até pessoais.

O contexto de competitividade que faz parte da lógica neoliberal cria um terreno propício para o desenvolvimento dos casos de burnout. Principalmente porque o neoliberalismo valoriza a produtividade e o desempenho profissional acima do bem-estar individual.

Causas e Fatores de Risco do Burnout

O burnout não surge repentinamente; ele é o resultado de um acúmulo gradual de fatores estressantes ao longo do tempo. As principais causas incluem:

  • Sobrecarga de Responsabilidades: A pressão constante para atender às exigências profissionais, mesmo diante do esgotamento, é um dos principais gatilhos. A sensação de nunca conseguir "fazer o suficiente" alimenta o ciclo de exaustão.
  • Horas Extras Frequentes: A necessidade de trabalhar além do horário normal, seja por exigências externas ou internas, compromete o tempo de descanso e acelera o desgaste físico e mental.
  • Estresse Contínuo: A exposição constante ao estresse, especialmente em ambientes de alta pressão, pode criar um clima tóxico para a saúde mental e física. Profissionais que enfrentam situações de grande responsabilidade são especialmente vulneráveis.
  • Falta de Equilíbrio entre Vida Profissional e Pessoal: A dificuldade em estabelecer limites claros entre trabalho e vida pessoal contribui significativamente para o desenvolvimento do burnout, levando a um esgotamento generalizado.


Sintomas de Burnout: Como Identificar os Sinais de Alerta

A identificação dos sintomas de burnout pode ser difícil, pois, muitas vezes, os sinais iniciais são confundidos com simples cansaço ou falta de motivação temporária. No entanto, existem alguns sintomas específicos que podem indicar o início da síndrome. Entre os sintomas de burnout, destacam-se:

  1. Exaustão constante: O cansaço físico e mental é profundo e persistente, não se resolvendo com descanso. A pessoa sente que, por mais que tente descansar, sua energia nunca é restaurada.
  2. Queda na eficiência no trabalho: A exaustão física e mental reduz a capacidade de produzir de forma eficaz, ao contrário da crença popular de que trabalhar mais horas leva a mais resultados. A fadiga só aumenta os erros e a sensação de ineficiência.
  3. Sentimento de fracasso e incompetência: A sensação de não ser capaz de atender às expectativas – seja de si mesmo ou dos outros – leva à baixa autoestima e a um quadro de insegurança crônica.
  4. Distanciamento emocional – A pessoa pode começar a se sentir desconectada de suas responsabilidades, criando um certo cinismo em relação ao trabalho, como forma de proteção contra a sobrecarga emocional.
  5. Sintomas físicos – O estresse excessivo pode causar dores de cabeça, insônia, problemas digestivos, dores musculares e até aumento da pressão arterial, sinais de que o corpo também está sobrecarregado.
  6. Flutuações de humor: A pessoa com burnout frequentemente experimenta mudanças abruptas de humor, como irritabilidade, ansiedade e episódios depressivos. Essas oscilações afetam negativamente tanto o ambiente de trabalho quanto as relações pessoais.
  7. Dificuldade de concentração: A perda de foco nas tarefas cotidianas é um dos sinais mais evidentes do burnout, o que resulta em uma queda na performance e um aumento na sensação de incapacidade.


Esses sintomas não aparecem de forma abrupta, mas se desenvolvem ao longo do tempo. Quando não tratados, podem levar a sérios danos à saúde mental e física, criando um ciclo vicioso de exaustão.

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O Impacto do Neoliberalismo no Desenvolvimento da Síndrome de Burnout

Nos últimos anos, o ambiente de trabalho tem sido profundamente marcado por uma busca incessante por produtividade. E, de acordo com o professor de filosofia da Universidade de São Paulo, Vladimir Safatle, o neoliberalismo, com seu foco em empreendedorismo e eficiência a qualquer custo, contribui para esse cenário, criando um ambiente onde o trabalhador é constantemente desafiado a se superar, muitas vezes sem considerar suas necessidades emocionais e psicológicas.

A lógica neoliberal, que valoriza a competitividade e a constante busca por resultados, muitas vezes resulta na falta de satisfação e felicidade dos profissionais, fazendo com que o trabalho se torne uma fonte de estresse. O incentivo à "performance" e à "excelência" sem considerar o equilíbrio entre vida profissional e pessoal contribui significativamente para o aumento de casos de burnout.

Além do impacto no ambiente de trabalho, o neoliberalismo também exerce uma influência significativa sobre a vida psíquica dos indivíduos. Não se trata apenas de uma estrutura organizacional voltada para a economia, mas de uma reconfiguração dos valores e das relações sociais. A transformação promovida pelo neoliberalismo afeta a maneira como as pessoas se percebem e se relacionam, tanto no trabalho quanto em suas interações pessoais.

Ainda segundo o professor Vladimir Safatle, o conceito de "liberdade" defendido pelo neoliberalismo acabou transformando a sociedade em um campo de competição constante. O estado, sob essa ótica, deveria agir para permitir que essa liberdade se desenvolvesse, mas sem intervir nas questões sociais e políticas. Essa visão levou à disseminação do empreendedorismo como um valor central, fazendo com que todas as relações sociais fossem mediadas pela lógica da concorrência, o que, por sua vez, enfraqueceu os laços de solidariedade e cooperação. O impacto do neoliberalismo se reflete em uma reorganização profunda dos valores sociais e emocionais, intensificando o estresse e as pressões no ambiente de trabalho.

Burnout Tratamento: Como Recuperar a Saúde Mental

O tratamento eficaz da síndrome de burnout envolve transformações no local de trabalho e no estilo de vida. O apoio psicológico também é essencial para a superação do quadro e, dependendo do caso, pode ser necessário intervenção medicamentosa. O principal objetivo é aliviar os sintomas do burnout e restaurar o equilíbrio emocional do indivíduo. Veja as principais indicações para recuperar a saúde mental afetada pelo burnout:

Como tratar o Burnout?
Redução do Estresse no Ambiente de Trabalho – A primeira medida para combater o burnout é diminuir as fontes de estresse crônico no trabalho. Isso pode incluir a redistribuição de tarefas e o estabelecimento de limites claros em relação à jornada de trabalho.
Psicoterapia: Buscar apoio psicológico é fundamental para quem sofre de burnout.
Pausas e Recuperação: O descanso é uma parte essencial do processo de tratamento. Em muitos casos, é necessário um período de afastamento do trabalho para permitir a recuperação física e emocional.
Apoio Social: Ter uma rede de apoio sólida – composta por familiares, amigos ou colegas de trabalho – pode ser determinante para a recuperação. O isolamento social tende a agravar os sintomas do burnout, enquanto o suporte emocional proporciona alívio e fortalece a resiliência.


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Consequências do Burnout

O burnout gera uma série de consequências quando não é tratado de forma adequada, afetando a saúde mental e física de quem for acometido pela síndrome. No aspecto psicológico, a condição pode evoluir para distúrbios como depressão, ansiedade, e até transtornos mais sérios, como o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). No corpo, os sintomas físicos do burnout podem se manifestar em problemas como hipertensão, doenças cardíacas, insônia e distúrbios gastrointestinais, afetando a saúde geral.

Além disso, o burnout tende a comprometer de forma significativa a produtividade e o desempenho no trabalho. O profissional exausto torna-se menos eficiente, menos comprometido e menos motivado. A consequência disso é sentida diretamente nos resultados. Assim, acontece uma queda abrupta na qualidade do trabalho, fato que prejudica o psicológico do profissional e afeta a empresa.

A prevenção do burnout começa com o autoconhecimento. Reconhecer os sinais de esgotamento e perceber quando o trabalho está afetando a saúde mental e física é essencial. Estabelecer um equilíbrio saudável entre o trabalho e a vida pessoal ajuda a preservar a energia emocional e física, evitando o colapso.

Nesse contexto, é de suma importância que as empresas também reconheçam o aumento dos casos e repensem suas práticas. Organizações que incentivam uma cultura de respeito aos limites e à saúde dos trabalhadores são menos propensas a ver o burnout afetar seus colaboradores. Ambientes que priorizam o bem-estar coletivo e a colaboração, em vez da competição desenfreada, criam condições mais saudáveis para o desempenho sustentável.

Conclusão

A síndrome de burnout é um reflexo direto da cultura de trabalho atual, que valoriza a produtividade incessante em detrimento do bem-estar dos indivíduos. Embora o trabalho seja importante, ele não deve ser a única prioridade na vida. Cuidar da saúde mental, estabelecer limites e procurar apoio quando necessário são ações essenciais para evitar o burnout.

Se você está sentindo os sintomas dessa síndrome, é fundamental procurar ajuda. A psicoterapia, combinada com práticas de autocuidado, é um caminho eficaz para a recuperação. Não subestime os sinais de sobrecarga – sua saúde deve ser sempre a sua maior prioridade.

O burnout é um alerta para a reflexão sobre as condições de trabalho que favorecem o seu surgimento. As cobranças constantes, as pressões por perfeição e desempenho, impulsionadas por um sistema econômico focado em resultados criam um terreno fértil para a proliferação de profissionais com a síndrome. Para prevenir o burnout, é necessária uma transformação na mentalidade das organizações, evitando as cobranças além da conta e respeitando o tempo de descanso dos profissionais, que muitas vezes precisam ficar respondendo mensagens via whatsapp ou outros aplicativos de mensagem instantânea mesmo estando fora dos seus horários de trabalho.

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Perguntas Frequentes sobre Burnout

  1. Quais são os principais sinais de que estou sofrendo de burnout?
    Os principais sinais incluem exaustão física e mental constantes, sensação de impotência e fracasso, distanciamento emocional do trabalho, dificuldade de concentração e sintomas físicos como dores de cabeça e insônia. Caso esses sintomas persistam, é importante procurar apoio profissional.
  2. Como prevenir o burnout no ambiente de trabalho?
    A prevenção envolve o estabelecimento de limites claros entre vida pessoal e profissional, a promoção de uma cultura organizacional que valorize o bem-estar dos colaboradores, e o incentivo à comunicação aberta sobre o estresse e as dificuldades enfrentadas. Além disso, práticas regulares de autocuidado e pausas durante o expediente são fundamentais para manter o equilíbrio.


Referências:

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/420/o-mal-estar-no-neoliberalismo-psicanalise-e-sofrimento-social

https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/sindrome-de-burnout

https://www.paho.org/pt/noticias/28-5-2019-cid-burnout-e-um-fenomeno-ocupacional




A ansiedade é uma emoção humana universal caracterizada por sentimentos de preocupação, medo e apreensão, geralmente despertados em situações de incerteza ou pressão. Todos nós a experimentamos em algum momento. Em si, ela não é uma doença.

Apesar de ser uma reação natural e muitas vezes útil, que nos prepara para enfrentar desafios, a ansiedade pode se tornar um problema quando ganha proporções excessivas e se transforma em um transtorno, passando a interferir no cotidiano, afetando o sono, o humor e as relações interpessoais.

Os casos de sofrimento psíquico, exigem cuidado especializado. Assim como todos os problemas de saúde mental, os transtornos de ansiedade precisam ser tratados com mais naturalidade, retirando-se o preconceito e o estigma tão culturalmente arraigados em relação a tudo o que diz respeito às questões de ordem emocional.

O Que é Ansiedade?

A ansiedade é uma reação emocional do corpo diante de situações que envolvem incerteza ou perigo. De acordo com o psiquiatra Rodrigo Bressan, “nosso corpo, através dos sistemas nervosos autônomo e simpático, está preparado para situações de luta ou fuga”, por possuir um mecanismo biológico capaz de lidar com situações de perigo. Mas, existem contextos de estresse que ultrapassam a capacidade de regulação emocional do corpo, fazendo com que as pessoas saiam do eixo e causando diversos problemas de saúde mental, como os transtornos de ansiedade.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os transtornos de ansiedade são os transtornos mentais mais comuns do mundo e afetaram aproximadamente 301 milhões de pessoas em 2019, o que corresponde a cerca de 4% da população mundial. Ainda segundo a OMS, as mulheres são mais afetadas por este tipo de transtorno do que os homens e os sintomas começam a surgir na infância e na adolescência.

Os transtornos de ansiedade, além de provocarem sofrimento, interferem de forma significativa nas atividades cotidianas, causando grande impacto no nível de incapacitação da nossa sociedade. Quando não tratados, esses sintomas podem persistir por anos, impactando ainda mais na saúde mental e emocional do indivíduo.

A boa notícia é que grande parte dos transtornos mentais, como os de ansiedade, são tratáveis e existem terapias e intervenções altamente eficazes, como a psicoterapia e o uso de medicamentos, que podem ajudar a controlar os sintomas e permitir que a pessoa recupere o bem estar e a qualidade de vida.

Apesar da alta prevalência e do impacto significativo desses transtornos, estima-se que apenas 1 em cada 4 pessoas com os sintomas busque tratamento. A falta de conscientização sobre a natureza tratável da condição, o baixo investimento público em serviços de saúde mental, a falta de profissionais de saúde qualificados para este tipo de atendimento e o estigma social em torno do tema são algumas das barreiras que dificultam o acesso a um tratamento adequado, segundo a OMS.

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Sintomas de Ansiedade

Os sintomas de ansiedade podem variar de pessoa para pessoa, mas geralmente incluem manifestações físicas e emocionais. É importante entender que a ansiedade não é um fenômeno exclusivamente psicológico. Ela também afeta o corpo e muitas pessoas com transtornos de ansiedade experimentam uma série de sintomas físicos que podem ser tão intensos ao ponto de se confundirem com outros problemas de saúde. Assim, os transtornos de ansiedade podem provocar sintomas físicos, emocionais e comportamentais.

Sintomas Físicos da Ansiedade

Os sintomas físicos mais recorrentes dos transtornos de ansiedade incluem:

  • Tensão muscular: A musculatura do corpo, especialmente nas regiões do pescoço, ombros e mandíbula, tende a se contrair, causando desconforto.
  • Taquicardia: O aumento da frequência cardíaca é o sintoma clássico da ansiedade. As palpitações e a sensação de coração acelerado são muito frequentes.
  • Falta de ar: A dificuldade para respirar ou "respiração curta" é recorrente em episódios de ansiedade, especialmente durante ataques de pânico.
  • Suor excessivo: Suor demasiado, especialmente nas palmas das mãos, axilas ou testa, mesmo em situações sem estresse imediato.
  • Tremores nas mãos: O nervosismo pode causar tremores involuntários nas mãos ou até mesmo em outras partes do corpo
  • Boca seca: A ansiedade pode diminuir a produção de saliva, resultando em boca seca e desconforto.
  • Dores no peito: O estresse físico pode provocar dores no peito ou uma sensação de pressão, frequentemente confundida com problemas cardíacos.
  • Náuseas e desconforto abdominal: O estômago e o sistema digestivo podem reagir de maneira exacerbada ao estresse, causando náuseas, cólicas ou diarreia.


Sintomas Emocionais e Psicológicos da Ansiedade

Os transtornos de ansiedade, além de causarem sintomas físicos, manifestam-se no emocional do indivíduo, afetando o seu bem-estar e a qualidade dos seus relacionamentos. Dentre os sintomas psicológicos da ansiedade, as pessoas experimentam:

  • Preocupação excessiva: A mente fica sem paz, devido à preocupação permanente com todas as atividades cotidianas. Tarefas do trabalho, problemas familiares, atividades pessoais, tudo está sendo processado com muita velocidade e os pensamentos estão sempre direcionados à próxima atividade que deve ser realizada, retirando o indivíduo do presente. Nesses casos, a meditação mindfulness pode auxiliar como uma terapia complementar e trazer a mente de volta ao presente.
  • Medo iminente: A sensação angustiante de que algo terrível pode acontecer a qualquer momento é outro sintoma comum. Esse medo pode não ter um motivo claro, mas também pode estar associado a algum evento na vida do indivíduo, como uma viagem, uma apresentação importante, algum evento social.
  • Irritabilidade: Pessoas ansiosas tendem a se tornar mais irritadas e impacientes, agindo de maneira ríspida no cotidiano.
  • Dificuldade de concentração: Como a mente está repleta de pensamentos voltados para o futuro, é comum que haja uma dificuldade de concentração em tarefas do dia a dia. Esse fator é particularmente prejudicial à produtividade, afetando o indivíduo no trabalho.
  • Nervosismo ou inquietação: As pessoas tendem a se sentir em alerta constante, sem relaxar. Daí a sensação de inquietude, pois vivem como se estivessem prestes a ter uma crise a qualquer momento.




Sintomas Comportamentais da Ansiedade

Todos os sintomas da ansiedade estão interligados, mas de maneira didática eles são divididos nesses três tipos: físicos, emocionais e comportamentais. Em relação ao comportamento, os indivíduos acometidos com o transtorno podem começar a adotar certos padrões com o desejo de evitar o desconforto da ansiedade. Veja exemplos de como a ansiedade afeta o comportamento:

  • Dificuldade para dormir (insônia): As pessoas com transtornos de ansiedade geralmente têm dificuldades para relaxar e adormecer. A mente hiperativa, cheia de preocupações, impede o descanso adequado.
  • Isolamento: Uma das respostas mais comuns à ansiedade é evitar situações que possam desencadear medo ou desconforto. Assim, alguém com transtorno de ansiedade pode evitar encontros sociais ou eventos públicos.
  • Procrastinação: A ansiedade provoca dificuldade de tomada de decisões e acaba deixando as pessoas sem realizar suas atividades. O medo do fracasso é outro motivo que gera a procrastinação.
  • Comportamentos de fuga: Em alguns casos, a pessoa pode buscar formas de "escapar" da ansiedade, como o abuso de substâncias.


O que é uma Crise de Ansiedade?

Uma crise de ansiedade é um episódio intenso e súbito em que os sintomas de ansiedade atingem um pico, causando grande desconforto e aflição. Geralmente, essas crises estão relacionadas a eventos estressantes. Elas costumam ter uma duração limitada, por volta de 30 minutos, mas podem deixar a pessoa com uma sensação de cansaço extremo ou vulnerabilidade quando passam.

Durante uma crise de ansiedade, a pessoa normalmente vivencia sintomas emocionais e físicos. Entre os sintomas psicológicos estão: sensação de medo, angústia, nervosismo, apreensão, sensação de estar fora de si mesma e de que o mundo ao redor não é real. A mente tende a se concentrar nas piores possibilidades, com o medo iminente de perder o controle ou até mesmo de morrer.

Já os sintomas físicos são consequência da liberação de hormônios como o cortisol e a adrenalina, que são ativados pelo sistema nervoso simpático em situações de estresse. Eles podem incluir:

  • Aceleração do batimento cardíaco e palpitações
  • Sensação de sufocamento ou falta de ar
  • Tontura e sensação de desmaio
  • Formigamento nas extremidades
  • Aumento da pressão arterial
  • Suor excessivo, boca seca, mãos geladas e pele fria
  • Náuseas, podendo até levar ao vômito
  • Vontade frequente de urinar


Durante uma crise, as pessoas sentem dificuldade em realizar tarefas cotidianas, e ficam incapazes de retomar a normalidade até que o episódio termine. Existem tratamentos eficazes para as crises de ansiedade, que podem ser feitos através de atendimentos psicológicos. Além disso, as técnicas de relaxamento e atenção plena podem reduzir os sintomas do transtorno.

Diferença entre Crise de Ansiedade e Crise de Pânico

A crise de pânico é um tipo específico de ataque de ansiedade e ambos possuem sintomas semelhantes. O que costuma diferenciá-los é a causa. A crise de pânico normalmente ocorre sem um motivo identificável, sem uma causa óbvia e costuma ser acompanhada de um medo súbito de morrer.

Uma crise de pânico, pode ocorrer de forma inesperada, sem qualquer aviso, e se caracteriza por ser extremamente aterrorizante.

Já a crise de ansiedade é desencadeada por algum estímulo estressante específico. A síndrome do pânico, por sua vez, é a recorrência de ataques de pânico, que acontecem com frequência e de forma imprevisível.

Os sintomas da crise de pânico incluem:

  • Aumento súbito do batimento cardíaco
  • Dificuldade para respirar ou sensação de sufocamento
  • Suor excessivo, calafrios ou tremores
  • Sensação de morte iminente ou perda de controle


Embora assustadoras, as crises de pânico geralmente não apresentam risco físico imediato. No entanto, quando são recorrentes, elas podem levar ao desenvolvimento de um transtorno de pânico, que prejudica significativamente a qualidade de vida da pessoa.

Tipos de Transtornos de Ansiedade

Pela visão da psiquiatria, os transtornos de ansiedade podem se manifestar de várias formas e cada tipo tem características específicas que afetam a vida cotidiana de maneira distinta. Os transtornos mais comuns incluem o transtorno de ansiedade generalizada (TAG), o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), a fobia social e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Veja a seguir os principais tipos de transtornos de ansiedade, com suas particularidades e sintomas típicos.

TIPOS DE TRANSTORNO DE ANSIEDADE SINTOMAS
Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) É caracterizado por preocupações persistentes e exageradas com as situações do cotidiano. As pessoas com esse tipo de transtorno se sentem ansiosas em relação ao trabalho, à saúde, aos relacionamentos, às finanças. Ou seja, o medo abrange basicamente todos os aspectos da vida e causa um forte desgaste emocional e físico no indivíduo.
Transtorno de Pânico É identificado quando a pessoa tem o histórico de vários episódios de ataque de pânico. A sensação de perda de controle, falta de ar, desespero, medo da morte são constantes.
Transtorno de Ansiedade Social (Fobia Social) Diz respeito a um medo de ser julgado, rejeitado ou humilhado em situações sociais. Ademais, a pessoa com fobia social tem pavor de apresentações em público ou reuniões. É um transtorno que prejudica as relações interpessoais e o desenvolvimento profissional.
Agorafobia É um transtorno relacionado ao medo de estar em lugares desconhecidos ou onde o indivíduo sente que não tem o controle sobre a situação. O medo de não conseguir escapar ou de não conseguir obter ajuda limitam o deslocamento de quem tem esse tipo de transtorno. Viajar de ônibus ou avião, estar em espaços fechados, como cinemas, lojas, ou mesmo no transporte público podem ser extremamente difíceis para quem tem agorafobia.
Fobias Específicas São medos irracionais e intensos de objetos ou situações específicas, como medo de voar, de aranhas, de cobras, de locais fechados ou de altura. Esses medos podem ser tão paralisantes que a pessoa afetada fará o possível para evitar enfrentar a situação ou objeto temido. Apesar de serem inconscientes, essas fobias podem gerar grande sofrimento emocional e interferir nas atividades diárias.
Mutismo Seletivo É um transtorno que afeta principalmente crianças e é mais comum em meninas. Caracteriza-se pela incapacidade de falar em determinadas situações sociais. As crianças com mutismo seletivo têm dificuldade em interagir fora do seu círculo familiar próximo, atrapalhando sua adaptação escolar e social.
Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) Ocorre após a pessoa viver uma situação traumatizante, como um acidente grave, um abuso ou violência. Ela se manifesta através de flashbacks, pesadelos e uma sensação de alerta. A pessoa fica revivendo o trauma e tende a evitar lugares e atividades que lembrem o evento traumático.
Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) Envolve a presença de pensamentos repetitivos: ideias, imagens ou impulsos que surgem de forma repetitiva e incontrolável. Para aliviar a ansiedade causada por esses pensamentos, a pessoa pode desenvolver comportamentos compulsivos, como lavar as mãos repetidamente, verificar várias vezes se a porta está trancada ou realizar constantes rituais de organização.



Vivemos em uma cultura que proporciona o desenvolvimento da ansiedade. Estamos sempre consumidos com as próximas tarefas que precisam ser realizadas e existe uma competitividade extrema por desempenho. Nesse sentido, mesmo que não ocorram fatores estressantes diretos, é possível que as pessoas desenvolvam algum transtorno de ansiedade devido ao estilo de vida que levam.

Além disso, a ansiedade pode ser causada por relacionamentos abusivos, ambientes familiares e profissionais tóxicos, traumas e estresse crônico. O histórico familiar também pode aumentar as chances de desenvolver o problema.

Relação entre Ansiedade e Depressão

É comum a coexistência da ansiedade com a depressão em uma mesma pessoa. Os sintomas de um transtorno acabam agravando os do outro, gerando um ciclo vicioso. Transtornos de ansiedade podem causar uma preocupação intensa em relação ao futuro que acabam gerando uma descrença no próprio potencial.

Além disso, pessoas deprimidas podem tentar usar substâncias como uma forma de anestesiar suas dores e acabam desenvolvendo crises de ansiedade devido ao consumo de drogas.

Psicólogo ou Psiquiatra: Quando Consultar Cada Um?

A escolha entre consultar um psicólogo ou um psiquiatra depende das necessidades e características de cada caso. Ambos os profissionais têm papeis complementares, mas com enfoques diferentes no tratamento da ansiedade.

  • Psicólogo: O psicólogo trabalha com o paciente para explorar e compreender as causas emocionais e comportamentais da ansiedade. Ele pode utilizar diversas abordagens terapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que foca em identificar e modificar padrões de pensamento disfuncionais que alimentam a ansiedade.
  • Psiquiatra: O psiquiatra, por sua vez, tem a capacitação necessária para diagnosticar transtornos mentais e, quando necessário, prescrever medicamentos, como antidepressivos ou ansiolíticos, para controlar os sintomas da ansiedade. Embora os psiquiatras também realizem sessões de psicoterapia, sua especialização é focada no tratamento medicamentoso e no diagnóstico de condições relacionadas a outros transtornos de saúde mental, como depressão, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ou transtornos de pânico.


A Psicanálise e o Tratamento da Ansiedade

A análise pessoal, por meio da psicanálise, também é eficaz no tratamento dos transtornos de ansiedade, pois trata a questão a partir do inconsciente. De acordo com a psicanálise, existe uma parte da mente humana que armazena conteúdos que o sujeito não consegue perceber conscientemente. Isso ocorre, dentre outros aspectos, porque esses elementos podem entrar em conflito com a imagem que a pessoa construiu a respeito de si mesma.

Para a psicanálise, a ansiedade excessiva ou patológica está frequentemente associada a esses conteúdos inconscientes. Em vez de ver os eventos estressores como a causa direta da ansiedade, a psicanálise considera que eles funcionam como gatilhos, que desencadeiam reações emocionais intensas. Esses gatilhos, na verdade, estão relacionados a experiências ou conflitos reprimidos no inconsciente, que ainda não foram processados.

Nesse sentido, a psicanálise entende que grande parte de nossas questões e conflitos mais profundos estão guardados no inconsciente, e, por isso, somos incapazes de reconhecê-los por conta própria. Isso é mais evidente ainda em relação aos traumas e emoções reprimidos durante a infância ou adolescência, que, mais tarde, podem se manifestar como sintomas de ansiedade na vida adulta.

O trabalho do psicanalista é ajudar o paciente a perceber que a situação imediata, que ele acredita ser a causa da ansiedade, é apenas um gatilho que ativa questões mais profundas e inconscientes. Durante a análise, por meio do discurso, o paciente passa a trazer suas questões e o psicanalista o ajuda a elaborar essas conexões.

Esse processo gradual permite que o paciente entre em contato com os conteúdos reprimidos do inconsciente, os reconheça e, ao fazer isso, reduza a sua ansiedade e insegurança. Portanto, pessoas que sofrem de ansiedade podem se beneficiar significativamente de um tratamento baseado nos princípios da psicanálise.

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Como tratar a ansiedade?

O tratamento para os transtornos de ansiedade é eficaz e pode ser realizado por meio de diferentes abordagens, incluindo terapias, o processo de análise, intervenções medicamentosas orientadas por um psiquiatra e mudanças no estilo de vida. O sucesso do tratamento depende não apenas das intervenções, mas também da qualidade da relação entre o paciente e o profissional de saúde.

A confiança e o vínculo terapêutico são fundamentais, pois ajudam no processo de autoconhecimento, essencial para o enfrentamento da ansiedade. Como explica o Dr. Rodrigo Bressan, “se a gente entende como a gente funciona, é mais fácil se autorregular emocionalmente e estabelecer estratégias de superação”. Isso significa que, quanto mais uma pessoa compreende seus próprios mecanismos emocionais, mais preparada ela estará para lidar com situações estressantes.

Perguntas Frequentes sobre Ansiedade

Pergunta 1: Ansiedade tem cura?

Sim, já existem vários tratamentos eficazes para os transtornos de ansiedade, que incluem intervenções e tratamentos psicológicos, psicanálise, medicamentos e técnicas de mindfulness. Pessoas com sintomas de ansiedade devem procurar atendimento, além de aliar a prática de exercícios físicos regulares e uma alimentação saudável.

Pergunta 2: Quais são os tratamentos disponíveis para a ansiedade?

Os tratamentos mais comuns incluem psicoterapia, medicamentos (como ansiolíticos e antidepressivos) e técnicas específicas, como a prática de mindfulness e a gestão do estresse.

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Referências:

https://www.who.int/

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/174/a-ciencia-dos-sentimentos-alcancando-bem-estar-psicologico

https://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/224_ansiedade.html

https://www.paho.org/pt/noticias/17-6-2022-oms-destaca-necessidade-urgente-transformar-saude-mental-e-atencao

A compreensão de neurose, psicose e perversão é fundamental para entender os conceitos centrais da teoria psicanalítica. Essas estruturas clínicas descrevem diferentes maneiras pelas quais o sujeito se relaciona com o mundo externo. Neste artigo, vamos explorar as principais diferenças entre neurose, psicose e perversão, suas origens e nas manifestações clínicas.



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Neurose: conflito e recalque

É uma estrutura clínica que os sintomas manifestados funcionam como uma expressão simbólica de um conflito psíquico subjacente, cujas raízes podem ser rastreadas na história infantil do indivíduo. Esse conflito origina-se de um compromisso entre os desejos inconscientes e os mecanismos de defesa, os quais buscam mitigar o impacto do desejo reprimido ou não realizado. Esse fenômeno é muitas vezes interpretado como um reflexo de tensões internas não resolvidas, que emergem na forma de distúrbios psicológicos ou somáticos.

Na estrutura neurótica, encontram-se dois possíveis diagnósticos que auxiliam o psicanalista na direção do tratamento, a histeria e a neurose obsessiva. Ambas representam características e sintomas específicos e se distinguem pelos mecanismos de defesa e por maneiras particulares de manifestação do conflito psíquico.

Histeria As duas formas sintomáticas mais comuns da histeria são a histeria de conversão e a histeria de angústia. Na histeria de conversão, o conflito psíquico se manifesta por meio de sintomas corporais diversos, que podem ter um caráter mais exacerbado. Já na histeria de angústia, a angústia tende a se fixar em um objeto específico do mundo externo, resultando em fobias. Mesmo na ausência de sintomas evidentes, como fobias ou conversões físicas, a especificidade da histeria está ligada a certos mecanismos psicológicos, especialmente o recalque (muitas vezes perceptível), e à predominância de determinadas identificações. Além disso, a histeria está profundamente associada ao conflito edipiano, com seus desdobramentos nos registros libidinais fálico e oral, que desempenham um papel central na dinâmica emocional do sujeito.
Neurose Obsessiva Nessa condição, o conflito psíquico manifesta-se por meio de sintomas compulsivos, como pensamentos obsessivos, a compulsão para realizar atos indesejados, resistência interna a essas tendências, rituais repetitivos, entre outros. Além disso, um traço distintivo desse tipo de neurose é a predominância de um modo de pensar caracterizado pela ruminação mental, pela dúvida constante, pelos escrúpulos, o que frequentemente resulta em inibições tanto do pensamento quanto da ação. Freud, ao longo do tempo, foi refinando sua definição das neuroses obsessivas, considerando suas manifestações e origens psíquicas, com ênfase nos conflitos inconscientes que geram essas condições.



Os sintomas neuróticos são, muitas vezes, uma representação simbólica de conflitos não resolvidos. São manifestações de uma luta interna entre o desejo e as exigências do mundo externo, ou seja, uma expressão de um desejo que não pode ser satisfeito diretamente e com isso se instaura o sintoma como uma formação de compromisso entre essas forças conflitantes.

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O que é psicose: a perda de contato com a realidade

Para Freud, a psicose se caracteriza por uma ruptura fundamental entre o sujeito e a realidade externa, indo além de simples sintomas de sofrimento psíquico, como ocorre nas neuroses. A principal distinção entre a psicose e a neurose, segundo Freud, é que o psicótico não possui a capacidade de reconhecer sua distorção da realidade. Enquanto o neurótico é capaz de perceber a disfunção de seus pensamentos e emoções, o psicótico vivencia um mundo completamente alterado, frequentemente marcado por delírios e alucinações.

Freud via a psicose como uma reconstrução inconsciente de uma realidade delirante ou alucinatória, onde o sujeito, isolado em sua própria interpretação do mundo, perde a conexão com a experiência compartilhada pela sociedade. Nesse sentido, a psicose foi entendida como uma reorganização psíquica que busca substituir a realidade externa por uma versão interna.

Afinal, o que é loucura?

O que a ideia de “normalidade” realmente significa? A psicanálise, desde seu início, desafia a ideia de “normalidade” como uma condição vista como “natural” do ser humano, e apresenta uma concepção mais nuançada dessa ideia. O professor, psiquiatra e psicanalista Marcelo Veras desvenda esses pensamentos no curso Somos Todos Loucos? De Perto, Ninguém é Normal.

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O que é perversão: desejo e transgressão

Freud reformula a concepção de perversão, distanciando-a das interpretações populares que a viam como um simples desvio da norma socialmente estabelecida. Embora a palavra "perversão" já fosse utilizada antes de Freud para descrever comportamentos que se afastavam do que era considerado sexualmente normal ou aceitável em uma determinada sociedade, Freud atribui a essa noção um significado mais profundo, relacionado aos processos inconscientes da pulsão. Para ele, a perversão não é apenas um desvio do comportamento socialmente esperado, mas um desvio da própria pulsão, que, em vez de alcançar o objeto tradicional de desejo, se desvia para outras formas de satisfação.

Ele também articula a perversão dentro de uma estrutura clínica mais ampla. Nesse contexto, a perversão é associada à maneira como o sujeito lida com a castração, um conceito fundamental na psicanálise. Ao contrário da neurose e da psicose, onde a castração é enfrentada de outras formas, a perversão é uma maneira de negar a castração. Essa negação não é uma simples rejeição, mas um modo de estruturar a sexualidade de forma a evitar o reconhecimento da falta, substituindo-a por uma busca incessante por objetos que permitam uma satisfação contínua, muitas vezes sem finalização.




Como aprender mais sobre a teoria psicanalítica

Se você se interessa em compreender melhor os complexos conceitos de neurose, psicose e perversão, fundamentais para a psicanálise, uma excelente maneira de aprofundar seus conhecimentos é através de um estudo estruturado e guiado.

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Resumo sobre neurose, psicose e perversão

A neurose, envolve os sintomas de angústia, compulsões e conflitos inconscientes; a psicose é caracterizada pela perda de contato com a realidade, e a perversão, envolve desvios da pulsão e a negação da castração.




Referências Bibliográficas:

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

Neste texto veremos um pouco sobre a teorização de Freud sobre o complexo de édipo. Uma das principais ideias da teoria psicanalítica, sendo revolucionária na maneira de pensar a constituição do sujeito e a sexualidade.



A história de édipo: um resumo

Freud se inspirou na tragédia grega de Sófocles Édipo Rei para teorizar sobre o conjunto das relações que a criança estabelece com as figuras parentais e que constituem uma rede em grande parte inconsciente de representações e de afetos entre os dois polos de suas formas positiva e negativa. (Kaufmann, p.135)

Édipo era filho de Laio e Jocasta, rei e rainha de Tebas e o casal recebeu uma profecia por meio de um oráculo de que Édipo iria matar o próprio pai e se casaria com sua mãe. E assustados com o revelado, o casal pediu para um servo matar a criança, contudo ele apenas abandonou o menino em uma árvore porque não teve coragem de matá-lo e com isso Édipo foi encontrado por um camponês que o criou.

Ao passar dos anos, Édipo reencontra com Laio, seu pai, e o mata, mas sem saber que este era seu próprio pai, e como recompensa por salvar Tebas de uma esfinge, se casa com Jocasta, também sem saber que a rainha era sua mãe. Então, a profecia se cumpriu.

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O complexo de édipo para a psicanálise

Pode-se dizer que o complexo de édipo está ligado ao período da constituição do eu, ou seja, atua como um organizador do sujeito. É uma fase do desenvolvimento infantil que a criança passa a ter uma atração pela figura que exerce a função materna, enquanto nutre uma rivalidade com a parte que faz a função paterna.

Freud não tem um texto específico sobre o complexo de édipo, mas no livro inaugural da psicanálise, A Interpretação dos Sonhos, ele já cita o mito do personagem, mas é apenas em 1910 que ele de fato teoriza sobre a questão.

A criança ao nascer necessita ser acolhida por outro ser humano e quem faz essa função materna fica sendo tudo para aquela criança, ou seja, seu primeiro objeto de amor. Com isso, a criança quer a mãe somente para ela e a função paterna entra para fazer essa separação e colocar um certo limite nessa relação mãe-bebê, para estabelecer limites, regras e normas que irão regular futuramente o desejo daquele bebê. Então, pai é visto como a figura que representa a lei e a autoridade, essencial para a formação do supereu, a parte do aparelho psíquico que internaliza os valores sociais e morais.

Na saída do Édipo, irá se constituir a forma que o sujeito irá se vincular com o mundo, com a possibilidade de ser neurótico, psicótico ou perverso, sendo estas as três grandes estruturas clínicas que fundamentam a teoria psicanalítica.

O complexo de édipo em meninos e meninas: características

O Complexo de Édipo apresenta diferenças significativas entre meninos e meninas. Nos meninos, o Édipo e o complexo de castração ocorrem simultaneamente. Já nas meninas, inicialmente se vivencia o pré-Édipo, seguido pelo complexo de castração, e, somente então, elas entram no Complexo de Édipo. Assim, pode-se afirmar que meninos e meninas experienciam o complexo de castração de maneiras distintas: os meninos abandonam o Édipo por medo da castração, enquanto as meninas ingressam no Édipo temendo ser castradas.

O momento crucial da constituição do sujeito situa-se no campo da cena edípica. Dessa forma, o Édipo não é somente o “complexo nuclear” das neuroses, mas também o ponto decisivo da sexualidade humana, ou melhor, do processo de produção da sexuação. Será a partir do Édipo que o sujeito irá estruturar e organizar, sobretudo em torno da diferenciação entre os sexos e de seu posicionamento frente à angústia de castração.

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As fases do desenvolvimento psicossexual

Ao investigar o complexo de Édipo, é fundamental considerar as diferentes fases do desenvolvimento psicossexual da criança, conforme delineado por Freud. Cada etapa — oral, anal e fálica — desempenha um papel crucial na formação da subjetividade

Fase Oral O desenvolvimento infantil inicia-se com uma fase centrada na região oral, que abrange desde o nascimento até cerca de um ano e meio. Nesta etapa, a amamentação se destaca como uma experiência fundamental, proporcionando prazer à criança através da sucção e da satisfação derivada da nutrição. Então, a boca é a principal fonte de prazer. A satisfação vem de atividades como mamar, chupar e explorar objetos com a boca.
Fase anal O prazer se concentra no controle dos esfíncteres. A criança experimenta a satisfação ao controlar a liberação e retenção das fezes. Nessa fase a criança passa a manifestar um interesse exacerbado pela região anal, frequentemente envolvendo-se em atividades relacionadas a suas fezes.
Fase fálica A atenção se volta para os órgãos genitais, e a criança começa a explorar a diferença entre os sexos. É nesta fase que surge o complexo de Édipo. Nessa fase, a criança também começa a explorar as questões de masculinidade e feminilidade.



É importante também observar o período de latência e a fase genital:

Período de latência: aqui acontece um intervalo caracterizado pela repressão de desejos inconscientes. Durante essa etapa, a criança já superou o complexo da fase fálica e, embora os impulsos e desejos sexuais possam persistir, eles se manifestam de maneira assexuada por meio de atividades como amizades, estudos e práticas esportivas, até o início da puberdade.

Período genital: seria o estágio final do desenvolvimento psicossocial, onde o sujeito direciona seus investimentos sexuais - libido - para os órgãos genitais. Esse investimento que vai para além dos seus primeiros cuidadores o leva a se interessar por relações amorosas.

Assim, o complexo de édipo diz respeito de como o sujeito irá se relacionar com o mundo exterior. Então o filho se afeicçoa com o genitor do sexo oposto e rivaliza com o genitor do mesmo sexo. Então pode-se dizer que esse triângulo edípico é o que constitui o humano, tendo em vista que os afetos surgem nesse momento.




Função materna e função paterna

A análise das funções materna e paterna proposta por Lacan revela que não é necessário ter uma mãe ou um pai biológicos para que as dinâmicas do complexo de Édipo se manifestem. Essas funções são simbólicas e podem ser exercidas por outras figuras ou instituições que representem o cuidado, a proteção e a introdução da lei. Dessa forma, a estrutura psíquica e as relações de desejo e rivalidade no contexto do complexo de Édipo são acessíveis a qualquer indivíduo, independentemente de sua configuração familiar, enfatizando a primazia dos significantes sobre as figuras biológicas na constituição da subjetividade.

A função materna transcende a mera figura biológica da mãe, assumindo um papel simbólico que engloba nutrição, cuidado e a introdução da criança no universo dos significantes. Essa função se relaciona à criação de um espaço de amor e proteção, essencial para o desenvolvimento das primeiras relações objetais, pois oferece um ambiente propício à manifestação do desejo. Sua importância se revela na formação do eu e na capacidade de estabelecer vínculos sociais, com a mãe exercendo a função de primeira portadora do desejo, fundamentando, assim, as bases para as relações futuras da criança.

A função paterna não está necessariamente ligada à figura biológica do pai, representando a introdução da lei, da ordem e da castração na vida da criança. Nesse contexto, o pai emerge como o agente responsável por conduzir a criança ao mundo dos limites e normas que são essenciais para a internalização da lei social e para a separação do desejo materno, favorecendo assim a autonomia do indivíduo.

Sua importância se manifesta na formação do supereu, sendo crucial para a capacidade da criança de lidar com a frustração e a ambivalência, permitindo-lhe inserir-se adequadamente na estrutura social e desenvolver uma identidade que não se fundamenta exclusivamente no desejo materno.

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Como aprender mais sobre o complexo de édipo?

O conceito do complexo de Édipo, desenvolvido por Freud, é uma das ideias centrais da psicanálise e merece um estudo aprofundado. Para compreender sua importância, é fundamental analisar as obras de Freud, explorando suas principais obras, como "A Interpretação dos Sonhos" e "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade". Nesses textos, Freud elucida as fases do desenvolvimento psicosexual e a importância da resolução do complexo de Édipo para a formação do eu.

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Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (1905). São Paulo: Cia das Letras, 2011.

______. A Dissolução do Complexo de Édipo (1924). São Paulo: Cia das Letras, 2016.

LACAN, Jacques. O Seminário 5 - As Formações do Inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.



Impressionismo: O que é, Características, Principais Artistas

O impressionismo foi um divisor de águas na arte do mundo ocidental do final do século XIX. Os artistas que criaram esse movimento na França estavam insatisfeitos com as limitações impostas pela academia, que definia quais deveriam ser os temas das obras de arte, bem como as cores utilizadas e a técnica aplicada. Até mesmo o local onde os artistas produziriam suas telas era imposto: tinha que ser no atelier.

Os impressionistas bateram de frente com esses “dogmas” acadêmicos e foram em busca da liberdade criativa. Nomes como Claude Monet e Pierre-Auguste Renoir estudaram a fundo as cores e a luminosidade, percebendo que os contornos nítidos das pinturas feitas até ali não condiziam com a realidade. Assim, criaram pinturas com pinceladas mais soltas, abandonando a nitidez e criando efeitos visuais inovadores a partir da indefinição dos contornos e do uso de cores variadas, inclusive nas sombras. Inicialmente, o movimento foi depreciado pela crítica, mas logo as pessoas passariam a compreender a proposta impressionista que marcou um ponto de virada na História da Arte.

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Como surgiu a Pintura Impressionista?

O impressionismo nasceu na segunda metade do século XIX, na França. O contexto histórico da época foi marcado pelas consequências da Revolução Francesa do final do século XVIII, que tinha promovido uma verdadeira ruptura com a tradição. A quebra de paradigmas sociais abriu espaço para os artistas questionarem também os preceitos das Escolas de Belas Artes.

A primeira metade do século havia sido marcada pela volta ao clássico, com o neoclassicismo. Esse movimento iria conviver com o romantismo, expressão artística que, dentre outras características, se voltou bastante para a natureza, com o desenvolvimento de muitas pinturas de paisagens. É nesse cenário que surge o impressionismo.

Os artistas não estavam mais interessados em pintar temas históricos ou mitológicos. Agora, havia um interesse maior pelas cenas do cotidiano, que não estavam entre os grandes temas acadêmicos. Aliás, chocar a burguesia a partir da escolha de novos temas e do uso de técnicas diferenciadas acabou virando uma espécie de desejo dos jovens artistas da época, que se consideravam uma espécie de classe à parte da sociedade.

É nesse momento que entra em jogo a representação da realidade e os artistas do impressionismo ousaram ao inventar novas soluções criativas que desafiavam as convenções artísticas da época. O maior interesse da pintura impressionista era capturar a luz e o movimento, da maneira como os vemos, com toda a sua fugacidade. Assim, os artistas passaram a pintar ao ar livre e criaram novas imagens, voltadas para temas do cotidiano, onde realizavam seus estudos de cor, luz e movimento. Com suas pinturas, questionam os contornos bem delineados da pintura feita nos ateliês, pois percebem que na natureza, ao ser observada ao ar livre, não existiam essas linhas tão definidas.

As pinceladas desmembradas, a mistura de cores vibrantes e as novas concepções a respeito da representação do mundo fizeram com que o impressionismo influenciasse todas as futuras expressões da arte moderna. A ideia era confiar nos próprios olhos e não mais seguir as receitas prontas dadas pela academia sobre o que é a arte.

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A primeira exposição Impressionista

A Academia de Belas Artes, que organizava a curadoria do tradicional Salão Oficial de Paris, no ano de 1874, recusou obras de diversos artistas. Foi assim que aconteceu o Salão dos Recusados. No dia 15 de abril deste mesmo ano, cerca de 30 artistas que não haviam sido selecionados para a mostra oficial, dentre eles Claude Monet, Edgar Degas, Pierre-Auguste Renoir, Édouard Manet, Berthe Morisot e Paul Cézanne resolvem expor no atelier do fotógrafo Félix Nadar.

É quando Monet expõe o seu quadro Impressão: Nascer do Sol que causa bastante polêmica. Era uma pintura rápida, quase um esboço, cujo objetivo era captar as impressões daquele momento. Tornou-se a pintura mais marcante do impressionismo e foi justamente a ela que um crítico de arte se referiu ao desqualificar as obras da exposição. No livro A História da Arte, do historiador Ernst Gombrich, uma crítica ao movimento foi transcrita:

“A Rua Le Peletier é uma sucessão de desastres. Após o incêndio na Ópera, temos agora uma outra catástrofe. Acaba de ser lançada uma exposição na Durand-Ruel que supostamente contém pinturas.

Entro, e meus olhos horrorizados são assombrados por uma visão terrível. Cinco ou seis lunáticos, entre eles uma mulher, reuniram-se para expor suas obras. Vi gente chorando de rir diante das telas, mas meu coração verteu sangue quando as vi. Esses pretensos artistas autointitulam-se revolucionários, “impressionistas”. Pegam um pedaço de tela, tinta e pincel, besutam-na com manchas aleatórias e assinam seu nome. É uma ilusão como se internos de um hospício pegassem algumas pedras na rua e julgassem ter encontrado diamantes.”

(Nota publicada em uma revista humorística semanal em 1876)

Quadro 'Impressão: Sol Nascente' de Claude Monet, pintado em 1872. Retrata uma cena ao amanhecer, com sol laranja brilhante refletindo na água, cercado por barcos e uma névoa suave, utilizando pinceladas soltas e cores vibrantes.
Impressão: Sol Nascente, Claude Monet. 1872. Óleo sobre tela, 48X63 cm. Museu Marmottan, Paris.


Apesar da crítica pejorativa, os artistas acabam adotando o termo para se autodenominarem. E assim como aconteceu com outros movimentos, como o cubismo e o barroco, o impressionismo foi batizado a partir de um comentário negativo.

A pintura impressionista estava interessada no instante, no momento imediato que pode ser captado pelo olhar sensível. Os artistas deste movimento tinham uma percepção fenomenológica da realidade, eles não estavam preocupados com o que pensamos ser a realidade, mas sim em como ela aparece diante dos nossos olhos.

Por isso, eles são considerados revolucionários na arte. Foram os primeiros a perceber a mistura das cores na natureza e a pintá-las. A questão do movimento também foi essencial para os pintores. Eles mostraram o movimento a partir de uma nova perspectiva: focavam em um único acontecimento da cena e o restante aparecia de forma desfocada, como um amontoado de formas indefinidas. Isso tudo demonstra o interesse desses artistas pelo estudo de óptica. Possivelmente, o surgimento da fotografia no início do século XIX contribuiu para as novas concepções desses artistas a respeito da captação da realidade a partir dos nossos olhos.

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Quais são as características do Impressionismo?

O movimento impressionista ficou marcado por suas inovações técnicas e ideológicas. Os artistas do movimento se inspiraram em cenas do dia a dia, observando paisagens, pessoas e atividades sociais, como danças e festividades.

Ao invés de produzir imagens que traziam os tradicionais temas históricos ou mitológicos, as obras impressionistas mostravam momentos efêmeros, como encontros de pessoas em tardes ensolaradas. Dentre as principais características do movimento, destacam-se:

  • A inovação nas pinceladas: os artistas pintam de uma forma diferente, fazendo pinceladas mais curtas e livres na tela. Assim, criam uma sensação de movimento e uma maior dinâmica de cores, que deixam de ser estáticas e frias.
  • Abandono dos Contornos Nítidos: os contornos das obras impressionistas são propositalmente indefinidos, sugerindo as formas, em vez de criar delineados.
  • Uso de cores vibrantes: as cores dos impressionistas se misturam e são aplicadas muitas vezes diretamente na tela. Isso porque os artistas pintavam o efêmero e não tinham mais tempo para realizar uma minuciosa mistura de cores. A ideia agora era captar o instante.
  • Pintura ao ar livre: influenciados por Monet, que era um grande defensor da pintura ao ar livre, os impressionistas saem dos ateliês para observarem as cenas in loco.
  • Estudo da luz: a luz natural estava entre os temas centrais para os impressionistas. Em todas as composições, o elemento da luminosidade era central. A partir do estudo da luz, os artistas criaram obras com uma nova percepção das cores. Isso se refletiria, inclusive, nas sombras que ganharam nuances e deixaram de ser um reflexo amorfo e uniforme.
  • Momentos Efêmeros: o artista agora estava pela primeira vez tendo a liberdade de escolher os seus temas. Não precisava mais fazer uma pintura oficial. Dessa maneira, tudo poderia ser fonte de inspiração, como o nascer do sol ou um passeio de barco.
  • Representação do Movimento: no impressionismo, o movimento ganha um novo brilho. As cenas não parecem estáticas, pois com o uso das novas técnicas, os artistas conseguem capturar o instante de uma maneira mais dinâmica.

Principais Artistas do Impressionismo

Aqui está uma pequena tabela com os principais pintores do movimento impressionista.

Pintores Impressionistas Características Principais Obras
Claude Monet Foi o primeiro grande nome da pintura impressionista. A partir do quadro dele intitulado Impressão: Nascer do Sol, o movimento foi nomeado. Teve influência da arte japonesa e chegou a cultivar um jardim aquático japonês. - Impressão: Nascer do Sol (1872)

- Mulher com sombrinha (1875)
Pierre-Auguste Renoir Conhecido pelo seu estudo da luz, o pintor ficou famoso por pintar pessoas banhadas em uma luminosidade vibrante, preferencialmente em cenas ao ar livre. - O Baile no Moulin de la Galette (1876)

- O Almoço dos Barqueiros (1881)
Edgar Degas Consagrado por suas pinturas de balé clássico, Degas costumava frequentar os teatros para criar suas composições. - Sala de Ensaio do Balé no Teatro da Ópera (1872)

- Bailarinas no Palco (1879)
Edouard Manet Trouxe cenas do cotidiano para a pintura, abordando a nudez de forma crua e não idealizada. Trabalha muito bem o jogo de luz e sombras. - O Almoço na Relva (1863)

- Claude Monet pintando no seu barco-ateliê (1874)
Camille Pissarro Destaca-se pela captura da vida cotidiana e das paisagens, utilizando uma técnica de pinceladas rápidas e uma paleta rica em luz, que transmite os efeitos das mudanças sazonais e da luz natural. - O Boulevard Montmartre em uma Manhã de Inverno (1897)

- Praça do Teatro Francês (1898)
Berthe Morisot Uma das poucas mulheres do movimento, suas obras exploram a vida privada das mulheres, além de uma abordagem intimista e emocional que captura momentos efêmeros do cotidiano. - O Berço (1872)

- Mulher Jovem Tricotando (1885)


Principais Obras Representativas do Impressionismo

Confira a seguir algumas das principais obras impressionistas, além da já citada Impressão: Nascer do Sol, de Monet.

Mulher com Sombrinha (1875) | Claude Monet

Uma mulher elegante, vestida com um vestido claro é vista ao lado de um menino enquanto segura uma sombrinha em um dia ensolarado. Ela está em um campo florido, cercada por uma paisagem verdejante. A luz suave e difusa cria sombras delicadas e destaca os detalhes do vestido, transmitindo uma sensação de movimento e leveza, típica da estética impressionista.
Mulher com Sombrinha, Claude Monet. 1875. Óleo sobre Tela, 100 x 81cm. National Gallery of Art em Washington, Estados Unidos.


O Almoço dos Remadores (1880) | Pierre-Auguste Renoir

Um grupo de pessoas realiza uma celebração da vida social e o pintor capta a alegria e a luz do verão. As figuras estão em poses descontraídas, conversando e rindo, enquanto bebidas e pratos estão sobre a mesa.
O Almoço dos Remadores, Auguste Renoir, 1880. Óleo sobre tela, 130x173cm. The Phillips Collection, Washington, EUA.


Bailarina Balançando (1879) | Edgar Degas

Retrata uma cena das bailarinas dançando durante um espetáculo, destacando o movimento e o figurino.
Bailarina balançando (bailarina verde), Edgar Degas, 1879. Pastel e guache sobre papel, 64x36cm. Museu Nacional Thyssen-Bornemisza, Madrid.


Boulevard Montmartre, Manhã, Tempo Nublado (1897) | Camille Pissarro

Uma cena urbana retrata o Boulevard Montmartre em um dia nublado, com pessoas caminhando nas calçadas e carruagens na rua. Edifícios históricos cercam a área, e a paleta de cores suaves, com tons de cinza e marrom, reflete a atmosfera melancólica do clima. Pissarro utiliza pinceladas soltas para capturar a vida cotidiana e a luz difusa, criando uma sensação de movimento e dinamismo na cena.
Boulevard Montmartre, Manhã, Tempo Nublado, Camille Pissarro, 1897. Óleo sobre tela, 73 x 92 cm. National Gallery of Victoria, NGV. Melbourne , Victoria , Austrália.



O Berço (1872) | Berthe Morisot

Um delicado retrato da maternidade, com uma mulher diante do berço observando um bebê, refletindo um momento cotidiano da vida feminina.
O Berço, Camille Pissarro, 1872. Óleo sobre tela, 46 x 56 cm. Museu de Orsay, Paris, França.


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Impacto e Legado do Impressionismo

O movimento impressionista revolucionou a arte do final do século XIX, abrindo espaço para uma nova forma de ver e representar o mundo. O pintor Claude Monet, que foi um dos pioneiros do movimento, mostrou a importância da captura da luz in loco. Além disso, a abordagem inovadora da pintura impressionista teve influência das gravuras japonesas. Foi dessa arte oriental que os artistas beberam para elaborar composições sem uma perspectiva central e com enquadramentos diferentes do habitual. Inclusive, o próprio Monet cultivava um jardim aquático de inspiração japonesa, de onde tirou a inspiração para pintar a série de quadros da sua ponte japonesa.

Quadro 'Ponte sobre um lago de nenúfares' de Claude Monet, pintado em 1899. A obra apresenta uma ponte curva sobre um lago repleto de nenúfares, com reflexos vibrantes na água e uma rica paleta de verdes.
Ponte sobre um lago de nenúfares, 1899, Claude Monet. 1872. Óleo sobre tela, 92,7 x 73,7 cm. Coleção HO Havemeyer, legado da Sra. HO Havemeyer, 1929


Monet e seus contemporâneos perceberam que a natureza não era apenas um objeto a ser retratado, mas uma experiência a ser vivida e transmitida. Ao adotar uma abordagem mais subjetiva, os impressionistas estabeleceram as bases para a Arte Moderna, permitindo que os artistas explorassem novas formas e técnicas que ainda não haviam sido concebidas. O uso de pinceladas curtas e rápidas, que parecem caóticas de perto, revela, ao serem observadas à distância, uma harmonia e vitalidade que desafia a percepção tradicional.

A resistência inicial ao Impressionismo foi significativa, com muitos críticos e o público não compreendendo imediatamente a proposta dos artistas. Era necessário um novo olhar, uma nova maneira de ver a arte. Essa necessidade de distância física para que a obra "ganhasse vida" demonstra a ruptura com as expectativas anteriores. Contudo, com o passar do tempo, o Impressionismo foi ganhando espaço e respeito, e artistas como Monet e Renoir alcançaram fama e reconhecimento em vida, consolidando seu legado em importantes coleções públicas.

Além disso, o Impressionismo preparou o terreno para movimentos subsequentes, como o Pós-Impressionismo e o Modernismo. Artistas como Paul Cézanne e Vincent van Gogh, que foram influenciados pelos impressionistas, continuaram a explorar novas formas de expressão, cada um à sua maneira. O pontilhismo, uma técnica desenvolvida no Pós-Impressionismo, exemplifica a evolução da experiência estética proposta pelos impressionistas.

O Impressionismo iniciou uma nova forma de perceber e representar o mundo, mas continuou querendo representá-lo. As transformações estéticas revolucionaram o fazer artístico, mas os artistas continuavam buscando ilustrar a realidade. A arte impressionista abriu caminhos para a inovação criativa que, posteriormente, iria se manifestar nas vanguardas europeias.

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Perguntas Frequentes sobre Impressionismo

O que é Impressionismo?
O Impressionismo é um movimento artístico que surgiu no final do século XIX, na França. É caracterizado pela captura da luz e do movimento através de pinceladas soltas e cores vivas.

Quais são as principais características do Impressionismo?
As características do movimento incluem o abandono dos contornos nítidos e o uso de pinceladas aleatórias, o uso de cores puras, a observação da natureza e a captura da luz do instante observado. Além disso, os artistas buscavam representar cenas simples do cotidiano.

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Referências:

https://www.marmottan.fr/en/

https://mam.org.br/

https://www.musee-orsay.fr/en

GOMBRICH, E.H. A História da Arte



Se você busca um resumo sobre o antropocentrismo, seus conceitos, ideias, além de um aporte sobre qual visão essa corrente defende, está no lugar certo. Ao longo desse artigo, vamos destrinchar o tema a partir do seguinte guia:



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De forma geral, podemos definir o antropocentrismo como um conceito filosófico que acredita na importância e preponderância do potencial humano, principalmente em comparação às demais coisas que compõem o universo.

Ou seja, tem como objeto de estudo o ser humano, compreendendo-o como um ser dotado de inteligência e que, por isso, é capaz de usar a razão para explicar o cosmos, a vida e os elementos que estão ao seu redor.

Trata-se de uma visão de mundo que usa o “homem” como principal referencial, ou que interpreta a realidade sob uma perspectiva dos valores, feitos e experiências humanas.

Desenho homem Vitruviano.
Desenhado por Leonardo da Vinci em 1490, o Homem Vitruviano é um dos mais conhecidos símbolos do antropocentrismo e do renascimento. As proporções matemáticas da imagem são destacadas como forma de enaltecer a simetria básica do corpo humano, destacando o olhar cuidadoso do pintor para o ser humano e para as medidas matemáticas. (Fonte: Leonardo Da Vinci - Photo from Luc Viatour.. 2007-09-08)


Qual o conceito de antropocentrismo e como ele influenciou a Filosofia Moderna?

Para compreender o que é o antropocentrismo é necessário, primeiro, saber sobre quais bases essa filosofia foi desenvolvida.

A visão antropocêntrica está associada diretamente à queda da Idade Média, da acepção medieval de mundo e do referencial predominante à época - o teocentrismo. Enquanto este acreditava em uma realidade totalmente orientada por e para Deus, advindo daí o termo "teo (Deus) + centrismo (centro)", o antropocentrismo propunha uma crítica direta a tal modelo.

Dessa forma, utilizava o "homem" como seu ponto de partida para a compreensão do universo, explicando os fenômenos cosmológicos e naturais não mais pela lógica da fé, mas sim pela racionalidade.

Assim, podemos definir o antropocentrismo como uma visão de mundo racionalista e científica, que tem o ser humano como figura central, priorizando a experimentação como seu método oficial de checagem dos fatos.

Quando surgiu o antropocentrismo?

O antropocentrismo foi estruturado em meados do século XV e XVI, enquanto a Europa passava por grandes transformações, tais quais as navegações, a reforma protestante, o surgimento da burguesia, entre outros marcos históricos que indicavam a ruptura do sistema feudal com a passagem para a dinâmica mercantil/capitalista.

Na prática, o conceito filosófico fez parte do movimento humanista renascentista, que buscava incentivar a reflexão a partir da cientificidade, afastando-se diametralmente da crença de uma realidade condicionada às vontades de uma divindade.

Por fazer tal crítica ao teocentrismo e por estabelecer novos caminhos para a filosofia moderna em geral, o antropocentrismo influenciou significativamente o desenvolvimento de diversas áreas do conhecimento, como as ciências naturais, a política e a arte.

Figura de Nicolau Copérnico
Nicolau Copérnico (1473 - 1543) é reconhecido por ter desenvolvido a teoria do “Heliocentrismo”, a qual acreditava que a Terra girava ao redor do sol e não o contrário - como se acreditava até então. A partir dessa perspectiva, o teocentrismo e o geocentrismo (defendidos pela Igreja Católica) passaram a ser questionados tecnicamente, o que contribui para uma transformação dos paradigmas de compreensão do mundo e da humanidade. Os estudos Copérnicos são considerados marcos pioneiros do antropocentrismo.(Fonte: Domínio Público)


Esse pensamento voltado ao ser humano foi essencial para a consolidação do racionalismo, abrindo espaço, inclusive, para que outras escolas filosóficas importantes prosperassem, como o empirismo e o iluminismo. Ambas valorizavam a razão e a experiência humana como fontes de conhecimento, adequando suas pautas aos ideais antropocêntricos.

Assim, a partir da sistematização do antropocentrismo, a sociedade ocidental passou a se organizar de modo a objetivar o progresso humano, o desenvolvimento tecnológico e a exploração dos recursos naturais para benefício da humanidade e do seu avanço.

Nesse contexto, a subordinação a uma ordem divina foi abdicada, ao passo que outras fontes de verdade, que não aquelas dispostas nas liturgias religiosas, passaram a ser consideradas legítimas.

Ainda que a fé continuasse como parte constitutiva da realidade da época, não sendo deixada de lado, o antropocentrismo possibilitou que a realidade também fosse confrontada com a racionalização.

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Diferença entre teocentrismo e antropocentrismo

Tanto o antropocentrismo quanto o teocentrismo desempenharam papeis fundamentais na formação do pensamento ocidental ao longo dos séculos, mas diferem-se essencialmente em seu ponto de partida para interpretar a realidade.

No teocentrismo, Deus é o centro absoluto e ocupa uma posição de superioridade hierárquica em relação a todas as outras coisas no universo, sendo a divindade a única fonte legítima para explicar o mundo natural e a vida humana. Essa visão teocêntrica foi amplamente promovida pela Igreja Católica durante a Idade Média, reforçando sua autoridade e influência sobre a sociedade.

Com o surgimento do antropocentrismo, porém, a centralidade foi transferida do divino para o ser humano, destacando a racionalidade e a experimentação científica como as principais formas de interpretar a realidade.

Aspectos Teocentrismo Antropocentrismo
Conceito Visão de mundo que coloca Deus como o centro de tudo, sendo a divindade a fonte de explicação do universo e da vida humana. Perspectiva filosófica que coloca o ser humano como o centro do universo, explicando a realidade a partir da racionalidade e da experiência humana.
Período Predominou durante a Idade Média (séculos V-XV). Surgiu no Renascimento (séculos XV-XVI), com forte influência nas eras subsequentes.
Fundamentos Explicação dos fenômenos a partir da fé e das escrituras sagradas. Busca pela explicação científica, racional e metodológica dos fenômenos.
Figura central Deus e as divindades. O ser humano, com ênfase em sua capacidade de raciocínio.
Relação com a ciência A ciência subordinada à teologia e aos dogmas religiosos. A ciência desvinculada da religião, centrada na observação, experimentação e raciocínio lógico.
Expoentes Santo Agostinho (354-430), Tomás de Aquino (1225-1274). Leonardo da Vinci (1452-1519), Nicolau Copérnico (1473-1543), René Descartes (1596-1650).



O filósofo alemão Ludwig Feuerbach (1804 - 1872), em sua crítica às religiões e ao teocentrismo, sugeria que ambos os paradigmas não seriam necessariamente opostos, mas sim duas faces de uma mesma moeda.

Para ele, as religiões teriam sido criadas para atender às necessidades humanas, funcionando como uma projeção dos anseios e fragilidades do ser humano.

Nesse sentido, mesmo o teocentrismo, que colocava Deus no centro, serviria indiretamente ao homem oferecendo consolo e explicações que ajudassem a minimizar suas angústias existenciais.

Contudo, a maioria dos estudiosos e a visão comum tendem a interpretar o antropocentrismo e o teocentrismo como entendimentos contrastantes, alicerçados nas diferenças evidenciadas na tabela acima.

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Resumo do Antropocentrismo em 10 tópicos

Para sistematizarmos o conhecimento, vamos compreender o que é o antropocentrismo por meio de um resumo do que apresentamos até aqui.

Dizemos, assim, que o antropocentrismo refere-se à uma visão e a um conjunto de ideias que tem o ser humano como seu referencial de compreensão de mundo.

É uma das principais críticas ao teocentrismo, tendo como objetivo a observação das relações humanas, sociais e naturais a partir da racionalidade, da cientificidade e da experimentação.

Ao promover essa ruptura com a perspectiva teocêntrica, o antropocentrismo se tornou um pilar fundamental do pensamento moderno, moldando disciplinas como a ciência, a política, a filosofia e a ética.

Antropo (homem) + centrismo (centro).

Assim:

  1. É estruturado em meio à queda da Idade Média, do sistema feudal e da crise do teocentrismo (séculos XV e XVI);
  2. Faz parte do humanismo renascentista e tem na figura de Nicolau Copérnico um de seus marcos criadores;
  3. Prioriza o ser humano como figura central;
  4. Distancia-se da visão de mundo subordinada às vontades de uma divindade e das escrituras religiosas (teocentrismo);
  5. Difunde o pensamento científico, tecnicista e metodológico;
  6. Propõe uma perspectiva na qual o ser humano é o ponto central.
  7. Marca o início da Idade Moderna e também do sistema econômico mercantil (capitalista).
  8. Impactou as artes e as culturas, refletindo em uma produção artística que se preocupava com a representação do corpo humano, das perspectivas geométricas e do indivíduo como centro das obras.
  9. Influenciou um novo olhar para a ética e a moral, assim como a filosofia moderna, afastando esses conceitos dos preceitos religiosos de bom e ruim, bem e mal.
  10. Foi abordado por diversas áreas para além da filosofia, utilizado, inclusive, como discurso de justificação para a exploração dos recursos naturais e do meio ambiente.

Dicionário Michaelis



antropocentrismo

an·tro·po·cen·tris·mo

sm


Filos, Rel Sistema filosófico ou crença religiosa que considera o homem como o fato central ou mais significativo do Universo ou, ainda, como objetivo último de toda a realidade.




Qual a principal ideia do antropocentrismo?

A principal ideia do antropocentrismo é a valorização do ser humano como o centro de todas as coisas.

O homem deixa de ser um espectador passivo dos desígnios divinos, tornando-se um agente ativo da busca pelo conhecimento e da transformação da realidade.

Para isso, utiliza a inteligência e a razão, desenvolvendo condições ideias para que as diversas hipóteses acerca do que ocorre à nossa volta sejam empiricamente testadas e validadas.

Além disso, estabelece uma crítica robusta ao teocentrismo e aos ideais da Igreja Católica, assim como é um dos grandes marcos da filosofia moderna, das ciências, artes, cultura, entre outros campos.

Qual é a visão antropocêntrica?

A visão antropocêntrica é fundamentada na crença de que o ser humano ocupa uma posição privilegiada no universo, dotado de inteligência e racionalidade para moldar e transformar seu ambiente.

Nessa perspectiva, a humanidade não é mais subjugada por forças místicas ou divinas, mas, sim, torna-se o centro da reflexão filosófica, científica e moral.

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Críticas modernas e as controvérsias do antropocentrismo

Ainda que o modelo antropocêntrico tenha guiado significativamente a filosofia ocidental, a necessidade de uma nova relação entre a humanidade e a natureza, na qual não há mais a sobreposição da primeira à segunda, propicia o debate acerca da sua falibilidade.

Na prática, o crescimento da consciência ecológica moderna, as urgências climáticas constantes e as questões ambientais refletem também na reavaliação das bases antropocêntricas e na proposição de outros paradigmas, tais quais o biocentrismo - uma visão mais holística e inclusiva, que reconhece a importância de todos os seres vivos e da natureza como um todo.

O biocentrismo questiona a centralidade do ser humano e defende que a natureza e o meio ambiente possuam acesso à dignidade e proteção, sendo sujeitos de direitos em sua própria essência.

Tal mudança de referencial é exemplificada, por exemplo, na Constituição do Equador de 2008 - a primeira do mundo a reconhecer a natureza como sujeito de direitos, equiparando-a à dignidade humana.

esquema que explica a lógica antropocêntrica e biocêntrica.
Na dinâmica estabelecida à esquerda (antropocêntrica), o ser humano encontra-se em posição de superioridade em relação aos demais elementos; já no biocentrismo, há uma proposta para que todos os seres da natureza/meio ambiente coexistam em harmonia e com iguais direitos.


Além disso, as críticas contemporâneas ao antropocentrismo não se limitam apenas à sua visão restrita sobre a natureza, como também apontam para a sua origem e implicações sociais.

Em muitos de seus desdobramentos, o antropocentrismo é frequentemente associado a uma perspectiva eurocêntrica, que privilegia a experiência e a visão de mundo do "homem europeu", deslegitimando outras culturas, etnias, gêneros e formas de vida.

Por isso, as perspectivas que têm emergido nos últimos anos representam um convite à construção de novos modelos e conceitos que priorizam a sustentabilidade, a justiça social e o respeito mútuo.

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Referências:

DAITX, Vanessa Vitcoski. O ensino de ciências e a visão antropocêntrica. 2010. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Biociências, Comissão de Graduação do Curso de Ciências Biológicas, Porto Alegre, 2010. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/35277#:~:text=O%20antropocentrismo%20consiste%20na%20vis%C3%A3o,n%C3%A3o%20sustent%C3%A1vel%20dos%20recursos%20naturais Acesso em: 20 out. 2024.







O conceito de inconsciente foi desenvolvido por Sigmund Freud em seu influente livro A Interpretação dos Sonhos, publicado em 1900. Esta obra é amplamente reconhecida como a peça inaugural da psicanálise, estabelecendo as bases para a compreensão do aparelho psíquico proposto por Freud.

Neste texto iremos ver:



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O que é a interpretação dos sonhos para Freud?

O livro A Interpretação dos Sonhos, escrito por Sigmund Freud, não apenas estabeleceu as bases fundamentais da teoria psicanalítica, mas também marcou o início da psicanálise. Reconhecida como a obra mais significativa da vasta produção de Freud, esse livro revolucionário apresentou conceitos cruciais que moldaram a psicanálise. Entre os principais aportes, Freud propôs e formulou nesse texto uma estrutura de aparelho psíquico, que abrange os níveis consciente, inconsciente e pré-consciente.

Capa do livro A Interpretação dos Sonhos (1900), de Sigmund Freud, volume 4 da coleção Obras Completas, publicado pela Companhia das Letras, com tradução de Paulo César de Souza.
Capa de 'A Interpretação dos Sonhos', clássico de Sigmund Freud lançado em 1900, parte do volume 4 da coleção Obras Completas, publicado pela Companhia das Letras e traduzido por Paulo César de Souza.


O livro é do final do ano de 1889, mas foi publicado no ano de 1900, pois Freud escolheu essa data para que o livro marcasse a entrada no século XX, por isso foi lançado posteriormente.

Para fundamentar a interpretação do sonho como um método, Freud realiza uma análise minuciosa do sonho, fragmentando-o em suas partes constitutivas. Ele observa atentamente as associações que emergem de cada um desses fragmentos, utilizando essa abordagem em sua famosa (auto)análise do sonho da injeção de Irma.

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O trabalho do sonho

O trabalho do sonho se desenvolve por meio de distintas etapas. A primeira etapa, denominada condensação e a segunda deslocamento.

Condensação

Revela que os sonhos contêm variados tipos de conteúdos, que Freud classificou como manifesto e latente. O conteúdo manifesto, que se expressa de forma mais aparente, representa apenas uma fração do que é efetivamente latente. Os elementos que compõem o conteúdo manifesto se organizam em uma única imagem psíquica, conectando-se por meio de cadeias associativas. Em contrapartida, o conteúdo latente se manifesta de maneira mais intensa em sonhos altamente condensados, pois, esses conteúdos muitas vezes apresentam um caráter perturbador para a consciência.

Deslocamento

O deslocamento é um mecanismo fundamental do trabalho do sonho para converter desejos ou pensamentos inconscientes em representações que se manifestam de forma distinta no sonho. Este processo ocorre quando o conteúdo latente, muitas vezes perturbador ou inaceitável para a consciência, é deslocado para elementos menos significativos ou mais neutros no conteúdo manifesto. Essa distorção resulta em uma representação que, embora não reflita diretamente o desejo original, ainda retém aspectos de seu significado intrínseco. Consequentemente, os sonhos podem exibir imagens ou eventos que parecem desconectados do desejo reprimido, mas que, por meio da análise, revelam suas interconexões subjacentes.



A função e o significado dos sonhos

Freud afirma que os sonhos seguem uma lógica própria, distinta do funcionamento da consciência. Ele argumenta que os sonhos são a principal porta de entrada para o inconsciente, revelando conteúdos e desejos que muitas vezes permanecem ocultos na vida diária.

No contexto de A Interpretação dos Sonhos, Freud elucida que a função dos sonhos é dual, consistindo, primordialmente, na realização de desejos inconscientes e na proteção do sono. Ele argumenta que os sonhos atuam como uma via simbólica para a expressão de desejos reprimidos que, por serem inaceitáveis na consciência, encontram uma forma de manifestação por meio de imagens oníricas. Dessa maneira, mesmo conteúdos perturbadores são traduzidos em representações que permitem sua satisfação, ainda que de forma disfarçada. Simultaneamente, essa função de realização é acompanhada por um aspecto protetivo, assegurando que o estado de repouso não seja interrompido. Assim, os sonhos se configuram como uma janela para o inconsciente.

A interpretação do sonho é uma ferramenta indispensável para a psicanálise, pois é por meio dela que o analista pode acessar o conteúdo inconsciente do paciente, tendo em vista que os sonhos, os sintomas, os atos falhos e os chistes são formações do inconsciente. As formações do inconsciente referem-se a expressões ou manifestações que emergem do inconsciente, revelando desejos, conflitos e experiências que não estão acessíveis à consciência.

O que é inconsciente?

Pode-se dizer que o inconsciente seria uma parte desconhecida para o próprio sujeito, ou seja, não é possível se conhecer por inteiro, existe uma parte que não se revela, ou ao menos, não se mostra tão facilmente. Por exemplo, existem desejos dos quais não se tem o menor conhecimento, mas mesmo assim eles influenciam a vida do sujeito e a sua relação com o outro. Nesse sentido Freud afirmou que:

“o Eu não é senhor em sua própria casa” (FREUD [1917] 2010: p. 186).


Cabe dizer que Freud, em textos anteriores já dava notícias sobre a conceituação de inconsciente, o texto Lembranças Encobridoras (1899), é um exemplo disso, mas a formulação, conceituação e consolidação do aparelho psíquico e seu funcionamento se deu no livro A Interpretação dos Sonhos.




Como aprender mais sobre interpretação dos sonhos?

Para aprofundar seus conhecimentos sobre a interpretação dos sonhos na teoria psicanalítica, é fundamental começar pela leitura das obras clássicas de Sigmund Freud, como A Interpretação dos Sonhos (1900), que estabelece as bases para a compreensão dos processos oníricos e suas relações com o inconsciente. Outro texto importante é Além do Princípio do Prazer (1920), que expande as ideias sobre o significado e a função dos sonhos na realização de desejos.


Além disso, assistir os cursos sobre os conceitos fundamentais da psicanálise na Casa do Saber. Apresentamos algumas recomendações de cursos disponíveis na plataforma Casa do Saber + que abordam a interpretação dos sonhos com rigor acadêmico e relevância prática.

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Referências bibliográficas:

FREUD, Sigmund. A Interpretação dos Sonhos (1900). Companhia das Letras: São Paulo,

2019.

FREUD, Sigmund. Uma Dificuldade no Caminho da Psicanálise (1917). Companhia das Letras: São Paulo,

2010.

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o Inconsciente. Zahar: Rio de Janeiro, 1985.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar,

1998.








O que é Cubismo? Entenda as características desta vanguarda europeia que marcou a Arte Moderna

Nos anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial, estava acontecendo uma grande transformação no meio artístico europeu. Os artistas visuais da época passaram a questionar a relevância de retratar a realidade tal como ela é. Nesse sentido, começaram a criar inovações técnicas, iniciadas com o Impressionismo do final do século XIX, que trazia pinturas feitas com contornos imprecisos.

Essa nova perspectiva de elaboração das imagens culminou nas vanguardas artísticas do início do século XX, dentre as quais o Cubismo foi uma das mais significativas. Nascido em Paris, o movimento cubista bebeu nas ideias do expressionismo, outra vanguarda que buscava representar a expressão de sentimentos por meio das cores e linhas, sem dar importância à perspectiva e ao jogo de luz e sombras. Mas, o Cubismo, diferente do expressionismo, trazia uma inovação: os artistas passaram a transformar a representação dos objetos, através de sua fragmentação em formas. Dessa maneira, o movimento fomentou uma nova concepção do que é a arte e iniciou uma mudança radical em relação a toda a tradição da pintura feita no ocidente.

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Arte Cubista: História e Principais Obras

O Cubismo nasceu de uma conexão de artistas no início do século XX. O principal nome deste movimento é o pintor espanhol Pablo Picasso, que era filho de um desenhista e havia estudado desde criança na Escola de Arte de Barcelona. Aos 19 anos, ele foi morar em Paris. Ali, entrou em contato com diversos outros artistas e as ideias do pintor francês Paul Cézanne o influenciaram a mudar a maneira como vinha pintando até então.

Em 1906, um ano após a morte de Cézanne, houve em Paris uma grande exposição retrospectiva com suas obras. Nesse momento, Picasso é impactado pelas ideias de Cézanne, que recomendava a observação da natureza a partir de sólidos geométricos, como cilindros, esferas e cones.

Daí em diante, Picasso começa a “brincar” de desmembrar os objetos e realizar pinturas que os mostravam a partir de suas principais formas geométricas. Em 1907, já imerso nessa nova concepção criativa, ele pinta o quadro Les Demoiselles d'Avignon, um trabalho pré-cubista, mas que, didaticamente, é considerado o marco inicial do cubismo.

A obra traz um grupo de mulheres nuas e deixa claras as intenções do artista ao inovar na técnica: ele criou corpos humanos a partir de formas geométricas, característica que se tornaria uma marca do desenho cubista. Além disso, nessa obra, Picasso também revela a influência da arte africana em seu imaginário, ao incluir duas máscaras africanas na composição. A pintura causou grande impacto ao ser exposta. Para alguns, foi percebida como uma obra prima, mas muitos setores mais conservadores da sociedade a tomaram como obscena e imoral.

Em Les Demoiselles d'Avignon, Picasso rompe com as convenções de perspectiva linear e representação realista que dominaram a pintura ocidental desde o Renascimento. Ele fragmenta as figuras e planos, sugerindo várias perspectivas ao mesmo tempo, o que se tornaria uma característica essencial do cubismo.

Pintura Cubista de Pablo Picasso intitulada Les Desmoiselles D’Avignon. A tela retrata cinco mulheres nuas com corpos e rostos angulosos e distorcidos. As figuras são representadas com características faciais que lembram máscaras africanas. O quadro rompe com a tradição artística ocidental, modificando a representação naturalista da figura humana.
Les Desmoiselles D’Avignon, 1907. Pablo Picasso. Óleo sobre Tela, 244 X 234 cm. O quadro está exposto no MoMa, em Nova York.


O Cubismo é considerado um divisor de águas na arte ocidental, por recusar fazer uma arte que imitasse a natureza. O movimento tornou-se um dos marcos iniciais da Arte Moderna e dava liberdade total à imaginação, sem criar limites acadêmicos para a criação artística.

Quem nomeou o movimento cubista foi o crítico de arte Louis Vauxcelles (1870-1943), após referir-se às composições de outro pintor expoente da nova corrente artística: George Braque. Em 1908, no jornal Gil Blas, o crítico se refere às obras dele como uma realidade construída com cubos. Uma das imagens que representa bem a inovação trazida pelo cubismo é o quadro a seguir, Casas em L´Estaque, de George Braque, feito em 1908.

A pintura Maisons à l'Estaque (1908) de Georges Braque é uma obra cubista que apresenta um grupo de casas em uma colina na vila de L'Estaque, França. As construções são representadas de forma geométrica e angulosa, com planos simplificados e sobrepostos, criando uma sensação de fragmentação espacial. A paleta de cores é dominada por tons terrosos, como verdes, marrons e ocres, que reforçam a atmosfera natural da paisagem. A obra exemplifica a abordagem inovadora de Braque ao cubismo, desafiando a perspectiva tradicional e transformando o espaço em uma composição dinâmica e abstrata.
Georges Braque | Maisons à l'Estaque (Casas em L'Estaque), 1908. Óleo sobre tela, 73×59,5 cm, Kunst Museum Bern.


O cubismo emergiu em um contexto de grandes mudanças, impulsionado pela Segunda Revolução Industrial, que trouxe inovações tecnológicas e transformou a vida urbana na Europa. As cidades estavam crescendo rapidamente e uma nova era chegava com a popularização da eletricidade, do automóvel e da fotografia, sendo esta última de grande impacto para o mundo da arte.

Os pintores cubistas, na sua empreitada de elaborar um novo método de construção de imagens, optaram por motivos familiares. Instrumentos musicais, garrafas, pessoas estão entre os temas escolhidos para o novo jogo estético criado por eles: transmitir a imagem de um objeto palpável a partir de fragmentos geométricos planos na tela.

Além disso, o movimento incorporou o imaginário urbano industrial em suas obras, refletindo as mudanças sociais e culturais da época. Em contraste com os movimentos anteriores, o cubismo optou por uma representação da realidade que priorizava a geometrização das formas e a multiplicidade de perspectivas.

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Cubismo | Características

A ideologia que permeava os artistas do Cubismo era a da não aceitação das técnicas formais acadêmicas. Isso significa que a construção de composições imagéticas com a perspectiva clássica, a proporção realista, o sombreamento e a figuração naturalista estavam sendo destituídas como pilares da pintura. Outras características importantes do cubismo que podemos destacar são:

  • Geometrismo: ênfase na representação da realidade por meio de formas geométricas, como cubos, cilindros e esferas
  • Fundo abstrato: as imagens trazem um fundo sem perspectiva linear, sem profundidade e sem que haja uma identificação do local onde acontece a cena
  • Ruptura com a perspectiva tradicional: abandono das noções convencionais de perspectiva e proporção, criando uma representação plana e escultórica dos objetos
  • Múltiplos pontos de vista: apresentação de um objeto sob várias perspectivas ao mesmo tempo, exibindo suas diferentes dimensões em uma única composição bidimensional
  • Abstração: simplificação da natureza, priorizando formas geométricas e abstraindo detalhes estéticos tradicionais.
  • Temas urbanos e industriais: forte inspiração na vida urbana e nos cenários industriais do início do século XX
  • Paleta de cores sóbrias: predomínio de cores opacas e escuras, como branco, preto, cinza, verde escuro, castanho, ocre, laranja escuro e vermelho escuro
  • Uso de colagem: incorporação de materiais do cotidiano, como recortes de jornal, madeira, vidro e outros objetos, para criar cenas e composições inovadoras
  • Rompimento com conceitos de harmonia e beleza tradicionais: a estética cubista desafiou convenções, criando formas inovadoras que não se encaixavam no conceito tradicional de beleza
  • Representação não convencional de objetos e pessoas: não comprometimento com uma representação exata, priorizando a dissociação das partes de um mesmo objeto e explorando sua totalidade em uma superfície plana, bidimensional
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Fases do Cubismo

O cubismo, movimento artístico revolucionário do início do século XX, é frequentemente dividido em três fases principais: a fase cezannista, o cubismo analítico e o cubismo sintético. Cada uma dessas etapas apresenta características distintas que refletem a transformação dos experimentos visuais dos artistas envolvidos, principalmente Pablo Picasso e Georges Braque. Confira a seguir as principais características de cada uma dessas fases:

FASES DO CUBISMO CARACTERÍSTICAS PERÍODO
Fase Cezannista A fase cezannista é marcada pela influência direta do pintor francês Paul Cézanne, que buscou simplificar as formas e a representação da realidade. Os cubistas, inspirados nele, iniciaram uma experimentação que permitia sobrepor diversos ângulos e perspectivas de um objeto em um único plano pictórico. Essa abordagem não apenas inovou a forma como os objetos eram representados, mas também questionou a noção tradicional de espaço e profundidade na pintura. (1907-1909)
Cubismo Analítico
Nesta fase, Picasso e Braque exploram a fragmentação das formas de maneira ainda mais intensa e utilizam uma paleta de cores moderadas, predominantemente composta por tons de marrom, cinza e ocre. As figuras tornam-se cada vez mais difíceis de reconhecer, refletindo um movimento em direção à abstração. A fragmentação dos temas e o foco no plano das figuras caracterizam essa fase, onde as representações visuais se tornam complexas e enigmáticas. (1910-1912)
Cubismo Sintético Na fase sintética, as figuras tornam-se mais reconhecíveis, mas sem retornar ao realismo tradicional. A paleta de cores se torna mais vibrante e diversificada, com tons mais fortes e vivos. Um aspecto inovador dessa fase é o uso da colagem, onde elementos heterogêneos, como recortes de jornais, pedaços de madeira e objetos do cotidiano, são agregados à superfície das obras. (1913-1914)


Veja abaixo obras que representam cada uma das três etapas do cubismo:

Obra da Fase Cezannista (1907-1909)

Fábrica no Horto de Ebro é uma pintura a óleo de 1909 por Pablo Picasso, criada durante sua visita a Horta de Sant Joan, na Catalunha. A obra retrata uma paisagem industrial com uma fábrica e palmeiras, apresentadas em um estilo geométrico simplificado. Considerada uma obra proto cubista, pertence ao Período Cezzanista de Picasso e faz parte da coleção do Museu Estatal Hermitage em São Petersburgo.
Fábrica no Horto de Ebro, 1909, Pablo Picasso. Óleo sobre tela, 50,7 cm × 60,2 cm. Museu Estatal Hermitage , São Petersburgo , Rússia.


Obra da Fase Analítica (1910-1912)

A Guitarra, de Georges Braque, 1911. A obra apresenta uma composição cubista em tons de marrom e cinza, com formas geométricas que representam uma guitarra de forma fragmentada. As partes da guitarra são decompostas em planos sobrepostos e angulares, refletindo a técnica cubista de desdobrar a realidade em múltiplas perspectivas, criando uma sensação de profundidade e movimento. O fundo é abstrato, permitindo que a guitarra seja o foco principal da pintura
A Guitarra, Georges Braque, 1909-10. Tate Modern, Londres, Inglaterra.


Obra da Fase Sintética (1913-1914)

A Mesa do Músico, de Juan Gris, é uma pintura cubista que combina colagem e pintura, retratando instrumentos musicais e objetos cotidianos em um estilo geométrico. Criada em 1914, a obra destaca a sobreposição de formas e perspectivas, incorpora elementos como partituras e uma guitarra, refletindo a estética inovadora de Gris
A Mesa do Músico, Juan Gris, 1914. Colagem feita com lápis de cera conté, lápis de cera, guache, papel de parede impresso recortado e colado, papéis vergê azuis e brancos, papel transparente, jornal e papel de embrulho marrom; envernizado seletivamente sobre tela. The Metropolitan Museum of Art, Nova York.


O Cubismo no Brasil

O cubismo chegou ao Brasil principalmente após a Semana de Arte Moderna de 1922, que inaugurou uma nova fase do modernismo no país. Artistas como Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Cândido Portinari e Lasar Segall adotaram elementos cubistas, mas também buscaram integrar referências nacionais e uma estética mais autoral, bem típica da filosofia antropofágica.

As obras influenciadas pelo movimento causaram polêmica na Semana de Arte Moderna de 1922 e contribuíram para a abertura de novos horizontes na arte brasileira.

Nu Cubista, de Anita Malfatti, retrata uma mulher nua com formas difusas e sobrepostas, onde figura e fundo se fundem em tons similares. A pintura reflete a influência do cubismo, mas é reinterpretada com a visão única de Malfatti, que mistura fragmentação e suavidade em sua representação da figura feminina
Nu Cubista Nº 1, Anita Malfatti, 1915. Óleo sobre tela, 51 cm x 39 cm


Impacto e Legado do Cubismo

O cubismo estabeleceu novas bases para a análise da arte, permitindo que futuras gerações de artistas experimentassem criar a partir de formas e conceitos inovadores. O movimento revolucionou a pintura, mas também influenciou a escultura, a arquitetura e o design gráfico, expandindo o seu legado na cultura visual. Além disso, também repercutiu na poesia e na música, a exemplo da escrita de Guillaume Apollinaire e das composições de Stravinsky.

Museus Dedicados ao Cubismo

Existem vários museus e instituições que celebram o cubismo e suas obras. Um dos mais notáveis é o Museu Picasso em Paris, que abriga uma vasta coleção de obras de Pablo Picasso, incluindo muitos exemplos do cubismo. No Brasil, o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), frequentemente realiza exposições dedicadas ao cubismo e seus desdobramentos.

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Perguntas Frequentes sobre Cubismo

O que é cubismo?

O cubismo é um movimento artístico que começou no início do século XX, caracterizado pela fragmentação das formas e pela apresentação de múltiplas perspectivas em uma tela plana.

Quais são as características do cubismo?

As características do cubismo incluem a decomposição de formas em planos geométricos, a utilização de um fundo abstrato e a exploração de novas formas de representação visual.

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Referências:

https://www.pablopicasso.org/

https://enciclopedia.itaucultural.org.br/

https://www.metmuseum.org/




Psicanálise e literatura: uma amizade

Vocês sabiam que em 1930 Freud ganhou o prêmio Goethe de literatura? Como ele já estava doente e se sentia fraco, foi sua filha, Anna, quem foi para Frankfurt recebê-lo. Se Freud viu a psicanálise se espalhar pelo mundo, ainda em vida, certamente teve a ver com sua brilhante relação com a literatura. Me refiro, aqui, tanto ao fato de Freud escrever muitíssimo bem, quanto ao fato de ele reconhecer na arte um saber que antecipava o saber da psicanálise e ilustrar isso com inúmeras citações e trabalhos com Goethe, Leonardo da Vinci, Shakespeare, Hoffmann, Jensen, dentre tantos outros.

No texto “Escritores criativos e devaneios” Freud discorre sobre as nobres habilidades dos escritores de dizerem de fantasias, desejos e acontecimentos que comumente nos causariam repulsa. Mas, nas palavras dos poetas, ganham um tratamento estético, de modo que chegam para nós como sendo agradáveis. Nesse sentido, penso que uma análise psicanalítica se aproxima bastante do fazer literário. Em uma análise falamos dos nossos sofrimentos, confessamos nossos erros, descobrimos culpas soterradas… conteúdos que foram recalcados e distanciados da nossa consciência justamente por serem repulsivos. Não é por acaso que não há análise sem resistência. Ao mesmo tempo que o analisante quer avançar e quer se curar, também tem horror às coisas que tem para dizer.

Se uma análise caminha bem, no entanto, o que acontece é que esse texto tão dito e repetido nas sessões, vai ganhando outras formas e, com isso, seu próprio conteúdo é alterado. Não se trata, é claro, de inventar coisas que não aconteceram. Mas mudar o modo de dizer algo, pode ter como consequências mudar o modo de sentir algo. E não se trata de uma mudança forçada ou sugerida por alguém, mas de uma mudança que é descoberta na própria análise, uma mudança que é única, impossível de ser replicada. Assim como um texto ou uma obra de arte também não são passíveis de replicação.


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Uma análise, tal como a literatura, é uma experiência de linguagem. Tal como lemos um livro e podemos chorar, rir, sentir raiva, nos identificar e até mudar a vida por causa de uma história – também uma análise é um lugar onde faz-se isso tudo, apenas usando as palavras.

Ao contar de uma experiência difícil vivida há três décadas, podemos nos emocionar porque recriamos a experiência, trazemos o passado ao presente, modificando algo dele a cada vez. Na psicanálise e na literatura passado, presente e futuro se entrelaçam, um alterando o outro.

No documentário “Encontro com Lacan” Susanne Hommel, uma mulher judia que viveu a segunda guerra, conta um fragmento de sua análise com Lacan. Nele, Susanne diz de uma sessão onde um ato de seu analista muda a sua vida. Ao dizer em análise do horror que sentia todos os dias, acordando às cinco da manhã assustada, (o horário em que a Gestapo invadia as casas perseguindo os judeus), Lacan levanta-se da poltrona e acaricia o rosto dela, transformando “gestapo” em “gest a peau” (que significa “gesto na pele”, no francês). Susanne conta, com isso, que o ato de Lacan não eliminou o horror que ela sentia às cinco da manhã, mas inscreveu via linguagem em seu corpo, também o que ela chamou de “uma aposta na humanidade”.


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Se a psicanálise tem seus limites, é isso que a funda, pois não se trata de voltar no tempo e alterar o rumo das coisas. Também não se trata de eliminar todo o sofrimento da vida ou curar alguém de sua história. Trata-se de encontrar naquilo que se viveu algo onde cada um de nós tenha podido apostar, e por ali se orientar. Também a literatura, tal como a psicanálise, não pretende eliminar o mal, tornar a vida asséptica ou responder a todas as coisas – como parecem querer fazer quase tudo em nosso mundo contemporâneo.

Por isso, psicanálise e literatura fazem uma amizade tão fértil, são duas maneiras de encontrar ou criar dignidade mesmo em meio ao sofrimento humano – ou melhor, justamente por causa dele.

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Neste texto, propomos um percurso nas ideias de Sigmund Freud, reconhecido como o fundador da psicanálise, cujas contribuições têm sido fundamentais para a compreensão do luto como um processo natural de enfrentamento das perdas que permeiam a experiência humana.

  • O que é luto para a psicanálise?
  • A diferença entre luto e melancolia
  • Como aprender mais sobre o luto?


O que é luto para a psicanálise?

Ao investigar o luto na teoria psicanalítica, é inevitável confrontar-se com a temática da melancolia. Isso se deve à análise realizada por Freud em seu artigo "Luto e Melancolia" (1917), no qual ele estabelece uma comparação entre esses dois estados. Embora Freud defenda que o luto e a melancolia são experiências distintas, ele também aponta semelhanças significativas entre elas. Por exemplo, que em ambos estados são provenientes de causas oriundas das interferências da vida.

Freud descreve que o luto seria uma resposta à perda de um ente querido, mas também se estende à ausência de entidades ou conceitos que desempenharam um papel significativo na vida de uma pessoa, como a pátria, a liberdade ou ideais pessoais. Essa experiência complexa envolve não apenas a dor pela perda física, mas também a necessidade de reconfigurar a percepção do mundo exterior diante da ausência daquilo que foi significativo.

A melancolia está ligada a uma predisposição patológica, diferentemente do luto. Nela acontece um abatimento doloroso, uma cessação do interesse pelo mundo exterior, perda da capacidade de amar, inibição de toda atividade e diminuição de autoestima que se expressa em recriminações e ofensas à própria pessoa.

Em outras palavras, o luto deve ser compreendido como uma experiência que não se enquadra na esfera patológica; trata-se, antes, de uma inércia libidinal que, embora possa envolver sofrimento, é uma resposta normal e esperada à perda. Essa dinâmica se diferencia significativamente da condição do sujeito melancólico, sendo incapaz de realizar o processo de elaboração do luto.

“O luto não pode ser visto como um estado patológico e não carece de indicação de tratamento médico, embora ele cause um afastamento da conduta normal da vida, logo será superado após certo tempo e perturbar esse processo é inapropriado e prejudicial.” (FREUD, 1914/2010. p.172)


No contexto cultural atual, torna-se pertinente refletir sobre a abordagem do luto sob a ótica da medicalização, que visa, de maneira expedita, mitigar a angústia e a dor experimentadas pelo sujeito. Esse processo, muitas vezes, se caracteriza pela prescrição indiscriminada de psicotrópicos, frequentemente desprovida de escuta para que o sujeito se implique, reflita e elabore suas perdas de maneira significativa. A substância atua como um atalho para tamponar de forma imediata todo sofrimento. O luto faz parte da vida de todos e é um caminho necessário para todo sujeito.


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A diferença entre luto e melancolia

Neste momento, torna-se pertinente empreender uma reflexão aprofundada sobre as nuances que não apenas distinguem, mas também interligam o luto e a melancolia, levando em consideração suas particularidades e as intersecções que permeiam esses dois estados.

A melancolia pode ser compreendida como uma manifestação patológica do luto, caracterizada por um movimento inverso ao processo natural de elaboração deste. Enquanto o trabalho de luto permite ao sujeito um desligamento gradual do objeto perdido, na melancolia ocorre uma interiorização da perda, na qual o indivíduo se torna refém de sua própria dor. Nesse estado, o sujeito se responsabiliza pela ausência do objeto, estabelecendo uma identificação tão profunda que seu próprio eu se amalgama ao que foi perdido, culminando em uma desintegração.

Segundo Kaufmann: “Nos dois casos, trata-se das vicissitudes de um investimento de origem narcísica, em sua relação com a realidade, quando dela se vê excluído seu objeto por perda ou abandono.” (1996, p.316)

Deve-se observar que o trabalho realizado pelo luto acontece da seguinte maneira: é uma forma de eliminar as consequências de uma perda libidinal, ou seja, após a consumação do trabalho do luto o Eu fica novamente livre e desimpedido para voltar a investir em novos objetos.

foto em preto e branco de uma mulher solitária ao lado de uma árvore sem folhas, simbolizando o luto em meio a um ambiente melancólico


A experiência da perda se manifesta de maneiras distintas no luto e na melancolia. Na melancolia, o sujeito enfrenta uma dificuldade em reconhecer, de forma consciente, a amplitude daquilo que foi perdido; embora tenha uma noção do objeto em si, ele não compreende completamente o que essa perda impacta no seu próprio eu e o que o unia a esse objeto. Freud caracteriza a melancolia como uma condição de natureza inconsciente, pois o sujeito não consegue articular plenamente a dor que sente, tampouco atribui significado claro à sua angústia. Em contraste, no luto, a perda é enfrentada de maneira consciente; o sujeito tem plena consciência do que perdeu e entende a fonte de seu sofrimento.

No seminário O Desejo e Sua Interpretação (1958-1959), Jacques Lacan discute o luto como uma experiência que gera um "furo no real", ou seja, uma profunda privação causada pela perda. Essa ausência resulta em uma falta que não pode ser plenamente articulada ou compreendida pelos significantes simbólicos que costumam organizar a vida psíquica, revelando a complexidade emocional envolvida na vivência do luto. “ Em outras palavras, o luto, que é uma perda verdadeira, intolerável para o ser humano, lhe provoca um buraco no real.” (LACAN, 2016, p. 360)

Em resumo: embora intimamente relacionados, o luto é uma fase da vida, um processo necessário de elaboração da perda, onde o sujeito de maneira gradual se desvincula do objeto perdido e posteriormente retorna a fazer novos investimentos no mundo exterior e na melancolia o sujeito se agarra ao objeto perdido não fazendo o deslocamento para investir em outros objetos. O melancólico coloca toda energia no objeto, e com a perda dele uma parte sua também se vai, é como se o objeto fizesse parte do próprio sujeito e com isso a perda, na verdade, é de uma parte do seu próprio eu. O melancólico não consegue fazer o luto do objeto perdido, tendo em vista o apego à idealização.

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Um panorama detalhado da vida e obra de Jacques Lacan , com um contexto histórico e intelectual que revela as bases e influências de seu pensamento psicanalítico.


Como aprender mais sobre o luto?

Para aprofundar seus conhecimentos sobre o luto na teoria psicanalítica, é essencial começar pela leitura das obras fundamentais de Sigmund Freud, como "Luto e Melancolia" (1917) e outro texto importante é "Além do Princípio do Prazer" (1920), que introduz a noção de pulsão de morte.

Além disso, investir em cursos especializados sobre como lidar com o luto, enfrentar o fim de um relacionamento e suas implicações na psicanálise pode ser extremamente enriquecedor. A Casa do Saber oferece uma variedade de cursos ministrados por professores que são reconhecidos especialistas na área, proporcionando um aprendizado sólido e atualizado. A seguir, apresentamos algumas recomendações de cursos disponíveis na plataforma Casa do Saber + que abordam esse tema com profundidade e relevância.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREUD, Sigmund. Luto e Melancolia (1917). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

LACAN, Jacques. O Seminário 6 - O Desejo e Sua Interpretação (1958-1959). Rio de Janeiro: Zahar, 2016.

KAUFMANN, Pierre. Dicionário Enciclopédico de Psicanálise: Rio de Janeiro: Zahar, 1996.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.







Como reagir à imprevisibilidade da vida e qual o seu sentido? Essas são as principais questões do estoicismo, uma escola filosófica potente na Grécia Antiga, mas que ainda hoje produz efeitos significativos ao incentivar reflexões acerca da felicidade, desapego e apatia.

Neste texto você viajará rumo ao período helenístico, nos séculos IV, III e II a.C, para conhecer a importante filosofia estoica e o seu significado.

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O que é o Estoicismo?

A observação da vida e a busca pela explicação de seus fenômenos é um traço comum na história da Filosofia Ocidental, independentemente da sua escola. Cada uma delas se empenhou para explicar essa equação (e ainda o faz) por meio de argumentos complexos e bastante aprofundados.

No estoicismo não foi diferente. A doutrina filosófica, fundada durante o período helenístico, sobretudo nas leis da natureza, se debruçava sobre a compreensão do sentido da vida, tendo a lógica e a razão como aliadas para esse processo.

De forma geral, a abordagem estoica tinha a felicidade com um fim último e acreditava alcançá-la através da aceitação da inevitabilidade da vida e do cultivo de uma resiliência emocional diante das adversidades e do que era imprevisível.

Ou seja, para o estoicismo a felicidade poderia ser palpável a partir do momento em que as emoções eram racionalizadas, os episódios da vida eram entendidos como pertencentes a uma teia natural e inevitável de causas e efeitos, e os esforços/desejos de mudança humanos eram direcionados para as coisas passíveis de serem controladas e não para aquelas alheias à nossa vontade, tal qual a morte.

Por esse motivo, a felicidade estoica figura como um dos temas mais difundidos e importantes da filosofia. Mas como essa escola foi idealizada?

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De que forma o Estoicismo começou?

Zenão de Cítio (333 a.C - 263 a.C), seu precursor, foi influenciado pela Escola de Cínica, a qual defendia o desapego aos bens materiais e deu origem à expressão cinismo*, a estruturar uma corrente de pensamento alicerçada na ideia de uma vida simples, distante dos vícios e medos e mais próxima da virtude.

* A ideia de cinismo associado à falsidade trata-se de uma perspectiva contemporânea acerca do tema, afastada da sua concepção original. Na Grécia Antiga, o cinismo descrevia, na verdade, o movimento dos “filósofos do desapego”, ou seja, aqueles não aficionados com a matéria/bens.

Para isso, praticava o ensino por meio de uma lógica cosmopolita - realizada em um ambiente aberto chamado "stoá", que traduzido dá conta de algo como Pórtico (uma ágora utilizada para difundir os pensamentos filosóficos da época e para propiciar discussões intelectuais sobre os mais variados temas).

Ágoras, espaços nos quais os filósofos estoicos disseminavam suas ideias. Estrutura arquitetônica romana.
O Stoá Poikilé, ou Pórtico Pintado, era o espaço destinado à transmissão das reflexões estoicas, em uma estrutura de pensamento livre e dinâmico. (Designed by Freepik)

É dessa tradição, praticada por Zenão e outros filósofos, que a palavra estoicismo toma forma e que a doutrina, criada inicialmente na Grécia Antiga, se populariza para outras regiões, tal qual Roma, sendo, inclusive, uma das bases do cristianismo

A partir disso, a filosofia estoica foi abraçada por grandes nomes, como Marco Aurélio, Epicteto e Sêneca, expandindo seu significado conforme as especificidades de cada tempo.

Na era moderna, por exemplo, Foucault usou o pensamento estoico para destacar a relevância do desenvolvimento de uma escuta bem conduzida¹.

"Aprender a Viver: Como a Sabedoria Pode ser o Caminho para uma Vida Melhor"

Um convite às descobertas do pensamento de expoentes que moldaram a filosofia, desde Platão, Sêneca, Aristóteles e Tomás de Aquino, a Descartes, Espinosa, Nietzsche


Características do estoicismo

Em resumo, o estoicismo acredita que o ser humano faz parte e é habitado pela natureza (physis - Φύσις, em grego), de modo que acompanhá-la é, de igual modo, agir segundo nosso próprio ser (GAZOLLA, 2006).

Por esse motivo, a perfeição e virtuosidade está na compreensão de uma ligação intrínseca entre homem e natureza, que orienta a busca pela felicidade a partir da negativa aos desejos e do estabelecimento de uma razão em conformidade com as leis naturais do universo.

De acordo com a escola, o ser humano é a própria natureza, afastando-se dela quando atormentado pelas paixões:

(...) se a natureza é dita perfeita, se é divina, se todos os seres são excelentes por ela e nela, e seu modo de mover-se é eterno, o reverso é perguntar sobre as perturbações da perfeição e como são possíveis. Ora, as perturbações do mover-se perfeito têm nome na Stoa: são as paixões pleonásticas ou exacerbadas (GAZOLLA, 2006, p. 189).


Assim, para entender o que é o estoicismo, basta que compreendamos também a sua perspectiva ética baseada na ataraxia (ou indiferença/apatia) como forma de driblar a tendência humanoide ao afastamento da physis (natureza).

Para seus pensadores, a vida era determinada inafastavelmente por uma força cósmica equilibrada e harmoniosa, sobre a qual a virtude se estabeleceria em uma existência experienciada conforme desígnios da physis.

Desse modo, deveriam ser evitados os desejos vazios, os excessos, as paixões perturbadoras e as coisas supérfluas, à medida que a razão e a lógica seriam privilegiadas.

Na filosofia estoica, então, agir virtuosamente seria reconhecer o potencial do ciclo cósmico infindável, aceitando as mudanças sobre as quais não se teria controle, posicionando-se com resiliência frente à elas, e dedicando-se a alterar somente aquilo que fosse possível, como, por exemplo, as reações ao “não programável”.

Por essa razão, a máxima estoica é descrita como “a vida deve seguir a natureza", tese de autoria de Zenão.

Leis da Natureza Imutáveis O agir estoico
Morte Priorizar a qualidade de vida
Mudanças Aceitar a impermanência
Sofrimento Cultivar resiliência emocional
Incerteza Focar no controle sobre as próprias reações
Limitações humanas Buscar autoconhecimento e desenvolvimento pessoal
Destino Agir com virtude, aceitando o que não se pode mudar
Ciclo da vida Viver no presente. Valorizar cada momento


O estoicismo, estruturado há mais de 2 mil anos, continua reverberando suas reflexões e conquistando adeptos ao longo da história

Nos tempos contemporâneos, marcados pelos excessos (de informação, produção, consumo, acúmulo, entre outros),oferece respostas apaziguadoras para o ambiente caótico, pressionado cada vez mais pelo ritmo acelerado das transformações digitais.

Assim, podemos definir o estoicismo como uma escola filosófica que procura dar respostas à inquietação humana, propondo um modo de vida sereno e guiado pela racionalização.

Trata-se de um exercício para privilegiar a razão como ferramenta para lidar com as emoções, afastando os vícios e cultivando as virtudes.



Os componentes e os pilares do estoicismo

Como vimos, o estoicismo propõe uma lógica de pensamento realista, que não idealiza o mundo, mas sim o aceita tal como é.

Nesse contexto, a apatheia (indiferença às emoções perturbadoras da paixão) é compreendida como um pré-requisito para um estado de paz interior, conhecido como ataraxia.

Componentes do estoicismo

Para concretizar a sua doutrina e tornar o objetivo acima factível, o estoicismo sugere ainda um sistema para pensar a filosofia, metaforicamente, como um organismo vivo, interconectado e interdependente, assim como formado por três componentes:

"Os antigos estóicos, como se sabe, criam um interessante sistema para pensar a Filosofia no qual todas as partes, absolutamente interligadas, são metaforicamente expostas como se fosse um organismo. Uma das metáforas é a de que os ossos e nervos seriam a Lógica, a carne seria a Ética e a alma, a Física" (GAZOLLA, 2006, p. 185)


Pilares do estoicismo

Além disso, a sabedoria estoica se traduz no exercício de um trabalho de consciência interior, que leva em consideração os campos que podem ser realmente modificados pelo ser humano.

Nesse sentido, surgem as virtudes cardeais, também enquadradas como os 4 pilares ou modos de atuação do estoicismo, quais sejam:

  1. Sabedoria: entender as dinâmicas do mundo de uma maneira lógica e calma, com discernimento sobre o que é realmente importante. Fazemos isso por meio da meditação, da leitura de textos filosóficos, do ensino, e através das nossas experiências.

  2. Justiça: agir com equidade e sem impulsividade, considerando as consequências das ações em relação ao próximo.

  3. Coragem: ter o conhecimento do que deve ser temido e o que deve ser suportado, sendo uma ferramenta incrível para o enfrentamento das adversidades com bravura.

  4. Moderação (ou Temperança): equilibrar os desejos, minimizar os vícios e experimentar as virtudes. Trata-se de evitar os excessos e buscar constantemente a harmonia.


Para o estoicismo, esses 4 pilares, que se complementam e se retroalimentam, performam a base da virtuosidade plena.


Estoicismo vs. Cinismo: Diferenças Essenciais

As duas correntes emergiram na Grécia Antiga, compondo as chamadas filosofias helenísticas - as quais são caracterizadas por se preocuparem com a ética, felicidade e bem-viver.

Porém, embora se entrelacem e se aproximem em uma ideia central (busca por uma harmonia com a natureza), tais escolas possuem diferenças significativas, sobretudo quanto à radicalidade das suas percepções.

Enquanto o cinismo enfatiza o desapego e a rejeição total das convenções sociais, o estoicismo busca uma aceitação ativa da realidade, propondo a virtude como um caminho para a felicidade.

Estoicismo Cinismo
Principais Expoentes Sêneca, Epicteto, Marco Aurélio. Diógenes de Sinop, Crates de Tebas.
Visão de Mundo Harmonia entre homem e universo. Rejeição das normas e convenções sociais
Relação com a Virtude Aceitação e racionalidade. Desprezo pelas convenções e comodidades.
Conceito de Felicidade Alcançada por meio da aceitação do inevitável e da busca pela mudança daquilo que pode ser controlado. Encontrada na harmonia com a natureza.
Autonomia Aceitação do que não se pode controlar. Autarquia e controle sobre a própria vida.


"Nós sofremos mais na imaginação do que na realidade." - Sêneca


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Os Principais Filósofos Estoicos

1) Sêneca

Nascido em 4 a.C, Sêneca foi um dos mais influentes filósofos e o principal expoente do estoicismo no Império Romano.

Faleceu em Roma, no ano 65 d.c, acusado de conspiração contra o imperador Nero, mesmo que tivesse sido seu preceptor anteriormente. O episódio é narrado no quadro “A Morte de Sêneca”, de Jacques-Louis David (1748–1825).

Pintura a morte de Sêneca
La morte di Seneca, olio su tela, Musée du Petit-Palais, Parigi, de Jacques-Louis David (1748–1825) (Fonte: Domínio Público). Acusado, junto a Pisão, de conspiração para o assassinato planejado de Nero, Sêneca foi obrigado a tirar a própria vida. Não houve qualquer tipo de julgamento. O quadro retrata o momento em que o filósofo cumpre seu destino na presença de amigos.



Entrou para a história não só como um exímio filósofo, como também um humanista dedicado, além de excelente orador, escritor, advogado e político.

Enfatizava a importância da razão e do autoconhecimento, acreditando ser a reflexão sobre a vida o caminho para a verdadeira felicidade.

Além disso, como diferencial, preocupou-se e se indispôs contra as desigualdades entre os homens, sendo avesso à escravidão e à distinção social.

Tem como umas de suas principais obras a "Sobre a brevidade da vida", um ensaio moral dedicado a seu amigo Paulino, pelo qual o autor discrimina vários princípios estoicos - entre eles a natureza do tempo e o tempo gasto na perseguição de objetivos sem valor.

2) Epicteto

Pintura de Epicteto, um dos expoentes filósofos do estoicismo.
Epicteto foi um dos expoentes filósofos estoicos

Epicteto (55 d.C - 135 d.C), é um dos mais respeitados filósofos estoicos da Antiguidade e, ao lado de Sêneca e Marco Aurélio, faz parte da terceira fase estoica, chamada de “Novos Estoicos”*.

Escravo por muito tempo em Roma, após ser libertado dedicou sua vida à filosofia e aos ensinamentos sobre a verdadeira liberdade. Para ele, ser livre não dependia da posição social, mas da capacidade de controlar as próprias reações diante dos eventos da vida.

Na sua perspectiva, a essência do estoicismo estava na separação clara entre o que está sob o controle humano (ações, pensamentos e atitudes) e o que não está (as circunstâncias externas).

Seu ensinamento foi registrado principalmente no texto Manual e em alguns discursos assinados por seu discípulo Flávio Arriano, tendo em vista que ele próprio, assim como Sócrates, não deixou nada escrito.

Em tais obras o filósofo explora a importância da aceitação das adversidades com serenidade, refletindo em uma postura prática para enfrentar os desafios cotidianos.

Depois de exilado pelo imperador Domiciano, junto com outros filósofos romanos, decidiu abrir a própria escola, em Nicópolis, local onde faleceu anos mais tarde.

*
  • A primeira fase do estoicismo é representada Zenão de Cítio, Cleantes de Asso e Crisipo de Solunte (ou de Sole);
  • A segunda fase, ou médio estoicismo, é caracterizada pelos nomes de Panécio de Rodes e Posidônio.


“A felicidade e a liberdade começam com a clara compreensão de um princípio: algumas coisas estão sob nosso controle, outras não” - Epicteto



3) Marco Aurélio

Marco Aurélio (121 d.C.a 180 d.C.) foi um dos mais célebres imperadores romanos, responsável pela autoria de uma obra bastante aclamada no estoicismo: o livro Meditações, um conjunto de reflexões pessoais que escreveu ao longo de sua vida.

Como líder do maior império da época, enfrentou inúmeras adversidades, tanto políticas quanto militares, o que o orientou ao estoicismo como ferramenta para contornar os desafios

Por esse motivo, ficou conhecido como o “monarca-filósofo”, cujo traço proeminente era valorizar os prazeres da alma e face daqueles do mundo material. Para ele, a vida se apresentava como uma oportunidade para agir de forma ética e virtuosa, independentemente das circunstâncias externas.

Embora fosse o homem mais poderoso de seu tempo, defendia uma visão mais humilde da existência, com a crença de que tudo na vida, inclusive a morte, deveria ser aceito com serenidade, uma vez que faria parte da ordem natural do universo.

"A felicidade da vida depende da qualidade de nossos pensamentos." - Marco Aurélio



Os três pensadores foram essenciais para o desenvolvimento e disseminação do estoicismo e também para a filosofia Ocidental, influenciando a observação do mundo e da vida ainda hoje.



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Referências:

¹SANTOS, Kleys Jesuvina dos. A influência do estoicismo na filosofia de Foucault. Kinesis, Marília, v. 11, n. 28. 2019. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/kinesis/article/view/9140. Acesso em: 25 set. 2024.

GAZOLLA, Rachel. Representação compreensiva: critério de verdade e virtude no Estoicismo Antigo. Revista da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, v. 19, n. 2, 2006. Disponível em: https://www-periodicos-capes-gov-br.ez40.periodicos.capes.gov.br/index.php/acervo/buscador.html?task=detalhes&source=&id=W1511359753. Acesso em: 25 set. 2024.







Vamos percorrer neste texto algumas ideias de Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, que fez contribuições fundamentais para a compreensão do narcisismo.

Freud explorou como o narcisismo se relaciona ao desenvolvimento do eu e à formação da identidade, discutindo a transição entre o amor próprio e o amor aos outros. Suas reflexões sobre a libido e as fases do desenvolvimento infantil estão intrinsecamente ligadas à constituição do sujeito. Através de conceitos como o "narcisismo primário", "narcisismo secundário" e "libido", Freud lançou as bases para o entendimento contemporâneo desse fenômeno.



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O que é o mito do narciso?

O mito de Narciso, oriundo da mitologia grega, narra a trágica trajetória de um jovem de beleza ímpar, filho da ninfa Liríope e do deus do rio Céfiso. Segundo a narrativa, Narciso, ao se inclinar para beber água, se depara com sua própria imagem refletida e, em um ato de deslumbramento, se vê tragicamente consumido por uma obsessão por sua beleza.

Depois desse apaixonamento pela sua imagem, ele se torna surdo à Eco, uma ninfa que estava apaixonada por ele, e não corresponde essa paixão. Narciso então é tragado pela sua própria imagem refletida no lago e morre afogado. E é a partir do mito de narciso que Freud propõe um modelo para entender o que seria a origem do Eu.

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O que é narcisismo para a psicanálise?

O conceito de narcisismo possui características que divergem significativamente do que é geralmente discutido no senso comum, conforme descreveu Freud no artigo de 1914 Introdução ao Narcisismo:

"O narcisismo não seria uma perversão, mas o complemento libidinal do egoísmo do instinto de autoconservação, do qual justificadamente atribuímos uma porção a cada ser vivo" (FREUD, 2010/1914, p. 15)

Para Freud, o narcisismo é uma etapa crucial no desenvolvimento do eu, representando a transição do autoerotismo — onde o prazer é centrado no próprio corpo — para a escolha de outro ser como objeto de amor. Neste estágio, o indivíduo ainda não se distingue plenamente das demais pessoas e do mundo ao seu redor, refletindo uma fase em que a identificação com o eu é predominante.

Investimento libidinal e objeto

É importante observar que na teoria psicanalítica:

  • Investimento libidinal: refere-se à canalização da energia psíquica, ou libido, para objetos ou aspectos da realidade, como pessoas, ideias ou o próprio eu.
  • Objeto: é empregado para designar pessoas ou coisas do ambiente externo, do mesmo modo, a relação de objeto consiste na maneira que o sujeito lida com o mundo exterior.


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Narcisimo Primário e Narcisismo Secundário

Assim, para a psicanálise, narcisismo é compreendido como um investimento libidinal no próprio eu, essencial para a formação dele. Esses investimentos necessitam ser direcionados para outros objetos, para o mundo exterior, ou seja, o sujeito precisa fazer investimentos que vão para além de si. Como diz Freud “ É preciso amar para não adoecer" (FREUD, 2010/1014, p. 29) .

A teoria freudiana divide o narcisismo em duas partes, sendo narcisismo primário e narcisismo secundário.

Narcisismo primário Seria o estado precoce em que a criança investe toda a sua libido em si mesma. Essa é a fase do desenvolvimento que a libido está dirigida ao próprio eu. Pode-se dizer que é o reservatório da libido, para onde ela faz o seu retorno, trabalhando no autoerotismo.
Narcisismo secundário Aqui é quando a libido não está somente no eu, ela passa a ir em direção aos objetos externos, porém, acontece o fracasso da pulsão ao tentar obter satisfação por meio de objetos externos, levando o sujeito a novamente redirecionar essa energia para o próprio eu. É quando acontece um recolhimento dos investimentos objetais.


A escolha objetal para Freud

Ainda no mesmo texto, Freud descreve um breve sumário dos caminhos para a escolha de objeto, onde diz que uma pessoa pode amar (FREUD, 2010/1914: p. 36):

Conforme o tipo narcísico:

  • o que ela mesma é (a si mesma),
  • o que ela mesma foi,
  • o que ela mesma gostaria de ser,
  • a pessoa que foi parte dela mesma.

Em contrapartida, ao tipo de escolha narcísica, a escolha anaclítica pode recair sobre:

Conforme o tipo “de apoio”:

  • a mulher nutriz,
  • o homem protetor


A escolha anaclítica é vista como uma forma de projetar necessidades afetivas em outras pessoas que pode caracterizar esse tipo de amor. Essa escolha se contrasta com o amor narcísico, onde a própria pessoa é tomada como modelo e a escolha é segundo a sua imagem e semelhança. Cabe dizer que os dois tipos de escolha estão, ao mesmo tempo, presentes no sujeito.

Retrato de Freud feito por Salvador Dali
Sigmund Freud (1938) | Salvador Dali
Retrato de Freud feito por Salvador Dali



O que é uma pessoa narcisista?

O narcisismo é uma fase necessária da evolução da libido, antes que o sujeito se volte para um objeto sexual externo. É o que estrutura da subjetividade, é um aspecto da condição humana, assim, de algum modo, todos são narcisistas, pois todo sujeito possui uma porção de libido que pode ser investida em si mesmo e para outros objetos. Ela é investida parcialmente nos objetos e parcialmente no eu.


Em suma, pode-se dizer que todos possuem narcisismo, tendo em vista que ele atua como uma forma de organização para o sujeito, garantindo a própria preservação dele. Com isso pode-se afastar a ideia de estigmas associados a comportamentos considerados excessivamente egocêntricos ou vaidosos, pois o narcisismo é um investimento do sujeito em si mesmo.

Assim o narcisismo é importante para a psicanálise tendo em vista que nos estágios iniciais da vida, não se percebe os objetos como algo externo, gradativamente ao longo dos primeiros meses é que o infante aprende a se distinguir de outros objetos. Até aqui pode-se perceber que uma pessoa sem narcisismo seria uma pessoa com uma grave questão, tendo em vista que ela não teria empatia e não conseguiria se identificar com os objetos externos.




Como se aprofundar mais nos estudos sobre o narcisismo?

O conceito de narcisismo é fundamental na psicanálise e, além disso, requer uma análise cuidadosa. Para aprofundar-se, é fundamental investigar a obra de Freud, que estabelece as bases teóricas do narcisismo e suas implicações no desenvolvimento do eu.

É recomendada a leitura de textos clássicos, como Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (1905), Introdução ao Narcisismo (1914), Luto e Melancolia (1917 [1915]). Jacques Lacan também teorizou sobre o tema no O Seminário 1 - Os Escritos Técnicos de Freud - Jacques Lacan e no escrito O Estádio do Espelho como Formador da Função do Eu.

Assistir aos cursos de psicanálise da plataforma da Casa do Saber é extremamente importante, também para se aprofundar no conceito de narcisismo.

Aqui vão 2 cursos essenciais para entender a teoria do narcisismo:





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREUD, Sigmund. Introdução ao Narcisismo (1914). Companhia das Letras: São Paulo, 2010.

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o Inconsciente. Zahar: Rio de Janeiro, 1985.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.







Quando fala-se sobre depressão hoje, a realidade aponta que este é um transtorno complexo e cada vez mais comum, que não faz distinção de idade ou status social.

Explore as estatísticas alarmantes no Brasil, entenda as classificações psiquiátricas, os manejos psicanalíticos e a importância do diagnóstico profissional na identificação e tratamento da depressão.

O contexto da depressão na atualidade

A depressão é um transtorno mental ou psíquico que pode atingir qualquer um, independentemente da idade, gênero, etnia ou classe social. Apesar da sua gravidade, muitas pessoas não dão a atenção necessária para a doença, o que pode dificultar o diagnóstico e, consequentemente, o seu tratamento.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil tem a maior taxa de prevalência de depressão da América Latina e a segunda maior nas Américas. A previsão é que, em 2030, a depressão seja a primeira causa específica de incapacidade funcional no mundo.

De maneira geral e simplificada, pela visão psiquiátrica, a depressão é um transtorno biológico que se manifesta em forma de tristeza e angústia. A pessoa deprimida perde o interesse ou prazer em realizar atividades que antes gostava, podendo levar a mudanças bruscas de humor e comportamento, afetando diversas áreas de sua vida.

As alterações repentinas do humor são, inclusive, um dos sintomas mais comuns da doença. Por isso, o acompanhamento profissional se faz essencial para diagnosticar a depressão ou episódios de tristeza prolongados.

imagem de divulgação de masteclass sobre psicopatologias na atualidade com alexandre patrício



A visão da psiquiatria sobre a depressão

Em 1952, a Associação Psiquiátrica Americana (American Psychiatric Association, APA) publicou pela primeira vez o Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, DSM-1), a primeira tentativa de abordar o diagnóstico das doenças mentais por meio de definições e critérios padronizados.

A DSM-5-TR, publicada em 2022, fornece um sistema de classificação que tenta separar as doenças mentais em categorias diagnósticas com base na descrição dos sintomas.

A Classificação Internacional de Doenças, décima-primeira revisão (CID-11), e a mais recente versão publicada pela Organização Mundial da Saúde, utiliza categorias diagnósticas semelhantes às encontradas no DSM-5-TR. Essa semelhança indica que o diagnóstico das doenças mentais específicas está sendo feito de forma mais padronizada em todo o mundo.

A coleta da história clínica, a anamnese e o exame devem observar os critérios da décima primeira versão da Classificação Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde (CID), da Organização Mundial da Saúde.

Nenhum sinal ou sintoma representa propriamente uma patologia. A confecção do diagnóstico da depressão deve levar em conta que os critérios da CID apresentam grau de subjetividade, devendo-se evitar a psicopatologização e a medicalização de sentimentos humanos normais.

Sintomas da depressão: a importância do diagnóstico profissional

O diagnóstico da depressão é feito a partir da avaliação clínica de um profissional com base na persistência, abrangência e interferência que os sintomas apresentam na vida do indivíduo. Segundo o DSM-5-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), os sintomas da depressão incluem:

  • Humor deprimido constante
  • Diminuição do interesse ou prazer em quase todas as atividades
  • Perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta
  • Diminuição ou aumento significativo do apetite
  • Insônia ou sonolência
  • Agitação ou retardo psicomotor
  • Falta de energia, preguiça ou cansaço excessivo
  • Sentimentos de inutilidade, culpa excessiva ou inadequada
  • Diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou indecisão
  • Pensamentos de morte ou suicídio


Para que os sintomas tenham uma relevância clínica, é preciso que se note uma mudança nos pensamentos, sentimentos, comportamento ou na fisiologia, devendo esta ser vivenciada por um período significativo de tempo.

Há regras específicas que indicam quantos sintomas de cada categoria devem estar presentes para se fazer o diagnóstico. Essa complexidade é apenas uma das razões pelas quais um profissional deve ser consultado para diagnosticar a depressão.

Quais são os tipos de depressão?

Um indivíduo que sofre de depressão também pode apresentar sintomas de ansiedade, distúrbios do sono e de apetite e podem demonstrar sentimentos de culpa ou baixa auto-estima, falta de concentração.

Um episódio depressivo pode ser leve, moderado ou grave, a depender da intensidade dos sintomas. Durante um episódio depressivo grave, é pouco provável que a pessoa afetada possa continuar com atividades sociais, de trabalho ou cotidianas. Também pode-se fazer uma diferenciação da depressão em pessoas que têm ou não histórico de episódios de mania.

Episódios de mania envolvem humor exaltado ou irritado, excesso de atividades, pressão de fala, auto-estima inflada e uma menor necessidade de sono, além da aceleração do pensamento. Os tipos de depressão podem ser crônicos (isto é, acontecem durante um período prolongado de tempo), com recaídas, especialmente se não forem identificados e tratados, ou pontuais.

Conheça alguns dos principais tipos de depressão e a sua classificação na CID-11:

  • Transtorno depressivo recorrente | CID-11 6A71: esse distúrbio envolve repetidos episódios depressivos. Durante esses episódios, a pessoa experimenta um humor deprimido, perda de interesse e prazer e energia reduzida, levando a uma diminuição das atividades em geral. Este tipo de sofrimento pode ser longo, duradouro e mais difícil de ser diagnosticado.
  • Transtorno bipolar | CID-11 6A6Z: esse tipo de depressão consiste tipicamente na alternância entre episódios de mania e depressivos, separados por períodos de humor regular.
  • Transtorno depressivo de episódio único | CID-11 6A70: é caracterizado pela presença de um episódio depressivo quando não há histórico de episódios depressivos anteriores.
  • Transtorno distímico | CID-11 6A72: o transtorno distímico é caracterizado por um estado depressivo persistente (isto é, com duração de 2 anos ou mais), durante a maior parte do dia, na maior parte dos dias. Durante os primeiros 2 anos do distúrbio, nunca houve um período de 2 semanas durante o qual o número e a duração dos sintomas foram suficientes para satisfazer os requisitos de diagnóstico para um Episódio Depressivo.
  • Transtorno misto de ansiedade e depressão| CID-11 6A73: o transtorno misto de ansiedade e depressão é caracterizado por sintomas de ansiedade e depressão na maior parte dos dias por um período de duas semanas ou mais. Nenhum conjunto de sintomas, considerado separadamente, é suficientemente grave, numeroso ou persistente para justificar o diagnóstico de um episódio depressivo, distimia ou um distúrbio relacionado à ansiedade e ao medo.
  • Transtorno disfórico pré-menstrual |CID-11 GA34.4: um padrão de sintomas de humor (humor deprimido, irritabilidade), sintomas somáticos (letargia, dor nas articulações, excessos alimentares) ou sintomas cognitivos (dificuldades de concentração, esquecimento) que comece vários dias antes do início da menstruação, e comece a melhorar dentro de alguns dias após o início da menstruação e, em seguida, torne-se mínima ou ausente dentro de aproximadamente 1 semana após o início da menstruação, estando presente na maioria dos ciclos menstruais no último ano.
  • Depressão psicótica: o indivíduo em sofrimento geralmente convive com episódios de delírio e alucinação, em que se somam os sintomas de depressão a alguma forma de psicose. Pode ser considerado um tipo de depressão grave.


O que é depressão para a psicanálise?

No contexto da psicanálise, a partir da obra Luto e Melancolia, Freud (1917) inicialmente considerava a depressão como um fenômeno que envolvia a "diminuição do sentimento de auto-estima" e "expectativas ilusórias de punição". Sua visão inicial era de que as crianças, devido à falta de capacidade de auto-estima e de prever o futuro, não poderiam experimentar a depressão.

Acreditava-se que na adolescência o desenvolvimento da personalidade permitia a vivência da depressão, embora até a década de 1970 alguns estudiosos considerassem os sintomas depressivos como parte normal do desenvolvimento adolescente.

Ao longo do século 20, a compreensão da relação entre eventos na infância e o funcionamento da personalidade no futuro começou a ganhar destaque. Freud propôs que a personalidade de uma criança era amplamente desenvolvida até os cinco anos de idade, sendo influenciada pela maneira como ela se ajustava a experiências precoces. A depressão, para Freud, surgia da resolução inadequada dos conflitos entre impulsos primitivos (id) e a aceitação de tabus sociais pelo superego.

mão encostando na própria sombra sob fraca luz

Numa leitura mais recente, o mal-estar contemporâneo, para o psiquiatra Joel Birman, manifesta-se no corpo, na ação e na intensidade como uma dor difícil de ser simbolizada.

Nesse cenário, a depressão destaca-se como uma forma de subjetivação, refletindo um aumento significativo nos diagnósticos e previsões de uma sociedade predominantemente depressiva.

A contemporaneidade revela a psicanálise como um discurso relevante para entender questões sociais e culturais. As mudanças na estrutura familiar, a crise da paternidade e a ascensão do individualismo na vida pós-moderna contribuem para a proliferação da cultura do narcisismo.

A falta de consenso sobre o termo "depressão" na sociedade atual reflete a dificuldade em lidar com as transformações sociais, econômicas e culturais que afetam a evolução da subjetividade.

Por uma perspectiva psicanalítica, a depressão pode ser considerada uma posição subjetiva diante das demandas sociais que enfatizam o individualismo e a cultura do espetáculo.

O sujeito contemporâneo, sob pressão para buscar a satisfação constante, muitas vezes se vê paralisado, afastado de seu desejo, resistindo às exigências sociais. Assim, a depressão pode ser uma resposta à sociedade que não tolera a falta, a dor e o sofrimento.

Neste contexto, enquanto dispositivo de "cura pela palavra" a psicanálise concebe a escuta do "singular" como importante possibilidade de abertura para as manifestações subjetivas, que podem estar relacionadas às múltiplas expressões sintomáticas, inclusive as depressivas.

Em todos os casos, torna-se essencial o diagnóstico precoce para que o tratamento seja bem sucedido, evitando novos episódios. É fato que a depressão pode aparecer em diversas fases da vida, a começar pela infância.

Depressão na Era Digital
por Ana Suy e Alexandre Patrício

No curso Depressão na Era Digital, os psicanalistas e escritores Ana Suy e Alexandre Patricio de Almeida apresentam uma discussão sobre saúde mental, cultura e sociedade a partir da psicanálise, oferecendo uma imersão nas complexidades do adoecimento psíquico na era atual, em especial sobre o fenômeno da depressão.

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Sintomas e diagnóstico da depressão infantil

Em crianças pré-escolares - de idade até sete anos - a manifestação clínica mais comum é representada pelos sintomas físicos, tais como dores, fadiga e tontura. Ainda segundo o autor, seguem-se além das queixas dos sintomas físicos a presença de ansiedade, fobias, agitação psicomotora ou hiperatividade, irritabilidade, diminuição do apetite com falha em alcançar o peso adequado, e alterações do sono.

Alguns estudiosos citam surgimento de choro excessivo e frequente, comunicação falha, tristeza na fisionomia e um comportamento que apresenta agressividade.

Em crianças escolares - entre seis a doze anos -, o humor depressivo já pode ser verbalizado e é frequentemente relatado como tristeza, irritabilidade ou tédio. As crianças podem apresentar apatia, tristeza, fadiga, isolamento, aparência triste, queda do desempenho escolar, ansiedade diante de uma separação, dentre outros.

Os estudos dedicados à depressão infantil, semelhantes aos adultos, revelam a importância do diagnóstico precoce. A peculiaridade do diagnóstico infantil reside na possibilidade de identificação tardia, agravando a situação.

A depressão infantil pode passar despercebida ou ser confundida com características temperamentais, tornando-se desafiador reconhecê-la. Desde a década de 1970, há consenso de que as crianças apresentam sintomas depressivos semelhantes aos dos adultos, com a irritabilidade assumindo o papel do abatimento no diagnóstico infantil.

15 sinais da depressão infantil

  • Angústia.
  • Pessimismo
  • Agressividade
  • Falta de apetite
  • Falta de prazer em executar atividades
  • Isolamento
  • Apatia
  • Insônia ou sono excessivo que não satisfaz
  • Queixas de dores
  • Sentimentos de desesperança
  • Dificuldade de concentração, atenção memória ou raciocínio
  • Baixa auto-estima e sentimento de inferioridade
  • Sensação frequente de cansaço ou perda de energia
  • Sentimentos de culpa
  • Dificuldade de se afastar da mãe


A depressão em crianças: uma visão da psicanálise

A teoria de Sigmund Freud trouxe uma nova perspectiva sobre as angústias infantis, que se assemelham às vivenciadas na idade adulta. Estudos recentes corroboram a ideia de que, contrariamente a concepções antigas, as crianças experimentam emoções, enfrentam perdas, mudanças e traumas, que podem ter repercussões na vida adulta, tornando-se terrenos férteis para o desenvolvimento da depressão.

Para a psicanálise freudiana, a depressão infantil está relacionada a situações de perdas e luto, impactando diretamente na fase narcísica da criança. A infância, caracterizada pela ainda incompleta constituição psíquica, evidencia a singularidade de como cada criança vivencia e elabora suas perdas, considerando que as histórias de vida são distintas.

banner do curso Melanie Klein e a refundação do eu desenvolvimento psiquico e a teoria das posicoes, do professor Alexandre Patricio, para a Casa do Saber



Psicanálise, psicoterapia e psiquiatria no tratamento da depressão

Pesquisas sobre a depressão de difícil tratamento enfatizam a importância da associação do acompanhamento psiquiátrico ao acompanhamento psicanalítico. Nestes casos graves, nota-se a predominância de derivados de impulsos agressivos nos humores depressivos.

Na clínica psicanalítica destacam-se dois tipos de desprazer: a ansiedade e o afeto depressivo, decorrentes de situações como luto, perdas amorosas ou punições.

Uma leitura psiquiátrica associada ao manejo psicanalítico ressalta que o afeto depressivo desempenha papel equivalente à ansiedade na psicopatologia, sendo uma parte inevitável da vida mental, acionando defesas e conflitos, podendo ser ou não consciente em um dado compromisso.

Aqui os transtornos depressivos são definidos como a "sensação de impotência e desesperança diante da realização de um desejo intenso", colorindo toda a auto-representação com sentimentos de inferioridade, incapacidade e ameaça.

Grandes autores da psicanálise, como Melanie Klein, criaram conceitos e formas de compreensão das manifestações do transtorno depressivo. Aprofunde-se no tema da depressão com a Masterclass do professor e psicanalista Alexandre Patricio de Almeida dedicada às psicopatologias atuais.



Como vencer a depressão?

O acolhimento das pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo depressão e as necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, e seus familiares é fundamental para a identificação das necessidades assistenciais, alívio do sofrimento e planejamento de intervenções medicamentosas e terapêuticas, se e quando necessárias.

No Brasil, além de contar com a disponibilidade de consultórios e clínicas particulares, os indivíduos em situações de crise podem ser atendidos em qualquer serviço da rede pública de saúde.

Os casos de pacientes em situação de emergência devem ser atendidos nos serviços de urgência e emergência e nos serviços da RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) é composta por equipamentos variados, em sua maioria guiados por princípios de cuidado comunitário e em liberdade, tais como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), os Centros de Convivência e Cultura e as Unidade de Acolhimento (UAs). As diretrizes da política envolvem o governo federal e os estados e municípios.






Referências:

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Entenda o que é Filosofia, como ela surgiu e sua importância para o mundo. Vamos conhecer os períodos e principais pensadores que marcaram a história da Filosofia, as áreas de estudo, além dos melhores cursos à distância para aprender sobre esta área do conhecimento.

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Quais os passos para estudar Filosofia?

É comum as pessoas entenderem que estão filosofando (e de fato o estão) ao se verem introspectivas refletindo sobre qual o sentido da vida, observando as árvores, animais, as estrelas e ao se espantarem diante da grandeza do universo em contraste com a pequenez do homem.

Estruturar o pensamento filosófico, no entanto, está longe de ser uma tarefa simples. É possível acessar um material rico já construído por mentes brilhantes com reflexões e métodos que servem como guia para se construir o saber filosófico.

Por isso, além de explorar uma inquietação filosófica espontânea, aprender filosofia significa essencialmente se debruçar sobre a própria história da filosofia, seus conceitos e métodos.

O que a Filosofia estuda?

Este campo do saber procura investigar as nossas origens, a existência, as transformações observadas na natureza, e as relações e experiências do homem no mundo.

A partir da curiosidade, questionamentos e observações sobre o que está à nossa volta, é possível filosofar sobre tudo o que possa provocar espanto, despertar dúvidas ou admiração. Dentro de seu estudo sistematizado, encontramos diversas áreas de investigação.

Um exemplo é o estudo da Ética, onde a filosofia se propõe a refletir sobre valores morais e as ações humanas, levanta questões sobre a definição do que é o bem e o mal, o certo e o errado ou o conceito de justiça.

Outro ramo é a Estética, em que o interesse está focado na experiência artística, sendo possíveis questionamentos sobre a concepção do que é considerado belo ou a reflexão sobre o papel da arte na sociedade. Estes são apenas alguns exemplos das muitas ramificações possíveis para desenvolver o pensamento filosófico.

pintura escola de atenas, de rafael sanzio
Afresco "A Escola de Atenas", de Rafael Sanzio, que apresenta Platão e Aristóteles ao centro.(Wikimedia Commons)

Quem pode estudar Filosofia?

Pelo seu aspecto livre e universal, a filosofia é acessível a todas as pessoas que desejam se lançar ao estudo da área, abarcando desde a trajetória acadêmica formal ao puro desejo pessoal de estudar a existência e as questões que nos concernem.

Dentro deste espaço de aprendizado, encontramos diferentes ramos de estudo - como moral, ética, política, religião, epistemologia - diversos pensadores e períodos históricos, além de tratar de dilemas ancestrais até questões contemporâneas. Em cada campo mencionado, há um universo inesgotável de possibilidades de investigação e estudo.

A Filosofia não implica em uma posição de posse do saber, mas uma prática do pensar a realidade pela razão. Por isso, seu estudo não se limita apenas ao caminho acadêmico. A Filosofia é para todos aqueles que têm curiosidade de saber, que desejam questionar, se debruçar nas questões levantadas por grandes pensadores e analisar criticamente a realidade, trilhando um caminho próprio em busca da verdade.

Por onde começar a estudar Filosofia?

A construção de aprendizado nesta área do saber é subjetiva e marcada por um exercício constante de elaboração em relação aos mistérios da vida. Para começar os estudos em Filosofia , sabemos que é necessário traçar minimamente um caminho para início da jornada.

Os estudos iniciais geralmente tomam por partida o pensamentos de filósofos ocidentais, como Sócrates, Platão e Aristóteles, através de textos considerados fundamentais, como a obra “O Banquete”, de Platão. Porém, indicar a leitura dos textos pode não ser o suficiente para a devida compreensão do tema.

Por isso, passaremos ponto a ponto pela história da filosofia, grandes pensadores e áreas de estudo para que você consiga entender um pouco mais sobre o percurso e encontrar as melhores opções de cursos de filosofia.

O que é Filosofia e como surgiu?

Traçar uma definição clara e simples da filosofia é uma tarefa desafiadora, pois sua estrutura conceitual é baseada em uma linguagem complexa e necessita de um certo conhecimento prévio na área para compreendê-la em essência. É da natureza da filosofia não contar com respostas imediatas.

A filosofia é um livre saber que se baseia na razão para explicar a realidade a partir do uso de conceitos. A palavra "filosofia" (do grego φιλοσοφία) resulta da união de outras duas palavras:

- "philos” - significa "amizade", "amor fraterno" (não no sentido erótico), desejo intenso por algo e respeito entre os iguais.

- "sophia” - significa "sabedoria", "conhecimento".

Filosofia significa, portanto, amizade ou amor pela sabedoria, amor e respeito pelo saber ou pelo conhecimento. A partir da Filosofia, o homem pode caminhar em direção à autonomia para pensar sobre si mesmo e o mundo e, por isso, carrega um sentido de liberdade. É um exercício do pensar e constante busca pelo saber, uma atitude que não se submete a nenhuma forma de controle ou qualquer outro conhecimento.

A origem da filosofia remonta à Grécia Antiga, no século VI a.C, e marca a transição do pensamento mítico para o da razão. Surge não por uma pergunta teórica ou alguma questão efetiva, mas a partir da admiração diante de fenômenos que ultrapassam o poder do conhecimento e provocam curiosidade, temor e espanto.

À época, fenômenos naturais que não podiam ser explicados, como a noção de finitude marcada pela vida e morte, a mudança das estações ou a transição entre dia e a noite, eram ilustrados por meio de mitos.

Os mitos eram narrativas que pretendiam explicar a origem dos deuses e do universo de forma fantasiosa e sobrenatural, onde eram representados os fenômenos da natureza, os sentimentos humanos e as contradições presentes na sociedade.

Mito de Perséfone: a mudança das estações pela mitologia grega

imagem antiga retratando mito de perséfone e hades exposta no British Museum,em Londres
Representação de Perséfone e Hades - Vulci, c. 440-430 BCE. (British Museum, London)

Segundo conta a mitologia grega, Perséfone era filha de Zeus com Deméter, deusa da colheita e da agricultura. Um dia, ao ver a jovem colhendo flores em uma pradaria, Hades, o deus do submundo, se apaixona por Perséfone e a sequestra.

Enfurecida e entristecida pelo sumiço da filha, Deméter deixa o Olimpo e passa a não cumprir suas funções de colheita, tornando o solo da Terra estéril. Ao notar a devastação causada pela ausência de Deméter, Zeus envia o mensageiro Hermes ao submundo para negociar a libertação de Perséfone. No entanto, sem saber das consequências, a jovem havia ingerido sementes de romã oferecidas por Hades, fato que criou uma ligação eterna com o submundo e que a impediu de deixá-lo permanentemente.

Assim, foi feito um acordo: Perséfone viveria dois terços do ano com Deméter, representado o período de boa colheita, quando Deméter estava contente pela chegada da filha (primavera e verão) e um terço do ano com Hades, representando o período de dificuldade na colheita, pois Deméter estava infeliz por conta do regresso da filha para o submundo (outono e, principalmente, inverno)

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Por que a Filosofia surgiu na Grécia?

Há diferentes teses sobre esta questão. Uma delas é conhecida como “Milagre Grego”, em que se acreditava que a Filosofia surgiu de maneira única, inesperada e espontânea na Grécia , como defendia o historiador Diógenes Laércio (180-240 d.C).

Outra vertente considera que as transformações vivenciadas pelos gregos se deram por conhecimentos advindos dos povos “orientais”, através de uma herança dos egípcios, caldeus, babilônios e persas, contribuindo para que florescessem conhecimentos como geometria, astrologia e meteorologia.

Por uma visão histórica, é possível constatar que a topografia da região facilitou a construção de portos, viagens marítimas e intercâmbio econômico. Isso levou os gregos ao contato com outras civilizações e seus diferentes mitos, trazendo descrença e busca por explicações mais racionais sobre o mundo.

mapa do mundo grego referente ao período histórico de início da filosofia
Mapa do mundo grego - Reprodução: Livro “Iniciação à História da Filosofia - dos pré-socráticos a Wittgenstein, de Danilo Marcondes


Quais foram os primeiros filósofos?

A estrutura e modelo político desenvolvidos nas polis gregas, propiciaram o surgimento dos primeiros filósofos, conhecidos como pré-socráticos. Eles se concentravam na pergunta e busca pelo arché, que seria o elemento primordial a que todas as outras coisas se derivam, a substância primeira capaz de constituir todo o universo e tudo o quanto existe na realidade.

Tales de Mileto (sec. VII e VI a.C) é considerado o primeiro filósofo da História. Marcou o rompimento em relação ao mito ao questionar racionalmente a natureza, buscando compreender o mundo a partir da investigação e não se satisfazendo com as respostas fantásticas e sobrenaturais colocadas pela mitologia. Ele propôs que a água era a substância fundamental e que compunha todas as coisas que existiam no mundo.

Não à toa os filósofos pioneiros são chamados de pré-socráticos. Esta definição já indica a importância do legado deixado por Sócrates, que contribuiu de forma consistente para o início e desenvolvimento do período conhecido como filosofia clássica, seguido por Platão e Aristóteles. A partir de então, a disciplina se desenvolve com métodos mais sistemáticos e analíticos de investigação, e se expande para áreas como´ética, política, lógica e epistemologia.

Para entendermos melhor essa caminhada, vamos conferir os períodos que marcam a filosofia e um pouquinho da característica de cada um deles.

Imagem de Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo
Imagem de Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo da História. (Wikimedia Commons)


Conheça os períodos e grandes pensadores da Filosofia

Os períodos da Filosofia são marcados por diversas condicionantes, que refletem mudanças estruturais e impactam no modo de vida da sociedade. Acontecimentos históricos, descobertas científicas e tecnológicas, mudanças políticas, entre outros fatores são determinantes para uma mudança de comportamento em relação ao modo de se pensar e se viver no mundo.

As ideias propostas por grandes pensadores, advindas de suas reflexões e expostas em suas obras, contribuem de forma substancial para esta demarcação entre os períodos. Confira a lista dos períodos abaixo:

  • Filosofia Antiga (séc.VI a.C. até sec. V d.C):

    Este período marca o início da Filosofia , que começou na Grécia Antiga e se estendeu até ao mundo romano. Foi iniciada pelos Pré-Socráticos, com as investigações sobre a natureza, ordem e origem do mundo (cosmologia) e seguiu com Sócrates, Platão e Aristóteles, que trouxeram as atenções para o homem (“conhece-te a ti mesmo”) e estabeleceram as bases da ética, epistemologia e metafísica ocidentais. No período helenístico, escolas como o Estoicismo e o Epicurismo focaram na ética prática e na busca pela felicidade.

    ⭐ Pensadores do período da Filosofia Antiga:

    Sócrates, Platão, Aristóteles, Epicuro, Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímees, Heráclito, Pitágoras, Parmênides e Zenão.

  • Filosofia Medieval (séc. V d.C até séc XV d.C):

    Este longo período histórico vai do final do helenismo até o Renascimento e o início do pensamento moderno e marca a fusão da filosofia grega com as tradições religiosas, como o cristianismo. Os principais temas incluíam a relação entre fé e razão, a natureza de Deus, a existência da alma e a moralidade.

    A maior parte da produção conhecida como “filosofia medieval”, porém, está concentrada entre os séculos XII e XIV, período do surgimento e desenvolvimento da escolástica. Filósofos como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, buscaram integrar o pensamento racional à fé religiosa. Esse período foi essencial para o desenvolvimento da filosofia e ciência modernas.

    ⭐ Pensadores do período da Filosofia Medieval:

    Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Anselmo de Cantuária, Boécio, Duns Scotus, Guilherme de Ockham e Avicena (Ibn Sina).

  • Filosofia Moderna (séc. XVII d.C até XIX d.C):

    A filosofia moderna representa um movimento centrado na ideia de progresso e valorização da subjetividade. Impulsionado pela queda do regime feudal, ascensão burguesa, descobertas científicas e declínio da influência da Igreja Católica, a filosofia passa a operar pela razão e empirismo científico.

    Pensadores como Descartes, Locke, Kant, Spinoza e Hume exploraram o conhecimento, a mente humana e a realidade. Esse período destacou a importância da liberdade, do governo e dos direitos humanos, influenciando a ciência, a política e a ética. O Iluminismo enfatizou a razão e a ciência como caminhos para o progresso, enquanto Hegel e Marx moldaram debates filosóficos e sociais que são relevantes até os dias de hoje.

    ⭐ Pensadores do período da Filosofia Moderna:

    René Descartes, Immanuel Kant, John Locke, David Hume, Baruch Spinoza, Thomas Hobbes, Jean-Jacques Rousseau, Francis Bacon, G.W.F. Hegel, Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche e Karl Marx.

  • Filosofia Contemporânea (séc. XX - atualmente):

    Abarcando o início do século XX até os dias atuais, o período abrange uma ampla gama de temas que refletem as profundas mudanças sociais, políticas e tecnológicas. Pensadores como Sartre, Foucault, Derrida e Deleuze exploraram questões fundamentais como a natureza da existência, o exercício do poder, a linguagem e a construção da identidade.

    Já o movimento analítico, representado por Wittgenstein e Russell, concentrou-se na lógica e na análise da linguagem como instrumentos centrais de investigação filosófica. Temas como ética, direitos humanos, feminismo e desafios contemporâneos relacionados à questões ambientais e tecnológicas são evidenciados neste período. Este cenário apenas comprova a importância do estudo contínuo e relevância da filosofia para pensarmos os dilemas e as complexidades do mundo atual.

    ⭐ Pensadores do período da Filosofia Contemporânea:

    Jean-Paul Sartre, Michel Foucault, Jacques Derrida, Gilles Deleuze, Martin Heidegger, Ludwig Wittgenstein, Simone de Beauvoir, Hannah Arendt e Jürgen Habermas

Foto da “O pensador”,de Auguste Rodin, escultura de homem com a mão no queixo pensando filosoficamente, exposta no Musée Rodin, em Paris, na França.
Escultura “O Pensador”, obra-prima de Auguste Rodin. Representa a introspecção, contemplação e a intelectualidade. Reprodução: Site Musée Rodin

“O que faz meu Pensador pensar é que ele pensa não só com o cérebro, mas também com suas sobrancelhas tensas, suas narinas distendidas e seus lábios comprimidos. Ele pensa com cada músculo de seus braços e pernas, com seus punhos fechados e com seus artelhos curvados”

- citação de Auguste Rodin sobre a própria obra.



Conheça as áreas de estudo da Filosofia

Entender as ramificações da filosofia é um passo interessante para vislumbrar os passos de investigação na área.

Confira de forma um pouco mais detalhada algumas das principais ramificações da Filosofia abaixo:

  • Metafísica:

    Você já parou para refletir sobre o que é a alma ou mesmo a existência?

    Essas são algumas das perguntas abordadas pelos filósofos nesta área de estudo. A palavra metafísica vem de um vocábulo grego que significa “depois da física” ou “além do físico”, por isso investiga a realidade como um todo e o que está além do mundo físico e da experiência de nossos sentidos.

  • Epistemologia:

    O que é a verdade? Ela é subjetiva ou objetiva? Como definir quais fontes de conhecimento são válidas e por que algumas ideias têm mais espaço do que outras?

    Conhecida como “teoria do conhecimento”, este é um dos campos principais da filosofia, onde se estuda a relação do sujeito com o conhecimento, os tipos de conhecimento e em que investiga-se sua origem, limites e validade.

  • Ética:

    Esta área se debruça sobre questões morais e as ações humanas como uma ciência do bom comportamento para construir uma vida boa para o todo em sociedade.

    Busca refletir sobre bem e mal, bom e ruim e levantar debates sobre condutas de comportamento humano como a definição do que é certo e errado e a noção de justiça.

  • Estética:

    Ao visitar um museu, é possível que você escute alguém questionando a beleza das obras expostas. Afinal como - ou quem - define o que é o belo?

    Conhecida também como “Filosofia da Arte” , a estética se dedica a estudar o conceito do que é belo e do fenômeno artístico, refletindo sobre percepções e sensações para além do gosto pessoal de cada um, mas levando em conta também a natureza da criatividade na arte e aspectos culturais.

  • Filosofia Política:

    Ao longo da história, presenciamos diversos tipos de ideologias e formas de governar. Este ramo da filosofia busca refletir sobre a natureza do poder, da justiça, igualdade, direitos e liberdade.

    Por que um governo precisa existir, o que o torna legítimo e de que forma ele se estabelece? O que é cidadania e qual a sua importância da participação política? A política está presente na vida social de todos e as perguntas feitas pela filosofia são de grande importância para a sociedade.

  • Lógica:

    A lógica é utilizada para construir e validar raciocínios, distinguindo o que é correto e o que é incorreto no intuito de encontrar um resultado verdadeiro.

    A partir de diferentes métodos, como dedução e indução, direciona a linha de pensamento para uma conclusão que seja coerente. Confira abaixo um exemplo de silogismo, modelo dedutivo introduzido por Aristóteles:

    1ª premissa: Todos os homens são mortais

    2ª premissa: Sócrates é homem

    Conclusão: Sócrates é mortal.

Agora que já entendemos um pouco mais sobre a história da filosofia e suas áreas de estudo, vamos conferir uma lista com os melhores cursos de filosofia para você estudar à distância?

Melhores cursos online de Filosofia com certificado

Até aqui aprendemos algumas informações importantes sobre a Filosofia, mas como começar a de fato a estudar os métodos, conceitos e enriquecer a caminhada em busca de respostas às questões filosóficas de forma mais satisfatória e menos “aventureira”? Separamos cursos por alguns recortes que podem auxiliá-lo nesta empreitada em busca de conhecimento.

Indicaremos cursos de filosofia relacionados especificamente a períodos históricos, cursos focados na vida e obra de pensadores, grandes questões da humanidade ou em áreas de estudo da Filosofia. Todos os cursos listados geram certificado de conclusão.

Cursos introdutórios sobre Filosofia

Para todo início, precisamos “começar do começo”. Considere partir por aqui se você está tendo o primeiro contato com Filosofia e gostaria de ser apresentado a ela antes de seguir para caminhos mais profundos na área.

  • Introdução à Filosofia, por Franklin Leopoldo e Silva
    07 aulas | Duração (50 min)

    Este curso é bem interessante para quem está buscando algo bem introdutório. Nele, o professor Franklin Leopoldo e Silva explica sobre o surgimento da Filosofia de maneira leve, clara, sem abordar conceitos complexos e difíceis de assimilar para um iniciante.

    O curso ajuda a entender como o início da Filosofia contribuiu para criar as bases teóricas do conhecimento e que definiram o ponto de partida para a ciência.

    Assistir ao curso


  • Introdução à Mitologia Grega, por Julia Myara
    02 aulas | (50 min)

    Se a Filosofia surgiu na Grécia Antiga e marcou uma transição do mito para a razão, é interessante conhecer um pouco sobre a mitologia grega.

    Conheça a origem do mito, as primeiras gerações de Deuses e entenda como essa concepção de mundo sustentava a compreensão dos gregos em relação à existência.

    Assistir ao curso


  • Para Começar a Estudar Filosofia, por Mauricio Pagotto Marsola
    08 aulas | (3h03)

    Este curso traça um bom caminho para efetivamente iniciar os estudos na área.

    Você será apresentado a obras fundamentais que servem como base para o aprendizado da Filosofia, como “O Banquete”, de Platão, e terá um panorama sobre pensadores e ideias que alicerçam o pensamento filosófico.

    Assistir ao curso


Cursos sobre as áreas de estudo da Filosofia

Vimos anteriormente neste texto, que a Filosofia tem algumas áreas de estudo. Seguem abaixo algumas opções de cursos relacionados às áreas de investigação da disciplina para que você possa se debruçar:

  • Jornada da Filosofia: Ética, por Douglas Rodrigues Barros
    06 aulas | (2h57)

    Como a ética pode contribuir para uma vida boa para o todo na sociedade?

    Reflita sobre público e privado, certo e errado, justo e injusto e desenvolva recursos de pensamento a partir da introdução às ideias de diferentes pensadores a respeito do tema.

  • Assistir ao curso



  • Jornada da Filosofia: O que é Beleza?, por Eduardo Wolf
    06 Aulas | (3h03)

    Como entender a Beleza para além do gosto pessoal? Seja introduzido à história do conceito de beleza ocidental.

    Entenda como os gregos a enxergavam, tenha um panorama sobre o ponto de vista da Filosofia e compreenda a importante relação da beleza com a maneira como lidamos com o mundo e a vida em sociedade.

  • Assistir ao curso



  • Jornada da Filosofia: Saber, por Suze Piza
    07 aulas | (3h56)

    Por que as afirmações e hipóteses de alguns têm mais espaço e aceitação do que outras?

    Debruce-se pela epistemologia, área de estudo da Filosofia que investiga o conhecimento, suas origens e conceitos sobre a verdade e tenha uma perspectiva da filosofia refletida sobre ela mesma e outros saberes.

  • Assistir ao curso


Cursos sobre períodos históricos da Filosofia

Nesta série, o professor Paulo Niccoli Ramizes apresenta o "Guia Essencial da Filosofia", traçando um panorama com os pontos mais importantes, mudanças, grandes pensadores e as questões trabalhadas no período destacado no curso.

Cursos sobre grandes pensadores da Filosofia

Uma boa maneira de estudar Filosofia é compreender a vida, obra e visão de mundo do filósofo em específico. Confira algumas indicações de cursos neste sentido:

  • Os pensadores: Aristóteles, por Franklin Leopoldo e Silva
    04 aulas | (1h51)

    Entenda a importância e legado de Aristóteles para a Filosofia.

    O curso aborda o pensamento aristotélico e mostra que ele entendia a virtude como a melhor maneira de agir nas ocasiões que se apresentam durante a vida, pois depende, em grande parte, do uso da razão.

  • Assistir ao curso



  • Um dia com Spinoza, por Clóvis de Barros Filho
    07 aulas | (2h54)

    Nascido em Amsterdã em uma família de origem portuguesa, Espinosa (1632-1677) é um dos nomes mais importantes da filosofia moderna.

    Neste curso, os conceitos do pensador sobre ética, Deus e paixões são abordados pelo professor Clóvis de Barros Filho.

  • Assistir ao curso



  • Nietzsche: Vida, Obra e Legado, por Scarlett Marton
    08 aulas | (1h35)

    Seja introduzido ao pensamento de um dos filósofos mais conhecidos (e mais controversos) da história: Friedrich Nietzsche.

    Criador do termo "Übermensch" e da concepção filosófica do "Eterno Retorno" , acreditava que o homem precisava superar seus próprios valores para alcançar a evolução.

  • Assistir ao curso


Cursos de Filosofia sobre temas atuais

A Filosofia permanece viva e atual, trazendo uma visão crítica sobre o modo que vivemos, levantando questões importantes sobre a dinâmica neoliberal, feminismo, questões ecológicas, entre outros assuntos. Conheça alguns cursos de filosofias interessantes para se debater os dilemas contemporâneos abaixo:

Esperamos que este texto tenha te ajudado a compreender melhor sobre o que é Filosofia, suas áreas de estudo, períodos e grandes pensadores.

Se você tem sede por conhecimento e deseja aprender mais sobre Filosofia com professores de referência, conte com os cursos da plataforma Casa do Saber +!




Entenda as possibilidades de se estudar psicologia através de cursos online, os famosos EAD (educação à distância). A seguir, exploraremos as áreas de atuação e abordagens da psicologia, além de apresentar opções e custos para quem deseja aprofundar os conhecimentos na área de forma remota.



Como estudar Psicologia online?

Se você está procurando opções para cursar a faculdade de psicologia à distância, infelizmente temos uma má notícia para te dar. Até o momento, de acordo com a determinação do Ministério de Educação (MEC), a graduação de psicologia não pode ser oferecida na modalidade EAD. Por outro lado, há muitas possibilidades de se estudar psicologia online por meio de cursos livres, pós-graduação e especializações.

A opção pelo ensino à distância atende tanto a estudantes quanto profissionais da área, onde o aluno pode explorar diferentes abordagens da psicologia com liberdade, seja para aprender sobre conteúdo introdutório ou especializar-se em algum tema de sua preferência. É possível estudar a psicologia analítica, de Carl Jung, a psicanálise, de Freud, e, ao mesmo tempo assistir a cursos sobre a logoterapia para investigar as ideias de Viktor Frankl.

Existe faculdade de Psicologia EaD?

Como já mencionado acima, não existe a possibilidade de realizar a graduação em psicologia EaD . Em julho de 2022, o Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU) chegou a conseguir a autorização do MEC para oferecer o curso à distância, através da portaria MEC 749. Porém, no dia seguinte, o próprio Ministério da Educação a anulou, sob alegação de erro material.

À época, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) e mais de 20 entidades publicaram uma nota de repúdio à Portaria MEC 749, afirmando que a presencialidade é indispensável para a formação de qualidade em Psicologia.

Posteriormente, em setembro de 2023, pela Portaria Nº 1.838, o Ministério da Educação abriu consulta pública para elaboração de proposta de regulamentação de oferta do curso de Psicologia - entre outras graduações - na modalidade de educação à distância.

Desde então, a discussão vem sendo constantemente adiada, sem uma previsão de desfecho à vista. Desta forma, não é possível definir ainda se, no futuro, a modalidade de graduação à distância será ou não viabilizada para o curso de psicologia. Mas, se depender da opinião do conselho dos profissionais de psicologia, a decisão permanecerá em mantê-lo somente no modelo presencial.

Atenção para não confundir:

Embora a graduação em psicologia seja recomendada, algumas abordagens da psicoterapia, como a psicanálise, não exigem formação superior específica no curso de psicologia para o exercício da atividade profissional. Por isso, é possível encontrar algumas instituições oferecendo o curso de formação para psicanalista 100% ead - o que é permitido.

O que é Psicologia e qual o papel do profissional da área?

A psicologia é uma ciência que se dedica a tratar, estudar e analisar o comportamentos dos indivíduos e os processos mentais, como sentimentos, pensamentos e razão. Embora a área de estudo tenha sido elaborada há alguns séculos no campo da filosofia, a psicologia estruturou-se como uma ciência independente somente em meados do século 19. Desde então, surgiram diversas teorias sobre o comportamento humano e novas descobertas científicas - como a chegada das neurociências..

O cenário dinâmico exige estudo constante do profissional da área. O psicólogo deve atuar na promoção da saúde mental, tratamento, intervenção em crises e em desenvolvimento pessoal e profissional. Seu trabalho tem grande importância social e demanda certa sofisticação, pois deve desenvolver habilidades como empatia e comunicação, mas também conhecimento técnico para diagnosticar e tratar problemas de saúde mental de forma eficaz.

Como em diversas outras profissões, há muitas áreas de atuação. No caso da psicologia, além desta segmentação, também encontramos diferentes teorias, técnicas e abordagens para analisar o comportamento humano, como veremos mais adiante.

Sobre o curso de graduação em Psicologia

O curso de psicologia prepara o profissional para atuar em diferentes contextos sociais e profissionais de forma ética, desenvolver o conhecimento científico, analisar criticamente os fenômenos sociais e biológicos e atuar na promoção da saúde. Dados do Sisu 2024 mostram que psicologia foi o 4° curso com maior número de inscrições, no topo da lista das graduações mais procuradas pelos estudantes.

POSIÇÃO CURSO QTDE. INSCRITOS
MEDICINA 298.316
DIREITO 157.364
ADMINISTRAÇÃO 118.883
PSICOLOGIA 103.336
ENFERMAGEM 99.768
PEDAGOGIA 89.702
MEDICINA VETERINÁRIA 65.271
CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO 57.385
EDUCAÇÃO FÍSICA 55.437
10° CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 52.822


Dados extraídos do relatório do Sisu 2024

Qual a duração da faculdade de Psicologia?

A graduação em psicologia tem duração de 5 anos. Segundo as diretrizes curriculares para o curso de psicologia estipuladas pelo MEC, o estágio supervisionado é atividade obrigatória.

“Art. 11. A carga horária referencial dos cursos de Psicologia é de 4.000 (quatro mil) horas com, no mínimo, 20% (vinte por cento) da carga efetiva global para estágios supervisionados básicos e específicos, e duração mínima de 5 (cinco) anos.


Todas as instituições devem oferecer acesso ao núcleo comum do curso de Psicologia ao estudante. No entanto, as instituições podem possuir estruturas curriculares diferentes de acordo com as ênfases curriculares oferecidas. As ênfases curriculares são caminhos possíveis de estudo para aprofundamento de determinadas competências e habilidades necessárias para o exercício da profissão.

Em determinado momento da graduação, o aluno deverá optar pela ênfase que reflita o seu interesse para seguir as disciplinas e estágios correspondentes à sua escolha. Respeitando o projeto pedagógico, cada instituição deve disponibilizar ao menos duas opções de ênfases aos alunos, considerando as demandas sociais contemporâneas ou potenciais, assim como as características da instituição e da região em que se situa.

Isso significa que cada faculdade formulará os próprios eixos que são peculiares aos objetos de estudo e história do curso desenvolvido na instituição. Tenha isto em mente no momento de pesquisar as opções de faculdade de psicologia que deseja ingressar.

Para atuar profissionalmente como psicólogo, é necessário possuir o diploma de bacharelado em Psicologia por uma instituição reconhecida pelo MEC, além de estar inscrito no Conselho Regional de Psicologia (CRP) de sua região.

Quais as áreas da Psicologia?

Apesar de a imagem do psicólogo clínico atendendo o paciente frente a frente em seu consultório ser uma das primeiras a vir à mente, a psicologia tem diferentes áreas de atuação. Cabe ao estudante em formação ou ao profissional identificar qual delas se adequa mais ao seu perfil.

Uma vez com o diploma na mão, o psicólogo está apto a exercer a profissão em qualquer área de atuação da psicologia. A partir da resolução CFP 23/2022, foram reconhecidas 13 especialidades para o exercício da psicologia . Confira as áreas da psicologia na lista abaixo:

  • Psicologia Clínica
  • Psicólogo Organizacional e do Trabalho
  • Psicologia Jurídica
  • Psicologia do Esporte
  • Psicologia Social
  • Psicologia Escolar ou Educacional
  • Psicologia de Tráfego
  • Neuropsicologia
  • Psicomotricidade
  • Psicopedagogia
  • Psicologia Hospitalar
  • Psicologia em Saúde
  • Avaliação Psicológica


Conheça as principais abordagens da Psicologia

Há diversas abordagens da psicologia sendo praticadas na atualidade. Mas por que precisam existir tantas ramificações teóricas? É importante compreender que não há uma definição sobre qual abordagem é a melhor. O que vamos descobrir - e veremos detalhadamente neste tópico - é que elas apresentam diferenças importantes entre si, como objetos de estudo distintos.

A Psicanálise, fundada por Sigmund Freud, por exemplo, dedica-se ao estudo do inconsciente e os processos mentais internos para entender o comportamento humano. Já o Behavorismo, desenvolvido por Skinner, se concentra na observação do comportamento, pautado pela análise e estudo do comportamento a partir de estímulos externos.

“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana” - Carl Jung
foto de Carl Gustav Jung
Carl G. Jung, fundador da Psicologia Analítica


Veja algumas das abordagens teóricas:

  • Psicanálise
  • Psicologia Analítica
  • Behaviorismo ou Analítico Comportamental
  • Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC)
  • Gestalt


Psicanálise:

Fundada por Sigmund Freud, a psicanálise surgiu no final do séc. 19, quando o médico austríaco revelou ao mundo uma grande descoberta: o inconsciente. Segundo sua teoria, a origem dos sintomas, transtornos mentais e emocionais está guardada neste campo oculto, que só pode ser acessado através da fala. Desta forma, o processo terapêutico para tratamento e cura dos fenômenos de ordem mental se dariam a partir do método de livre associação, onde o paciente pode falar livremente sobre qualquer assunto que lhe vier à mente (por isso, comumente conhecida como “terapia da fala”).

Fundamentada na investigação do inconsciente, o analista pode conduzir o paciente através da interpretação dos sonhos, análise de padrões de comportamento e repetições originadas ainda na infância. A partir da teoria criada pelo “pai da psicanálise”, começaram a ser trabalhados conceitos que hoje são bastante conhecidos, como complexo de édipo , ato falho e recalque.

Além disso, é bem comum que a psicanálise seja associada ao uso do divã, aquele sofá sem encosto em que o paciente se deita, embora ele nem sempre seja utilizado. Inspirados pela obra do médico austríaco, outros pensadores fundaram novas linhas da psicanálise, como a linha lacaniana, do francês Jacques Lacan, a linha kleiniana, da austríaca Melanie Klein e a linha winnicottiana, criada pelo inglês Donald Winnicott.

foto do divã utilizado por Freud  coberto pelo tapete de lã Qashqa'i shekarlu exposto no museu de Freud em Londres
Divã original de Freud, utilizado nas sessões com os seus pacientes (Reprodução: Freud Museum London)


A origem do divã de Freud

O icônico divã utilizado por Freud foi, na verdade, um presente recebido de sua paciente Madame Benvenisti , em 1890. Estima-se que mais de 500 pacientes tenham se deitado neste divã, que está exposto no Museu de Freud em Londres.

Psicologia Analítica Junguiana:

Fundada pelo psiquiatra Carl G. Jung no início do séc. 20, a psicologia analítica foi criada após o médico suíço se deparar com divergências teóricas em relação às ideias de Freud, com quem colaborou por algum tempo. Jung elaborou uma teoria totalmente nova, fundamentada em conceitos importantes como o inconsciente coletivo, individuação e os arquétipos.

Jung coloca que o inconsciente coletivo compõe uma camada universal, herdada pelos indivíduos através de seus ancestrais. Segundo sua teoria, as pessoas nascem com predisposição na forma de pensar e agir, que refletem imagens presentes em todas as culturas, representados pela noção dos arquétipos.

A partir da análise de símbolos, da interpretação de sonhos e mitos, o tratamento proporcionado pela psicologia analítica consegue auxiliar o paciente a encontrar novos caminhos de simbolização, que o conduzem ao autoconhecimento e a uma vida mais equilibrada.

Behaviorismo ou Analítico Comportamental:

O termo behaviorismo foi cunhado pelo psicólogo estadunidense John B. Watson, em 1913. A origem do nome remete ao termo “behavior”, da língua inglesa, que traduzido para o português significa “comportamento”. Na década de 1940, o psicólogo B. F. Skinner deu continuidade às ideias propostas por Watson e formulou novas contribuições à teoria, no que ficou conhecido como “behaviorismo radical”.

O behaviorismo surge em oposição às abordagens focadas nos processos mentais internos e passa a se dedicar ao estudo do comportamento observável, trabalhando observação, influência do ambiente e coleta de dados mensuráveis.

Esta proposta terapêutica propõe-se a compreender padrões comportamentais para tratamento de diversos transtornos, como depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, entre outros. A concepção é de que a partir da análise do comportamento, é possível treinar habilidades e modificar padrões comportamentais através de técnicas específicas como reforço e punição, de forma a melhorar o bem-estar do paciente.

Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC):

A Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC) foi criada pelo psiquiatra norte-americano Aaron Beck na década de 1960. Com alguns elementos em comum ao behaviorismo radical, a TCC incorpora elementos cognitivos ao tratamento. Isto significa que este modelo de terapia além de incluir a análise do comportamento influenciado por estímulos do ambiente, leva também em consideração os pensamentos e emoções do paciente como forma de identificar, questionar, modificar e tratar os sintomas.

A partir do tratamento, o psicólogo auxilia o paciente na busca pela identificação de padrões de pensamento distorcidos., bem como a modificação de crenças e hábitos disfuncionais.. Amparada por pesquisas e publicações científicas, a TCC se propõe a utilizar técnicas de intervenção de eficácia comprovada, atendendo às especificidades de cada transtorno mental.

Gestalt-terapia:

A Gestalt-terapia, conhecida como “terapia da forma”, foi criada no início do séc. 20 pelo médico alemão Fritz Perls, inspirada pelas ideias da Psicologia da Gestalt, de Wertheimer, Köhler e Koffka. Este modelo de terapia valoriza a subjetividade e o momento presente ( “aqui e agora”) , onde o paciente é estimulado a se concentrar em seus sentimentos, pensamentos e ações a partir de técnicas específicas utilizadas pelo profissional.

São diversas abordagens utilizadas, como a da cadeira vazia, onde o paciente senta-se de frente para uma cadeira vazia e simula uma conversa consigo mesmo ou com uma pessoa que tenha tido papel relevante em algum evento que tenha impactado a sua vida.

Outra técnica é a dramatização, onde a pessoa pode ser encorajada a interpretar papéis, expressar algum sentimento verbalmente ou em forma de movimento. Estas técnicas tem o objetivo de promover o autoconhecimento. e, consequentemente, a identificação de padrões de pensamentos negativos que podem prejudicar a sua vida.

Psicoterapia Contemporânea: Por uma Integração Transteórica de Diversas Práticas e Teorias
por Luiz Hanns

Em sua história, a psicoterapia ficou marcada pela divisão entre abordagens, cada uma com suas próprias concepções, métodos e indicações clínicas, com diferenças, à primeira vista, irreconciliáveis e muitas vezes dogmáticas.

Neste curso, Luiz Hanns aborda o integracionismo metodológico, que difere do ecletismo selvagem, e que permite uma clínica transteórica em busca da integração das melhores práticas e teorias.

Confira o curso!

Conhecemos agora algumas das abordagens da psicologia. Embora todos os profissionais da área passem, de certa forma, por este processo de definição teórica, a linha seguida por cada um é notada de forma mais perceptível nos tratamentos de psicoterapia, onde o paciente costuma ser acompanhado por períodos mais longos.

Não existe regulação ou exigência formal que obrigue o psicólogo a escolher uma das abordagens disponíveis. Assim como nas áreas de atuação, o psicólogo graduado está apto a praticar qualquer abordagem teórica.

Esta escolha representa um direcionamento pessoal do psicólogo, que não exclui a possibilidade de estudo ou aplicação de técnicas de diferentes linhas teóricas. No fundo, o que todos querem - tanto o psicólogo quanto o paciente - é conseguir encontrar um caminho comum para a melhora da saúde mental. Por isso, a aliança terapêutica - relação entre terapeuta e paciente - tem uma importância muito grande e é fundamental para qualquer modelo psicoterapêutico.

O que é “Aliança Terapêutica”?

É um conceito universal que caracteriza a relação de trabalho e de confiança entre terapeuta e paciente, comum a todas as abordagens teóricas. Tem grande importância para o bom desenvolvimento do processo psicoterapêutico, pois influencia na formação e manutenção do vínculo, permanência, desfecho e encerramento da psicoterapia.

Agora que já conhecemos as áreas e abordagens da psicologia, é provável que você já tenha se interessado por algum tema que gostaria de estudar. A seguir, apresentaremos algumas opções de curso para você começar a sua trajetória na área!

Onde Encontrar Cursos de Psicologia Online? Veja as Melhores Opções

Uma boa alternativa tanto para estudantes como para profissionais já em atuação são os cursos livres de psicologia à distância. A grande vantagem deste modelo é que costumam ter um valor mais acessível, sendo possível encontrar conteúdo de muita qualidade e em constante atualização.

Confira 5 cursos para você dar os primeiros passos na área:

  • A Tal da Felicidade, por Luiz Hanns

    Entenda os argumentos da psicologia para definir felicidade como um sentimento de realização pessoal e individual, mais próximo do bem estar mental pleno do que da prosperidade material.

  • Freud Fundamental: As Ideias e as Obras, por Pedro de Santi

    O curso oferece uma introdução acessível aos principais conceitos de Sigmund Freud e suas obras, transformando a compreensão dos desejos e dilemas humanos. Ideal tanto para iniciantes quanto para aqueles que já possuem contato com a psicanálise, proporcionando novas reflexões.

  • Uma Introdução Guiada e Descomplicada ao Pensamento de Jung, por Lilian Wurzba:

    O curso oferece uma introdução acessível ao pensamento de Carl Gustav Jung, focando no autoconhecimento e na busca por uma vida mais íntegra. Ele esclarece equívocos comuns sobre suas ideias e acompanha o desenvolvimento de sua psicologia.

  • Quatro Livros para Entender Jung, por Tatiana Paranaguá

    O curso explora quatro obras fundamentais de Carl G. Jung, oferecendo uma introdução aos principais aspectos de seu pensamento e à Psicologia Analítica. As aulas funcionam como um guia para iniciar a jornada pelo vasto trabalho do autor

  • O Sentido da Vida, por Contardo Calligaris.

    Ser plenamente feliz é um objetivo muito buscado pela humanidade, e nos tempos atuais este estado parece ser ainda mais desejado. Neste encontro, o psicanalista Contardo Calligaris discute a obrigação da felicidade, o “morrer bem” e o sentido da vida.

Na plataforma de streaming Casa do Saber +, por uma única assinatura, você tem acesso a diversos cursos livres da área de psicologia , ministrados grandes referências da área, como Christian Dunker, Luiz Hanns, Lilian Wurzba, Ana Suy, Alexandre Patrício, Tatiana Paranaguá, entre tantos outros.

A boa notícia é que com apenas uma assinatura você consegue assistir a mais de 300 cursos de diversas áreas do saber e ainda garantir um certificado de conclusão após finalizá-los . Além de conteúdos sobre psicologia e psicanálise, a plataforma oferece cursos de Filosofia, Artes, Literatura, História, entre tantas outras áreas que ajudam a complementar o conhecimento necessário para a prática da psicologia.

Quanto custa:

R$478,80 (Plano anual) , podendo ser dividido em 12x de R$39,90 ou a R$430,92 à vista (desconto de 10%). Também existe a opção de pagamento à vista via pix ou boleto bancário.

Vantagens:

  • Novos cursos lançados periodicamente
  • Acesso a diversos cursos com professores de referêcia por uma única assinatura
  • Cursos de diferentes abordagens teóricas da psicologia, do introdutório ao especializado
  • Certificado de conclusão


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Perguntas Frequentes

  1. É possível estudar Psicologia online?

    Sim, existem diversas opções de cursos livres, pós-graduações e especializações disponíveis 100% online.
  2. A graduação em Psicologia tem duração de quantos anos?

    A duração é de 5 anos, com no mínimo, 20% (vinte por cento) da carga efetiva global para estágios supervisionados básicos e específicos.
  3. Existe graduação em Psicologia EaD?

    Atualmente, não há graduação em Psicologia totalmente online aprovada pelo MEC, mas há opções semipresenciais.


Agora você já entendeu sobre a impossibilidade de realizar a graduação em psicologia no modelo EAD, conheceu as áreas de atuação da psicologia e abordagens teóricas da área.

Na atualidade, informação é o que não falta… E para facilitar o percurso de aprendizagem , nada como uma boa curadoria de conteúdo.

Por isso, se sentir vontade de explorar mais sobre psicologia e tantas outras áreas do saber a partir de uma proposta criteriosa, cuidadosa e de qualidade, conte com a plataforma da Casa do Saber+!

Esperamos que este conteúdo tenha facilitado a sua caminhada em direção ao conhecimento.






Você sabe o que estuda a psicanálise? Ou, se você já se interessa por essa área de conhecimento, sabe como fazer para começar a se aprofundar nas teorias e ideias dos maiores autores da psicanálise?

Neste artigo, vamos te explicar o passo a passo para aprender alguns dos principais conceitos da psicanálise criados por grandes personalidades reconhecidas mundialmente por suas contribuições à compreensão da psique humana, como Sigmund Freud e Jacques Lacan. Você também irá conhecer alguns dos mais renomados professores e especialistas em psicanálise do Brasil e as instituições que são referência nesta disciplina.

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O que é psicanálise?

A psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud, é um método de investigação dos processos mentais, que se utiliza da associação livre para acessar, por inferência, os conteúdos inconscientes do paciente a partir de seus relatos à um analista, a fim de identificar possíveis causas e se utilizar da transferência estabelecida na relação analítica para tratamento dos sintomas.



imagem com diversos cursos da plataforma Casa do Saber


Esta prática é frequentemente associada à ideia de deitar no divã e falar livremente, mas vai muito além disso. A teoria e a prática clínica hoje permitem que o psicanalista interprete padrões, desejos, intenções, pensamentos e comportamentos do paciente. Neste sentido, um dos objetivos da psicanálise é trazer à consciência as questões do inconsciente que afetam o sujeito, sendo efetiva para uma melhora para a saúde mental, o senso crítico e o bem-estar pessoal do analisando. Entretanto, os objetivos de uma análise podem variar entre as escolas. Em maior escala, o impacto de uma análise bem desenvolvida pode ser notado na tomada de consciência e no poder decisão dos pacientes para deixarem de seguir determinados padrões, por exemplo, bem como no relacionamento consigo mesmo e com os outros.

Quais são as principais abordagens e escolas da psicanálise?

A psicanálise é uma área de conhecimento que perdura há mais de 100 anos. Existem várias abordagens dentro da psicanálise, refletindo diferentes escolas de pensamento sobre como os processos inconscientes afetam o comportamento e a vida humana. Abaixo listamos, em resumo, as principais linhas de pensamento da psicanálise e suas características essenciais. As principais incluem a Freudiana, a Lacaniana e a Kleiniana, por exemplo. Dentre as escolas podemos citar principalmente a inglesa, representada por Donald Winnicott e Wilfred Bion, e a francesa associada à Jacques Lacan.

Escola Características
Escola Freudiana Destacam-se os temas do inconsciente, as pulsões de vida e morte, a sexualidade, as estruturas psíquicas (neurose, psicose e perversão), o Complexo de Édipo, os mecanismos de defesa, as resistências, as transferências e as contratransferências em uma análise. Dentre os principais autores estão Sigmund Freud e Anna Freud.
Escola Kleiniana Também conhecida como escola das relações objetais, é a escola fundada pela austríaca Melanie Klein, cujas principais contribuições teóricas são a posição esquizo-paranóide, a posição depressiva, as fantasias infantis e os primitivos mecanismos de defesa, com destaque para a identificação projetiva. Klein é pioneira em análise de crianças, e seus estudos pensam o indivíduo desde o nascimento, acompanhando o seu desenvolvimento principalmente desde a infância.
Escola Francesa Jacques Lacan propôs um retorno a Freud e fez inúmeras contribuições, sobretudo se utilizando da Linguística e da Filosofia. Para Lacan, o inconsciente é estruturado como linguagem, e através dos ditos do sujeito teremos indícios de como ele se posiciona no mundo, nas relações com os outros, de suas alienações a certos ideais e de seus modos de desejar. Dentre diversos conceitos originais destacam-se os significantes, significados, objetos, o estágio do espelho e o corte lacaniano.
Escola de Winnicott Donald Winnicott teve uma vasta experiência no tratamento de crianças como pediatra, e desenvolveu sua teoria com ênfase na relação cuidador-bebê, com conceitos como mãe suficientemente boa: nem perfeita, nem negligente na criação do bebê, e a ideia de que a elaboração imaginativa do corpo e suas funções é que moldam a psique, não sendo uma estrutura pré-existente, mas sim, fruto dos cuidados recebidos. O inconsciente winnicottiano seria uma experiência que a imaturidade do bebê não tornou possível criar uma representação, e não o reprimido da teoria freudiana. Alguns de seus conceitos fundamentais são: holding, handling e integração de objetos, personalização e realização e desenvolvimento emocional primitivo.
Escola de Bion Wilfred Bion foi analisando e discípulo de Klein, mas criou diversos conceitos originais. Dentre suas principais contribuições estão a psicoterapia psicanalítica de grupo, o enfoque nos vínculos e a dinâmica do campo analítico, em que existe uma mútua influência entre analisando e analista e vice-versa.
Escola da Psicologia do Ego Heinz Hartmann é o principal nome ligado a esta escola. Nesta abordagem, o ego desenvolve-se a partir do id enquanto a criança passa a entender a diferença do seu corpo-mente em relação ao mundo e atenção se volta para o “eu”. Funções como percepção, afeto, memória, conhecimento e juízo crítico passam a ter valor para o analista nesta abordagem.
Escola da Psicologia do Self Nesta abordagem, Heinz Kohut (EUA) traz a introspecção e empatia como principais instrumentos da psicanálise, seguidos da tese das “falhas dos self-objetos primitivos”. Retira-se também a hegemonia do conceito de Complexo de Édipo e trata o Narcisismo como importante etapa do desenvolvimento.


Além das escolas mencionadas na tabela anterior, ainda há a psicanálise do húngaro Sándor Ferenczi, que surge a partir da escola freudiana. Ou seja, há muitas abordagens, e cada uma delas oferece uma perspectiva única sobre a estrutura da mente e os métodos de tratamento, influenciando significativamente as ementas dos cursos de psicanálise. Além disso, práticas modernas como a psicanálise relacional e conceitos como a intersubjetividade também estão ganhando espaço, mostrando a evolução e atualização contínua desta área.





Como estudar psicanálise hoje?

Para aqueles interessados em se tornar profissionais nesta área, há diversas opções de formação em psicanálise clínica. Os cursos podem variar, desde:

  • Workshops introdutórios
  • Pós-graduações
  • Programas de mestrado
  • Programas de doutorado
  • Residências


Atualmente, também existem cursos de psicanálise clínica disponíveis online, proporcionando flexibilidade para estudar de acordo com as próprias necessidades e ritmos. Um curso de psicanálise típico cobre fundamentos teóricos, técnicas e manejos terapêuticos e práticas supervisionadas, essenciais para quem busca uma compreensão profunda da mente humana e deseja praticar clinicamente.

Quem pode estudar psicanálise?

Enquanto área de conhecimento, todos! Para saber como começar a estudar psicanálise, acreditamos que o primeiro passo é entender qual é o seu perfil. Na Casa do Saber, sabemos que há variados tipos de interesse em aprender sobre esta disciplina. Abaixo, detalharemos um pouco sobre cada um deles. Veja qual é o seu caso:

1. "Sou psicanalista e quero aprofundar minha formação"

A psicanálise é uma área de estudo constante, por isso, tanto se você é um psicanalista em formação, quanto se você já tem muitos anos de experiência clínica é preciso tomar conhecimento das novas tendências culturais, das obras e dos autores relevantes para ter leituras fundamentais ao trabalho de analista. Mesmo após a conclusão de um curso de psicanálise, é essencial que o profissional continue em um processo de aprendizado contínuo, supervisionado por psicanalistas experientes e se mantenha em constante atualização.





2. "Sou estudante e quero me tornar um psicanalista"

Já que é considerada uma ocupação, a profissão de psicanalista pode ser exercida por qualquer pessoa que tenha concluído um curso de graduação em alguma das mais diversas áreas do saber. A atividade psicanalítica é independente de cursos regulares acadêmicos, sendo os seus profissionais formados pelas sociedades e instituições psicanalíticas.

Qualquer pessoa pode fazer um curso de psicanálise, desde que atenda aos pré-requisitos estabelecidos pela instituição de ensino que oferece o curso, como a exigência de se ter uma graduação completa, por exemplo. Além dos tradicionais cursos de psicologia e medicina associados à prática psicanalítica, têm destaque áreas dialógicas como ciências sociais, filosofia, antropologia, entre outras. O psicanalista em formação precisa também ter, é claro, interesse e afinidade com a área da saúde mental e da psicanálise.

Para exercer o ofício de psicanalista, ou seja, clinicar, dar aulas, entre outros, é recomendado que a pessoa interessada tenha uma formação específica em psicanálise, oferecida por uma instituição reconhecida e que realize um curso completo, com supervisão e análise pessoal. A formação em psicanálise é profunda, demandando uma capacidade de reflexão crítica, de análise, de leitura e de interpretação. No entanto, é possível fazer cursos de introdução à psicanálise, participar de encontros ao vivo, workshops e eventos acadêmicos para absorver conhecimento sobre teoria e prática psicanalítica.

No curso Uma Psicanálise da Existência o renomado professor e psicanalista Christian Dunker traça conceitos e leituras de Freud e Lacan.

Assista às aulas para se embasar nas principais teorias e começar a entender questões que envolvem a todos nós em diferentes momentos da vida.

banner do curso 'Uma psicanálise da existência', de Christian Dunker




3. "Gosto de aprender sobre diversas áreas para compreender o mundo"

A psicanálise permite uma profunda reflexão sobre a condição humana, influenciando várias áreas do conhecimento. Profissionais com noções em psicanálise utilizam suas habilidades não apenas em contextos clínicos, mas também em áreas como literatura, filosofia e estudos culturais. Ao entender como os processos inconscientes determinam comportamentos, decisões e relações sociais, a psicanálise oferece perspectivas interessantes para perceber a complexidade humana em diversos aspectos da vida, ampliando a compreensão sobre como pensamos e interagimos em diferentes contextos. Você só tem a ganhar aprendendo mais sobre essa disciplina extremamente versátil e profunda.





Confira algumas das principais áreas de estudo da psicanálise atualmente:

  • Psicanálise e Saúde Mental: focada no tratamento de distúrbios emocionais e psicológicos, essa área é a pedra angular da prática clínica.
  • Psicanálise e Literatura: utiliza teorias psicanalíticas para analisar textos literários, desvendando os aspectos inconscientes que moldam as narrativas.
  • Psicanálise e Cultura: examina como as normas culturais são internalizadas e como influenciam a identidade e o comportamento social ao longo da história.
  • Psicanálise e Educação: aplica conceitos psicanalíticos para entender dinâmicas de aprendizagem e desenvolvimento em ambientes educacionais.
  • Psicanálise e Arte: investiga a expressão inconsciente na criação e interpretação artística, proporcionando uma compreensão mais aprofundada dos movimentos e obras de arte.

E aí, se identificou? Entenda sobre o comportamento humano de forma aprofundada, considerando sentimentos, emoções, pensamentos, o consciente e o inconsciente.

A Casa do Saber + é a plataforma que permite que você conheça as ideias dos grandes pensadores como Sigmund Freud, Melanie Klein, Jacques Lacan, Donald Winnicott, Wilfred Bion, Sándor Ferenczi e muito mais, aprofundando o seu olhar sobre si mesmo e as suas relações.





Como aprender a teoria psicanalítica?

Se você quer complementar sua formação, se atualizando nos temas contemporâneos, revisitando conceitos importantes, aplicando-os à sua clínica e entendendo as contextualizações necessárias com a teoria das principais referências na área e abordagens é preciso aprender com bons profissionais ou professores. Conheça os grandes nomes da psicanálise no Brasil hoje:

Contardo Calligaris


Alexandre Patrício


Pedro de Santi


Christian Dunker


Marcelo Veras


Ana Suy


Conheça todos os professores da Casa do Saber

Quanto custa estudar psicanálise?

Sabia que você pode estudar sobre a teoria e a prática psicanalítica com os grandes mestres do país e ter um guia das principais obras, autores e conceitos para se aprofundar de forma online e em uma linguagem acessível?

A Casa do Saber + é o streaming do conhecimento: uma plataforma com mais de 60 cursos online de psicanálise exclusivos para você aprender com grandes profissionais, doutores e professores na área como Christian Dunker, Ana Suy, Marcelo Veras, Alexandre Patricio de Almeida, Pedro de Santi, Contardo Calligaris, Fernanda Samico, Daniel Omar Perez, Guilherme Facci, entre muitos outros.

Além dos cursos de psicanálise, a plataforma oferece mais de 600 horas de aulas sobre diversas áreas do conhecimento para você se desenvolver pessoalmente e profissionalmente. Lá você também encontra aulas que fazem aproximações entre a psicanálise e a literatura, a filosofia, as artes e a neurociência, por exemplo, afinal, a proposta da Casa do Saber é desenvolver de forma cultural e interdisciplinar os seus alunos.

Os cursos disponíveis no plano regular da plataforma, no entanto, não habilitam a pessoa a iniciar a prática clínica, servindo principalmente como fontes de aprofundamento, ampliação de repertório clínico e formação continuada.

Consulte os planos disponíveis

Você pode ter uma assinatura anual que te permite acesso a centenas de cursos para estudar psicanálise de forma interdisciplinar e responder suas perguntas mais profundas.

Quanto custa e como posso pagar?

Atualmente a Casa do Saber conta com o plano anual no valor de R$ 478,80.

O parcelamento pode ser realizado através do cartão de crédito em até 12x de R$ 39,90 , ou à vista no cartão de crédito com 10% de desconto, no valor de R$ 430,92. Também existe a opção de pagamento à vista via pix ou boleto bancário.

Com o plano anual desta plataforma de streaming você garante acesso a mais de 300 cursos disponíveis em 9 áreas distintas do conhecimento, ministrados por grandes nomes da atualidade. Todas as aulas são gravadas e emitem certificados com horas assistidas. Assim, você pode escolher a quais aulas assistir, quando e quantas vezes quiser. Legal, né?

computador notebook aberto na plataforma de streaming da Casa do Saber +

LIBERE O ACESSO AGORA MESMO

O acesso aos cursos pode ser feito por meio do site ou do aplicativo para Android e iPhone Casa do Saber+. Para ter acesso ilimitado a todo conteúdo durante um ano, basta assinar o serviço. Caso queira, você consegue dar uma olhadinha no catálogo completo.



Programa +Psicanálise

O programa de expansão em teoria e clínica psicanalítica da Casa do Saber é especialmente desenvolvido para profissionais e estudantes de psi que buscam aprofundar seus conhecimentos em psicanálise.

Os inscritos ganham acesso por 1 ano a uma jornada de conteúdos exclusivos em diferentes formatos: cursos gravados conduzidos pelos maiores professores e profissionais do Brasil, ciclos de aulas online e ao vivo e materiais complementares.

  • ✅ Mais de 45 cursos gravados com certificado
  • ✅ Encontros ao vivo com grandes referências da área
  • ✅ Grupo exclusivo para networking e troca de conhecimentos
  • ✅ Novos lançamentos de cursos mensais
  • ✅ Teoria e prática sobre temas atuais da psicanálise


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Especialização em psicanálise

Agora, se você é psicólogo(a), médico(a), tem graduação em alguma outra área e a sua ideia é se especializar em psicanálise, pode apostar em uma pós-graduação, mestrado, doutorado ou escolher alguma escola ou sociedade de referência para construir o seu caminho nesta área tão importante. Confira algumas opções de destaque no Brasil:

Sociedades Escolas Pós-graduações e especializações
Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo – SBPSP Fórum do Campo Lacaniano - São Paulo Universidade de São Paulo (USP)
Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro – SBPRJ Fórum do Campo Lacaniano - Rio de Janeiro Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto - SBPRP Escola Brasileira de Psicanálise - Salvador Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Escola Brasileira de Psicanálise - Florianópolis Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)




Para começar a entender Freud, Lacan, Melanie Klein e os principais autores da psicanálise

Agora que você já sabe como estudar psicanálise de acordo com o seu objetivo, que tal começar de forma descomplicada, online e com os melhores recursos?

Para conhecer a teoria psicanalítica de Sigmund Freud; entender mais sobre o inconsciente; estabelecer relações entre a literatura, a mitologia e o comportamento humano; esclarecer ideias sobre parentalidade; se relacionar melhor com as pessoas; viver bem no século XXI, entre tantas outras possibilidades que a psicanálise oferece, experimente acessar o conhecimento de onde estiver e quando quiser.

Começar a entender a psicanálise não precisa ser uma tarefa complexa, e aprender com os maiores professores do país não é algo distante ou inacessível. Além disso, ao tornar a sua rotina de estudos adaptável ao seu tempo, espaço e momento você garante mais chances de continuar aprendendo continuamente.

Nesse sentido, a Casa do Saber + te acompanha em todos os lugares e momentos da vida. Você pode assistir às aulas pausando-as e retomando o seu progresso quando precisar, ou até mesmo ouvi-las em forma de podcast. O aplicativo do streaming está disponível para Android e IOS, e você também pode baixá-lo na sua SmarTV ou acessar pelo navegador do computador.

Dedicando 20 minutos do seu dia você baixa o aplicativo, acessa a plataforma e começa a sua primeira aula com um dos grandes mestres em psicanálise do Brasil.

Esperamos que este artigo tenha te ajudado a conhecer mais sobre o universo de conhecimento que te aguarda estudando psicanálise com a Casa do Saber.